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Bullying: Desafios e Perspectivas

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS – UNIMONTES CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CCH
DEPARTAMENTO DE ESTRATÉGIAS E PRÁTICAS ESCOLARES CURSO DE PEDAGOGIA
Elaine Venancio dos Santos
BULLYING: DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Pirapora/MG Dezembro/2019
2
ELAINE VENANCIO DOS SANTOS
BULLYING: DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Monografia apresentada ao curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Montes Claros como exigência parcial para obtenção do grau de Licenciado em Pedagogia.
Orientadora: Prª Regina Coele Cordeiro
Pirapora/MG Dezembro/2019
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por ser essencial na minha vida, autor do meu destino, meu guia, que sempre esteve comigo me dando energia e força em todos os dias de minha vida.
Agradeço aos meus pais, Deuzinha e Raimundo por sempre me incentivarem todos esses anos que estive na faculdade.
Aos meus colegas de classe pelo companheirismo em todos trabalhos realizados.
Agradeço meus irmãos por sempre me apoiarem dessa caminhada, e me incentivar a nunca desistir.
Enfim, agradeço a todas as pessoas que me apoiaram e fizeram parte dessa etapa em minha vida.
Muito Obrigado!
“Dedico este trabalho primeiramente aos meus pais, a toda minha família que me apoiaram, ao curso de Pedagogia da Unimontes, e às pessoas e amigos com quem convivi nessa trajetória acadêmica ao longo desses anos”.
RESUMO
Este estudo Bullying: Desafios e Perspectivas, tem por intuito analisar de que forma alguns segmentos escolares lidam com alunos frente ao fenômeno do bullying. Onde se pretende investigar os desafios do comportamento bullying como violência física e psicológica no contexto escolar analisando seus desafios e perspectivas, visto que, este é comumente rotulada como “brincadeira de mau gosto”, ou típicas da idade, ocorrendo assim, insultos, intimidações, atribuição de apelidos pejorativos, dentre tantos outros. Tem como objetivo, verificar a existência de ocorrência de bullying na escola, identificar o comportamento de alunos portadores deste fenômeno, além de detectar as estratégias utilizadas pela escola com alunos agressores e vítimas desta. Os autores em que se baseia este estudo são Cleo Fante (2005, 2008), Ana Beatriz Barbosa Silva (2010). É discorrido a respeito da identificação do bullying, tipos de agressão, além de consequências e possíveis soluções. O estudo se caracteriza por ser descritivo, qualitativo, a coleta de dados se deu por questionários. A análise de dados feita de acordo com os preceitos apontados no referencial teóricos, tivemos como resultados que embora tenha intervenção no combate deste, ainda assim, não se mostra eficaz, por seu combate ser realizado com ações pontuais, e não com projetos mais consistentes que realmente coíbam o índice de violência.
Palavras-chaves: bullying, violência, escola.
ABSTRACT
This study Bullying: Challenges and Prospects, is meant to examine how some segments dealing with school students in relation to the phenomenon of bullying. Where do you want to investigate the challenges of bullying behavior and physical and psychological violence in the school context by analyzing their challenges and perspectives, since this is commonly labeled as "bad joke", or typical of their age, thus allowing insults, intimidation, allocation of derogatory nicknames, among many others. Its objective, to verify the occurrence of bullying at school, identify the behavior of students with this phenomenon, besides detecting the strategies used by school students of aggressors and victims. The authors based this study are Cleo Fante (2005, 2008), Ana Beatriz Silva Barbosa (2010). It is discoursed concerning the identification of bullying, types of aggression, and consequences and possible solutions. The study is characterized as descriptive, qualitative data collection was made by questionnaires. Data analysis was performed according to the precepts mentioned in the theoretical framework, we had the results that although this intervention in the fight still is not efficient, for his combat actions to be carried off, not with more robust designs actually restrain the rate of violence.
Keywords: bullying, violence, school.
LISTA DE QUADRO
Quadro I – Professoras entrevistadas e Turmas de atuação em 2019	37
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico I: Observação da Prática do Fenômeno do Bullying na Escola Municpal “X”, em Out. e Nov./2019	39
Gráfico II: Metodologias Utilizadas pelas professorasno Combate ao Fenômeno do Bullying
na Escola Municipal “X”,2019	41
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	11
1 – BULLYING NO CONTEXTO ESCOLAR	14
1.1 Bullying: Definição e Histórico	14
1.2 Características e Personagens do Bullying	16
1.3 Medidas Preventivas Contra o Bullying	18
1.4 Consequências do Bullying	23
1.5 Cyberbullying: Bullying Virtual	25
1.6 O Papel da escola e dos professores na prevenção do Bullying	26
1.7 A Contribuição da familia e Sociedade no combate ao Bullying	30
2 – BULLYING: UMA REFLEXÃO ACERCA DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS 34
2.1 Percuso metodologico para realização da pesquisa	34
2.1.1 Tipo de pesquisa	34
2.1.2 Contexto do espaço de realização da pesquisa	34
2.1.3 Sujeitos da pesquisa	35
2.1.4 Instrumentos para coleta de dados.	36
2.2 Entrevista com os professores.	36
2.2.1 Perfil dos docentes.	36
2.2.2 A Voz das professoras sobre o Bullying na escola.	37
CONSIDERAÇÕES FINAIS	44
REFERÊNCIAS	46
APÊNDICE A	48
ANEXOS A.	50
Chorei, não procurei esconder Todos viram, fingiram
Pena de mim, não precisava Ali onde eu chorei Qualquer um chorava
Dar a volta por cima que eu dei Quero ver quem dava
(...)
Reconhece a queda e não desanima Levantam sacode a poeira
E dá a volta por cima Volta Por cima – Noite Ilustrada
INTRODUÇÃO
Este estudo tem por intuito investigar de que forma a escola lida com o aluno portador do fenômeno do bullying. Pretende-se investigar algumas das manifestações do comportamento do bullying no contexto escolar e como estas estão sendo tratadas pelo corpo docente, considerando que este é um problema comumente rotulado como “brincadeira de mau gosto”, assim, ocorrem insultos, intimidações, atribuição de apelidos pejorativos, dentre tantos outros gestos de violência. Com esta finalidade buscou-se identificar o bullying, tipos de agressão, além de suas conseqüências e possíveis soluções.
Os principais autores em que se baseou este estudo foram Cleo Fante (2005; 2008), pedagoga, doutora em educação e especialista em bullying; Ana Beatriz Barbosa Silva (2010), médica psiquiátrica e também pesquisadora do tema. Complementam o referencial teórico deste trabalho as entidades Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência – Abrapia; Centro Multidisciplinar de Estudo e Orientação sobre o Bullying Escolar - Cemeobes e Observatório da Infância.
O bullying é um tema que vem despertando nos educadores grande interesse assim como, do mesmo modo, profissionais de outros setores da sociedade se debruçam sobre este assunto. Partindo desta realidade, a pesquisa possui relevância por este fenômeno estar fortemente inserido no contexto escolar e se não combatido apresenta conseqüências irreparáveis, como será discorrido mais detalhadamente a seguir. Por meio de entrevistas foi possível identificar como o fenômeno do bullying se manifesta, bem como qual o perfil da vítima, do agressor e do expectador. Para tanto, buscou-se responder ao seguinte questionamento: De que forma a escola lida com aluno com fenômeno do bullying?
Assim, estruturou-se a pesquisa em introdução, o referencial teórico sobre o tema, onde no primeiro capítulo é abordado a definição do bullying, que é um termo de origem inglesa, ainda sem tradução para o português, porém tem como definição valentão, ou tirano. É descrito o histórico do bullying, que começou a ser estudado na década de 1970 na Escandinávia, e na década de 1980 na Noruega após o suicídio de três crianças com idades entre 10 e 14 anos. No Brasil começou a ser estudado recentemente, em1997 por Marta Ganfield, em uma escola da rede pública do Rio Grande do Sul.
É abordado ainda as características e os personagens, que são subdivididos em vítimas típicas, vítimas provocadoras, vítimas agressoras, autores, testemunhas auxiliares, testemunhas incentivadoras e testemunhas observadoras, e por fim os autores.
Outro ponto salientado neste trabalho são as medidas preventivas, que podem ser atividades direcionadas nos intervalos, programas de intervenção permanentes nas escolas. As conseqüências são narradas onde trazem uma reflexão sobre a importância do combate efetivo ao bullying além dos sintomas psicossomáticos.
Uma forma de bullying diante das novas tecnologias é o cyblerbullying, que é o bullying virtual, onde a maioria dos agressores são a vítimas do bullying. Para combate ao bulling é discorrido sobre o Programa Antibullying Educar Para Paz, idealizado por Fante (2008), e algumas histórias de superação, onde foi traçado as características físicas e psicológicas das vítimas trazendo fatores externos que tenham contribuído e as formas as quais foram realizadas apara atingir o combate e superação do bullying.
No segundo capítulo Bullying: Uma Reflexão Acerca das Práticas Pedagógicas, onde o tipo de pesquisa é com cunho qualitativo e quantitativo que será composto de uma característica principal, a interpretação e análise dos dados por meio de gráficos, tabelas e algumas vezes a estatística (usualmente descritiva), o cenário de estudo foi uma Escola Municipal “X” da cidade de Buritizeiro/MG. Os sujeitos da pesquisa fora 8 professores, que atuam entre o Ensino Infantil e Ensino Fundamental, sendo que possuem uma formação favorável ao desenvolvimento e progresso da transmissão de conhecimento. Nas coletas de dados e confronto foram debatidos e refletidos as práticas pedagógicas para o combate do bullying, bem como a forma de identificação de tais práticas.
