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08 Violência Social

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VIOLÊNCIA SOCIAL 
 
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Violência social 
Qual é sua importância? 
Violência social é qualquer tipo de violência cometida por indivíduos ou pela comunidade, com uma 
finalidade social. Esses atos violentos assumem formas diversas, dependendo do país, incluindo con-
flitos armados, violência de gangues, agressões entre pais e filhos (por exemplo, punição corporal), 
terrorismo, remoção forçada e segregação. A exposição à violência pode ser direta (por exemplo, ser 
vítima de um ato violento) ou indireta (por exemplo, ouvir falar sobre violência ou testemunhar violên-
cia envolvendo outras pessoas). 
Na última década, em todo o mundo, mais de dois milhões de crianças com idade abaixo de 18 anos 
morreram devido a conflitos armados e, no mínimo, seis milhões delas ficaram gravemente feridas. 
Estima-se também que 25% e 40% das crianças com idade entre 2 a 17 anos, respectivamente nos 
Estados Unidos e nas regiões do sul da África, foram expostas à violência em sua comunidade. Além 
de crescerem em meio à adversidade, a maioria dessas crianças também é socialmente excluída da 
educação formal, dos serviços de saúde, eletricidade, água potável e serviços de saneamento. 
Apesar dessas altas estimativas, a exposição à violência social de crianças em idade pré-escolar tem 
recebido pouca atenção nas últimas décadas, em comparação com crianças mais velhas. Entretanto, 
a violência social é uma questão de estudo especialmente importante durante esse período de desen-
volvimento específico, que influencia o desenvolvimento da criança em múltiplos aspectos (físico, so-
cial, neurológico e emocional) e em diferentes níveis. 
O que sabemos? 
As crianças mais novas são especialmente vulneráveis à violência social devido a sua capacidade 
limitada de administrar o sofrimento psicológico, reduzir a ameaça ou de se afastar da situação. Pelo 
fato de serem expostas a formas diretas ou indiretas de violência social, elas são mais propensas 
a sofrer estresse grave, incontrolável e crônico que, por sua vez, influencia os sistemas cerebrais que 
respondem ao estresse. 
Mais precisamente, a exposição elevada à violência comunitária cria um estado de medo constante, 
aumentando a sensibilidade da criança a estímulos externos (por exemplo, sons) e reduzindo sua ca-
pacidade de abstenção em envolver-se numa ação específica. 
Consequentemente, essas reações aumentam o risco em desenvolver distúrbios de saúde mental in-
cluindo depressões, ansiedade e distúrbio de estresse pós-traumático (PTSD), de apresentarem con-
sequências negativas em sua saúde, vida social e educacional e de se envolver em comportamentos 
de risco (por exemplo, consumo de drogas, agressões) durante sua infância e vida adulta. A probabili-
dade de ocorrência desses problemas de ajustamento é maior quando a criança é submetida a puni-
ções corporais. Ao invés de melhorar os comportamentos destrutivos, o uso de força física por parte 
dos pais, na verdade, leva a mais agressões e a comportamentos delinquentes e antissociais nas cri-
anças. 
É importante ter em conta que fatores como a idade e o gênero da criança, o grau de exposição, di-
reta ou indireta (por exemplo, através de seu impacto nas pessoas que tomam conta dela) e o con-
texto cultural influenciam o impacto negativo da violência social nas crianças. Por exemplo, o efeito 
da violência comunitária na interiorização de problemas (exemplo, depressão, ansiedade) é mais forte 
nas crianças mais jovens do que nas mais velhas. 
Entretanto, à medida que crescem, as crianças tornam-se cada vez mais envolvidas na violência co-
munitária e apresentam, assim, mais problemas externos (por exemplo, comportamentos agressi-
vos/violentos) do que as crianças menores. 
As crianças e aqueles que vivem em áreas economicamente desprovidas correm mais riscos de se-
rem expostos à violência comunitária. Finalmente, as respostas comportamentais das crianças à vio-
lência comunitária são influenciadas pela reação de sua mãe aos eventos violentos. 
Resultados de pesquisas indicam que comportamentos depressivos maternos devidos à violência co-
munitária tendem a aumentar os comportamentos problemáticos das crianças. 
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O que pode ser feito? 
Confrontar e prevenir os resultados negativos associados à exposição à violência social exige inter-
venções na comunidade e na sociedade que visem promover a capacidade de recuperação indivi-
dual, familiar e comunitária. Considerando que a exposição à violência aumenta a probabilidade de a 
criança envolver-se em comportamentos de risco à medida que cresce (por exemplo, agressões e 
evasão escolar), a saída é ter programas com múltiplos objetivos focados nos fatores de risco pre-
coce para promover o desenvolvimento social, emocional e comportamental da criança. Outro fator 
importante que amortece a influência da violência social no comportamento da criança é o bem-estar 
de quem dela toma conta. São recomendadas intervenções que ofereçam suportem às famílias ex-
postas à violência (por exemplo, visitas aos lares). 
Os pais também devem receber abrigo adequado, comida suficiente, água limpa e serviços de saúde 
para permitir o desenvolvimento da família. Esses recursos de suporte possibilitam diminuir o sofri-
mento das pessoas que tomam conta das crianças e, por sua vez, diminuir as probabilidades de que 
se cometa violência por parte das crianças mais velhas. 
Especificamente, os pais que têm acesso a serviços de suporte estão em uma posição melhor 
para oferecer cuidados seguros, estáveis e reativos para reduzir nas crianças as consequências ne-
gativas da exposição à violência. Além de amortecer nas crianças o impacto negativo da exposição à 
violência, as intervenções visam aumentar o desenvolvimento da família e melhorar o acesso a servi-
ços de incentivo que possam ser úteis para reduzir o uso de punições físicas. 
Também é importante que os órgãos governamentais e não governamentais (por exemplo, organiza-
ções sociais, acadêmicas e centros de pesquisa) unifiquem seus esforços e atuem de forma proativa 
para evitar/reduzir a ocorrência de violência social. Como exemplo, o Conselho Nacional dos Secretá-
rios de Saúde do Brasil (CONASS), em colaboração com seus parceiros, compilou uma série de es-
tratégias de intervenção e programas de políticas voltados para corrigir e prevenir a violência. 
