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GESTÃO DE PROJETOS CULTURAIS ESSA P UBLICA ÇÃO NÃO P ODE S ER COME RCIALI ZADA GRATU ITA 2 M Ó D U LO 1 CAPACITAÇÃO DE AGENTES CULTURAIS ESTRATÉGIAS DE CULTURA E ARTE PARA O FUTURO 1 APRESENTAÇÃO Olá, cursista! E ste fascículo se dedica a pensar sobre a gestão de pro-jetos culturais e para isso vamos discutir um pouco sobre algumas etapas importante, como o (a) plane-jamento, (b) finanças e (c) avaliação de projetos ou programas culturais. Se você é um gestor de projetos culturais, é importante você ter em mente que apesar de serem etapas operacionais, elas fa- zem parte das grandes decisões que definirão o sucesso de seu projeto/programa. Para isso, devem ser levadas em conta ainda antes da elaboração e da escrita de seu projeto, e continuar até o fim dessa jornada. E quem é e o que faz um(a) gestor(a) de projetos culturais? É aquele que busca viabilizar a realização do projeto, desenvol- vendo as ideias e concretizando-as em ações. Ao longo desse percurso, ele(a) deve conjugar interesses das partes, aplicar conhecimentos técnicos e ter sempre um compro- misso ético-social, nunca se esquecendo das mudanças que esse projeto busca gerar no mundo. Você, se está com a gente, pode vir a ser um(a) novo(a) gestor(a) de projetos culturais. É o que desejamos. Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste 18 PLANEJAMENTO 2 N o universo da produção e gestão cultural, planejamento é quase uma palavra mágica. E por quê? Porque ele é o exercício de prever e organizar todas as tarefas e etapas que compõe o processo. Como sabemos, todo projeto tem início, meio e fim. Além disso, planejar significa: combinar ideias e realida- des, identificar e otimizar recursos humanos, financeiros e físicos para tornar mais eficien- tes as ações que você se propõe a realizar, seja em seus programas, projetos e/ou ações. Você agora já entendeu que planejar nada mais é que se posicionar em rela- ção ao futuro de forma estratégica, ana- lisando cenários e prevendo problemas, buscando fazer uma avaliação global dos recursos disponíveis e dos resultados espe- rados. Importante, não é? Em linhas gerais, podemos identificar 4 etapas principais do planejamento: a) Diagnóstico: da análise do contexto in- terno da organização proponente e do seu ambiente externo; b) Conceituação: da definição do projeto, o que caracteriza seu produto e qual sua razão de ser/objetivo; c) Implementação: plano de ação/execução, e d) Controle (acompanhamentos e avaliações). Agora que você já sabe quais são as etapas, vamos explicar um pouco mais sobre elas: 2.1. O Diagnóstico O conhecido termo “diagnóstico” é mui- to usado na Medicina, mas a partir de ago- ra você também aprenderá a diagnosticar. Como é isso? Vamos descobrir juntos!. Na verdade, o diagnóstico, em nos- so caso, diz respeito ao objetivo fim da etapa de planejamento. Ele é a síntese final das informações coletadas a partir de uma análise. Pois bem, quando você decide criar e executar um projeto em determinada região, é fundamental que você a conheça bem. Para isso, deve fa- zer o reconhecimento desse território e, ao mesmo tempo, reconhecer as suas habilidades internas enquanto gestor, grupo ou organização. Considerando o meio externo, com uma boa análise territorial e setorial, você será capaz de reconhecer as singu- laridades e identidades de seu territó- rio e da sociedade nos quais seu projeto visa intervir. E como fazer isso? Por meio de consultas a censos e pesquisas seto- riais, com o estudo de publicações, com enquetes, entrevistas e até mesmo com a simples observação. Também é impor- tante conhecer os hábitos e os agentes culturais dessa população, as oportuni- Proponente Pessoa física com atuação na área cultural ou pessoa jurídica de direito público ou privado, com ou sem fins lucrativos, responsável por apresentar, realizar e responder por projeto cultural. dades e as dificuldades que o contexto apresenta para a linguagem específica que você deseja trabalhar. Contudo, considerando o meio interno, se faz naturalmente necessário um “olhar para dentro”, com a elaboração de uma análise interna do gestor ou da organiza- ção gestora. Será necessário identificar na equipe que executará o projeto os níveis: (a) conceitual, (b) intelectual, (c) operacio- nal e (d) de gestão. Além disso, analisar a sua trajetória, a estrutura e o funcionamen- to da organização, assim como os recursos disponíveis para a sua adequada atuação. PARA OS CURIOSOS Recomendamos que assista ao vídeo Planejamento estratégico criativo, com Rômulo Avelar. ACESSE: www. youtube.com/ watch?v=pNL whZyoHdk> 19 GESTÃO DE PROJETOS CULTURAIS Um método muito útil e popular, que reúne essas duas análises (interna e externa) é o FOFA (em inglês, SWOT), sigla dos quatro as- pectos analisados: Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças. A grande virtude dessa ferramenta é sua simplicidade e mane- jo fácil. Basta você apontar as variáveis pesquisadas e observadas para cada item em um quadro, conforme modelo a seguir: FATORES POSITIVOS FATORES NEGATIVOS Ambiente Interno (características da organização) Forças Fraquezas Ambiente externo (características do mercado) Oportunidades Ameaças Ao final desse importante exercício é o momento de refle- tir sobre quais aspectos negativos podem ser contornados e como isso seria possível, e quais são os que não podemos ou não sabemos resolver e que podem pesar negativamente sobre o projeto. Relacionando as diferentes partes é o momento de elaborar o diagnóstico, que conterá a análise, avaliação e po- sicionamento de nossa parte quanto a viabilidade do projeto. Esse exercício, inclusive, irá ajudá-lo(a) a apresentar e a jus- tificar sua proposta posteriormente. 