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Apostilas Exegese AT - 1

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0
SEMINÁRIO TEOLÓGICO BATISTA DO NORTE DO BRASIL 
 
 
CURSO DE FORMAÇÃO EM TEOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
EXEGESE BÍBLICA DO ANTIGO TESTAMENTO 
 
 
(Apostila com matéria a ser trabalhada em sala de aula) 
 
Prof. Marcos A M Bittencourt 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Recife, 2010 
 
 
 1
EXEGESE BÍBLICA DO ANTIGO TESTAMENTO 
 
 
INTRODUÇÃO ���� DEFININDO O TERMO – EXEGESE – “Expor”, “colocar para fora”, “explicar” - 
Busca do significado do texto através da exposição do mesmo. Fazer exegese é o mesmo que 
aplicar as ferramentas da proforística (hermenêutica). A Exegese preocupa-se mais com o que está 
atrás do texto e o que está no texto. A Hermenêutica preocupa-se com o que está depois do texto, 
a sua releitura e atualização. Enquanto ciência aplica-se a exegese a textos de qualquer origem. 
Entretanto, no campo bíblico encontra duas vertentes: 
 
• Crítica - O texto bíblico foi escrito dentro de categorias ou formas literárias do seu próprio 
tempo (alegoria, narrativa, parábola), instrumentos próprios do ser humano. 
• Espiritual - O texto bíblico, de acordo com a sinagoga e a igreja, transmite uma Palavra de 
Deus. 
Por causa destas duas vertentes, temos alguns problemas na tarefa de fazer exegese: 
 
 1o Problema : A busca do sentido da Bíblia seguirá métodos comuns a outros textos não 
bíblicos e métodos peculiares ao texto sagrado. Esses métodos peculiares, por sua vez, passam 
necessariamente por dois caminhos: 
 
a) Revelação � A Bíblia como Palavra de origem divina, mas arraigada ao mesmo tempo na 
história da qual toma sua expressão e condicionamentos. Essa palavra tem ressonância em 
um tempo determinado, dentro de uma cultura determinada, mas com a pretensão de falar a 
pessoas de todos os tempos e de todas as culturas, sem manchar o tempo e a cultura 
destas novas pessoas. 
 
b) Inspiração � Deus utiliza os autores humanos com suas inteligências e liberdades, 
respeitando mesmo os limites da personalidade literária do autor humano. Interessante é o 
fato de que em Paulo a escritura é quem é inspirada e não o homem (escritor), conforme II 
Tm.3:16. Não se quer dizer que Deus e o ser humano são dois autores separados, “um do 
lado do outro” mas “um dentro do outro”, cooperando na produção de um texto com 
significado. Por isso, se queremos compreender o que a Bíblia quer falar devemos primeiro 
sondar o que o texto significou para o escritor e o seu tempo. As propostas hermenêuticas 
na pós-modernidade, baseadas na intertextualidade e na hipertextualidade, muito 
encontradas no confronto da Teologia com a literatura brasileira, desprezam esse tipo de 
leitura, fundando assim uma exegese relativista. 
 
OBS: Tarefa para sala de aula : refletir um pouco sobre os pontos positivos e negativos das duas posturas 
exegéticas abordadas no item “b” acima. 
 
2o Problema : Complexidade da exegese, caracterizada por três perguntas: 
 
a) Como se apresenta o texto em sua objetividade, e o quê ele diz exatamente? O que o 
texto quer dizer em Is. 7:14, Is.41:6, Ecl.12:1, por exemplo? A Igreja e os cristãos do 
Novo Testamento fizeram releituras dos textos do AT, apropriando-se dessas escrituras 
ou atualizando-as na pessoa de Jesus Cristo. 
b) É verdade o que o texto diz? Cabe aqui acrescentar a reflexão em torno do tipo de 
verdade que o texto expressa. 
c) Que mensagem revela para nós hoje? 
 
A complexidade da exegese evidencia-se não apenas no fato das perguntas em si mesmas, 
mas no fato que essas perguntas pertencem a planos diversos e requerem para tanto 
metodologias diversas. Nas duas primeiras perguntas estudamos o texto como um objeto e 
nos situamos fora dele. Na terceira pergunta entramos no texto ou permitimos que ele entre 
em nós. Na primeira pergunta nos colocamos no nível da literalidade do texto, o que exige 
uma análise literária. Na segunda pergunta nos colocamos no nível do acontecimento que 
ele narra, o que exige o método da crítica histórica. O objetivo agora é conhecermos 
algumas escolas de exegese do AT para entendermos seus métodos e caminhos. Não 
adotaremos uma escola, mas procuraremos ver os pontos positivos de cada uma delas. No 
final procuraremos fornecer um modelo que dialogue com cada uma dessas escolas. 
 2
 I - CRÍTICA TEXTUAL 
 
 Houve um tempo em que não se questionava a composição de nenhum texto bíblico. O 
texto que se tinha em mãos era visto como aquele que saiu do falar divino ou da mão do profeta, 
sem a omissão de um “yod” sequer. Com a descoberta de manuscritos antigos, principalmente 
levando-se em consideração que havia vários manuscritos de uma mesma parte bíblica, os 
estudiosos começaram a perceber diferenças entre textos antigos e recentes. Este tipo de 
problema é resolvido com a crítica textual. Surgia assim o conceito de “variantes textuais”, o que 
exigia a reconstrução do texto quanto mais próximo possível daquele texto “original” que se perdeu. 
Aparece a Crítica Textual para estudar o processo de transmissão do texto, a partir do momento em 
que foi escrito. Dependendo do modo como vemos as coisas, podemos entender que a Crítica 
Textual aparece como uma ciência a serviço da fé. No decorrer dos trabalhos de pesquisa textual 
foram encontrados alguns casos (exemplos) que se constituíram em esqueleto da Crítica Textual. 
Veremos abaixo: 
 
1.1 Exemplos de Crítica Textual: 
 
1.1.1 Metátese: Transposição de letras ou palavras no texto. Devido o texto hebraico ter muitas 
letras parecidas, há a possibilidade do copista ter trocado alguma durante a cópia. Por exemplo, em 
1947 quando foi encontrado o rolo do profeta Isaías em Vadi-Qumram, foi percebida uma das 
primeiras ocorrências da Crítica Textual, ao comparar-se esse texto (historicamente mais antigo) 
com outros manuscritos de Isaías já existentes naquela época. Vejamos o que ocorreu na 
comparação de Isaías 21:8. Duas palavras parecidas (mas diferentes) foram encontradas na 
comparação dos manuscritos: 
 
hyEr]a'' � ar’yeh � Leão 
ha,roh'' � haroeh � vidente (o que vê) 
 
OBS: Agora faça leituras nas diversas versões em língua portuguesa e liste as traduções 
encontradas. Anote abaixo suas conclusões: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1.1.2 - Homoiotelêuton: Terminações semelhantes. Textos com a mesma “escrita” levantam 
questionamentos que teria sido o texto que serviu como fonte. Comparar os textos de II Sm.22:2-4 
e Sl.18:2-3, conforme transcritos a seguir: 
• Sl.18:2-3 (BJ) � “Javé é minha rocha, minha fortaleza e meu libertador, meu Deus, meu 
rochedo, confiarei nele; meu escudo e cidadela de minha salvação, meu baluarte. Invoco 
Javé...” 
• II Sm.22:2-4 (BJ) � “Javé é minha rocha, minha fortaleza e meu libertador, meu Deus, meu 
rochedo, confiarei nele; meu escudo e cidadela de minha salvação, meu baluarte e meu 
refúgio, meu Salvador que me salva da violência. Invoco Javé...” 
 3
 
Diante da comparação textual, questiona-se o seguinte: 
 
a) Um dos textos seria modificação do outro? 
b) Derivam os dois textos de uma mesma fonte? 
c) Se “a” está correta, qual seria então o texto original (o mais antigo) ? 
 
