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1ºAula A Matemática no Brasil e as Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • conhecer brevemente a História do ensino da matemática no Brasil; • compreender os avanços no ensino da matemática desde os primórdios; • analisar as dificuldades enfrentadas no aprendizado da matemática; • compreender o significado de Matofobia e a importância de um ensino com práticas de ensino que venham a desmistificar a disciplina e facilitar a compreensão da mesma. É importante que o professor conheça e transmita para seus alunos a História da Matemática no Brasil com a finalidade de levá-los a compreensão da evolução da disciplina. Dessa maneira, busca-se entender que a matemática é uma área do conhecimento que não é pronta e acabada, que evolui e busca facilitar a vida de todos uma vez que se faz presente no cotidiano de toda população. Saber das dificuldades que os alunos enfrentam no aprendizado da matemática e as possíveis causas e consequências delas faz com que o professor possa buscar metodologias e ferramentas que possam vencer essas dificuldades que podem levar o aluno a adquirir a Matofobia. Bons estudos! “A Matemática é um elemento básico para o conhecimento do mundo e para a compreensão do que é a inteligência humana. Não perceber nada de Matemática é não perceber do que o homem é capaz. É como não conhecer nada de música. Ou não perceber o que é um poema. É não ter acesso àquilo que há de mais importante na cultura.” Olga Pombo, coordenadora do Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa. Fonte: <https://www.ilquorum.it/matofobia-la-paura-dei-numeri/>. Acesso em: 15 de out. de 2018. 47 Prática de Ensino em Matemática II 6 1. Seções de estudo Breve História do ensino da Matemática no Brasil 2. As dificuldades no aprendizado da matemática no ensino médio 1 - Breve histórico do ensino da matemática no Brasil Fonte: <http://www.criacionismo.com.br/2016/07/ciencia-matematica-e- evolucao.html >. Acesso em: 15 de out. de 2018. De acordo com Berti (2005, p. 96): Desde o momento em que a Matemática começou a tomar forma como uma área de conhecimento, ainda na era platônica e pitagórica, já estava associada a uma classe privilegiada sendo considerada uma ciência nobre, desligada dos ofícios e das atividades manuais. Recebeu status de nobreza e ainda hoje ela é tratada como tal. Mas por outro lado o ensino dessa disciplina obstáculos quase intransponíveis. Desde o princípio, o estudo da matemática faz parte no desenvolvimento dos povos, bem como da cultura de variadas nações, mas apenas os privilegiados poderiam ter acesso à disciplina e havia exclusão, medo da matemática e consequentemente a Matofobia. De acordo com Silva (2014, p. 15) no Brasil, o ensino da matemática passa por várias mudanças que moldam os sistemas educacionais e acontecimentos sociais que contribuem para a evolução do nosso sistema de ensino. Segundo a autora, no Brasil o ensino da Matemática: [...] teve início com os Jesuítas. O que ensinava era estritamente ancorada no conhecimento prático, dando destaque quase a escrita dos números e as operações. O ensino em tela era destinado apenas a uma pequena elite (SILVA, 2014, p. 15-16). Dando continuidade ao relato de Silva (2014): Em 1573, os Jesuítas fundaram um Colégio na cidade do Rio de Janeiro, no qual posteriormente, criou-se o curso de Artes. O estudo sistemático das Matemáticas fazia parte do currículo do curso de Artes que eram ministrados os tópicos mais adiantados como a Geometria Elementar. Em algumas escolas elementares eram ensinadas as quatro operações algébricas. [...] as aulas eram ministradas de forma verbal e o conteúdo, por sua vez, era assimilado a partir de técnicas e exercícios de repetição e memorização. [...] grande estímulo a competição entre o meio discente, na medida em que se conferiam premiações e honrarias àqueles que se saiam bem durante as aulas, ao apresentarem bom desempenho”. (SILVA, 2014, p. 16). Com a expulsão dos Jesuítas iniciam-se os períodos pombalino e imperial, com divisão de classes sociais, onde a qualidade do ensino que a pessoa tinha acesso dependia de sua condição financeira. Havia um descaso com o ensino primário o que transformou o Brasil num país de maioria analfabeta. Em 1827, uma Lei Geral passa a estabelecer as diretrizes norteadoras para a criação de escolas elementares em todo país, onde a transmissão do conhecimento deveria ser: Aos meninos, onde os professores ensinarão a ler as quatro operações de Aritmética, prática de quebrados, decimais e proporções, as noções mais gerais da Geometria e limitando a instrução da Aritmética só as quatro operações, ensinarão também as prendas que servem à economia doméstica (BREJON, 1977, p. 46). Com a Proclamação da República em 1889 tem início a uma fase pouco inovadora para o país. Silva (2014) relata que era conhecido como “Escola Nova” o movimento de renovação do ensino, que tinha como característica a oposição do ensino tradicional, tinha a autoformação como método de ensino onde os alunos aprenderiam de forma espontânea e os professores deveriam usar de criatividade em sua metodologia para desenvolver ao máximo o aprendizado de seus alunos. Em relação ao movimento Escola Nova, pode-se afirmar que: [...] por meio de suas propostas procurou modernizar o ensino trazendo novas descobertas em várias ciências acerca do ensino e da aprendizagem. A grande contribuição da Nova Escola ao sistema educacional moderno são seus métodos, que evoluíram por exemplo com aparelhos eletrônicos como a televisão, o vídeo e o computador e outros se aperfeiçoaram como os jogos e materiais tradicionais e foram levados para as salas de aula e assim melhorar o ensino (SILVA, 2014, p.17). Segundo Gadotti (2003): novista tem sido enorme. Muitas são as escolas francesas que deram origem, na década de 60, no Brasil, aso colégios de aplicações das universidades, as escolas piloto, às escolas livres, 48 7 às escolas comunitárias, aso lares - escolas, às escolas individualistas, às escolas do trabalho, às escolas não-diretivas e outras. (GADOTTI, 2003, p. 147) Com as reformas do ensino da Matemática no Brasil, nas décadas de 1960 e 1970 como resquícios da Escola nova e do Positivismo, os defensores da “Matemática Moderna” acreditavam que seria possível preparar pessoas que pudessem acompanhar e lidar com a tecnologia que estava emergindo tendo como propostas inserir no currículo conteúdos matemáticos que até então não faziam parte dos programas das escolas, entre eles podemos citar as estruturas algébricas, teoria dos conjuntos, topologia e transformações geométricas. Essas novas ideias deveriam ser absorvidas pelos professores que tinham que se adaptar a um novo roteiro de conteúdos e metodologias. Nesse período, a maior relevância foi que o movimento motivou os professores de matemática a prosseguirem seus estudos e organizarem-se em grupos em um momento em que o país estava no Regime da Ditadura Militar. A Matemática Moderna, apesar de avanços significativos não chegou a cumprir todos os objetivos que propôs. Como afirma Felicetti: “o movimento em foco acarretou um maior formalização da Matemática ensinada nas escolas e, consequentemente, um distanciamento das questões práticas. E quanto mais distante de situações utilizáveis em matemática, mais difícil ela se torna, a ponto de torná-la algo assustador (FELICETTI, 2007, p. 67) No período em que a Lei nº 5691/71 foi promulgada (que tinha como objetivo aumentar a faixa de educação obrigatória) o Movimento da Matemática Moderna já era enfraquecido no Brasil. Com as mudanças propostas pela lei, acima citada, foi extinto o Exame de Admissão ao Ginásio, exame esse que selecionava alunos para o acesso à 5º série e era constituído entre outras provas a de Aritmética. A nova legislação não indica métodos ou técnicas didáticas, nem mesmo entram em pormenores sobre o conteúdoprogramático das disciplinas, áreas de estudo ou atividades. decisões sobre as estratégias e táticas que serão utilizadas no desenvolvimento didático de cada estabelecimento (BREJON, 1977, p. 129). Nesse sentido, os conteúdos matemáticos e disposições metodológicas acerca destes, ficaram a mercê das escolas públicas ou privadas, bem como a predisposição dos professores em desenvolver um trabalho de qualidade. A exemplo disso, podemos citar que na década de 60, com o movimento da Matemática Moderna a maioria dos professores não a ensinava porque não entendiam e os poucos que tentavam ensiná-la, ministrava a disciplina de maneira abusiva. A instituição da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, LDB 9394/96, trouxe uma grande novidade: os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN’s. Diante desses momentos históricos, podemos entender que o ensino da matemática traz consigo dois sentimentos divergentes a quem ensina e a quem aprende: Percepção de que a matemática é uma área do conhecimento importante e a insatisfação diante das reprovações frequentes em relação à sua aprendizagem. Quando se constata que a importância do ensino da matemática está se apoiando no fato que ela nos permite resolver problemas da vida cotidiana, tendo muitas aplicações no mundo do trabalho e é essencial para a construção do conhecimento em outras áreas curriculares. De outro lado, a insatisfação nos mostra os problemas enfrentados e nos PCN’s, em relação a esse tema, cita como falha no processo de formação dos professores tanto na formação inicial como na continuada; os livros didáticos de qualidade insatisfatória; as práticas em sala de aula que têm como base somente o livro didático e que não corresponde às expectativas dos alunos (interesse e qualidade); implantação de propostas inovadoras que não são adequadamente postas em prática pela falta de formação dos professores, existência de concepções pedagógicas inadequadas e restrições ligadas às condições de trabalho. Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio- PCNEM (Brasil, 2007) reconhecem que a matemática é necessária à formação do indivíduo, característica que aumenta à medida que a sociedade se torna mais absorta em contextos que a envolvem . Diante do exposto, podemos perceber que, ao longo dos anos, apesar das sucessivas mudanças, o fracasso escolar em matemática continua. De acordo com os PDN’s: É importante destacar que a Matemática deverá ser vista pelo aluno como um conhecimento que pode favorecer o desenvolvimento do seu raciocínio, de sua sensibilidade expressiva, de sua sensibilidade estética e de sua imaginação. (BRASIL, 1997, p.45) No Ensino Médio, a matemática deve incluir o conhecimento de novas informações e instrumentos necessários para que seja possível ao discente continuar seu aprendizado. Como proposta, os PCD’s procuram caracterizar o conhecimento matemático com uma longa história e que não está pronto e acabado, que está relacionado a outras áreas do conhecimento e que transcende suas características como disciplina científica. 2 da matemática Fonte: <https://matematicandoinsieme.wordpress.com/2014/01/03/matofobia- paura-della-matematica/.> Acesso em: 15 out 2018. Pode-se afirmar que nas civilizações antigas “os conhecimentos revelados nos papiros eram quase todos 49 Prática de Ensino em Matemática II 8 práticos e o elemento principal nas questões eram os cálculos”. (BOYER, 1996, p. 14) O que constatamos hoje é que os elementos teóricos não estão relacionados à realidade dos alunos, que não os compreendem, surgindo assim dificuldades pertinentes à matemática, o que leva muitos ao desinteresse pela disciplina. Uma grande parte dos alunos nas escolas apresenta resistência em desenvolver conceitos matemáticos opondo-se em aprendê-la. O problema do ensino não é única e exclusivamente da disciplina de matemática. Os professores conservadores têm grandes dificuldades para estar em dia com os conhecimentos e são meramente aplicadores das matérias. Atualmente, os meros conhecimentos das técnicas e das práticas didáticas não são suficientes para formar um bom professor. De acordo com Freire (1996, p. 65) “Uma educação só pode ser viável se for uma educação integral do ser humano. Uma educação que se dirige à totalidade aberta do ser humano e não apenas a um de seus componentes”. Fonte: <https://www.metropoles.com/dedo-de-prosa/conheca-cinco-livros-para- perder-o-medo-da-matematica>: Acesso em: 15 out 2018. Em sua obra, Sanchez (2004) corrobora com o tema em discussão e destaca que as dificuldades na aprendizagem de matemática manifestassem nos seguintes aspectos: • Dificuldades em relação ao desenvolvimento cognitivo e à construção da experiência matemática; do tipo da conquista de noções básicas e princípios numéricos, da conquista da numeração, quanto à prática das operações básicas, quanto à mecânica ou quanto à compreensão do significado das operações. • Dificuldades na resolução de problemas, compreensão e habilidade para analisar o problema e raciocinar matematicamente. • Dificuldade quanto às crenças, às atitudes, às expectativas e aos fatores emocionais acerca da matemática. Questões de grande interesse e que com o tempo podem dar lugar a fenômenos da ansiedade para com a matemática e que sintetiza o acúmulo de problemas que os alunos maiores experimentam diante do contato com a matemática. • Dificuldades relativas à própria complexidade da matemática, como seu alto nível de abstração e generalização, a complexidade dos conceitos e algoritmos; a natureza lógica exata de seus processos; a linguagem e a terminologia utilizada. • Podem ocorrer dificuldades mais intrínsecas, como bases neurológicas alteradas. Atrasos cognitivos generalizados ou específicos. Problemas linguísticos que se manifestam na Matemática; dificuldades atencionais e motivacionais, dificuldades na memória etc. • Dificuldades originadas no ensino inadequado ou insuficiente sejam porque à organização do mesmo (sic) não está bem sequenciado, ou não e proporcionam elementos de motivação suficientes; seja porque os conteúdos não se ajustam às (sic) necessidades e ao nível de desenvolvimento do aluno, ou não estão adequados ao nível de abstração, ou não se treinam as habilidades prévias; seja porque a metodologia