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Via Glicolítica ou Glicólise Aspectos gerais A principal rota de geração de energia, é a via metabólica central. Pode- se dizer que ela é uma via central quase universal do catabolismo (quebra) da glicose, a via com o maior fluxo de carbono na maioria das células. A glicólise foi a primeira via metabólica a ser elucidada, Otto Meyerhof e Gustav Embden elucidaram a via completa no músculo na década de 30. As células humanas, os fungos, as plantas e as bactérias, utilizam a glicose como fonte primária para a obtenção de energia. Ao nos alimentarmos, a glicose chega no sangue e vai até as células onde é metabolizada pela via glicolítica que ocorre no citosol das células, nesse processo, uma molécula de glicose é degradada em uma série de reações catalisadas por enzimas, gerando duas moléculas do composto de três átomos de carbono, o piruvato. Durante as reações sequenciais da glicólise, parte da energia livre da glicose é conservada na forma de ATP e NADH. O saldo final do processo de glicólise é de duas moléculas de ATP. Para o metabolismo celular, existem duas etapas: ▪ Via anaeróbia: sem oxigênio, acontece no citosol, a exemplo da glicólise. ▪ Via aeróbia: com oxigênio, acontece nas mitocôndrias. Entrada da glicose no citosol da célula A glicose entra na célula por meio do GLUT2 (mecanismo reversível) e é metabolizada no citosol da célula até se tornar dois piruvatos, os piruvatos seguem para a mitocôndria onde acontece o Ciclo de Krebs e a cadeia transportadora. Na via glicolítica, a quebra da glicose, formada por seis átomos de carbono, em duas moléculas de piruvato, cada uma com três carbonos ocorre em 10 reações, sendo as primeiras 5 constituintes da fase preparatória e as demais da fase de pagamento. Etapa 1: investimento 1ª reação: A glicose que acabou de entrar no citosol da célula é fosforilada pela enzima hexocinase que retira um grupo fosfato da molécula de ATP (pois é uma reação energeticamente desfavorável) e insere na glicose. Perante a transferência do grupo fosfato para a molécula de glicose, o ATP transforma-se em ADP e a glicose em glicose 6-fosfato. REAÇÃO IRREVERSÍVEL A transferência do fosfato, torna a molécula de glicose uma molécula com carga que não consegue se aproximar da face interna da membrana que é negativa e faz com que a molécula deixe de ser reconhecida pelo seu transportador, o GLUT2, impedindo que a mesma saia da célula. As reações que usam ATP (fosforizam) dependem do magnésio (Mg2+), um metal utilizado pelas enzimas para a geração de energia, já que o verdadeiro substrato da enzima não é o ATP, mas sim o complexo MgATP. O magnésio protege as cargas negativas do grupo fosforil do ATP, tornando o átomo de fósforo terminal um alvo mais fácil para o ataque nuceofílico por um grupo OH da glicose. As cinases são enzimas que catalisam a transferência do grupo fosforil terminal do ATP a um aceptor nucleofílico, sendo elas uma subclasse das transferases. 2ª reação: A glicose 6-fosfato se transforma em frutose 6-fosfato (mudança na conformação da molécula – produção de isômero), essa transformação acontece pela enzima fosfoglicose isomerase. A transformação de glicose em frutose serve para facilitar a quebra da molécula de modo que vá três carbonos para cada lado. 3ª reação: A frutose 6-fosfato será transformada através da enzima fosfofrutocinase (PFK) que retira um fosfato do ATP (tornando-o ADP) e insere na molécula de frutose 6-fosfato, tornando-a uma molécula equilibrada com dois fosfato que passa a ser chamada de frutose 1,6- bisfosfato. REAÇÃO IRREVERSÍVEL 4º e 5º reação: A frutose 1,6-bisfosfato é dividida pela enzima aldolase em duas moléculas, cada qual com um grupo fosfato. A molécula gerada do carbono 1 ao 3 é chamada de diidroxiacetona-fosfato (DHAP) e a molécula gerada do carbono 4 ao 6 é denominada de gliceraldeído-3-fosfato (GAP). As duas moléculas originadas até então podem ser transformadas uma na outra através da enzima triose-fosfato-isomerase. Somente a molécula de gliceraldeído-3-fosfato pode dar continuidade ao ciclo, assim, a molécula de diidroxiacetona-fosfato transforma-se em gliceraldeído 3-fosfato e as reações subsequentes da 2ª etapa ocorrem em duplicata. Resumo da etapa 1: Na etapa 1 há um investimento de duas moléculas de ATP. Etapa 2: rendimento Todas as demais reações ocorrem em duplicada. 