2.2. Conceituação O momento da conceituação é aquele no qual você irá bus- car responder às indagações: • O quê? • Como? • Quem? • Para quem? seja, a partir de um olhar cuidadoso sobre a realidade (reconhe- cimento de território falado acima), você e/ou a sua organização formulará a solução para um problema identificado. Se a motivação do projeto surgir a partir de uma reação a uma necessidade detectada no contexto ou como resposta a uma demanda cidadã, investigue esse problema - necessidade - demanda, entenda quais são os impactos e as consequências que ele traz para aquele território-comunidade, e encontre as causas desse problema - necessidade – demanda para desen- volver um projeto que as resolva. Há também projetos que surgem a partir de uma encomen- da institucional ou como resultado de uma política cultural já definida. Nesse caso, descubra a motivação e o problema que impulsionou essa instituição e política. Mas cuidado com a ten- tação de planejar um projeto simplesmente pela existência de um recurso financeiro disponível, pois um planejamento às avessas pode dificultar a coerência e pertinência de seu projeto. Uma técnica comumente utilizada para reconhecer o pro- blema central do contexto (e não as suas causas ou efeitos) é a árvore de problemas. • Por quê? • Onde?, e • Quanto? É, portanto, a etapa de descobrir sua finalidade, a razão de ser, de definir a sua missão e refletir seus valores, sempre tendo em men- te a coerência com o contexto que foi analisado anteriormente. Nessa etapa, discutiremos sobre um ponto em especial: o da origem e da motivação inicial do projeto. É sempre interessante que o planejamento de um projeto te- nha início na identificação de um problema a ser resolvido, ou SE LIGA! A árvore de problemas é normalmente desenhada como a metáfora de uma árvore em que: (a) as raízes representam as causas; (b) o tronco, o problema central; e (c) os galhos, os efeitos ou suas consequências. Temos que tomar o cuidado para não formular problemas muito genéricos. Foque em problemas de ordem cultural e social, e lembre-se de que problemas são sempre formulações negativas. Por exemplo: “o gosto pelaleitura” não é um problema, mas, sim, a sua inexistência. SAIBA MAIS Políticas públicas são conjuntos de programas, ações e decisões tomadas pelos governos (nacionais, estaduais ou municipais) com a participação, direta ou indireta, de entes públicos ou privados que visam assegurar determinado direito de cidadania para vários grupos da sociedade ou para determinado segmento social, cultural, étnico ou econômico. Ou seja, correspondem a direitos Constitucionais. Importante estar a par da políticas públicas de seu município, estado e/ou país, pois isso pode abrir portas para o desenvolvimento de seu projeto. Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste 20 Brainstorming (“tempestado de ideias” ou “tempestade cerebral”) É uma técnica simples de troca livre de ideias, de estímulo ao pensamento criativo de um grupo, favorecendo o seu engajamento, valorização e motivação em equipe. Este grupo, composto por qualquer número de pessoas contribuem com a sugestão de ideias para resolver algum problema ou para criar um trabalho criativo. Neste momento, é anotado tudo, seja em post-its ou em folhas de caderno (pois exige agilidade). É importante não haver nenhuma crítica ou rejeição de qualquer uma dessas ideias, pois elas têm que fluir espontaneamente. O debate e análise pode acontecer em um segundo momento. Essa técnica consiste em dispor os proble- mas que nos vêm à mente, por meio de um brainstorming, por exemplo, de forma hie- rárquica. Assim, poderemos distinguir qual o problema central que nosso projeto pre- cisa e/ou quer sanar, daqueles que dele são apenas a causa ou o efeito. A disposição gráfica (desenho) dos problemas do projeto nos permite não só priorizar aquilo que já sabemos, como também visualizar aspectos que só se re- velam numa ordenação lógica de todos os elementos, assim como também as suas possíveis soluções. Lembram-se daquelas breves indaga- ções? Pois bem, a análise do contexto e a definição do problema nos fazem res- ponder o “porquê” do projeto; os objetivos respondem à questão “o quê”; já o “como” será respondido pelo seu plano de ação. E o que é esse plano de ação? É a “elabo- ração de meios realistas, articulados entre si e programados no tempo, em vista de reali- zar um objetivo.” (Oliveira, 1996, p. 80). Essa elaboração deve resultar em um documento escrito que especifica o que vai ser feito, quem vai fazer, quais os recursos humanos, materiais e financeiros necessá- rio para que você faça, quando deve estar pronto e de que maneira será feito. É o mapa que vai conduzir você no caminho do êxito de seu projeto. Não o perca de vista! 2.3. Implementação A terceira etapa do planejamento refe- re-se à execução e à produção do projeto. Aqui, já foram tomadas todas as gran- des decisões de conteúdo que definem o projeto e agora virão as decisões opera- cionais que permitem desenvolvê-lo de acordo com o que foi estabelecido nas etapas anteriores. O que apresentaremos a seguir são os elementos e as ferramentas básicas necessárias para a boa gestão de um projeto, contudo é importante destacar que hoje em dia há uma grande quanti- dade de ferramentas disponíveis para a gestão. Nesse sentido, as tecnologias da informação e da comunicação (TIC) podem ajudar você. Entre as ferramentas de planejamen- to mais populares e mais cobradas por apoiadores e mesmo em editais, por exemplo, é o Cronograma. Cronograma é simplesmente uma re- presentação gráfica que relaciona tarefas a realizar com o tempo/período dispo- nível e necessário para essa realização. Ou seja, em uma planilha ou quadro, por exemplo, você destaca as suas operações e/ou ações de seu projeto em relação aos prazos e limites de cada etapa. Podemos dizer que é a sintetização e representa- ção gráfica do plano de ação. Há algumas formas de apresentar um cronograma, mas a mais popular é na forma de um diagrama de barras, também conhe- cido como diagrama ou gráfico de Gantt. São 5 os passos para a elaboração de um cronograma: 1º. Ações: detalhar o projeto em ações ou atividades gerenciáveis; 2º. Linhas de duração: estabelecer uma medida de duração (início e finaliza- ção) para cada ação; 3º. Prioridade: estabelecer grau de prioridade para cada ação; 4º. Tabela: inserir no gráfico as ações e suas durações na ordem de acontecimentos; e 5º. Marcos: usados para marcar ações com importância especial. E quais as vantagens de se trabalhar com o Cronograma? Por ser um sistema muito visual que re- úne uma grande quantidade de informa- ções em um único quadro, é de fácil com- preensão, de maneira que é possível ajustar o tempo às necessidades do projeto, além de facilitar a elaboração de datas-limite, permi- tir a tomada de decisões com antecedência e um acompanhamento e controle do projeto por todos da equipe ao mesmo tempo. PARA OS CURIOSOS