Por fim, com as considerações finais é apresentado de forma concisa as conclusões a que chegamos ao final do trabalho e que são relevantes para que se possa refletir a respeito do tema. Foi relatado que a partir do momento em que o fenômeno do bullying passou a fazer parte de programas de maior veiculação, como a mídia, facilitou a difusão e desmistificação do tema. Contudo o que foi observado é que, quando se inclui essa palavra – bullying – no cotidiano das pessoas estas se mostram um tanto quanto omissas em suas práticas, por caracterizarem o fenômeno como uma simples “brincadeira de mau gosto”, prejudicando assim a forma de trabalhar com tal fenômeno, e trazendo conseqüências para vida toda.
Enquanto se fosse trabalhada de forma eficaz e imediata poderia ajudar a vítima evitando traumas inerentes do sofrimento causado por tais práticas. Foi possível identificar que os docentes procuram inserir nas práticas educativas a discussão sobre a violência, a melhor forma de combatê-las, bem como, cultivar os valores de boa convivência. Porém este trabalho é realizado através de ações pontuais e pouco sistematizadas dentro da escola. Não foi verificado nenhum projeto mais consistente que dê conta de coibir o crescente índice de
violência que afeta o ambiente escolar. Por outro lado, um fator favorável ao combate do
bullying é a conscientização da maior parte dos docentes da sua existência.
CAPÍTULO I
BULLYING NO CONTEXTO ESCOLAR
Atualmente diversos estudos e discuções acerca do Bullying no contexto educacional estão sendo realizados. Partindo da importância desse tema e seus desdobramentos, este capitulo tem como objetivo apresentar a definição e o histótico do fenomêno Bullying (1° seção). Na segunda seção abordaremos as características e personagens do Bullying. Na seção três apontaremos as medidas preventivas a serem tomadas tanto pelos pais quanto pela escola. A secão quarta trata das consequencias para todos os envolvidos no fenomeno. A quinta seção disserta sobre outra prática do Bullying: Cyberbullying. Na sexta seção é explanado sobre o papel da escola e do professor na prevenção do Bullying e na sétima seção a contribuição da familia e sociedade para a prevenção do Bullying.
1.1 Bullying: Definição e Histórico
A prática das “brincadeiras de mau gosto” é denominada como bullying, um fenômeno com consequências muitas vezes irreparáveis, pois leva a pessoa a um estágio tão negativo, que muitos tentam ou cometem o suicídio para se livrarem de tal sofrimento.
O bullying, embora seja um fenômeno antigo, tem ganhado destaque, recentemente, entre as mídias e no âmbito jurídico. No geral, trata-se de uma conduta reiterada, com práticas de discriminação de indivíduos (criança, adolescente, adulto ou idoso) que numa coletividade manifesta-se (escolas, ambiente de trabalho e virtual, etc) (FANTE, 2005).
Em 20 de outubro de 2010, o Conselho Nacional de Justiça lançou uma cartilha sobre Bullying (ANEXO I), com comentários direcionados a pais e professores, visando o combate do fenômeno nas escolas.
Apesar da prática do Bullying ser do cotidiano dos educadores, esse só veio a ser estudado de forma mais concisa após a década de 1970, mais precisamente em uma pesquisa realizada entre 1972 e 1973, na Escandinávia. Na Noruega, o fenômeno já era motivo de preocupação, tanto por parte dos pais e professores, quanto pelos meios de comunicação, porém as autoridades educacionais não se comprometiam de forma oficial. Somente após o suicídio de três crianças com idades entre dez e quatorze anos em 1982, que sofriam maus-
tratos por parte dos colegas de escola, que o Ministério da Educação da Noruega em 1983, fez uma campanha em escala nacional contra esta problemática (OLIVEIRA-MENEGOTO; PASINI; LEVANDOWSKI, 2013).
Já no Brasil, este fenômeno começou a ser estudado em 1997, quando Marta Ganfield, professora da Universidade Estadual de Santa Maria, observou o comportamento de alguns alunos da rede pública de Santa Maria, Rio Grande do Sul. Porém, o bullying ainda é pouco estudado, sendo assim, não existem indicadores que possam guarnecer uma visão global, onde se possa confrontar com os índices dos demais países (MEDEIROS, 2012).
O termo é um verbo de origem da língua inglesa, que descreve atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados pelas pessoas (ou grupo de pessoas), com objetivo de intimidar ou agredir indivíduos que não se defende (causando dor e angústia). Esse termo ainda pouco conhecido do grande público, e sem tradução no Brasil tem como definição “valentão”, “tirano”.
O conceito Bullying é também utilizado em alguns países por educadores. Este comportamento em alguns países como a Noruega, Dinamarca, Suécia e Finlândia é definido como mobbing, possui raiz inglesa e faz referência a um grupo grande e anônimo de pessoas que geralmente se dedicam ao assédio moral recorrente entre adultos no ambiente profissional. Mesmo não sendo um termo conveniente do ponto de vista linguístico, o mobbing é empregado para determinar uma circunstância na qual um indivíduo, ou grupo ridiculariza o seguinte. A este fenômeno são dados outros termos. Na França é denominado harcelement quotidièn, na Itália de prepotenza ou bullismo, no Japão yjime, dentre tantos outros países. Logo, conclui-se que não há um termo a ser reconhecido globalmente (FANTE, 2005).
Tomando uma forma mais ampla, o Bullying é a prática de atribuir apelidos pejorativos, atemorizar, excluir e humilhar o próximo, como afirma Fante (2005), em “Fenômeno Bullying: Como Prevenir a Violência nas Escolas e Educar para a Paz”. Já Silva (2008), em “Mentes Perigosas nas Escolas: Bullying” destaca que as agressões do Bullying não apresentam motivações específicas ou justificáveis.
Em Fante (2005, p. 28), vamos encontrar o seguinte esclarecimento “a definição de bullying é compreendida como um subconjunto de comportamentos agressivos, sendo caracterizado por sua natureza repetitiva e por desequilíbrio de poder”. Ao pensar que era só uma “brincadeira”, não levamos em conta que a mágoa deixada leva anos para cicatrizar, e que ainda sim a cicatriz fica lá, podendo aqualquer momento desencadear tudo aquilo de novo.
A Universidade Federal do Paraná realizou um estudo em quatro estados (MARTINEZ, 2011), o qual revelou que seis em cada dez alunos já sofreram ou cometeram agressões. Segundo dados fornecidos pelo Centro Multidisciplinar de Estudo e Orientação sobre o Bullying Escolar – Cemeobes, o índice deste fenômeno já chegou há 45%, entre estudantes brasileiros do ensino fundamental, sendo este número distribuído entre vítimas, agressores, vítimas-agressores. Tais dados são coincidentes aos dados internacionais (SCHENINI, s/d).
1.2 Características e personagens do Bullying
As vitimas do Bullying são caracterizadas como pouco sociáveis, inseguras e desmotivadas quando se refere à inserção em algum grupo. Possuem baixa auto-estima, com poucos amigos, são passivos, retraídos, e ansiosos. Algumas análises revelam que alguns métodos educativos familiares incitam o desenvolvimento de possíveis vítimas, tais como proteção excessiva, tratamento infantilizado, e o papel de bode expiatório da família, como afirma Aramis (2005).
Detoni (2008) subdivide as vítimas em três tipos. A primeira é a vítima típica que é o bode expiatório do grupo. Geralmente é pouco sociável, não possui recursos ou status que façam cessar as agressões. Os aspectos físicos são mais frágeis, tem medo de enfrentar os fatos, tem coordenação motora deficiente, é sensível, tímido, é submisso, tem baixa-auto-estima, apresenta dificuldade acadêmica e características voltadas à depressão. Alguns relacionam melhor com adultos do que com aqueles da mesma faixa etária (DETONI, 2008).
A segunda é a vítima provocadora, a qual tenta responder ou brigar quando é atacada ou insultada, mas não alcança êxito. Pode ser hiperativo, inquieto, disperso ou ofensivo. A terceira e última é a vítima agressora que reproduz os maus tratos sofridos. Provoca as mesmas agressões que sofre com aqueles que são mais frágeis (DETONI, 2008).
Se referindo aos autores de Bullying, Aramis (2005) defende que são geralmente populares, anti-sociais, podendo mostrar-se agressivos, impulsivos, e se auto rotulam como “o bom”. Quanto às testemunhas do bullying, grande maioria sente simpatia pelos alvos, condena o comportamento dos autores e almeja uma intervenção dos responsáveis. Estes ainda podem ser subdivididos em auxiliares, os quais participam ativamente da agressão; os incentivadores, que estimulam o autor, e os observadores, que
como o próprio nome indica, somente observam sem tomarem qualquer atitude.
O Bullying, infelizmente, é tratado com naturalidade, já que é visto como apenas uma “brincadeira”, consequentemente, poucas escolas reconhece e combate. Sua prevalência, como afirma Carvalhosa (et all, 2001), a frequência do Bullying diminui com o aumento dos anos de escolaridade. Outra característica revelada pela autora (2001) é que entre os alunos mais novos encontram-se o maior índice de frequência das vítimas.
Apreende-se que o estudo do bullying está relacionado à compreensão do conceito de comportamento, personalidade e temperamento. Nesta perspectiva, reportamo- nos ao Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 2.0 (HOUAISS, 2001) que esclarece:
Comportamento: procedimento de alguém face a estímulos sociais ou a sentimentos e necessidades íntimos ou uma combinação deambos. Personalidade: aspecto visível que compõe o caráter individual e moral de uma pessoa, segundo a percepção alheia. Temperamento: conjunto dos traços psicológicos e morais que determinam a índole de um indivíduo; modo de ser.
