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Sara Carlos Farias Hábitos bucais deletérios na clínica infantil Habito é o costume ou a pratica adquirida pela repetição frequente de um mesmo ato, que a princípio faz-se de forma consciente e, posteriormente, de modo inconsciente. Os hábitos bucais deletérios estão muito ligado as etiologias das más oclusões.. Hábitos bucais normais: Quando não existe nenhum padrão de anormalidade, seguem normalmente na vida do indivíduo sem causar nenhum prejuízo a eles, sendo, inclusive fundamentais para a vida dos mesmos. ✓ São eles: Sucção nutritiva; Mastigação e deglutição; Respiração. Hábitos bucais deletérios: Quando esses hábitos se tornam inadequados, deletérios ou viciosos tendem a alterar tecidos musculares, dentários e ósseos; o padrão de crescimento craniofacial e a oclusão. ✓ Como os hábitos bucais deletérios alterariam tudo isso? Determinando forças musculares desequilibradas que, durante o crescimento, distorcem a forma da arcada dentária e alteram a morfologia normal, sendo, portanto, um dos fatores etiológicos das mal oclusões.. Hábitos bucais deletérios apresentam impacto na qualidade de vida e felicidade em fase escolar. ✓ Podemos dividir os hábitos bucais deletérios em: Sucção não nutritiva; Hábitos de morder; Hábitos parafuncionais Hábitos bucais nutritivos e não nutritivos: Sucção não nutritiva: Quando é uma sucção nutritiva, através do aleitamento natural/artificial, tudo é tranquilo. Mas, quando temos hábitos de sucção não nutritivos, como chupetas e sucção de dedos, temos um problema, pois são hábitos deletérios (isso por muito tempo). Hábitos de sucção fazem parte da fase de desenvolvimento normal da criança, que é a fase oral onde a sua maior percepção está na boca. Portanto, se aceita como normal, o uso de mamadeiras, chupetas e sucção de dedos. Sara Carlos Farias Porém, quando isso se alastra por um tempo maior (orientar os pais a não deixar passar de 2 anos de idade), o ato de sucção anormal pode estar relacionado com o estado emocional da criança, normalmente ela o executa em momento de ansiedade. Então, é importante chamar a atenção dos pais para isso. ✓ Esses hábitos vão desencadear alterações na mordida, como mordida aberta e mordida cruzada. Isso ocorre pois a chupeta ou o dedo interpõe-se entre os dentes anteriores, funcionando como uma alavanca, pressionando os incisivos inferiores para lingual e os incisivos superiores para vestibular. Além de uma deformidade no arco como todo, com maiores chances de atrésia maxilar. Porém, nem todos os pacientes que praticam a sucção digital apresentam arcos deformados e dentes em má oclusão. Depende da intensidade, da duração, da posição dos dedos, das contrações musculares orofaciais associadas, da posição da mandíbula durante a sucção, da morfologia esquelética facial. Ou seja, os fatores hereditários também devem ser levados em consideração. ✓ Critério de diagnostico – habito de sucção de dedo e chupeta: Observamos forma circular restrita a região anterior, nem sempre de forma simétrica. Depende da posição que a criança chupa o dedo ou a chupeta. ✓ Consequências da sucção não nutritiva: Mordida aberta anterior; mordida cruzada posterior; prostração dos dentes superiores; retrusão mandibular; incisivos inferiores lingualizados; palato ogival; assoalho nasal estreito. Podendo ter só uma, ou mais, características, dependendo de inúmeros fatores. Por isso, existem casos semelhantes com situações clínicas diferentes (não é receita de bolo, é o que pode acontecer). Então, para diagnosticar: precisamos ver a história clínica do paciente, fazer exames ortodônticos e avaliar clinicamente. Depende dos fatores da tríade de Graber: intensidade; duração e padrão facial. ✓ Importante: Quando o habito bucal deletério é interrompido até 3 anos de idade, há chance de ocorrer a autocorreção de possíveis desarmonias oclusais. Hábitos de morder: Onicofagia (roer unhas) e morder objetos: a interrupção do habito deve ser pactuado com a criança e responsáveis, não é fácil. Existem aspectos psicológicos associados (ansiedade), às vezes perdura pela vida toda. Bruxismo: avaliação feita pela odontopediatra sobre qual intervenção deve ser feita e em que momento. Esse tema ainda é muito pesquisado (etiologia e tratamento). É uma desordem funcional que se caracteriza pelo ranger ou apertar os dentes durante o sono ou em vigília. Associado também, na maioria das vezes, ao psicológico. Atentar a troca e esfoliação dos dentes. Hábitos bucais parafuncionais: Respiração bucal; Interposição de língua; Sara Carlos Farias Deglutição atípica. Importante lembrar que todos esses hábitos citados podem vir juntos. Respirador bucal: é uma condição decorrente da deficiência na respiração nasal por obstrução ou mesmo por hábito. Respirador bucal possui um obstáculo mecânico que o impede de respirar predominante pelo nariz. Exemplo: hipertrofia de adenoide, desvio de septo, etc. O encaminhamento para o otorrino é imprescindível antes de qualquer conduta ortodôntica. Respirador bucal por habito não respira corretamente pelo nariz mesmo depois de eliminado o fato causal – mania. O paciente deve ser encaminhado para o fonoaudiólogo após o tratamento ortodôntico. Pois, geralmente, já existe uma alteração no arco, então, não adianta o fonoaudiólogo trabalhar a musculatura com uma forma inadequada (o tratamento pode ocorrer em conjunto). ✓ Em um paciente respirado bucal, podemos observar: Maior pressão intrabucal, aprofundamento do palato e estreitamento dos seios maxilares; estreitamento do maxilar superior com consequente mordida cruzada, quase sempre posterior bilateral; atrésia maxilar. ✓ Características comportamentais do paciente respirador bucal: Crianças ansiosas, inquietas, impulsivas, que acordam casadas (devido a dificuldade respiratória e a noite mal dormida), dificuldade de concentração. 