 
1.1.3- Haplografia: Salto na escrita. É um tipo secundário de “homoioteleuton”. É a omissão 
involuntária de uma passagem intermediária porque o olho do copista pulou de uma terminação 
para outra que se assemelham. Um bom exemplo é o texto de Is.4:5-6 : 
 
• Is.4:5-6 (BJ) � “Javé formará sobre todos os pontos da montanha de Sião e sobre suas 
assembléias uma nuvem de dia e fumo e resplendor de fogo chamejante de noite pois 
acima de tudo a Glória de Javé será como baldaquino e cabana e servirá de sombra de dia 
contra o calor e de amparo e refúgio contra a tempestade e a chuva”. 
 
Nos manuscritos de Vadi-Qumram, o texto em itálico foi perdido por salto do primeiro termo “de dia” 
até o segundo. 
Obs: “baldaquino” � Peça de tapeçaria para cobrir tronos, camas, formando um tipo de cúpula. 
 
 
1.1.4 – Confusão de letras : Ocorre muito na escritura hebraica quadrática, visto que algumas letras 
são parecidas comoo h e o j , o r e o d . Por exemplo, no texto de II Rs.16:6 (ler dos vv.5-
7) os tradutores costumam substituir a leitura do texto massorético de !r;a; (Aram) por !doa, 
(Edom). As razões são as seguintes: 
 
a) Congruência das referências geográficas e históricas desta passagem facilmente observadas 
no contexto. 
b) A confusão Aram-Edom acontece com freqüência, o que dificulta a hipótese de ser sempre 
acidental, senão que esconde atrás de si, ao menos algumas vezes, motivos históricos ou o fato 
de considerarem os edomitas inimigos de Israel, ou então os arameus, dependendo da época e 
tendência dos redatores (conforme Dt.23:7-8 comparado a Ob.vv10-12). 
 
Um outro exemplo, mais notório ainda aparece nos termos “Dodanim” ( d em Gn.10:4) e “Rodanim” 
( r em I Cr.1:7). 
 
1.1.5 – Confusão de números: As letras do alfabeto hebraico também possuíam valores numéricos, 
conforme estudado em Hebraico Bíblico. Exemplos: aoo =1 bo =2 go =3 do =4 wo =6 zo =7 yo =10 
qo=100 ro =200. Não era difícil que um copista incorresse em erros de transmissão dos números, 
visto que algumas letras se assemelhavam entre si. Entretanto, não é tão simples assim definir se o 
texto mais original utilizava as letras como algarismos ou se fazia o uso dos numerais cardinais 
(escritos por extenso: um, dois, três, quatro, etc...). 
 
Exemplos: Em Gn.2:2, o texto hebraico atual, bem como a Vulgata, apresentam a seguinte forma: 
“Deus terminou no sétimo dia a obra que fizera, e repousou no sétimo dia”. Já, a Septuaginta 
apresenta: “...terminou no sexto dia...e repousou no sétimo...”. É provável que tenha ocorrido 
alguma confusão entre ao algarismos wo =6 zo =7, dada a sua semelhança gráfica. 
 
Outros exemplos: Em II Cr.36:9 o texto hebraico diz que Jeconias tinha oito anos quando começou 
a reinar e em II Rs.24:8 temos dezoito anos. Não estaria uma confusão entre jo=8 e joyo =18, 
com a omissão ou acréscimo do yo (yod)? Ou seria uma confusão em torno dos cardinais oito e 
dezoito ? 
 
 4
 
1.1.6 - Mudanças deliberadas : Comparando II Sm.24:1 e I Cr.21:1-2 encontramos uma aparente 
contradição teológica. Contudo, a troca do nome de “Javé” por “Satã” possui razões teológicas, 
visto que o texto de Crônicas, escrito quase dois séculos depois da obra Sm/Rs, é uma releitura da 
história de Israel na ótica do Reino do Sul (ênfase em Davi). Bem provável é que a teologia israelita 
pré-exílica não possuia bem caracterizada a imagem do Satã personalizado. 
 
Outro exemplo interessante temos em Jó 1:5,11; 2:5,9; onde o termo “maldizer a Javé” aparece 
substituído no texto hebraico por “bendizer a Javé”, apesar da primeira expressão combinar mais 
com o contexto. Evita-se assim pronunciar a maldição junto ao nome santo de Deus. 
 
Como os exegetas chegam a determinadas conclusões no processo de crítica textual? Eles 
se valem de alguns princípios ou regras, sobre as quais passaremos a relatar : 
 
1.2 Regras da crítica Textual 
 
1.2.1 Deve-se considerar genuína a leitura variante, a partir da qual se pode explicar a origem das 
outras. 
 
1.2.2 Uma leitura mais difícil deve ser preferida à uma mais fácil, pois o copista está propenso a 
facilitar um texto difícil, mais do que tornar difícil um texto mais fácil. 
 
1.2.3 Uma leitura mais curta/breve é preferida à uma leitura mais longa. Ao escrever um texto, o 
copista é “tentado” a acrescentar uma observação explícita no mesmo (Ex: Glosa em Jos.1:5). 
 
1.2.4 Uma leitura diferente de uma passagem paralela, deve ser preferida à uma semelhante, dada 
a tendência do copista de harmonizar um texto com o outro. 
 
 
 
 II – CRÍTICA LITERÁRIA 
 
 A Crítica literária surgiu impulsionada pelas novas leituras do Antigo Testamento, 
principalmente no tocante às diferenças entre os nomes divinos alternados nos primeiros capítulos 
de Gênesis (Henning Bernhard Witter, em Hildesheim, 1711 e Jean Astruc, em 1753). Entretanto, 
considera-se como clássico o trabalho de dois teólogos do final do Século XIX, Graf e Wellhausen, 
os quais afirmaram que o Pentatêuco seria o resultado da compilação de quatro documentos, 
diferentes quanto à idade, ambiente e postura teológica, posteriores a Moisés, apelidados de 
J/E/D/P, já estudados em outra disciplina, Introdução ao Antigo Testamento. Por aí, percebe-se que 
a Crítica literária objetivava o estabelecimento da autoria e a época dos escritos, tentando chegar à 
época anterior à formação dos mesmos. Através da Crítica literária os teólogos têm buscado 
entender a gama de gêneros textuais, figuras de linguagem, características próprias da língua 
hebraica, que denunciam o ambiente formador do texto bíblico. Parte-se do princípio que os 
orientais antigos, para exprimir o que tinham em suas mentes, usaram as formas e maneiras do seu 
tempo e não do nosso. Essas formas não são fáceis de se determinar pela leitura simples do texto 
bíblico. A pesquisa arqueológica encontrou textos extrabíblicos que, quando confrontados com o 
AT, trouxeram uma grande contribuição para os estudos bíblicos. 
 
