Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PSICOPATIA - Mentes Turbulentas 1) Defina e explique o que é Psicopatia. A psicopatia pode ser vista como uma miniteoria da violência. A algumas de suas manifestações podem ser influenciadas pela cultura, no marco da multicausalidade, parte do comportamento violento e antissocial. O estudo da psicopatia, tem antecedentes em épocas remotas. Aristóteles, fazia menção a essa classe especial de sujeito que, embora não seja necessariamente delinquente, se caracterizaria pela falta de escrúpulos. Para Kurt Schneider, embora nem todos os delinquentes sejam psicopatas, existem aqueles que iniciam uma carreira criminosa muito precocemente, na infância ou na adolescência, e seriam incorrigíveis. O psicopata não é um doente, mas um sujeito com personalidade anormal. Segundo Francis, em a Máscara de Sanidade (1941) – Hervey Cleckley – popularizou o diagnóstico de psicopata e define suas principais características: Carisma superficial e boa “inteligência”; Ausência de delírios e outros sinais de pensamento irracional; Ausência de manifestações psiconeuróticas; Desonestidade; Mentira e insinceridade; Falta de remorso ou culpa; Comportamento anti-social sem motivo adequado; Juízo pobre, dificuldade em aprender com a experiência; Egocentrismo patológico e incapacidade de amar; Pobreza generalizada em reações afetivas maiores; Déficit específico de insight; Irresponsabilidade generalizada em relações interpessoais; Comportamento fantasioso e desagradável sob o efeito de álcool (às vezes sem); Rara ocorrência de suicídio; Vida sexual superficial, trivial e fracamente integrada; Fracasso em seguir um projeto de vida. (Apud CLECKLEY, 1941/1988, p. 338- 339). A psicopatia tem, em seu núcleo, comportamentos transgressores que predominam em um período assente, ela foi conceitualizada como uma síndrome com impacto prejudicial nas relações interpessoais que atentam contra os fundamentos das normas estabelecidas para sua própria sobrevivência. É um construto psicopatológico de relevância clínica para a saúde mental e de grande aplicabilidade na área forense. Está fundamentalmente associada às condutas antissociais exibidas pelos sujeitos psicopatas. No entanto, não se deve realizar diagnósticos somente com base na antissocialidade. É preciso estar ciente de que a psicopatia se caracteriza por uma constelação de traços, que se conjugam para formar o transtorno, e um diagnóstico adequado requer que os escores dos sujeitos sejam elevados nos quatro fatores do PCL-R: Interpessoal - avalia a forma como o sujeito se relaciona com outras pessoas, começando pela infância. Afetivo – avalia a reação afetiva do indivíduo ante os diferentes acontecimentos em sua vida e a qualidade de sua vinculação com os demais. Estilo de vida –é necessária informação histórica que permita revisar o estilo de vida do sujeito desde a infância. Antissocial – capta a versatilidade criminal própria da psicopatia. A revisão dos antecedentes delituosos é imprescindível para a avaliação desse item. A psicopatia tem forte relação com a delinquência. Observa-se mais o uso de violência instrumental do que de violência reativa, que é mais própria dos transtornos da personalidade ou de sujeitos que delínquem, mas não têm um transtorno psicopático. Por fim, a avaliação permite reconhecer os fatores emocionais e interpessoais como o núcleo duro da psicopatia. Verifica-se, no psicopata, que sua violência é instrumental, exercida de maneira fria e premeditada, controlada e predatória. A agressão instrumental se apresenta quando o dano causado a um sujeito é secundário à conquista de outra meta externa. Já a violência ou agressão reativa implica uma conduta impulsiva, imediata e emocional em resposta a uma ameaça, um perigo ou um insulto que o sujeito percebeu como tal. Esses indivíduos podem exercer os dois tipos de violência. Os psicopatas possuem níveis de gravidade, dentre eles: leve, moderado e grave. São pessoas de todos os extratos sociais, homens, mulheres que estão infiltrados nos mais diversos contextos culturais e sociais. São desprovidos de culpa, remorso, sensibilidade e senso de responsabilidade ética, e podem praticar desde atos menos danosos, pequenos golpes ou roubos, até um perfil que utiliza métodos mais brutais e violentos, podendo cometer crimes hediondos de alta complexidade. Eles não sentem empatia e são indiferentes aos sentimentos e sofrimentos de outrem, não se sentem constrangidos ao mentir e não sentem nenhum remorso ao serem desmascarados. 