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Ciência Política e Direito Por que estudar Ciência Política e Teoria Geral do Estado? Por que precisamos estudar Ciência Política e Teoria Geral do Estado? Qual a utilidade dessas disciplinas para um juiz ou um advogado? Por que não começamos logo a analisar o Código Civil ou o Código Penal? Essas são perguntas que muitos estudantes fazem no início do curso de Direito. Em geral, há uma certa frustração por parte dos acadêmicos com as disciplinas do núcleo fundamental, aquelas que estão por trás, para dizer de alguma maneira, da cultura geral indispensável para uma adequada formação do futuro profissional do Direito. É como se elas fossem empecilhos para o estudo de casos; é como se fossem barreiras que impedem as emoções dos julgamentos, as expectativas cria-das pelos filmes de tribunais, pela vontade de observar e ser parte da distribuição da justiça. Esse preconceito talvez seja resultado, cada vez mais, da forma como as pessoas atualmente vêem o curso de Direito: uma carreira comprometida com uma práxis cada vez mais desligada do homem e dos problemas que afetam a convi-vência. Ao contrário das disciplinas dogmáticas, a Ciência Política e a Teoria Geral do Es-tado precisam conquistar o aluno. Essa conquista tem lugar quando os acadêmicos percebem que a compreensão do Direito Público e do fenômeno jurídico em geral exige deles uma visão prévia acerca do comportamento coletivo do homem. Antes de mais nada, torna-se indispensável uma espécie de catarse mental, um estar a-berto à experiência da realidade vivida, à lógica da vida em sociedade e ao papel da Política e do Estado nesse contexto tão amplo. O estudante de Direito precisa ter vontade de entender o mundo que o cerca. Isso faz parte de uma descoberta tão importante como todas as outras, que surpreende, entusiasma, decepciona, mas que está na base da formação de todos aqueles que vão atuar em um mundo jurídi-co onde a Constituição e o Estado ocupam lugar de relevo. O Direito e a Política caminham lado a lado. Ambos são responsáveis, cada qual à sua maneira, pela estruturação da vida em comunidade. Porém, a relação entre eles nem sempre se traduz em harmonia e complementariedade. Historicamente, nos passos da tradição greco- romana, o Direito vem se empenhando no sentido de co-locar limites ao exercício do poder político. Trata-se de uma tendência que se mani-festa de distintas formas, variando, por exemplo, conforme observemos o pensa-mento antigo, as práticas jurídicas da Idade Média ou a era das revoluções liberais (séculos XVII e XVIII). A própria idéia de Constituição, núcleo do sistema jurídico-político do nosso tempo, baseia-se no princípio geral de limitação da Política pelo Direito. Sempre que nos deparamos com a lógica do poder político - uma das dimensões da idéia mais ampla de Política -, também encontramos o Direito e sua vocação para conformá-la. Mas essa constante busca de limitação por parte do jurídico nem sempre alcança o êxito esperado. Muitas vezes, o poder político termina por burlar o Direito em nome de interesses de grupos sociais, políticos e econômicos. Por isso, a tradição de limitar juridicamente a ação da Política, que está na base do atual Es- tado Democrático de Direito, não conduz a uma submissão total do político ao ju-rídico. Ao contrário, ao longo desse tumultuado processo histórico, a força do po-der político vem colecionando muitas vitórias sobre as normas jurídicas que pre-tendem submetê-lo a uma limitação mais ou menos racional. Na verdade, a histó-ria do Direito e da Política é a história de um cabo de guerra no qual estão implica-dos os indivíduos, a sociedade - com seus grupos - e o Estado. Os vencedores e vencidos são definidos de acordo com as contingências de cada momento histórico. Sabemos que no Brasil de hoje vigora uma Constituição democrática. Por outro lado, também é de conhecimento geral que muitas das normas constitucionais não têm eficácia social, ou seja, não funcionam como verdadeiras normas jurídicas. Mas por que isso acontece? Aquilo que está previsto na Constituição não deve ser ob-servado pelas pessoas, pelas organizações e pelo Estado? O fato de a Constituição mencionar o fim das desigualdades regionais como objetivo do Estado ou o pri-mado dos direitos fundamentais não é suficiente para que essas previsões se con- vertam em realidade? Qual o papel dos partidos políticos e do Congresso Nacional nesse contexto? Essas perguntas só podem ser adequadamente respondidas se to-marmos o Estado e a Constituição como esferas da vida em comunidade que tanto possuem natureza jurídica quanto política. Não há nenhuma dúvida de que a Constituição de 1988 defende o postulado do Estado Democrático de Direito. Contudo, também parece evidente que a mera pre-visão normativa não é suficiente para que o país se converta em uma verdadeira democracia, onde os membros da comunidade política, entre outros aspectos, te-nham condições de expressar adequadamente a vontade política que está na base da soberania popular. A lógica democrática ou mesmo o funcionamento das insti-tuições conforme o Direito, por exemplo, são realidades que dependem da cultura política de um povo. Não é à toa que um dos principais obstáculos enfrentados