Você já pensou sobre a ACESSIBILIDADE e a MOBILIDADE de um projeto cultural? Convido você a fazer essa reflexão apoiada em um material bem interessante produzido por quatro produtoras culturais para o Instituto Goethe (2015): é o e-book Inspirador: dá para fazer produção cultural de outro jeito. Vamos conhecer? www.goethe.de/ins/ br/pt/kul/sup/ nsp.html (HÖLZL, Isabel; CASTRO, Jonaya; SOBRAL, Laura; VICINI, Lorena) GESTÃO DE PROJETOS CULTURAIS 21 O Cronograma admite modificações per- sonalizadas (customizações), por exemplo, com uma coluna a mais você pode incluir o nome da pessoa da equipe responsável pela ação, enquanto em outra pode incluir as etapas de cumprimento da tarefa, crian- do ali uma espécie de checklist. Na sua Biblioteca Virtual do AVA, você en- contrará um exemplo simplificado de aplica- ção para um projeto musical. Outra ferramenta é o checklist, Lista de Checagem ou Folha de Verificação. Essa ferramenta de qualidade é uma lista de itens/ações de seu projeto e ser- ve, simplesmente, para atestar que todas as etapas ou itens da lista de proposições de seu projeto foram realmente cumpri- dos conforme o proposto e combinado. É uma ferramenta que nos protege de nós mesmos, de nossa possível falha de memória ou de atenção, por isso tão uti- lizada. É um método simples e eficiente de organização que nos dá segurança e garante o foco na gestão. Outro método ágil de controle do fluxo de produção muito similar ao checklist é o Kanban. O método Kanban foi desenvolvido pela Toyota na década de 1940. É um sistema simples de con- trole que utiliza pequenos cartões co- loridos ou post-its e que apresenta, em um quadro, 3 colunas: (a) atividades a serem feitas; (b) tarefas em execução; (c) tarefas concluídas. Outro tópico fundamental inerente ao planejamento e à gestão de projetos é a gestão dos recursos humanos, ou seja, da equipe de trabalho. No campo cultural em que trabalha- mos, quase sempre em contato direto com a população, a equipe do projeto costuma ser o principal fator de sucesso, mas pode ser também o de fracasso. É fundamental cuidar muito bem dos profissionais en- volvidos no desenvolvimento do projeto. Alguns desses cuidados são: • Buscar uma boa e justa atribuição de responsabilidades, deixando claro qual a função de cada pessoa na equipe; • Montar e compartilhar um organogra- ma, com uma visão estrutural e formal da organização; • Construir um fluxo transparente de informações, com reuniões periódicas para compartilhamento de processos; • Valorizar a colaboração e ajuda mútua; • Compartilhar a visão e objetivos do projeto e da organização, assim como suas regras e princípios éticos; • Ter contratos de trabalho claros. Ainda na implementação do projeto há todos os cuidados de gestão relativos à sua dimensão econômica, que tratará de seu plano material. Um capítulo específico será dedicado a esse tema denso e tão peculiar. PARA OS CURIOSOS Uma reflexão interessante sobre as dimensões do planejamento pode ser encontrada em Guia brasileirode produção cultural, organizado por Cristiane Olivieri e Edson Natale (Edições Sesc SP, 2016), uma das primeiras publicações do tema em nossa área, e que já teve diversas edições. No link a seguir, você poderá ler o primeiro capítulo: “Planejamento”: issuu.com/ edicoessescsp/docs/ trecho_guiacultural12 _2016bx SE LIGA! Hoje em dia, a tecnologia nos favorece com aplicativos (apps) que nos auxiliam a otimizar a gestão do tempo e a organização do trabalho. Conheça: • Todoist (iOS, Android, Windows, Mac) • Trello (iOS, Android, Windows, Mac) • Any.do (iOS, Android, Windows, Mac) • Evernote (iOS, Android, Windows, Mac) • Google Tarefas (iOS, Android, Windows, Mac) Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste 22 FINANÇAS BÁSICA PARA NÃO FINANCEIROS A responsabilidade pela gestão fi-nanceira de um projeto cultural é sempre do produtor executi-vo ou do gestor deste projeto. Neste tópico, você verá um conjunto de informações e ferramentas básicas sobre gestão econômica e financeira per- tinentes à gestão de um projeto cultural. Atentando que a gestão financeira pode ser entendida como a administração financeira de recursos, seja de um projeto ou de uma empresa. É a organização do fluxo de recursos presentes e futuros. Neste fascículo, compreenderemos 3 gran- des momentos dessa gestão: (a) a elabora- ção do orçamento e dos custos do projeto; (b) a gestão dos recursos; e (3) a prestação de contas dos recursos. 3.1. Orçamento O orçamento, que é um dos pontos que as pessoas têm mais dificulda- de de elaboração, é uma previsão do aspecto econômico e financeiro do pro- jeto com uma relação detalhada dos custos e das despesas necessários. Os custos do projeto devem estar em con- sonância com o plano de ação e de co- municação estabelecidos, e não podem esquecer de prever a remuneração da equipe, as despesas administrativas e os referidos impostos e taxas. É fundamental, quando de sua ela- boração, que o orçamento siga uma estrutura lógica, compreensível para o examinador/parecerista que vai analisá- -lo, coerente com as necessidades do projeto e, importante, com os valores de mercado. Não se esqueça que um orça- mento mal elaborado comprometerá a aceitação e até mesmo a execução do seu projeto. Para elaborar um orçamento, siga es- ses passos: 1º. A partir de seu plano de ação, lis- te todos os recursos necessários para a execução do projeto que demandem re- cursos financeiro: relacione os profissio- nais envolvidos, a locação/aquisição de bens e materiais, a locação de espaço s, os transportes, a hospedagem e alimen- tação, os materiais de divulgação, servi- ços indispensáveis etc. 2º. Liste também as despesas necessá- rias para sua organização gerir este pro- jeto pelo tempo pré-determinado (água, luz, telefone, aluguel, internet etc.). 