83% dos portadores de mordida aberta, tem habito de sucção de dedo e chupeta, que também são respiradores bucais. Nestas circunstancias o diagnostico requer a intervenção do otorrinolaringologista. ✓ Alterações morfológicas decorrentes da respiração bucal: Incompetência da musculatura labial e peribucal; boca constantemente aberta; constante erupção dos dentes posteriores; aumento da altura facial inferior; lábio superior curto e inferior evertido; olheiras. Interposição de língua: Pode ser primária e secundária ✓ Pressionamento lingual atípico primário: Quando é o causador da mordida aberta. Nesses casos, é imprescindível o acompanhamento com a fonoaudióloga. Características clinicas: apresenta um formato mais retangular, e mais difusa. A língua deixa de ser consequência e passa a ser causa. ✓ Pressionamento lingual atípico secundário ou interposição lingual: Interposição da língua entre incisivos, durante a deglutição, fonação, e posição natural de repouso. É uma consequência da mordida aberta anterior. Nesse caso, o tratamento ortodôntico deve ser priorizado e, depois, o fonoaudiólogo entra. Características clinicas: os lábios superiores apresentam-se hipotônicos, enquanto a língua e os lábios inferiores apresentam-se hipertônicos. Muitas vezes está associado a sucção labial, devido a interposição labial entre os incisivos (vestibulaliração dos incisivos superiores). Sara Carlos Farias Placa lábio ativa – tirar o lábio de baixo dos incisivos Interposição de língua e deglutição atípica: A interposição lingual, pode decorrer também de hipertrofia das amigdalas. Gerando uma alteração postural da língua da mandíbula para uma posição mais anterior. E o contato da porção posterior da língua com as amigdalas aumentadas provoca uma sensação de dor. Isso acaba causando uma mordida aberta. Precisa prioritariamente encaminha ao otorrino. Em seguida, coloca o aparelho ortodôntico, e encaminha ao fonoaudiólogo. Esses hábitosresultam em mordida aberta ou mordida cruzada. Mordida aberta: Pode ser esquelética ou dentária, onde a esquelética é mais difícil de tratar. Etiologia: fatores genéticos e/ou ambientais (hábitos bucais deletérios). Mordida aberta anterior: deficiência no contato vertical normal das bordas incisais dos incisivos superiores e inferiores. ✓ Diagnostico: Os dentes superiores vão sofrer uma pressão no sentido vestibular. Então, tanto vai formar diastemas, quanto os dentes vão se vestibularizar. Os incisivos inferiores se inclinam para lingual e apical, favorecendo o aumento do overjet. Com isso, o posicionamento do dedo no palato, acaba aprofundando o palato e os dentes posteriores vão ficando em mordida cruzada. ✓ Tratamento multidisciplinar: Até 5 anos: Primeiro faz eliminação espontânea e gradativa do hábito, podendo haver reversão espontânea das alterações oclusais. Podendo ter um auxílio de um psicólogo. Após 5 anos de idade – Abandonou o hábito: Fechou a mordida: Se não tiver interposição lingual, o tratamento estar finalizado. Caso tenha: encaminhamento para o fonaudiologo. Não fechou a mordida: tratamento ortodôntico. Após 5 anos de idade – Não abandonou o hábito: Tratamento ortodôntico. Tratamento ortodôntico acima de 5 anos: usamos a grade palatina, que irá impedir o habito de sucção e serve de barreira mecânica para a língua. Nesse caso, impedimos o habito e solucionamos a mordida aberta. Pode ser grade palatina fixa ou móvel. A vantagem da grade palatina fixa é que não precisamos contar com a colaboração do paciente. E a da móvel é a facilidade de higienização. Tratamento em dentadura mista: Devido à persistência dos fatores etiológicos, aumento o comprometimento do componente esquelético. Tratamento: grade palatina e acessórios que venham atuar na correção de má oclusão. Resposta mais demorada ao tratamento. Ao fim do tratamento: Sara Carlos Farias Considero corrigido se o overbite tiver de 1 a 2mm (decídua) e 2 a 3 mm (mista). Verificar se o paciente apresenta algum pressionamento lingual atípico (placa de contenção – guia para língua – encaminhar para fonoaudiólogo) Se o paciente pronunciar fonemas t, d, n, l, s, e z + observação da língua no ato de deglutir – auxilia na percepção de necessidade de encaminhamento ao fonoaudiólogo. Paciente com mordida aberta, pode também ter mordida cruzada e/ou atrésia maxilar, e é importante que sua correção seja feita junto a retirada do habito. Então, precisamos planejar o paciente como todo (resolver tudo de uma vez).. Exemplo: Mordida aberta associada às mal oclusões de classe II: Grade + aparelho arco extra bucal Confecção de grade palatina: Anel separador – Escolha e adaptação das bandas – Moldagem de transferência – tranderencia e fixação das bandas e vazamento da moldagem – moldagem inderior também é feita – manda ao laboratório – grade confeccionada – checamos adaptação em boca – cimentação com CIV – acompanhamento. Considerações finais: O tratamento da mordida aberta deve ser o mais precoce possível. Qyanto mais cedo for realizado, mais rápido simples e estável serão os resultados. A intervenção do fonoaudiólogo e do otorrino, muitas vezes torna-se imprescindível no tratamento da mordida aberta, mesmo que numa fase mais precoce.
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