pelo Estado de Direito entre nós seja o velho sistema da clientela e da patronagem, através do qual a atuação da Administração Pública se compromete com a distri-buição de vantagens entre seguidores de determinadas facções políticas. A cultura política não pode ser estudada pelo Direito. Também fogem à sua esfera de abrangência a dinâmica dos partidos políticos, o funcionamento dos sistemas eleitorais, a maior ou menor representatividade do Poder Legislativo ou a própria relação quotidiana entre as instituições. Essas questões devem ser tratadas como realidades concretas que muitas vezes não seguem os padrões normativos previa- mente determinados pelo ordenamento jurídico. A Ciência Política faz parte da formação do estudante de Direito em virtude da sua aptidão analítica para enfrentar esse tipo de problema. Ela aproxima-se da realida-de com o fim de estudar aquilo que realmente acontece no âmbito das relações e das instituições políticas. Seu objeto é o sistema político concebido de forma dinâ-mica. Nessa linha, a Ciência Política procura evitar que o profissional do Direito veja no ordenamento jurídico a solução para todos os desafios da convivência, ten-tando impedir, entre outras distorções, que saiam das faculdades os velhos aplica-dores autômatos da lei, os profissionais que se posicionam acriticamente em rela-ção às soluções jurídicas criadas pelo Estado. No curso de Direito, a principal função da Ciência Política consiste em mostrar que o sistema político nem sempre atua segundo as previsões da Constituição e do or-denamento jurídico como um todo, o que exige do profissional do Direito uma permanente visão crítica acerca do funcionamento geral do sistema. Para alcançar esse objetivo, a Ciência Política atua ao lado da tradicional Teoria Geral do Estado. Houve uma época em que a Política era dominada quase que exclusivamente pelo Estado. No século XIX, existia no plano das idéias e na lógica do universo político uma espécie de separação entre Estado e Sociedade. O social seguia regras pró-prias, definidas segundo a autonomia dos indivíduos e o funcionamento da eco-nomia. O Estado não podia interferir nesse âmbito privado, alterando o modo de vida que estava na base do mundo liberal. Atuava apenas como mecanismo de ga- rantia das regras sociais e de alguns direitos fundamentais, como a liberdade, a igualdade perante a lei, a propriedade privada e a segurança jurídica. Em uma pa-lavra, o Estado figurava como um "aparato policial" que vigiava o livre desenvol-vimento da vida em comunidade. Se à Sociedade cabia a esferaprivada, ao Estado estava reservado o âmbito político. Apesar de manter uma inevitável proximidade, em termos políticos o social e o estatal não podiam entrar em contato. Em tal contexto, surge a Teoria Geral do Estado como modelo de análise da Política. Porém, a universalização do sufrágio eleitoral, entre outros fatores, quebrou o tradicional exclusivismo político do Estado, permitindo que novos atores - sindica-tos, opinião pública, grupos de pressão, partidos políticos etc. - passassem a fazer parte do processo de tomada das decisões estatais. A Política deixa de ser algo re-lacionado apenas com o âmbito estatal, aproximando-se dos grupos sociais e supe-rando a diferenciação que existia entre Estado e Sociedade. Essa nova realidade interfere no papel a ser desempenhado pela Teoria Geral do Estado no curso de Direito? Não há nenhuma dúvida. Afinal, o fenômeno político sofreu grandes transformações no decorrer do século passado. Mas não se trata apenas disso. Desde o começo, a Teoria Geral do Estado teve uma vocação essencialmente normativa, ou seja, uma tendência para analisar o Estado e a Política como se fossem realidades teóricas. A Teoria Geral do Estado situa-se no plano abstrato, enquanto a Ciência Política busca o fato vivo, real, o acontecimento político como parte de um sistema em constante movimento. Deixando de lado a posição de alguns autores, a exemplo de Zippelius, que procuram dar nova feição à Teoria Geral do Estado, pode-se concluir que as duas disciplinas se complemen-tam. E se é verdade que pode haver alguma divergência a esse respeito, é muito difícil negar a posição de ambas como conteúdo fundamental para a formação do estudante de Direito. No nosso complexo mundo atual, fazer política e compreen-dê-la são condições de sobrevivência da democracia. O nosso objeto de estudo é o Estado; uma sociedade política, juridicamente organizada, sob dois aspectos: Material – população (humanos) e território; Formal – poder político e ordem jurídica (lei). (Acrescenta uma visão do Direito – IED: direito natural é aquele que vem com o ser humano, é o maior; direito positivo é o posto, obrigatório, conjunto de normas escritas – está dividido em D. Público, que rege o povo, o Estado, “faz andar a máquina pública”, e D. Privado, que diz respeito ao povo, às relações intersubjetivas, v.g., Cód. Civil, Cód. Comercial etc.) Noções sobre o Estado – Métodos de estudo Histórico Aristóteles, precursor, ele se preocupou com a concepção; estudou a polis grega (Polis é a Cidade, entendida como a comunidade organizada, formada pelos cidadãos, em grego politikos, isto é, pelos homens nascidos no solo da Cidade, livres e iguais). Nicolau Maquiavel, fundador