 Um pensamento importante aqui é o fato que tudo o que está escrito na Bíblia possui em 
primeiro lugar um sentido para quem o produziu e o recebeu. Esse sentido está expresso nos mais 
variados gêneros e formas textuais que, em última análise, revelam o tipo de diálogo entre o autor e 
a sociedade de seu tempo. De acordo com A Robert (p.128), “os gêneros literários não são 
criações arbitrárias dos autores, são fenômenos sociais”. A Crítica literária é um convite ao 
conhecimento do autor e de sua época através do jeito como ele escreveu. 
 
 A Crítica literária introduz mais tarde a Crítica das formas, cujo estudo não incide tanto sobre 
a palavra (versículo), ou ainda sobre o conjunto literário escrito. Não se vê mais a idéia do autor 
numa peça literária, mas um estado social, uma psicologia coletiva, um desenvolvimento histórico 
como reação do pensamento diante das condições de vida (contexto vital). 
 5
2.1 – Os Gêneros literários no Antigo Oriente 
 
 Durante muito tempo, para estudar a literatura hebraica, foi utilizada para comparação, a 
literatura grega, cujas formas de pensamento diferem bastante da estrutura antropológica dos 
israelitas antigos. Com as descobertas arqueológicas a partir do Século XVIII, grandes blocos de 
literatura oriundos da Mesopotâmia e do Egito foram encontrados, trazendo à luz uma grande 
quantidade de gêneros literários que possuem muita familiaridade com os que temos no AT. Eis 
alguns exemplos: 
 
2.1.1 – Na Mesopotâmia : 
 
• Recibos, documentos econômicos, recenseamentos. 
• Documentos jurídicos: contratos de aluguel, venda, adoção, coleções de leis. 
• Cartas oficiais e particulares, listas de sinais e listas de palavras para amanuenses. 
• Textos astrológicos, astronômicos e matemáticos. 
• Rituais de sacerdotes (diversas categorias de sacerdotes) e magos. 
• Narrativas míticas: condição do ser humano e sua relação com a divindade. 
• Inscrições com os feitos dos reis, campanhas militares. 
• Textos proféticos. 
 
2.1.2 – No Egito: 
 
• Textos de poesia amorosa (Papiro Chester Beatty). 
• Gênero científico: textos astronômicos, matemáticos e literatura médica. 
• Literatura dos mortos, que se subdivide em : textos das pirâmides, textos dos sarcófagos 
(Médio império), Livro dos mortos (Novo Império), guias para o além (Livro das portas). 
• Ensinamentos teológicos, hinos, rituais e mitos. 
• Textos de sabedoria: ensinamentos atribuídos a tal rei; escritos de tendência política; 
histórias divinas, contos e fábulas. 
• Escritos históricos: anais com conquistas dos faraós, novelas, autobiografias. 
 
2.1.3 – Na Síria e Fenícia : 
 
• Epopéia mitológica: textos sobre El, Baal e Anat. 
• Listas de divindades e sacrifícios que se devem oferecer. 
• Cartas, documentos diplomáticos, inventários. 
 
2.2 – Israel e o Antigo Oriente 
 
 Apesar das grandes semelhanças entre os gêneros literários (ou textuais) dos povos 
vizinhos com os de Israel, não se pode reduzira literatura israelita à dos povos do Antigo Oriente. 
Primeiro, porque o AT, antes de ser escrito, foi enraizado numa tradição oral muito viva. Segundo, 
porque Israel adaptou gêneros para as suas necessidades didático-religiosas, assumindo 
características próprias. O gênero apocalíptico é um bom exemplo (Daniel). Os primeiros 11 
capítulos de Gênesis utilizam uma “linguagem mítica” com essência anti-mítica. 
 
2.3 – Os Gêneros Literários do AT 
 
2.3.1 – Gêneros poéticos 
 
2.3.1.1 Sátira. Nm. 21:27-31 é uma sátira com ironia, que era contada para zombar de outras 
nações. As vezes não é compreensível devido a entonação da voz enfatizar a ironia, e como lemos 
o texto escrito as vezes não percebemos. Is. 47:1-15 é um texto escrito no período do exílio, canta 
músicas satíricas contra a opressão. Sl. 137:8,9 também é ironia. Não quer dizer que a pessoa está 
com raiva. 
 
 6
2.3.1.2 Cânticos de Trabalhadores. Cânticos dos trabalhadores a fim de aliviar os sofrimentos e 
relembrar a promessa de dias melhores. Como exemplo: Nm. 21:17-18 e Ne. 4:10-11 
(quando da construção dos muros). 
 
2.3.1.3 Canções de Amor. Todo o livro de cânticos esta repleto de canções de amor (peças de 
amor). 
 
2.3.1.4 Cânticos de Funeral. Cânticos entoados em momentos fúnebres. Exemplo: II Sm. 1:17-27; II 
Sm. 3:33-34. 
 
2.3.1.5 Cânticos de Guerra. I Sm. 17:7; II Rs. 13:17. 
 
2.3.1.6 Cânticos Maternais. Gn. 21:6,7. 
 
2.3.1.7 Cânticos Paternais. Gn. 27:28,29;39-40, Gn. 9:26-27 
 
2.3.1.8 Paralelismos: 
 
Sinonímico: Simples repetição da mesma idéia com a utilização de termos sinônimos. Ex: Sl.21:3; 
26:2; Pv.5:1; 7:1; 
Antitético: Dois termos se correspondem parcialmente numa relação de oposição e de constraste. 
Ex: Sl.1:6; Pv.10:1; 11:1; 
Sintético: Efeito produzido por um período de 2 ou 3 membros dos quais o primeiro anuncia e 
espera o seguinte (complemento). Ex.Sl.19:7-9. 
 
 2.3.2 – Literatura de Sabedoria 
 
2.3.2.1 Gêneros Populares através dos provérbios oriundos da observação, sabedoria dos 
simples/popular; 
 
2.3.2.2 Enigma. Proposição em termos obscuros para confundir. Jz. 14:12-14; 
 
2.3.2.3 Parábola. II Sm. 12:1-4. 
 
2.3.2.4 Fabula. Texto alegórico com personagens imaginários (animais/vegetais) de onde se tira 
uma lição. Jz. 9:7-15; 
 
2.3.2.5 Alegoria. União de várias metáforas numa história. Sl. 80:7-19 (alegoria do êxodo), Pv. 
Capítulo 9. 
 
2.3.3 – Prosa 
 
 2.3.3.1 Nomística – Leis 
 
• Normas de vida através de sentenças apodíticas: decálogo (não matarás, não furtarás). Lei 
proibitiva que expressa uma forte proibição. Lv. 18:7-16 (leis casuísticas e apodíticas); 
• Normas de vida ou sentenças casuísticas, leis que vêm amparadas por uma razão, uma 
justificativa para normatizar. Existe uma razão para a criação da lei. 
• Axiomas legais e princípios jurídicos utilizados principalmente para administração da justiça. 
Ex. 21:24; Gn. 9:6 (origina-se da morte de Abel); Dt. 21:7 (representa o surgimento de um 
fato que não estava prevista em lei). 
 