2) Qual a diferença entre Psicopatia e Sociopatia. Psicopatas e sociopatas sofrem de Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS) e a principal diferença entre os dois está no modo como eles desenvolveram a doença. A psicopatia é considerada uma condição inata do indivíduo, ou seja, a pessoa já nasce psicopata, e alguns estudos sugerem que ela possa ser hereditária. No entanto, alguns ramos da psicologia consideram que o transtorno pode ser adquirido por meio de traumas, principalmente na infância. Por outro lado, a sociopatia é desenvolvida durante a vida, por meio da educação, relações sociais ou traumas. As pessoas que são detectadas com essa “disfunção”, se encontram frequentemente envolvidos em situações criminais, sobretudo os do tipo antissocial, normalmente pode está relacionado ao uso de drogas, havendo incessantes discussões sobre a capacidade volitiva dessas pessoas. As evidencias de traços é caracterizado pela a inflexibilidade de seu padrão e comprometimento do funcionamento do indivíduo na sociedade. 3) Faça uma análise dos casos citados no vídeo. CASO I O 1° caso foi o do estudante de medicina, Matheus Costa Meira, que entrou no cinema lotado e fuzilou a plateia, ficando conhecido como o atirador do shopping, onde ocasionou três mortes e quatro vítimas feridas. A análise do Psiquiatra Forense Guido Palomba, levou em consideração o relato contado pelo o estudante de medicina, em que ele confundiu a realidade virtual com a realidade verdadeira, pois não teve discernimento do porque estava fazendo aquela ação. O que nos deixou claro, ainda segundo Palomba, que se trata de um crime realizado por psicótico, que por razões de sua mente rompeu com a realidade. As características apresentadas foram: comportamentos e impulsos agressivos, destruição de coisas, se armava para a família e chegava a agredir os pais, desde a infância. Na simulação referente ao ocorrido no cinema, o filme que estava passando no momento da atrocidade realizada pelo o jovem, foi o mesmo em que ele teria assistido uma semana antes. Em que foi justamente a parte que falava de um esquizofrênico, em que se dizia que ele era capaz de dá um surto a qualquer momento, e chegar a agredir e atirar nas pessoas. Onde podemos ver os delírios psicóticos identificado por Guido Palomba, bem como alucinações, vultos, na folga da realidade. O estudante também se entretinha com jogos virtuais, com brigas, guerras, com demonstrações de agressividade e violência, procurando assim reproduzi-los no mundo real. Apesar da gravidade dos atos praticados por Matheus Costa, o psiquiatra Forense deixa claro que ele não tem noção da gravidade que ele fez. Por isso, Guido corrobora dizendo: “Se não houver uma ruptura com a realidade, o crime se torna incompreensível.” Podemos destacar que apesar da sua consciência de ter surtos psicóticos, ele se considera uma pessoa normal, e diz que talvez tenha apenas um transtorno de personalidade. Estando ainda com uma certa indiferença quando relata que foi vítima do destino, sendo uma pena não poder concluir o seu curso de medicina, no qual já estava no 6° período. No depoimento além do egocentrismo em pensar em que poderia concluir o curso e não nas pessoas, ele não expressa nenhuma forma de alegria, prazer, compaixão,tristeza e nem arrependimento, também não expressa remorso. Apesar do filme exposto retratar a história de um esquizofrênico, ele diz não se ver um. Mas, que o caso dele pode ser de algum transtorno de