do Estado, em sua obra “O Príncipe”; toda forma de agrupamento humano chama-se Estado; contrario sensu, é anarquismo com limites: Antigamente era limitado ao status (posição), limitado a determinados indivíduos. Tríplice Aspecto Social - população; jurídico – normas; político – poder (representado pelo povo). O Direito (IED) e o ESTADO (TGE - nossa matéria propriamente dita) Existem três doutrinas filosóficas: Monística (estatismo jurídico), Hans Kelsen; Estado e direito são uma coisa só; Dualística (pluralística), Leon Duguit; existe Direito e Estado, todavia o Direito vem antes do Estado. Paralelismo (eclético), Giorgio Del Vecchio; Há autonomia do Direito e também do Estado; Direitos que, além do estatal, vigem; “poderes paralelos” que, pari passu, regulam a sociedade; v.g., direito natural, consuetudinário, canônico, recíprocos – contratos, regulamento interno de empresas – etc. Em derradeiro, Direito e Estado caminham concomitantemente e são autônomos entre si. Noção sobre a sociedade Origem Organicista (naturalista) – o homem procura apoio comum, não existe um homem singular; Aristóteles: “ o homem necessita dessa para seu bem, evolução e sobrevivência.” Mecanicista (contratualista) – contrato hipotético (fundado em hipótese) celebrado entre homens; há a celebração de um contrato social – relações recíprocas -, o dever de um é o direito do outro. “O Estado é fruto de um contrato”, afirmaram em suas teorias Thomas Hobbes, Jean Jacques Rousseau e John Locke. Conceitos Estricto sensu – contratualista, parte dessa corrente (relações recíprocas). Humanos – pessoas; Organização – normatividade; Finalidade – inúmeras (igreja, escola; pessoas jurídicas em geral). Elementos formadores Materiais – povo, população; Formais – poder político, na conformidade das normas vigorantes; Finais – interesse público, a razão terminológica do Estafo é atendê-los, senão torna-se arbitrário. Classificação Sociedade necessária Família (universal, moral e ética – art. 226, caput, CF); reprodução, educação, trabalho social, cultural etc. Religiosa, acreditar em outro plano, independentemente do credo religioso. Circunstâncias (criadas pelo homem) Economia; filantropia (humanitarismo); são inúmeras, o homem as cria para uma correta e justa administração da sociedade. Governo, poder político Nessa vereda, o Estado é uma sociedade política, juridicamente organizada para atender o bem comum (entendido esse, o bem comum, como o conceituou o Papa João XXIII, ou seja, o conjunto de todas as condições de vida social que consintam e favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana". Explanação dada por Dalmo de Abreu Dallari, em Teoria Geral do Estado. Estado PL – Legislativo Esses três órgãos são erroneamente chamados de PE – Executivo “poderes”, o poder é do Estado; está exposto na C.F. PJ – Judiciário População (elemento constitutivo), território, governo. Governo, conjunto de órgãos que exercem a soberania – é o poder absoluto e perpétuo de uma república, usada tanto para os particulares quanto aos que a manipulam (norma fundamental, rege todo ordenamento; quem o faz, inclusive). Todo poder emana de um povo, que elege um representante. Soberania, portanto, é uma qualidade do poder do Estado (o povo a concede); toda soberania, porém, há limites, acaba quando outra começa (a de outro país). Tipologia (espécie) do poder: Governo de fato – sem consentimento popular; posta-se com auxílio de um grupo antagônico (oposto). Governo de direito – Constituição ( se promulgada vem do povo, se outorgada vem imposta); Governo legal – implantado nas conformidades do direito positivo (a Constituição não o estabeleceu, fora instituído infra constitucionalmente); o que é legal é constitucional - KELSEN - e vice- -versa; D. Positivo é infra constitucional; Governo legítimo – estabelecido pelo consentimento popular; Governo despótico (tirânico) – não leva em conta os anseios dos governados (povo); nesse governo (tirânico) pode ocorrer a legitimação, que é diferente de legitimidade; legitimidade, por sua vez, é um consentimento popular, a priori, com eleição antes; legitimação ocorre, pois, quando o governo assumido tiranicamente é reconhecido a posteriori, em outras palavras, após a investidura. Bem comum (fins do Estado) O Estado existe para realizar o bem comum; o homem sem o Estado não o realiza, mata se haver necessidade. Bem comum é a felicidade, distribuição de justiça no camposocial com legislação adequada. Bem comum, razão teleológica (teoria dos fins, finalidades) finalística; o Estado não constitui um fim em si mesmo, “não é autônomo em seus desejos”, ele é um instrumento (meio) necessário para que os indivíduos evoluam (nessa vereda, não há que se olvidar, que o ser humano é frágil, se não houver um Estado o controlando e mantendo tais relações “limitadas” ele [o homem] tende a agrupar-se). Os homens têm o direito de procurarem felicidade; O Estado os deve proporcionar (deveres do estado segundo sua constituição, com fim no homem e não em si): - realizar justiça; - tutelar os direitos fundamentais; - desenvolvimento econômico; - cuidar (providenciar, inclusive) da educação e saúde. Em nível político: preservar segurança interna da população; segurança externa do país; manter (garantir) a ordem