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Sociologia dos Direitos Fundamentais.indb 1 17/3/2009 14:04:17
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Todos os direitos reservados.
V476 Veras Neto, Francisco Quintanilha; Santos, Sidney Francisco Reis 
dos. / Sociologia dos Direitos Fundamentais. / Francisco 
Quintanilha Veras Neto; Sidney Francisco Reis dos Santos. — 
Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2009.
252 p.
ISBN: 978-85-387-0785-1
1. Sociologia jurídica. 2. Direito e Sociedade. 3. Minorias. 
I. Título. II. Santos, Sidney Francisco Reis dos.
CDD 340.2
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Doutor em Direito pela Universidade Federal de Santa 
Catarina (UFSC), Mestre em Sociologia Política pela UFSC e 
Graduado em Direito pela mesma universidade. Advogado da 
Ordem dos Advogados do Brasil, Professor da Faculdade Está-
cio de Sá de Santa Catarina, Consultor jurídico-interdisciplinar, 
mediador familiar.
Sidney Francisco Reis dos Santos
Doutor em Direito das Relações Sociais pela Univer-
sidade Federal do Paraná (UFPR), Mestre em Direito pela 
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Gradua-
do em Direito pela mesma universidade. Professor adjunto 
titular da cadeira de História do Direito da Faculdade de 
Direito da Universidade Federal do Rio Grande, e do Mes-
trado em Educação Ambiental da mesma instituição.
Francisco Quintanilha Veras Neto
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Sumário
O Estado Democrático de Direito ..................................................................13
As principais teorias sociológicas do Estado ..................................................................................13
Considerações jurídico-políticas sobre o Estado Democrático de Direito .........................18
A construção dos direitos fundamentais ......................................................27
A diferenciação entre direitos fundamentais e direitos humanos ........................................27
As dimensões dos direitos fundamentais ......................................................................................29
Breve histórico dos direitos fundamentais ....................................................................................32
A construção dos direitos fundamentais das mulheres .........................49
Breve histórico sobre os direitos fundamentais das mulheres ...............................................49
Os direitos fundamentais femininos na Idade Antiga ...............................................................50
Os direitos fundamentais femininos na Idade Média ................................................................54
Os direitos fundamentais femininos na Idade Moderna ..........................................................55
Os direitos fundamentais femininos na Idade Contemporânea ............................................56
Os direitos fundamentais femininos no Brasil ..............................................................................59
A construção dos direitos fundamentais das crianças e adolescentes ....... 69
A luta pela construção dos direitos 
fundamentais de crianças e adolescentes de rua no Brasil.......................................................69
O Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua .............................................................75
O Estatuto da Criança e do Adolescente e a 
implementação dos direitos fundamentais das crianças e adolescentes de rua ..............78
A construção dos direitos fundamentais dos idosos ...............................85
Breve histórico sobre os direitos fundamentais do idoso ........................................................85
Os direitos fundamentais do idoso frente à dinâmica da globalização ..............................90
Os direitos fundamentais do idoso no Brasil .................................................................................92
Outros direitos fundamentais do idoso previstos no Estatuto ...............................................94
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A construção dos direitos fundamentais dos homossexuais .............101
A classificação pluridimensional do sexo .....................................................................................101
A homossexualidade na História (a questão no mundo e no Brasil) ...................................102
A construção dos direitos fundamentais dos povos indígenas ........117
História ameríndia na América Latina ............................................................................................117
O Direito Indígena e a herança colonial latino-americana .....................................................120
A política indigenista brasileira (experiência distante 
da realização dos direitos fundamentais dos ameríndios brasileiros) ................................124
O avanço da cidadania indígena: 
caminho para a garantia de seus direitos fundamentais ........................................................127
A construção dos direitos fundamentais dos afro-descendentes .......133
O colonialismo e a escravidão negra: a origem da discussão ...............................................133
A origem das cotas raciais: o debate nos EUA ............................................................................137
A questão dos afro-descendentes no Brasil ................................................................................142
A construção dos direitos fundamentais 
das pessoas portadoras de necessidades especiais ..............................151
Breve histórico sobre a exclusão dos portadores de necessidades especiais .................151
Os direitos fundamentais dos portadores de necessidades especiais no Brasil .............156
A luta pela acessibilidade: um dos principais 
direitos fundamentais dos portadores de necessidades especiais no Brasil ....................160
As entidades do Terceiro Setor e a construção da cidadania ............169
A tipologia das entidades do Terceiro Setor ................................................................................169
As diferenças entre os Movimentos Sociais, Organizações Não-Governamentais 
(ONGs) e as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips) ...................173
Um olhar do pluralismo jurídico comunitário 
participativo sobre as entidades do Terceiro Setor e a construção da cidadania ...........177
O espaço urbano no Brasil .............................................................................187
Breve histórico sobre o desenvolvimento das cidades ...........................................................187
Reflexões sociológicas sobre o Estatuto da Cidade ...................................................................188
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O Estatuto da Cidade:objetivos e finalidades ............................................................................190
A importância socioambiental do plano 
diretor para o desenvolvimento das cidades ...............................................................................191
A proteção sociojurídica do meio ambiente no Brasil ..........................199
Evolução histórica do movimento ambientalista ......................................................................199
Reflexões sociológicas sobre o Código Florestal Brasileiro 
(Lei 4.771, de 15 de setembro de 1965), percebido como um Código Ambiental .........207
A percepção da ecologia política sobre a 
proteção sociojurídica ao meio ambiente no Brasil .................................................................211
Gabarito .................................................................................................................219
Referências ..........................................................................................................233
Anotações .............................................................................................................251
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Apresentação
A presente obra intitulada Sociologia dos Direitos 
Fundamentais se inicia com o 1.º capítulo centrado na 
reflexão sobre dois clássicos do pensamento das Ciências 
Sociais contemporâneas, respectivamente Karl Marx e Max 
Weber. Os autores são utilizados para fornecer uma inter-
pretação do Estado capitalista: o primeiro por sua exposi-
ção da essência do caráter classista do Estado capitalista e 
o segundo pela demonstração do processo de racionaliza-
ção da burocracia e de institucionalização do carisma na 
política do Estado contemporâneo. 
No capítulo 2 a distinção entre direitos humanos e di-
reitos fundamentais é demonstrada, bem como a história 
das dimensões de direitos humanos, as várias classifica-
ções jurídicas e as dificuldades para a implementação dos 
direitos humanos em escala global e nacional.
No capítulo 3 se discute a questão dos direitos funda-
mentais das mulheres, buscando traçar pontes entre a situa-
ção nacional e internacional de seus direitos fundamentais.
O capítulo 4 trata dos direitos das crianças e adoles-
centes. A discussão acerca destes direitos deve ser inseri-
da dentro da violência estrutural da sociedade brasileira 
voltada contra a população pobre no Brasil. Hoje esta vio-
lência assume a roupagem institucional de uma violência 
voltada contra a população pobre, que inclui grupos de 
crianças e adolescentes de rua e em situação de risco. O 
Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 surge como 
fio condutor de uma nova mentalidade que visava romper 
com a visão jurídica do Código de Menores de 1979. 
A compreensão histórica do conceito de terceira idade 
permite a reflexão, apresentada no capítulo 5, acerca da 
questão dos direitos fundamentais dos idosos relacionada à 
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Constituição brasileira de 1988 e a conquista representada 
pelo Estatuto do Idoso. A compreensão desta legislação, os 
aspectos relevantes para a sua adoção e a compreensão das 
forças sociais que se organizam para a sua implementação é 
de fundamental importância.
O capítulo 6 traz à tona um dos grupos mais mar-
ginalizados ao longo da história: o dos homossexuais. O 
surgimento do movimento social designado como GLBTT 
(Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transgêneros ) que 
no curso de mobilizações iniciadas nos anos 1970 deram 
a base à luta atual pela igualdade buscando o reconheci-
mento e aceitação da diferença de sua opção sexual. Este 
capítulo busca desta forma aferir os impactos sociológicos 
e legais da luta pela cidadania deste grupo.
O capítulo 7 identifica a problemática dos indígenas, 
o primeiro povo habitante desta terra e vítima de um terrí-
vel genocídio. A compreensão histórica deste processo de 
extermínio e a luta pelo reconhecimento da sua cidadania 
após a ampla subjugação do período colonial e imperial 
(especialmente no século XX) têm destaque no livro. 
O capítulo 8 trata da situação dos negros, trazidos sob a 
condição de escravos para o Brasil, bem como da formação 
da economia brasileira escravagista e da violência estrutural 
trazida por este sistema. A questão da ação afirmativa como 
um direito fundamental dos afro-descendentes visando 
extirpar a chaga do racismo (fator de exclusão secular de 
nosso país e que continua como problema planetário da 
globalização) é desenvolvida, a partir de duas realidades de 
racismo distinto, nos EUA e no Brasil.