personalidade. Podemos desta forma identificar esse transtorno de personalidade, como um transtorno delirante, do tipo esquisotípica, em que há presença de um delírio ou mais com duração de um mês ou mais. Um subtipo é o misto, apontado quando o estudante de medicina diz que ao atirar não enxergou corpos, apenas o cheiro da pólvora e de sangue. Dizendo ainda que tinha algo dizendo que aquilo não era normal, e um impulso por outro lado mandava ele atirar. Ele também apresenta traços vindo da infância de obsessivo-compulsivo como perseverança-mecânica em atos e impulsos. Ainda assim, o que predomina é a esquizotípica caracterizada pelo psicoticismo, que é a desregulação cognitiva e perceptiva, crenças e experiências incomuns, extremidades e o distanciamento. Apesar de ser classificado como psicose, percebemos traços em sua personalidade de psicopatia, sendo evidenciado a frieza, o distanciamento, o egoísmo, a racionalidade, e nenhum tipo se sentimento expressado por ele, nem de dor, nem de tristeza, tendo o foco dos pensamento voltado somente para ele, considerando o fato como se fosse vítima do destino, retirando qualquer forma de culpa. CASO II No caso 2, foi entrevistado o Motoboy Francisco de Assis Pereira (Maníaco do Parque), em que ele matou e estuprou ao menos 10 mulheres, e ainda tentou assassinar outras 9. Classificado pelo psicopata forense como um psicopata verdadeiro, sendo o caso de assassino em série mais famoso do País. Sua história começou quando se identificava como um caça talentos de uma revista de moda. Contudo, estuprava e matava as vítimas, tinha prazer na dor, não no sexo. E o pior é que ele matava devagar porque tinha prazer em ver a dor em que elas estavam sentindo. Diagnosticado assim como um psicopata, visto que se excitava não no sexo, mas em ver as mulheres sofrendo, retardando a sua morte, matando elas aos poucos. Pontos principais a serem observados em que se manifestava nesse psicopata, conhecido como maníaco do parque: Ausência de sentimento: Para ele, era algo que lhe trazia prazer na dor dos outros, não expressando nenhum tipo de culpa, ou arrependimento, nem muito menos remorso. Compaixão: Para ele, o que importava era satisfazer o seu desejo, não se importando com as vítimas, não tendo elas como um ser humano, assim como ele. Capacidade nenhuma de empatia: Identificamos aqui o orgulho por praticar os crimes, e um egocentrismo muito grande, sem pensar em nenhum momento nas mulheres as quais violentou. CASO III Referente ao caso 3, em que o professor de educação física, Jorge Beltrão Negro monte da Silveira, também conhecido como Canibal de Garanhuns, assassinou 3 mulheres, Jessica, Gisele e Alexandra, com a ajuda de duas assistentes. Onde fizeram parte de um ritual em que se alimentavam das suas carnes das vítimas, e ainda usavam para rechear as coxinhas vendidas a população, e Jorge disse em sua entrevista que fez tudo isso a mando de uma voz. Analisado por Palomba, tem-se esse criminoso as seguintes características: Violento Manipulador (conseguiu dominar as mulheres) Inteligente (planejaram suas ações) Obs. Guido Palomba acrescenta que ele se mostra orgulho pelo o que fez. Analisando o caso, ele apresenta um perfil de psicopata extremamente manipulador, em que juntamente com duas mulheres em um ritual satânico matou as mulheres no quintal de sua casa, de forma cruel e desumana. Podemos perceber esse distúrbio mental grave antissocial e amoral, sendo egocêntrico ao extremo, bem como apontou Guido Palomba. Na entrevista, visto sua característica de manipulador, e muito inteligente diz não lembrar do ocorrido, e só vem sua mente em forma de flashes. A crueldade e a frieza ao executar o crime demonstrada através do orgulho em ter praticado deixa evidente caracterização de um psicopata. Outras forma de se manifestar esse desprezo pelo o outro, e crueldade em seus atos, foi ter matado a mãe da criança, e depois registrar ela como sua filha, e permitir que a criança presenciasse os rituais que fazia em sua casa. Na manipulação também é claramente exposta na medida em que ele fez uma carta para uma das assistentes, para que ela retirasse toda a culpa dele no depoimento, assumindo a culpa justamente com a outra. Características gerais: Crueldade e frieza; Egoísmo e manipulação: apatia e desprezo; Planejamento e inteligência; Orgulho e egoísmo. 