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Autora: Profa. Angélica L. Carlini Colaboradoras: Profa. Elizabeth Cavalcante Profa. Maria Francisca S. Vignoli Direito Constitucional Professora conteudista: Angélica L. Carlini Natural de Araraquara, estado de São Paulo, é graduada em Direito na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e advogada atuante nas áreas de Direito do Seguro, Responsabilidade Civil e Relações de Consumo. É doutora em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em 2012; Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 2006; Mestre em Direito Civil pela Universidade Paulista – UNIP, em 2002; e, Mestre em História Contemporânea pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 1995. Possui pós-doutorado em Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em 2015, sob orientação do Prof. Dr. Ingo Wolfgang Sarlet. Professora do curso de Direito da Universidade Paulista – UNIP desde 1998 e membro da Comissão de Qualificação e Avaliação – CQA, desde 2009. Ministra as disciplinas de Direito Empresarial, Direito do Consumidor, Filosofia do Direito, História do Direito, Direitos Humanos e Ciência Política. Escreve material didático para os cursos de Educação à Distância da UNIP e ministra aulas no curso de Gestão de Serviços Jurídicos, Notariais e de Registro. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) C282d Carlini, Angélica. Direito Constitucional / Angélica Carlini. – São Paulo: Editora Sol, 2018. 104 p. il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIV, n. 2-074/18, ISSN 1517-9230. 1. Constituição. 2. Princípios fundamentais. 3. Organização político-administrativa. I. Título. CDU 341.2 U503.07 – 19 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Alessandro de Paula Amanda Casale Elaine Pires Sumário Direito Constitucional APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA – UM POUCO DE HISTÓRIA ...............................................................9 2 TEORIA DO ESTADO, TEORIA DA CONSTITUIÇÃO E PODER CONSTITUINTE ...............................11 Unidade II 3 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE, EFICÁCIA E APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS .......................................................................................................................... 21 4 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS ...................................................................................................................... 28 Unidade III 5 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS .............................................................................................. 37 6 REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS ................................................................................................................... 50 Unidade IV 7 ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO BRASILEIRO ..................................... 57 7.1 A intervenção do governo federal nos estados e Distrito Federal ................................... 64 8 ORGANIZAÇÃO DOS PODERES E DA FUNÇÃO ESSENCIAL DA JUSTIÇA .................................... 68 8.1 Da ordem econômica e financeira ................................................................................................ 81 8.2 Da Ordem Social ................................................................................................................................... 85 8.3 Serviços notariais e de registro ....................................................................................................... 95 Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 05 /1 1 - 2ª R ev is ão : A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /1 1 7 DIREITO CONSTITUCIONAL APRESENTAÇÃO Os objetivos didáticos pretendidos são contextualizar historicamente a Constituição brasileira de 1988, apresentar aos alunos os aspectos teóricos que fundamentam a organização política na forma de Estado e que fazem da Constituição sua lei de maior importância. O objetivo deste trabalho é estudar os direitos e garantias constitucionais fundamentais do país, que fornecem os elementos essenciais para a caracterização do Estado Democrático de Direito. Os objetivos de aprendizagem contemplam aspectos fundamentais para a formação do profissional de serviço social, em relação à forma de organização do Estado e dos poderes da República Federativa do Brasil, à organização das ordens econômica, financeira e social, áreas que dialogam constantemente com o serviço social no Brasil. INTRODUÇÃO A Constituição Federal é a lei mais importante que o Brasil possui. Nela estão contidos os principais aspectos que organizam a vida do povo brasileiro, no âmbito social, político, econômico e cultural. É na Constituição Federal que vamos encontrar os valores e os objetivos do Estado brasileiro, assim