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Relações-Étnico-Raciais-e-Afrodescendências-APOSTILA

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Complementação Pedagógica 
 
Coordenação Pedagógica – IBRA 
 
 
 
DISCIPLINA 
 
 
 
Relações Étnico Raciais e 
Afrodescendências 
 
ca
 
 02 
 
 
 
1. A África 4 
 
2. História da África Antes da Chegada do Europeu 9 
 
3. Como os Africanos Lidavam 
com o Passado: Oralidade, Mitos, Ritos 16 
 
4. A África Sob o Imperialismo 
Colonialista no Séc. XIX 25 
Colonização Francesa 26 
Colonização Inglesa 27 
Colonização Alemã 28 
Colonização Italiana 28 
O Congo Belga 28 
Espanha e Portugal 28 
Sobre a África do Sul 28 
 
5. Os Processos de Descolonização 
e de Independência da África no Séc. Xx 32 
 
6. Referências Bibliográficas 37 
 
 
 03 
 
 
 
 
 
 4 
APOSTILA A ÁFRICA 
1. A África 
 
 
Fonte: Província Santo Antônio1 
 
e acordo com Richter (s/d, s/p) 
o continente africano é ampla-
mente conhecido pelas suas belezas 
naturais, principalmente quando se 
refere à grandiosa vida selvagem. 
Porém, o que encontramos de imen-
so neste continente é uma enorme 
diversidade física e socioeconômica, 
pois existe neste espaço desde exten-
sos vales férteis, aonde a vida parece 
não ter fim, até desertos gigantes, 
como é o caso do Saara, o maior do 
 
1 Retirado em https://www.ofm.org.br/ 
mundo. O contraste da pobreza e 
riqueza também é muito visível por 
toda sua extensão continental, sen-
do caracterizado principalmente pe-
las péssimas condições de vida em 
muitos países. (...) Em consequência 
a esta diversidade, não é tarefa fácil 
dividir a África por regiões devido a 
sua heterogeneidade ao longo do 
continente. Porém, podem-se defi-
nir duas formas básicas de classifi-
cação regional: as questões físicas 
D 
 
 
5 
APOSTILA A ÁFRICA 
localização geográfica e questões 
humanas cultura/ocupação. (RICH-
TER, s/d, s/p) 
Ainda conforme Richter (s/d, 
s/p), ao visualizar um mapa da Áfri-
ca, pode-se ver que dividir o mesmo 
por regiões a partir da sua loca-
lização espacial nos sentidos Norte, 
Sul, Leste e Oeste, é bem possível. 
Dessa forma, classifica-se o conti-
nente em cinco regiões distintas 
quanto a sua posição geográfica: 
Norte da África, Oeste da África, 
África Central, Leste da África e Sul 
da África. 
Norte da África: como o próprio 
nome já diz, é a área situada ao norte 
do continente e que vem a ser ba-
nhado pelo Mar Mediterrâneo, em 
sua maioria, fazendo parte desta re-
gião cinco países. Também não se 
pode esquecer que ao sul desta re-
gião se encontra o deserto do Saara. 
Oeste da África: é uma região 
muito confusa do ponto de vista po-
lítico. São quinze nações que divi-
dem um espaço caracterizado por 
áreas desérticas (Saara, ao norte) e 
florestas tropicais. Em sua economia 
local, a exploração de petróleo des-
taca-se com uma atividade bem 
atraente para os países. 
África Central: caracterizada pe-
los inúmeros conflitos da década de 
90 que marcaram profundamente a 
região, a África Central ficou conhe-
cida no mundo pelos conflitos no 
Zaire que o transformaram em Re-
pública Democrática do Congo. Oito 
países fazem parte desta região, 
destacada por grandes florestas tro-
picais em razão de estar na latitude 
zero do globo. 
Leste da África: também conheci-
da como “Chifre da África”, por sua 
forma física do extremo leste africa-
no, é uma área bem diversificada por 
ter países bem estruturados e urba-
nizados, como é o caso do Quênia, e 
em contraponto a isto, existe à So-
mália e Etiópia, nações mergulhadas 
em problemas gerados pelas suas 
guerras civis. Nesta região encon-
tram-se dez países bem distintos, 
tanto nos aspectos físicos como hu-
manos. É na divisa entre Uganda, 
Tanzânia e Quênia que existe o lago 
Vitória, que é considerado a nas-
cente do rio Nilo. 
Sul da África: o extremo sul africa-
no é representado pelas diferenças 
existente ente os onze países no 
campo socioeconômico, principal-
mente, pois o contraste entre a Áfri-
ca do Sul, nação bem desenvolvida, 
se comparada aos outros países afri-
canos, em relação aos demais é visi-
velmente percebido. Este país exerce 
um poder centralizador nesta re-
gião, onde a economia é seu ponto 
forte. Observa-se também uma di-
versidade natural neste espaço, em 
razão de possuir grandes vales fér-
teis e vastos desertos como o Kala-
 
 
6 
APOSTILA A ÁFRICA 
hari, sendo no delta do Okavan-
go(Botsuana) acontece uma das 
maiores e mais impressionantes mi-
grações do mundo, a dos nus. 
(RICHTER, s/d, s/p) 
Nesse âmbito, segundo Rich-
ter (s/d, s/p) analisar a África desta-
cando suas características culturais 
promove uma divisão bem diferente 
da anterior. Ao observar o continen-
te africano pela sua ocupação ao lon-
go dos anos, classifica-se a África em 
duas regiões: África “branca” (cultu-
ra árabe) e África “negra” (culturas 
locais). 
Isto é possível em virtude da 
influência que a região norte da Áfri-
ca(árabe) sofreu da ocupação dos 
povos do Oriente Médio(Ásia) du-
rante os tempos, tendo como resul-
tado um espaço totalmente adverso 
da África “negra”, sendo esta última 
caracterizada pelas culturas regio-
nais provindas de milenares tribos 
africanas. Também é possível desta-
car a própria cor da pele dos africa-
nos nessas duas regiões: os descen-
dentes de árabes possuem uma tez 
clara, em grande parte, enquanto 
que os africanos relacionados com 
as culturas tribais já têm uma cor 
mais negra. 
Sendo assim, a África vem a 
ser o resultado de anos de ocupação 
e influência das mais diversas cultu-
ras do mundo que remodelaram e 
transformaram seu continente num 
espaço diversificado e muitas vezes 
carente de recursos econômicos, por 
outro lado, suas belezas naturais são 
únicas e, por enquanto, estão per-
manentes em todo seu território. 
(RICHTER, s/das/p) 
Divisão Física(localização) da 
África: 
 
 
 
Norte da África 
Argélia, Egito, Líbia, Marrocos, Saara Ocidental e Tunísia. 
Oeste da África Benin, Burkina Faso, Cabo Verde, Gâmbia, Gana, Guiné, 
Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Mauritânia, Níger, Nigéria, 
Senegal, Serra Leoa e Togo. 
África Central Camarões, Congo, Gabão, Guiné Equatorial, República 
Centro-Africana, República Democrática do Congo, São 
Tomé e Príncipe e Chade. 
Leste da África Burundi, Djibuti, Eritréia, Etiópia, Quênia, Ruanda, Somália, 
Sudão, Tanzânia e Uganda. 
Sul da África África do Sul, Angola, Botsuana, Lesoto, Madagascar, 
Malauí, Moçambique, Namíbia, Suazilândia, Zâmbia e 
Zimbábue. 
Fonte: RICHTER, Denis. (S/d, s/p) 
 
 
7 
APOSTILA A ÁFRICA 
Divisão Sócio econômica da África: 
 
África “branca” Argélia, Djibuti, Egito, Eritréia, Etiópia, Líbia, Mali, Marrocos, 
Mauritânia, Níger, Saara Ocidental, Somália, Sudão e Tunísia. 
África “negra” Benin, Burkina Faso, Cabo Verde, Gâmbia, Gana, Guiné, 
Guiné-Bissau, Libéria, Nigéria, Senegal, Serra Leoa, Togo, 
Camarões, Congo, Gabão, Guiné Equatorial, República 
Centro-Africana, República Democrática do Congo, São Tomé 
e Príncipe, Chade, Burundi, Quênia, Ruanda, Tanzânia, 
Uganda, África do Sul, Angola, Botsuana, Lesoto, Madagascar, 
Malauí, Moçambique, Namíbia, Suazilândia, Zâmbia e 
Zimbábue. 
Fonte: RICHTER, Denis. (S/das/p) 
 