A implementação de campanhas públicas de educação, a promoção de uma equipe para aplicar um 
programa de saúde familiar e mudanças legislativas para reduzir a violência são parte de suas pro-
postas para resolver o problema da violência social. Por último, os responsáveis pela elaboração de 
políticas devem estar atentos à forma que as políticas atuais e futuras influenciam as causas de con-
flitos armados e como elas podem, potencialmente, manter e reforçar exclusões de subgrupos. A pro-
teção de todos os membros da sociedade e o acesso equitativo aos recursos devem figurar entre as 
prioridades governamentais. 
O Que é Violência 
A temática violência não é um assunto novo nos debates atuais e muito menos uma prática recente, é 
uma questão antiga presente na sociedade mundial, pois desde a antiguidade práticas violentas já 
ocorriam. 
A partir do século XIX a violência começou a ser discutida e caracterizada como um fato social, pro-
vocando a preocupação do poder público, de acordo com a autora, “a violência é considerada um fe-
nômeno biopsicossocial cuja complexidade dinâmica emerge na vida em sociedade, sendo que esta 
noção de violência não faz parte da natureza humana por não possuir raízes biológicas. Por isso, a 
compreensão desta leva à análise histórica, sociológica e antropológica, considerando as interfaces 
das questões sociais, morais, econômicas, psicológicas e institucionais (MINAYO, 1994 apud HA-
YECK, 2009, p.3)”. 
Como explica Minayo à complexidade da violência ocorre na vida em sociedade, ou seja, o enorme 
desrespeito às regras básicas de convivência,as leis, passam de um simples desentendimento à vio-
lência, degenerando a qualidade de vida, o convívio social e causando o isolamento dos indivíduos. 
Hoje, as pessoas vêem uma as outras como possíveis ameaças a sua segurança, ao seu bem-estar 
e/ou bens materiais. 
Dessa forma podemos entender que a violência social é um fenômeno da sociedade, resultado do 
convívio social. De acordo com Minayo (1994) “é, hoje, praticamente unânime, por exemplo, a idéia 
de que a violência não faz parte da natureza humana e que a mesma não tem raízes biológicas. 
Trata-se de um complexo e dinâmico fenômeno biopsicossocial, mas seu espaço de criação e desen-
volvimento é a vida em sociedade”. 
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Então, o homem sendo um ser biopsicossocial deve ser visto como um todo, pois, além de sofrer in-
terferências do estado emocional e da memória intrapsíquica, um dos maiores influenciadores nas 
decisões e atitudes do ser humano é o ambiente social. E talvez, a pior verdade sobre a violência é a 
de não deixar ninguém de fora de sua abrangência tentacular. 
Estamos todos implicados necessariamente como vítimas de uma longa história com raízes firmes, 
pois a violência não é um estigma da sociedade contemporânea. Como Rocha (1996, p. 10 apud LE-
VISKY 2010, p. 6-7) diz, “a violência, sob todas as formas de suas inúmeras manifestações, pode ser 
considerada como uma força que transgride os limites dos seres humanos, tanto na sua realidade fí-
sica e psíquica, quanto no campo de suas realizações sociais, éticas, estéticas, políticas e religiosas. 
Em outras palavras, a violência, sob todas as suas formas, desrespeita os direitos fundamentais do 
ser humano, sem os quais o homem deixa de ser considerado como sujeito de direitos e de deveres, 
e passa a ser olhado como um puro e simples objeto”. 
Na realidade, a violência nada mais é “a falta de que o indivíduo pense sob a ótica da coletividade em 
uma sociedade já estampada como insegura e frágil, onde cresce a filosofia do “tudo vale e tudo 
pode”, tornando ambíguo o conceito de integração social” (LEVISKI, apud SCHMITZ 2010, p.131). É 
como se existisse um eterno conflito entre o homem, as leis e a vida em sociedade. 
A Violência Social e Suas Principais Causas 
A violência grassa todos os ambientes e grupos sociais, sem distinção. Existe violência nas famílias, 
na escola, no trabalho, na rua, enfim, em todos os locais. As ruas como espaços públicos de convi-
vência, por vezes vira o espaço da insegurança, da violência pela polícia, pelo "marginal" e pelo cida-
dão comum. Segundo Álvaro de Aquino e Silva Gullo (1998, p.105) “a violência, considerada como 
um fenômeno social, é analisada como um filtro que permite esclarecer certos aspectos do mundo 
social porque denota as características do grupo social e revela o seu significado no contexto das re-
lações sociais”. 
A mídia divulga, diariamente, situações de brigas no transito, assaltos, tiroteios, homicídios, entre ou-
tros. A sociedade começa a ter a cara do medo e a por para o exterior a própria agressividade, como 
forma instintiva de se proteger, pois de acordo com Gullo (1998), “a violência é parte das relações 
que compõem a sociedade”. 
Ao discutir violência social é necessário considerar que a violência, ainda segundo Gullo (1998), “é 
um fato universal, teremos que tomar como ponto de partida suas singularidades e seus modos espe-
cíficos de manifestação em cada sistema”. Ou seja, devem-se levar em consideração as particularida-
des de cada sociedade, como sua cultura, valores, ideologias e suas situações históricas. 
Dessa forma, “a violência é inerente às relações sociais e varia de acordo com a particularidade des-
sas relações em diferentes grupos e sociedades historicamente considerados” (GULLO, 1998, p. 
106). A violência social pode ser considerada então como uma expressão da sociedade, “uma res-
posta a um sistema que se associa à forma de poder vigente onde a oposição entre dominante e do-
minado se reproduz de acordo com o contexto das relações sociais que o grupo desenvolve e, conse-
qüentemente, desemboca em medidas legais e jurídicas do próprio sistema”. (GULLO, 1998, p. 106) 
A partir disso, Gullo define a violência social a partir de três pontos principais: 
“1. A violência é um fenômeno social inerente a qualquer tipo de sociedade; 2. A forma sob a qual se 
manifesta reflete o tipo de sociedade e mostra o seu significado nessa sociedade; 3. A violência de-
pende, portanto, de estímulos provenientes da própria sociedade.” (GULLO, 1998, p. 106). 