como os direitos e deveres individuais e coletivos de seu povo. Toda a organização do Estado e dos poderes que nele atuam, Legislativo, Executivo e Judiciário, estão na Constituição Federal brasileira. Isso também confere a ela uma especial importância, porque são esses poderes que garantirão na prática o exercício dos direitos que os brasileiros possuem e punirão aqueles que não exercerem corretamente seus deveres. A Constituição da República Federativa do Brasil não é um texto para advogados, juízes e profissionais da área jurídica. É um texto essencial para ser conhecido por toda a população do País, por todos aqueles que quiserem conhecer seus direitos e deveres como cidadãos brasileiros. Ela é um instrumento fundamental para que todos os brasileiros possam compreender quais são os objetivos e projetos brasileiros, em especial nas áreas que garantem o bem-estar, como saúde, educação, segurança pública, assistência social, previdência social, economia, acesso à moradia, entre tantas outras. Como documento político que é, a Constituição Federal brasileira tem enorme importância para todos os brasileiros e estrangeiros residentes aqui, por isso deve ser conhecida, divulgada, debatida e compreendida, para que todos possam opinar com segurança e conhecimento e para que a cidadania seja exercida com confiança. Conhecer com profundidade a Constituição Federal brasileira é primordial para a formaçãoprofissional dos gestores da área de Gestão de Serviços Jurídicos, Notariais e de Registro. Nesse texto legal se encontram aspectos essenciais para que o gestor dessa área compreenda a relevância do trabalho realizado por magistrados, desembargadores, advogados, promotores de justiça, Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 05 /1 1 - 2ª R ev is ão : A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /1 1 8 Unidade I tabeliães, escrivães de serviços de registro, ministros dos tribunais superiores, delegados, escreventes e tantos outros que se encontram em uma das carreiras jurídicas. Os direitos fundamentais e sociais estipulados na Constituição Federal, a organização dos poderes, o sistema de criação de leis, esses e tantos outros temas que são essenciais para o trabalho jurídico, estão no texto constitucional e esse conhecimento será essencial para a prática da atividade de Gestão de Serviços Jurídicos, Notariais e de Registro. Com esses aspectos estudados de forma sistematizada, o profissional da área de Gestão de Serviços Jurídicos, Notariais e de Registro estará capacitado para atuar em área pública ou privada, em dimensão federal, estadual ou municipal quando se tratar de área pública, porque terá a compreensão do texto fundamental do sistema legislativo brasileiro, aquele que comumente é denominado de Carta Magna, dado a sua relevância para a organização e desenvolvimento do Estado brasileiro. Bom estudo! Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 05 /1 1 - 2ª R ev is ão : A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /1 1 9 DIREITO CONSTITUCIONAL 1 A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA – UM POUCO DE HISTÓRIA A Constituição brasileira atualmente em vigor foi promulgada em 5 de outubro de 1988, em sessão solene da Assembleia Nacional Constituinte, reunida no Congresso Nacional, em Brasília. Promulgar uma lei é o mesmo que torná-la pública, que levá-la ao conhecimento de todos. A partir da promulgação, a lei entra em vigor, salvo se ela própria determinar um prazo a partir da promulgação para que se dê sua entrada em vigor. Deve constar nela uma indicação como a seguinte: “esta lei entrará em vigor no prazo de 90 dias de sua promulgação”. Essa Assembleia Nacional Constituinte havia sido eleita por voto popular em 1986, instalada em 1º de fevereiro de 1987 e era composta por deputados dos vários estados brasileiros. Eles elaboraram o texto constitucional que, depois, foi submetido à votação e aprovado. O presidente da Assembleia Nacional Constituinte foi o deputado federal eleito pelo Estado de São Paulo, Ulysses Guimarães, que era muito respeitado e conhecido por sua luta em prol do fim da ditadura militar. Essa Constituição Federal tem especial importância para a história política brasileira, porque marca simbolicamente o fim de um longo período de ditadura militar instalado em 31 de março de 1964. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, o país voltou a ser um Estado democrático de direito, ou seja, um lugar onde há o império da lei e da justiça e, em consequência, não há espaço para o arbítrio e para o exercício da força por parte do Estado. É importante lembrar que, para a elaboração desta Constituição brasileira, foram apresentadas inúmeras emendas populares, ou seja, propostas que foram elaboradas por diversos segmentos sociais organizados, como movimentos de mulheres, movimentos negros, organizações de bairro, sindicatos, entre outros, com milhares de assinaturas de brasileiros de todas as regiões do país e que foram levadas para serem analisadas pelos deputados federais e incorporadas ao texto constitucional. O Brasil viveu naquele momento um período de intensa participação popular na vida política e social, que teve início no movimento pelas Diretas Já e uniu em todo o país milhares de participantes de movimentos sociais, com brasileiros empenhados em conseguir a volta do país à democracia. A Constituição brasileira de 1988 foi chamada, por Ulysses Guimarães, de “constituição cidadã”, exatamente por ter sido promulgada no momento histórico que marca o retorno do país à democracia, e por conter ampla garantia de direitos fundamentais para todos os brasileiros, além do restabelecimento da ordem política e social que, até então, estava sob o arbítrio dos governantes militares. Unidade I Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 05 /1 1 - 2ª R ev is ão : A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /1 1 10 Unidade I A Constituição Federal de um país sempre é o texto político, social e econômico fundamental, por ser a lei mais importante do país, mas esta Constituição brasileira, em especial, é ainda mais significativa em razão do período histórico em que é concebida e promulgada. Por isso é que podemos afirmar que a Constituição Federal brasileira é um projeto político e social que o país tem que implementar integralmente para poder realizar o objetivo fundamental que está previsto no artigo 3º, inciso I: construir uma sociedade livre, justa e solidária. Figura 1 – O então presidente da Assembleia Nacional Constituinte, e também deputado federal, Ulysses Guimarães. Figura 2 – A promulgação da Constituição Federal de 1988. Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 05 /1 1 - 2ª R ev is ão : A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /1 1 11 DIREITO CONSTITUCIONAL Saiba mais Para conhecer mais sobre o período de ditadura militar instaurado a partir de 31 de março de 1964, veja os filmes: Batismo de sangue (2006, Brasil, 110 min.) Direção e produção: Helvécio Ratton Zuzu Angel (2006, Brasil, 118 min.) Direção: Sergio Rezende 2 TEORIA DO ESTADO, TEORIA DA CONSTITUIÇÃO E PODER CONSTITUINTE Estado é um processo histórico construído ao longo de muitos anos por diferentes povos e culturas, que sofreu incontáveis modificações e, até hoje, continua se modificando para atender às necessidades dos homens, visto que essas necessidades são diferentes em cada época histórica vivida pela humanidade. Podemos definir Estado como pessoa jurídica de direito público, com soberania em relação aos demais estados estrangeiros. É uma forma de organização política e jurídica que determina direitos e deveres para todos os que residem em um determinado território. O cumprimento dos deveres é obrigatório sob pena de serem aplicadas sanções e, os direitos devem ser garantidos para todos, independentemente de raça, cor, credo, opinião política, ou qualquer outro traço de individualidade. O Estado brasileiro está organizado como uma República Federal que se forma pela união indissolúvel dos estados, municípios e do Distrito Federal. Os estados federativos brasileiros se unem para aceitar a Constituição Federal como lei maior que todos deverão cumprir, mas também está previsto na Constituição que os estados terão relativa autonomia político-administrativa, em especial para poderem gerir os recursos arrecadados dos tributos e que deverão, obrigatoriamente, garantir a prestação dos serviços sociais. Regulados pela Constituição Federal e por leis próprias que, no entanto, não poderão ferir os princípios constitucionais, os estados federativos poderão realizar tudo o que a Constituição Federal não vede expressamente.A Constituição Federal deixa claro, ainda, que o Brasil é um Estado que adota o regime político democrático, ou seja, as decisões políticas são tomadas de acordo com a vontade do popular, ou seja, é o governo do povo, pelo povo e para o povo. No Brasil, a democracia é exercida de forma direta e indireta. De forma indireta, é exercida por representação, ou seja, quando o povo escolhe seus representantes na Câmara e no Senado, para que eles adotem as leis que vão garantir a todos a plenitude de seus direitos e o exercício dos deveres. E a Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 05 /1 1 - 2ª R ev is ão : A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /1 1 12 Unidade I democracia direta acontece quando o próprio povo é chamado para decidir questões relevantes para a vida de todos, o que ocorre nos plebiscitos e nos referendos. A Constituição Federal brasileira se classifica como constituição formal, ou seja, é representada por um documento formal e solene, instituído por um poder constituinte que foi eleito especialmente para elaborá-la. É também uma constituição escrita, porque está consubstanciada em um único