jurídica. Bem comum e funções sociais O Estado do bem-estar (além das funções políticas e jurídicas) Plano social: alimentação, higiene, moradia, educação, saúde, cultura, trabalho, transporte etc.; para nossa postura física e mental Esse Estado (do bem-estar), é um Estado reformista (repudia a violência como forma de ação política); para atingir o bem comum: - no plano político - segurança interna e externa; - no plano jurídico - Estado de justiça, na conformidade da lei, equilibrar os desiguais tratando-os desigualmente, a fim de igualá- los; - no plano social – bem-estar geral do povo (art. 6º, 7º e 78, da C.F.). Podemos denominar o Estado liberal como: Estado liberal – liberdade e igualdade; Estado constitucional – assegurar-se contra arbitrarismo, prever direitos elementares, tripartir os poderes para a correta administração – Constituição é o que corresponde aos princípios fundamentais. Estado de direito – decorrer da lei; princípio da legalidade, a lei é a norma agendi, obrigatória, criada pelo poder constituído – representantes dos constituidores - povo. Decadência do Liberalismo (vide próxima lauda) O Estado liberal era muito bom, com uma teoria ótima; porém, na prática, não mais prestou para a população; Sua decadência deu-se, grosso modo, porque o Estado liberal não era titulado a cuidar da sociedade, nem era equitativo (redistribuição – tirar de quem tem mais [rico, opulento], v.g., com tributos legais, e aplicar em setores carente, que haja necessidade fundamental). O Estado liberal revelou-se absolutista, voltou ao status quo ante (estado anterior à questão tratada), ficou insuficiente, não mais bem administrava. Posto isso, o Papa Leão XXIII publicou uma encíclica, a Rerum Novarum, e no século XIX temos o Estado Liberal-Social. Rerum Novarum Tratar a pessoa humana com dignidade; trabalho compatível com o ser humano; descanso semanal; férias; amparo à velhice, à maternidade; etc. Estado Democrático de Direito OBS: breve explanação de conceitos necessários para o entendimento do EDD: Democracia, teve origem na Grécia com Aristóteles, com o princípio da isonomia; Conceito de democracia é: governo do povo, pelo povo e para o povo (governo da maioria, voltado ao bem comum – conceito natural, nasce com o homem). Seus pressupostos (da democracia) são liberdade e igualdade (“meu direito termina onde o seu começa e vice-versa”). Modalidades da democracia: - Direta (inviável a nós) - As primeiras democracias foram diretas, como a de Atenas, por exemplo, na qual o Povo se reunia nas praças e ali tomava decisões políticas. Neste caso, os cidadãos não delegam o seu poder de decisão, mas, de fato, o exercem. A democracia direta também é denominada democracia participativa. Um exemplo atual dessa forma de organização política é o Orçamento Participativo, na qual as reuniões comunitárias, destinadas a submeter os recursos públicos, são abertas aos cidadãos. - Indireta – exercida por um representante que tem como incumbência levar em contas os anseios dos representados, ele representa os órgãos (PJ, PL e PE); - Mista (a habitual; que vigora no Brasil, inclusive) – tem-se o plebiscito, a priori (consulta o povo antes da decisão, medida, ato etc.); também se tem o referendo, caracterizado como a posteriori, no qual há a consulta ao povo após a medida; em derradeiro, a iniciativa popular, raríssima em uso, mas prevista pela CF, em seu artigo 14. Estado Democrático de Direito Sua origem dá-se no século XVIII – o Estado de Direito não era democrático-; tem como características (princípios básicos): - Submissão à imperatividade da lei (CF) – a lei é heterônoma, igualmente aplicada a todos; - Divisão das funções em órgãos: PJ, PL e PE; não há que se confundir com “poderes”, as funções são divididas, o poder é único (do Estado); - Garantia de direitos individuais; - Princípio da legalidade(art. 5º, II, CF, 1988); - Princípio da igualdade (art. 5º, I, CF, 1988); - Princípio da segurança jurídica (art. 5º, XXXIV, LIV e LV, CF, 1988) – a lei não prejudicará direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada. - Distribuição de justiça (art. 5º, LIV e LV, CF) – direitos salvaguardados em lei, o acusado tem direito a defesa. Em epítome; cabe ao Estado democrático de direito levar em conta as desigualdades humanas e sociais – tratar desigualmente os desiguais, igualando-os no plano jurídico constitucional. Regimes Políticos OBS: alguns conceitos básicos para o entendimento dos regimes políticos, a posteriori a substância. Formas de Estado (não é democrático, é federativo; essa representa sua forma na ordem jurídica): Unitário – Estado unitário, governado constitucionalmente, com uma legislação única; o governo central detém o direito principal. Federativo, surge no séc. XVIII – aliança entre Estados, ação conjunta visando sobretudo a preservação da independência. Tem Constituição (não Tratado), o poder é compartilhado pela União e pelas unidades federadas. Formas de Governo: Monarquia – rei – o Estado é unitário, o poder é só do rei. República – criada por Maquiavel Sistemas ou Regimes políticos: Parlamentarismo - o Poder Executivo é realçado - O sistema parlamentarista ou parlamentarismo é um sistema de governo no qual o poder Executivo depende do apoio direto ou indireto do