Ou seja, é impossível pensar a violência social como um fenômeno externo à sociedade, mas sim 
como resultado de um processo histórico que perpassa o presente e caminha rumo ao futuro, pois de 
acordo com Levisky (2010, p. 6), “a violência não é um estigma da sociedade contemporânea, ela 
acompanha o homem desde tempos imemoriais, mas, a cada tempo, ela se manifesta de formas e 
em circunstâncias diferentes”. Ou seja, conectado com tudo aquilo que caracteriza o convívio social, 
a violência social é resultado da própria sociedade. 
No que diz respeito às causas da violência social, estas podem ser diversas, segundo Gullo (1998, p. 
108) “aexistência de indivíduos que não têm condições de se adaptar ao processo de trabalho ur-
bano-industrial devido a problemas de formação, como os decorrentes da desorganização familiar, da 
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falta de orientação educacional e ocupacional, de condições precárias de moradia e que se encon-
tram excluídos do mercado de trabalho”. 
Ou seja, o conjunto desses fatores age como estímulo à criminalidade no meio urbano, e não a atua-
ção isolada de cada um deles. Levando em consideração as tradições culturais, divisões sociais e 
econômicas das sociedades. 
Outro fator segundo o autor é a existência de mão-de-obra sem qualificação que se dedica a ocupa-
ções irregulares, proscritas ou ilegais graças a uma dualidade estrutural (GULLO, 1998). Pois, coloca 
os profissionais frente à exclusão social, devido ao fato da falta ou má-qualificação muitas vezes colo-
car o indivíduo fora do mercado de trabalho. Dessa forma, gerando outro fator, a existência do su-
bemprego e do desemprego como resíduo do processo de desenvolvimento econômico. (GULLO, 
1998) 
Também, um grande gerador de exclusão social que consequentemente impulsionada à violência so-
cial, “é as características da estratificação social na sociedade de classes onde a hierarquia social 
que estabelece os limites legais que marcam a separação entre os estratos sociais dependem do sta-
tus social ou posição determinada ou definida por critérios ou atributos sociais”. (GULLO, 1998, 
p.109) 
Esse “status social” gira em torno de elementos políticos, econômicos e culturais, como por exemplo 
o modo de falar, vestir, estilo de vida, riqueza. De acordo com Gullo (1998, p. 109) “essa associação 
do status com o processo de desenvolvimento urbano-industrial-capitalista determina o sistema de 
classes sociais, que consiste em um conjunto diferenciado de grupos de agentes definidos por seu 
lugar no processo de produção econômico determinado por critérios políticos e ideológicos funda-
mentados em educação, ocupação e renda”. 
Ou seja, esse status define classes sociais, e conseqüentemente também gera exclusões sociais, 
agindo como uma combinação de falta de meios econômicos, de isolamento social e de acesso limi-
tado aos direitos sociais e civis, sendo uma progressiva de fatores sociais e econômicos ao longo do 
tempo. 
É necessário também colocar o fator do desenvolvimento da tecnologia de comunicação de massa, 
onde se estabelece a ralação entre o produtor da informação com o receptor/consumidor, que se-
gundo Gullo (1998, p.109) é desigual, pois, “como consequência do desenvolvimento da tecnologia, o 
comunicador possui os mais poderosos e mais amplamente disseminados canais de informação. 
Dessa forma, pode atuar como estímulo para o pensamento reflexivoe prelúdio para a ação inteli-
gente ou como inibidor dessas características. Trata-se de um meio de dominação que varia desde a 
informação até a propaganda como estereótipo de massa, criando uma nova ordem na distribuição 
do poder”. 
Ou seja, uma mensagem lançada pela mídia é imediatamente aceita e espalhada entre todos os re-
ceptores da comunicação de massa, e acaba por “descarregar” efeitos diretos, gerando impactos na 
vida das pessoas. Dessa forma, também deve ser considerada como um fato gerador da violência so-
cial: os estereótipos, regras, condições, e as relações de poder expostos pela mídia. 
A partir dos fatores expostos, é possível perceber que a marginalidade social sob estes aspectos 
pode se tornar fonte de violência social por que: explora a força do trabalho da mão-de-obra não qua-
lificada; consolida a dependência explicada pelas relações de dominação gerando a impossibilidade 
de ocupar papéis de maior produtividade no sistema; intensifica as tensões ou insatisfações sociais 
capazes de gerar violência social; e por fim, é manipulada pelos meios de comunicação de massa. 
(GULLO, 1998) 
Portanto, ainda de acordo com Gullo (1998 p. 110-111), “o problema de violência urbana analisado 
como um reflexo da marginalidade estrutural passa a ser uma condição dada para o sistema, e varia 
apenas na medida da variação do desenvolvimento político-econômico do sistema neocapitalista”. 
Homicídios no Brasil: Fatores Determinantes 
Os noticiários de televisão mostram diariamente casos de crimes que chocam a sociedade. É “nor-
mal” encontrar pessoas que sofreram algum assalto, sequestro ou tiveram algum parente assassi-
nado. De acordo com Julio Jacobo Waiselfisz (2011, p. 5) “a segurança pública está entre as maiores 
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preocupações da sociedade brasileira nos dias atuais. Disputa com a saúde e a educação a priori-
dade na atenção de autoridades e imprensa. Não há plataforma de governo que não contemple 
ações no âmbito da segurança, seja na prevenção, seja no enfrentamento da violência”. 
Segundo Waiselfisz (2013, p.8) “homicídio pode ser caracterizado como indicador por excelência de 
formas conflitivas de relacionamento interpessoal que acabam com a morte de algum dos antagonis-
tas, e tem como característica uma agressão intencional de terceiros, que utilizam qualquer meio para 
provocar danos, lesões que levam à morte da vítima". 
Atualmente não se pode caracterizar a violência homicida apenas nas grandes cidades, a violência 
homicida que era patrimônio indesejado dos grandes centros urbanos do país, com seu crescimento 
maciço, caótico e anômico, desloca-se para áreas de menor densidade e peso demográfico (WAI-
SELFISZ, 2011, p. 7). 
