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Gabriela Gomes de Souza LIVRAMENTO CONDICIONAL 1 Definição, natureza jurídica, duração... Consiste em uma antecipação da liberdade, sem extinção da pena, daquele que cumpre pena de prisão igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que satisfeitos certos requisitos, que estariam relacionados à regeneração do condenado, e que aceite cumprir certas condições, podendo ser revogada, daí o seu traço de provisoriedade. No Brasil, a duração do livramento condicional, desde que não seja revogado, corresponde ao tempo restante de pena a cumprir. Importante frisar que só é cabível livramento condicional para penas de prisão iguais ou superiores a 2 (dois) anos, é dizer, condenados a penas de prisão de curta duração, entendidas essas como as inferiores a 2 (dois) anos, inclusive por existir outros institutos que os beneficiam, não podem ser agraciados com o livramento condicional. 2 Requisitos do livramento condicional (art. 83, do CP) Os requisitos subdividem-se em requisitos de natureza objetiva e de natureza subjetiva, havendo ainda um requisito específico para os crimes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa. Condição do condenado Quantidade de pena exigida s/ reincidência em crime doloso e bons antecedentes + 1/3 da pena c/ reincidência em crime doloso + ½ da pena Condenado em crime hediondo ou equiparado s/ reincidência específica + 2/3 da pena Reincidente específico em hediondos ou equiparados Não faz jus ao livramento condicional Condenados por crimes c/ resultado morte (independe primariedade) Não faz jus ao livramento condicional 2.1 Os requisitos de natureza objetiva consistem (Art. 83 incisos I, II, IV, V) Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: (Redação dada pela Lei no 7.209, de 11.7.1984) I - cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes; (Redação dada pela Lei no 7.209, de 11.7.1984) II - cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei no 7.209, de 11.7.1984) IV - tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infração; (Redação dada pela Lei no 7.209, de 11.7.1984) V - cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza. (Incluído pela Lei no 13.344, de 2016) (Vigência) Parágrafo único. Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a delinquir. a) natureza e quantidade da pena. Como já dito, somente é cabível em caso de pena de prisão, igual ou superior a 2 (dois) anos, devendo ser somadas as penas de crimes diversos para cálculo do total, conforme se extrai do art. 84, do CP. b) cumprimento de uma certa fração da pena: Aqui, exigir-se-á o cumprimento de uma maior parte da pena para os condenados tidos como mais perigosos, a partir do critério da reincidência ou não em crime doloso e dos bons antecedentes. Assim, condenados não reincidentes em crimes dolosos e com bons antecedentes farão jus ao livramento condicional com o cumprimento de mais de um terço da pena. Já os reincidentes em crimes dolosos necessitam do cumprimento de mais da metade da pena. Portanto, indiferente é o fato de ser reincidente em crime culposo. Por fim, condenados por crime hediondo, crime de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, dependem do cumprimento de mais de dois terços da pena e de que o apenado não seja reincidente específico nesses crimes. b) reparação do dano. Um dos efeitos da condenação, a ser estudado mais adiante na disciplina, é o de tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime. Assim, constitui requisito obrigatório para a concessão do livramento condicional a reparação do dano, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, impossibilidade esta que deverá ser efetivamente comprovada pelo apenado. 2.2 Já os requisitos de natureza subjetivas são (Art. 83 inciso III): III - comprovado: (Redação dada pela Lei no 13.964, de 2019) a) bom comportamento durante a execução da pena; (Incluído pela Lei no 13.964, de 2019) b) não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses; (Incluído pela Lei no 13.964, de 2019) c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; e (Incluído pela Lei no 13.964, de 2019) d) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto; (Incluído pela Lei no 13.964, de 2019) a) ter bons antecedentes. Uma das circunstâncias denominadas judiciais. Hoje, é sinônimo de ausência de condenação anterior que não caracterize a reincidência. A ausência de bons antecedentes é suficiente para que o livramento não possa ser obtido com o cumprimento de mais de um terço do cumprimento da pena. Mas, neste caso, qual seria o tempo mínimo exigido? b) bom comportamento durante a execução da pena (alínea a do inc. III do art. 83 do CP). Antes da Reforma de 1984, o Código Penal exigia boa conduta carcerária o que permitia a interpretação de que só quem tivesse tido um comportamento irrepreensível enquanto encarcerado é que poderia receber o livramento condicional. Mais adequada à realidade deletéria do cárcere, passou a se exigir comportamento satisfatório em toda a execução da pena, é dizer, não só dentro da prisão, mas também fora dela (trabalho externo, autorizações de saída, regime aberto etc.). Agora, com a alteração promovida pela Lei no 13.964/2019, exige-se bom comportamento durante a execução da pena. c) não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses (alínea b do inc. III do art. 83 do CP). Trata-se de