A luta pela cidadania dos portadores de necessidades 
especiais é destacada no capítulo 9, que especifica a ques-
tão da acessibilidade de espaços públicos e particulares, o 
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direito à educação, ao mercado de trabalho, a correta in-
formação pela mídia acerca da dignidade humana deste 
grupo social. Todas estas são realidades e temas fundamen-
tais para o entendimento da luta deste grupo social pela 
cidadania em uma sociedade marcada pela exclusão da di-
ferença e que visa afirmar o direito à inclusão como direito 
fundamental dos portadores de necessidades especiais.
O capítulo 10 traz a questão das práticas sociais das 
organizações do Terceiro Setor (movimentos sociais, ONGs, 
Ocips), percebidas como um canal de construção da cida-
dania dos grupos sociais excluídos da dinâmica da globali-
zação neoliberal nas sociedades de capitalismo periférico.
No capítulo 11 introduz-se o problema da cidade no 
mundo e no Brasil em sua dimensão social e urbana, com 
as possibilidades de cidadania trazidas pelo Estatuto da 
Cidade e suas possibilidades de implementação de uma 
opção sustentável e democrática para o futuro das cida-
des e do planeta.
O capítulo 12 trata de uma luta pelos direitos fundamen-
tais que abrange todas as outras por considerar a totalidade 
planetária, a luta pelo ambiente e pelo futuro intergeracio-
nal do planeta. Esta luta por uma nova solidariedade consi-
dera o direito fundamental à vida no seu sentido da totali-
dade planetária e a interdependência mútua entre homem 
e natureza como único fundamento para a subsistência de 
nossa espécie ameaçada pela própria expansão predatória 
do sistema civilizacional humano contemporâneo.
O objetivo desta obra é contribuir com o debate 
dentro uma visão sociológica para efetivação dos direitos 
fundamentais dos grupos sociais excluídos no Brasil. Se 
pudermos lançar as sementes da reflexão interdisciplinar, 
esta obra terá cumprido sua meta.
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O Estado Democrático de Direito 
Sidney Francisco Reis dos Santos
As principais teorias sociológicas do Estado
O estudo do fenômeno do Estado é uma área complexa e interdisciplinar, que en-
volve uma diversidade de teorias existentes tanto nas áreas da Filosofia Política, Ciência 
Política, Ciência Jurídica e Sociologia. 
A descrição do fenômeno, a ser desenvolvido neste capítulo irá se focar nas duas 
principais teorias sobre o Estado elaboradas pelos autores clássicos da Sociologia1, Karl 
Marx e Marx Weber.
Estas teoriassociológicas dos autores clássicos são fundamentais para o enten-
dimento sociológico da evolução histórica do Estado e das características do atual 
Estado Democrático de Direito2. 
Teoria marxista do Estado 
No entender de Sell (2006) o tema da política em Karl Marx (1818-1883) começa 
a ser tratado através das críticas às ideias de Georg Wilhelm Hegel, particularmente na 
obra hegeliana intitulada Princípios de Filosofia do Direito. Marx após romper definitiva-
mente com as ideias de Hegel em sua obra A Ideologia Alemã (1846), se desloca para o 
estudo da Economia Política (SELL, 2006).
Apesar de não ter dedicado uma obra sistemática sobre a temática do Estado, 
pode deduzir nos textos em que o autor se manifesta sobre acontecimentos políticos 
de sua época, uma “teoria marxiana3”(SELL, 2006). 
1 Para Sell (2006) as reflexões de Èmile Durkheim sobre o Estado ocupam pouco espaço no conjunto de sua obra e exerceram pouca influência nas discussões 
sociológicas posteriores. Maiores esclarecimentos sobre a Teoria de Estado em Durkheim vide a obra de Giddens (1998) e Bellamy (1994).
2 O Estado Democrático de Direito está subordinado à Constituição Nacional que deve ser promulgada por uma Assembleia Nacional Constituinte (ANC). Esta 
ANC deve ser eleita pelos cidadãos nacionais através de voto direto e secreto (sufrágio universal).
3 Costuma-se usar o termo: marxiano(a) para as teorias que Marx deixou sobre os fenômenos sociopolíticos e econômicos de sua época, no século XIX, ou 
para especialistas nas Teorias de Marx que permaneceram fiéis ao seu pensamento clássico. Já o termo: marxista, pode ser usado para se referir a uma pessoa 
que segue as teorias de Marx ou para especialistas nas teorias de Marx que recontextualizam suas teorias clássicas para contribuir para superação dialética dos 
problemas sociopolítico-econômicos do século XX e XXI.
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Na obra Manifesto do Partido Comunista, Marx menciona uma frase que resume 
a essência da compreensão marxista do Estado: ele afirma que o Estado Moderno de 
Democracia representativa europeia utiliza seu poder político para administrar os ne-
gócios de toda a classe burguesa. Dentro deste entendimento destaca-se o caráter 
classista do Estado pois, para Marx, o Estado é um instrumento de domínio de uma 
classe social sobre a outra em todas as épocas históricas (SELL, 2006). 
Na visão de Marx, o Estado nunca representou o bem comum e os interesses 
gerais de toda sociedade. Na obra A Ideologia Alemã, Marx levantou as sementes de 
uma teoria classista de Estado, onde se destaca a dominação do Estado Burguês. Marx 
procurava mostrar como os instrumentos de regulação repressivos do Estado estão 
contidos nas normas jurídicas e nas forças encarregadas da aplicação da lei: polícia e 
exército são mobilizados pelas classes dominantes sempre que a ordem social estiver 
ameaçada pela contestação das classes dominadas (SELL, 2006). 
Na sua análise do golpe de Estado promovido por Luis Napoleão4, descrito na 
obra O Dezoito Brumário, Marx demonstrou que nem sempre as classes dominantes 
exercem diretamente o controle do Estado. Naquele momento, como não havia acordo 
entre as diferentes frações da classe da burguesia, o poder político foi apropriado pelo 
sobrinho de Napoleão Bonaparte, cuja base social era formada por camponeses e pe-
quena burguesia. Entretanto, isto apenas reforça o fato de que no modo de produção 
capitalista o caráter burguês do Estado não se explica somente porque ele é adminis-
trado diretamente pelas classes dominantes. É o próprio Estado, nas suas estruturas e 
nas suas formas de organização, que representa os interesses do capital (SELL, 2006).
Na percepção de Sell (2006) é a partir das indicações de suas obras supramen-
cionadas que os especialistas em Marx identificaram os principais elementos de uma 
teoria Marxista do Estado, a saber:
 o Estado pertence à esfera da superestrutura5. Dessa forma, ele não pode ser 
analisado separadamente do restante da sociedade e suas funções devem ser 
procuradas no nível da infraestrutura;
4 Luís Napoleão (1808-1873) (sobrinho de Napoleão Bonaparte) com um golpe de estado tornou-se imperador francês, interrompendo o regime republicano 
da França pós-Revolução Francesa. Filho de Luís Bonaparte, rei da Holanda (irmão de Napoleão Bonaparte), e Hortênsia de Beauharnais (enteada de Napoleão 
Bonaparte), Luís Napoleão passou a juventude exilado na Alemanha e na Suíça. Com a morte do único filho de Napoleão Bonaparte tornou-se o principal 
representante do movimento bonapartista. Com a instauração da república foi eleito deputado à Assembleia Constituinte e posteriormente, presidente da 
França. Sem direito a reeleição, restabeleceu o sufrágio universal, promoveu um plebiscito que aprovou uma nova constituição e outro que instituiu o império, 
e foi aclamado imperador com o nome de Napoleão III.
5 No entendimento de Althusser (1985) a estrutura social, para Marx, é constituída por dois níveis: a infraestrutura é o sistema produtivo (modo de produção 
econômica). A superestrutura é a forma de dominação no sentido ideológico, jurídico e institucional (família, religião, direito, e Estado Moderno). A superes-
trutura comporta duas instâncias: a jurídica (o Direito e o Estado) e a ideológica (família, religião, moral, política etc.). A superestrutura é determinada pela 
infraestrutura, ou seja, cada modo de produção econômica no decorrer da história (escravismo, feudalismo, capitalismo) vai determinar as instâncias jurídica e 
ideológica da superestrutura. Por exemplo, atualmente a infraestrutura do modo de produção capitalista determina o modo de viver da superestrutura globa-
lizada e consumista que vivemos atualmente no século XXI. 
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 o Estado não representa os interesses globais e comuns da sociedade (bem 
comum), mas sim, os interesses particulares de uma classe social;
 o Estado capitalista representa o braço repressivo da burguesia. Para Marx, 
portanto, a força é o elemento que define os meios do Estado que são usados 
pela burguesia para impedir a ascensão do proletariado.