Os dados são alarmantes, no histórico de 30 anos que atualmente disponibiliza o Sistema de Informa-
ções de Mortalidade do Ministério da Saúde, o Brasil passou de 13.910 homicídios em 1980 para 
49.932 em 2010, um aumento de 259% equivalente a 4,4% de crescimento ao ano (WAISELFISZ, 
2011, p. 18). É possível observar o crescimento no gráfico a seguir. 
 
Percebe-se que a média anual de mortes por homicídio no país se supera de forma avassaladora. 
Dessa forma, nos últimos anos a sociedade brasileira caminhou e caminha rumo a uma sociedade 
violenta, tendo hoje um enorme grau de violência social. 
Ao falar sobre crimes violentos, é necessário considerar todos os seus aspectos, e a questão de gê-
nero é uma delas. Ainda segundo Waiselfisz (2011, p.62) “de 2002 a 2010 o número de vítimas bran-
cas caiu de 18.852 para 13.668, o que representa uma queda da ordem de 27,5%. Já entre os ne-
gros, o número de vítimas de homicídio aumentou de 26.952 para 33.264, equivalente a um cresci-
mento de 23,4%”. 
Ou seja, ainda segundo dados do autor, por cada branco assassinado em 2010, morreram proporcio-
nalmente mais de 2 negros nas mesmas circunstâncias. E mais preocupante ainda, pelo balanço his-
tórico dos últimos anos, a tendência desses pesados níveis de vitimização é crescer ainda mais (WAI-
SELFISZ, 2011, p.64). Isso mostra a importância da necessidade de reorientar políticas nacionais, 
estaduais e municipais quanto à segurança pública, de forma que realmente enfrente a realidade so-
cial do país. 
Dados ainda mostram que as mortes por homicídios, caracterizam ocorrências marcadamente mas-
culinas. De acordo com (WAISELFISZ, 2011, p.66), “os diversos mapas que vêm sendo elaborados 
desde 1998 confirmam esse fato. Deles emerge uma constante: a elevada proporção de mortes mas-
culinas nos diversos capítulos da violência letal do país, principalmente quando a causa são os homi-
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cídios. Assim, por exemplo, nos últimos dados disponíveis, correspondentes a 2010, dos 49.932 ho-
micídios registrados pelo SIM, 45.617 pertenciam ao sexo masculino (91,4%) e 4.27331 ao feminino 
(8,6%)”. 
A diferença é gritante, porém, cabe destacar que ainda assim, apesar dessa baixa participação, nas 
estatísticas recentes morrem acima de 4.000 mulheres anualmente vítimas de homicídio. (WAISEL-
FISZ, 2011, p. 66) 
Existe também um número alto de concentração de homicídios na população jovem do Brasil, e de 
acordo com Waiselfisz (2011, p. 70) “a vitimização juvenil continua crescendo, o que mostra a insufici-
ência das políticas de enfrentamento. As taxas mais elevadas concentram-se na faixa dos 15 aos 24 
anos se estendendo, de forma também intensa, até os 29 anos. A partir dessa idade as taxas vão de-
clinando progressivamente”. 
Em todas as regiões e estados do país, em maior ou menor medida, a vitimização juvenil é um fato 
grave e preocupante. Em todas as regiões, os homicídios juvenis mais que duplicam as taxas de ho-
micídio do resto da população (WAISELFISZ, 2011, p.71). 
Segundo dados do Mapa da Violência 2012 (2011, p. 75), em 2010, quase 3/4 da mortalidade juvenil 
– 73,2% – deve-se a causas externas (ou também, causas violentas, como costumam ser denomina-
das). E o principal responsável por essas taxas são os homicídios, os quais foram responsáveis por 
38,6% de todas as mortes de jovens no ano 2010. 
Existe uma enorme heterogeneidade nas grandes regiões do Brasil, e mais nos dados dos estados. 
Efetivamente, na mortalidade por causas externas entre os jovens, os extremos vão de 53,4% das 
mortes no Acre até 82,1% em Alagoas e no Espírito Santo, seguidos de perto por Paraná, com 81,2% 
das mortes de jovens atribuíveis a causas externas (WAISELFISZ, 2011, p.75). Ou seja, os jovens 
abordam uma grande porcentagem dos casos de homicídios no Brasil, e esses dados nos levam a 
indagações quanto aos motivos da juventude ser o principal alvo dos crimes violentos. 
É possível observar a taxa de mortalidade por homicídios por faixas etárias no gráfico a seguir: 
 
Essas situações, que nos remetem a complexos problemas da eclosão da violência juvenil no país, 
aparecem como uma constante da modernidade, consequência quase natural de um fenômeno deno-
minado “juventude” (WAISELFISZ, 2011, p. 79). Ou seja, como se o termo juventude estivesse diaria-
mente associado à violência. 
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O homicídio é uma violência diária, os dados mostrados evidenciam o preocupante crescimento dos 
índices no Brasil, e segundo Waiselfisz (2011, p.237) “ocorreram, no ano de 2010, 50 mil assassina-
tos no país, com um ritmo de 137 homicídios diários, número bem superior ao de um massacre do 
Carandiru por dia”. 
OS IMPACTOS DA VIOLÊNCIA SOCIAL NA SOCIEDADE BRASILEIRA 
O fenômeno da violência social e seus impactos são visíveis de fato por uma parte significativa da so-
ciedade brasileira. Mas também, encontramos pessoas sem nenhuma experiência direta com esta 
violência, mas que no final das contas acabam por compartilhar das mesmas angústias e sentimentos 
de insegurança de quem já foi vítima deste fenômeno. 
De acordo com Pontes e Dias (p. 5) “o efeito cumulativo da violência tende a dominar cada vez mais 
as vidas das pessoas,que assim reduzem radicalmente as suas expectativas de liberdade e se dis-
põem a investir em recursos próprios para aquisição de equipamentos, procurando fazer treinamento 
preventivo, a fim de criar mecanismos que possam proporcionar uma vida mais segura”. 
“A cidade contemporânea é perigosa, na medida em que a globalização a divide em fragmentos anta-
gônicos, transformando-a em um conflito de forças e interesses” (SANTOS, 2009, p. 242). Dessa 
forma, o medo social se caracteriza como um fantasma urbano da esfera criminal, onde a população 
vivencia de alguma forma algum tipo de ameaça à vida, saúde e integridade corporal ou liberdade in-
dividual no espaço urbano. 