parlamento para ser constituído e para governar. Este apoio costuma ser expresso por meio de um voto de confiança. Não há, neste sistema de governo, uma separação nítida entre os poderes Executivo e Legislativo, contrario sensu do que ocorre no presidencialismo. Presidencialismo – o chefe de governo é o Presidente. Regimes Políticos Todo Estado deve ter um regime político. União – P. Jurídica de Direito Público interno; Distrito Federal – capital da União; Estado Membro - Município Unitário – um poder só. Quando o povo concede a outrem, o poder, é um Regime Democrático. Quanto às suas classificações: Democrático – Estado moderno – participação do povo; “liberdade e igualdade, sem essas não há progresso”; Autocrático - não democrático: Absolutista - sistema de governo em que o governante se investe de poderes absolutos, sem limite algum, exercendo de fato e de direito os atributosda soberania.; Ditadura - forma de governo em que todos os poderes se enfeixam nas mãos dum indivíduo, dum grupo, duma assembléia, dum partido, ou duma classe.; Déspota - sistema de governo que se funda no poder de dominação sem freios; Tirânico – sistema de governo opressor e cruel, o qual não leva em conta anseios populares. Democracia como regime político Direta – é pesquisada a decisão, o povo reúne-se para esse fim; Indireta (representativa) – confere o poder, a alguém, que leva as reivindicações; Semidireta (mista, Verdadeira democracia): - plebiscito – antes da medida tomada; - referendo – depois de tomada a medida, consulta-se a sociedade; - iniciativa popular – a comunidade apresenta o projeto (raríssima). O Liberalismo e sua decadência Eis a sequência cronológica: Liberalismo -> sua decadência -> Encíclica Rerum Novarum No século XVIII cria-se o Estado Liberal, que buscava liberdade e igualdade; também denominado Estado Moderno, “moderno” porque contrapõe-se ao antigo, visava derrubar o absolutismo; em derradeiro, tinha por objetivo uma Constituição, que conteria os seguintes predicados: Limitação do administrador (Presidente), para não se tornar arbitrário; Garantir os direitos humanos, liberdade e igualdade; Tripartição do poder do Estado, em suas funções: PJ, PL e PE. A relação entre Justiça e Direito no pensamento de Aristóteles INTRODUÇÃO A justiça é elemento central no estudo do Direito,daí a necessidade de um entendimento claro do termo justiça, sua relação com o Direito e a importância de se estudar suas bases filosóficas, especialmente no pensamento de Aristóteles. O presente estudo tem como objetivos: primeiro, refletir com simplicidade o pensamento de Aristóteles sobre a justiça, principalmente em sua dupla concepção: como virtude geral e particular; segundo, caracterizar a relação existente entre o Direito e a justiça. Para maior clareza na exposição, o trabalho foi dividido em quatro partes. A primeira traz breve informação sobre o filosofo em questão, noção fundamental para o desenvolvimento do tema. A segunda trata da virtude, tema bastante discutido por Aristóteles e introdução à sua concepção de justiça. A terceira traz o núcleo do pensamento de Aristóteles sobre a justiça e a quarta conclui esclarecendo a ligação entre a justiça e o Direito no pensamento do filósofo, e um panorama atual da justiça. A pesquisa é fundada em fontes bibliográficas, tendo como principal fonte o livro Ética a Nicômaco. Trata-se, portanto, de uma pesquisa documental que utiliza o método teórico-dedutivo, se resolvendo em um artigo de revisão. Sendo assim, identificar a relação existente entre a justiça e as outras virtudes, como uma virtude ao lado das outras e como a fusão de todas elas; classificar a justiça como meio termo; apontar com que tipos de ações a justiça se relaciona e definir sua relação com o Direito é o escopo maior do presente trabalho. 2. O FILÓSOFO Aristóteles nasceu em Estagira no ano 384 a.C. Aos dezoito anos entrou na escola de Platão em Atenas. Ali permaneceu por quase 20 anos, até à morte o seu Mestre. Depois da morte de Platão Aristóteles abandona a Academia e sai de Atenas. Foi convidado pelo rei da Macedônia para educar seu filho, Alexandre. Separaram-se quando Alexandre Magno assumiu o trono da Macedônia. Por volta de 335 a.C., Aristóteles regressou a Atenas, fundando sua própria escola filosófica, que passou a ser conhecida como Liceu. Aristóteles legou os seus manuscritos a Teofrasto, seu sucessor na liderança do Liceu. Eram vastíssimos, tanto em volume como em alcance, incluindo escritos sobre história constitucional e história do desporto e do teatro, estudos de botânica, zoologia, biologia, psicologia, química, meteorologia, astronomia e cosmologia, bem como tratados mais estritamente filosóficos de lógica, metafísica, ética, estética, teoria política, teoria do conhecimento, filosofia da ciência e história das idéias. Abordando assuntos dos mais diversos, Aristóteles dedicou-se à justiça como mais tema a ser desenvolvido, a necessitar de maiores reflexões. Seu legado foi incomensuravelmente precioso no campo da ética, à qual, a justiça e o Direito possuem um liame indissolúvel. 