Assim, o educador deve estar atento a estes três aspectos, afim de melhor estudo frente ao Bullying, facilitando tais práticas no âmbito escolar. Deve-se resaltar a relevância de observar os sinais e sintomas em alunos alvos de bullying, relatados por Aramis (2005, p. 169)
Enurese noturna, Alterações do sono, cefaléia, cor epigástrica, desmaios, vômitos, dores em extremidades, paralisias, hiperventilação, queixas visuais, Síndrome do intestino irritável, Anorexia, Bulimia, Isolamento, Tentativas de suicídio, Irritabilidade, Agressividade, Ansiedade, Perda de memória, Histeria, Depressão, Pânico, Relatos de medo, Resistência em ir à escola, Demonstrações de tristeza, Insegurança por estar na escola, Mau rendimento escolar, Atos deliberados de auto- agressão.
A família e a escola devem atentar-se para esses sinais, no intuito que se construa uma escola que não se restrinja a ensinar apenas o conteúdo programático, mas também onde se eduquem as crianças e adolescentes para a prática de uma cidadania justa. Dessa forma, as medidas adotadas pela escola para o controle do Bullying, se bem aplicadas e envolvendo toda a comunidade escolar, contribuirão positivamente para a formação de uma cultura de não-violência na sociedade.
1.3 Medidas Preventivas Contra o Bullying
Antes de matricular uma criança na escola, os pais devem conhecer a escola que o seu filho vai estudar. Para Monteiro (2009, p.01), editor do Observatório da Infância, a boa escola deve demonstrar preocupação com situações de ocorrência de Bullying:
a boa escola é aquela que reconhece que nela pode ocorrer ou está ocorrendo o bullying. Sabe-se que a escola que afirma que lá não tem situações de bullying é na realidade a que mais tem, porque não reconhece e não toma providências. Os pais ao matricularem seus filhos devem saber da direção da escola qual o seu posicionamento em relação ao bullying, que medidas preventivas adotam e como agem quando detectam que alunos estão sendo vítimas. A boa escola é aquela que sempre no início do ano letivo anuncia com firmeza: nesta escola não se tolera o bullying. Ou seja, não se tolera a discriminação, a violência, a exclusão, a falta de respeito pelas desigualdades.
Detoni (2004, p. 17 apud Constantinni 20041) defende que a sala de aula é um espaço definidor de regras dentro da escola, sendo assim, um espaço onde o bulling deve ser combatido.
A sala de aula é determinante na elaboração de um sistema de regras de grupo, segundo o qual há aquele que é intimidado e aquele que deve intimidar aquele que é testemunha participante (via de regra a favor do intimidador) e aquele não- participante (indiferente ou às vezes a favor da vítima, mas amedrontado pela situação)
Além da sala de aula, no horário do recreio a prática do Bullying se torna mais freqüente, momento em que estão longe da supervisão dos adultos. Nesse ambiente a escola deve promover atividades que incitem a cooperação, interação e a inclusão de todos os alunos.
No artigo, Intervalo Bem Aproveitado, publicado na Revista Pátio (2007), as repórteres IsabelaVargas e Fernanda Bagatini entrevistaram Carla Koch, professora de educação física que relatam um projeto da escola com propósito de combater o Bullying. Durante o recreio a escola conta com o apoio de monitores na realização das atividades lúdicas com os alunos. Periodicamente, é escolhido um representante da turma que organiza o recreio, seja ele na realização das brincadeiras ou para o recolhimento dos brinquedos. Tais
1 COSTANTINI, A. Bullying, como combatê-lo?: prevenir e enfrentar a violência entre jovens.Tradução Eugênio Vinci de Morais. São Paulo: Itália Nova Editora, 2004.
práticas despertam no aluno a responsabilidade e a importância da cooperação (VARGAS; BAGATINI, 2007).
Promovendo esta interação, a escola facilita a identificação das situações de preconceito, uma vez que se tem a oportunidade de conhecer aquela pessoa mais retraída ou mais desinibida. É importante considerar, como afirma as autoras (2007), que a maioria das agressões são praticadas contra alunos tímidos. A agressividade e competitividade se associam predominantemente aos garotos, já nas garotas a maior característica é a fragilidade. Uma vez identificado o problema, deve-se tratá-lo, não puni-lo, pois apenas um castigo não ensina como se comportar.
Geralmente, aqueles que sofrem o Bullying são punidos duas vezes. Apanham e são punidos na escola e ainda são castigados pelos pais por terem sido fracos. Os pais querem filhosvencedores, a escola quer alunos brilhantes, mas certas punições não funcionam. Certas atitudes que são julgadas como definitivas servem somente para desencadear mais fúria do agressor pela vítima, quando o ideal seria fazê-lo entender o sofrimento da vítima, e em conjunto com os demais alunos, mostrar que aqueles que são testemunhas acabam por serem coniventes, apoiando indiretamente que o agressor alcance seu objetivo.
Aramis (2005, p. 169), afirma que,
aos alunos autores, devem ser dadas condições para que desenvolvam comportamentos mais amigáveis e sadios, evitando o uso de ações puramente punitivas, como castigos, suspensões ou exclusão do ambiente escolar, que acabam por marginalizá-lo.
Por isso, a importância da escola estar preparada para mediar de forma correta todos os envolvidos e principalmente evitar esse fenômeno. Nesse sentido, ainda que os aspectos individuais dos alunos sejam admitidos como decisivos para a ocorrência de bullying, características do ambiente escolar também podem contribuir para a manutenção do fenômeno. Fatores como o tamanho, estrutura física, regras e normas da escola, políticas administrativas, atitudes e práticas educacionais de professores são fatores que, quando inadequados, podem contribuir para a incidência de comportamentos agressivos dos alunos ou, no mínimo, podem diminuir a eficácia das tentativas de resolução desse problema (OLWEUS, 2013).
Para que os programas de prevenção sejam efetivos, eles devem unir estratégias individuais e mudanças na organização da escola, envolvendo professores, estudantes, administradores, pais e membros da comunidade, Olweus (2013) aponta também que as estratégias escolares mais bem sucedidas, foram as que envolveram estratégias variadas e
amplas por parte da equipe pedagógica (professores e gestores) e com a participação dos alunos em discussões sobre a necessidade de parar os agressores e proteger as vítimas.
Na problemática em questão, uma atuação institucional preventiva deve estar ancorada na promoção de reflexões, conscientizações de papéis e nas funções dos indivíduos, objetivando desenvolver competências e habilidades para a superação de obstáculos e para o estabelecimento de relações sociais mais saudáveis (MARINHO-ARAUJO; ALMEIDA, 2008).
Devem-se criar espaços de escuta, a fim de ressignificar as relações interpessoais na escola, conscientizar e transformar práticas existentes que estejam impedindo a consolidação de um ambiente saudável e propício ao aprendizado e ao desenvolvimento dessas relações. Associado a isso, o psicólogo escolar/educacional deve assessorar o trabalho coletivo da escola, instrumentalizando a equipe mediante estudos e capacitações, contribuindo na formação dos professores e colocando-os também como coparticipantes nesse trabalho (MARINHO-ARAUJO; ALMEIDA, 2008).
Torna-se importante estarmos atentos para esse fato, pois quanto mais cedo forem percebidos os problemas de Bullying, e assim, possam ser tomadas as medidas necessárias para combatê-los, mais eficazes elas serão, o que significa menos sofrimento para todos os envolvidos. Desta forma, a certeza de que atos de bullying são uma realidade universal, de que seus efeitos podem gerar graves consequências aos alunos e às escolas e a percepção de que o envolvimento de todos é a única medida eficaz para preveni-lo e reduzi-lo, tornam-se fundamentais para que pais, educadores e profissionais mudem a forma de avaliar a vida escolar de suas crianças e adolescentes (LOPES NETO, 2003).
Beaudoin e De La Taille (2007, p. 44), apontam justamente como devem proceder, tanto os pais quanto a escola, nessas situações:
a simples punição não funciona porque não ataca realmente o problema. É preciso pensar o bullying escolar como um fenômeno social, portanto as formas de enfrentamento e prevenção devem estar em plena comunhão com o contexto onde ocorre, envolvendo medidas psicopedagógicas e preventivas que levem em consideração aspectos sociais, psicológicos e econômicos muito mais do que medidas caracterizadas por punições, ameaças e intimidações ou formas prontas de enfrentamento. Para prevenir e enfrentar o bullying ou qualquer outro tipo de violência que ocorre no contexto escolar, não se deve partir de receitas prontas e fechadas, pois cada escola possui uma realidade específica, onde são construídas relações diferenciadas entre os seus membros. Sendo assim, o bullying também irá se apresentar de formas diferentes em cada contexto, não devendo, portanto, ser avaliado de modo descontextualizado.
A página virtual da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência -ABRAPIA possui alguns conselhos de como deve-se portar, prevenir, e como a escola deve evitar este fenômeno. Apresenta, também, os sintomas do Bullying apresentados pelas crianças que devem ser observados pelos pais e educadores.
Demonstrar falta de vontade de ir a escola; Sentir-se mal perto da hora de sair de casa; Pedir para trocar de escola; Revelar medo de ir ou voltar da escola; Pedir sempre para ser levado para escola; Mudar frequentemente o trajeto entre a casa e a escola; Apresentar baixo rendimento escolar; Voltar da escola, repetidamente, com roupas e livros rasgados; Voltar muitas vezes da escola com machucados inexplicáveis; Tornar-se uma pessoa fechada e arredia; Parecer angustiado, ansioso, deprimido; Apresentar manifestações de baixa auto-estima
Ter pesadelos freqüentes, chegando a gritar “socorro” ou “me deixa” durante o sono; Pedir sempre mais dinheiro ou começar a tirar dinheiro da família; “Perder”, repetidas vezes, seus pertences, seu dinheiro; Evitar falar o que está acontecendo, ou dar desculpas pouco convincentes para tudo; Tentar ou cometer suicídio (NETO; SAAVEDRA, 2004, p.32).
