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Mariana Marques - TXXIX Microbiologia Médica | Patrick R. Murray, Ken S. Rosenthal and Michael A. Pfaller 8ª Edição – Seção 4 – Capítulos: 25 (Enterobacteriacea – E. coli e Salmonella) e 28 (Helicobacter – H. pylori) Infecções Bacterianas do Sistema Gastrointestinal (ENTEROBACTÉRIAS) INTRODUÇÃO São microrganismos ubiquitários (vários lugares simultaneamente): solo, água e microbiota Alguns microrganismos (exemplo: Salmonella) sempre causam doenças, outros (exemplo: Escherichia coli) são comensais, podendo causar possíveis infecções oportunistas Termos usados para descrever as infecções: Gastroenterite: náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal Diarreia: liberação anormal de fezes, evacuações frequentes e liquidas Disenteria: sangue e pus nas fezes acompanhados de dores, febre e cólicas abdominais Enterocolite: inflamação da mucosa intestinal (delgado e grosso) Imunidade do sistema gastrointestinal: Tecido linfóide associado ao trato gastrointestinal (GALT): protege contra infecções bacterianas Lâmina Própria: camada de tecido conjuntivo frouxo que contém vasos sanguíneos, linfáticos e tecidos linfóides associados a mucosa (MALT) Placas de Peyer: agregados de nódulos linfáticos, compostos por linfócitos B e T e macrófagos que constituem um componente principal do GALT Célula M (micropregas): células não ciliadas, fazem fagocitose, passam a bactéria por transcitose, passando-a para a Placa de Peyer que fazem reconhecimento da bactéria pelas células dendríticas, apresentando-as aos linfócitos, que iniciam a resposta inflamatória Células de Paneth: produtoras de peptídeos antimicrobianos Bactérias comensais: possuem os mesmos PAMPS de bactérias não comensais, metabolizam alimentos, fornecem fatores crescimento, protegem contra infecções e estimulam à resposta imune PROPRIEDADES GERAIS FISIOLOGIA E ESTRUTURA: Bacilos Gram-negativos de tamanho moderado Não formadores de esporos, podendo ser móveis ou imóveis Compartilham um antígeno comum (antígeno comum de enterobactéria) Crescem rapidamente aeróbica e anaeróbicamente (anaeróbios facultativos), podendo ser em meios seletivos (exemplo: ágar MacConkey) e não seletivos (exemplo: ágar sangue) Fermentam glicose, reduzem nitrato, catalase positivas e oxidase negativas O lipopolissacarídeo (LPS) é o principal antígeno da parede celular e consiste em três componentes: → Polissacarídeo O: importante para a classificação epidemiológica das cepas dentro da espécie → Polissacarídeo central: possibilita classificar a bactéria como Enterobacteriaceae → Lipídio A: responsável pela atividade endotóxica (importante fator de virulência) Mariana Marques - TXXIX Microbiologia Médica | Patrick R. Murray, Ken S. Rosenthal and Michael A. Pfaller 8ª Edição – Seção 4 – Capítulos: 25 (Enterobacteriacea – E. coli e Salmonella) e 28 (Helicobacter – H. pylori) PATOGÊNESE E IMUNIDADE: Fatores de virulência: → Endotoxina: ativa o complemento, causa liberação de citocinas, leucocitose, trombocitopenia, coagulação intravascular disseminada, diminuição da circulação periférica, choque e morte → Cápsula: protege da fagocitose pelos antígenos capsulares, que repelem a superfície hidrofóbica da célula fagocítica → Variação de fase antigênica: protege a bactéria da morte mediada por anticorpo → Sistemas de secreção tipo III: facilitam a transferência de fatores de virulência bacterianos para as células-alvo → Sequestro de fatores de crescimento: bactéria produz os próprios compostos quelantes de ferro → Resistência ao efeito bactericida do soro: capazes de produzir infecções sistêmicas, resistirem à morte pelo soro → Resistência a antimicrobianos: resistem a antibióticos Escherichia coli CARACTERÍSTICAS GERAIS Bacilos Gram-negativos, não esporulados, anaeróbios facultativos e lactose positiva Síndromes causadas: gastroenterites, dissentiria, septicemia, pneumonias e meningite Habitat natural: Trato gastrointestinal de animais e humanos Quando isolada em água e alimentos com condições higiênicas insatisfatórias é indicador de contaminação fecal Possuem fatores de virulência específicos: Fímbrias: conferem adesão Cápsula: evasão da fagocitose + adesão entre as bactérias Endotoxinas (LPS-LPO) Exotoxinas (enterotoxinas) → causam diarreias PATOTIPOS Escherichia coli Enterotoxigênica (ETEC) Epidemiologia: uma das causas mais comuns de doença diarreica bacteriana, alta mortalidade em desnutridos, idosos e crianças Conhecida como diarreia do viajante