No entendimento de Sell (2006) o aperfeiçoamento da tese do caráter classista 
do Estado foi decorrência do desenvolvimento das sociedades capitalistas e das mu-
danças no campo político dos estudiosos marxistas. Dentro deste contexto, a teoria 
marxista se dividiu em duas correntes principais que são: 
 teoria instrumentalista: parte do princípio de que o Estado está a serviço do 
capitalismo porque ele é controlado direta ou indiretamente pelas classes bur-
guesas. Esta corrente de pensamento sofreu influência norte-americana sendo 
inspirada em Charles Wright Mills na obra pioneira A Elite do Poder (1956), tem 
como principais representantes Ralph Miliband nas obras O Estado na Socie-
dade Capitalista (1969) e Marxismo e Política (1977) e William Domhoff na obra 
Quem Determina a América (1967);
 teoria estruturalista: parte do princípio de que as funções do Estado são de-
terminadas pelas estruturas do capitalismo. Destaca-se a teoria estruturalista 
francesa de Louis Althusser com a obra Aparelhos Ideológicos do Estado (1971) 
e Nicos Poulantzas com as obras Poder Político e Classes Sociais (1968) e Estado, 
o Poder, o Socialismo (1978). Cabe ressaltar a teoria estruturalista alemã de 
Claus Offe na sua obra Problemas Estruturais do Estado Capitalista (1984).
Teoria weberiana do Estado 
No olhar de Sell (2006) o sociológo alemão Max Weber (1864-1920) elaborou uma 
teoria de Estado centrada no fenômeno da burocracia e na construção de lideranças 
políticas carismáticas.Para Weber, a burocracia seria um tipo de poder centrado na fun-
cionalidade das estruturas organizacionais, ou seja, sua característica principal reside 
no princípio da racionalidade: na burocracia, a liderança está calcada em regras im-
pessoais e escritas e é exercida através de uma estrutura hierárquica, sendo o poder 
legítimo e dependente da competência técnica de quem o detém.
O contexto econômico, social e político da Alemanha do final do século XIX e 
início do século XX são fundamentais para entender o pensamento de Weber. Naquela 
época, o capitalismo industrial expandia-se por toda a Europa. A Alemanha ainda era 
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um país retardatário no processo de industrialização que era liderado pela Inglaterra e 
pela França. Para que a Alemanha pudesse participar da corrida econômica, a unifica-
ção dos territórios germânicos efetuada por Otto Von Bismarck (1815-1898) foi funda-
mental (SELL, 2006)6.
No início de sua carreira numa conferência intitulada: O Estado Nacional e a Política 
Econômica, Weber aborda diretamente o tema da industrialização na Alemanha ao mos-
trar que a base social da burocracia executiva e militar alemã eram os antigos estamen-
tos7 aristocráticos, chamados de Junkers. Todavia, Bismarck, através de um Estado forte 
e intervencionista, favoreceu o processo de industrialização da economia. A burguesia 
alemã ficou acomodada em seu papel político. Para a burguesia alemã, o que interessava 
era o avanço da modernização econômica, não lhe importando o fato de o Estado estar 
nas mãos da aristocracia rural. Neste contexto, Weber chamava a atenção para o fato que 
o Estado não podia ficar nas mãos de um estamento social decadente cujo único interes-
se era favorecer a burocratização do Estado para manter os seus cargos (SELL, 2006).
Perante a falta de preparo da burguesia alemã urbana para assumir o poder polí-
tico, de que forma conter o poder da burocracia tradicional de teor aristocrático rural? 
Quais seriam os mecanismos necessários para forjar líderes políticos que fossem capa-
zes de guiar o Estado alemão e seu quadro administrativo na sua tarefa de afirmação 
do poder nacional da Alemanha? Estas questões foram durante toda a vida de Weber a 
principal preocupação e o centro de seus escritos políticos militantes.
Para responder estas questões, Weber defendeu primeiro uma democracia parla-
mentar, todavia, já no final de sua vida, apoiou a defesa de uma democracia plebiscitá-
ria (SELL, 2006).
Sua visão da democracia parlamentar está expressa na obra Parlamento e Governo na 
Alemanha Reordenada, onde se encontra as principais teses de Weber sobre o papel do par-
lamento na formação de líderes políticos. Nesta obra, Weber analisa a herança que Bismarck 
deixou para a Alemanha e conclui que o parlamento deveria ser o mecanismo fundamen-
tal da formação de dirigentes políticos. Para isso, ele sugeria duas modificações legais. Em 
primeiro lugar, a revogação da lei que impedia os parlamentares de ocupar cargos minis-
teriais. Em segundo lugar, a formação de comissões técnicas vinculadas aos assuntos de 
governo. Desta forma, Weber acreditava que o parlamento teria que assumir as respon-
sabilidades efetivas do governo, sobrepujando o papel da burocracia. Por outro lado, as 
novas responsabilidades do parlamento melhorariam as qualidades dos políticos eleitos 
6 Após a era napoleônica, a competição entre as duas potências locais, Prússia e Áustria era obstáculo para a unificação dos estados alemães. Grande respon-
sável por este processo, Bismarck recebeu em 1862, o cargo de chanceler da Prússia. Conhecido como Chanceler de Ferro, buscou demonstrar o poder militar 
prussiano para assegurar a supremacia sobre toda a Alemanha, o que ocorreu com a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871) quando a Prússia conseguiu por fim 
unir os estados alemães.
7 No entender de Sell (2006), Max Weber fala nos grupos de status ou estamentos sociais, considerados como “todo o componente típico do destino dos 
homens determinado por uma estimativa específica, positiva ou negativa da honraria”. Trata-se de uma comunidade, de algo bem diferente daquilo que o 
mesmo autor considera como a classe e que está apenas ligada a interesses econômicos aos “interesses ligados à existência de mercado”. Se as classes são 
“grupos de pessoas que, do ponto de vista de interesses específicos têm a mesma posição econômica”, já o “estamento social é uma qualificação em função de 
honras sociais ou falta destas, sendo expresso através de um estilo de vida específico”.So
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que deixariam de ser meros diletantes para tornarem-se políticos responsáveis. Nesta obra, 
Weber se inspirou no modelo de parlamentarismo monárquico constitucional inglês ao 
tentar mudar as instituições políticas alemãs de sua época histórica (SELL, 2006).
Sua percepção de democracia plebiscitária se manifesta no artigo O Presidente do 
Reich, onde, Weber abandona o modelo parlamentarista inglês pelo modelo norte- 
-americano. Passa a valorizar as eleições direitas para presidente como forma de for-
mação de novas lideranças políticas. Nesta etapa, ele apoia a mudança da Constitui-
ção nacional que tornaria a Alemanha uma República Presidencialista. Para ele o líder 
presidencialista eleito pelo povo seria capaz de guiar o Estado e a nação alemã rumo 
ao desenvolvimento industrial. A força das urnas e da maioria do povo daria a este 
líder (chamado por Weber de líder cesarista) a força necessária para impor sua vonta-
de sobre a burocracia e o próprio parlamento. Os seus intérpretes teóricos intitularam 
esta liderança de democracia plebiscitária (SELL, 2006).
No prisma de Sell (2006) os principais conceitos teóricos8 da Sociologia Política de 
Weber são vistos e trabalhados como “tipo ideais”. Cabe ressaltar os conceitos relacio-
nados com sua teoria de Estado a saber:
 poder – é a capacidade de impor a própria vontade dentro de uma relação 
social;
 Estado – é uma comunidade humana, que dentro dos limites de um determi-
nado território reivindica o monopólio legítimo da violência física:
 no entendimento de Weber, na sua obra A Política como Vocação, o Estado 
Moderno tem como ponto de partida o desejo do príncipe de expropriar 
os poderes privados independentes que, a par do seu, detêm a força ad-
ministrativa, isto é, todos os proprietários de meios de gestão, de recursos 
financeiros, de instrumentos militares e qualquer espécie de bens suscetí-
veis de utilização para fins de caráter político. 
 em suma, o Estado nasceu de um lento processo pelo qual o rei conseguiu 
centralizar em suas mãos o exército, a administração financeira e o poder 
político, unificando o território e limitando o poder dos senhores feudais. 
Neste contexto, Weber aponta as diferenças dentro do Estado Moderno 
entre os políticos profissionais e a burocracia estatal. 
 os políticos (funcionários políticos) seriam aqueles indivíduos que se colo-
caram a serviço do príncipe na sua luta contra os senhores feudais. Weber 
cita os seguintes exemplos a saber: clérigos, os letrados com formação hu-
manística, a nobreza da corte, o patriarcado (pequena nobreza) e principal-
mente os juristas. De outro lado estão os funcionários de carreira (burocra-
tas estatais) que ocupam os domínios financeiro, do exército e da justiça.
8 Estes conceitos teóricos weberianos podem ser encontrados na obra Economia e Sociedade e na obra a Política como Vocação.