Diante do último tópico deve-se ressalvar que é provável que antes que ocorra a tentativa de suicídio, a vítima deste fenômeno apresente algumas características tais como: fumar, beber álcool em excesso e fazer uso de entorpecentes. Os provocadores e vítimas são mais propensos a se envolverem na delinquência e na violência, como afirma Carvalhosa (et al 2001). A atenção dos pais e professores quanto a estes quesitos é imprescindível, pois o uso destas substâncias traz à vida da vítima e dos que o rodeiam situações que agravem o Bullying.
Outra medida que pode ser utilizada, segundo Fante (2005), é o estatuto contra o Bullying, que consiste na criação de um código ou estatuto pelos alunos, no qual estabelecem normas ou ainda regras para uma convivência amistosa e que reprimam o Bullying. Com isso, o professor pode trabalhar os valores e implementar na escola um projeto duradouro e tratar Bullying com a devida atenção, não banalizando ou tendo apenas intervenções de caráter imediatistas.
Segundo o Observatório da Infância e do Adolescente (CINTRA; BOBADILLA; GAUTO, 2017) da Associaçã Brasileira dos Fabricantes de Brinquedo- ABRINQ, já é aceito pela justiça processos indenizatórios pelo Bullying. Em Ceilândia, no Distrito Federal, o Tribunal de Justiça condenou a indenizar a família, uma escola que fora processada pela mãe de um garoto acusando a escola de não protegê-lo das frequentes agressões sofridas (CINTRA et al, 2017).
Deve-se também ensinar aos alunos como se portar diante de um agressor, para
que não seja a vítima. Dentre as alternativas está a postura: não abaixar a cabeça diante de alguém que o intimide, manter sempre postura ereta e olhar o bullier nos olhos, mas nunca com olhar de provocação. Firmeza também é uma alternativa, ser firme quando for intimidado, desprezar as brincadeiras, assim o agressor se sentirá infantil. Outra atitude é a coragem. Os agressores procuram somente quem tem medo, do contrário, não tem graça alguma praticar o Bullying. Por fim, a parceria é fundamental para coibir o Bullying, é importante sempre informar alguém adulto, no qual sinta confiança, assim o bullier não se sentirá seguro (COELHO, 2013).
A escola deve priorizar a conscientização geral de seus alunos e estimulá-los ao engajamento em projetos antibullying.Deve-se encorajar os alunos a participar de intervenções que promovam a supressão de atos que caracterizam o Bullying para, desse modo, mostrar aos autores que eles não terão seu apoio, nem sua omissão.
Estas são as medidas para lidar com o Bullying nas escolas, incentivando os alunos a serem mais seguros de si, expulsando o espaço para a violência. Assim, deve-se trabalhar com tais medidas nas escolas, fazendo uma parceria entre a escola e a família.
É preciso enfatizar também, a abordagem de Beaudoin e Taylor (2006) que levam em conta a interação entre vários fatores que contribuem para esse problema, não apontando culpados, mas sim, estabelecendo o fundamento teórico e enfatizando a importância do trabalho do professor no combate ao bullying.
A escola não é apenas um local de instrução, mas como diz Candau (2002), é um espaço de diálogo, de construção e de descobertas, onde diferentes culturas e linguagens se entrecruzam, num universo onde estão reunidas muitas pessoas. Para Candau (2002 apud CANCLINI, 19972) dá-se a “hibridização cultural”, isto é, as culturas não são puras e estão sob a influência umas das outras. Ainda fazendo referência à escola, Chalita analisa esta instituição como um espaço das igualdades, mas, sobretudo, das diferenças.
Diferentes olhares, gostos, caprichos, talentos, sentimentos, sonhos, necessidades, histórias de vida, contextos. E esse lugar tão especial também guarda uma missão igualmente especial: fazer toda essa gente feliz, com princípios de justiça e equidade social. Essa missão pode parecer óbvia, mas não é nada simples, pois cada pessoa tem sua maneira peculiar de ser feliz. Todavia desejam ser felizes, mas ninguém alcança a felicidade sozinho (CHALITA, 2008, p. 201).
De fato, a escola é também o lugar da convivência, onde se exercita a aceitação ea
2 CANCLINI, Néstor García. Culturas Híbridas - estratégias para entrar e sair da modernidade . Tradução de Ana Regina Lessa e Heloísa Pezza Cintrão. São Paulo: EDUSP, 1997. p.283-350: Culturas híbridas, poderes oblíquos.
superação dos conflitos e o papel do professor é o de promover e favorecer o desenvolvimento de relações interpessoais e o sentimento de pertença. De acordo com Chalita (2008, p.202) “o professor estabelece profundas relações de confiança e respeito com seres humanos e se torna responsável pelo destino de seus alunos”. Por isso, seu papel é de extrema importância já que ele auxilia o desenvolvimento de pessoas, desperta o gosto pelo saber e promove a interação e o diálogo entre pessoas de diferentes culturas.
1.4 Consequências do Bullying
Os efeitos causados em quem sofre a prática do Bullying não se findam no aspecto do desenvolvimento social. Interferem também no desenvolvimento emocional e comportamental, visto que modificam o comportamento e o pensamento, gerando sentimentos negativos e pensamentos de vingança, agressividade, impulsividade, hiperatividade e até abuso de substâncias químicas. Dos efeitos emocionais acometido pelos indivíduos que sofrem bullying, podemos destacar que as vítimas não raro experimentam sentimentos de baixa autoestima e menos valia, de inadequação, de exclusão, assim como ansiedade e depressão (DEBARBIEUX; BLAYA, 2002).
Tais sentimentos podem desencadear também o bloqueio dos pensamentos e do raciocínio, estresse e sentimentos de vergonha, medo, confusão e vulnerabilidade diante do abuso. Além disso, a vitima pode desenvolver transtornos mentais e psicopatologias graves e, em casos extremos, tentativa ou consumação do suicídio, assim como o homicídio do(s) agressor(es).
Com relação ao desenvolvimento físico do indivíduo que é alvo de bullying também há prejuízos, pois ele pode vir a apresentar queixas físicas e o desenvolvimento de sintomatologias e doenças de fundo psicossomático como enurese (eliminação involuntária de urina), taquicardia, sudorese, insônia e cefaleia (FANTE, 2005). Ainda podemos apontar outros tipos de consequências, tais como a financeira e a social para a vítima e sua família. Por exemplo, a necessidade de trocar de escola, em geral, acarreta em mais despesas. Também podemos inferir uma alteração na rotina familiar que, originalmente, encontrava-se organizada e que, possivelmente, será alterada em virtude desta mudança.
No aspecto social, uma troca de escola necessita de uma adaptação tanto ao novo ambiente e às regras deste, como aos novos colegas, professores, sendo necessário estabelecer novos laços, ou seja, um entrosamento com pessoas novas. Neste caso, a vítima poderá agir
com receio de que práticas de Bullying ocorram novamente, mostrando-se mais tímida no contato com os novos colegas, não se entrosando adequadamente ou ainda tornando-se novamente vulnerável a práticas violentas (FANTE, 2005).
Aramis (2005, p. 167), ressalta que em casos de estudantes que invadiram armados a escola, atirando aleatoriamente, não tinham um alvo fixo. A intenção era matar a escola, a entidade que tinha como função defendê-lo, preservá-lo e não o fez. Casos como estes se tornam cada vez mais comuns não só em outros países como também no Brasil.
Portanto, as consequências do bullying estão relacionadas as questões psíquicas e comportamentais, como revela Silva (2010, p. 25),
[...] há os sintomas psicossomáticos: como cefaléia, náusea, cansaço crônico, insônia, calafrios dentre outras e que costumam causar elevados níveis de desconforto e prejuízos nas atividades cotidianas do indivíduo; o transtorno do pânico que é caracterizado pelo medo intenso e infundado, que parece surgir sem explicação; a fobia escolar, que como o nome mesmo sugere é o medo intenso em freqüentar aescola. Assim, ocasiona-se a repetência por faltas, problemas de aprendizagem e/ou evasão escolar; dentre outras como fobia social, transtorno de ansiedade generalizada, depressão, anorexia e bulimia, transtorno obsessivo- compulsivo, transtorno pós-traumático, e em quadros menos frequentes a esquizofrenia, suicídio e homicídio.
Nas perspectivas dos autores (SILVA, 2010; FANTE, 2005) referenciados, a vítima deve ser protegida e amparada pela escola que deve promover a aceitação dela com o meio. Quanto às testemunhas, estas devem ser encorajadas a participarem da supervisão e intervenção dos atos, mostrando assim aos agressores que eles não têm o apoio do grupo, que não são admirados como pensam, ou seja, é incentivar o expectador a sair desta postura e tornar-se aliado da vítima, pois, é exatamente com a ajuda deste que a vítima encontrará forças para se reerguer.
A Psicologia contemporânea tem contribuído significativamente para os estudos do bullying escolar através de trabalhos publicados nos campos específicos da Psicologia Clínica, Psicologia Social e Psicologia Escolar. Partindo do entendimento, de que o bullying se caracteriza por atitudes intencionais erepetitivas, num período prolongado de tempo, com o intuito de intimidar a vítima em geral considerada pessoa mais fraca e incapaz de se defender (JACQUES et al, 2013).