Contágio: consumo de alimentos ou água contaminados com fezes Características: possuem adesinas Principais sintomas: diarreia aquosa sem sangue e cólicas abdominais, eventualmente pode haver náuseas e vômitos Desenvolvimento da doença: a bactéria fixa-se ao epitélio intestinal do intestino delgado através de suas proteínas de superfície e induzem à diarreia através de suas enterotoxinas Enterotoxinas produzidas: toxinas termoestáveis (resistentes a temperatura – LT1 e LTL2) e toxinas termolábeis (sensíveis – Sta e STb- inativadas em elevadas temperaturas) → não atravessam o enterócitos, causando quadro irritativo superficial → O aumento de AMP cíclico iniciara uma cascata, ativando proteinas PKA, que ativam outras enzimas no citosol, causando extravasamento de fluidos, potássio e cloro dos enterócitos Mariana Marques - TXXIX Microbiologia Médica | Patrick R. Murray, Ken S. Rosenthal and Michael A. Pfaller 8ª Edição – Seção 4 – Capítulos: 25 (Enterobacteriacea – E. coli e Salmonella) e 28 (Helicobacter – H. pylori) Escherichia coli Enteropatogênica (EPEC) Epidemiologia: foram as primeiras cepas de E. coli associadas a surtos de doenças diarreicas relatadas nas décadas de 1940 e 1950 → A doença esporádica e surtos são raros nos países desenvolvidos, sendo relatados casos esporádicos em países pobres, com a doença sobretudo em crianças menores 2 anos (gastroenterite) Contágio: consumo de alimentos ou água contaminados Características: possuem plasmídeos com genes que codificam um fator de aderência (adesão à mucosa intestinal e Invasinas (destroem microvilosidades) Principais sintomas: diarreia aquosa que pode ser prolongada e acompanhada de febre e vômitos Desenvolvimento da doença: a infecção inicia pela fixação bacteriana às células epiteliais do intestino delgado, com subsequente destruição das microvilosidades Escherichia coli Enteroinvasiva (EIEC) Epidemiologia: são raras em países desenvolvidos e pouco frequentes em países em desenvolvimento, afeta adultos e crianças Contágio: consumo de alimentos ou água contaminados Características: a bactéria se adere, invade e destrói as células epiteliais do cólon e assim, se espalha lateralmente Principais sintomas: diarreia aquosa, na minoria de pacientes, a doença progride para uma forma de disenteria, causando febre, dores abdominais, sangue e leucócitos nos espécimes fecais Desenvolvimento da doença: bactérias lisam os vacúolos fagocíticos e se multiplicam no citoplasma da célula Escherichia coli Enterohemorrágica (EHEC) ou (STEC) Epidemiologia: mais frequente nos meses quentes, ↑ incidência em crianças <5 anos (dose infecciosa baixa, menos de 100 bactérias pode causar a doença) Contágio: consumo de alimentos ou água contaminados (mal cozidos) Características: fator de virulência (toxina Shiga) Principais sintomas: pode causar desde diarreias leves até colites hemorrágicas (diarreia sanguinolenta), podendo causar síndrome urêmica hemolítica (falha renal aguda e anemia hemolítica) Desenvolvimento da doença: a toxina apresenta subunidades que se ligam às vilosidades intestinais e nas células endoteliais renais do hospedeiro, posteriormenteocorre bloqueio da síntese de proteínas Escherichia coli Enteroagregativa (EAEC) Epidemiologia: importante causa de diarreia infantil nos países desenvolvidos, associadas a diarreia crônica e atraso do crescimento em crianças Características: bactérias caracterizam-se por aglutinação, tipo arranjo de parede de tijolos, ocorre formação de biofilme sobre células epiteliais (citocinas e enterotoxinas) Principais sintomas: causa lesão mucosa (secreção de muco) e gera diarreia secretora aquosa, muitas vezes com células inflamatórias e acompanhada por febre, náuseas, vômitos e dor abdominal Desenvolvimento da doença: após adesão ao epitélio, a liberação de citocinas é estimulada, o que resulta no recrutamento dos neutrófilos e a progressão para uma diarreia inflamatória Mariana Marques - TXXIX Microbiologia Médica | Patrick R. Murray, Ken S. Rosenthal and Michael A. Pfaller 8ª Edição – Seção 4 – Capítulos: 25 (Enterobacteriacea – E. coli e Salmonella) e 28 (Helicobacter – H. pylori) RESUMO GERAL DOS PATOTIPOS PATOTIPO ASPECTOS CLÍNICOS EPIDEMIOLÓGICOS FATORES DE VIRULÊNCIA ETEC Diarreia aquosa Diarreia da infância, países em desenvolvimento, diarreia do viajante Fímbrias, enterotoxinas sensíveis e resistentes ao calor EPEC Diarreia aquosa, vômitos Bebês em países em desenvolvimento Fimbrias formadoras de feixes (fixação e ofuscamento) EHEC