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 dominação– é a probabilidade de encontrar obediência aos mandatos ordena-
dos por quem tem poder. Para o exercício do poder estatal, segundo Weber não 
basta apenas um aparato burocrático, é necessário que os indivíduos aceitem 
este poder. Isto significa que o Estado só pode existir sob a condição de os seres 
humanos dominados se submeterem à autoridade continuamente reivindicada 
pelos dominadores. Para entender os motivos que fazem os indivíduos aceitarem 
o poder político, Weber conceituou três tipos de dominação legitima a saber:
 dominação tradicional – o fundamento da obediência é o costume e a tra-
dição (política, religiosa, militar, familiar) que se repetem no decorrer do 
tempo
 dominação carismática – o fundamento da obediência são as qualidades 
excepcionais e extraordinárias do líder 
 dominação legal-racional – o fundamento da obediência são as normas 
impessoais e as regras legais que foram estatuídas com a participação de 
todos e por todos devem ser aceitas.
A principal diferença entre as análises sociológicas do Estado9 elaboradas pela tra-
dição marxista e pela tradição weberiana é que a primeira foca sua análise em fatores 
externos, ou seja, pensar o sistema político de forma derivada do sistema econômico 
(mercado-capitalismo) enquanto a segunda acentua os fatores internos, sem ignorar a 
influência política da economia capitalista e da organização da classe proletária, foca 
sua atenção nos grupos políticos (príncipes, políticos, empresários quadro adminis-
trativo etc). A abordagem weberiana mostra que existe uma aliança de colaboração 
mútua entre a burocracia estatal e os grupos políticos para gerenciar o Estado através 
de uma dominação legitima que possa ser aceita pela sociedade (SELL, 2006).
Considerações jurídico-políticas sobre o Estado 
Democrático de Direito 
Conceituação 
A categoria Estado Democrático de Direito está vinculada à subordinação do 
Estado à Lei Constitucional que deve ser promulgada por uma Assembleia Nacional 
9 Apesar das inúmeras contribuições das teorias marxista e weberiana para compreensão sociológica do Estado, estas teorias são insuficientes para entender a 
atual crise do estado-nação (crise do Estado Democrático de Direito) dentro da dinâmica da globalização. Para compreender melhor os limites e alcance desta 
crise uma abordagem sociológica do Estado vide Castells (1999)So
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Constituinte (ANC). Esta ANC deve ser eleita pelos cidadãos nacionais através de voto 
direto e secreto (sufrágio universal)10.
Dentro deste entendimento, a finalidade essencial do Estado Democrático de Di-
reito é superar as desigualdades sociais e regionais e instaurar um regime democrático 
que realize a justiça social (SILVA, 2003).
No Brasil a Constituição Federal de 1988, elencou no seu texto os direitos funda-
mentais, no sentido de proporcionar a sociedade civil no Brasil uma efetiva aplicação 
dos mesmos. Ao longo dos vinte anos da vigência da Constituição Federal, coube aos 
movimentos sociais e demais setores organizados da sociedade civil delinear os novos 
contornos democráticos dos direitos fundamentais.
O Brasil constitui-se, no sentido jurídico num Estado Democrático de Direito em 
que os valores da democracia são irradiados sobre todos os elementos constitutivos 
do Estado e sua ordem jurídica. 
Em suma, o conceito do Estado Democrático de Direito é: a organização do poder 
em torno das instituições públicas, administrativas (burocracia) e políticas (Poder Cons-
tituinte), no exercício legal e legítimo do monopólio do uso da força física (violência 
estatal), a fim de que o povo (conjunto dos cidadãos ativos), sob a égide da cidadania 
democrática, do princípio da supremacia constitucional e na vigência plena das garan-
tias, das liberdades e dos direitos individuais e sociais, estabeleça o bem comum de 
toda sociedade existente num determinado território (SILVA, 2003).
Devido aos problemas sociais nacionais e internacionais que o Brasil está enfren-
tando, faz-se necessário a implementação de políticas públicas que visem à plena satis-
fação dos ideais de justiça e cidadania proclamados pelo legislador constituinte, cola-
borando, portanto, para a tão sonhada efetividade prática dos direitos fundamentais
Princípios jurídicos constitucionais do Estado Democrático 
de Direito 
O princípio da constitucionalidade está ligado à supremacia da Constituição Fe-
deral, da qual provém a vontade popular e, portanto, determina o dever do legislador 
de submeter-se à Constituição. O legislador pode violar a Constituição por ação ou 
omissão. Por ação, quando produz leis inconstitucionais. Por omissão, quando deixa 
de produzir leis expressamente previstas na Carta Constitucional. Quando o legislador 
viola a Constituição por ação, a lei por ele produzida só é eliminada do ordenamento 
10 As palavras sufrágio e voto são empregadas comumente como sinônimas; a CRFB/88, no entanto, dá-lhes sentido diferentes, especialmente no seu art. 14, 
por onde se vê que sufrágio é universal e o voto é direto, secreto e tem valor igual; o sufrágio é um Direito Público subjetivo de natureza política, que tem o 
cidadão de eleger, ser eleito e de participar da organização e da atividade do poder estatal; nele consubstancia-se o consentimento do povo que legitima o 
exercício do poder; aí estando sua função primordial, que é a seleção e nomeação das pessoas que hão de exercer as atividades governamentais.
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jurídico quando revogada, ou constituída sua inconstitucionalidade por decisão irre-
corrível do Supremo Tribunal Federal (STF). Quando o legislador viola a Constituição 
por omissão, trata-se de um fato, verificável por qualquer um. Infelizmente, porém, sua 
conduta omissiva não é passível apreciação pelo STF. O cumprimento deste princípio 
contribui para garantia dos direitos fundamentais previstos na Constituição Federal.
Canotilho (1995) considera os princípios constitucionais a essência da Constitui-
ção, classificando-os em quatro grupos a saber:
 os fundamentais – aqueles historicamente objetivados e progressivamente 
introduzidos na consciência jurídica, que são recepcionados expressa ou im-
plicitamente no texto constitucional;
 os politicamente conformadores – aqueles que demonstram, de forma explíci-
ta, a visão social de mundo do legislador constituinte;
 os impositivos – todos os que impõem aos órgãos do Estado, sobretudo ao 
legislador, a realização de fins e execução de tarefas;
 os de garantia – os que estabelecem, de forma direta e imediata, uma garantia 
para os cidadãos.
Os princípios constitucionais devem ser aplicados através da operacionalização 
dos chamados direitos fundamentais (individuais, coletivos, políticos e sociais). Os di-
reitos fundamentais são a melhor demonstração da democratização institucional do 
Estado Democrático de Direito.
Entretanto, após a promulgação da Constituição Federal de 1988, poderíamos 
dizer que a estrutura do Estado brasileiro começou a se preocupar como os interesses 
da população dos excluídos sociais?
Infelizmente, para a maioria da população brasileira excluída socialmente, o direi-
to estatal nunca se preocupou, de forma efetiva com as suas necessidades humanas 
fundamentais. O Estado brasileiro segregou autoritariamente, os setores da população 
dos “sem-direito” e sem-poder. Ele apartou estes setores pobres da população do exer-
cício de seus direitos fundamentais à saúde, à educação, à moradia, ao emprego etc.
Os direitos fundamentais são parte essencial da segurança jurídica social, pois 
(a partir dessa criação institucional) alguns desses direitos agorapodem alcançar um 
número maior de pessoas, e assim proteger e garantir especialmente a integridade 
física dos cidadãos desprovidos de recursos socioeconômicos mínimos.
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O Estado autoritário do Golpe Militar de 196411, incentivou a regra do Estado Mínimo, 
e com essa fórmula foi transferida e aplicada nas políticas públicas, tornando mínima a 
sua operacionalização efetiva, ou seja, se manifestou uma política pública de pilhagem e 
cinismo, onde as imunidades estatais e fóruns privilegiados dos operadores jurídicos in-
centivaram a promoção de uma constante apropriação indébita das verbas das políticas 
públicas destinadas à população pobre. Do prisma sociológico pode-se chamar este tipo 
autoritarismo positivista de Estado de injustiça social (BENEVIDES, 1996).
Este Estado de injustiça social é decorrente de um Estado patrimonialista12, onde 
a estrutura jurídica e administrativa incentiva o servidor público a continuar a ser um 
servo dos interesses particulares da Elites. No contexto brasileiro, transformar o Estado 
de injustiça social num Estado Democrático de Direito, não é tarefa fácil, portanto, não 
é exercício teórico, mas sim prático em conformidade com a própria história das insti-
tuições públicas brasileiras (FAORO, 2001).
Este longo caminho de transformação sociopolítico e cultural começa na percepção 
de que o problema tem início na formulação da lei pelo Poder Legislativo. Durante o pro-
cesso legislativo as elites econômicas agem em defesa de seus os interesses de classe. As 
elites, através de lobby, criam mecanismos jurídicos de obstrução classista, a operaciona-
lização de muitos direitos fundamentais da população pobre (BENEVIDES, 1996).