Além de todas as consequências apontadas, são sérios os prejuízos que essa prática traz ao ambiente escolar, podendo comprometer, como já foi dito, a saúde física e mental da vítima, bem como o seu desenvolvimento socioeducacional. Pode causar déficit de atenção, irritabilidade, dificuldade deconcentração, desinteresse pelo estudo e pela escola,
queda no rendimento escolar, apatia, insegurança, sentimentos de abandono e rejeição, oscilação de humor, desejo de vingança, entre outros. Também compromete a socialização das vítimas, que se isolam das outras pessoas para não serem percebidas e, consequentemente, molestadas (FANTE, 2005).
Sendo assim, quando não há intervenções e programas preventivos efetivos contra o Bullying, o ambiente escolar torna-se totalmente contaminado e sujeito a diversas consequências. Alguns alunos que testemunham situações de bullying podem perceber que o comportamento agressivo dos que o praticam não lhes traz nenhuma consequência, sendo com isso levados a adotá-lo também. Do mesmo modo, é sabido que crianças que sofrem, ou testemunham,situações de bullying e violência ficam traumatizadas, podendo ter como reação o choque, o medo, a culpa, a confusão e a raiva (MIDDELTON-MOZ, 2007).
1.5 Cyberbullying: Bullying Virtual
Outra prática do Bulllying, conhecida como cyberbullying, é o Bullying virtual. Nesta modalidade são transmitidas, via internet, mensagens falsas a alguém e sobre alguém. Conceitualmente é o Bullying indireto, sendo mais comum entre o sexo feminino e crianças menores. Isto se dá devido ao rápido avanço tecnológico seguido da falta de orientação quanto ao uso destas.
Como afirma Fante, (2008, p.48):
os benefícios dessa evolução resultam em um crescente aumento do número de internautas em todo o mundo, sem que, contudo, houvesse tempo de prepará-los para o uso ético e responsável dessas novas ferramentas. Assim, os malefícios dessa evolução se tornaram evidentes através da eclosão de uma nova modalidade de crime, os cibernéticos.
Portanto, a popularização da internet favoreceu o aparecimento de mais uma forma de manifestação, como foi dito acima, o bullying virtual ou cyberbullying. Nesse vies, Beane (2010) cita o cyberbullying como parte integrante do que chamou de bullying social e relacional, e consiste nas agressões feitas em páginas na web, e-mail, mensagens de texto e assim por diante. Silva (2010) já a dispõe como mais uma manifestação do bullying que é capaz de difundir, de maneira avassaladora, calúnias e maledicências. Rolim (2010) lembra que, com o cyberbullying, a característica básica do desequilíbrio de poder entre o agressor e sua vítima em situações de bullying nem sempre estará presente.
Segundo Silva (2010, p. 129); no cyberbullying,
[...] não existe um perfil específico para suas vítimas, porém, é caracterizado por ações que levam as vítimas ao isolamento social. As causas que favorecem esta prática são inúmeras como, a falta de orientação ética e legal na utilização de recursos tecnológicos, o anonimato, e a falta de limite. Diante destas, muitos que sofrem do bullying usam deste recurso para praticar o cyberbullying.
Por outro lado, vale salientar que muitos agressores menores de idade acreditam que pelo fato de serem menores de idade, não seriam punidos devido a proteção do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), mas este mesmo Estatuto prevê punições para aqueles que são responsáveis pelos menores.
Assim como ocorre com o bullying, no cyberbullying o objetivo dos agressores em grande maioria são de pregar-lhes um trote, “apenas uma brincadeira de mau gosto”. Porém, causam sofrimentos, machucam a alma. Dentre as conseqüências, há ainda a de que uma vez divulgado algo via internet, as informações perdem o controle, podendo assim serem acessadas por alguém que fazendo uso de má fé possa utilizá-las para outros fins como a pedofilia.
Fante (2008, p. 50) afirma que:
a conseqüência mais grave do cyberbullying foi registrada nos Estados Unidos em 2003. O adolescente Ryan Patrick Halligan, de 13 anos, foi alvo de boatos on-line sobre a sua orientação sexual durante meses. Após receber constantemente mensagens de colegas dizendo que ele era gay, o jovem suicidou-se.
Existe ainda o cyberbullying praticado por alunos contra os professores, de formas múltiplas. Ás vezez, são citadas comunidades em sites de relacionamento onde são proferidas frases que além de denegrir a imagem profissional, ainda ofendem.
Devido ao fácil acesso de informações, a maioria sem controle, algumas escolas já começaram a trabalhar sobre o uso correto das tecnologias. Tornam-se mais comuns aulas em que são ensinados cuidados sobre a segurança na rede, quanto ao não fornecimento de senhas, endereços, a terceiros e como se posicionar em sites de relacionamento, ou salas de bate-papo, e ainda orientação aos pais de como assessorar seus filhos na rede, devendo assim ter conhecimento de quais sites são frequentados pelos filhos. Assim as escolas já se preparam para combater a esta violência.
1.6 O papel da escola e do professor na prevenção do Bullying
A escola deve ser um ambiente de formação de cidadãos críticos e ativos, de formação de atitudes e opiniões. Segundo Abramavay e Rua (2004, p. 192), “[...] a escola, a educação e o processo de ensino aprendizagem funcionam como uma espécie do salvo- conduto moral, um passaporte para a entrada na sociedade”. Dessa forma, podemos entender que a escola tem como função proporcionar um espaço de formação, de informação e de aprendizagem dos conteúdos aos alunos, formar cidadãos capazes de interferir criticamente na realidade a qual se insere, a fim de transformá-la.
Mas, podemos observar que esse espaço de formação das futuras gerações vem sofrendo mudanças, principalmente no que diz respeito ao aumento cada vez mais intenso das cenas de violência que atingem, direta ou indiretamente, toda a comunidade escolar. Diante disso, torna-se importante que as escolas reconheçam a existência do problema, observem as consequências e capacitem seus professores para a identificação; adotando assim, medidas que envolvam toda a comunidade escolar, mediante projetos e conversas que estimulem e dê segurança aos alunos para denunciar a violência e ensinar que não devemos julgar as pessoas pelas aparências.
Alguns pedagogos entendem que a escola não tem a responsabilidade de combater o problema do bullying, pois ela já se encarrega de muitas outras funções. Mas, é responsabilidade da escola alertar aos pais para que juntos possam tornar medidas que combatam essa prática, até mesmo porque é mais provável que o bullying aconteça dentro da escola. Assim, fica mais fácil para os pedagogos identificarem e desenvolverem estratégias que objetivam o combate dessa prática. Mesmo quando o bullying acontece fora da escola, esta enquanto um espaço de formação de cidadãos tem sua parcela de responsabilidade. Até mesmo porque, muitas tragédias que acontecem fora da escola, podem ser motivadas e iniciadas dentro do ambiente escola. A imprensa mostra que a maioria das denúncias relativas a essa prática vêm de escolas públicas, até mesmo porque as escolas particulares abafam os casos. Assim, devemos destacar que em qualquer escola, seja particular, tradicional, com boa estrutura física ou pública, da periferia, podemos observar a presença desse fenômeno que tem despertado a preocupação dos educadores.
Desta forma, Snyder (2011, p. 01) assevera que
[...] mesmo quando o bullying acontece fora da sala de aula, a escola têm responsabilidade, porque os desdobramentos dessa prática estarão presentes no comportamento dos alunos. Nesse processo, o relacionamento professor-aluno é fundamental. É por meio desse canal que o bullying pode ser identificado.
Segundo Silva (2010, p.63-64), “é preciso dar destaque à escola como um ambiente no qual as relações interpessoais são fundamentadas para o crescimento dos jovens, educando-os para a vida adulta por meios de estímulos que ultrapassem as avaliações acadêmicas tradicionais”. Testemunhamos diariamente a multiplicação e o aumento dos comportamentos agressivos e transgressores na população dos jovens. A escola não seria mais representada como um lugar de integração social, um espaço resguardado; ao contrário, tornou-se um cenário de violências.
Mas, a escola tendo como base o conhecimento humano acumulado, deve manter uma preocupação com propostas pedagógicas mais atraentes às linguagens juvenis. Acerca de tais propostas. Camacho (2001, p. 138) defende a inclusão nos currículos escolares, “[...] da reflexão, da discussão e do entendimento de conceitos como identidade (cultural e social), a alteridade, diferença, multiculturalismo, gênero, etnia, sexualidade, intolerância, preconceito, discriminação, violência, dentre tantos outros”.
Entender as diferenças culturais e sociais que fazem parte do universo escolar dos alunos é compreender o comportamento demonstrado por eles diante do processo de ensino aprendizagem, e trabalhar com elas; “os estudantes devem entender que existem diferenças entre os grupos sociais, nas formas de viver de se expressar” (SANTOS, 2002,p.155). É importante que essa prática escolar construa nos alunos um sentimento de respeito às diferenças, e cabe ao professor estabelecer uma prática sem desigualdades.
A inexistência de políticas públicas que indiquem a necessidade de priorização da prevenção do bullying nas escolas, garantindo a saúde e a qualidade de educação só mostra que as crianças e adolescentes estão expostos a sofrerem essas ações e que os agressores não estão recebendo o tratamento adequado que deveriam. Enquanto a sociedade não estiver preparada para lidar com o problema, serão mínimas as chances de reduzir outras formas de comportamentos agressivos. Essas ações se tornam cada vez mais um problema da sociedade, ou seja, núcleo escolar, pais, políticos etc. E envolvem especialistas, médicos que devem estar preparados para ajudar as crianças e superarem esse trauma.