inovação trazida pela Lei no 13.964/2019. Súmula 441, do Superior Tribunal de Justiça: “A falta grave não interrompe o prazo para obtenção de livramento condicional.” Entretanto, com base na redação anterior do art. 83, inciso III, do Código Penal, que exigia comportamento satisfatório durante a execução da pena, e não apenas nos últimos 12 (doze) meses, já se entendia que o cometimento de faltas graves poderia impedir a concessão do livramento condicional. d) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto. (alíneas c e d do inc. III do art. 83 do CP). O bom desempenho no trabalho atribuído antes do livramento condicional indicia que o apenado não terá problemas para se readaptar à vida social, pois demonstraria responsabilidade naquilo que se envolve, o que é complementado com a exigência de ser capaz de se manter com o trabalho (honesto) que venha a desempenhar fora do cárcere. Art. 84. As penas que correspondem a infrações diversas devem somar-se para efeito do livramento. 3 Aqueles que não fazem jus ao livramento condicional pelas inovações trazidas pela Lei no 13.964/2019: Além da alteração dos requisitos subjetivos, promovida no próprio art. 83, do Código Penal, a Lei no 13.964/2019, ao tratar dos requisitos para a progressão de regime, previu que qualquer condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado (tráfico de drogas, tortura ou terrorismo), com resultado morte (primário ou reincidente específico), não fará mais jus ao livramento condicional, conforme se depreende da nova redação do art. 112, § 1o, incisos VI e VII,da LEP. 4 Requisito específico Independentemente de não ser portador de maus antecedentes, ou mesmo reincidente em crime doloso, o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, sujeita-se a um regime mais rigoroso de concessão do livramento condicional, que pode ser negado quando suas condições pessoais não façam presumir que o liberado não voltará a delinquir. 5 Especificações das condições (art. 85, do CP); (art. 132, da LEP) Art. 85, do CP. A sentença especificará as condições a que fica subordinado o livramento. Art. 132, da LEP. Deferido o pedido, o Juiz especificará as condições a que fica subordinado o livramento. § 1o Serão sempre impostas ao liberado condicional as obrigações seguintes: a) obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho; b) comunicar periodicamente ao Juiz sua ocupação; c) não mudar do território da comarca do Juízo da execução, sem prévia autorização deste. § 2° Poderão ainda ser impostas ao liberado condicional, entre outras obrigações, as seguintes: a) não mudar de residência sem comunicação ao Juiz e à autoridade incumbida da observação cautelar e de proteção; b) recolher-se à habitação em hora fixada; c) não frequentar determinados lugares. 5.1 Condições obrigatórias São as do § 1º do art. 132 da LEP. Sobre obter ocupação lícita, ver o que se comentou acima sobre aptidão para prover à própria subsistência através do trabalho. Exclui-se da exigência de obter ocupação lícita aquele não é apto para o trabalho, o que tem a ver com a condição física e orgânica do apenado. O dever de comunicar periodicamente ao Juiz da Execução sua ocupação revela que o livramento é uma forma de liberdade vigiada. Tal vigilância compete aos seguintes órgãos da execução penal: patronato, assistência social e conselho da comunidade. Devem supervisioná-la tanto o órgão do Ministério Público, quanto o Juízo da Execução. Por fim, a exigência de não alteração da residência visa facilitar o efetivo acompanhamento do liberado durante o período de prova. 5.2 Condições facultativas Também chamadas de judiciais. Como fica evidente do § 2º do art. 132 da LEP, o juiz pode impor outras condições que as listadas, desde que adequadas ao caso concreto (crime cometido e personalidade do agente, em especial). Entretanto, uma vez impostas, tornam-se de cumprimento obrigatório, nos termos do art. 137, inc. III, da LEP. A mudança de residência a que se refere a lei diz respeito agora a uma eventual mudança dentro do território da comarca onde o condenado cumpre a pena, a fim de que os responsáveis pela assistência e fiscalização possam continuar exercendo seu mister. Quanto a recolher-se à habitação em hora fixada, pode ser recomendável em certos casos, visando diminuir as chances de o condenado voltar a delinquir. Por fim, não frequentar determinados lugares, tanto quanto a condição anterior, serve para dificultar o contato do beneficiário do livramento condicional com más companhias e com ambientes deletérios, onde poderia reencontrar estímulos à delinquência. No curso do livramento, as condições facultativas poderão ser modificadas, conforme dimana do art. 144, da LEP. Tal possibilidade permite atender aos propósitos de individualização da pena. As condições do livramento devem ser aceitas pelo condenado, conforme se extrai do art. 137, inc. III, da LEP. 6 Revogação do livramento (art. 86, do CP) 6.1 Revogação obrigatória (Art. 86, do CP): Art. 86, CP. Revoga-se o livramento, se o liberado vem a ser condenado a pena privativa de liberdade, em sentença irrecorrível: I – por crime cometido durante a vigência do benefício; II – por crime anterior, observado o disposto no art. 84 deste Código. Art. 145, LEP. Praticada pelo liberado outra infração penal, o Juiz poderá ordenar a sua prisão, ouvidos o Conselho Penitenciário e o Ministério