Diarreia aquosa, colite, hemorrágica Surtos transmissíveis por alimentos e água em países em desenvolvimento Toxina Shiga, efeito de fixação e ofuscamento EAEC Diarreia com muco Diarreia da infância e do viajante Fímbrias e citotoxinas EIEC Diarreia aquosa - sangue e leucócitos Acomete crianças e adultos Hemolisina DIAGNÓSTICO Coleta de fezes: presença de leucócitos (indicador de inflamação decorrente da interação bactéria- hospedeiro → disenteria) Cultura: colônia seca, rosa (lactose +) com área rosa ao redor se crescida em MacConkey Coloração de Gram-negativa: rosa Salmonella CARACTERÍSTICAS GERAIS Bacilos Gram-negativos, não esporulados, não fermentadores, anaeróbios facultativos (intracelulares facultativas), lactose negativa Possuem fatores de virulência específicos: Antígeno de virulência VI: polissacarídeos capsulares (antifagocitários: importante fator de virulência de S. typhi) Invasina: proteínas de invasão – Ssps (Invasão de enterócitos e células M – vesículas) – acesso à lâmina própria Sobrevivência e o crescimento dos organismos no interior de fagossomos de células fagocitárias Preferência pela invasão da vesícula biliar: estado de portador, com a excreção das bactérias pelas fezes durante longos períodos É uma infecção invasiva PATOGÊNESE: Febre Tifóide (S.typhi): transmitida pela água e alimentos contaminados com material fecal humano, possui sintomas mais graves, tais, como: febre alta, diarreia, vômito e septicemia Febre entérica (S.paratyphi): semelhante à tifóide, porém, essa é com sintomas mais brandos Salmoneloses (S.enteridis e typhimurium): sintomas: diarreia, febre, dores abdominais e vômitos Mariana Marques - TXXIX Microbiologia Médica | Patrick R. Murray, Ken S. Rosenthal and Michael A. Pfaller 8ª Edição – Seção 4 – Capítulos: 25 (Enterobacteriacea – E. coli e Salmonella) e 28 (Helicobacter – H. pylori) IMUNIDADE: Após a passagem pelo estômago, a bactéria adere à mucosa do intestino delgado e invade as células M (microvilosidades) e as células epiteliais intestinais localizadas na placa de Peyer As bactérias permanecem no vacúolo endocítico, onde se multiplicam e podem ser transportadas através do citoplasma e liberadas na circulação sanguínea ou linfática A regulação da adesão, a fagocitose da membrana e a reprodução são basicamente controladas por dois grupos principais de genes (ilhas de patogenicidade I e II) nos cromossomos bacterianos → Ilha de patogenicidade I: codifica as proteínas de invasão secretadas pela bactéria que injeta as proteínas na célula hospedeira → Ilha de patogenicidade II: contém os genes que permitem que a bactéria escape da resposta imune do hospedeiro FORMA DE INFECÇÃO: As fontes mais comuns de infecções humanas são aves domésticas, ovos, laticínios e alimentos preparados em superfícies contaminadas DIAGNÓSTICO: Cultivo de amostra de fezes em ágar SS: é um meio diferencial seletivo para isolamento de Salmonella (colônia cresce preta) PROFILAXIA E PREVENÇÃO: Polissacarídeo capsular Vi de S. typhi (intracelular) e Linhagem viva e atenuada de S. typhi (Ty21a - oral): recomendada para indivíduos que viajam ou residem em regiões de alto risco, além de pessoas que trabalham em possível contato com o organismo (atua criando anticorpos da classe IgG e IgA) É uma doença notificável, devendo ser realizada uma investigação para determinar sua fonte Helicobacter pylori CARACTERÍSTICAS GERAIS . Bacilos gram-negativos curvos, espiral, microaerófilo, acidófilo, flagelar, associado exclusivamente a células da mucosa gástrica Todos os Helicobacter gástricos são altamente móveis (motilidade em zigue-zague) e possuem elevada produção de urease (enzima que converte a ureia em amônia), importante para a sobrevivência na acidez gástrica e para o movimento rápido através da camada viscosa de muco em direção ao ambiente de pH neutro Fatores de virulência: Lipopolissacarídeo (LPS): consiste em lipídio A, oligossacarídeo do núcleo e cadeia lateral → Lipídio A: baixa atividade de endotoxina quando comparado a outras bactérias gram-negativas → Cadeia lateral O: protege a bactéria do sistema imune As bactérias efetivamente móveis podem atravessar o muco gástrico e aderir às células epiteliais gástricas através de várias proteínas de adesão Agente causador da gastrite crônica, úlcera péptica e duodenal e está associada com o incremento do câncer e linfoma gástricos DIAGNÓSTICO: Realizado com a biopsia de tecido e a cultura do organismo
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