 
Fonte: Web Busca/África 
 
 
 8
 
 
 
 
 
 9 
APOSTILA A ÁFRICA 
2. História da África Antes da Chegada do Europeu 
 
 
Fonte: Comunicado2 
 
e acordo com Barbosa (2007, 
p.1) uma primeira observação 
necessária a esta história é a com-
preensão da sua amplitude. Falar 
em História da África é falar sobre a 
história humana. Afinal, foi lá que 
surgiu o homo sapiens, cerca de 160 
mil anos atrás. (...) A importância do 
continente no Mundo Antigo é hoje 
inegável. Sobretudo a partir da 
ascendência civilizatória milenar do 
Egito Faraônico sob as civilizações 
que beiravam o Mediterrâneo: per-
sas, assírias, hititas, cretenses, helê-
nica, hebraica e outras. Assim como 
influenciou interiormentea África, 
desde o Alto Nilo e abaixo, entre os 
núbios e cuxitas, na época do Impé-
rio de Kusch (aproximadamente 100 
0-0a.C.). (BARBOSA, 2007, p.1) 
 
2 Retirado em https://ceert.org.br/ 
Continuando, Barbosa (2007, 
p.1) aponta que se trata de uma his-
tória de sete mil anos, que formou a 
base sócio cultural da maioria das 
civilizações humanas na antiguida-
de. Algo que foi consolidado com a 
formação da cultura helenística e a 
construção da célebre Biblioteca de 
Alexandria, após as conquistas de 
Alexandre, o Grande(356-323a.C.). 
É difícil resumir a amplitude daque-
le fenômeno histórico. Ele se refere, 
primordialmente, a influência que a 
cultura egípcia teve para a expansão 
das artes, das ciências empíricas 
(matemática, geometria, biologia, 
astronomia, etc.), da filosofia da na-
tureza e do pensamento religioso 
(Diop,1983). Em língua portuguesa, 
D 
 
 10 
APOSTILA A ÁFRICA 
o leitor encontrará uma introdução a 
esta vasta história no segundo volu-
me da grandiosa obra Historia Geral 
da África, escrito sob a coordenação 
da UNESCO. 
Após quatro mil anos de histó-
ria, a civilização egípcia entrou em 
processo de decadência que iria cul-
minar com as invasões do último 
milênio a.C. É uma queda que enfra-
queceu também os seus vizinhos 
africanos, núbios e cuxitas. Na vira-
da do último milênio para nossa Era, 
a África assiste a outro fenômeno 
relevante em sua história: as migra-
ções populacionais para a África 
Austral subsaariana. Salvo melhor 
juízo, foram estas migrações que 
trouxeram a manipulação do ferro e 
do bronze para esta vasta região ao 
Sul da África. Um saber essencial 
para a criação de instrumentos agrí-
colas mais desenvolvidos, além de 
armas mais letais. O historiador Jo-
seph Ki-Zerbo traz esta hipótese no 
seu conhecido livro História da Áfri-
ca Negra (1979). 
Talvez por esta razão, em di-
versos mitos de origem dos povos da 
África Austral e Ocidental se observa 
a referência ao grande ancestral co-
mum, geralmente conhecedor do 
poder da metalurgia: guerreiro ou 
agricultor. Na mesma época vê-se 
também a ocupação da ilha de Ma-
dagascar. Esta ocupação, todavia, 
não foi realizada primeiramente pe-
los africanos, mas pelos aborígines 
indonésios, na virada do último mi-
lênio. Posteriormente, ela foi tam-
bém ocupada por povos nativos afri-
canos, formando uma cultura e po-
pulação hibrida. Uma visão introdu-
tória a esta história singular se en-
contra em Pierre Bertaux: África: 
desde la pre história hasta los esta-
dos actuales (1972). (BARBOSA, 
2007, p.2) 
Outro fato coloca Barbosa (20 
07, p. 2) que vem sendo recuperado 
em relação à África é a história da 
civilização de Axum, entre os séculos 
I e V(d.C.). 
 
 
Fonte: 
https://mundoeducacao.bol.uol.com.
br/ 
 
Tal civilização era localizada 
no Nordeste da África, atual Etiópia 
(leste e norte), Somália, Sudão e Eri-
tréia; fazia divisa com o Mar Verme-
lho. O surgimento de Axum esteve 
historicamente ligado a sua locali- 
 
 11 
APOSTILA A ÁFRICA 
zação privilegiada, próxima aos 
antigos núcleos urbanos cu-xumitas, 
egípcios e árabes. Devido às trocas 
culturais que tal proximidade propi-
ciava, a formação étnica e cultural 
dos auxumitas tinha um caráter hí-
brido. Sua população era majorita-
riamente negroide. Sua cultura, en-
tretanto, tinha características semi-
tas, embora transformados. Sabe-se 
da presença de tradições como a 
circuncisão e a excisão infantil, além 
do relativo respeito ao Sabá e a 
presença de cantos de origem 
judaica (MUNANGA, ETAL). 
Durante os séculos III à V, a 
civilização de Axum adquiriu caráter 
imperial, impondo submissão aos 
reinos vizinhos da região Noroeste 
da África (em particular, Meroé, an-
tiga capital de Kush) e da Arábia 
meridional. Essa expansão de Axum 
permitiu-lhe assumir o controle de 
vastas terras cultivadas, até o Mar 
Vermelho. Por este poder ocupou 
posição intermediária no comércio 
marítimo do Indico, entre os Impé-
rios do Oriente (Chineses, Mongóis 
e Hindus) e o Império Romano, en-
tão em decadência (Munanga, et al, 
apud Barbosa, 2007, p. 2). Da Ilha 
de Moçambique até a costa Indiana, 
estendendo-se ao longo do Indico, 
havia um circuito de centenas de ci-
dades que em diferentes fases res-
pondiam por grande absorção de 
trocas com as sociedades africanas. 
A partir do século V, quando 
passa por crise social, a civilização 
auxumita foi reapropriada pelo Rei-
no Etíope. Todavia, sua caracterís-
tica hibrida tradicional foi abando-
nada com a adoção do cristianismo, 
que havia chegado à região por volta 
do século IV. Após a decadência de 
Axum, a história da África, em es-
pecial, do Norte e Nordeste, esteve 
diretamente ligada à rápida expan-
são islâmica no continente, a partir 
do final do século VII. 
A velocidade desta expansão 
islâmica na África é marcante. Ema 
penas cinquenta anos os muçulma-
nos (originários ou convertidos) 
haviam dominado todo o Norte da 
África, de Alexandria até Cartago. 
Entretanto, devido às guerras inter-
nas pelo controle do legado de Mao-
mé, os islâmicos não mantiveram a 
unidade original. Na África, ao Nor-
te, três Impérios foram resultado 
deste conflito inter-islâmico: Fatí-
mida(X), Almorávidas(XII) d Al-
moádas (XIII). Uma caracterização 
destes pode ser encontrada em Bre-
ve história da África, de Roland Oli-
vere J.D.Fage. A importância destes 
Impérios muçulmanos não está ape-
nas em sua centralidade na região 
subsaariana e egípcia, mas também 
por sua relevância na área subsaa-
riana. Em particular, nos Reinos e 
Impérios africanos da África Suda- 
 