A escola tem a chave para o sucesso das ações de prevenção do bullying, que se tornou uma necessária medida de saúde pública, capaz de possibilitar o desenvolvimento de crianças e adolescentes, habilitando-os a uma convivência social sadia e segura. Torna-se obrigação sensibilizar os educadores, a família e a sociedade para a existência do problema e suas consequências, de maneira a integrar esforços visando solucioná-lo.
A Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência -
Abrapia (2010, s/n) apresenta em sua página virtual medidas que podem ser tomadas para evitar o bullying:
Desde o primeiro dia de aula, avisem aos alunos que não será tolerado bullying nas dependências da escola. Todos devem se comprometer com isso: não o praticando e avisando à direção sempre que ocorrer um fato dessa natureza. Promover debates sobre o bullying nas classes, fazendo com que o assunto seja bastante divulgado e assimilado pelos alunos. Estimular os alunos a fazerem pesquisas sobre o tema na escola, para saber o que os alunos, professores e funcionários pensam sobre o bullying e como acham que devem lidar com esse assunto. Convocar assembleias, promover reuniões ou fixar cartazes para que o resultado da pesquisa seja apresentado a todos os alunos. Facultar a oportunidade de que os próprios alunos criem regras de disciplina para suas próprias classes. Essas regras, depois, devem ser comparadas com as regras gerais da escola, para que não haja incoerências. Da mesma maneira, permitam que os alunos busquem soluções capazes de modificar o comportamento e o ambiente. Sempre se ocorrer alguma situação de bullying, procurem lidar com ela diretamente, investigando os fatos conversando com os autores a alvos. Quando ocorrerem situações relacionadas a uma causa específica, tentar trabalhar objetivamente essa questão, talvez por meio de algum projeto que aborde o tema. Evitar, no entanto, focalizar uma criança em particular. Nos casos de ocorrência de bullying conversar com os alunos envolvidos e dizer-lhes que seus pais serão chamados para que tomem ciência do ocorrido e participarem juntos com a escola na busca de soluções. Interferir diretamente nos grupos, sempre que for necessário para quebrar a dinâmica do bullying. Fazer os alunos se sentarem em lugares previamente indicados, mantendo afastados possíveis autores de seus alvos. Conversar com a turma sobre o assunto, discutindo sobre a necessidade de se respeitarem as diferenças de cada um. Refletir com eles sobre como deveria ser uma escola onde todos se sentissem felizes, seguros e respeitados.
No que diz respeito ao papel e à postura dos professores, diante dos casos de
bullying na escola, cabe-lhes terem paciência e habilidade para lidar com os alunos envolvido s nessas cenas, como protagonistas e espectadores. É fundamental que haja uma
estrutura e um suporte adequado para os professores, pois a prevenção deve ser para evitar e não apenas para controlar. Além disso, os professores não devem ignorar ou desvalorizar certas atitudes por achar que esse é um problema natural de crianças, e que não existem consequências.
Sendo assim, estar atento as mais variadas relações entre os alunos é de profunda relevância para o futuro das crianças. A escola tem que ser um ambiente seguro e sadio para que possa desempenhar sua função, que é de educar e avaliar o aprendizado intelectual e social do aluno sem interferências. O aluno deve ser protegido e amparado pela escola e encorajado a participar da supervisão e intervenção dos atos do bullying.
Na escola a qualidade da relação professor-aluno deve ser baseada no respeito e confiança, além disso, a gestão escolar deve se preocupar em buscar meios de identificação de casos de bullying, bem como, desenvolver ações antibullying. Vale destacar que tais ações não devem ser de responsabilidade apenas das escolas e dos responsáveis pela gestão escolar,
os pais e os alunos também devem se conscientizar, para que atitudes sejam tomadas. Todo aluno tem o direito de frequentar uma escola segura e com o compromisso de promover uma educação capaz de gerar cidadãos conscientes e críticos e que respeitem as características individuais de cada um.
A escola não pode ser apenas um local de ensino formal, mas também de formação cidadã, de direitos, deveres, ética e moral. Agir contra o bullying é uma forma eficiente de combater a violência entre estudantes e na sociedade.
Apesar de a produção científica sobre o papel da escola nos últimos temposadotar, cada vez mais, uma posição socializadora e defensora dainclusão e domulticulturalismo, ainda hoje, na prática, pode-se, segundo Almeida (2005, p. 15 apud BOURDIE; PASSERON, 19823), perceber a escola como o lugar das contradições onde o que se constata é a reprodução das desigualdades sociais. A questão da qualidade fica apenas no discurso, uma vez que para atendê-la é necessário que a educação seja para todos, acessível à classe menos favorecidae capaz de garantir a formação cultural satisfatória, pois o desejável é que se trabalhetendo em vista a inclusão, por meio da qual todos se sintam participantes e tenham igualoportunidade, com aceitação das diferenças. É importante lembrar que a escola é o lugarde construção do saber, espaço para a socialização e oportunidade para favorecer a mobilidade social.
A escola é o lugar de ensino e difusãodo conhecimento, é instrumentopara o acesso das camadas populares ao saber elaborado [...]. O ensino,como mediação técnica, deve dar a todos uma formação cultural ecientífica de alto nível; a socialização, como mediação sociopolítica,deve cuidar da formação da personalidade social em face de uma novacultura (LIBÂNEO, 2002, p. 75).
Alves e Garcia (2000) também veem a escola como espaço/tempo detransformação, contudo é sabido que ela muitas vezes trabalhou na contramão da mudança social, a favor da classe dominante. Porém, hoje, diante do paradigma da inclusão social, é possível dizer que a escola que não favorece a transformação social se furta ao verdadeiro sentido do verbo educar. Segundo Libâneo (2002), o termo educar vem do latim educere, que significa conduzir, modificar.
Ou seja, educar é provocar mudanças de forma que o sujeito possa aprimorar-se como ser humano e sentir-se incluído na sociedade, e incluir os demais.
1.7 A contribuição da família e da sociedade no combate ao Bullying
3 BOURDIEU, P.; PASSERON, J.-C. A reprodução: Elementos para uma teoria do sistema de ensino. Trad. de Reynaldo Bairão. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982.
A família e a sociedade têm papel fundamental no combate ao bullying. A família tem a responsabilidade primária de preparar a criança para a sociedade. As diferentes manifestações de violência urbana têm importância crescente na sociedade brasileira, diante desse fato, é necessário que a família e a sociedade estejam atentas ao comportamento das novas gerações no sentido de identificar aspectos violentos nas ações dos alunos – quando estes não estão no espaço escolar; ou sintomas atípicos que podem sugerir que a criança está sendo vítima do bullying. Assim, a família e a sociedade também devem se manter esclarecidos acerca do fenômeno do bullying,a fim de serem capazes de identificar quando as brincadeiras sadias se tornam atos de violência física e psicológica. Para o psicólogo José Augusto Pedra em uma entrevista sobre bullying, dada à revista eletrônica Saúde Abril, destaca que,
Gestos, tons de voz, toques e expressões faciais marcam a moçada muito mais do que discursos, especialmente até os 7 anos de idade. Lógico: pais que vivem ausentes ou estressados por causa do trabalho e que costumam usar gritos, tapas e murros para exercer sua autoridade vão transmitir esse modelo de relacionamento aos filhos, mesmo sem perceber. As crianças incorporam comportamentos e acabam reproduzindo-os quando estão em um ambiente sem hierarquia, seja como vítimas, seja como agressoras (PEDRA, 2008, p. 02).
De acordo com a citação acima, podemos perceber a preocupação de Pedra (2008), com o papel da família na construção de um modelo de comportamento da criança, muitas vezes violento. Comportamentos que ao serem incorporados podem ser reproduzidos de forma negativa ou positiva. No que diz respeito ao papel da Sociedade, Lopes Neto aponta que existem:
(...) três documentos legais que formam a base de entendimento com relação ao desenvolvimento e educação de crianças e adolescentes: A Constituição da República Federativa do Brasil, o Estatuto da Criança e do adolescente e a Convenção sobre os Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas. Em todos esses documentos, estão previstos os direitos ao respeito e à dignidade, sendo a educação entendida como um meio de prover o pleno desenvolvimento da pessoa e seu preparo para a cidadania (NETO, 2005, p. 165).
Neste sentido, a Constituição da República Federativa do Brasil, o Estatuto da Criança e do adolescente e a Convenção sobre os Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas, garantem o direito ao desenvolvimento pleno da criança e do adolescente.
No artigo 18º do Estatuto da Criança e do adolescente, observamos que é dever de todos estar atentos e zelar pela dignidade da criança e do adolescente. Sendo seu texto “ É
dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.” (Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990). Portanto, cabe também à classe docente, foco principal desta pesquisa, primar pelo bem estar social dos alunos. Observamos também, no artigo 227 da Constituição Federativa do Brasil de 1988, que é:
(...) dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010).
Como podemos ver, é obrigação do Estado, da sociedade e da família garantir todas as condições necessárias para o crescimento sadio das crianças e dos adolescentes. Mas podemos observar, que diante dos casos crescentes de bullying, que esse direito à dignidade, ao respeito, a liberdade, a saúde, a vida não estão totalmente sendo respeitados, ferindo assim a Constituição Brasileira.
Portanto, a sociedade em geral participa da educação da criança e deve ser modelo de conduta e respeito dentro e fora da sala de aula. No âmbito legal, a constituição de 1988, traz o texto: “a educação é um direito social e é dever do Estado e da família”. A nova lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº 9394/96 no seu art. 2º, estabelece que a educação é “[...] um dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1996, p. 03).
Partindo desses princípios, pode-se constatar que a educação do indivíduo se pauta, mesmo que de uma forma implícita, na parceria entre essas instituições. A educação está em toda prática social, a família constitui-se em um ambiente de socialização e aprendizagem, onde se estabelece normas e regras.