3º. Momento de tomada de preços: aqui você irá solicitar propostas financei- ras (orçamentos) a fornecedores e pres- tadores de serviço, e adquirir o valor mo- netário de cada atividade. O ideal (muitas vezes exigido por apoiadores/financiado- res) seria, no mínimo, 3 propostas para cada linha de atividade ou rubrica. Caso não seja possível obter todas as propos- tas, realize uma pesquisa de preços com colegas e profissionais da área. Relacio- ne também aqueles serviços ou bens que apenas um fornecedor pode dispor, em casos de exclusividade. SE LIGA! Qual a diferença entre CUSTO e DESPESA? Custos são os valores gastos diretamente na execução de serviços e/ou na aquisição/elaboração do produto. Estão relacionados à atividade-fim. As despesas são os valores gastos na comercialização de produtos/serviços e administração das atividades empresariais. Estão relacionadas às atividades-meio, de suporte ao projeto. Valores de Mercado É muito comum recebermos projetos que têm suas planilhas orçamentárias desorganizadas, de maneira não ser possível fazer uma boa análise da proposta. Algumas, pior, não batem com o escopo do projeto, provavelmente construídas no hábito de “copiar” e “colar”, causando descrédito em quem analisa o projeto. Encontramos também – considerando que a maior parte dos pareceristas/analistas reconhecem o meio em que atuam – projetos com orçamentos superfaturados (preços muito além dos praticados no mercado) ou, ao contrário, que percebemos ser inexequível (por serem muito abaixo do valor de mercado, não permitirão que o projeto seja concluído). Todos esses fatores inabilitam e/ou desqualificam seu projeto, mesmo quando no geral a ideia é boa e as ações necessárias. Pense nisso! 3 GESTÃO DE PROJETOS CULTURAIS 23 Agora é o momento da construção do orçamento: 1º. Em posse dessas informações an- teriores, você irá subdividir o orçamento em 5 grandes blocos de atividades: (a) Pré-produção; (b) Produção; (c) Divul- gação; (d) Administração; e (e) Impos- tos, seguros e taxas. 2º. Agora, detalhe cada um dos itens dos custos e despesas, ou seja, as rubri- cas do orçamento, apresentando as in- formações (ou colunas da planilha): des- crição; quantidade (quantidade de itens); unidade (unidade de medida do item, como “hora”, “dia”, “mês/semana”, “ca- chê”, “serviço”, “verba” etc.); quantidade da unidade (quantidade de unidades que utilizará); valor unitário (valor de cada item de despesa); valor total (cálculo do valor unitário multiplicado pela quantida- de e pela quantidade da unidade). Veja, no rodapé desta página, um exemplo do que apresentamos acima e, a seguir, vamos traduzir juntos o que diz essa planilha. Vamos lá? A planilha diz que serão contrata- dos cinco músicos para que realizem no projeto duas apresentações, recebendo, cada um deles, o cachê de R$ 500,00 por apresentação artística, totalizando R$ 5.000,00. Fica fácil assim, não é? Todo mundo entende. Tenha em mente que um orçamento é sempre uma estimativa. Mesmo utilizan- do os preços apresentados em propostas fornecidas por prestadores de serviços e fornecedores, corre-se o risco de termos esses valores defasados por flutuações do mercado, lembrando que muitas vezes quando você lança a sua proposta o tem- po de aprovação pode demorar bastante e, nesse intervalo, esse valor ser defasado. Assim, para tentar minimizar esse risco, uma sugestão é solicitar aos profissionais um orçamento com valores previstos para a data de realização do projeto. Caso não seja possível, outra sugestão é, ao construir o orçamento, atualizar os va- lores de acordo com um índice oficial de inflação previsto para o período de exe- cução do projeto. Outro ponto que demanda atenção são os impostos. Para contratação de pessoas físicas, por exemplo, é necessário levar em conta que os impostos devidos serão de responsabi- lidade do proponente pagador, é o caso do INSS. Não esqueça de contemplar também as taxas bancárias que serão utilizadas no período de execução do projeto, lembrando que alguns editais ou apoiadores não permi- tem o pagamento de taxas bancárias. Por isso, o grande conselho sempre para quem quer criar projetos culturais é ler muito bem lido as regras do jogo, as nor- mas do apoiador, conhecer bem a sua di- nâmica para não lamentar depois e achar que foi enganado. 3.2. Gestão dos recursos do projeto Essa é a etapa que tem início naquele momento glorioso quando os desejados recursos estiverem em caixa. Seu objetivo é o controle de informa- ções financeiras, buscando avaliar se o projeto está caminhando conforme o pla- nejado e alcançando os objetivos previs- tos. A gestão dos recursos também tem como intuito buscar a maior rentabilida- de possível sobre o investimento utiliza- do, ou seja, fazer o máximo possível com os recursos disponíveis. Para a boa gestão financeira, deixa- mos aqui 7 bons princípios para colocar na sua parede e nunca esquecer: • Patrimônio dos proponentes não se confunde com patrimônio do projeto; • Tudo é registrado, tendo como premissa que o projeto vai continuar,vai “dar certo”; • Toda variação cambial ou de cotação deve ser registrada na hora; • Registrar sempre o valor original, ou seja, o valor da Nota Fiscal; DESCRIÇÃO QUANTIDADE UNIDADE QUANTIDADE DA UNIDADE VALOR UNITÁRIO VALOR TOTAL Músicos 5 Cachê 2 R$ 500,00 R$ 5.000,00 Fonte: disponibilizado pela autora, 2020. Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste 24 • A despesa deve ser lançada no ato em que foi gerada, independentemente da forma de pagamento (parcelamento, fi- nanciamento etc.); • Nunca antecipar lucros e sempre prever possíveis prejuízos; • Fazer do contador o seu maior aliado. Uma ferramenta básica para a gestão é o fluxo de caixa, também chamado de pla- no de tesouraria. Esse plano mede a dispo- nibilidade de recursos financeiros em todo o ciclo de vida do projeto, marcando todas as entradas e saídas de dinheiro. Não basta que o projeto seja rentável em termos absolutos, mas é necessário também que sempre que for preciso efetuar um paga- mento, que haja dinheiro em caixa, ou seja, que tenha havido uma receita anterior. Por isso, algumas leis de incentivo (como a Lei Federal de Incentivo à Cultura/Roua- net, por exemplo) só permitem o início do projeto após uma captação mínima de 20% a 35% do orçamento total, a depender da lei. Realizado em forma de planilha, em um relatório de fluxo de caixa devem estar registrados todos os recebimentos (fon- tes de receitas do projeto) e todos os pa- gamentos (pagamento dos custos e das despesas do projeto) previstos para o dia, a semana e até para o mês, caso esses paga- mentos sejam parcelados. Uma das vantagens dessa ferramenta é conseguir prever com antecedência mo- mentos de falta de caixa, onde o projeto deverá realizar um pagamento e não tenha fundos disponíveis. Com essa antecedên- cia, é possível buscar possíveis soluções, como prorrogar o prazo do pagamento, adiantar