 12 
APOSTILA A ÁFRICA 
nessa (Noroeste), a partir do século 
X, como Gana, Mali, Songai, K 
anem-Bornu, Iorubás e Hauçás. Na 
África, pois, a consolidação do 
mundo muçulmano favoreceu a con-
solidação de Estados e Reinos su-
dânicos durante a época medieval. 
Seu papel era primordialmente mer-
cantil. (BARBOSA,2007, p. 3) 
Ainda de acordo com Barbosa 
(2007, p.3) tal influência se explica, 
em grande parte, pelo aumento da 
escala do mercado internacional via 
terrestre ou marítima (Oceano Indi-
co e Pacífico), entre os séculos X e 
XIV. Era um comércio em que os 
europeus tinham papel secundário, 
diante da expansão dos Impérios 
muçulmano, chinês e mongol. 
É impossível resumir a riqueza 
da história desses Reinos e Impérios 
africanos desta época em poucas 
linhas. Geralmente formados antes 
da chegada dos muçulmanos à re-
gião, suas riquezas estavam associa-
das ao comércio com estes, baseado 
no fornecimento do marfim, cativos 
e, sobretudo, ouro. É pelo controle 
dessas rotas do ouro na região sub-
saariana, que muitos destes Reinos e 
Impérios foram construídos e des-
truídos no período de domínio um-
çulmano, entre os séculos X e XV. 
Além do comércio, tais socie-
dades viviam da pesca (sobretudo 
songaís), agricultura e produção 
artística. Em especial, os hauçás e 
iorubás, que eram hábeis artesões e 
tintureiros. Uma arte apreciada no 
Golfo de Benim, na África Ocidental. 
A vida urbana estava geralmente as-
sociada à capital dos Reinos, com a 
morada dos soberanos, a adminis-
tração e uma praça pública para o 
comercio. Com exceção dos hauçás, 
os camponeses ficavam fora dos 
núcleos urbanos. 
Eram civilizações que pos-
suíam culturas próprias e estruturas 
distintas, com ascendência religiosa 
diferenciada. Possuíam um vasto 
panteão de divindades relacionadas 
às forças da natureza e aos antigos 
fundadores do Reino. Os iorubás, 
em particular, tinham um complexo 
e sofisticado sistema cultural, basea-
do na hierarquia e nas influências 
recíprocas de suas principais cida-
des: Ifé, Benin e Oio. O livro citado 
de Joseph Ki-Zerbo (1979) é impor-
tante fonte de informação sobre a 
África Sudanesa à época. 
Além desses Impérios eReinos 
sudaneses, durante a época me-
dieval a África viu o surgimento de 
duas civilizações relevantes na Áfri-
ca Central: Império de Monomotapa 
e o Reino do Congo. O Império de 
Monomotapa ocupava uma vasta 
área entre o atual Zimbábue, África 
do Sul, Malavi e Moçambique. Sua 
origem está associada à chegada dos 
Xonasa região, que teriam coloni-
zado as populações locais. Do século 
 
 13 
APOSTILA A ÁFRICA 
XII ao XV, construíram centros ur-
banos consideráveis, dos quais as 
muralhas de pedras ainda existentes 
são provas vivas, em particular a 
Acrópole e a Muralha do “Grande 
Zimbábue”. Criadores de gado, os 
monomotapas eram também hábeis 
comerciantes, estabelecendo trocas 
com os muçulmanos e mercadores 
chineses, pelo porto de Sofala, con-
trolado pelos primeiros. (BARBOSA, 
2007, p. 4) 
A Costa Oriental da África, 
aponta Barbosa (2007, p.4), entre os 
séculos XI e XIX foi um importante 
centro de comércio marítimo entre 
africanos, árabes e chineses. Sabe-se 
que existiam dezenas de cidades pa-
ra este fim nesta Costa, desde Mo-
çambique até a Etiópia. Entre estes, 
Quilóa, Pate, Mogadiço e Zanzibar. 
Na Costa Oeste da África Central, vê-
se também o surgimento do chama-
do Reino do Congo durante o século 
XIV, ocupando uma área entre a 
atual Angola, República Democrá-
tica do Congo e Zaire. Tratava-se, 
em verdade, de uma confederação 
de cidades. O reino do Congo foi um 
importante núcleo urbano da região. 
Estima-se que quando os portugue-
ses chegaram com Diego Cão, em 
1482, sua população chegava aos 
milhões de habitantes. Possuía uma 
estrutura política descentralizada, 
tendo por base as chefias das aldeias 
e o soberano, intitulado de Manicon-
go. Essa estrutura social foi signifi-
cativamente alterada com a chegada 
dos portugueses. Após a instauração 
do Regimento de 1512, o Congo se 
transformou em poder interme-
diário de Portugal na Costa Oci-
dental africana. Foi dela, em1532, 
que os portugueses enviaram os pri-
meiros africanos escravizados para 
São Vicente, Brasil. 
Durante o século XVI, por in-
teresse dos portugueses, outro po-
der local, o Reino de Angola, se 
constitui como porta de saída para o 
tráfico. Pela ação destes dois polos, 
veio grande parte dos africanos es-
cravizados para o Brasil durante os 
séculos XVI, XVII e XVIII. Eram de 
origem bantu. Uma ampla comuni-
dade étnica, definida por sua iden-
tidade linguística e cultural com di-
versos povos distintos da Costa Les-
te e Oeste da África Central. 
Após a ação colonizadora dos 
portugueses, outras nações euro-
peias entre os séculos XVI e XVII 
construíram fortes ao longo do lito-
ral africano. Sobretudo na chamada 
Costado Ouro (desde então, Costa 
dos Escravos), Noroeste da África. 
Eram principalmente holandeses, 
ingleses, franceses e espanhóis. Tra-
tava-se de uma luta pelo acesso à 
maior riqueza africana: pessoas. Um 
comércio escravista de alto poder 
lucrativo. 
 
 
 14 
APOSTILA A ÁFRICA 
 
Fonte: http://jornalcultura.sapo.ao/ 
 
Evidentemente, como referi-
do, o tráfico de escravos já existia no 
continente antes da chegada dos eu-
ropeus, no século XV. Segundo esti-
mativas, foi um comércio que escra-
vizou cerca de cinco milhões de afri-
canos. O número era grandioso, mas 
não se aproxima, segundo cálculos 
atuais, dos cerca de quinze milhões 
de pessoas envolvidas no tráfico mo-
derno, desde o século XV. Ademais, 
o tráfico ocidental tinha uma alta 
taxa de mortalidade. Estima-se que 
ela tenha sido de 80%. Ou seja, para 
cada pessoa viva que chegava cativa 
à colônia, havia cinco pessoas mor-
tas no processo de escravização 
(captura, prisão e transporte). Se 
tais dados estiverem corretos, se 
conclui que o tráfico acarretou, pelo 
menos, em setenta e cinco milhões 
de mortos. Trata-se do maior geno-
cídio da história humana. Dois estu-
dos que tratam do assunto desde 
uma perspectiva histórica são: A es-
cravidão na África: uma história de 
suas transformações (2002), de Paul 
Lovejoye Decómo. Europa subde-
sarolló a África(1982), de Walter 
Rodney. (BARBOSA, 2007, p.5) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 16 
APOSTILA A ÁFRICA 
3. Como os Africanos Lidavam com o Passado: Ora-
lidade, Mitos, Ritos 
 
 
Fonte: Notibras3 
 
ara Menezes, Castro (2007, 
s/p) a compreensão do mundo 
por meio de imagens precede àquela 
da oralidade. A aquisição dos códi-
gos verbais é apreendida pelos hu-
manos primeiramente como enten-
dimento dos sons e posteriormente 
da escrita. Entretanto, a primeira 
expressão gráfica das crianças se 
estabelece por meio da criação de 
imagens, de desenhos e a aquisição 
 
3 Retirado em https://www.notibras.com/ 
da escrita acontece em geral por 
meio da educação formal. 
Aguiar (2004, apud Menezes, 
Castro, 2007, s/p) observa que o ser 
humano só tem lembranças de sua 
infância a partir do momento em 
que aprende a falar, pelo fato que a 
vida anterior está codificada em 
imagens que se manifestam prova-
velmente em sonhos, sensações, 
sentimentos. Corrobora ainda essa 
P 
 