3. BREVE INTRODUÇÃO À VIRTUDE Aristóteles inicia seu livro Ética a Nicômaco referindo-se aos bens, e os define como sendo “aquilo a que as coisas tendem” (ARISTÓTELES, 2002a, p17). Segundo o filósofo, dentre os inúmeros bens existe um bem maior, que é a finalidade de todos os outros, e esse bem maior é a felicidade, considerada “uma atividade da alma conforme a virtude perfeita” (ARISTÓTELES, 2002a, p36), “a felicidade é, portanto, a melhor, a mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo” (ARISTÓTELES, 2002a, p30). Este bem, o qual todos almejam, só é obtido através da prática de atos virtuosos. O autor afirma que para se alcançar a felicidade é preciso também bens exteriores, instrumentos, como amigos, riqueza ou poder político, “de fato, o homem de muito má aparência, ou mal-nascido, ou solitário e sem filhos não tem muitas probabilidades de ser feliz” (ARISTÓTELES, 2002a, p30). O filósofo afirma a existência de dois tipos de virtudes, a virtude intelectual e a virtude moral. A primeira se adquire através do ensino, necessita de tempo e experiência, a segunda somente se adquire pelo hábito. A virtude moral não existe por natureza, apenas a potencialidade, a possibilidade de se desenvolver através da prática de atos virtuosos existe naturalmente. Aristóteles sustenta que os legisladores tornam bons os cidadãos incutindo-lhes comportamentos e atos conforme a virtude perfeita, e essa é a função das leis. Os atos determinam a natureza das disposições de caráter, e está na natureza das virtudes o serem destruídas pelo excesso e pela deficiência. “Pelos atos que praticamos em nossas relações com as outras pessoas, tornamo-nos justos ou injustos; pelo que fazemos em situações perigosas e pelo hábito de sentir medo ou de sentir confiança, tornamo- nos corajosos ou covardes. O mesmo vale para os desejos e a ira: alguns homens se tornam temperantes e amáveis, outros intemperantes e irascíveis, portando-se de um ou de outro modo nas mesmas circunstâncias” (ARISTÓTELES, 2002a, p41). Aristóteles afirma que os atos e as disposições de caráter se atualizam no hábito, ou seja, um homem justo pratica atos justos, e praticando atos justos se torna um homem justo, da mesma forma que um homem que pratica atos justos se torna um homem justo e se tornando homem justo praticará atos justos. A virtude é uma disposição de caráter que se relaciona com o meio termo entre dois vícios, um excesso e uma falta. “Os homens são bons de um modo apenas, porém são maus de muitos modos” (Autor Desconhecido APUD ARISTÓTELES, 2002a, p49). “Assim, explicamos suficientemente que a virtude é um meio termo, em que sentido devemos entender essa expressão, e que é um meio termo entre dois vícios, um dos quais envolve excesso e o outro falta, e isso porque a natureza da virtude é visar à mediania nas paixões e nos atos. Por conseguinte, não é fácil ser bom, pois em todas as coisas é difícil encontrar o meio. Por exemplo, determinar o meio de um circulo não é pra qualquer pessoa, mas só para aquela que sabe; do mesmo modo, qualquer um pode encolerizar-se, dar ou gastar dinheiro, pois isso é fácil; mas proceder assim em relação à pessoa que convém, na medida, ocasião, motivo e da maneira que convém não é pra qualquer um, e nem é fácil. Por isso agir bem tanto é raro como nobre e louvável”(ARISTÓTELES, 2002a, p54). Destaca o autor que em alguns casos o excesso é louvável, e em outros a falta é louvável, que um dos vícios é mais errôneo que o outro, sendo preferível o outro na dificuldade de encontrar o meio termo, mostrando que existem, portanto, vários fatores que complicam a regra. Em síntese, a virtude é a prática habitual e voluntária de atos virtuosos (atos que visam o meio termo entre dois vícios), sendo isenta de sofrimentos e tendo em vista o que é nobre, que tem por fim maior alcançar a felicidade. Essa é a noção básica para o pleno entendimento da justiça que, como abordaremos, pode representar a virtude completa ou uma virtude particular. 4. A JUSTIÇA NO PENSAMENTO DE ARISTÓTELES A justiça é considerada por Aristóteles a virtude ética mais importante, pois é a única que se relaciona com o próximo e com o bem do próximo. A justiça é a disposição de caráter que torna as pessoas propensas a fazer o que é justo, a desejar o que é justo e a agir justamente, e injustiça é a disposição que leva as pessoas a agir injustamente e a desejar o que é injusto. Esse é o conceito de justiça e injustiça segundo a opinião geral, o qual Aristóteles adota como base de seu pensamento. A felicidade, como bem maior que todos os outros e fim destes, é o critério usado para definir um ato como justo, este ato precisa buscar a felicidade ou um de seus elementos para a sociedade política. A Justiça como virtude completa O filosofo afirma que existem duas formas distintas de justiça, uma é a justiça como virtude completa e a outra é a virtude ao lado das outras. A justiça como virtude completa é representada pela lei, pois a lei bem elaborada é justa e direciona a conduta dos homens à prática de atos virtuosos, como o filósofo considera em Política. Sendo assim, o homem que obedece a lei é justo e virtuoso. Nesta forma de justiça estão englobadas todas as outras virtudes. “E a lei determina que pratiquemos tanto os atos de um homem corajoso (isto é, que não desertemos de nosso posto, nem fujamos, nem abandonemos nossas armas), quanto os atos de um homem temperante (isto é, que não cometamos adultério