Público, suspendendo o curso do livramento condicional, cuja revogação, entretanto, ficará dependendo da decisão final. (Negritou-se). Nesse caso, a revogação fica dependendo da decisão final do processo do novo crime respondido (tratado no inciso I do art. 86 citado). Tendo transitado em julgado a condenação de novo crime em pena privativa de liberdade a revogação é obrigatória. a) A primeira delas diz respeito ao cometimento de delito durante o período de prova do livramento. O cometimento de crime durante a vigência do livramento revela que o condenado ainda não está preparado para retornar ao convívio social, e, assim, não merece usufruir do benefício, em prejuízo da sociedade. A revogação dependerá, todavia, do trânsito em julgado de sentença condenatória (sentença irrecorrível) acerca do delito cometido na vigência do benefício, e desde que a condenação seja a pena privativa de liberdade. Embora seja necessário aguardar o trânsito em julgado da condenação, o art. 145, da LEP, permite a suspensão do benefício, decisão de caráter provisório, ao contrário da revogação, que é definitiva. b) A segunda delas corresponde à condenação a pena de prisão por crime cometido antes da vigência do livramento condicional. Neste caso, a condenação não revela o despreparo do beneficiário do livramento para voltar a conviver em sociedade, daí porque a lei permite que as penas sejam somadas, de maneira que se o condenado mesmo assim tiver atingido o tempo necessário de cumprimento da pena de prisão para o livramento, deverá continuar no gozo do benefício. 6.2 Revogação facultativa (art. 87, do CP) Art. 87, CP. O juiz poderá, também, revogar o livramento, se o liberado deixar de cumprir qualquer das obrigações constantes da sentença, ou for irrecorrivelmente condenado, por crime ou contravenção, a pena que não seja privativa de liberdade. Art. 140, LEP. A revogação do livramento condicional dar-se-á nas hipóteses previstas nos artigos 86 e 87 do Código Penal. Parágrafo único. Mantido o livramento condicional, na hipótese da revogação facultativa, o Juiz deverá advertir o liberado ou agravar as condições. Trata-se de faculdade do juiz, que pode, em vez de revogar o benefício, advertir o condenado ou agravar as condições impostas. Possibilita a revogação, no primeiro caso, o descumprimento de qualquer uma das condições impostas, seja de natureza obrigatória (§ 1º do art. 132 da LEP) seja facultativa ou judicial (§ 1º do art. 132 da LEP). No segundo caso, a condenação transitada em julgado, a pena que não seja privativa de liberdade. 7 Efeitos da revogação Art. 88. Revogado o livramento, não poderá ser novamente concedido, e, salvo quando a revogação resulta de condenação por outro crime anterior àquele benefício, não se desconta na pena o tempo em que esteve solto o condenado. Art. 141, da LEP. Se a revogação for motivada por infração penal anterior à vigência do livramento, computar-se-á como tempo de cumprimento da pena o período de prova, sendo permitida, para a concessão de novo livramento, a soma do tempo das 2 (duas) penas. Art. 142, da LEP. No caso de revogação por outro motivo, não se computará na pena o tempo em que esteve solto o liberado, e tampouco se concederá, em relação à mesma pena, novo livramento. Os dispositivos supra da Lei de Execução Penal tornam mais claro o alcance do art. 88, do CP. Vê-se que os efeitos são menos rigorosos quando sobrevém condenação irrecorrível por crime anterior à concessão do benefício. Neste caso, computa-se o tempo em que esteve liberado como de pena cumprida. Ademais, se já tiver cumprido fração suficiente de pena de prisão, considerando a soma do total das 2 (duas) penas, poderá continuar em livramento condicional. Caso não tenha aindaa fração necessária, poderá mais adiante ser beneficiado. Todavia, para todas as outras hipóteses de revogação, não poderá o condenado voltar a ser beneficiado com o livramento condicional (em relação à mesma pena), e terá de cumprir o restante da pena que faltava quando recebeu o benefício. 8 Extinção Art. 89. O juiz não poderá declarar extinta a pena, enquanto não passar em julgado a sentença em processo a que responde o liberado, por crime cometido na vigência do livramento. Art. 90. Se até o seu término o livramento não é revogado, considera-se extinta a pena privativa de liberdade. Art. 146, da LEP. O juiz, de ofício, a requerimento do interessado, do Ministério Público ou mediante representação do Conselho Penitenciário, julgará extinta a pena privativa de liberdade, se expirar o prazo do livramento sem revogação. Para que o art. 89, do CP, possa ser aplicado, necessário que o Juízo da Execução tenha tomado ciência da existência de processo em que se apura o cometimento de crime cometido na vigência do benefício. E mais, também é necessário que tenha suspendido o benefício durante o período de prova. Caso contrário, nada restará a fazer que declarar extinta a punibilidade. Uma vez determinada a suspensão do benefício durante a vigência do período de prova, prorroga-se o período de prova do livramento até o trânsito em julgado da sentença sobre o delito cometido após a vigência do benefício. Se não houver suspensão do livramento e é terminada a pena, considera-se extinta a pena privativa de liberdade Se o livramento condicional não é revogado até o fim da pena, esta será extinta.
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