 17 
APOSTILA A ÁFRICA 
ideia ao dizer que pelo fato da lin-
guagem imagéticas e analógica não 
pode ser construída com negativas 
“é muito difícil, senão impossível 
conceber uma cena negativa usando 
recursos plásticos”. Em outras pala-
vras a imagem tem um maior com-
promisso com o indiscutível, com a 
verdade. 
Pré-concebidamente, a ques-
tão da oralidade está frequentemen-
te ligada a povos ágrafos, ou melhor, 
tem-se como verdadeiro que o co-
nhecimento, a história de uma socie-
dade é transmitida por meio do oral 
em grupos que não tem o domínio 
da escrita, são desprovidas de grafia, 
contrapondo-se às sociedades letra-
das, alfabetizadas. A cultura africana 
é pautada pela oralidade, pelo poder 
que é outorgado à palavra falada. A 
palavra possui poder de ação e aque-
le que não a usa equivale a um ser 
incompleto, privado de uma parte 
essencial de seu corpo. (MENEZES, 
CASTRO,2007, s/p) 
Continuando, Menezes, Castro 
(2007, s/p) apontam que segundo 
Bâ (2003) o poder da palavra falada 
possui uma energia vital, com ca-
pacidade criadora e transformadora 
do mundo, garante e preserva ensi-
namentos “a tradição oral é a grande 
escola da vida”. O autor diz ainda 
que a tradição oral é ao mesmo tem-
po: “religião, arte, ciência história, 
divertimento, recreação, pois todo 
pormenor nos remonta à Unidade 
primordial”. 
A narrativa africana é forma 
de registro tão complexa quanto à 
escrita, e incorpora música, dança, 
interpretação, entonação, o que tal-
vez expresse melhor essa energia 
vital. Existe nela uma integração 
completa entre o verbal e o não ver-
bal, a palavra e o gesto, a relação da 
palavra falada e como ela deve ser 
falada. (...) para compreender a rea-
lidade não há que se separar as par-
tes, isolando as áreas do conheci-
mento, pois a compreensão de cada 
parte, mesmo resguardadas suas es-
pecificidades, remonta ao todo, sem 
hierarquizações de conhecimentos e 
saberes. Tendo por base a iniciação 
e a experiência, o homem que se for-
ma na tradição oral é conduzido à 
sua totalidade (JESUS, 2005, apud 
MENEZES, CASTRO,2007, s/p). 
A verbalização conforme Me-
nezes, Castro, (2007, s/p) tem tama-
nha importância na África que existe 
uma posição de destaque na socie-
dade para profissionais treinados 
em memorização e transmissão da 
memória cultural da comunidade. 
Esses indivíduos armazenam sécu-
los de crenças, costumes, lendas, li-
ções de vida, segredos. Tem o com-
promisso com a verdade, pois acre-
ditam que a mentira pode provocar 
o desequilíbrio e desarmonia da co-
munidade ocasionada pela perda da 
 
 18 
APOSTILA A ÁFRICA 
sua energia vital. Jesus(2005) ao 
citar Vansina – “a oralidade é uma 
atitude diante da realidade e não a 
ausência deuma habilidade” - acres-
centa que as sociedades de tradição 
oral partem desse princípio, pois a 
fala não é mero elemento de comu-
nicação cotidiana, mas um meio de 
perpetuar a história comum, um 
meio de preservar a sabedoria an-
cestral. Segundo Pierce (apudSan-
taella,1999) além da linguagem ver-
bal escrita, o modo de codificação 
alfabética ocidental de origem grega, 
existem outras formas decodificação 
escrita, diferente da linguagem alfa-
beticamente articulada, tais como 
hieróglifos, pictogramas, ideogra-
mas, formas limítrofes do desenho. 
Partindo do mesmo princípio 
de Vansina e a despeito dos pressu-
postos encontrados nos livros de 
história, os povos africanos, apesar 
da tradição oral estão entre os pri-
meiros a desenvolver em sistemas 
de escrita. Além dos hieróglifos egíp-
cios, existem diversos sistemas de 
escrita desenvolvidos antes da in-
fluência árabe. O fato de priorizarem 
a verbalização não demonstra inca-
pacidade de produzir em sistemas 
de grafia. Retomando-se o que foi 
dito anteriormente sobre o compro-
misso que tanto a oralidade como a 
imagem tem com a verdade, pode-se 
concluir ainda que o fato dos siste-
mas de escrita sociedades orais afri-
canas serem basicamente figurati-
vos têm aí sua origem. As inúmeras 
composições gráficas observadas na 
arquitetura e design africanos sejam 
nos objetos de uso cotidiano, ritua-
lísticos, ou mesmo decorativos tem a 
finalidade de registrar e transmitir 
conhecimento. Esses símbolos com-
binados transmitem mensagens. 
Não são considerados alfabetos ver-
dadeiros porque não existe uma for-
ma única de leitura, podem ser in-
terpretados, mas não lidos. Entre-
tanto, primeiramente, a definição de 
termo alfabeto é de “qualquer siste-
ma de sinais estabelecidos para re-
presentar letras, fonemas ou pala-
vras”. Por outro lado, o ato de ler não 
está restrito à visualização e enten-
dimento da coisa escrita com alfa-
beto, mas significa também perceber 
(sinais, signos, mensagem) seja por 
meio da visão, do tato, compreen-
dendo-lhes o significado. A questão 
da interpretação é também contes-
tável, uma vez que qualquer texto ou 
contexto está sujeito a interpreta-
ções diferentes dependendo do pon-
to de vista. De acordo com National 
Museum Of African Artossistemas 
de escrita africanos desafiam com-
preensões convencionais da palavra 
escrita como algo estático aplicado 
só ao papel e demonstrando outras 
formas dinâmicas e criativas do uso 
da escrita, ou da ideia de escritura. 
(MENEZES, CASTRO,2007, s/p) 
 
 19 
APOSTILA A ÁFRICA 
Nesse âmbito Menezes, Castro 
(2007, s/p) colocam que baseando-
nos em Nascimento(1996) e na do-
cumentação do National Museum Of 
African Art podemos destacar os 
seguintes sistemas de escrita afri-
canos, os quais podem aparecer in-
dividualmente ou em conjunto: 
 Pictóricos: os grafemas (a me-
nor unidade construtiva num 
sistema de escrita) consti-
tuem-se de imagens icônicas; 
 Ideográficos: símbolos abstra-
tos que por convenção, carre-
gam conceitos, ideias; 
 Fonológicos (alfabéticos ou si-
lábicos): que representam os 
sons da linguagem (fonemas- 
unidade mínima distintiva no 
sistema sonoro de uma língua- 
ou sílabas) e que em conjunto 
representam palavras e permi-
tem compreensão mais ime-
diata; 
 Escrita por meio de objetos: 
arranjos convencionais de pe-
ças para transmissão de infor-
mações. 
 
Um dos exemplos mais inte-
ressantes do ponto de vista da ex-
pressão gráfica são os pictogramas 
da etnia Edo (ou Ido), do Benine sul 
da Nigéria, que combinam cores e 
gráficos que podem ser observados 
na figura abaixo. O sistema baseia-
se em círculos, círculos combinados 
com setas e pontos. As setas posi- 
cionam-se acima ou abaixo dos cír-
culos, e os pontos podem aparecer 
acima, abaixo, à esquerda ou direita 
dos mesmos. As cores utilizadas são 
sete cores: vermelho, laranja, ama-
relo, verde, azul, cian-azul-violeta. 
Os textos são apresentados em for-
ma de matriz, com sete linhas e re-
presentados em conjuntos de sete 
linhas e sete colunas (os mais co-
muns–podendo às vezes aparecer 
nove colunas) sendo que as cores 
nunca se repetem na mesma coluna. 
Por outro lado, os símbolos são sem-
pre os mesmos em cada coluna. Co-
mo ideogramas têm-se os seguintes 
exemplos: o sistema gráfico Nsibidi 
utilizado por povos do sudeste da 
Nigéria e sudoeste de Camarões pa-
ra transmitir ensinamentos de filo-
sofia; os Adinkra, talvez os mais co-
nhecidos, usados pelos Akan/ 
Ashanti; os Sona ou Tusona, sistema 
de povos de Angola e Zâmbia. (ME-
NEZES, CASTRO,2007, s/p) 
 