nem nos entreguemos à luxúria), e as de um homem calmo (isto é, não agridamos nem caluniemos ninguém); e assim por diante com respeito às outras virtudes, prescrevendo certos atos e condenando outros” (ARISTÓTELES, 2002a, p105). Esse é um conceito jurídico, que identifica a justiça com a legalidade. Percebe-se que a teoria aristotélica, que a princípio parece positivista e legalista, não o é de fato. A justiça não está no cego cumprimento da lei, mas na disposição de caráter interior e permanente do cidadão, que o leva a cumprir seus deveres legais, tornando-o um homem virtuoso pela prática de atos voluntários. A justiça como virtude completa é a maior de todas, e Aristóteles referindo-se a ela afirma que “nem Vésper nem a estrela-d’alva são tão maravilhosas” (ARISTÓTELES, 2002a, p105). Dessa forma a justiça é a única virtude, e significa de acordo com a lei, ao tempo que o injusto no sentido amplo significa contrário à lei. Nesse sentido a justiça não é uma parte da virtude, mas a virtude inteira; e a injustiça não é uma parte do vício, mas o vício inteiro. Mas uma pergunta sempre vem à tona: obedecer à lei é ser justo (não cegamente como já foi tratado), mas o que garante que a lei é justa? E a resposta é: os legisladores. Estes devem ser grandes estudiosos das virtudes para ter o conhecimento suficientemente capaz de criar leis que conduzam os cidadãos à virtude completa. Como afirma Olinto A. Pegorato: “Na ética aristotélica, conta mais o cidadão formado nas virtudes e especialmente na justiça, do que a lei com suas prescrições objetivas. Isto é, de pouco vale a lei sem cidadãos virtuosos” (PEGORATO, 1995, p35). A Justiça como virtude particular O filósofo ressalta que o objeto da investigação é a justiça como parte da virtude, e sustenta que essa justiça existe, como também existe a injustiça no sentido particular. Dessa forma, a justiça se divide em duas espécies: justiça distributiva e justiça corretiva, ambas tendo a igualdade como princípio norteador. A justiça distributiva surge quando o Estado deve distribuir dentre os cidadãos as magistraturas, o dinheiro ou qualquer outra coisa que deva ser distribuída. Será levado em consideração o mérito de cada um. Nessa espécie de justiça, o justo é o proporcional, segundo uma proporção geométrica, na qual os indivíduos recebem de acordo com seu merecimento, ou necessidade. Isso significa dizer que os cidadãos não receberão necessariamente a mesma quantidade de um bem qualquer, pois o critério utilizado é a igualdade proporcional. “A justiça distributiva que se aplica na repartição das honras e dos bens, e tem em mira que cada um dos consorciados receba, dessas honras e bens, uma porção adequada a seu mérito. Por conseguinte, explica Aristóteles, não sendo as pessoas iguais, tampouco terão coisas iguais. Com isso, é claro, não faz mais do que reafirmar o princípio da igualdade: principio que seria precisamente violado, nesta sua função especifica, se méritos desiguais recebessem igual tratamento. A justiça distributiva consiste, pois, numa relação proporcional, que Aristóteles, não sem artifício, define como sendo uma proporção geométrica” (MONTORO, 2000, p205). No que concerte à justiça corretiva o aspecto é outro. Aristóteles acredita em uma justiça retributiva, na qual o objetivo é restabelecer a igualdade existente antes da ocorrência do fato injusto. Nesse caso a igualdade aplicada é a proporção aritmética. A justiça é o meio termo entre o ganho e a perda, i. e., se um sujeito machuca outro, o juiz deve estabelecer novamente a igualdade inicial através da pena, que “devolverá” o que um perdeu e “retirará” o que o outro ganhou, embora estes termos não sejam sempre adequados. Este pensamento seria futuramente desenvolvido por Kant e Hegel em suas teorias absolutas da pena, e revela uma orientação talional na reestruturação da harmonia entre as partes. A justiça é o meio termo entre o ter muito e o ter pouco. Se em uma relação um sujeito tem muito, este age injustamente, e se outro tem muito pouco, este sofre a injustiça. Portanto a igualdade é o justo entre cometer e sofrer injustiça, e estes são os dois extremos. Segundo Aristóteles, um homem pode agir injustamente e não ser injusto, assim como pode roubar e não ser ladrão, ou cometer adultério e não ser adúltero, pois a justiça é vista sob a lente da política, e não incondicionalmente. Um homem que comete um ato injusto buscando ganhar com isso é um homem injusto, mas o que age injustamente por paixão não é. A Justiça política Após a definição das duas formas de justiça, Aristóteles discute a justiça política, e afirma ser ela em parte natural e em parte legal. A primeira é eterna (o que não significa dizer imutável), enquanto a segunda muda a depender do tempo e local. “Digo que, de um lado, há a lei particular e, do outro lado, a lei comum: a primeira varia segundo os povos e define-se em relação a estes, quer seja escrita ou não escrita; a lei comum é aquela que é segundo a natureza. Pois há uma justiça e uma injustiça, de que o homem tem, de algum modo, a intuição, e que são comuns a todos, mesmo fora de toda comunidade e de toda convenção recíproca. É o que expressamente diz a Antígona de Sófocles, quando, a despeito da proibição que lhe foi feita, declara