A violência é capaz de bloquear o encontro natural dos sujeitos entre si, bem como sufocar as possi-
bilidades humanas, formando uma sociedade controlada pelo medo e desconfiança. Em suma, a 
nova realidade política e social, o movimento em favor dos direitos humanos passou a dirigir sua 
atenção para os problemas da violência policial e da violência urbana (MESQUITA NETO, 1998, p. 
32-33). De acordo com Santos (2009, p. 241) “os moradores, conforme sua compreensão intuitiva da 
“realidade das coisas” acostumaram-se com seu caráter mutante (senso comum) e sua necessária 
identificação com essas mudanças; sem buscar compreender – de forma crítica – teorizar e resistir, 
apropriam-se delas dentro de uma lógica do caos”. 
Ou seja, a vivência cotidiana de uma situação marcada pelo aumento da criminalidade violenta cons-
titui-se em uma experiência peculiar no cenário brasileiro, à violência social acaba por se representar 
na sociedade como parte dela. “A violência, muitas vezes, situa-se à margem de suas atividades diá-
rias e, outras vezes, passa a ser o meio de sobrevivência das pessoas” (SANTOS, 2009, p. 241). 
A violência nas cidades tem assustado e isolado sua população dentro de suas próprias residências, 
de acordo com Santos (2009, p. 244-245), “em cidades grandes, médias, ou, até mesmo, de pequeno 
porte, não é preciso ir muito longe para observarmos o grande número de casas com cercas elétricas, 
portas e janelas com grades de proteção ou até mesmo com placas que identificam empresas de se-
gurança privada que monitoram algumas residências vinte e quatro horas por dia, evitando que estas 
casas sejam invadidas por pessoas que escolheram a vida do crime como forma de sobrevivência na 
dinâmica social”. 
Houve tempos em que as cidades eram vistas como um “bem” para o ser humano. Era um progresso 
importante para o homem e para o território, por representar o avanço da civilização, o aumento da 
cultura, a ampliação do mercado, dos bens negociáveis, das oportunidades e muito mais. No entanto, 
esses tempos se passaram para aqueles que, atualmente, veem a cidade como um espaço de sobre-
vivência em condições (relativamente) aceitáveis (SANTOS, 2009 p.246). Porém, atualmente as cida-
des viraram espaços de “sobrevivência”. 
Ainda de acordo com Santos (2009, p. 249), “ao combinarem o urbanismo do medo e a detenção do 
poder nas mãos de poucos, além da combinação com o urbanismo da urgência e a precariedade de 
vida de muitos, as medidas de segurança, criadas nesse contexto, estão modelando, cada vez mais, 
um meio segregado. A segurança passa a ser o fetiche para conjurar o mal e apresenta-se como a 
origem da construção de novas desigualdades sociais no contexto urbano”. 
Enfim, Mesmo com a sociedade investindo recursos próprios, adquirindo equipamentos, sistemas, 
alarmes, fazendo treinamento preventivo para criar mecanismos que tornem sua vida mais segura, o 
desrespeito à vida humana é crescente e se alastra por quase todos os setores sociais. 
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A violência social e a insegurança que atingem as pessoas são elementos que estão relacionados ao 
cotidiano de quem convive nas cidades. Entender esses elementos será uma das formas de levarmos 
aos poderes públicos respostas para certas incógnitas relacionadas aos efeitos de políticas públicas 
implantadas nas cidades (SANTOS, 2009, p. 250). 
Diante de toda a discussão apresentada neste artigo, dos dados levantados e da problemática que a 
violência social trás, surge à dúvida de acordo com Waiselfisz (2011) “de como em um país sem con-
flitos religiosos ou étnicos, de cor ou de raça, sem disputas territoriais ou de fronteiras, sem guerra 
civil ou enfrentamentos políticos violentos, consegue-se exterminar mais cidadãos do que na maior 
parte dos conflitos armados existentes no mundo”. 
A violência social cresce a cada ano, vitimando homens, mulheres, jovens e crianças, e os fatores 
que condicionam à criminalidade social mencionados neste artigo, tendem a aumentar os números de 
mortes por violência social, especialmente por homicídios. 
Dessa forma, torna-se de extrema importância a discussão permanente quanto à criação de políticas 
e estratégias públicas de proteção da sociedade, e avaliação e melhoria das já existentes. Porém, 
não se podem desconsiderar as diferenças e exclusões sociais, que o modelo capitalista estimula dia-
riamente, e que acaba por colocar o indivíduo vítima da própria sociedade e das relações de poder. 
A violência social é uma realidade ainda distante de dados estáveis e controlados, considerando que 
a violência é um fato que percorre um caminho histórico, que se manteve presente em tempos distin-
tos e se expressou de diferentes formas, e, faz parte da complexidade das relações sociais e todos 
os aspectos que a envolvem, econômicos, políticos, éticos, culturais, morais, religiosos. 
Seria ingenuidade pensar uma sociedade sem violência, porém, não se pode acostumar com a reali-
dade atual, a busca pela amenização desta realidade é um caminho cheio de desafios, e remete a um 
processo permanente, de muito trabalho e esperança. 
A Violência na Sociedade Brasileira 
Nós queremos discutir neste artigo o nível da violência na qual chegou a sociedade brasileira. 
Além de ser um constrangimento físico ou moral, a violência é um ato vergonhoso que acontece diari-
amente, em todos os lugares do Brasil e no mundo. 
Ninguém sai mais à rua seguro de que vai voltar ao seu lar, muitas pessoas morrem e deixam famí-
lias em sofrimento, por causa de um assalto, uma bala perdida ou outra causa de violência. 
Ao andar pelas ruas, ninguém mais confia em ninguém, todos ao se aproximar de qualquer pessoa já 
ficam preocupadíssimos, sempre achando que irão ser assaltados ou coisa pior. 