Escrita do Povo e do, Que Combina 
Sinais e Figuras 
 
 
Fonte: MENEZES, CASTRO 
(2007, s/p) 
 
 
 20 
APOSTILA A ÁFRICA 
Para Osunbunmi (s/d, s/p) a 
escravidão não congelou a alma, 
nem paralisou o pensamento dos 
Mandinga, Yoruba, Bantu, Fanti, 
Asanti, E wê-Fon ou Akan. É a hora 
de esquecer o esquecimento. A me-
mória existe e há memórias que sur-
gem em contos e relatos, em mitos e 
crenças, em toques e silêncios de 
tambores. Também no gesto, na 
dança e na ética do viver ou do 
morrer. 
Os escravos africanos trazidos 
durante os quase quatro séculos de 
regime escravocrata eram originá-
rios das regiões do Sudão ocidental, 
da África equatorial e de Angola. 
Suas origens étnicas puderam ser 
reconstruídas através das pesquisas 
feitas nas últimas cinco décadas. Ao 
serem estas culturas um fator que 
define a identidade de uma boa par-
te das Américas, os estudos feitos até 
hoje sobre as etnias africanas, embo-
ra numerosos, ainda são insufi-
cientes. A pesquisa sistemática das 
culturas que deram origem aos gru-
pos afro-caribenhos não existe em 
muitos de nossos países. A aborda-
gem da África ocorre a partir da de-
mografia, que utiliza dados, às vezes 
falsos, da demografia escravagista 
para a reconstrução da história. O 
estudo da oralidade na África negra 
tem acontecido desde perspectivas 
diferentes, conforme as disciplinas 
que se interessaram no tema. Os 
folcloristas viram, nestas formas de 
expressão cultural, sobrevivências 
de tradições desaparecidas. Para os 
etnologistas, é um reflexo da socie-
dade contemporânea e uma maneira 
de ensinar ou transmitir os valores 
de grupo. Os psiquiatras, seguindo 
Freud, explicam-nas como maneiras 
de expressar os problemas psico-
lógicos. (OSUNBUNMI, s/d, s/p) 
Conforme Osunbunmi (s/d, 
s/p) a literatura oral africana é tudo 
isso ao mesmo tempo, mas não de-
vemos esquecer que um mito, um 
conto, um provérbio, uma adivinha-
ção é uma criação grupal, e deve ser 
vista assim, portanto, tem certas 
regras e para compreendê-la, é pre-
ciso analisar sua forma e seu con-
teúdo a partir de um enfoque mul-
tidimensional. O estudo deve ser 
feito seguindo as linhas essenciais 
que a definem. 
Cada texto oferece vastas pos-
sibilidades de análise, que vinculam 
as obras de literatura oral com 
outros aspectos da mesma cultura. A 
língua, a base léxica e a sintaxe são 
fatores que, dada sua dimensão na 
oralidade tradicional, fazem com 
que a mesma seja uma forma de 
expressão mais rica que a língua 
correntemente falada. Na tradição 
oral, há fórmulas de abertura e de 
encerramento, modalidades, ono-
matopeias, diminutivos e aumenta-
tivos, etc. Há gêneros fixos e livres; 
 
 21 
APOSTILA A ÁFRICA 
nos primeiros, o texto permanece 
inalterável (provérbios, enigmas, 
fórmulas, esconjuros) e, por isso, a 
língua é arcaica. Já nos gêneros li-
vres, a formulação, de fato, pode 
mudar (contos, relatos, etc.). 
Os sistemas narrativos ante-
riormente mencionados têm variá-
veis que dependem do narrador e de 
seu auditório. Alguns contos são mi-
mados e formam um pré-teatro. Ne-
nhum narrador transmite palavra 
por palavra o texto recebido por 
tradição oral; nesta liberdade reside 
justamente a riqueza e a diversidade 
da literaturafalada. Algumas socie-
dades têm a tradição de relatar his-
tórias em grupo. Por exemplo, nar-
ram contos entre duas ou mais 
pessoas, fazem mímica, cantam em 
coro, etc. 
A gramática do conto envolve 
uma estrutura narrativa, como 
exemplo, as sequências nas que se 
deve repetir. A linguagem dos rela-
tos oferece uma infinita variedade 
de vocabulário, segundo a sociedade 
emissora da obra. Afirma-se que não 
existe uma sociedade no mundo que 
não tenha, em seu acervo, criações 
como essas, que se transmitem na 
tradição cultural. Em algumas so-
ciedades, estas formas se conservam 
e obedecem à necessidade de manter 
vivos certos elementos da cultura, 
que não se conservam de nenhuma 
outra maneira. É o caso dos relatos e 
das reconstruções genealógicas con-
servadas na África através dos sé-
culos, associados aos feitos impor-
tantes (míticos em alguns casos) de 
heróis de cada etnia. Este é o patri-
mônio depositado nos Gritos, esses 
portentosos historiadores orais 
Peuls do Sudão ocidental. (OSUN-
BUNMI, s/d, s/p) 
No vocabulário dos relatos, os 
atores: homens, animais, plantas, 
gênios, etc., ocupam seu lugar e pos-
suem um simbolismo particular em 
cada sociedade. Estes elementos 
permitem a criação de um repertório 
de metáforas e metonímias. As ações 
e os gestos podem ser de compreen-
são universal, ou particular da so-
ciedade em questão. Os acessórios 
do narrador (joias, vestimenta, fan-
tasia, etc.) também têm um valor 
simbólico. 
Cada mito (muitos contos são 
restos de mitos) deve ser decodifi-
cado, pois nele há uma mensagem 
implícita. O relato se decodifica no 
decurso de sua repetição. Ao lado da 
mensagem implícita está a mensa-
gem explícita, que não tem a mesma 
importância, pois não modifica a 
estrutura interna do texto. A função 
dos motivos explícitos é marcar o 
final do conto, do relato, ou de uma 
reconstrução genealógica. A oralida-
de, portanto, transmite a mensagem 
de uma maneira indireta comum a 
linguagem codificada. Já o simbo-
 
 22 
APOSTILA A ÁFRICA 
lismo, que é múltiplo nos contos, 
pode diminuir ou aumentar os con-
flitos internos de uma sociedade. 
Na oralidade, os africanos con-
servaram uma fonte viva de suas 
culturas tradicionais. Ao recupera-
rem a palavra, os novos países inde-
pendentes, livres do peso do colo-
nialismo, puderam reconstruir sua 
ancestralidade e delinear seus pro-
jetos de cultura nacional. Os “livros” 
da experiência milenar africana fo-
ram guardados na memória dos ido-
sos. “Quando morre um ancião, diz 
Hampaté Bâ, africano, se perde uma 
biblioteca”. 
A história não escrita dos po-
vos africanos pode ser procurada no 
inconsciente da vida social, isto é, 
nas estruturas, analisando a cultura 
e a literatura oral em todos os seus 
gêneros. Contudo, ao se admitir que 
cada sociedade tem uma cultura e 
uma história, a consciência histórica 
começa a se delinear. A consciência 
nasce ao espírito de uma ideologia 
global que superou as divisões étni-
cas de um país, para dar lugar a uma 
reconstrução paciente das sequên-
cias temporárias com a ajuda de 
todas as ciências auxiliares: arqueo-
logia, etno botânica, glotocronolo-
gia, etnologia, etc. A oralidade não é 
só o espelho de uma sociedade, tam-
bém pode mostrar as contradições 
internas, sociais e psicológicas que 
se tornam perceptíveis na palavra. O 
fator persistência está ligado a uma 
instituição muito importante, im-
prescindível, e só aprofundando em 
seu estudo, poderemos chegar a co-
nhecer a alma africana. Estamos fa-
lando no tambor. Raramente, os 
historiadores e os etnologistas oci-
dentais abordaram o estudo da rít-
mica percutiva como substituta da 
escritura na África. (OSUNBUNMI, 
s/d, s/p) 
Concluindo, Osunbunmi (s/d, 
s/p) diz que os tambores são o elo 
com o passado; sendo um meio de 
comunicação, de acompanhamento 
de danças, de transmissão de men-
sagens sagradas ou profanas, o tam-
bor foi o guardião da memória-re-
cordação, como se denomina a capa-
cidade dos africanos de conservar, 
transmitindo de pais para filhos, os 
valores de sua tradição e os códigos 
de sua identidade, unificando as 
emoções coletivas. 
A glotocronologia é uma téc-
nica para calcular a separação tem-
poral entre duas línguas que se su-
põe aparentadas. Está baseada na 
percentagem de palavras que são 
substituídas por outras. Morris Swa-
desh baseando-se em dados de dife-
rentes famílias linguísticas, cuja his-
tória é conhecida por documentos, 
estimou que devido a mudanças in-
ternas e contribuições externas, 
aproximadamente 14% das palavras 
básicas do vocabulário de uma lín-
 