2.3.3.2 – Etiologias . Do grego “ethios” = causa. São as histórias antigas contadas com o objetivo 
de se legitimar determinadas situações. Gn. 9:20-29, a etiologia esta legitimando a supremacia de 
Israel ao de Canaã, pelo fato de Cão ter visto a nudez do pai, e Sem (pai de Israel) ter coberto Noé 
de costa; Ex. 4:24-26, etiologia da circuncisão; etiologia dos direitos das filhas herdadas Nm. 27; 
profanação do sábado Nm. 15:32-36; lei de consagração dos primogênitos Ex. 13:8,14-15. 
Circuncisão: Ex. 4:22-26 serve para mostrar a importância da circuncisão, com Moises (o 
legislador) quase sendo morto por não cumprir o mandato de Deus. Este texto é quase que 
 7
“forçado” a entrar no contexto, não há nenhuma conexão com textos anteriores. No estudo das 
religiões comparadas (antropológico), a circuncisão é a humanização do sacrifício, pois com uma 
pequena quantidade de sangue o indivíduo/criança era consagrado. Do ponto de vista teológico, é 
a forma de entrada para o “povo de Deus”, assim como o batismo é a porta de entrada na Igreja. 
Do ponto de vista médico/preventivo também é algo salutar, pois evita a proliferação de doenças 
sexualmente transmissíveis. 
 
2.3.3.3 – Sagas - São histórias das origens e das conquistas de um povo a partir da conquista de 
um herói com o qual o escritor e sua comunidade têm relação especial. Geralmente vêm 
acompanhadas com manifestações especiais de Deus (epifanias, teofanias) Gn. 12, Ex. 13, Js. 1. 
Deus se apresenta à estas pessoas de uma forma especial. Não tem nada haver com narrativa 
mítica. 
 
2.3.3.4 - Mitos ou Narrativa Mítica. São histórias de deuses, ao contrário das sagas, cujo 
protagonista são os seres humanos. Nestes relatos menciona-se o drama dos deuses com o fim 
ultimo de por em relevo uma condição humana. O homem antigo não tinha respostas para vários 
fatores, vários problemas cotidianos da vida humana, como: morte, nascimento, catástrofes 
naturais (inundações, terremotos, etc). Eles não tinham respostas para estas questões a não ser o 
drama dos deuses. Os deuses é quem matam, os deuses é quem dão a vida, os deuses é quem 
mandam as tempestades, etc. Na perspectiva de alguns teólogos, a bíblia não contém mitos, pois 
não usa o joguete dos deuses contra o homem, mas usa uma linguagem mítica contra o mito. É 
uma linguagem ética, moral que valoriza o homem. 
 
2.3.3.5 – Novela - É um conto que descreve o destino de um indivíduo dentro de um acontecimento 
de caráter universal, da maneira como o mesmo possa vir a ocorrer. Nela o ser humano é retratado 
de forma realista, com todas as suas paixões e desejos, bem como suas lutas, cujo objetivo final é 
o de tornar o destino em justiça, após a iminência do fracasso do personagem principal; ocorre 
sempre um final positivo. Exemplo: Jó, José. Rute, Sansão. 
 
2.3.3.6 - Outros exemplos: Anais (II Rs 21:25-26)., Listas Genealógicas (I Cr.1-9), Cartas (Esd.4:11-
16,17-22), Contratos (I Sm.8:11-17; I Rs.5:22-23).. 
 
 
 III – CRÍTICA DAS FORMAS 
 
3.1 - Princípios da escola 
 
Desde 1895, com o conhecimento dos textos mesopotâmicos e ugaríticos do Antigo Oriente, 
bem como a popularização da Teoria documentária do Pentatêuco, uma nova escola de 
interpretação vinha surgindo. Essa escola partia do princípio que não há na narrativa do Pentatêuco 
nada que seja uma composição livre e autônoma do escritor sacerdotal, mas que este é tributário 
de um passado, de uma história literária, recebida por empréstimo na medida em que Israel se 
adaptou à religião da natureza própria de Canaã. Surgia assim a Escola das Formas, como um 
desenvolvimento da Crítica literária. Um dos mais importantes expoentes da escola foi Gehard Von 
Rad. A seguir, outros princípios da escola: 
 
• O estudo da crítica das formas não incide tanto sobre a palavra ou versículo, quanto sobre a 
unidade literária, a estrutura e o sentido de um trecho. Não se vê o texto como uma peça 
literária, a idéia própria do autor, mas as implicações que dele se podem apreender de um 
estado social, de uma psicologia coletiva, de um desenvolvimento histórico. O texto seria 
então uma reação do pensamento coletivo diante das condições de vida (sitz im leben). 
• A escola das formas utiliza o método comparativo sem reduzir a literatura de Israel às outras 
literaturas, mas procurando os gêneros literários utilizados pelos autores bíblicos. 
• A escola não é arreligiosa e nem incrédula, mas instala-se num ambiente acadêmico e 
intelectual não afeito à leitura devocional. Sem negar o sobrenatural em princípio, os 
métodos que a escola utiliza não a permitem prova-lo, pois seriam necessários outros 
critérios. Entretanto, os próprios teólogos como Günkel, 1904, reconhecem que não se pode 
estudar o Antigo Testamento sem levar em conta aspectos da fé em Deus peculiares a 
Israel que a secularização e o próprio cristianismo não conseguem abarcar. 
 8
 
3.2 – Formas Fixas 
 
3.2.1 – Alguns exemplos contemporâneos: 
 
3.2.1.1 – Boletim metereológico: “tempo bom... comnebulosidade...sujeito à 
instabilidade...temperatura instável...temperatura em elevação...” Esse jeito de transmitir as 
condições do tempo não reflete uma posição particular ou emotiva, mas aquilo que regularmente se 
vê dos cientistas do tempo através dos meios de comunicação. 
3.2.1.2 – Cartas, memorandos, etc: “Os protestos de meu profundo respeito....”, “Cordiais 
saudações”, “com a minha mais profunda gratidão...”, “beijos e abraços”. 
3.2.1.3 – Anúncio fúnebre: “Profundamente consternados...cumprem o doloroso dever”, “o féretro 
sairá da capela....”. 
 
 
3.3 – Conceito de intenção do discurso 
 
3.3.1 – Como foi visto anteriormente, não existe uma idéia genuinamente particular por trás das 
fórmulas, mas um sistema maior que revela uma intenção também maior do discurso, entrevista na 
situação de vida da comunidade que produz o texto. 
 
 3.3.2 – Exemplos do cotidiano – Na pergunta “como vai você? “ aparece a resposta “vou bem, 
obrigado”. Observemos que nem sempre se pretende dar uma informação real através do conjunto 
pergunta/resposta, mas em nossa sociedade trata-se de uma maneira de estabelecer um canal de 
comunicação com o outro. A pessoa responde “vou bem, obrigado”, mesmo que não esteja bem, o 
que não quer dizer que esteja mentindo, mas que está sinalizando positivamente para o outro. É 
como se estivesse dizendo: “estou disposto a estabelecer uma comunicação com você”. Um outro 
bom exemplo é a expressão “eu te amo”, que traz, não uma linguagem informativa, mas uma 
linguagem com intenção íntima, afetiva. Ninguém responde a essa pergunta, dizendo: “pois não, 
está bem”. 
 
 
 3.3.3 - Em 1930 pela primeira vez falou-se neste conceito, com a obra “formas simples” de André 
Joles. Joles percebeu que existem formas fixas para diversos gêneros narrativos no Antigo 
Testamento, tais como sagas, lendas, enigmas, cânticos (ou cantos), etc. O conceito de formas 
fixas nos levará ao conceito do “sitz im leben” (situação na vida), termo utilizado por Hermann 
Gunkel para descrever o ambiente formador do texto. Sobre isso estudaremos a seguir. Dentre os 
exemplos de formas fixas separamos um, o dos cantos invitatoriais (cânticos de convite de 
adoração), tipificados nos Salmos 33, 29, 149, 150, dentre outros. 
 