Estes lobbys das elites interferem negativamente na pauta democrática do Estado 
Democrático de Direito e prejudicam a definição e a operacionalização efetiva das po-
líticas públicas em prol dos setores carentes economicamente da população brasileira. 
(BENEVIDES, 1996).
Dessa forma, a questão central destas considerações passa a ser o nivelamento em 
que se opera a atividade política, seus níveis de envolvimento, parcerias, barganhas, trocas 
e organização, bem como as formas sociais, institucionais, jurídicas, morais e culturais ne-
cessárias ao controle e regulação do próprio político-legislativo (BENEVIDES, 1996).
11 O Golpe Militar de 1964 designa o conjunto de eventos ocorridos em 31 de março de 1964 no Brasil, que culminaram em um golpe de estado que der-
rubou o governo do presidente João Belchior Marques Goulart, também conhecido como Jango, que havia sido democraticamente eleito vice-presidente, 
pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) – nas mesmas eleições que conduziram Jânio da Silva Quadros à Presidência pela União Democrática Nacional (UDN). 
Jânio renunciou ao mandato no mesmo ano de sua posse (1961) e João Goulart, que deveria assumir a Presidência, segundo a Constituição vigente à época, 
promulgada em 1946, estava em viagem diplomática à República Popular da China. Militantes de direita acusaram Jango de ser comunista e o impediram de 
assumir como mandatário no regime presidencialista. Foi feito um acordo político e o Parlamento brasileiro criou o regime parlamentarista, sendo João Goulart 
nomeado Chefe de Estado. Em 1963 houve um plebiscito que teve como resultado a volta do regime presidencialista, e Jango finalmente assumiu a Presidência 
da República com amplos poderes. O Golpe de 1964 derrubou o presidente e submeteu o Brasil a uma ditadura militar que durou até 1985. Todavia teve uma 
fase denominada de transição democrática de 1985-1988 com promulgação da Constituição Federal de 1988 e posterior eleição direta do presidente Fernando 
Collor de Mello que iniciou juridicamente o atual Estado Democrático de Direito. (Disponível em: <www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/golpe-militar-de-
1964/golpe-militar-de-1964-1.php>.)
12 A origem do patrimonialismo no Brasil, remonta ao período colonial, onde a estrutura patrimonialista foi herdada de Portugual. Faoro (2001) na sua con-
cepção de Estado patrimonialista, coloca a propriedade individual como sendo concedida pelo Estado, caracterizando uma “sobrepropriedade” da coroa sobre 
seus súditos e também este Estado sendo regido por um soberano e seus funcionários. No entanto, o patrimonialismo que foi superado em outros países, 
acabou sendo mantido no Brasil, tornando-se a estrutura político-social de nossa economia política.
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A questão da construção de um Estado Democrático de Direito não deve me-
nosprezar e nem supervalorizar a política, mas sim buscar o equilíbrio entre o que se 
requer originariamente e os próprios resultados obtidos, entre o ideal dos princípios 
jurídicos constitucionais e a efetividade da aplicação da lei dentro do Estado Demo-
crático de Direito. No Brasil, trata-se de erradicar as raízes do Estado patrimonial, supe-
rando a corrupção e aprisionando os corruptos do poder e todos aqueles que utilizam 
o poder do Estado como um trampolim de utilização pessoal da máquina pública, em 
detrimento da população hipossuficiente (FAORO, 2001).
Em suma, para se elaborar um Estado Democrático de Direito, faz-se necessário 
por um lado elaborar as políticas públicas baseadas na compreensão dos pontos prin-
cipais das teorias marxista (o caráter classista do Estado) e weberiana do Estado (o 
desenvolvimento de uma liderança carismática apoiada por uma burocracia racional- 
-legal) e por outro lado compreender os princípios jurídicos constitucionais para chegar 
a uma justiça social que busque operacionalizar os direitos fundamentais para toda a 
Sociedade Civil brasileira. 
Texto complementar
O silêncio e o Estado Democrático de Direito 
(NUNES, 2008)
Volto na coluna de hoje e agora um pouco mais espantado, a abordar o tema 
do Estado Democrático de Direito no Brasil. Se não tivéssemos passado por um 
longo período autoritário, no qual se cerceou brutalmente as liberdades, inclusive a 
de imprensa, vá lá, mas com nossa história que é conhecida de todos e tão recente, é 
mesmo de causar perplexidade verificar o desprestígio que o Estado de Direito goza 
nos meios de comunicação.
Meu comentário hoje está relacionado ao fato ocorrido na semana passada 
envolvendo o empresário Daniel Dantas, que obteve liminar no Supremo Tribunal 
Federal (STF) garantindo que ele não estava obrigado a responder às perguntas que 
lhe fossem formuladas na CPI dos grampos telefônicos.
Li e ouvi opiniões contrárias que são incompreensíveis e que, infelizmente, são 
capazes de desinformar a população a respeito das verdadeiras garantias constitu-
cionais vigentes no país.
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Como já disse antes nesta coluna, não há dúvida que a liberdade de expres-
são é um dos pilares das sociedades democráticas e, claro, a verdadeira babel de 
opiniões emitidas em todas as direções as mais diversas possíveis (e na atualidade 
transmitida e retransmitida via e-mail) é bem vinda. 
Todavia, penso que, especialmente aqueles que têm alguma penetração nos 
meios de comunicação deveriam ter um maior compromisso com a verdade, bus-
cando se informar sobre do que realmente o tema trata, antes de falar qualquer 
coisa que possa acabar influindo no pensamento da população, mais obscurecendo 
o já difícil conhecimento que o brasileiro tem relativamente a seus direitos, que pro-
piciandoseu esclarecimento. É o caso do direito ao silêncio.
Esse direito é típico da tradição democrática. Nos Estado Unidos há um prece-
dente condutor famoso conhecido como “caso Miranda”. Em março de 1963, Ernesto 
Miranda foi acusado de crime de rapto e estupro e detido pela polícia. Depois de 
duas horas de interrogatório, os policiais obtiveram sua confissão que acabou le-
vando à sua condenação em primeira instância, a 50 anos de prisão. Essa sentença 
foi confirmada pela Corte Estadual do Arizona com o argumento de que Miranda 
não teria pedido específica e objetivamente um advogado. Mas a Suprema Corte 
americana em 1966 anulou a decisão.
Os policiais que interrogaram Miranda admitiram em Juízo que não o haviam ad-
vertido de que poderia ficar calado e que ele tinha, além disso, o direito de ser ouvido 
na presença de um advogado. A Suprema Corte dos Estados Unidos estabeleceu que os 
acusados têm o direito de receber o aviso de que podem ficar em silêncio e de que tudo 
o que disserem pode ser usado contra eles próprios. Ficou garantido também o direito 
dos acusados de serem acompanhados de um advogado durante o interrogatório.
É a mesma garantia estabelecida no Brasil e que está expressamente consagra-
da na Constituição Federal. Veja. Artigo 5.º, inciso LXIII : “o preso será informado de 
seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assis-
tência da família e de advogado”.
Sem me alongar na questão, anoto que a interpretação do texto constitucional 
leva à conclusão de que não só o “preso” tem direito de permanecer em silêncio, mas 
também qualquer acusado que não esteja preso.
Essa questão é induvidosa nos Tribunais brasileiros, sendo que o Supremo Tri-
bunal Federal já decidiu inúmeras vezes que o acusado tem direito de permane-
cer em silêncio, inclusive perante as Comissões Parlamentares de Inquérito. Não há 
qualquer novidade nesse assunto.
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É fundamental deixar claro para a população que o direito de permanecer em 
silêncio é assegurado a todos os brasileiros e estrangeiros residentes no país, inde-
pendentemente de classe social, formação pessoal, condição econômica etc. É direi-
to assegurado aos ricos e aos pobres. Lamentavelmente, na semana passada, à guisa 
de comentar a liminar conferida ao empresário Daniel Dantas, parte do noticiário 
opinativo acabou dando a entender que esse direito é apenas assegurado aos ricos, 
uma distorção triste de se ver.
A construção de um verdadeiro Estado Democrático de Direito exige que se 
lute para que o sistema jurídico vigente tenha validade em todos os casos e para 
todas as pessoas. É papel dos meios de comunicação informar quais são esses direi-
tos e não ficar dando a entender que eles valem apenas para um grupo de pessoas.
Se, realmente, um cidadão de menor poder social ou aquisitivo estiver sendo 
violado por quem quer que seja, digamos, por exemplo, no seu direito de permane-
cer em silêncio, então o caso deve ser denunciado. Não deve servir como fator ou 
argumento para se defender que outras pessoas não possam exercer esse direito.