 23 
APOSTILA A ÁFRICA 
gua são substituídos a cada intervalo 
de mil anos. Aglotocronologia é um 
método de estudo cujos resultados 
não podem ser precisos. De qual-
quer forma, está proposta para a 
investigação da evolução daquelas 
línguas que carecem de textos es-
critos, pelo que há que descartar o 
método comparativo, usado para a 
reconstrução do indo-europeu e 
buscar alternativas de investigação. 
A dança não se desenvolve sem 
o tambor, que é a escritura sonora 
que o dançarino deve acompanhar a 
oler, ouvindo, seu ditado. A escritura 
do tambor, “pode difundir as notí-
cias mais rapidamente que a escri-
tura gráfica”. Para compreender o 
valor semântico do tambor, é neces-
sário remeter-se às línguas africa-
nas, que são sistemas fônicos com 
estratos sonoros que dão às palavras 
um significado diferente, conforme 
a gravidade sonora dos vogais. Os 
sistemas de escritura são pouco ade-
quados para escrever os tons graves, 
agudos e intermédios, sobretudo 
estes últimos. Em nenhuma escritu-
ra existem signos que possam repre-
sentá-los. Em troca, o tambor re-
produz com fidelidade a linguagem 
tonal das línguas africanas. 
A linguagem do tambor é, por-
tanto, a reprodução imediata e na-
tural da língua: é uma “escritura” 
inteligível para qualquer pessoa que 
tenha a prática suficiente, só que, ao 
invés de se dirigir à vista, está des-
tinada ao ouvido. O europeu jovem 
aprende a relacionar, na escola, os 
sinais óticos com os sentidos; do 
mesmo modo, o africano jovem ti-
nha que aprender outrora a arte de 
captar os sinais acústicos do tambor. 
(OSUNBUNMI, s/d, s/p) 
 
24 
 
 
 
 25 
APOSTILA A ÁFRICA 
4. A África Sob o Imperialismo Colonialista no Séc. 
XIX 
 
 
Fonte: Estudo Help4 
 
egundo Bergamini (2008, s/p) 
até fins do século XVIII, a ex-
pansão colonizadora da Europa der-
ramou-se principalmente pelo con-
tinente americano. A colonização foi 
alimentada pela Revolução Comer-
cial e teve, portanto, caráter mercan-
tilista. Visava a enriquecer e forta-
lecer o Estado, mediante a obtenção 
 
4 Retirado em https://estudo-help.com.br/ 
de colônias: fontes de renda, pela 
exploração das suas riquezas e pelo 
regime do monopólio. O colônialis-
mo europeu mercantilista procura-
va, sobretudo, metais preciosos (ou-
ro, prata) e produtos tropicais, cuja 
venda sustentava os exércitos das 
metrópoles e financiava as constan-
tes e exaustivas guerras, provocadas 
S 
 
 26 
APOSTILA A ÁFRICA 
pelas ambições nacionalistas na 
Europa. 
No século XIX– de par com a 
Revolução Industrial–surgiu um no-
vo expansionismo europeu, de cu-
nho imperialista, que se lançou à 
conquista dos demais continentes, 
com exceção da América (defendia 
pela doutrina Monroe). Este novo 
imperialismo europeu estendeu-se 
especialmente pela África e a Ásia. 
Não era apenas colonialista (do anti-
go tipo mercantilista): também era 
estratégico (militar)e econômico. 
Cobiçava novas fontes de matérias-
primas; não ouro e especiarias, mas 
elementos indispensáveis à indús-
tria. E ambicionava novos merca-
dos. (BERGAMINI, 2008, s/p) 
Para Bergamini (2008, s/p) 
havia necessidade de novas fontes 
de matérias- primas,sobretudo fer-
ro, cobre, petróleo, manganês, trigo, 
algodão e de novos mercados para o 
consumo dos produtos industriais 
das metrópoles; super população da 
Europa e consequente necessidade 
de novas áreas para o excesso de 
habitantes. Os colonos continua-
riam a ser cidadãos e forneceriam 
contingentes humanos para os exér-
citos das metrópoles; necessidade de 
aplicação dos capitais excedentes; 
desejo da conquista de bases estraté-
gicas (sobretudo para segurança do 
tráfico marítimo); espírito e ambi-
ções nacionalistas. (...) (BERGA-
MINI, 2008, s/p) 
 
Colonização Francesa 
 
Segundo Bergamini (2008, 
s/p) em1830, sob o reinado de Car-
los X, iniciou-se a conquista da Ar-
gélia. Terminou em 1857, sob o rei-
nado de Napoleão III. 
 
 
Fonte: 
https://francesobjetivo.com.br/ 
 
 A Tunísia foi facilmente ocu-
pada em 1881 (provocando o desa-
grado da Itália). A conquista do 
Marrocos (1900-1912) deu margens 
à “questão marroquina” franco-ale-
mã. A oposição da Alemanha às 
atividades colonialistas da França, 
no Marrocos, provocou dois graves 
incidentes, que quase desencadea-
ram a guerra: o de Tanger (1905) e o 
de Aghâdir (1911). A final após obter 
concessões territoriais no Congo 
(Camerun, hoje República de Cama-
rões), a Alemanha consentiu (1911) 
no protetorado francês sobre o Mar-
rocos, o qual foi oficialmente estabe- 
 
 27 
APOSTILA A ÁFRICA 
lecido em 1912. De 1855 a 1900, a 
França conquistou o Sudão (África 
Ocidental Francesa): Saara, Senegal, 
Guiné, Costa do Marfim, Dahomey 
(Daomé) e os territórios do Niger. 
De 1875 a 1885 apossou-se de imen-
so território à margem direita do 
Congo e do seu afluente Ubangui. 
(África Equatoriana Francesa). 
Em Madagáscar, a colonização 
francesa começou no século XVII. 
Mas a conquista de toda a ilha 
só se realizou numa campanha mili-
tar em fins do século XIX (1895-
1896). A Somália francesa (em fren-
te ao estreito de Babel Mandeb) foi 
conquistada em 1888. 
 
Colonização Inglesa 
 
A Inglaterra apoderou-se, a 
pouco a pouco, das partes mais va-
liosas da África: 
Região leste: Em 1882, estabele-
ceu o protetorado britânico sobre o 
Egito. Mais tarde realizou novas 
conquistas, formando um bloco uni-
do de possessões, no leste africano: 
África Ocidental Britânica, hoje 
Quênia (1884), Rodésia (1889), 
Uganda (1890), Sudão Anglo-Egíp-
cio (1898). 
Região ocidental: Apoderou-se 
de Gâmbia, Serra Leoa, Costa de 
Ouro e Nigéria. 
Região sul: No sul, desde a guerra 
com Napoleão, possuía a colônia do 
Cabo (arrancada aos holandeses). 
Em 1885, descobriram-se minas de 
ouro em Johanesburgo (Transvaal). 
Pouco depois, a Inglaterra provocou 
a guerra contra os bôers, calvinistas 
de origem holandesa, agricultores, 
estabelecidos em duas pequenas 
repúblicas–Transvaal e Orange– as 
quais, após a vitória inglesa(1899-
1902), foram ligadas às colônias do 
Cabo e de Natal. Todas elas, juntas, 
formaram em 1910 a União Sul-
Africana. 
Transvaal foi uma das provín-
cias da África do Sul entre 1910 e 
1994, com capital em Pretória. A 
província como tal já não existe. Em 
1994, o território do Transvaal foi 
dividido em quatro novas provín-
cias: Gauteng, Noroeste, Limpopo e 
Mpumalanga. A lise encontra Wit-
watersrand, o complexo industrial 
mais importante da África do Sul. 
No século XIX, Transvaal designava 
os territórios que se constituíram em 
uma república bôer denominada 
Zuid-Afrikaansche Republiek (Re-
pública sul-africana), informalmen-
te referida como República do 
Transvaal. Esses territórios ocupa-
vam toda a parte norte da África do 
Sul, situados a montante do rio Vaal 
até ao rio Limpopo. Anexado pelos 
Britânicos em 1902, o Transvaal 
tornou-se, em1910, uma das quatro 
províncias sul-africanas. 
 