4) Qual o destino do Psicopata? De acordo a Doutrina Brasileira o Psicopata é considerado imputável, semi-imputável ou inimputável? (Cite pelo menos 2 doutrinadores) Conforme Guilherme Nucci, são critérios para apurar a inimputabilidade penal: Higidez biopsíquica (saúde mental + capacidade de apreciar a criminalidade do fato); maturidade (desenvolvimento físico-mental que permite ao ser humano estabelecer relações sociais bem adaptadas, e optou-se pelo critério cronológico, isto é, ter mais de 18 anos). Esclarece que o doente mental deve ser analisado, se abrangendo doenças de caráter patológico ou de origem toxicológica. Deve se compreender os seguintes aspectos: Um biológico, referente à doença em si; e um psicológico, relacionado à capacidade de entender ou de autodeterminar-se de acordo com esse entendimento, ele conclui que compete ao magistrado avaliar o caso concreto ao proferir decisão sobre a imputabilidade do psicopata. Para Fernando Capez, se aplicará as medidas de segurança, quando o agente for portador de doença mental. Sendo na inimputabilidade, a periculosidade é presumida por um laudo e a MS será obrigatória. Se for o caso de semi-imputabilidade, será constatada pelo juiz. Havendo duas espécies de Medidas de segurança, que seriam: Detentiva: Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico (CP, art. 97). Restritiva: sujeição a tratamento ambulatorial (CP, art. 97) Para Michele Oliveira de Abreu, no caso da psicopatia, defende que o psicopata tem plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato, bem como, de determinar-se de acordo com esse entendimento, e as regras gerais previstas pelo Código Penal brasileiro permitiriam analisar a responsabilidade penal desses indivíduos, ou seja, sua imputabilidade. Ambos os autores/doutrinadores relatam sobre a omissão no Código Penal Brasileiro sobre o tema da psicopatia, há vários fatores consideráveis sobre o tema, inclusive decisões sobre a semi-imputabilidade, onde seria possível a aplicação de Medida de Segurança, sendo a psicopatia vista como uma perturbação de saúde mental e não como doença mental, esse foi o teor de uma decisão do Superior Tribunal de Justiça, Habeas-corpus nº 186149, Relator: Min. Jorge Mussi, 2011. Essa é na doutrina e jurisprudência a corrente mais aplicada, que considera a psicopatia como causa semi- imputável. REFERÊNCIAS ABDALLA-FILHO, Elias. Psiquiatria forense de Taborda. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. ABREU, Michele Oliveira de. Da imputabilidade do psicopata. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013. ALMEIDA, Francis. Máscaras da Insanidade: Emergências e ressurgências do conceito de psicopatia na psiquiatria contemporânea. 2017, nov. Disponível em: <http://www.polbr.med.br/ano07/wal1207.php-apud/>. Acesso em: 17 mai. 2020. BRASIL, Superior Tribunal de Justiça, Habeas-corpus nº 186149, Relator: Min. Jorge Mussi, 2011. CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal, volume 1°, parte geral. – 22. Ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais - 3. Edição: Artmed, 2019. DIFERENÇA. Psicopata e sociopata. Disponível em: <https://www.diferenca.com/psicopata-e-sociopata/>.Acesso em: 18 mai. 2020. DSM-5, Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - 5. Edição: Artmed, 2014. MIRANDA, Alex Barbosa Sobreira de. Psicopatia: Conceito, Avaliação e Perspectivas de Tratamento. 2012, jul. Disponível em: <https://psicologado.com.br/atuacao/psicologia-juridica/psicopatia-conceito-avaliacao- e-perspectivas-de-tratamento>. Acesso em 17 Mai 2020. NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 17. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
Compartilhar