uma receita prevista ou até mes- mo buscar um crédito ou empréstimo ban- cário, claro, se necessário. Há também outras ferramentas que podem ser importantes e complementa- res ao fluxo de caixa: a) Controle orçamentário ou estado das contas: é o acompanhamento do orça- mento depois que ele começou a ser exe- cutado. Mede a evolução do orçamento e permite detectar em tempo real possí- veis desvios e atualização de valores. b) Balanço: é o estado das contas na fase final. É o fechamento do orçamento em que se constata a existência de lu- cro ou perda. Ele também analisa as razões dos desvios de orçamento. Outro ponto fundamental à gestão de projetos, e à gestão da organização como um todo é a Contabilidade. A Contabilidade é um procedimento regulamentado e de base universal, sen- do muito necessário e vantajoso que seja confiada a profissionais da especialida- de. Na contabilidade se registram todas as receitas e despesas do projeto e da organização. Com base nos registros rea- lizados é possível demonstrar a situação econômica, patrimonial e financeira da organização, por meio de um documento chamado Demonstração do Resultado do Exercício, a famosa DRE. A contabilidade também é responsável pelo controle fiscal e tributário dos pro- jetos e organizações. Ela efetua cálculos, indica o pagamento e fiscaliza toda a carga tributária que incide sobre a organização. 3.3. Prestação de Contas dos recursos A prestação de contas é uma compro- vação formal que precisamos entregar ao final do projeto ao patrocinador/apoiador e aos órgãos governamentais, quando for o caso de recursos advindos de editais, premiações e leis de incentivo. Esse rela- tório irá demonstrar tudo que foi realiza- do no projeto, tanto no aspecto qualita- tivo (que se refere à execução, entrega e distribuição do objeto proposto) quanto no quantitativo (quais foram e como foi utilizado o recurso que foi concedido). Embora não seja uma ferramenta de gestão, a prestação de contas é uma etapa importante para a conclusão de seu projeto, aliás, se não houver essa etapa – ou se ela for malfeita – é como se o projeto não tivesse SAIBA MAIS O Sebrae indica um passo a passo para a elaboração de um fluxo de caixa. Acesse e garanta o seu: www.sebrae.com.br/ sites/PortalSebrae/ ufs/ap/artigos/fluxo- de-caixa,a8751947e9 3c9410VgnVCM20000 03c74010aRCRD SE LIGA! Lembre-se que você ou a sua organização é o responsável por esse recurso que não é seu, mas é público, e que é destinado à realização de seu projeto. Como responsável por esse recurso, deve aplicá- lo para que não haja perda. Muitos apoiadores exigem essa aplicação e se você não o aplicou terá que se justificar. Ao final, o saldo de aplicação é devolvido à conta do financiador, exceto quando necessário para um algo mais do projeto, mas somente mediante solicitação anterior ao apoiador e a sua aprovação. 25 GESTÃO DE PROJETOS CULTURAIS sido realizado, o que pode causar complicações sérias e exaustiva para o seu proponente (você ou sua organização). Assim, devemos considerar alguns pontos sobre o aspecto quantitativo: • Todas as despesas e receitas deverão ser discriminadas na prestação, de acordo com a planilha orçamentária que foi aprovada para o projeto; • Em algumas situações, a prestação de contas deverá incluir a apresentação de documentos comprobatórios das despesas (tais como notas fiscais e recibos); • Fique atento, pois muitos mecanismos de fomento pos- suem formulários próprios de prestação de contas, dispo- níveis no órgão responsável; • Deverá apresenta um registro com conciliação bancária onde deverá relacionar os extratos bancários ao seu fluxo de caixa (serviço da Contabilidade); e • Deverá incluir também um relatório final de cumprimen- to do objeto (relatório físico-orçamentário), incluindo o ade- quado uso dos recursos e as dificuldades e desvios surgidos no percurso, se houver. É importante ressaltar que, para construir uma prestação de contas adequada, teremos sempre que recorrer à legislação vigente relacionada ao edital ou à lei utilizada. É sempre inte- ressante pensar que sua prestação de contas começará desde o início da execução do projeto, por isso se aproprie desde cedo do Manual/Guia de Prestação de Contas (quando houver) ou dos dispostos sobre ela, e de todos os documentos que deverão ser entregues (incluindo formulários próprios para essa apresenta- ção). Atente-se também ao prazo estipulado para elaboração e entrega da prestação, que costuma ser, no mínimo, de 30 dias após o término de vigência do projeto. Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste 26 AVALIAÇÃO A essência do processo de avalia-ção consiste em julgar o mérito e a relevância do objeto apreciado, com vistas a melhorar o processo da sua qualidade. A avaliação não deve ser considerada como uma etapa específica do projeto, mas ela está presente de forma transversal na maioria das etapas, e mui- tas vezes é exigida nos formulários de elabo- ração de projetos propostos a organizações governamentais. Uma definição completa de avalia- ção pode ser: A avaliação é um processo sistemático através do qual se obtém a informação necessária sobre os resultados, previstos ou não, e o funcionamento de um proje- to cultural para saber em que medida se atingiram os objetivos e como se desen- volveu a produção, e para poder tomar as decisões oportunas para relançar o proje- to através da modificação de qualquer de seus aspectos. (CEREZUELA, 2015, p. 204) O processo da avaliação começa no planejamento inicial, ainda antes da im- plementação do projeto, buscando respon- der, por meio de um diagnóstico, a viabili- dade, a coerência e a sua relevância. Essa avaliação prévia é chamada por alguns autores de avaliação ex ante, e compreen- de a análise do contexto já mencionada no tópico “Planejamento”. O que será visto neste tópico serão os momentos seguintes: (a) avaliação de processo que também pode ser enten- dida como monitoramento, e (b) avalia- ção final, também chamada de ex post. Avaliar um projetocultural de forma pormenorizada não é ainda uma práti- ca habitual e tão valorizada por parte dos produtores, infelizmente. Eles não enten- deram ainda que com a realização de um processo de avaliação completo e exigente, podemos apreciar a relevância, a eficiên- cia, o impacto e a sustentabilidade das in- tervenções realizadas em seu projeto. Tam- bém é possível saber se estamos fazendo as coisas corretamente, e se a maneira que estamos fazendo é a mais apropriada para alcançar os resultados estabelecidos. Em outras palavras, um processo de avaliação de um projeto cultural serve para: • Conferir a quantidade de metas do pro- jeto que foram ou não alcançadas; • Medir os efeitos de um projeto sobre seu público-alvo e comunidade, e em que medidas essas mudanças caminha- ram para o resultado desejado; • Projetar a continuidade da ação, se for o caso; • Demonstrar resultados às partes inte- ressadas, como parte do processo de res- ponsabilização. 