A família é uma organização social complexa, um microcosmo da sociedade, onde ao mesmo tempo se vivem as relações primárias e se constroem os processos identificatórios. É também um espaço em que se definem papéis sociais de gênero, cultura de classe e se reproduzem as bases de poder (MINAYO, 1999, p. 83).
Por conseguinte, ocorre que “[...] a família encarrega-se de transmitir conhecimento comum, [e] a escola ocupa-se principalmente da transmissão do saber
organizado, produto do desenvolvimento cultural” (CUBERO; MORENO, 1995, p. 199). Pois, “os pais geralmente se omitem não sabem lidar corretamente. As vítimas e as testemunhas se calam. O grande desafio é convocar todos para trabalhar no incentivo e a uma cultura de paz e respeito às diferenças individuais (ESCOREL, 2008 apud BARROS, 2008 p. 02).
Desta forma, a família e a escola devem ser aliadas na educação das novas gerações; a família com a função de afirmar e transformar valores, construindo no ser humano conhecimentos e valores essenciais para o exercício da cidadania e a escola com o ensino formal reforçando o conhecimento informal, experiências e crítica social, e assim, cumpre seu papel socializador. Segundo Gohn:
A educação formal é aquela desenvolvida nas escolas, com conteúdos previamente demarcados, a informal como aquela que os indivíduos aprendem durante seu processo de socialização – na família, bairro, clube, amigos etc., carregada de valores e culturas próprias, de pertencimento e sentimentos herdados: e a educação não-formal é aquela que se aprende “no mundo da vida”, via os processos de compartilhamento de experiências, principalmente em espaços e ações coletivos cotidianas (GOHN, 2006, p. 2-3).
Diante do exposto, entendemos a necessidade de uma sociedade mobilizada em função de iniciativas comunitárias, que caminha rumo à construção da paz, do amor e do respeito ao próximo. Somente a partir do momento em que a sociedade estabelecer vínculos com a escola, por intermédio de objetivos em comum, o processo do bullying poderá ser identificado e abordado com mais eficácia, alcançando assim melhorias nas condições educacionais.
CAPÍTULO II
BULLYING: Uma reflexão acerca das práticas pedagógicas
2.1 Percurso metogológico para realização da pesquisa
Neste capitulo serão discutidos a metodologia de estudo, os sujeitos pesquisados, as coletas de dados e os resultados obtidos. A metodologia deste trabalho consistiu de pesquisa de campo e bibliográfica.
Quanto à pesquisa bibliográfica, conforme relata Triviños (2005), privilegia:
[...] a entrevista semi-estruturada porque esta, ao mesmo tempo que valoriza a presença do investigador, oferece todas as perspectivas possíveis para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias, enriquecendo a investigação. (TRIVIÑOS, 2005, p.146).
2.1.1 Tipo de Pesquisa
Abordagem qualitativa, pois responder a questões particulares, se preocupando, com um nível de realidade que não pode ser mensurado, ou seja, “ [...] trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço maus profundo das relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis” (MINAYO, 2003, p.21- 22).
2.1.2 Contexto do espaço de realização da pesquisa
A pesquisa foi realizada na cidade de Buritizeiro/MG, no final do mês de outubro de 2019, em uma escola municipal, a qual será denominada neste estudo de Escola Municipal “X”. O bairro onde a escola localiza divide-se entre classe média e baixa, onde seus moradores são em grande maioria industriários e funcionários públicos, uma característica que define a realidade dos alunos atendidos. Os pais dos alunos de maneira geral vivem de serviço provisórioe informal, outros desempregados ou filhos de aposentados.
A escolaridade dos pais se resume em Ensino Fundamental, alguns com Ensino Médio e outros apenas foram alfabetizados.
A escola passou por reformas e ampliações e atualmente conta com uma boa infraestrutura: salas de aula, cantina, biblioteca, banheiros, sala de professores, direção e supervisão, secretaria, depósito, pátio coberto e pátio externo e uma central de informática colocando a educação pública municipal no nível qualificado.
O total de alunos atendidos é de 359 alunos, no turno matutino é de 240 e 119 alunos no turno vespertino. Os turnos de funcionamento da escola é matutino, das 07:00 às 11:15, e vespertino das 13:00 às 17:15. Na chegada das crianças os funcionários são encarregados de recebe-las e dá orientações aos pais, quando necessário. As crianças reunem no pátio da escola onde fazem a oração do Pai Nosso e cantam uma música escolhida durante o planejamento, sempre referente ao trabalho quinzenal. Logo após, as crianças juntamente com seu professor se dirigem a sala de aula.
Estas práticas são importantes, pois, através da rotina é possível a observação comportamental dos alunos. Esta observação é de suma importância uma vez que, como Beaudoin e Taille (2007) relatam durante esses momentos em que os alunos estão mais livres que é observado com mais clareza, as práticas do bullying. Diante do que foi exposto é reafirmado a necessidade deste momento ser monitorado pelos educadores.
A Escola Municipal “X” possui um servidor responsável pela monitoria dos alunos nos momentos de entrada, saída e recreio. Este profissional limita-se em conter a ordem do local, evitando as agressões físicas, não desenvolvendo atividades de interação e inclusão.
2.1.3 Sujeitos da Pesquisa
Nesta pesquisa foi solicitada a participação de nove professoras4, mas, diante da recusa de uma, no total foram oito professoras entrevistadas. Todas trabalham como regente de turmas, tanto na Educação Infantil, quanto no Ensino Fundamental, atendendo crianças na faixa etária de 4 a 12 anos. As professoras entrevistadas demonstraram interesse, firmeza e boa vontade em participar do estudo e se prontificaram a prestar mais informações caso julgasse necessário para o andamento deste estudo.
A população investigada é composta por 1195 crianças que frequentam uma escola na cidade de Buritizeiro/MG.
4 Sendo todas do sexo feminino são referidas neste estudo como professoras.
5 A pesquisa de campo foi realizada no turno vespertino.
2.1.4 Instrumentos para coleta de dados
Para coleta dos dados foi realizada uma pesquisa de campo através de uma entrevista semi estruturada com oito professoras. A entrevista semi-estruturada oferece novas hipóteses à medida que o entrevistado dá as suas respostas (TRIVIÑOS, 2005). A entrevista foi individual e com acesso às perguntas para uma melhor abordagem do conteúdo.
Segundo Ribeiro (2008, p.141),
a entrevista é a técnica mais pertinente quando o pesquisador quer obter informações a respeito do seu objeto, que permitam conhecer sobre atitudes, sentimentos e valores subjacentes ao comportamento, o que significa que pode ir além das descrições das ações, incorporando novas fontes para a interpretação dos resultados pelos próprios entrevistadores.
A entrevista foi aplicada na própria escola, delimitada para o. As professoras foram informadas que suas identidades não seriam reveladas a fim de preservar o anonimato. Neste trabalho elas serão identificadas com o nome de flores: Margarida, Violeta, Rosa, Orquídea, Girassol, Flor de Liz, Vitória Régia e Bem-me-quer.
2.2 Entrevista com as professoras
2.2.1 Perfil das docentes
Para conhecer o perfil das professoras pesquisadas, no início da entrevista foram apresentadas questões referentes a aspectos da vida profissional, bem como da sua formação escolar.
Os resultados demonstraram que, a atuação das professoras na educação varia entre 03 a 25 anos.
Quanto a formação escolar, 04 (quatro) possui pós-graduação, 02 (duas) possem ensino superior, 01 (uma) possui ensino superior incompleto e 01 (uma) possui magistério.
Sendo assim, verificou-se que, as entrevistadas possuem um nível de instrução que sugere ser favorável à qualidade do processo de ensino e de aprendizagem. Todas relatam a pretensão de dar continuidade à formação, além de freqüentarem,
regularmente, cursos de qualificação.
Quadro I - Professoras entrevistadas e turmas de atuação em 2019
	Professoras
	Turma de atuação
	1. Margarida
	2° Período – Ensino Infantil
	2. Violeta
	2° Período – Ensino Infantil
	3. Rosa
	1° Ano – Ensino Fundamental
	4. Orquídea
	2° Ano – Ensino Fundamental
	5. Girassol
	3° Ano – Ensino Fundamental
	6. Flor de Liz
	4° Ano – Ensino Fundamental
	7. Vitória Régia
	5° Ano – Ensino Fundamental
	8. Bem-me-quer
	6° Ano – Ensino Fundamental6
Fonte: Entrevista concedida pelas professoras da Escola Municipal “X”, em out. e Nov./ 2019.
2.2.2 A voz das professoras sobre o bullying na escola
Quando questionadas às professoras sobre às particularidades da personalidade dos alunos todas disseram serem observadoras durante a rotina diária, como nos momentos de realização das atividades, interação dos alunos durante os intervalos, e que nesses momentos cotidianos percebem as particularidades de cada criança.
Silva (2010) aponta que a personalidade é construida a partir da interação com o outro, que o temperamento é adquirido através da nossa genética e que o psicologico é formado pelos diversos comportamentos que exercemos nas variadas circunstancias que vivenviamos no cotidiano.
A personalidade resulta da interação do comportamento com a grande variedade de situações que vivenciamos ao longo do tempo. O temperamento diz respeito aos traços biológicos que herdamos (material genético) de nossos familiares. Já a nossa história psicológica é formada por uma gama de comportamentos que desenvolvemos como resposta às diversas circunstâncias da vida (SILVA, 2010, p. 73).