Para mim, duas coisas preocupam nesse episódio: o desconhecimento de parte 
da mídia e das pessoas de um direito tão fundamental e a constatação de que ainda 
é necessário recorrer ao Judiciário para exercer esse direito.
Atividades
Faça uma breve pesquisa de três matérias diferentes sobre o desrespeito ao 1. 
Estado Democrático de Direito no Brasil. Procure relacionar as matérias jorna-
lísticas que colocam em “xeque” o Estado Democrático de Direito em relação à 
falta de operacionalização dos direitos fundamentais no Brasil. Utilize matérias 
divulgadas recentemente pela imprensa (jornais e revistas).
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Por que o direito fundamental ao silêncio conforme o artigo 5.º, inciso LXIII da 2. 
CF/88, deve ser divulgado amplamente pela imprensa para os setores hipossu-
ficientes da população brasileira? Use o texto complementar para responder 
esta questão.
Resuma o conceito de Estado, dentro da abordagem sociológica dos dois au-3. 
tores estudados: Karl Marx e Max Weber. Dê exemplos de fatos históricos que 
ajudem a entender estes conceitos.
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A construção dos direitos fundamentais
Sidney Francisco Reis dos Santos
A diferenciação entre direitos fundamentais e 
direitos humanos 
O conceito direitos fundamentais possui uma ampla variedade terminológica no 
que diz respeito à ciência jurídica e à Constituição Federal de 1988. 
Na ciência jurídica a ideia de direitos fundamentais é encontrado em várias ex-
pressões tais como:
 direitos humanos;
 direitos do homem;
 direitos individuais;
 liberdades fundamentais;
 liberdades públicas;
 direitos humanos fundamentais;
 direitos subjetivos públicos.
Na Constituição Federal de 1988 (CF/88), a expressão direitos fundamentais se 
apresenta de forma diversificada:
 direitos humanos (art. 4.º, II, da CF/88);
 direitos e garantias fundamentais (Título II e art. 5.º, §1.º, da CF/88);
 direitos e liberdades constitucionais (art. 5.º, LXXI da CF/88) 
 direitos e garantias individuais (art. 60, §4.º, IV da CF/88).
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Diante desta variedade terminológica do conceito de direitos fundamentais, faz-se 
necessário clarificar a distinção entre os direitos fundamentais e os direitos humanos. 
Em sentido amplo, não há dúvidas de que os direitos fundamentais são sinônimos 
de direitos humanos, ainda que, representados por entes coletivos (grupos sociais, 
povos, nações, Estado). 
Todavia, em sentido restrito, os direitos fundamentais são de teor nacional, pois se 
aplicam para aqueles direitos do ser humano reconhecidos e positivados na esfera do 
direito constitucional positivo de determinado Estado. (SARLET, 2001)
Se os direitos humanos buscam ser de validade global para todos os povos do pla-
neta Terra (SARLET, 2001), possuindo teor internacional ou supranacional (pois estão 
relacionados às Convenções Internacionais da ONU, que reconhecem os direitos do ser 
humano, independentemente de sua vinculação jurídica com um determinado país), 
no olhar de Ângelo (1998), as principais características dos direitos fundamentais são: 
 a inviolabilidade: os direitos fundamentais são invioláveis, não podendo ser 
desrespeitados, quer por leis infraconstitucionais1 ou por atos das autoridades 
públicas, sob pena de responsabilização civil, administrativa e criminal;
 a irrenunciabilidade: os direitos fundamentais não podem ser objetos de renún-
cia. Não se pode renunciar à vida, à liberdade, à dignidade, à intimidade;
 a imprescritibilidade: os direitos fundamentais não prescrevem, não perdem a 
validade jurídica por decurso de prazo;
 a inalienabilidade: eles não podem ser alienáveis, no sentido de que é proibido 
ao ser humano transferir qualquer direito fundamental, seja a título gratuito 
ou oneroso;
 a universalidade: os direitos fundamentais devem ser respeitados sem quais-
quer restrições de nacionalidade, sexo, raça, convicção política, religiosa ou 
filosófica;
 a efetividade: há necessidade da criação de mecanismos jurídicos para efetiva-
ção dos direitos fundamentais;a interdependência: existe uma interdependência entre as Convenções Interna-
cionais de Direitos Humanos e sua recepção como direitos fundamentais nas 
Constituições nacionais de cada país e suas leis infraconstitucionais;
1 Leis Infraconstitucionais: são todas as leis que estão de forma hierárquica abaixo da Constituição Federal. Por exemplo: Código Civil, Estatuto do Idoso, Código 
Penal, Estatuto da Criança e do Adolescente etc.
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A
 construção dos direitos fundam
entais
 a complementaridade: os direitos fundamentais se interligam com o princípio da 
unidade da Constituição, onde o magistrado deve interpretar o texto constitu-
cional como um todo, um bloco sistêmico. Ele deve ser capaz de harmonizar o 
direito de propriedade com o direito da função social da propriedade ou direito 
a livre iniciativa com o direito ao valor social do trabalho;
 a historicidade: os direitos fundamentais são históricos pois resultam de uma evo-
lução jurídico-política e cultural, ou seja, eles surgem, se desenvolvem e são subs-
tituídos por direitos fundamentais adequados a cada época histórica;
 a relatividade ou a limitabilidade: os direitos fundamentais não são absolutos, e 
sim relativos e limitados as condições sociais, jurídico-políticas, culturais e eco-
nômicas de cada momento histórico. No caso do direito à vida, ele se torna re-
lativo quando confrontado com a pena de morte em caso de estado de guerra 
declarada. (artigo 5.º, inciso, XLVI, alínea “a”, da Constituição da República Fe-
derativa do Brasil de 1988 – CF/88)
As dimensões dos direitos fundamentais 
Os direitos fundamentais de teor civil e político surgiram nas declarações de di-
reitos das duas principais revoluções liberais do século XVIII (a Revolução de Indepen-
dência dos Estados Unidos de 1776 e a Revolução Francesa de 1789). Estes direitos fun-
damentais resultantes das revoluções liberais foram chamados de primeira dimensão 
(ou primeira geração2) e estão relacionados à liberdade perante o Estado. Tratam-se de 
um conjunto de direitos individuais do liberalismo político que marcaram a emancipa-
ção da classe burguesa, a superação do Estado absolutista e religioso e a liberação do 
poder econômico diante dos entraves do modelo feudal, ou seja, estão relacionados 
ao Estado liberal (CARVALHO, 1998).
Os direitos fundamentais de primeira dimensão são direitos negativos de defesa 
perante o Estado, isto significa que o Estado deve ter uma postura política de não- 
-intervenção estatal no domínio privado, característica do Estado Liberal. 
Cabe mencionar alguns destes direitos fundamentais de primeira dimensão: 
 direito à vida;
2 Existe uma divergência teórica entre o termo dimensões e gerações de direitos fundamentais. No entendimento de Sarlet (2001), a terminologia “gerações de 
direitos fundamentais” vem sendo rejeitada na esfera doutrinária jurídica porque projeta a ideia errônea de que uma geração supera a outra, o que evidente-
mente não é verdade. Todas as três gerações de direitos continuam válidas no âmbito constitucional, ou seja, uma dimensão de direitos não revoga as outras 
que lhe precederam no tempo e no espaço. Devido a isto se optou por utilizar nesta obra o termo “dimensões dos direitos fundamentais”.
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 direito à liberdade (individual, de locomoção, de pensamento, de expressão 
coletiva, de imprensa, manifestação, reunião, associação etc.);
 direito à propriedade;
 direito à igualdade perante a lei (igualdade formal);
 direito à igualdade (garantias processuais: devido processo legal, habeas 
corpus, direito de petição etc.);
 direito de participação política (direito de voto, capacidade eleitoral passiva e 
ativa, partidos políticos etc.).
Ao longo do século XIX, o liberalismo político iria entrar em choque com a tra-
dição socialista e com a necessidade de generalização de expectativas por igualdade 
social, desencadeada por um novo processo de repercussão histórica: a entrada na 
cena política da classe operária. 
Desta contraposição histórica entre burguesia e classe operária, surgiram os di-
reitos fundamentais de teor social, econômico, cultural e trabalhista denominados de 
segunda dimensão. Estes direitos fundamentais estão relacionados à igualdade jurídica 
plena através da implementação das políticas públicas para bem comum de todos os 
grupos sociais excluídos economicamente, ou seja, esta segunda dimensão está asso-
ciada ao Estado do Bem-Estar Social ou Welfare State3 (CARVALHO, 1998).
Os direitos fundamentais de segunda dimensão são direitos prestados pelo 
Estado tais como: 
 direito à educação;
direito à saúde;
 direitos trabalhistas (direito à greve; direito à livre associação profissional etc.);
 direito à moradia;
 direito ao lazer;
 direito à segurança;
 direito à previdência social;
 direito de proteção à maternidade e à infância;
 direito à assistência aos desamparados etc.