3.3.4 - Cantos Invitatoriais: Salmos 33, 29, 149, 150 (tributai, cantai, louvai, etc). Em sua forma 
possui a seguinte estrutura: 
 
3.3.4.1 – Começa com um convite para louvar a Deus; 
3.3.4.2 – Fundamentação do louvor nos atos salvíficos de Deus, os quais são enumerados. 
3.3.4.3 – Conclusão, através de um voto ou súplica. 
 
3.3.5 - A pergunta que aparece aqui é: em que ocasião um canto invitatorial era “praticado”? A 
resposta vem das seguintes observações: 
 
 3.3.5.1 – Quase nunca se convida o “indivíduo” a louvar ao Senhor, mas na maioria dos 
cânticos o convite é dirigido à “Assembléia” (Sl.149:1) 
 3.3.5.2 – Como é evidente, os hinos não eram recitados, mas cantados (Sl.98). 
 3.3.5.3 – Não se trata de um canto “a capella”, mas com o acompanhamento de 
instrumentos musicais (Sl.150:3-4). 
 3.3.5.4 – Os hinos não eram entoados em qualquer lugar, mas no templo (Sl.150:1). Define-
se aqui o “sitz im leben” desses cantos. 
 
 
 9
3.3.6 – Outro exemplo de “sitz im leben” - Muitos Salmos falam estranhamente de homens que 
acusam perversamente o inocente, que o perseguem e o procuram matar. Por quê este tema 
desempenha um papel tão importante nesses salmos? É porque em Israel, quando se tratava de 
causas particularmente difíceis que um juiz ordinário não conseguia decidir, procurava-se o 
santuário central e se pedia ao sacerdote que proferisse um oráculo divino e liturgicamente cantava 
o salmo diante do sacerdote. Exempls: Sl.7:1-9; 73:16-17; 
 
3.3.7 – Isaías 14:1-23 – Uma elegia (escárnio) – Trata-se de um pequeno poema consagrado ao 
luto ou à tristeza. Ver os versos 9-11 e 15. 
 
 
 
 
IV – CRÍTICA HISTÓRICA 
 
 
 O estudo da crítica literária e da crítica das formas nos aproxima de uma espécie de 
psicologia social oriunda do ambiente produtor dos textos bíblicos, revelando sintomas deste 
ambiente, quais sejam suas práticas litúrgicas e suas formas de falar sobre a fé judaica. Entretanto 
isto não é suficiente para compreendermos o texto. É necessário situa-lo em seu meio histórico, 
pois o texto não é fruto de uma mente inócua e vazia. Encontra-se enraizado profundamente no 
meio em que nasceu. Eis aqui o grande desafio de compreendermos a literatura apocalíptica, por 
vezes tão enigmática, mas enraizada num tempo e local separados de nosso tempo e local por um 
grande hiato de silêncio histórico. 
 
 Compete pois ao exegeta precisar as circunstâncias em que foi composto o texto. Quanto 
mais ele as conhece, mais se torna apto para entrar no ponto de vista do autor. Precisar as 
circunstâncias significa conhecer o lugar, a época e o meio social em que o texto surgiu: 
 
4.1 – Componentes do meio social: 
 
4.1.1 - Situação Política – Situações de anfictionia ou de monarquia; a existência de uma 
monarquia em Israel como cópia de modelos dos povos vizinhos; A existência do estado nem 
sempre independente e unificado; As relações de vassalagem e de suzerania entre Israel e os 
demais povos. 
 
4.1.2 - Situação Econômica - Questões como os meios de produção; fatores naturais que 
prejudicaram a produção (estiagem, seca, terremotos, etc.); ambiente nômade ou sedentário? 
Rebanhos e culturas agrícolas; servidão e latifúndios. 
 
4.1.3 - Situação Social - Questões relacionadas ao casamento, mulheres, filhos, desenvolvimento 
da família, concepções sobre o homem e a mulher. 
 
4.1.4 - Mentalidade do tempo e as correntes de pensamento - A evolução sócio-econômica leva 
Israel a encarar novos problemas e a legislar sobre eles, definindo-se sempre como povo de Deus, 
por exemplo, se a questão do repouso semanal do “shabbat” teve pouca atenção no deserto, 
ganhou sentido quando o povo israelita se tornou agricultor, tendo que refletir sobre a maneira de 
se fazer “respirar o servo e a serva”. Um outro exemplo é a orientação das matizes teológicas 
oriundas do contato de Israel com outras nações. Depois do exílio uma corrente mais nacionalista 
se esmera em fazer valer a eleição divina de Israel nos termos exclusivistas; outra corrente, mais 
universalista, volta-se para a tarefa missionária orientada para a salvação das nações. 
 
 
 
 
 
 
 10
 
V - CONSIDERAÇÕES PARA UMA EXEGESE DO ANTIGO TESTAM ENTO 
 
5.1 O primeiro aspecto que o exegeta bíblico deve levar em consideração na tarefa de leitura do 
Antigo Testamento é que, diferente de outras disciplinas, essa leitura deve passar 
primeiramente pela dependência da revelação e da inspiração. A inspiração é o processo pelo 
qual “Deus dá” a palavra e a revelação é a forma ou instituição pela qual o ser humano 
corporifica o que recebeu de Deus. Pela revelação entendemos que uma palavra de Deus que 
assumiu formas, tipos e instituições dentro de uma determinada época ou contexto, subsiste 
independente dessas formas, tipos ou instituições, podendo assim falar às pessoas de todas as 
épocas e de todas as culturas (Is.40:8). Na inspiração, compreende-se que Deus é o 
“autorizador” (soprador) da palavra, oriunda dele, à qual o homem não pode resistir (Jr.20:10), 
tornando-se assim o texto enquanto “palavra” no seu sentido mais amplo, e não a letra do texto, 
como projeto do coração de Deus e não do homem (II Pd.1:16-21). Contrariando a doutrina do 
ditado verbal, aquilo que se chama de “letra” é, na verdade, a personalidade literária do texto, 
donde se concebe que na autoria da Bíblia Deus e o homem trabalham, não um ao lado do 
outro, mas “um dentro do outro”. No dizer de A C Fairbaind (Christ in Modern Theology), Deus 
inspira e o homem revela. 
 
5.2 Partindo do ponto de vista da inspiração das Escrituras, deve-se considerar que um texto não 
foi escrito para não dizer nada. Assim, se alguém quer compreender o que a palavra de Deus 
quer falar (revelação), deve primeiramente buscar o sentidodela para quem a escreveu e 
interagiu com ela, ou seja, o autor humano e seu tempo. 
 
5.3 Partindo do ponto de vista da revelação, deve-se considerar que Deus também está revelado 
nas Escrituras, visto que antes de tudo Deus se revelou na criação, donde se conclui que a 
criação revela Deus. Assim, o Deus revelado na palavra e “palavra reveladora” está concebida 
em formas, tipos ou instituições que são, na verdade, os diversos gêneros literários, marcas 
indeléveis da presença histórica do autor humano, os quais estão intrinsecamente ligados ao 
ambiente histórico de produção do texto, sendo este último, por sua vez, escritura-forma, 
escritura-instituição do agir e do falar de Deus. 
 