Munida desse conhecimento, a observação favorecerá à professora mais propriedade para conhecer cada criança identificando as alterações comportamentais
6 Faixa etária de cada turma: 2° período: 5 anos/ 1° ano: 6 anos/ 2° ano: 7 a 8 anos/ 3° ano: 8 a 9 anos/ 4° ano: 9
a 10 anos/ 5° ano: 10 a 11 anos/ 6° ano: 11 a 12 anos.
presentes no grupo a fim de fazer intervenções necessárias, evitando que o fenômeno do
bullying se instaure.
Silva (2010), reforça que, a observação é de suma importância, pois fornece subsídios para que as intervenções educativas dos professores sejam mais eficazes. Quando atento o educador consegue identificar os personagens e a forma de intervir nas variadas situações em que o bullying estiver presente. Assim, pode contribuir escolhendo e direcionando a metodologia que melhor se aplica a personalidade de cada um.
Quando questionadas às professoras se conversam com as crianças sobre o cotidiano deles todas disseram que conversam e debatem com a turma constantemente.
Silva (2010) relata que vivemos hoje momentos de grande violencia e que a prática do diálogo é de grande relevância para instaurar na escola atitudes que possam conduzir as novas gerações a valores como a paz, a tolerancia e respeito ao outro.
Não há como negar que vivemos tempos difíceis, em que a violência e a agressividade infanto juvenil são crescentes e ameaçam a todos nós. Seja como pais e educadores, seja como membros de uma coletividade, de um estado ou de toda sociedade, nenhum de nós está imune a essas circunstâncias. Direta ou indiretamente sofremos os efeitos dessa forma de agir adotada por muitos de nossos jovens. E, sem qualquer dúvida, sofreremos também no futuro; afinal, são esses jovens que estarão no comando do mundo em breve. Auxiliar e conduzir as novas gerações na construção futura de uma humanidade mais atenta a seus excessos e enganos, mais justa e menos violenta, é um imperativo categórico de que todos nós, que habitamos o planeta Terra, deveríamos nos incumbir (SILVA, 2010, p.60).
Todas entrevistadas disseram que observamas alterações de comportamentos das crianças em sala de aula. Fica evidente que a ação docente favorece o desenvolvimento de relações interpessoais que não se limitam apenas ao repasse de conhecimentos. Silva (2010) nos aponta que uma proposta educativa que visa a transformação tem que ser capaz de levar as crianças valores impregnados de paz, tolerancia e respeito por si, pelo outro e pelo mundo que nos rodeia.
Os comportamentos dos alunos podem ser facilmente identificados pelos docentes devido um longo tempo de convívio entre eles. Quando as relações interpessoais das crianças e da professora são favorecidas pelo diálogo e atenção qualquer sinal de bullying pode ser discutido e combatido em conjunto.
Fante (2005) relata em seus estudos que ainda há pouca conscientização da
realidade do bullying nos meios educacionais e um despreparo dos profissionais para lidarem com esse tipo de violência. A pesquisadora nos aponta, também, que na maioria das vezes os profissionais da escola não estam presentes nas situações em que as crianças sofrem a violencia através do Bulliyng.
Na maioria das vezes, entretanto, os professores ou outros profissionais da escola não percebem a agitação ou não se encontram presentes no local quando acontecem os ataques ã vítima; assim, os próprios alunos ficam entregues a si mesmos para resolver seus conflitos. (FANTE, 2005, p.48)
.
No momento em que foram perguntadas se observam a prática de bullying entre seus alunos, seis professoras responderam que sim, e duas disseram que as vezes observam esta prática entre as crianças.
Em relação as medidas tomadas ao presenciarem a prática do bullying, as 06 professoras que afirmaram já terem presenciado, relataram que de imediato é feita a intervenção verbal, e logo apos os individuos envolvidos são encaminhados a direção. E ao voltarem para a sala de aula, as docentes mediante o dialogo tenta conscientizar todos, utilizando o fato como exemplo, no intuito de que não aconteça mais. E com as vitimas, a conversa é individual, sempre tentando contornar a situação, para que não cause mais danos.
Gráfico I: Observação da prática do Bullying pelas professoras
Fonte: Entrevista concedida pelas professoras da Escola Municipal “X”, em out. e Nov./ 2019.
Os dados apontam para o alto índice da pratica do bullying no âmbito escolar pesquisado, mas ao mesmo tempo	percebe-se o nível de consciência das professoras em
relação ao fenômeno. Este ponto é positivo já que é o primeiro passo para que ações de prevenção e combate a essa violência possam ser incrementados. No entanto, dentre as 8 entrevistadas, 02 (duas) parecem não reconhecer que o problema ocorre, o que pode acontecer devido a pouca atenção as alterações do comportamento das crianças.
Sobre este aspecto Fante (2005), salienta que:
A conscientização e a aceitação de que o bullying é um fenômeno que ocorre, com maior ou menor incidência, em todas as escolas de todo o mundo, independentemente das características culturais, econômicas e sociais dos alunos, e que deve ser encarado como fonte geradora de inúmeras outras formas de violências são fatores decisivos para iniciativas bem-sucedidas no combate à violência entre escolares (FANTE, 2005, p.91).
Assim, Fante (2005) descreve que, comumente observamos inúmeros tipos de conflitos e tensões entre alunos em uma sala de aula. Não há dúvida de que a grande maioria dos incidentes do bullying ocorre no interior da escola. Porém, é preciso diferenciar os maus tratos ocorrentes e não graves dos maus tratos habituais e graves. Fante (2005) relata que os atos de bulling apresenta algumas caracteríticas comuns:
[...] são comportamentos produzidos de forma repetitiva num período prolongado de tempo contra uma mesma vítima; apresentam uma relação de desequilíbrio de poder, o que dificulta a deesa da vítima; ocorrem sem motivações evidentes; são comportamentos deliberados ou danosos (FANTE, 2005, p.49).
Nessa direção, Silva (2010, p. 22), “algumas posturas podem se configurar em formas diretas ou indiretas da prática do bullying. Mas, raramente a vítima recebe somente um tipo de maus-tratos; geralmente, os comportamentos desrespeitosos dos bullies costumam vir de um grupo.”
Ao serem perguntadas se seus alunos possuem atitudes agressivas 07 professoras disseram que quase sempre possuem, e apenas 1 disse que seus alunos nunca possuem esta atitude.
As pesqsuisas nos apontam que na maioria das vezes os profissionais que atuam nas escolas não percebem a presença de situações que envolvem o bulling entre as crianças. Nessa direção Fante (2005) relata em uma de suas pesquisas que os dados apresentados em uma instituição investigada trouxe surpresa aos seus profissionais.
Algo que chamou nossa atenção foi o fato de muitos diretores negarem o
fenômeno da violência, existente em suas escolas, principalmente os que administram escolas particulares. Quando questionados diziam: “Na minha escola não há violência, apenas alguns casos pontuais, mas atuamos imediatamente tomando as devidas providências junto aos agressores”. Posteriormente, após a apresentação dos resultados das pesquisas mostrando a existência do bullying, ficavam perplexos por nunca terem imaginado que isso ocorresse em seu meio. (FANTE, 2005, p.51)
Diante do exposto, torna-se evidente a importância em identificar tal fenômeno e não negar a existência deste, uma vez que somente agrava a situação, trazendo conseqüências irreparáveis como já foi relatado neste estudo.
A pergunta seguinte questionava se diante da discriminação de alguns alunos por outros, qual a forma procedida pela professora e pela escola. Todas as professoras enfatizaram a importância do diálogo e das consequências que este fenômeno pode trazer para a vida de uma pessoa. A resposta de três das entrevistadas, transcrita abaixo, expressou bem a prática exercida com as crianças:
Converso com os alunos, procuro trazer reportagens, textos relacionados ao assunto para que sejam discutidos em sala de aula. (Margarida)
Possibilitamos que os alunos vivenciem atividades que envolvam palestras, diálogos, orientações, textos, estimulando assim, a socialização e a boa vivencia. (Violeta)
Procuro levá-los a se colocar no lugar do outro, usando o processo de reciprocidade. Quanto à escola esses alunos são notificados , caso haja reincidência, a família é acionada para as providências cabíveis. (Flor-de-lis)
O gráfico abaixo aponta as metodologias utilizadas pelas professoras para o combate do bulling em suas turmas. As metodologias que as professoras pesquisadas mais utillizam saos debates, atividades escritas e relatos de experiencias.
GRÁFICO II- Metodologias utilizadas pelas professoras no combate ao Bullying
Fonte: Entrevista concedida pelas professoras da Escola Municipal “X”, em out. e Nov./ 2019.
Diante do exposto pode-se inferir que, a família mesmo sendo vista como omissa é pouco informada a respeito do comportamento de seus filhos, ficando a escola com a responsabilidade de sanar tal fenômeno sozinho. No gráfico acima, percebe-se que a metodologia que as professoras menos utilizam é a comunicação do fato aos pais. Ainda que as interlocutoras vejam a família como omissa, a família deve ser informada sobre tal prática, a fim de ajudar no combate ao bullying.
Percebe-se a preocupação das professoras com variadas metodologias para contribuir com o combate ao bulling na escola, mas não podemos eximir o papel que a família exerce nesse processo educativo. Fante (2005, p.145) diz que “é imprescindível a participação do segmento familiar. Insentar a participação dos pais é equivocar-se na idéia de que a escola é a única responsável pelo processo educacional.”
Fante (2005) aponta que os pais devem elevar a auto-estima dos filhos que estão sofrendo bulluing, dando destaque as suas qualidades e capacidades, não culpando-os pelas práticas do bullying que vem sofrendo, nem incentivando a revidar aos ataques. Ainda seguindo as recomendações feitas por Fante (2005) é destacado que:
Entretanto, os pais devem estar

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