3 No Estado de Bem-Estar Social, o governo desenvolve políticas publicas junto com a iniciativa privada em prol dos direitos fundamentais à saúde, à educação, 
à moradia, ao emprego e ao transporte da população desprovida de recursos socioeconômicos.So
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Esses direitos sociais buscaram estender a perspectiva de universalização da distri-
buição e do usufruto de riquezas produzidas coletivamente. O titular desses direitos con-
tinuava sendo o indivíduo, agora mais apto a exercitar os direitos da primeira dimensão. 
Os direitos fundamentais de teor social da segunda dimensão foram incorpora-
dos aos textos constitucionais do século XX, tais como: na Declaração Russa dos Direi-
tos do Povo Trabalhador e Explorado, de 1918 e, no Brasil, nas Constituições de 1934, 
1946 e 1988. 
Com o término da Segunda Guerra Mundial, em 1945, emergem os direitos funda-
mentais de terceira dimensão. Estes direitos fundamentais são de teor coletivo e difuso, 
pois têm como titular não o indivíduo, mas grupos humanos como a família, o povo, 
a nação, a coletividade regional ou étnica e a própria humanidade. Estão relacionados 
a fraternidade ou solidariedade planetária. Estão associados a um Estado pós-social 
(CARVALHO, 1998).
Cabe citar alguns desses direitos de terceira dimensão tais como: 
 direito à autodeterminação dos povos;
 direito à paz;
 direito ao meio ambiente sadio e equilibrado; 
 direito das futuras gerações;
 direito de preservação do patrimônio cultural da humanidade;
 direito do consumidor.
A efetivação jurídica desses direitos fundamentais de terceira dimensão que são 
direitos metaindividuais4 pressupõe o reconhecimento de vínculos naturais e legais de 
um universo de pessoas afetadas e a criação de mecanismos institucionais estatais que 
satisfaçam as demandas societárias.
No entendimento de Castells (1999) partir dos anos 1980, no século XX, graças 
ao aprofundamento das revoluções tecnológicas nos países de capitalismo central, 
apareceram os direitos fundamentais de quarta dimensão. Esses direitos fundamentais 
podem ser denominados biotecno-informacionais. O fenômeno transnacional é parte 
integrante do capitalismo digital da cultura mundial da internet, em que ocorre a inte-
gração da comunicação eletrônica e o surgimento de redes interativas planetárias. 
4 Os direitos metaindividuais estão relacionados com o desenvolvimento dos direitos coletivos e dos direitos difusos. Como direitos coletivos devem ser enten-didos aqueles atinentes a um grupo determinado de pessoas que se acham interligadas por um específico vínculo jurídico, por exemplo, o aumento abusivo 
das prestações de um plano de saúde. Neste caso existe uma relação jurídica pré-fixada entre os filiados ao plano de saúde, que permite que os filiados lesados 
entrem com uma ação judicial. A coletividade participante do plano de saúde será o titular da ação judicial. Por outro lado os direitos difusos são aqueles que 
protegem um grupo indeterminado ou indeterminável de pessoas em relação à realização de um direito que a todos pertencem, como por exemplo, a questão 
do meio ambiente ou da moralidade pública.
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Cabe citar alguns direitos de quarta dimensão5, como:
 os direitos e as obrigações decorrentes da manipulação genética vegetal, 
animal e humana; 
 o direito à fiscalização, ao controle e à segurança dos dados e programas de 
software das instituições públicas e privadas e das informações veiculadas nos 
web sites na internet;
 direito ao pluralismo jurídico e político no sentido social e virtual dentro e fora 
das redes dos meios de comunicação de massa . 
Breve histórico dos direitos fundamentais 
Os direitos fundamentais são um campo multifacetário que extrapola o âmbito 
das Ciências Sociais, entrando com sua influência nas Artes, na Literatura, na Ecologia, 
na Economia, na Filosofia etc. Estas várias faces do fenômeno levam à necessidade da 
observação da evolução histórica do conceito de direitos fundamentais.
O processo de evolução histórica dos direitos fundamentais possui características 
ambíguas, no que diz respeito ao tratamento dado pelos cientistas sociais e filósofos 
ao conceito de direitos fundamentais. Isto porque a evolução do conceito de direi-
tos fundamentais no Ocidente está vinculada à própria condição humana e de seu 
desenvolvimento nos ciclos econômicos, políticos e culturais pelos quais a civilização 
ocidental passou. 
Em cada uma das etapas do processo histórico humano, os direitos fundamentais 
foram se incorporando na sociedade, primeiro no plano sociocultural e em seguida 
no político-jurídico de Direito Positivo Interno e Internacional. Por isto, pode-se dizer 
que os direitos humanos expressam a forma com a qual as relações humanas têm sido 
travadas e os mecanismos institucionais que as têm mediado.
Civilização judaica 
No povo hebreu, com sua visão religiosa monoteísta, pode-se identificar uma percep-
ção pioneira sobre os direitos humanos. A cosmovisão monoteísta dos hebreus é pioneira 
5 A outra divergência teórica diz respeito a quantidade de dimensões que os direitos fundamentais teriam. Tradicionalmente os direitos fundamentais são clas-
sificados em três dimensões: 1.ª Dimensão – Direitos Civis e Políticos – Liberdade; 2.ª Dimensão – Direitos Sociais, Econômicos, Culturais e Trabalhistas – Igual-
dade; 3.ª Dimensão – Direitos Coletivos e Difusos – Fraternidade (Solidariedade), todavia existem autores que classificam os mesmos em quatro ou até cinco 
dimensões. Para efeitos desta obra, optou-se por quatro dimensões a partir do olhar de Castells (1999), sendo que para ele, os direitos fundamentais de quarta 
dimensão são os biotecno-informacionais. As dimensões dos direitos fundamentais guardam entre si uma relação dialética de conflitos, de eficácia social e de 
complementaridade e cumulatividade que garante conservação e mudanças sociais nas passagens de uma dimensão para outra. 
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no mundo antigo no trato dos direitos da pessoa humana. A Lei Mosaica foi um autêntico 
código religioso de ética e de comportamento social, cujo cumprimento aponta um conte-
údo e uma prática pioneira voltada aos direitos humanos (GILISSEN, 2001).
Os hebreus são semitas que viviam em tribos nômades, conduzidas por chefes. 
Eles atravessaram a Palestina na época de Hamurabi, penetraram no Egito, retornaram 
(o Êxodo) à Palestina e instalaram-se aí entre os hititas e os egípcios, provavelmente, 
no início do século XII a.C. com a adoção da vida social sedentária. Estabeleceram o 
sistema de poder monárquico, tendo o auge dessa fase situado no reinado de Davi 
(1029-960 a.C.) e de seu filho Salomão (960-935 a.C.) (GILISSEN, 2001).
Seguidamente houve revoltas internas que provocaram a divisão em dois reinos. 
O reino de Israel ao norte, que foi ocupado pelos assírios em 721 a.C. O reino de Judá 
resistiu até 586 a.C., persas, macedônicos e romanos ocuparam seguidamente a Pales-
tina (GILISSEN, 2001). 
A revolta dos judeus contra os romanos no século I e II d.C. acarretou na diáspora 
com a perda de sua unidade política, recuperada em parte com a criação do Estado de 
Israel, no século XX (GILISSEN, 2001).
Civilização grega 
A cultura grega antiga refletia sobre o direito da vida humana e suas potencialida-
des e propunha uma concepção de existência voltada para um humanismo marcado 
pela racionalidade, o que dava a possibilidade de enfrentar os desafios da vida na polis 
com discernimento e objetividade, dando abertura para discussão sobre as liberdades 
políticas (GILISSEN, 2001).
O sistema jurídico da Grécia antiga é uma das principais fontes históricas dos di-
reitos da Europa Ocidental. O casamento monogâmico, com o consequente crime de 
bigamia, era aceito tanto no modelo dórico de Esparta, bem como no modelo jônico 
de Atenas. Em casos de guerra contra povos bárbaros (não-gregos) a cidadania era 
estendida para estrangeiros ricos (GILISSEN, 2001).
Civilização romana 
Na Roma Antiga, os direitos fundamentais, no âmbito das relações do Direito Pri-
vado, estavam pautados na figura do pater familiae, (ou patriarca romano) com o poder 
de patria potestas, o poder político que provinha de seu papel como protetor principal 
do nome da família. Ele decidia com quem os filhos deveriam casar-se e podia matar 
ou vender membros de sua família como escravos (MURSTEIN, 1977). 
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O pater familiae era o representante principal e alto sacerdote na adoração dos 
ancestrais familiares; dentro da família nuclear somente ele podia efetuar contratos 
legais e comprar, possuir ou vender propriedades. Ele tinha poder absoluto sobre a 
esposa, que era considerada juridicamente menor de idade. Quando um filho nascia, 
não importando o sexo, ele podia reconhecê-lo como seu, tomando-o em seus braços, 
ou podia repudiá-lo e condená-lo à morte, deixando-o ao relento (MURSTEIN, 1977).