documento que contém as normas consideradas essenciais para a formação e a realização dos objetivos do Estado. Por fim, ela é classificada como constituição rígida porque limite as possibilidades de mudança, que só poderão ser feitas se forem atendidas as regras fixadas por ela própria. Existem aspectos da Constituição Federal que não podem ser objeto de mudança. São as chamadas cláusulas pétreas, previstas no artigo 60, parágrafo 4º da Constituição Federal, que somente poderão ser modificadas quando for organizada outra Assembleia Nacional Constituinte para elaborar uma nova constituição federal. As cláusulas pétreas ou, simplesmente, cláusulas imutáveis são: • a forma federativa do Estado; • o voto direto, secreto, universal e periódico; • a separação entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário; • os direitos e as garantias individuais; • a República. Se em algum momento da vida política deste país um governante pretender modificar esses aspectos da Constituição Federal, não poderá fazê-lo salvo se convocar eleições para a realização de outra Assembleia Nacional Constituinte, com o intuito de elaborar uma nova Constituição Federal. E convocar uma nova constituinte não será um procedimento fácil de ser realizado, porque é preciso que existam elementos muito sólidos para que isso seja feito. Em outros aspectos a Constituição Federal poderá ser modificada, sempre para garantir que seja atualizada e aprimorada em benefício de todos os que residem neste país. A Constituição brasileira exerce o papel de norma superior a qual todas as demais normas do país devem obediência, ou seja, devem estar compatíveis com a Constituição. É uma estrutura que, em Direito, é simbolizada por uma pirâmide (no topo da qual se encontra a Constituição Federal). É por isso que ela é chamada de norma fundamental, porque todas as demais leis do país devem ser compatíveis com seus princípios e determinações, caso contrário, serão classificadas como inconstitucionais e não poderão vigorar. Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 05 /1 1 - 2ª R ev is ão : A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /1 1 13 DIREITO CONSTITUCIONAL É a isso que se dá o nome de supremacia constitucional, para significar que toda a ordem jurídica do Brasil está prevista na Constituição Federal e deve ser integralmente respeitada. Nenhuma lei do país, mesmo que seja federal e criada pelo governo eleito democraticamente pelo povo, poderá ser contrária à Constituição Federal. Lei que contrariar a Constituição será classificada como inconstitucional e não poderá vigorar no Brasil. Poder constituinte é a manifestação de vontade soberana e independente do povo. Ele elege representantes que vão elaborar uma Constituição, ou seja, a norma mais importante para reger a vida daquelas pessoas. O povo é o titular do poder constituinte que, no entanto, pela via de representação, será exercido por deputados que irão compor a Assembleia Nacional Constituinte. O poder constituinte é chamado de originário quando tem autonomia para elaborar a lei constitucional, podendo prever qualquer assunto e da forma como parecer mais adequada àqueles representantes do povo. Além de originário, o poder constituinte também é inicial, porque cria uma nova ordem jurídica; é juridicamente ilimitado, porque não está obrigado a respeitar limites do direito anterior; é incondicionado, porque não precisa se sujeitar a nenhuma regra de forma; e, é autônomo, porque a Constituição a ser elaborada estará de acordo apenas com a vontade daqueles que exercem o poder constituinte. O poder constituinte é chamado de derivado quando é exercido a partir de normas constitucionais expressas e implícitas, que controlam a atividade dos parlamentares na elaboração de normas que modificarão a Constituição já existente ou, introduzirão novos aspectos. No Brasil, o Congresso Nacional, composto pelas duas casas legislativas federais, o Senado Federal e a Câmara Federal, podem propor mudanças na Constituição Federal em vigor porque exercem o papel de poder constituinte derivado. A atuação do poder constituinte derivado nunca será tão ampla quando a do poder constituinte originário. A Constituição Federal elaborada pelo poder constituinte originário se incumbe de determinar os limites de atuação do poder constituinte derivado. Assim, no Brasil, esse poder é limitado por circunstâncias, pela matéria, pela forma e pelo tempo. Todos esses limites foram fixados pela própria Constituição no momento em que foi elaborada pelo poder constituinte originário e tem por objetivo preservar sua integridade e seus aspectos fundamentais. No Brasil, os limites circunstanciais são definidos como situações de crise política durante as quais não é permitido alterar a Constituição Federal, exatamente para não correr o risco de desprezar princípios fundamentais ou cometer equívocos resultantes de uma análise feita em momentos de forte comoção política ou social. Assim, o artigo 60, parágrafo 1º, determina que em tempos de intervenção federal ou de estado de defesa ou de sítio, não serão permitidas alterações na Constituição Federal. Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 05 /1 1 - 2ª R ev is ão : A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /1 1 14 Unidade I Intervenção federal ocorre nos casos expressamente previstos no artigo 34 da Constituição Federal, que são: • Manter a integridade nacional. • Repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da federação em outra. • Por fim a grave comprometimento da ordem pública; garantir o livre exercício de qualquer dos poderes nas unidades da Federação. • Reorganizar as finanças da unidade da Federação que suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior; deixar de entregar aos municípios receitas tributárias fixadas na Constituição, dentro dos prazos estabelecidos por lei. • Prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial. • Assegurar a observância dos princípios constitucionais da forma republicana, sistema representativo e regime democrático; direitos da pessoa humana; autonomia municipal; prestação de contas da administração pública direta e indireta; aplicaçãodo mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. O estado de defesa e o estado de sítio são outras duas situações que impedem que sejam realizadas modificações na Constituição Federal. O estado de defesa está previsto no artigo 136 da Constituição Federal e poderá ser decretado pelo Presidente da República após serem ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, ainda que não necessite de prévia autorização do Congresso Nacional. Ainda que não dependa de prévia autorização do Congresso Nacional, o decreto que instituir o estado de defesa será encaminhado para que o Congresso se manifeste sobre as razões que determinaram a adoção da medida, exercendo, assim, o controle político que lhe cabe por força da própria Constituição. O estado de defesa só pode ser decretado em situações específicas, previstas na própria Constituição, que são preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por greve e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções da natureza. Durante o período de duração do estado de defesa, que não poderá ser superior a 30 dias – podendo, no entanto ser prorrogado uma única vez, se persistirem as razões que justificaram a sua decretação –, alguns direitos serão restringidos, como: • Direito de reunião, ainda que no seio das associações. • Sigilo de correspondência. Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 05 /1 1 - 2ª R ev is ão : A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /1 1 15 DIREITO CONSTITUCIONAL • Sigilo de comunicação telegráfica ou telefônica. No período do estado de defesa decretado em razão de calamidade pública, a União poderá ocupar e utilizar temporariamente bens e serviços públicos, respondendo pelos danos e custos decorrentes. Por sua vez, o estado de sítio está previsto no artigo 137 da Constituição Federal e pode ser decretado pelo Presidente da República, sendo ouvidos previamente o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional e mediante pedido de autorização para o Congresso Nacional. Somente poderá ser decretado em duas hipóteses que são taxativas: • Comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovam a ineficácia da medida tomada durante o estado de defesa. ou • Declaração de estado de guerra ou resposta à agressão armada estrangeira. O estado de sítio não poderá ser decretado por período superior a 30 dias, nem prorrogado por prazo superior. No caso de estado de guerra, poderá ser decretado por todo o tempo que durar a guerra ou a agressão armada estrangeira. Ao solicitar autorização para o Congresso Nacional para decretar o estado de sítio ou para prorrogá-lo, o Presidente da República relatará os motivos determinantes do pedido. O decreto que determinar o estado de sítio indicará o período de sua duração, as normas necessárias à sua execução e as garantias constitucionais que ficarão suspensas durante o período em que perdurar o estado de sítio. Depois de publicado o decreto, o Presidente designará o executor das medidas específicas e as áreas abrangidas. Durante o período em que vigorar o estado de sítio, apenas as seguintes medidas poderão ser tomadas: • Obrigação de permanência em localidade determinada. • Detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns. • Restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, sigilo das comunicações, prestação de informações e liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei. • Suspensão da liberdade de reunião. • Busca e apreensão em domicílio. • Intervenção nas empresas de serviços públicos. • Requisição de bens. Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 05 /1 1 - 2ª R ev is ão : A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /1 1 16 Unidade I Como se pode perceber, nos momentos em que é preciso decretar estado de defesa ou estado de sítio, o país não está em sua mais perfeita normalidade, mesmo que essa situação esteja ocorrendo apenas em parte do território. Se não há normalidade, também não há tranquilidade e equilíbrio necessários para promover mudanças na Constituição Federal. É correto, portanto, que a própria Constituição preveja que, nessas circunstâncias, o poder constituinte derivado ficará impedido de realizar mudanças no texto da Constituição Federal brasileira. Também existe previsão para limites materiais, ou seja, assuntos que, dada a sua extrema importância para a sociedade, não poderão ser modificados por emenda constitucional, que são como vimos os assuntos tratados no artigo 60, parágrafo 4º, também denominados de cláusulas pétreas, cláusulas imutáveis pelo poder constituinte derivado. Como vimos, são imutáveis no Brasil pelo poder constituinte derivado: • A forma federativa do Estado. • O voto direto, secreto, universal e periódico. • A separação de poderes. • Os direitos e garantias individuais. • A República. Qualquer modificação nesses aspectos somente poderá ser feita se for convocada uma nova Assembleia Nacional Constituinte, por escolha do povo por meio do voto direto e que terá poder, então, para organizar uma nova Constituição e, nela, se necessário, rever os aspectos que eram imutáveis na Constituição que será substituída. O poder constituinte derivado enfrenta ainda limitações formais ou procedimentais, ou seja, quem pode propor e como pode ser feita a proposta de mudança à Constituição Federal. A iniciativa poderá ser do Presidente da República, da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal e das assembleias legislativas dos estados da Federação, com números mínimos de votos exigidos para a Câmara, Senado e assembleias, sem os quais a proposta de modificação não será encaminhada. Por fim, o poder constituinte derivado recebeu uma limitação temporal já esgotada, que previa que a Constituição Federal não poderia ser modificada nos primeiros três anos após sua entrada em vigor. Existe ainda previsão para a existência do poder constituinte decorrente, que é o poder que os estados federativos têm de elaborar suas próprias constituições estaduais, obedecidos os limites fixados pela Constituição Federal. Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 05 /1 1 - 2ª R ev is ão : A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /1 1 17 DIREITO CONSTITUCIONAL Lembrete Cláusulas Pétreas é o nome que se dá aos artigos da Constituição Federal que somente poderão ser alterados se for convocada uma nova Assembleia Nacional Constituinte. Resumo Nesta unidade, estudamos um pouco da história da Constituição Federal brasileira de 1988 e sua importância para a reconstrução do atual Estado Democrático de Direito, marcando o fim do período da ditadura militar. Também compreendemos o papel da Assembleia Nacional Constituinte no debate e na construção da Constituição Federal, vimos que cláusula pétrea é o nome que se dá aos artigos da Constituição Federal que só podem ser alterados se convocada uma nova Assembleia Nacional Constituinte e estudamos o papel e os limites do Estado no Brasil. Pudemos verificar que, nos momentos em que é preciso decretar estado de defesa ou estadode sítio, o país não está em sua mais perfeita normalidade, mesmo que essa situação esteja ocorrendo apenas em parte do território. Se não há normalidade, também não há tranquilidade e equilíbrio, elementos fundamentais para considerar que mudanças sejam promovidas na Constituição Federal. É correto, portanto, que a própria Constituição preveja que, nessas circunstâncias, o poder constituinte derivado fique impedido de realizar mudanças no texto da Constituição Federal brasileira. Exercícios Questão 1. Podemos afirmar que a Constituição Federal brasileira de 1988 foi chamada de “Constituição Cidadã” porque: A) Foi feita por cidadãos comuns que a redigiram nas praças e ruas do país e apresentaram ao Congresso Nacional para revisão e aprovação. B) Foi promulgada no momento histórico que marcou o retorno do país à democracia e por conter ampla garantia de direitos fundamentais para todos os brasileiros, além do restabelecimento da ordem política e social que, até então, estava sob o arbítrio dos governantes militares. C) Em toda a história constitucional brasileira não haviam sido protegidos direitos fundamentais do cidadão. Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 05 /1 1 - 2ª R ev is ão : A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /1 1 18 Unidade I D) A Constituição Federal de 1988 se dedica com exclusividade às questões de cidadania e de direitos fundamentais das pessoas, deixando os demais temas para serem tratados em leis ordinárias, como o Código de Defesa do Consumidor. E) Foi promulgada por cidadãos brasileiros e, por isso, recebeu esse nome que faz referência a eles. Resposta correta: alternativa B. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: a Constituição Federal foi elaborada por deputados federais eleitos para a Assembleia Nacional Constituinte que coordenou os trabalhos de elaboração. Recebeu sugestões oriundas de manifestações populares, porém, a elaboração, a redação e a promulgação foram feitas por deputados constituintes eleitos exatamente para cumprir essa finalidade. B) Alternativa correta. Justificativa: a Constituição Federal foi aprovada após um período de 21 anos de ditadura militar, durante o qual muitos direitos fundamentais foram desrespeitados e até mesmo suspensos, como o direito de livre manifestação, o direito de livre organização, o direito de habeas corpus, entre outros. Foi um período de muita violência e desrespeito à cidadania brasileira, razão pela qual a nova Constituição, que resgatou integralmente os direitos dos cidadãos, ganhou o apelido carinhoso “Constituição Cidadã”, criado pelo Deputado Federal Ulysses Guimarães. C) Alternativa incorreta. Justificativa: todas as constituições federais no Brasil, em maior ou menor grau, elencaram direitos fundamentais a serem respeitados por todos os cidadãos. Mas, durante o período das ditaduras civis e militares, esses direitos não são respeitados, e o cidadão fica privado de exercer os seus direitos. D) Alternativa incorreta. Justificativa: a Constituição Federal brasileira de 1988 regula os direitos fundamentais, individuais e coletivos, assim como muitos outros temas de interesse da nação, em especial a organização política, administrativa, tributária e econômica. E) Alternativa incorreta. Justificativa: foi, de fato, promulgada por deputados federais que compuseram a assembleia nacional constituinte e que eram cidadãos brasileiros, porém não recebeu esse tratamento em razão disso. Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 05 /1 1 - 2ª R ev is ão : A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /1 1 19 DIREITO CONSTITUCIONAL Questão 2. Algumas vezes a imprensa noticia a intenção de alguns brasileiros de separar o Estado do Rio Grande do Sul do Brasil a fim de constituir um país independente, uma república diferente da República Federativa brasileira ou um país independente, composto por três estados brasileiros, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Segundo notícia publicada no dia 5 de outubro de 2016 no portal G1: Consulta sobre separação do Sul do resto do país tem 95% de ‘sim’ Votação feita por grupo separatista teve 95,74% de resposta afirmativa. De acordo com a organização, foram 616.917 votantes nos três estados. O “sim” obteve a maioria dos votos na consulta popular informal sobre a separação dos três estados da Região Sul do restante do Brasil. A votação, organizada pelo movimento “O Sul é meu País”, aconteceu no último sábado (1º), entre 8h e 20h, na véspera das eleições municipais. O resultado da apuração foi divulgado na noite de terça-feira (4) pela Comissão Central Organizadora (CCO). De acordo com a organização, foram 616.917 votantes em mais de 500 municípios dos três estados. Foi abaixo da meta estipulada pelos coordenadores, que era de coletar em torno de 1 milhão de votos, ou seja, 5% dos eleitores dos três estados. A votação foi convocada pela internet, através do site do Plebisul, assim como a divulgação dos mapas dos locais de votação. Urnas foram espalhadas pelas cidades e o processo ocorreu com cédulas de papel. Era como uma pesquisa de opinião, sem qualquer validade legal. A condição para participar era ser maior de 16 anos e eleitor de um dos três estados. Destes, 95,74% responderam “sim” à pergunta: “Você quer que o Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul formem um país independente?” Apenas 4,26% dos votantes recusaram a ideia. (Disponível em: <http://g1.globo. com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2016/10/consulta-sobre-separacao-do- sul-do-resto-do-pais-tem-95-de-sim.html>. Acesso em: 24 de abr. 2018). Leia as afirmativas a seguir: I – Esse novo estado não poderia ser reconhecido pela comunidade internacional porque a Constituição Federal prevê em cláusula pétrea a forma federativa como imutável e II – O novo estado seria uma ruptura com a ordem constitucional e, ao mesmo tempo, inauguraria um novo desenho para a América Latina, que passaria a ter um novo país. Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 05 /1 1 - 2ª R ev is ão : A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /1 1 20 Unidade I Assinale a alternativa correta: A) I, apenas. B) II, apenas. C) I e II. D) I e II, e a afirmativa II é justificativa da I. E) I e II estão incorretas. Resolução desta questão na plataforma.
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