5.4 Considerando-se o disposto nos itens anteriores, proponho aqui um caminho de exegese do 
texto do Antigo Testamento que deva procurar “expor” os seguintes tópicos: 
 
5.4.1 – O que o texto falou para a comunidade de fé que o recebeu e/ou o produziu? 
5.4.2 – O que o texto falou para a comunidade do Novo Testamento (Jesus, os discípulos e a 
igreja primitiva) – “Releitura 1. 
5.4.3 - Em função dos dois primeiros caminhos, o que o texto fala para a minha vida e para a 
minha comunidade de fé? Releitura 2. 
 
Estas três fases possuem etapas distintas na análise textual, cujo método mais próximo daquilo 
que propomos é o método indutivo, o qual será aplicado através de perguntas feitas dentro de 
cada uma das fases, conforme sistematizado abaixo: 
 
 
5.4.1 – O que o texto falou para a comunidade de fé que o recebeu e/ou o produziu ? 
 
5.4.1.1 – Como Deus é apresentado no texto ? Quem é Deus no texto ? 
 
• Que aspectos da cultura religiosa hebraica (ou seja, a idéia de Deus) são comuns a outras 
culturas circunvizinhas (guerra santa, anátema, relação culpa-punição, etc) ? 
• Que aspectos, atributos ou qualidades de Deus são novos, exclusivos do texto bíblico e 
elevados em relação às culturas religiosas circunvizinhas ? 
 
5.4.1.2 – Quem é o ser humano no texto ? 
 
• Que aspectos da natureza humana posso localizar no texto, quais sejam sua condição, seus 
dramas, sua finitude, seus defeitos, suas virtudes, suas fraquezas ? 
 11
5.4.2 – O que o texto falou para a comunidade do Novo Testamento ( Jesus, os discípulos e a 
igreja primitiva ) – “Releitura 1” 
 
5.4.2.1 – Que tipo de “releitura” Jesus Cristo fez do texto? Que adequação ou referência fez 
dele? 
 
5.4.2.2 – Que formas hermenêuticas o texto assumiu no Novo Testamento pela inferência dos 
evangelhos, das cartas paulinas e gerais, bem como dos Atos dos Apóstolos e do Apocalipse 
de João (tipologias, alegorias) ? 
 
5.4.2.3 – Que aspectos de Deus no Antigo Testamento são revelados na pessoa de Jesus 
Cristo? 
 
 
5.4.3 – Em função dos dois primeiros caminhos, o que o texto fala para a minha vida e para a 
minha comunidade de fé ? – “Releitura 2” 
 
 
5.4.3.1– Com que aspectos resgatados do homem do Antigo Testamento me identifico? 
 
5.4.3.2 – O que eu não consigo entender no texto? Que dúvidas me são levantadas? 
 
• Divergências na leitura comparativa entre duas ou mais traduções. 
• Termos hebraicos transliterados ou de difícil tradução. 
• Idéias que contrariam uma determinada lógica (por exemplo, como Caim conseguiu uma 
esposa em Gn.4 ou por quê Deus quis matar Moisés em Ex.4 ? ) ou ainda algumas 
incongruências morais quando comparadas aos nossos padrões éticos (por exemplo, a 
poligamia no AT e em Jesus, leis específicas para uma cultura sedentária, adequação do 
povo de Deus às práticas idólatras que envolviam inclusive sacrifícios humanos, etc) . 
 
5.4.3.3 – Que aspectos de Deus válidos no AT e repassados em Jesus Cristo falam ao homem 
moderno? 
 
5.4.3.4 – A que me sinto impelido a fazer pela leitura do texto? Que releitura é possível à minha 
comunidade? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 ALGUNS PRINCÍPIOS IMPORTANTES NO INÍCIO DO ESTUDO 
BÍBLICO 
 
 
1) LEIA O TEXTO VARIAS VEZES. 
 
2) LEIA O TEXTO EM 3 VERSOES DIFERENTES, NO MINIMO. 
 
3) DIVIDA O TEXTO EM BLOCOS PARA FACILITAR O SEU 
TRABALHO. 
 
4) OBSERVE O CONTEXTO (BLOCOS QUE VÊM ANTES E DEPOIS DO 
TEXTO) PARA AVERIGUAR ALGUMA RELAÇÃO. 
 12
VI - ESTUDO BÍBLICO INDUTIVO 
 
 
 Estudar a Bíblia é mais que ler a Bíblia. Muitas vezes quem apenas lê a Bíblia busca 
nessa simples leitura uma palavra de Deus para atender às suas necessidades, ou seja, quero 
dizer que a simples leitura da Bíblia pode ser feita a partir de problemas que eu quero resolver 
buscando nos textos respostas, muitas delas criativas e alegóricas, mas sem consistência. Nasce 
assim a leitura devocional, aquela que parte diretamente para a aplicação do texto e que é 
essencial para alimentar a vida do cristão, pois fala diretamente à alma. Outras pessoas podem ler 
a Bíblia pelo simples exercício da curiosidade histórica, científica. Entretanto, o estudo bíblico parte 
do princípio que eu preciso ler o texto e descobrir nele o que Deus quer falar me colocando à 
disposição para poder aprender coisas que a simples leitura não me revelava. Mas, é sempre bom 
lembrar que em qualquer situação, seja na leitura ou seja, no estudo, a pessoa precisa da 
iluminação do Espírito Santo de Deus para poder compreender o que Ele quer para sua vida. 
Proponho aqui uma das formas do método indutivo como parte de minha colaboração no capítulo V 
para o livro do Dr. Jilton Morais, “Homilética – Da Pesquisa ao Púlpito”, lançado em maio de 2000 
no Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil. Através de perguntas feitas ao texto, o método 
“induz” o estudante a entender o que o texto quer dizer para ele hoje. Contém 3 fases, a saber, a 
fase de observação, a fase de interpretação e a fase de aplicação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OBS: Com base no modelo fornecido pelo professor, u tilize o esquema acima na leitura 
do texto do Salmo 51 
 
 
 FASE DE OBSERVAÇÃO 
 
QUE? QUANDO? ONDE? 
 
 COMO? AONDE? 
 QUANTO? 
 FASE DE INTERPRETAÇÃO 
 
POR QUÊ? O QUE 
SIGNIFICA? PARA QUE? 
 FASE DE APLICAÇÃO 
 
NESSA FASE AS PERGUNTAS NÃO TÊM 
FORMA DEFINIDA. ELAS VISAM 
SIMPLESMENTE CONFRONTAR O QUE O 
TEXTO SIGNIFICOU PARA A COMUNIDADE 
DA ERA BÍBLICA E O QUE ELE SIGNIFICA 
PARA MIM EM TERMOS PRÁTICOS. 
 13
 
VII - ESTUDO BÍBLICO INDUTIVO RÁPIDO – E.B.I.R. 
 
 O Estudo Bíblico é uma técnica de leitura da Bíblia que reúne ao mesmo tempo 
interpretação e exposição do texto bíblico. Ótimo para pequenos grupos ou células. O 
modelo que propomos abaixo é chamado de “indutivo”, pois através das perguntas feitas ao 
texto o próprio estudante, leigo ou não, vai sendo convencido pelo que a Palavra de Deus 
propõe. É rápido porque visa atender as necessidades de grupos que não dispõem de muito 
tempo para estudar a Bíblia. Por exemplo, grupos de estudantes no intervalo das aulas ou 
mesmo no final delas; grupos de profissionais que aproveitam o horário da refeição, entre 
outros. A disposição do estudo através dos símbolos facilita a sua compreensão e a sua 
aplicação. 
 