haver procedido justamente, enterrando Polinices: era esse seu direito natural: Não é de hoje, nem de ontem, mas de todos os tempos que estas leis existem e ninguém sabe qual a origem delas" (ARISTÓTELES, 1959, p86). A justiça política legal é a realização das leis da polis, portanto, como cada lugar tem suas leis esta justiça não é igual em todas as partes, poisos valores de cada povo são diferentes e mudam também com o passar do tempo. Com a justiça política natural é diferente, pois esta é identificada com as relações justas dentro da sociedade, fundadas na igualdade e na honestidade, e estas não mudam de forma alguma, permanecem eternas e iguais em todos os lugares e épocas. Este ponto enseja maior esclarecimento. Como foi visto Aristóteles divide a justiça em duas espécies: geral e particular. A justiça geral é representada pela lei, e a lei será justa porque refletirá as normas do Direito Natural, e estabelecerá a igualdade. Segundo a justiça particular um homem será justo à medida que pratique a igualdade, igualdade esta prescrita na lei. Nos dizeres de Bobbio: “Não é exata a opinião comum segundo a qual é possível distinguir os dois significados de justiça referindo o primeiro sobretudo à ação e o segundo sobretudo à lei, pelo que uma ação seria justa quando conforme a uma lei, e uma lei seria justa quando conforme ao princípio da igualdade (...) costuma-se dizer que um homem é justo não só porque observa a lei, mas também porque é equânime, assim como, por outro lado, que uma lei é justa não só porque é igualitária, mas também porque é conforme a uma lei superior” (BOBBIO, 1997, p14). Sendo assim, as duas formas de justiça abordadas por Aristóteles apontam uma na direção da outra, e se unem em uma só realização de justiça, que não tarda a ocorrer. Não pode um homem ser justo e injusto ao mesmo tempo. Um homem que obedece à lei e não é justo nas suas relações é uma contradição, o mesmo ocorre com o inverso. Um homem que cumpre a lei é justo em suas relações, pois assim a lei manda, e um homem que é igualitário em suas relações particulares é um homem justo, pois cumpre os ditames da lei. Portanto um homem justo é justo nos dois sentidos, e o injusto é injusto nos dois. A Equidade Aristóteles conclui o tratado sobre a justiça em seu livro Ética a Nicômaco abordando a equidade. A equidade é diferente da justiça, é superior. O eqüitativo é uma correção da justiça legal. A equidade é superior à justiça e deve ser aplicada sempre que o Direito não tenha a solução para o caso concreto, sempre que não exista uma lei que regule algum fato novo. Será feita uma interpretação à luz da equidade para saber de que forma o legislador regularia tal fato jurídico. Aristóteles descreve a semelhança entre a equidade e uma régua de chumbo, que se amolda ao objeto para ser possível sua medição. Desta forma, o filósofo pretende que se a justiça legal é uma régua dura, que dá a medida dos fatos, não se encaixará em todos os tipos de acontecimentos da vida prática. Sendo assim, a equidade surge como corretivo dessa inflexibilidade, fazendo com que a régua se amolde aos fatos reais e possa também medi-los, servindo para a realização plena do Direito. 5. CONCLUSÃO Por tudo que foi exposto e argumentado, fica evidente que Aristóteles conseguiu elaborar uma concepção pura e real da justiça e do Direito. Interessante notar que na maior parte de seu livro Ética a Nicômaco o filósofo não fala diretamente do Direito, mas se refere a ele de duas formas: na primeira, Aristóteles fala em “as leis”, com as quais claramente expressa “o Direito”, nesse caso o Direito é a justiça legal, é o Direito legal, complementado pela equidade; na segunda, se refere ao Direito como superior à justiça legal e critério desta, caracterizando assim o Direito Natural. Quando se refere à justiça política, Aristóteles faz bem esta distinção sustentando que a justiça geral muda de lugar para lugar e de tempos em tempos, é o Direito legal, mas a justiça particular está em todo lugar e impõe sua força, se identificando ou não com o Direito legal, é o Direito natural. “Ao contrário, porém, de identificar a justiça com o Direito de um Estado ideal, como fizera o seu mestre Platão, Aristóteles, olhos postos nas ordenações políticas de seu tempo, esclareceu melhor uma distinção, destinada a permanecer como um dos valores constantes das ciências humanas, entre Direito legal – que pode não corresponder ai bem da cidade e dos cidadãos – e Direito natural, no sentido de um Direito que em toda parte possui igual força, independente do fato de ser reconhecido ou não pela lei positiva, o que não significa que ele não comporte mudanças”. (REALE, 1998, p09). Tão perfeita é sua conceituação, que depois de milênios seus pensamentos ainda são reverenciados e formam a base do sistema jurídico ocidental. Direito busca a concretização do justo aristotélico, orientado pela igualdade (aritmética ou proporcional) e complementado pela equidade. MONTORO (2000) ensina, em Introdução ao Estudo do Direito, a justiça, seguindo a linha traçada por Aristóteles, classificando da mesma forma, em justiça comutativa e distributiva, e destacando a importância da equidade na plena realização do Direito.
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