Cada dia que passa a violência aumenta rapidamente, em vez de todos serem unidos, parece que 
separam-se. Não sabemos o que será o dia de amanhã, há tanto medo dentro de nós que não pensa-
mos em outra coisa senão a violência. Não podemos esquecer de ressaltar a violência nas torcidas 
de esportes. Coisa que deveria ser diversão acaba em violência e morte. 
Quem não olha televisão? Todos os dias há casos e mais casos de mortes, assassinatos. Quase to-
dos com uma coisa em comum: impunidade. 
Fatores geradores da Violência 
Violência doméstica 
Bullying 
Violência Sexual 
Desemprego no Brasil 
Como todos nós sabemos, continuam a ocorrer, no Brasil, graves violações dos direitos humanos. 
VIOLÊNCIA SOCIAL 
 
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As vítimas tendem a ser aqueles que mais precisam de proteção: os pobres urbanos e rurais, os po-
vos indígenas, os negros, os jovens e também aqueles que trabalham em prol dos mesmos: advoga-
dos, sacerdotes, líderes sindicais, camponeses. Os violadores costumam ser agentes do Estado, cuja 
responsabilidade legal é a proteção dos cidadãos. 
A despeito de algumas exceções notáveis, a impunidade ainda predomina para a maioria dos crimes 
contra os direitos humanos. 
Em muitas cidades emergiram forças que passaram a explorar a desintegração social do ambiente 
urbano, para impor formas próprias de regulação social. As brechas cada vez maiores entre riqueza e 
pobreza, juntamente com as atividades do crime organizado e a disponibilidade de armas, criaram 
uma mistura explosiva,em que se deu a escalada da violência social brasileira. 
Somando-se a isso a inadequação do judiciário e a propensão de certos setores da polícia a agir 
como juiz, júri e carrasco daqueles que consideram “elementos marginais”, formou-se um vácuo polí-
tico e legal em que ocorrem violações brutais dos direitos humanos. 
Mas, embora a história e os padrões sociais nos ajudem a entender os problemas dos direitos huma-
nos no Brasil, não basta para explicar a impunidade de que desfruta um número excessivamente 
grande de violadores desses direitos. 
Brechas da Impunidade 
Se formou no âmago da sociedade brasileira uma série de brechas, as quais permitem que tais cri-
mes fiquem impunes. 
A primeira é a brecha entre a legislação destinada a proteger os direitos humanos e a sua implemen-
tação. 
O povo brasileiro tem a expectativa legítima de que os direitos civis e políticos inscritos na Constitui-
ção e na lei sejam justa e efetivamente aplicados pelo estado. No Rio de Janeiro, nos 10 meses que 
seguiram ao do massacre de Vigário Geral – de setembro de 1993 a junho de 1994 – foram regis-
trada as mortes de 1.200 pessoas nas mãos dos esquadrões da morte. Mais de 80% desses crimes 
permanecem sem solução. 
O panorama nas zonas rurais é ainda pior. Em apenas 4%, aproximadamente, dos casos de morte de 
camponeses e líderes sindicais rurais, os responsáveis foram levados a julgamento. 
Quando são frustradas as expectativas daqueles que contam com a justiça e a procuram, a textura da 
sociedade começa a desintegrar-se. Assim como em outros países, tem sido essa experiência de 
muitos brasileiros, especialmente na periferia das grandes cidades e em algumas áreas rurais. Re-
sulta daí que as relações sociais não são reguladas pela lei, mas sim por uma combinação de intimi-
dação e apadrinhamento. 
A Segunda brecha situa-se entre os setores das forças de segurança e o povo que juraram proteger. 
O povo brasileiro tem o direito de viver sem medo do crime. Mas também tem o direito de viver sem 
medo da polícia. Dos 173 casos da assassinatos ocorridos no meio rural, em 19993, com a participa-
ção de pistoleiros contratados, que a Procuradoria Geral da Republica está investigando, comprovou-
se que 80 contaram com a participação direta de policiais militares ou civis. 
A morte do suspeito de um crime diante de câmeras de TV, no Rio de Janeiro, e o massacre de 111 
detentos na Casa de Detenção, em São Paulo, têm um elemento comum: mostram que os policias 
sentem que têm controle sobre a vida e a morte dos cidadãos. 
Como observou um ilustre membro da seção paulista de Ordem dos Advogados do Brasil, a respeito 
do caso Carandiru, mais aterrador que o número de vitimas foi o número de violadores. Isso mostra 
como um sentimento coletivo de impunidade poderia estar enraizado na cultura organizacional de 
certos setores das forças de segurança. 
VIOLÊNCIA SOCIAL 
 
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Mas é possível mudar. Após o massacre da Casa de Detenção, foram tomadas medidas para estabe-
lecer padrões mais rigorosos de investigação de assassinatos cometidos por policias nas ruas, e to-
dos os policiais envolvidos em tiroteios fatais foram obrigados a consultar um psiquiatra. 
A terceira brecha estaria entre a procura da justiça e a capacidade do Estado para proporcioná-la. 
Infelizmente para muitos brasileiros, sobretudo para os que integram os setores mais vulneráveis da 
população, o Brasil é também um país sem justiça. 
Não é que o povo não acredite na justiça. É que suas convicções são cruelmente destruídas pelas 
próprias pessoas cujo dever seria preservá-las. 
Essas brechas entre lei e a sua aplicação, entre as forças de segurança e o povo que juraram prote-
ger, e entre a procura de justiça e a capacidade do Estado para proporcioná-la, criam uma brecha 
maior e mais fundável: uma brecha na própria alma da sociedade, que separa o Estado dos seus ci-
dadãos e os cidadãos entre si. 
É por isso que tais questões deixaram de preocupar apenas as vítimas, suas famílias e aqueles que 
lutam com coragem e determinação nas organizações de defesa dos direitos humanos, para afetar a 
sociedade brasileira como um todo. 
Caminhos a Percorrer 
Para eliminar essas brechas, o movimento pelos direitos humanos precisa vencer quatro batalhas. 
A primeira é a batalha pela identidade, uma batalha pela preservação da identidade individual das ví-
timas, como a das centenas de crianças e adolescentes mortos a cada ano nas principais cidades 
brasileiras. 
Sabemos que, em sua maioria, as vítimas são jovens adolescentes de sexo masculino, provenientes 
de bairros pobres. Sabemos também que, contrariando a crença popular, a maioria deles não são cri-
anças de rua nem têm ficha criminal. 