6º reação: Ocorre uma reação de óxido- redução (componente que perde hidrogênio é oxidado e componente que ganha hidrogênio é reduzido). A enzima gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase retira um hidrogênio de cada molécula de gliceraldeído 3-fosfato (oxida) e insere- os nas moléculas de NAD+ (reduz). A molécula de gliceraldeído 3-fosfato passa a ser 1-3 bisfosfoglicerato (oxidada) e o NAD+ torna-se NADH (reduzido). A molécula de NADH é a vitamina B3. A molécula de 1,3- bisfosfoglicerato está com muito fosfato, assim está instável, por isso, irá perder um fosfato na reação seguinte. 7ª reação: As moléculas de 1,3- bisfosfoglicerato transferem os seus fosfatos do carbono 1 para as molécula de ADP, através de uma reação de transferência de fosfato mediada pela enzima fosfoglicerato cinase. Dessa forma, as moléculas de 1-3 bisfosfoglicerato transformam-se em moléculas de 3- fosfoglicerato e as moléculas de ADP transformam-se em ATP. Essa é a primeira reação em que ocorre ganho energético. REAÇÃO REVERSÌVEL 8ª reação: As moléculas de 3-fosfoglicerato sofrem transformação através da mudança de local do grupo fosfato, realizada por a enzima fosfoglicerato mutase (catalisam a transferência de grupamentos funcionais dentro de uma mesma molécula). O grupo fosfato saí do carbono 3 para o carbono 2 e assim se aproxima da parte negativa da molécula que se transforma em 2-fosfoglicerato. 9ª reação: A enzima enolase retira uma molécula de água (desidratação) de cada molécula de 2-fosfoglicerato, transformando a molécula em fosfoenolpiruvato (PEP) que apresenta uma dupla ligação, por isso, é ainda mais instável. 10ª reação: As moléculas de fosfoenolpiruvato transferem através da enzima piruvato cinase o grupo fosfato para as moléculas de ADP, com isso, as moléculas de fosfoenolpiruvato tornam-se moléculas de piruvato e as moléculas de ADP tornam-se ATP. O segundo ATP é ganho. REAÇÃO IRREVERSÍVEL Resumo da etapa 2: A etapa 2 ocorre em duplicata, assim, produz-se 4 moléculas de ATP. Como na 1ª etapa houve gasto de 2 ATP, o ganho final da glicólise é de 2 ATP, 2 piruvatos e 2 NADH. Destino dos piruvatos No citosol das células a glicose é transformada em piruvato, com isso há ganho energético e o piruvato pode seguir dois rumos: fermentar ou seguir para a mitocôndria e realizar a respiração celular. A fermentação é uma via anaeróbica (sem participação de oxigênio) pode ser alcoólica ou láctica, enquanto a respiração celular ocorre em condições aeróbicas (com participação de oxigênio) na mitocôndria. A fermentação irá acontecer em situações de hipoxia (pouco oxigênio) que pode acontecer no músculo esquelético muito ativo, nos tecidos vegetais submersos, nos tumores sólidos ou nas bactérias lácticas. Fermentação O processo de fermentação pode ser láctica ou alcoólica, no entanto, o corpo humano não é capaz de produzir etanol, é capaz somente de produzir lactato, semelhante a bactérias lácticas. Fermentação láctica: Na fermentação láctica por meio da enzima lactato desidrogenase o piruvato é convertido em lactato (reduzido) e o NADH se transformando em NAD+ (oxidado), assim, ocorre uma reação deóxido-redução, em que não há gasto e nem ganho de ATP. A função da redução do piruvato a lactato é a manutenção da via glicolítica (pois ocorre a regeneração do NAD+) para que haja ganho energético através da glicólise. O lactato é uma estrutura ácida e por consequência, a transformação da glicose até lactato desencadeia uma diminuição do pH intramuscular. Regeneração do NAD+: Para a via glicolítica ser realizada é necessário que haja NAD+ que participa da 6ª reação entrando como substrato e gerando NADH. Então, para que haja um restabelecimento dos níveis de NAD+ é necessário que haja a fermentação láctica que ao produzir lactato, oxida o NADH retirando o hidrogênio e assim possibilitando que a 6ª reação da glicólise seja realizada. Por isso, a fermentação mantém o funcionamento da via glicolítica. No músculo, durante exercícios de alta intensidade, a energia é gerada através da via glicolítica, com muito NADH, produção de H+ e fosfato