 
 28 
APOSTILA A ÁFRICA 
Colonização Alemã 
 
Tendo de realizar, primeira-
mente, a sua unidade nacional– a 
Alemanha apareceu tardiamente no 
cenário colonial africano. Mesmo 
assim, obteve o Camerun, hoje repú-
blica dos Camarões (1884), e Togo 
(1885), no golfo da Guiné. Ainda em 
1884 conquistou a África do Sudo-
este, hoje fideicomisso da ONU. Em 
1885 apoderou-se da África Orien-
tal, hoje Tanzânia. A Alemanha per-
deu todas as suas colônias africanas, 
após a Primeira Guerra Mundial. 
 
Colonização Italiana 
 
A Itália também entrou tardia-
mente na “corrida colonialista”. Ob-
teve a Eritréia(1885), no Mar Ver-
melho, e a Somália italiana (1892), 
no Oceano Índico. Mas, ao tentar 
conquistar a Abissínia, sofreu a 
esmagadora derrota de Ádua (1896), 
às mãos dos soldados do “negus” 
MenelikII, o soberano etíope. Em 
1911, arrebatou aos turcos a Tripo-
litânia e a Cirenaica, que foram reu-
nidas sob o novo nome de Líbia. 
 
O Congo Belga 
 
O Congo é uma enorme e 
riquíssima região central da África. 
Foi, primeiramente (1885-1908), 
propriedade particular de Leopoldo 
II, rei dos belgas. Em 1908, a Coroa 
belga vendeu esse território à Nação. 
O Congo passou a ser, colônia da 
Bélgica. 
 
Espanha e Portugal 
 
A Espanha obteve, em 1885, 
pequenos territórios de reduzido va-
lor: Rio de Oro e a Guiné espanhola. 
E, mais tarde(1912), um pequeno 
protetorado na região norte do Mar-
rocos. Portugal conservou, além da 
pequena Guiné portuguesa, duas 
vastas colônias: Angola e Moçambi-
que. (BERGAMINI, 2008, s/p) 
 
Sobre a África do Sul 
 
De acordo com Rosa (s/d, s/p) 
os europeus tomam contato com a 
região em 1487, quando o navegador 
português Bartolomeu Dias contor-
na o Cabo da Boa Esperança. Ponto 
estratégico na rota comercial para a 
Índia, e habitada por grupos negros 
de diversas etnias (bosquímanos, 
khoi, xhosas, zulus), a região do Ca-
bo começa a ser povoada por imi-
grantes holandeses no século XVII. 
Lentamente, os colonos passam a 
considerar a região como sua pátria 
e adotam uma língua própria, o afri-
câner. Em 1806, os ingleses tomam 
a Cidade do Cabo e lutam, simulta-
neamente, contra os nativos negros 
e os descendentes de holandeses 
 
 29 
APOSTILA A ÁFRICA 
(bôeres), como objetivo de se ins-
talar na região. Os choques levam os 
bôeres a emigrar maciçamente para 
o Nordeste (a Grande Jornada, em 
1836), onde fundam duas repúblicas 
independentes, o Transvaal e o 
Estado Livre de Orange. 
A entrada de colonos ingleses 
em Orange e no Transvaal provoca 
tensões que resultam na Guerra dos 
Bôeres (1899-1902) e termina com a 
vitória dos ingleses. Os estados bôe-
res são anexados pela Coroa britâ-
nica e, em1910, juntam-se às colô-
nias do Cabo e de Natal para cons-
tituir a União Sul-Africana. A po-
pulação bôer passa a se chamar 
africâner. 
A partir de1911, a minoria 
branca, composta de ingleses e 
africânderes, promulga uma série de 
leis com o objetivo de consolidar o 
seu poder sobre a população, majo-
ritariamente negra. Essa política de 
segregação racial (apartheid, do afri-
câner separação) é oficializada em 
1948, com a chegada ao poder do 
Partido Nacional(PN)–a força polí-
tica dominante por mais de 40 anos. 
O apartheid impede o acesso dos ne-
gros à propriedade da terra, à par-
ticipação política e às profissões de 
melhor remuneração. Também obri-
ga os negros a viver em áreas separa-
das das zonas residenciais brancas. 
Os casamentos mistos e as relações 
sexuais entre pessoas de raças 
diferentes tornam-se ilegais. (ROSA, 
s/d, s/p) 
Ainda de acordo com Rosa 
(s/d, s/p) a oposição ao regime do 
apartheid toma forma na década de 
50, quando o Congresso Nacional 
Africano (CNA), organização negra 
fundada em 1912, lança campanha 
de desobediência civil. Em 1960, a 
polícia mata 67 negros que partici-
pavam de uma manifestação lide-
rada pelo CNA em Sharpeville, uma 
favela situada a 80km de Johanes-
burgo. O “massacre de Sharpeville” 
provoca marchas de protestos em 
todo o país. Como consequência, o 
CNA é declarado ilegal. Seu líder,Nelson Mandela, é preso em 1962 e 
depois condenado à prisão perpétua. 
 
 
Fonte: https://www.dw.com/ 
 
Em 1961, a África do Sul obtém 
sua independência completa, após 
um plebiscito que decide por sua 
saída da Comunidade Britânica. Nos 
go-vernos dos primeiros-ministros 
Hendrik Verwoerd (1958-1966) e 
 
 30 
APOSTILA A ÁFRICA 
B.J. Voster (1966-1978), a política 
do apartheid agrava-se. Uma série 
de leis aprovadas nesse período clas-
sifica e separa os negros em diversos 
grupos étnicos e linguísticos, geran-
do um processo que desemboca, em 
1971, na criação dos bantustões–dez 
nações tribais independentes, insta-
ladas em uma área correspondente a 
13% do território sul-africano, onde 
os negros são confinados. 
O domínio branco começa a 
enfraquecer-se com o fim do im-
pério colonial português (1975) e a 
queda do governo de minoria branca 
na Rodésia (atual Zimbábue), em 
1980. Em1984, uma revolta popular 
contra o apartheid leva o governo a 
decretar a Lei Marcial. A comuni-
dade internacional reage: vários paí-
ses decretam sanções econômicas 
como meio de pressão pelo fim do 
apartheid. (...) Em 1987, o Partido 
Nacional perde votos entre os elei-
tores brancos, tanto à direita (Parti-
do Conservador, para quem o gover-
no deveria ser mais “duro” contra os 
negros quanto à esquerda (Partido 
Democrático, que queria acelerar as 
reformas). Mas as mudanças signifi-
cativas teriam de esperar até a posse 
de um novo presidente: Frederikde 
Klerk, que substitui Botha em 1989. 
Em fevereirode1990, Mandela é li-
bertado e o CNA recupera a legali-
dade. De Klerk revoga leis racistas e 
inicia o diálogo com o CNA. Sua polí-
tica, criticada pela direita, é legiti-
mada por um plebiscito só para 
brancos, realizado em 1992, em que 
69% dos votantes se pronunciam 
pelo fim do apartheid. (ROSA, s/d, 
s/p) 
 
31 
 
 
 