Mas uma vítima não é um número estatístico nem categoria sociológica. Uma vítima é um ser hu-
mano. E para muitas dessas crianças e adolescentes a morte nem chega a conferir a dignidade hu-
mana elementar da identificação pelo nome. 
Dos mais de 2 mil casos de assassinatos registrados no Rio de Janeiro no período de um ano, 600 
das vítimas sequer foram identificadas. Como disse à Anistia Internacional um promotor estadual do 
Rio de Janeiro, em um número demasiadamente grande de casos, vítimas e violadores têm um atri-
buto em comum: ambos são desconhecidos. 
A Segunda é a batalha contra o esquecimento. 
“Vamos esquecer o passado”, exigem os violadores de crimes contra os direitos humanos. Mas será 
que devemos esquecer os 144 “desaparecidos” durante os anos de governo militar? Devemos esque-
cer que os assassinos de Chico Mendes continuam em liberdade? Devemos esquecer que os respon-
sáveis pela morte de Margarida Maria Alves ainda não foram julgados? 
Justiça não significa esquecer o crime. “A justiça tarda mas não falha”, diz o ditado popular. Só que, 
muitas vezes, “a justiça tarda mas não chega”, e não chega porque tarda demais. Será que algum dia 
chegará para os membros das comunidades indígenas assassinados em meados da década de 80, 
cujos processos ainda estão paralisados na justiça? 
A terceira é a batalha pela compaixão. 
Muitos se voltaram contra as organizações de defesa dos direitos humanos, considerando seu traba-
lho pouco mais que a proteção de criminosos. 
A ansiedade a respeito da escala do crime é alimentada por programas radiofônicos populares, que 
proclamam: ” Bandido bom é bandido morto! ” 
VIOLÊNCIA SOCIAL 
 
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Já faz muito tempo que muita gente aceita a morte de jovens suspeitos, desde que os mortos por en-
gano não sejam seus próprios filhos. 
Essas pessoas aceitaram a exibição pública dos corpos das vitimas, desde que não fosse realizada 
em áreas residenciais. 
Aceitaram o fato de que grandes setores da população vejam negados seus direitos humanos bási-
cos por serem pobres, ou viverem no bairro errado, ou terem a cor errada. 
Mas as políticas do medo não trazem segurança. Pelo contrário, degradam a sociedade que tais cri-
mes são tolerados e prejudicam a reputação internacional, da qual depende a prosperidade a longo 
prazo. 
A quarta batalha é a da responsabilidade. 
É claro que, para que a impunidade tenha fim, os responsáveis por crimes contra os direitos humanos 
devem ser levados a prestar contas dos seus atos perante um tribunal. 
Mas há um sentido mais amplo em que a responsabilidade é crucial na luta pelos direitos humanos. O 
governo brasileiro é responsável, perante a lei internacional, pela garantia de que o Brasil cumpra os 
tratados internacionais de direitos humanos dos quais é signatário. 
O governo brasileiro também é responsável perante a opinião pública internacional, pois o respeito 
pelos direitos humanos é uma obrigação moral que transcende as fronteiras nacionais. 
Acima de tudo, o governo deveria prestar contas ao povo brasileiro. 
Violência é proporcional à discriminação social 
Os baixos salários, o desemprego e a recessão aumentam a miséria e a violência social. A violência 
pode não ser desejada pela sociedade civil,mas é desejada pelo governo, para afastar o povo da 
participação da vida nacional. É bom alertar também, que a recessão pode levar o país ao caos, à 
convulsão social e à ditadura. 
A violência pode ser tomada como sinônimo de defesa. Ela é uma agressão de defesa. Um povo 
abandonado, amedrontado, humilhado, intimidado e atemorizado, até pela propaganda da violência, 
não participa. 
Nessa situação, consciente ou inconscientemente, uma intenção daqueles que estão no poder no 
sentido de afastar as pessoas da participação social, política e econômica. Isso vem ao encontro 
desse sistema que privilegia uma pequena minoria e prejudica a grande maioria. Por isso, a violência, 
muitas vezes é estimulada por aqueles que estão no poder para se manterem no poder. 
As autoridades estão apostando na violência, pois agora se criam condições para que esta violência 
subsista e afaste o povo daquilo que é um direito do povo, a participação na vida nacional. 
Temos grandes cidades que são de primeiro mundo. Aqui também temos a criminalidade do primeiro 
mundo. A criminalidade da droga, da violência policial, das quadrilhas organizadas. Agora, no Brasil 
real, que não é o Brasil do primeiro mundo, temos uma criminalidade que é fruto da discriminação so-
cial em que o povo vive, onde poucos são os donos e muitos são os escravos. 
Pelo fato de o povo viver inseguro, amedrontado e intimidado, seria mais sensato e coerente que os 
meios de comunicação falassem de flores e amores em vez de promover programas de violência. 
Mas os governos detêm os cordéis dos meios de comunicação e as grandes empresas se mantêm 
através do favorecimento do governo e através da manipulação da informação. Por isso eles promo-
vem a violência exatamente para mostrar ao povo que ele tem que ficar na moita, sem o mínimo de 
esperança. Quando o povo chega em casa, depois de 12 horas de trabalho, e não só de trabalho, 
mas de envolvimento com toda esta loucura de vida, ele assiste novamente à violência do que foi su-
jeito. Isso quer dizer que ele vive permanentemente num mundo de violência, dentro e fora de casa. 
Que esperança este povo pode ter deste mundo? 
VIOLÊNCIA SOCIAL 
 
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Violência Da Tevê e Dos Brinquedos Para a Criança 
Nenhuma criança nasce violenta. Há consenso de que a condição de ser violento é adquirida no de-
correr do desenvolvimento. Muitas famílias, pela condição infra-humana a que são submetidas, são 
forçadas a conviver constantemente com situações violentas. A isso, somam-se os brinquedos, em 
forma de armas miniaturizadas, colocadas facilmente ao acesso das crianças. A tevê colabora com 
imagens violentas e promiscuas. O que será das gerações futuras? 