inorgânico, assim, o caminho é produzir lactato, fazendo com que haja NAD+ e, dessa forma, possibilitando que a via glicolítica ocorra. No entanto, a grande quantidade de lactato deixa o pH do músculo mais ácido: O lactato é formado no músculo esquelético em atividade (ou pelos eritrócitos), pode ser reciclado; ele é transportado pelo sangue até o fígado, onde é convertido em glicose durante a recuperação da atividade muscular exaustiva. Quando o lactato é produzido em grande quantidade durante a contração muscular vigorosa, a acidificação resultante da ionização do ácido láctico nos músculos e no sangue limita o período da atividade vigorosa. Um músculo que não possui a enzima lactato desidrogenase, também não consegue manter uma atividade física vigorosa, porque não é possível recuperar o NAD+ que dá fluxo a via glicolítica durante a 6ª reação. A grande quantidade de lactato pode desencadear uma rápida acidose lática que é corrigida rapidamente, logo após o aumento da entrada de oxigênio, o que possibilita o ganho energético por via aeróbica. Bactérias produtoras de ácido láctico: As bactérias produtoras de ácido láctico são normalmente utilizadas para a fabricação de bebidas lácteas, fermentadas e com probióticos. Essas bactérias transformam o carboidrato do leite e converte em lactato que pode acidificar o meio, precipitando/desnaturando as proteínas, assim, o leite que era líquido, vai ficando mais consistente porque a proteína vai “coalhando”. Fermentação alcoólica: Alguns microrganismos e leveduras realizam uma fermentação etanoica. Nessa reação, a molécula de piruvato tem o seu CO2 retirado (descarboxilação) pela ação da enzima piruvato descarboxilase (reação irreversível), formando a molécula acetaldeído. A molécula de acetaldeído, se reduz pela enzima álcool desidrogenase e a molécula de NADH se oxida a NAD+, restando assim uma molécula de etanol e uma molécula de NAD+ que servirá para manter a via glicolítica. Na primeira reação libera-se gás (CO2). Regulação A regulação de uma via metabólica é feita através das enzimas que podem trabalhar mais ou menos, a depender do desejado. A glicólise deve ser regulada nas etapas que atua as enzimas: hexocinase (HK), fosfofrutocinase (PFK) e piruvato cinase (PK) que atuam no início, meio e fim da via, sendo enzimas que realizam reações irreversíveis. Regulação alostérica: Determinada molécula no interior das células se liga a uma enzima, essa por sua vez, pode ser estimulada ou ter sua atividade reduzida de acordo com o ambiente. Uma célula repleta de energia reduz a atividade das enzimas, porque já há grande quantidade de ATP, assim, as moléculas de ATP se ligam a enzima fosfofrutocinase para inibir a sua atividade e o AMP (resultado da quebra do ATP - é uma molécula de baixa energia) se liga a enzima fosfofrutocinase para acelerar a sua atividade, para que haja mais energia nas células. Se tiver mais ATP, as enzimas trabalham menos, já se houver mais AMP as enzimas trabalham mais. Se a via glicolítica não estiver funcionando, devido a uma grande quantidade de energia já existente na célula, para que não haja acúmulo de glicose, a enzima hexocinase tem a sua atividade inibida por a molécula de glicose 6-fosfato, dessa forma, a glicose não é fosforizada e sai da célula para ser utilizada em outro local. No caso da enzima ATP cinase, a sua atividade pode ser inibida pelo ATP (caso haja muita energia na célula) e a molécula de frutose 1,6-bisfosfato pode ativar (caso haja pouca energia na célula). Em uma situação de repouso, há uma inibição da via glicolítica, pois há uma grande quantidade de energia nas células, já em uma situação de atividade, as enzimas sofrem ativação, porque há um grande gasto de energia, haverá mais AMP que irá estimular a ação das enzimas para que haja maior produção de energia. Sistemas geradores de ATP: Considerando os sistemas geradores de energia, o ATP que já está formado fornece energia rapidamente, mas essa energia é logo gastada, a via glicolítica, por sua vez, consegue gerar grande quantidade de energia que se mantem e, por fim, a mitocôndria é responsável por uma produção de energia mais lenta, mas que ocorre em grande quantidade.
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