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ATIVIDADE DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUÍZO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE – UFCG 
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS – CCJS 
UNIDADE ACADÊMICA DE DIREITO 
 
Aluna: Carla Weini Cerqueira Leite 
Disciplina: Direito do Consumidor 
 
ATIVIDADE – DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUÍZO 
 
QUESTÃO: 
A Associação "AB", legalmente constituída há um ano para a defesa de interesses dos 
consumidores fumantes, ingressou com ação civil pública contra as empresas fabricantes 
de cigarros no País, pleiteando a reparação dos danos à saúde e à vida dos usuários 
(fumantes ativos) e fumantes passivos, decorrentes do consumo de cigarros, bem como 
proibição de qualquer publicidade de cigarros. O Juízo, ab initio, entendendo que a prova 
era meramente técnica, recebeu a inicial e decretou a inversão do ônus da prova. 
Pergunta-se, assim: 
a. A Associação-autora tem legitimidade para a defesa dos interesses colocados em 
Juízo? Quais os interesses que busca tutelar? 
Dentre os legitimados para propor ações coletivas em defesa dos consumidores, o CDC 
inclui as associações constituídas legalmente há pelo menos um ano, que tenham entre seus fins 
institucionais a defesa dos interesses e direitos dos consumidores. Nessa linha, o artigo 82, IV, 
do CDC, dispensa autorização assemblear para que as associações possam ajuizar ações 
coletivas em defesa de consumidores. Sendo assim, no caso concreto, a Associação-autora tem 
sim legitimidade extraordinária para substituir em Juízo toda a coletividade de consumidores 
cujos direitos teriam sido violados. 
No caso em tela, a associação busca tutelar o direito à vida e à saúde. De acordo com o 
caput do art. 255 da CF: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem 
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à 
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. 
b. A inversão do ônus da prova pelo Juízo foi correta? 
A inversão se dá por decisão do juiz diante das alternativas postas pela norma: ele 
inverterá o ônus se for verossímil a alegação ou se for hipossuficiente o consumidor. Pode 
acontecer de nenhuma das hipóteses estar presente: nem verossímeis as alegações e nem a 
hipossuficiência do consumidor. 
A verossimilhança é conceito jurídico indeterminado, depende da avaliação objetiva do 
caso concreto e da aplicação de regras e máximas da experiência para o pronunciamento – logo, 
a lógica é que o juiz se manifeste no processo para saber se o elemento da verossimilhança está 
presente. 
Da mesma maneira, a hipossuficiência depende de reconhecimento expresso do 
magistrado no caso concreto. O desconhecimento técnico e de informação capaz de gerar 
inversão tem de estar colocado no feito sub judice. São as circunstâncias do problema proposto 
e em torno do qual gira o objeto da lide que determinarão se há ou não hipossuficiência. Sendo 
assim, a lógica aqui é a mesma: é preciso que o juiz se manifeste no processo para saber se a 
hipossuficiência foi reconhecida. 
Dessa forma, podemos dizer que o juiz se precipitou ao julgar a inversão ab initio. Isso 
porque, o momento processual mais adequado para a decisão da inversão do ônus da prova é 
aquele entre o pedido inicial e o saneador. Em grande parte dos casos a fase processual posterior 
à contestação e na qual se prepara a fase introdutória, indo até o saneador, ou neste, será o 
melhor momento. Inclusive, já é esse o entendimento do STJ. 
c. As empresas-rés, contestando o feito, suscitaram suspeição do Juízo, considerando 
que, ao inverter o ônus da prova, havia prejulgado a causa. Comente a respeito. 
A inversão não é automática e por isso não pode ser considerada, tal qual no processo 
civil, como regra de julgamento. Podemos também afirmar que, apesar de ser discutível a 
precipitação em decidir ab initio, não se caracteriza o pré-julgamento da lide, tendo em vista 
que a inversão é dada através do livre convencimento do juiz. Assim, não há lógica diante da 
norma do CDC, que não gera inversão automática, que o magistrado venha a decidir apenas na 
sentença respeito da inversão, como surpresa a ser revelada para as partes. 
 
d. O juiz poderia inverter o ônus da prova em relação aos pedidos formulados por 
conta dos fumantes ativos e não o fazer em relação aos passivos? 
Acredito eu que o juiz não poderia inverter o ônus da prova em relação aos pedidos 
formulados por conta dos fumantes ativos e não o fazer em relação aos passivos, tendo em vista 
que o art. 81 do CDC preconiza a proteção coletiva dos direitos difusos.

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