Civilização medieval
Na Idade Média destaca-se o pensamento de Santo Tomás de Aquino (1225-1274) fi-
lósofo medieval e sacerdote católico do século XIII, que, além professar a concepção cristã 
da igualdade dos homens perante Deus, expressa restrições à obediência devida a um 
príncipe que abandona a busca do bem comum e transgride a Lei Natural. Mas, qual a 
atitude que a comunidade deve tomar se o regime for injusto e o governante não exerce 
o poder em função do bem comum? Para Santo Tomás de Aquino se a dominação for in-
tolerável não é lícito matar o tirano cruel, mas cabe ao povo reduzir os poderes ou destituir 
o monarca, rompendo seus laços de obediência e fidelidade eterna (WOLKMER, 2003).
O pensamento de Santo Tómas de Aquino dá ênfase à personalidade humana 
que se caracteriza por ter um valor próprio, inato, expresso justamente na ideia da 
dignidade de ser humano, que nasce na qualidade de valor natural inalienável e incon-
dicionado, como cerne da personalidade do homem (SARLET, 2001).
Observa-se desta formaque o direito de resistência da população contra o go-
vernante tirânico é um direito fundamental em Santo Tómas de Aquino, pois nele se 
encontra as sementes do princípio da dignidade humana atual.
O pensamento tomista se manifesta através da obra intitulada Suma Teológica 
(Summa Theologica) de Santo Tomás de Aquino. Ele trata com acuidade e rigor de 
matérias como lógica, metafísica, cultura, ética, teologia e política, onde destaca o co-
nhecimento de questões sobre a natureza e hierarquia das leis. 
No entender de Wolkmer (2003) esta hierarquia das leis se divide da seguinte forma: 
 a Lei Eterna (razão suprema da existência de Deus) está acima de todas as 
outras leis, regulamentando toda a ordem da criação divina, presidindo os fe-
nômenos naturais e a existência humana. É uma lei além da natureza física do 
homem, logo a humanidade só poderá ter uma compreensão parcial da Lei 
Eterna mediante a faculdade da razão instrumentalizada na Lei Natural;
 a Lei Divina, é a revelação proveniente das sagradas escrituras (Velho e Novo 
testamento), destinada a sanar as imperfeições da Lei Humana. A Lei Divina 
está mais próxima da Lei Eterna do que a Lei Natural. Pois a Lei Divina está 
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associada à revelação da graça divina e a Lei Natural é fruto do conhecimento 
racional da natureza;
 a Lei Natural é a manifestação incompleta e imperfeita da Lei Eterna em todos 
os seres humanos. A Lei Natural é produzida pela razão, determinando a prá-
tica de atos virtuosos, sendo comum a todos, cristãos e pagãos. Os preceitos 
da Lei Natural constam: discriminar entre o bem e o mal, fazer o bem e fugir 
do mal, não molestar aqueles entre os quais se tem de viver; inclinar-se a uma 
vida onde se concretiza a natureza racional e a vida em sociedade. 
 Lei Humana (Lei ou Direito Positivo) é derivada na Lei Natural, e nela inspira- 
-se, sendo destinada a governar as ações ou os atos humanos. A Lei Humana 
é variável, imperfeita e organizada pelo poder da própria sociedade, sendo o 
costume sua principal fonte. A Lei Positiva pode ser dividida em Jus Gentium 
(direitos da gentes) e Jus Civile (Direito Civil). 
Outro aspecto relacionado aos direitos fundamentais na Idade Média está relacio-
nado à Carta Magna de 1215, do rei inglês João Sem Terra. Este documento jurídico- 
-político é fruto da rebelião dos senhores feudais ingleses contra arbitrariedades reais. No 
entender de Leal (1997) esta Carta Magna assinala limitações ao poder real tais como: 
 a proibição do confisco dos bens, devendo os oficiais reais pagar pelos objetos 
que desejem, o preço que fixaram seus donos; 
 a determinação de que a pena é resultado de uma lei anterior que define o 
crime praticado, devendo ser fundamentada em sentença legal; 
 os homens são livres e não poderão ser detidos senão em razão de determina-
ção legal;
 é garantido a liberdade de crença, o direito de propriedade e o direito de 
locomoção.
Para assegurar a observância das obrigações previstas, constitui-se uma comissão 
fiscalizadora integrada pelos barões. Sendo comprovada a violação de algum direito 
por parte do rei, a comissão teria o direito de apoderar-se da propriedade real até a 
reparação dos danos causados.
Civilização moderna 
Os direitos fundamentais, na Idade Moderna, são reflexos das mudanças sócio-históri-
cas e econômicas da estrutura estamental feudal para o controle da classe social emergen-
te denominada burguesia. Dessa forma, os direitos fundamentais, conquistados pelas re-
voluções liberais, apresentadas a seguir, aplicam-se a esta pequena parcela da população. 
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Dentro desse entendimento, três grandes movimentos revolucionários liberais, 
a partir do século XVII, vão dar as bases para a construção do conceito moderno de 
direitos humanos: a Revolução Inglesa, com seu auge em 1688, a Norte-americana, de 
1776, e a Francesa, de 1789.
A Revolução Política Inglesa de 1688 
Para Leal (1997) a Revolução Inglesa nasce do confronto entre o rei e o parla-
mento, resultando no triunfo do último, exteriorizado na Bill of Rights (Declaração de 
Direitos) de 1688. Tal documento jurídico político reconhece os seguintes direitos fun-
damentais para os nobres do Reino da Inglaterra:
é vedado ao rei suspender as leis ou impedir seu cumprimento; pedir direito à 
Coroa sem o consentimento do parlamento; cobrar fianças e multas excessivas; apli-
cação de castigos cruéis e desumanos. Em relação aos súditos podem peticionar ao 
monarca, eleger os representante do parlamento. (LEAL, 1997. p. 31):
 é vedado ao rei suspender as leis ou impedir seu cumprimento;
 pedir direito à Coroa sem o consentimento do parlamento;
 cobrar fianças e multas excessivas; 
 aplicação de castigos cruéis e desumanos;
 Os súditos podem peticionar diretamente ao Monarca;
 eleger os representantes do parlamento.
A Revolução Norte-americana de 1776 
A Revolução Norte-americana de 1776 foi pautada na resistência política dos co-
lonos norte-americanos em aceitar as leis e imposições tributárias britânicas que vio-
lavam as disposições da Carta Magna de 1215. O fruto jurídico-político desta luta foi 
uma declaração de direitos humanos, no sentido moderno, denominada a Convenção 
de Virgínia de 20 de junho de 1776. No olhar de Leal (1997) a Convenção de Virgínia 
expressou os seguintes direitos fundamentais: 
 todos os homens são, por natureza, igualmente livres e independentes, pos-
suem certos direitos inerentes quando ingressam no estado social;
 não podem abrir, alienar ou renunciar os direitos à vida, à liberdade, à proprie-
dade, à felicidade e à segurança;
 a criação e garantia da liberdade de imprensa;So
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 o acusado possui o direito de conhecer a causa de sua detenção e ser julgado 
por juízes imparciais;
 ninguém poderá ser privado de sua liberdade de locomoção, senão segundo 
a lei do país ou segundo o juízo de seus pares;
 a organização do Estado deverá respeitar a separação dos poderes.
A Declaração da Independência norte-americana ocorreu logo a seguir, em 4 de 
julho de 1776. Esta Declaração expressava uma mensagem de natureza política, eco-
nômica e cultural, inspirada na teoria dos direitos naturais e na ideia de contrato social, 
proclamando direitos já veiculados pela Declaração de Virgínia e agregando outros 
direitos tais como a desobediência civil contra governos que abusem dos poderes em 
relação aos seus cidadãos.
Civilização contemporânea 
Revolução Francesa de 1789 
A Revolução Francesa de 1789 foi o resultado da luta de forças sociopolíticas entre 
os estamentos da realeza francesa, da nobreza e do clero católico e a emergente classe 
burguesa. Os Estados Gerais (Parlamento) não eram convocados desde 1612.
As guerras externas acarretaram perdas de territórios, dívidas e descontentamen-
to popular, aumentando os gastos da Corte e da Administração Pública, inchada de 
funcionários, e também irregularidade na cobrança de impostos.
Diante deste quadro, os três estamentos sociais conflitantes conviviam com pro-
fundas desigualdades de fato, pois a nobreza tinha diversos direitos, por exemplo, de 
caçar animais, de ter tribunal privativo, isenção de impostos, acesso aos cargos pú-
blicos e posse de grandes fortunas; o clero católico também tinha direito a tribunal 
privativo, a isenção de impostos, a orientar o ensino, a opinar

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