 32 
APOSTILA A ÁFRICA 
5. Os Processos de Descolonização e de Indepen-
dência da África no Séc. Xx 
 
 
Fonte: Conhecimento Cientifico5 
 
descolonização na África pas-
sou por várias etapas até que 
os países sob a influência estrangei-
ra conseguissem alcançar a indepen-
dência. As principais organizações 
que contribuíram para o arranque 
deste processo foram a Sociedade 
das Nações -SDN- (no pós Primeira 
Guerra Mundial) e a ONU (no pós 
Segunda Guerra Mundial). ASDN, 
com o fim das hostilidades interna-
cionais em 1918, decidiu retirar os 
 
5 Retirado em https://conhecimentocientifico.r7.com/ 
privilégios que os países perdedores 
tinham sobre as suas colônias afri-
canas. Consequentemente, a Itália e 
a Alemanha tiveram de abdicar da 
sua condição de países colonizado-
res, uma vez que as colônias que 
controlavam foram atribuídas aos 
países vencedores. A Organização 
das Nações Unidas deliberou, no fi-
nal da Segunda Guerra Mundial e 
com a ajuda dos EUA, que a Europa 
A 
 
 33 
APOSTILA A ÁFRICA 
deveria desfazer-se do seu passado 
colonialista, conferindo a indepen-
dência aos países africanos. 
Deste modo, com o fim da Pri-
meira Grande Guerra, a Alemanha 
foi forçada, em 1920, a deixar o Togo 
(que controlava desde 1884), os Ca-
marões (em1916) e a África Oriental 
Alemã (a mais importante colônia 
daquele país). A Itália, outra das po-
tências colonizadoras, também per-
deu o domínio africano em pouco 
tempo. A Líbia, que os italianos ti-
nham anexado ao seu território em 
1912, foi perdida durante a Primeira 
Guerra Mundial, embora em 1918 a 
Itália a tenha reconquistado. Com a 
subida de Mussolini ao poder, em 
1925, os italianos tentaram invadir a 
Etiópia. Como consequência do ato 
imperialista, a Sociedade das Na-
ções interveio, declarando a Itália 
um Estado agressor, ao qual foram 
impostas retaliações econômicas. 
Mas o conflito com os etíopes conti-
nuou e, em 1936, a Etiópia foi ane-
xada às colônias italianas. Este país 
conseguiu a independência em 1942, 
graças à debilitação que a Itália so-
freu com a participação na Segunda 
Guerra Mundial. Com o fim deste 
conflito a Itália é forçada a renunciar 
às suas colônias, das quais abre mão, 
continuando apenas, até1960, com o 
domínio sobre a Somália. Entre 1941 
e 1945 mantiveram-se como grandes 
potências colonialistas Portugal, In-
glaterra, França e Bélgica. (INFO-
PÉDIA, s/d, s/p) 
Ainda de acordo com a Infopé-
dia (s/d, s/p) o domínio britânico 
centrava-se na África do Sul (que 
compreendia o Cabo, Natal, os Esta-
dos Livres de Orange e o Transvaal). 
Esta junção de colônias deu origem 
à União da África do Sul, que tinha 
participado em ambas as guerras 
mundiais. Nos anos 30, a Inglaterra 
iniciou o regime do apartheid, que 
consistia na separação das raças 
branca e negra, a nível político, eco-
nômico e social. A atitude britânica 
foi constantemente criticada pela 
ONU, e em 1961 a União da África do 
Sul deixou de estar inserida na Com-
monwealth3, passando a República 
da África do Sul, sob o estatuto de 
independente. A maior oposição ao 
colonialismo britânico veio do Egito, 
que conseguiu a independência em 
1953 depois de alguns anos de con-
fronto entre a resistência naciona-
lista e as tropas monárquicas. A 
luta dos egípcios foi determinante 
para a descolonização do mundo 
africano, uma vez que serviu de 
exemplo para países como o Sudão, 
que rapidamente se empenhou na 
conquista da independência em 
1956. 
As colônias francesas esten-
diam-se pelo norte e noroeste do 
continente africano: Argélia, Tunísia 
 
 34 
APOSTILA A ÁFRICA 
e Marrocos. Este último foi o país 
que maior resistência trouxe ao do-
mínio francês. Em 1921 organizou-
se um movimento armado que luta-
va pela independência, e só em 1926, 
com a ajuda de Espanha, é que a 
França conseguiu fazer capitular o 
líder do grupo. Novos levantamen-
tos tiveram lugar entre 1943 e 1944. 
A independência foi concedida pela 
França em Março de 1956. A Bélgica 
teve o seu maior desafio no Congo. 
Em1960, dezessete antigas colônias 
tinham alcançado a independência, 
fato que trouxe novo alento à po-
pulação congolesa. 
Commonwealth (em inglês: 
Commonwealth of Nations) é uma 
associação de territórios autôno-
mos, mas dependentes do Reino 
Unido, criada em 1931 e formada 
atualmente por 54 nações, a maioria 
das quais independentes, mas in-
cluindo algumas que ainda mantêm 
laços políticos com a antiga potência 
colonial britânica. 
 
 
Fonte: 
https://escolaeducacao.com.br/ 
 
A Commonwealth tem histo-
ricamente por objetivo promover a 
integração entre as ex-colônias do 
Reino Unido, concedendo benefícios 
e facilidades comerciais, mas agora 
os seus objetivos incluem a assis-
tência educacional aos seus países-
membros e a harmonização das suas 
políticas. Atualmente os países da 
Comunidade representam cerca de 
30% de todo o comércio mundial. A 
maioria dos membros da Common-
wealth são antigas colônias do Reino 
Unido, com duas notáveis exceções, 
Moçambique e Ruanda. Moçambi-
que foi colônia portuguesa e se 
tornou membro em 1995, graças ao 
apoio dos seus vizinhos, que foram 
colônias britânicas. Em 2009 foi a 
vez do Ruanda, antiga colônia belga, 
se tornar membro. Nem todas as ex-
colônias do Reino Unido estão na 
Comunidade. O Zimbábue saiu da 
Commonwealthem2004. 
Os Estados Unidos da Amé-
rica, ex-colônia britânica, não per-
tence à Commonwealth. 
A guerra civil tornou-se inevi-
tável e a Bélgica não conseguiu acal-
mar os revoltosos. A independência 
da então República Democrática do 
Congo foi proclamada em 30 de Ju-
nho desse ano, mas as forças belgas 
não retiraram do território. Por mais 
cinco anos verificaram-se vários 
confrontos internos, motins e uma 
 
 35 
APOSTILA A ÁFRICA 
intervenção das Nações Unidas; um 
caos que acabou com o início da 
ditadura militar em 25 de novembrode 1965, protagonizada pelo general 
Mobutu. Portugal foi dos últimos 
países europeus a deixar as colônias. 
Depois da Segunda Guerra Mundial, 
a ONU começou a pressionar a Eu-
ropa no sentido de pôr termo às 
tradições colonialistas. Depois de 
França e Inglaterra terem deixado 
grande parte das suas colônias, até 
ao final da década de 60, a pressão 
sobre Portugal aumentou, mas Sala-
zar não tinha intenções de abando-
nar as suas fontes de riqueza. Con-
tudo, a independência dos territó-
rios sob a administração portuguesa 
tornou-se inevitável com a queda do 
regime ditatorial, a 5 de Abril de 
1974. A imagem política africana so-
freu uma alteração profunda em vin-
te anos. Surgidos nas primeiras dé-
cadas do século XX, foi no final da 
Segunda Guerra Mundial que os pe-
quenos movimentos nacionalistas e 
a favor das independências ganha-
ram força, levando à queda das po-
tências colonizadoras. O processo da 
descolonização da África só ficou 
concluído em 1981. 
As décadas 70 e 80 foram ca-
racterizadas pela concretização das 
últimas independências de países 
africanos: Guiné-Bissau (1974), Mo-
çambique, Cabo Verde, São Tomé e 
Príncipe e Angola(1975), Seychel-
les(1976), Djibuti e Botsuana (1977), 
Zimbábue(1980) e Ciskei (1981), 
embora estas duas repúblicas não 
sejam Reconhecidas como tal inter-
nacionalmente. (INFOPÉDIA, s/d, 
s/p) 
 
 
 36 
 
 
APOSTILA A ÁFRICA 
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