 PASSOS PARA O EBIR 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. O QUE EU NÃO CONSIGO ENTENDER NO TEXTO. 
 
6. QUE PALAVRAS OU IDÉIAS SÃO DIFÍCEIS? 
 
7. QUE DÚVIDAS O TEXTO ME DEIXA ? 
 
8. QUAIS AS NOVIDADES QUE O TEXTO ME TRAZ? 
 
9. QUE LIÇÕES CONSIGO TIRAR DO TEXTO? 
 
10. ALGO QUE PERCEBO NO TEXTO E QUE ANTES NÃO PERCEBIA. 
11. O QUE O TEXTO ME IMPELE A FAZER? 
 
12. QUE DESAFIOS O TEXTO ME APRESENTA? 
 
13. QUE CAMINHOS DEVO SEGUIR APÓS O ESTUDO DO TEXTO ? 
3. O QUE O TEXTO FALA SOBRE O SER HUMANO? 
 
4. QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DA NATUREZA HUMANA NO 
TEXTO? 
1. O QUE O TEXTO FALA SOBRE DEUS? QUEM É DEUS NO TEXTO? 
 
2. O QUE POSSO APRENDER SOBRE JESUS CRISTO NO TEXTO ? 
OBS: Exercite o modelo acima na leitura do texto de Isaías 6:1-13 
 14
 
VIII - EXEGESE PELA VIA SEMÂNTICA – GÊNESIS 2:18 
 
8.1 - TEXTO HEBRAICO: 
 
 . /Dg]n<K] rz<[e /lAhc,[>a, /Db''l] !d;a;h; t/yh> b/fAalo !yhiloa> hw''hy ]rm,aYow '' 
 
8.2 - ANÁLISE MORFOLÓGICAE SEMÂNTICA DOS TERMOS: 
 
rm,aYow '' - Waw consecutivo com o imperfeito da 3ª pessoa do masculino singular do verbo 
rma ”ele disse” , sendo ao pé-da-letra “e ele dirá” , mas pela influência do waw consecutivo, “E 
ele disse” . 
 
!yhiloa> hw''hy ] - ”Y’haweh Deus” , traduzido por Almeida por “Senhor Deus”, devido ao costume 
judaico de não pronunciar o nome de Deus, para não levá-lo “em vão” . O termo “Deus” 
!yhla está no plural, mas, em virtude da apropriação do nome pelos antigos judeus diante do 
confronto com os “deuses” dos povos, contribuiu para formar a consciência monoteísta e da 
soberania de Deus, significando agora a sua majestade “plural” ou seja, num linguajar coloquial o 
Deus de Israel é um Deus que vale por todos os “deuses”. 
 
b/fAalo - ”Não-bom” , separado por um maqqef , o que torna as duas palavras numa só . 
 
t/yh> - ”Estar”, “ser”, “haver” - Infinitivo do verbo hyh . Em hebraico os verbos geralmente 
expressam uma condição de ser, um estado satisfeito plenamente (Perfeito) ou em vias de 
realização (Imperfeito). 
 
!d;a;h; - Artigo definido h mais a expressão !da ”homem”, no sentido de “ser humano” e 
nunca no sentido de “sexo masculino” . 
 
/Db''l] - Advérbio dbl “somente” mais o sufixo pronominal da terceira pessoa masculino 
singular / “ele” ou “dele” (seu) . O radical db significa “parte”, “fatia” . Traduções corretas 
seriam “ele só” ou “somente ele” . 
 
/lAhc,[>a, - ”Eu farei para ele” – Frase resultante de duas expressões conjugadas por um 
maqqef, tornando as duas totalmente integradas num só conceito. hc[a É o verbo 
hc[ (Ele fez, ele manufaturou) , conjugado no imperfeito da 1ª pessoa do singular e /l é 
resultante da abreviação da preposição la tornando-se em l mais / , o sufixo pronominal da 3a 
pessoa masculino singular. 
 
rz<[e - ”ajudador(a)” , “socorredor(a)”, ou com mais propriedade “ajuda” ou “socorro”. O termo é 
genérico e é utilizado para alguém que vem em “auxílio de”. Aparece no Salmo 121:1-2 atribuído ao 
Senhor Deus : “Elevo os meus olhos para os montes; de onde me virá o socorro ? o meu socorro 
vem do Senhor, que fez os céus e a terra”. 
 
/Dg]n,K] - Termo resultante da agregação de 3 palavras : Primeiro k que é resultante da 
abreviação da preposição wmk (“como” ou “de acordo com”) ; Segundo dgn que significa “oposto 
 15
a”, “do outro lado”, “diante”, “em contraposição”, “correspondente”; Terceiro w que é o sufixo 
pronominal da terceira pessoa masculino singular. Uma tradução possível é “como que diante 
dele”, dando à idéia de alguém que lhe seja par, confrontando-lhe, cara a cara, em condições de 
igualdade. 
 
8.3 - TRADUÇÃO AO PÉ-DA-LETRA: 
 
“E disse Y’haweh Deus: Não é bom estar (ser) o ser humano somente ele; eu farei para ele um 
socorro como diante (do outro lado) dele “. 
 
8.4 - TRADUÇÃO TRABALHADA: 
 
“E disse o Senhor Deus: Não é bom o homem estar só. Far-lhe-ei um(a) ajudador(a) que 
esteja diante dele “. 
 
8.5 - COMENTÁRIO: 
 
8.6.1 “Não é bom o homem estar só” – É interessante que quem descobre a solidão do ser humano 
não é o próprio ser humano, mas Deus. Vemos aqui um dos motivos porque Deus criou o homem à 
sua imagem e semelhança. Num primeiro momento a criação do homem pode significar que Deus 
mesmo quis se ver no ser humano, mas ele sabe que o ser humano precisará viver não apenas no 
nível de “adoração” , mas também de “comunhão” (horizontal e verticalmente). 
 
8.6.2 “...far-lhe-ei um(a) ajudador(a) ...” – Na narrativa javista, quando Deus viu que não era bom 
para o ser humano estar sozinho, ele não decidiu logo criar uma “fêmea” ou “mulher”, mas alguém 
parecido com o ADAM para que ficasse defronte dele, numa situação de “auxílio” , “socorro” , ou 
seja, para dar sentido ao ADAM. Sozinho, o ser humano não é completo. O verso 19 revela que o 
primeiro método de Deus para resolver esse problema não foi formando a mulher, mas, modelando 
com o barro todos os animais domésticos e selvagens, fazendo-os passar diante do ADAM para 
que este, ao dar-lhes nomes, os conceituasse para si mesmo. O verso 20 mostra que apesar de 
todo o esforço do homem, este não conseguia encontrar alguém parecido com ele. É então que 
Deus decide criar alguém que seja parte do próprio ADAM, de sua própria carne e osso, a mulher, 
fêmea que lhe completa e lhe dá sentido. A maneira como muitos têm usado o termo “ajudador(a)” 
com relação à mulher é, por demais, depreciativa, dando um sentido que a mulher é subalterna, por 
ser ajudadora do homem. Na verdade, quem socorre, como o Senhor no Salmo 121, está, na 
maioria das vezes, em situação de força em relação a quem é auxiliado. 
 