Os filmes violentos apresentados pela televisão têm influência sobre as crianças. O mundo atual faz 
com que a criança seja exposta, de forma muito intensa, a impulsos violentos. Vários psicólogos, prin-
cipalmente norte-americanos, têm concluído que a violência gera, na criança, uma habituação. A cri-
ança se acostuma com a violência. 
Nessa habituação, para ser motivada, ela termina necessitando de mais estímulos violentos do que o 
necessário. Em experiências feitas nos EUA, um grupo de psicólogos tomou um grupo de crianças 
que viam pouca tevê e que passava o dia todo sob a estimulação de filmes violentos. Colocaram ele-
trocenfalogramas e aparelhos sensores para medir o pulso das crianças. 
Constataram, após algum tempo, que as crianças que estavam acostumadas com a violência, 
quando viam uma cena agressiva, não possuíam aceleração do pulso. De outra parte, as crianças 
que não estavam habituadas à violência, tinham uma saliente aceleração cardíaca. 
Pela experiência acima, nota-se que, para as crianças acostumadas com violência, é necessário um 
impulso ainda mais violento para que reaja. Isso mostra que a violência gera violência: que a violên-
cia faz com que a pessoa necessite de maior violência. É prejudicial permitir que uma criança de 5 
anos seja submetida a programas promíscuos e violentos da tevê. 
Essa superexposição violenta, para a criança, não é benéfica. Entendo que os meios de comunicação 
de massa acabam por estimular a forma violenta de viver, a partir do momento em que divulgam tanta 
violência. A gente, sem querer, acaba sendo envolvido, se habitua com ela, achando que é normal. 
Coisa que não acontecia com nossos antepassados, quando não havia o aparato da violência que 
temos hoje diante dos olhos. Chegavam a nós, com muita lentidão, e não com tanta intensidade 
como ocorre hoje. 
Não é educativo apresentar o mundo violento a uma criança. Pois devemos preparar a criança para 
enfrentar o mundo com todos os outros aspectos violentos. 
Mas isso depende do nível de desenvolvimento dessa criança. O que está ocorrendo, e que é prejudi-
cial e que marca as crianças de hoje, é que elas, em etapas de desenvolvimento muito precoce, são 
submetidas a estímulos muito violentos do meio-ambiente. Conheço crianças com cinco anos de 
idade que assistem à televisão aos sábados até as quatro da manhã. Assistem a programas extrema-
mente violentos e promíscuos. Isso não pode fazer bem para a criança. Deve haver uma adaptação. 
Precisamos tomar consciência de que todos nós, adultos, devemos lutar contra a violência. Estou 
percebendo que se nós não tomarmos essa atitude, vai ocorrer uma verdadeira autodestruição. 
Uma questão que preocupa muito é a do castigo. Bater, dar palmadas, vários psiquiatras veem a 
questão das palmadas de duas maneiras, ambas decorrentes da estrutura familiar. Há famílias que 
são de uma permissidade muito grande para a criança. Elas não ajudam a criança a saber manejar 
seus impulsos agressivos, ou mesmo seus impulsos sexuais. 
E há outras famílias que são extremamente rígidas e que, também pela sua rigidez, não permitem 
que a criança saiba também manejar seus impulsos. Uma das necessidades básicas infantis é a dis-
ciplina, no bom sentido, e isto consiste em saber dar limites aos filhos. Se nós temos hoje tanta 
agressividade com jovens, é porque, possivelmente, os pais não souberam dar limites e, com isso, as 
crianças se tornam muito agressivas, onipotentes. 
Perdem o senso dos limites. Pensam que podem, inclusive, manejar com a vida dos outros. Penso 
que isso se deve a condutas agressivas assimiladas pela criança. Faltaram atitudes firmes, de parte 
dos pais. As vezes, os pais também perdem o controle e acabam batendo nos filhos de uma forma 
até violenta. Quando isso ocorre, eles têm que manter a coerência, sem, em seguida, mimar o filho. 
VIOLÊNCIA SOCIAL 
 
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Se eles acariciam o filho depois de uma surra, ele vai aprender a desobedecer, para ser beneficiado 
com o carinho posterior. Não há nada de errado em um pai perder a paciência e, vez por outra, dar 
uma palmada no filho. O que ele deve fazer é conservar, com firmeza, esta atitude. 
Essa atitude firme tem que ser compartilhada pelo pai e pela mãe, evitando que um bata e o outro 
acaricie. Por que deve haver uma coerência de atitudes entre pais. Porque senão, vai ocorrer um fe-
nômeno chamado dissociação, no qual um dos pais fica sendo carrasco ou mau e ruim, e outro bom 
e excelente. Isso só pode gerar intranquilidade para a criança. 
A questão dos brinquedos violentos é polêmica. De um lado, temos a sociedade consumista que ofe-
rece as armas de todos os portes, e de todas as formas. Desde uma simples faca, até o mais sofisti-
cado foguete. 
Tudo em miniatura. Sou de uma posição intermediária. Penso que o ideal seria o que ocorreu comigo: 
“Eu tinha meus brinquedos agressivos, eu tinha meus bodoques, minhas espadas, mas nós não fazí-
amos deste brinquedo algo como a meta principal. A gente jogava futebol e fazia outras coisas e se 
exercitava ao máximo desenvolvendo todas as capacidades motoras. 
Acho que há necessidade de revisarmos a carga de instrumentos agressivos que colocamos ao al-
cance destes menores. Um hiperarmamento é prejudicial.” 
Alguns brinquedos agressivossão, entretanto, necessários para a criança, pois precisa extravasar a 
sua agressividade. Mas isso deve ser feito de uma forma adequada. O equilíbrio é aconselhável. Cri-
ança não pode passar o dia todo com brinquedos eletrônicos. É um perigo. 
A conclusão que podemos tirar, é de que, a violência está cada vez maior. 
Achamos que, algumas causas da violência são: 
a exclusão; 
as drogas; 
a falta de atendimento às necessidades básicas, como saúde, educação e lazer. 
A não venda de armas pode diminuir as estatísticas da mesma. 
No mais, achamos que uma coisa que podemos fazer é criar nossos filhos de maneira correta, ten-
tando educá-los para que nunca sejam violentos. 
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