4.1 O que avaliar? Alguns tópicos são fundamentais de serem mensurados e analisados, como: • Os impactos gerados (sempre de acor- do com os objetivos propostos); • O público atendido; • A realização financeira; • A comunicação; 4 • Os patrocínios e parcerias; • A equipe envolvida; • A geração de empregos e renda; • Os possíveis desdobramentos e continuidade. É possível compreender os itens des- critos a partir de 3 critérios que devem ser observados: a eficácia, a eficiência e a efe- tividade (ou impacto) do projeto. • A eficácia é a medida do grau em que o projeto atinge os seus objetivos e metas, por meio de indicadores quantitativos e qualitativos. • A eficiência diz respeito ao processo, ao bom funcionamento, à melhor relação custo/benefício possível para o alcance dos resultados desejados; • Por fim, a efetividade indica o impacto do projeto, a repercussão a longo prazo, observando se o projeto tem efeitos (positi- vos) no ambiente externo em que ele inter- veio, em termos técnicos, econômicos, so- cioculturais, institucionais e ambientais. 4.2. Quando se realiza a avaliação? Como já mencionado, a avaliação do projeto é feita ao longo de todas suas fases: (1) planejamento, (2) execução e (3) conclu- são. Para isso, há dois focos diferentes que podem ser aplicados simultaneamente: • Monitoramento ou avaliação contínua: avalição realizada constantemente, ao lon- go do projeto. Permite verificar se estamos no caminho dos objetivos propostos, e serve para indicar disfunções, mudanças de per- GESTÃO DE PROJETOS CULTURAIS 27 curso, o que pode significar melhor aprovei- tamento dos recursos (humanos, físicos etc.), economia e necessidade de readequações. • Avaliação final: É efetuada no final do projeto e avalia-se a sua globalidade (visão macro, panorâmica e geral). Serve para me- dir a eficácia (em que medida os objetivos foram alcançados) e o impacto do projeto. Serve para apontar mudanças para as futu- ras edições e para justificar novas propos- tas que continuem, ampliem e completem a existente. Normalmente se materializa num relatório ou balanço final. 4.3. Indicadores Indicador, parece lógico, é algo que indica ou que serve para indicar. Pois bem, os indicadores ou índices são usados na economia, na demografia e na sociologia. Já no processo de avaliação de projetos eles podem ser entendidos como instrumentos de medidas ou parâmetros que verificam se os resultados propostos foram efetiva- mente alcançados. Eles, além de nos forne- cer informações relevantes para os proces- sos de execução de políticas e de programas culturais, são também fatores de transpa- rência, pois, por meio deles, todos os agen- tes envolvidos nas ações, assim qualquer cidadão, poderão ter acesso aos resultados dos investimentos dos órgãos públicos em projetos culturais por eles financiados. Mas, IMPORTANTE, é necessário elaborar indicadores específicos para cada projeto, pois eles variam em função da natureza dos objetivos propostos. Entre os vários tipos de indicadores é possível realizar uma classificação geral em: (a) quantitativos e (b) qualitativos. No setor cultural, em que se trabalha frequentemente com sensibilidades, per- cepções, gostos, hábitos etc., convém saber combinar indicadores dos dois tipos: a) Indicadores de ordem quantitativa ou indicadores objetivos: medem os re- sultados de forma numérica, utilizan- do métodos padronizados e estrutura- dos para coletar dados. Você verá que esses são mais fáceis de serem mensu- rados e, portanto, quantificados. Por exemplo: número de visitantes numa exposição; número de livros vendidos; números de menções do projeto na mídia, número de eventos realizados, percentual de municípios atendidos ou percentual de crescimento de público para determinada ação etc. b) Indicadores de ordem qualitativa ou indicadores subjetivos: refletem resulta- dos mais dificilmente mensuráveis, sen- do na maioria das vezes algo de ordem “sensitiva”, mais relacionado à percep- ção dos beneficiários daquele projeto, expresso mais por opiniões e atitudes do que pelos números. Podemos dizer que, enquanto os indicadores quantita- tivos trazem os resultados concretos, os qualitativos se ocupam mais com os impactos que esses resultados trazem para o seu público estratégico. Por exem- plo: satisfação do público, sensibilização aos temas expostos, geração de bem-es- tar (que poderão ser coletados por meio de depoimentos, entrevistas, questioná- rios, pesquisas de reação etc.) O indicador buscará uma informação sobre uma situação ou resultado, mas será necessário comparar com algum valor de referência (por exemplo, o desejado, o do ano passado, ou de outro projeto), assim ele conseguirá fornecer informações sobre a evolução do seu projeto. Para planejar e elaborar indicadores para qualquer projeto, algumas características são desejáveis. Os indicadores devem ser: a) relacionados aos objetivos específicos e aos conteúdos descritos no projeto; b) determinados antes do início da produção; c) objetivos, neutros (não interpretáveis – evite termos como “pior”, “melhor”, “per- feito”); medíveis de maneira simples; e d) confiáveis. PARA OS CURIOSOS Para uma reflexão mais aprofundada sobre indicadores para a cultura, recomenda-se a leitura dos textos “O valor da cultura”, de Geoffrey Crossick e “Quanto vale a cultura?”, de Enrique Avogadro (páginas 29 a 45 e 46 a 54). ACESSE: issuu.com/ itaucultural/docs/ obs23_book_af_ issuu/1?ff SE LIGA! É impossível medir tudo. Responder bem poucas perguntas é melhor do que responder mal a muitas. Lembre-se das palavras de Einstein: “Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.” Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste 28 Um exemplo geral para compreensão da diferença entre esses indicadores: Você executa um projeto no qual tem, como uma das ações, um curso de elabo- ração de projetos culturais. O número de participantes e/ou o nú- mero de alunos certificados em seu curso é o seu indicador quantitativo. O indicador qualitativo de seu pro- jeto se dará a percepção do seu cursista que, por meio de uma escala, poderá lhe responder “Após o curso você se sente seguro para elaborar e executar projetos culturais? ( ) Muito Seguro ( ) Seguro ( ) Inseguro ( ) Muito inseguro. Quando possível, sempre optar por mes- clar os dois tipos de indicadores. Enrique- ce o contexto de seu projeto, acredite. 4.4. Instrumentos São vários os instrumentos que podem ser empregados na gestão cultural para a coleta de dados e para a avaliação de um projeto, apresentaremos aqui alguns deles: • Registros: estatísticas existentes, atas de reuniões, documentos de trabalhos inter- nos. Eles ajudam a obter informações tanto quantitativas como qualitativas; • Medições: contagens de pessoas, borde- rôs, receitas e despesas etc. Trazem infor- mações do tipo quantitativas; • Pesquisas: de opinião, de satisfação, de reação,de hábitos etc. Bom método para conhecer o público, trazendo informações do tipo quantitativas e qualitativas. Há diversas técnicas para formulação de pes- quisa, questionários, graus de avaliação e sistema de amostragem, convém um bom planejamento e a escolha adequada a par- tir do contexto; • Entrevistas: pessoal em profundidade. São métodos qualitativos de grande valor pela quantidade de informações obtidas. Também existem técnicas para realizar uma boa entrevista. • Grupos de discussões: entrevistas em grupo. Bom método para obter opinião e posicionamento de uma comunidade a par- tir de um grupo reduzido de pessoas (amos- tragem). Está entre a entrevista e a pesquisa e é um método que pode converter-se em indicadores quantitativos e qualitativos. Existem técnicas específicas para provocar discussões nessa modalidade. • Análise de mídia: imprensa, fotografias e vídeos. É um método de aferir a imagem e impacto do projeto. É importante reunir e revisar todo o material publicado e regis- trado. A análise também permite obter in- formações quantitativas e qualitativas. • Observação: um método simples de apli- car e complexo de analisar. Dependerá da capacidade de percepção e do ponto de vista do(a) observador(a), e costuma ser utilizada como complemento das demais. 4.5. Como avaliar? Uma metodologia de avaliação de pro- jetos envolve a escolha de um conjunto de critérios e o uso de indicadores con- sistentes com os critérios escolhidos e que permitam efetuar um julgamento continuado e eficaz, mediante a compa- ração com os padrões de desempenho anteriormente estabelecidos. Existem diversos métodos de avaliação, sobretudo, voltados à avaliação econô- mica de projetos. Aqui, apresentaremos 3 métodos, ou melhor, 3 ferramentas que podem ajudá-lo(a) com essa sistematiza- ção de informações. a) Modelo lógico: há, na verdade, mais de um modelo dentro dessa categoria. Os modelos lógicos são ferramentas me- lhores para o planejamento do proje- to. Eles ajudam a definir quais dados SAIBA MAIS Em setembro de 2015, líderes mundiais reuniram-se na sede da ONU e decidiram um plano de ação para erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir que as pessoas alcancem a paz e a prosperidade: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, a qual contém o conjunto de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Saiba mais em: www. agenda2030.com.br Em 2020, a Unesco lançou então os indicadores temáticos para a cultura dentro da Agenda 2030. A publicação pode ser lida em inglês, francês e espanhol. ACESSE: unesdoc.unesco. org/ark:/48223/ pf0000373570 GESTÃO DE PROJETOS CULTURAIS 29 serão úteis e quando a sua coleta será mais oportuna. Ele fun- ciona melhor quando se selecionam focos: aspectos ou partes específicas do projeto. De forma geral, os modelos lógicos tra- balham com os pontos abaixo: 1. Foco (determinar o que avaliar) 2. Pergunta (determinar as perguntas adequadas à avaliação) 3. Indicadores (saber quais informações coletar para responder a todas as perguntas) 4. Timing (saber quando coletar os dados) 5. Coleta de dados (decidir sobre as fontes, métodos, amostras e instrumentos de coleta de dados) Fonte: diagrama extraído de UNESCO, 2009, p.46. b) Matriz de avaliação: Essa ferramenta é uma forma de siste- matizar as informações cruciais da avaliação, e funciona tan- to para o planejamento, para a criação de um plano, quanto para o julgamento da eficácia do projeto presente no relatório final. A ferramenta irá unir os objetivos específicos previstos, os indicadores pertinentes a esses objetivos e os instrumen- tos de avaliação. Para o planejamento, ela pode ser apresen- tada da forma abaixo: Objetivo Específico Meta Indicadores Instrumentos de Avaliação Para o relatório final, a matriz pode aparecer da seguinte forma: Objetivo Específico Meta Indicadores Instrumentos de Avaliação Valor obtido / resultados Fonte: disponibilizado pela autora, 2020. c) FOFA adaptada: uma sugestão simplificada é uma adaptação dessa ferramenta de planejamento, vista no tópico 2 deste fas- cículo. Nela se apresentam os aspectos positivos e negativos do projeto, tanto relativos aos objetivos, quanto ao processo de gestão. Sua aplicação é simples e deve ser realizada ao fi- nal do projeto com os resultados em mãos, e, se possível, de forma colaborativa. ASPECTOS POSITIVOS Elemento do Resultado / Processo Razão Como Manter ASPECTOS NEGATIVOS Elemento do Resultado / Processo Razão Como Modificar Fonte: diagrama extraído de CEREZUELA, 2015, p.215. Para uma melhor compreensão, apresentaremos a seguir 2 exemplos da relação entre: objetivo, meta, indicadores e ins- trumentos, itens presentes na matriz de avaliação: Exemplo I (quantitativo): • Objetivo específico: ampliar o público presente nessa edi- ção do projeto. • Meta: conseguir um aumento de 20% do público presente em relação ao ano anterior (que foi de 1.000 pessoas). Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste 30 • Indicador: número de espectadores deste ano em relação ao ano passado • Instrumento: contabilização da ven- da de ingressos (os convites não serão contabilizados) Exemplo II (qualitativo): • Objetivo específico: oferecer um mate- rial didático de qualidade. • Meta: produção e distribuição de um material didático referendado por espe- cialistas da área. • Indicador: apreciação da qualidade do material no setor. • Instrumentos: entrevistas com espe- cialistas; opinião dos meios de comuni- cação; pesquisa de satisfação com os do- centes participantes do projeto. Para finalizar, alguns outros pontos de- vem ser contemplados no planejamento de um processo de avaliação, entre eles, por exemplo, a quem se destinará essa avalia- ção. Ora, essa é uma questão importante, pois a avaliação é feita para compor um pro- cesso de prestação de contas governamen- tal, como também para apresentação aos parceiros e patrocinadores do seu projeto. Mesmo quando é uma iniciativa interna para avaliação de melhorias no processo de ges- tão e execução, tem que ser levada a sério, com o devido rigor e prudência. Também deve ser planejado quem irá realizar esse processo, se um agente ex- terno (uma consultoria especializada, por exemplo, para garantir a impessoalidade e a imparcialidade) ou se a própria equipe. Esse é um assunto delicado, pois a confiabilidade e a credibilidade da sua avaliação depende desses fatores. Lembre-se: o resultado de sua avaliação pode ser a melhor propa- ganda de seu projeto! Vamos ficando por aqui. Deu para per- ceber como as estratégias são importantes para orientar a ação do seu projeto. As ferramentas de gestão aqui apre- sentadas ajudam a realizar um trabalho mais seguro, confiável e eficiente. Procure acessar os links e ler os livros indicados, mas não se limite a eles. Bus- que vídeos e guias e textos na internet so- bre a temática. Não se acomode jamais! SE LIGA! O Objetivo Final de seu Projeto Para que se alcance êxito em seu projeto, uma das coisas mais importantes é você saber qual o seu objetivo final, ou o escopo de seu projeto. É óbvio que se você não sabe aonde quer chegar, é muito fácil perder seu rumo durante a execução (sem metas, nem resultados). O escopo (objetivo final) define exatamente o que se deseja atingir ao final do projeto, é o seu produto principal. Referências CEREZUELA, David Roselló. Planeja- mento e avaliação de projetos cultu- rais: da ideia a ação. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2015. CUNHA, Maria Helena. Planejamento es- tratégico de projetos e programas cul- turais. (Série Universitária) São Paulo: Senac São Paulo, 2018. HÖLZL, Isabel; CASTRO, Jonaya; SOBRAL, Laura; VICINI, Lorena. Inspirador: dá para fazer produção cultural de outro jeito. E-book. São Paulo: Instituto Goethe, 2015. INSTITUTO ALVORADA BRASIL. Projetos Culturais: como elaborar, executar e prestar contas. Brasília: Instituto Alvora- da; Brasil: SebraeNacional, 2014. OLIVEIRA, Djalma P. R.; Planejamento es- tratégico: conceitos, metodologia e prá- ticas. 10. ed. São Paulo: Atlas, 1996. OLIVIERI, Cristiane; NATALE, Edson (org.). Guia brasileiro de produção cultural. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2016. SERTEK, Paulo; GUINDANI, Roberto; MAR- TINS, Tomás. Administração e planeja- mento estratégico. Curitiba: InterSaberes, 2012. (Série Administração Estratégica). UNESCO. No rumo certo: guia para moni- toramento e avaliação de projetos base- ados em comunidades. França: UNESCO, 2009. Disponível em: <https://unesdoc. unesco.org/ark:/48223/pf0000186231_ por.locale=en>. Acesso em 06/10/20. GESTÃO DE PROJETOS CULTURAIS 31 Guabiras (Ilustrador) É cartunista, autor de histórias em quadrinhos e de muitos personagens. Publicou mais de 5 mil tirinhas em veículos como jornais, fanzines, livros (antologias), revistas (MAD-SP, Gibi Quântico-SP, Tarja Preta-RJ, entre outras) e na web, entre eles, no jornal EXTRA de Nova York (EUA) e na obra Marcatti 40 (Ugra/SP). Recebeu, em parceria, 3 troféus HQMIX e o Troféu Ângelo Agostini de “Melhor Cartunista de 2016”, as maiores comendas de quadrinhos do país. REALIZAÇÃOAPOIO CAPACITAÇÃO DE AGENTES CULTURAIS ESTRATÉGIAS DE CULTURA E ARTE PARA O FUTURO Alice Coutinho (Autora) Produtora, gestora cultural, compositora e pesquisadora. Professora na pós-graduação de Gestão Cultural e Arte-Educação do Senac/SP e na pós-graduação Gestão, Política e Produção Cultural da Unicamp. Graduada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), pós-graduada em Gestão de Projetos Culturais pela Escola de Comunicação e Artes (ECA-USP) e mestranda em Sociologia da Cultura pela Unifesp. Iniciou seu trabalho com Produção Cultural em 2005, quando criou a Bendita Produções. Trabalhou na produtora Barracão Cultural, responsável pela produção e elaboração de projetos de espetáculos musicais e teatrais. Fundou e editou o site de programação cultural Uia Diário e seu programa de rádio. Foi sócia e diretora executiva do Cultura e Mercado, escola e produtora de conteúdo sobre gestão cultural e professora no curso de Produção Cultural da Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU-SP). FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) Presidente: João Dummar Neto Diretor Administrativo-Financeiro: André Avelino de Azevedo Gerente Geral: Marcos Tardin Gerente Editorial e de Projetos: Raymundo Netto Gerente TV O POVO: Chico Marinho Analistas de Projetos: Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes e Fabrícia Góis | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Gerente Pedagógica: Viviane Pereira Coordenadora de Cursos: Marisa Ferreira Designer Educacional: Joel Bruno | CURSO CAPACITAÇÃO DE AGENTES CULTURAIS Coordenador Geral, Editorial e Estabelecimento de Texto: Raymundo Netto Coordenadora de Conteúdo: Daniele Torres Assistente Editorial Emanuela Fernandes Projeto Gráfico e Edição de Arte: Andrea Araujo Designer Gráfico: Carlos Weiber Ilustrador: Guabiras Roteirista, Locutora e Mediadora (radioaulas): Lílian Martins Produtora: Luísa Duavy ISBN: 978-65-86094-49-7 (Coleção) ISBN: 978-65-86094-45-9 (Fascículo 2) Todos os direitos desta edição reservados à: Este fascículo é parte integrante do projeto Estratégias de Cultura e Arte para o futuro: capacitação de agentes culturais, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha (FDR) e a Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza (SecultFOR), sob o nº 02/2020. Fundação Demócrito Rocha Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 fdr.org.br fundacao@fdr.org.br
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