8.6.3 “Diante dele” – A situação original da mulher é de paridade, de estar do outro lado do homem, 
diante dele, como espelho e como esteio. Sem ela o homem é simplesmente “ser humano só” , mas 
nunca um vyai ”homem” , nunca inferior nem superior à sua mulher, a qual nunca lhe é superior ou 
inferior. Essa situação só foi alterada pela queda do ser humano em Gênesis 3:12-19, quando 
todos os elementos envolvidos na desobediência receberam conseqüências nefastas para suas 
vidas. 
 
8.7-TESE: A criação do ser humano, como maravilhoso dom de Deus permite ao homem viver em 
plena harmonia com o seu Criador e com o seu próximo, numa relação de comunhão e de 
interação. O pecado destrói essa condição imprimindo ao homem o desejo de ser Deus e de estar 
acima do outro, tornando-se senhor deste, mas trazendo conseqüências de desintegração do ser 
em relação a Deus e em relação ao seu próximo. 
 
8.8-RELEITURA 1 - O NOVO TESTAMENTO – Do que se pode extrair do contexto (vv.22-24), onde 
o “Adam” (ser humano) encontra a sua realização plena na condição de homem e mulher, unidos 
pela experiência conjugal, percebe-se na leitura do Novo Testamento uma convergência para esse 
princípio. Jesus criticou duramente a interpretação casuística do divórcio (Mt.19 comparado a 
Deut.24) que em seu tempo era manipulado pelos interesses dos escribas e fariseus, 
principalmente na atenuante do famoso rabino Hillel. Alude ao texto do Gênesis colocando a 
 16
dignidade da mulher no topo a partir do ponto de vista da responsabilidade mútua da manutenção 
da relação conjugal. Paulo, em Efésios 5:31, lembra o aspecto da moral doméstica e do grande 
amor que o marido deve Ter para com sua esposa como paradigma para o mistério do amor de 
Cristo para com a sua igreja. O mesmo Paulo em I Coríntios 6:16 usa o texto de Gênesis para 
alertar os crentes contra a prostituição pois quem se prostitui torna-se em uma só carne com a 
prostituta. Observa-se ainda uma influência que Paulo recebeu da tradição rabínica no que diz 
respeito à primazia do homem em relação à mulher pelo fato dela Ter sido formada a partir do 
Adam, principalmente nas orientações para que as mulheres não utilizassem a palavra de 
autoridade sobre o homem ( I Coríntios 11:8-9 e I Timóteo 2:13). 
 
8.9-RELEITURA 2 – O TEMPO QUE SE CHAMA “HOJE” – O texto de Gênesis 2:18 tem sido 
utilizado de forma ingênua e, muitas vezes, preconceituosa. Alega-se que a mulher é “ajudadora” 
do marido no sentido pejorativo, ou seja, como se fosse inferior a ele. A exegese do texto mostrou o 
elevado papel da criação da mulher. O “Adam” só se tornou verdadeiramente homem na medida 
em que Deus colocou em sua frente alguém parecido com ele pois dele fora tirado, redimindo-o 
assim de sua situação de “ser só” . Foi o pecado quem quebrou essa relação de harmonia, 
ensinando ao homem o querer estar acima do outro, como se Deus fosse. Num tempo onde ainda 
se alude a Efésios 5:22 com fins puramente machistas, bem que poder-se-ia ler o versículo 21 
desse mesmo capítulo onde a submissão é um ato mútuo e motivado pelo amor. 
 
 
 IX - EXEGESE PELA VIA SEMÂNTICA – PROVÉRBIOS 31:10a 
 
9.1 – TEXTO HEBRAICO: 
ax=;Jm]yI ymi lyIj' tv,ae= 
 
9.2 - ANÁLISE MORFOLÓGICA E SEMÂNTICA DOS TERMOS: 
 
tv,ae= - ”Mulher de” - Construto de hV;ai (mulher) 
 
lyIj'' - substantivo – Força, poder, capacidade,habilidade, riqueza, posses, valor. Origina-se das 
seguintes expressões: 
 
 lyji ou lWj - verbo “ter dores de parto”, “contorcer-se”. 
 lyji - verbo “durar”, “ter consistência” (Jó 20:21). 
 lyhe - substantivo “muralha”, “muro”, “baluarte”, “fortaleza”. 
 lyji - Dor de parto, medo, dor. 
 hl;yji - Dor imensa ou tortura (Jó 6:10). 
 
ymi - Pronome interrogativo – “Quem?” 
 
ax=;Jm]yI - ”Ele achará” - verbo ax;m; (achar, encontrar) conjugado na 3ª. Pessoa, singular, 
masculino no imperfeito (estado não satisfeito ou realizado). 
 
 
9.3- TRADUÇÃO AO PÉ-DA-LETRA: 
 
“Mulher de rocha, quem a encontrará?” 
 
9.4 - TRADUÇÃO TRABALHADA: 
 
“Mulher de força, quem a achará?” 
 17
 
9.5 – COMENTÁRIO / RELEITURA: 
 
lyIj'' segue hc;[; (fazer) numa expressão idiomática que significa “agir nobremente”(Rute 4:11), 
“virtuosamente” (Provérbios 31:29), aplicado nesses dois casos a mulheres. Aparece também com 
a idéia de “agir valorosamente” (Salmos 60:12) aplicado a homens. Segundo o Dicionário 
Internacional de Teologia do Antigo Testamento (P. 626) quando atribuído à mulher, o termo refere-
se a uma mulher que possui todos os atributos do seu equivalente masculino. Talvez o termo 
“virtuosa” aqui já não mais preencha o verdadeiro sentido do hebraico. Não é tão difícil encontrar 
uma mulher virtuosa, assim como também não é difícil encontrar homens de virtudes. Contudo, a 
palavra no hebraico bem poderia ser traduzida como “Mulher de rocha, quem a achará?” Observa-
se que essa mulher de Provérbios 31 dirige a casa, acorda antes de seu marido e põe ordens às 
servas, providencia roupa para a sua família, tecendo a lã, além de produzir roupas para vender, 
providencia lâmpadas para sua casa, negocia um terreno e compra-o, tem um poder de 
comunicação em suas palavras. O seu marido é uma pessoa apagada no texto. Dele se diz que 
está tranqüilo com a mulher que tem. Na verdade ele é um juiz (v.23) e é conhecido entre os seus 
colegas como “o marido da mulher de rocha”. Longe de ser uma depreciação da imagem da mulher 
no Antigo Testamento, o texto exalta a figura feminina, revelando aspectos de liderança da mulher 
na sociedade do Antigo Testamento, desprezados pela tradição farisaica da época do Novo 
Testamento. Hoje ainda encontramos muitas “mulheres de rocha”. São aquelas, cuja figura 
masculina foi apagada desde cedo de suas vidas, quer pela morte, quer pelo divórcio, quer pelo 
abandono. Elas tiveram de assumir o papel de pai e de mãe no lar e todas as conseqüências 
financeiras e emocionais dessa circunstância. Tornaram-se calejadas pela dureza da vida, mas 
nem por isso deixaram de serem mulheres. Elas estão no sertão, em meio à seca, bem como na 
cidade, dentro de um escritório. Outras estão em casa, outras nas ruas de noite. Creio que cada um 
de nós podemos achar essa mulher de rocha. Ela pode estar mais perto do que imaginamos.

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