é muito pouco motivadora e muito pouco eficaz. (SANCHES, 2004, p. 174) Essas dificuldades podem ter origem em questões metodológicas inadequadas, professores mal qualificados, infraestrutura escolar insuficiente e alunos que apresentam bloqueios decorrentes de experiências negativas. Segundo Brum (2013), as dificuldades podem ser tanto internas como externas ao processo de ensino e podem prejudicar o aprendizado do aluno de forma direta ou indireta. Para Lima (1995, p. 3), alguns motivos do baixo rendimento em matemática devem-se à: ”[...] pouca dedicação aos estudos por parte dos alunos (e da própria sociedade que os cerca, a começar pela própria família) e despreparo dos seus professores nas escolas que frequentam”. Segundo Tatto e Scapi (2004) no que se refere ao contexto familiar, as experiências tanto positivas como negativas, obtidas com o convívio familiar podem levar a criança a estruturar um sentimento de rejeição em relação à matemática, mesmo antes de ingressar na escola. Quando escuta de familiares ou amigos que a matemática é difícil e que não gostam dela, pode- se afirmar que o primeiro contato com a disciplina é de uma forma negativa. As primeiras experiências podem influenciar na aprendizagem da matemática e desde o início o aluno que tem um baixo desempenho acredita que é incapaz de aprender e acaba por desmotivar-se. Fonte: <https://catiaosorio.wordpress.com/tag/banda-desenhada/>. Acesso em: 15 out 2018. Outro fator que influencia nas dificuldades enfrentadas pelos alunos é a metodologia utilizada pelos professores. Nesse processo, o docente é o principal responsável por estimularseus alunos para o aprendizado em matemática. De acordo com Fiorentini e Lorenzato (2012, p.3), O educador matemático, em contrapartida, tende a conceber a matemática como um meio ou instrumento importante à formação intelectual e social de crianças, jovens e adultos 50 9 e também do professor de matemática do ensino fundamental e médio e, por isso, tenta promover uma educação pela matemática. Ou seja, o educador matemático, na relação entre educação e matemática, tende a colocar a matemática a serviço da educação, priorizando, portanto, esta ultima, mas sem estabelecer uma dicotomia entre elas. Para D’Ambrósio (2011) é realmente difícil motivar os alunos com fatos e situações do mundo atual. Cabe ao professor em suas práticas de ensino, criar situações em que os alunos se motivem e criem gosto pela matemática sendo altamente criativos e cooperador, reunindo habilidades que estimulem os alunos a pensar proporcionando autonomia para os mesmos. O desconhecimento de métodos e processos faz com que os alunos criem um bloqueio e consequentemente, medo e frustração. Segundo Silva (2014) nas escolas, a matemática é normalmente vista como a disciplina mais difícil para se aprender e, geralmente nos primeiros anos da vida estudantil o ensino é feito por pedagogos que lecionam todas as matérias, sendo esse um fator relevante que pode ser apontado quanto às dificuldades de aprendizagem na matemática e/ou matofobia. Nesse sentido, o aluno nem sempre é motivado como deveria, pois, muitos educadores compartilham a ideia de que a matemática é muito complexa e abstrata, difícil de ser ensinada. 2.1 - A Matofobia e suas consequências Fonte: <https://unascuola.it/chi-ha-paura-della-matematica/.>. Acesso em: 15 out 2018. Em sua dissertação de mestrado, Felicetti (2007) destaca os fatores associados à Matofobia que levam a reprovação na matemática nas 1º séries do ensino médio e, o autor afirma que: A Matemática é reconhecida pela sua vasta importância por todos os países e governos, sendo matéria universal e obrigatória, funcionando como mola propulsora no movimento da sociedade. Assim, deveria ter raízes profundas, nossos sistemas culturais como uma motivação a mais para o aluno, e não como algo inacessível, de difícil aprendizagem e distante da realidade. (FELICETTI, 2007, p. 35) De acordo com Fonseca (1995, p. 217), há vários fatores relacionados com as dificuldades para se aprender a matemática nas escolas, dentre eles: “[...] ausência de fundamentos matemáticos, falta de aptidão, problemas emocionais, ensino inapropriado, inteligência geral, capacidade especial, facilitação verbal e/ou variáveis psiconeurológicas”. As dificuldades e/ou Matofobia podem ser consideradas como uma das possíveis causas. Segundo Santos (2015): A matemática talvez seja uma das matérias mais “temidas” pelos alunos de uma escola. Cálculos, números e muito raciocínio fazem da matemática escolar. Como uma bola de neve, o gosto ou temor, pela matemática aumenta no decorrer das séries da educação básica, o que pode, muitas vezes, ocasionar a exclusão de muitos alunos. (SANTOS, 2015, p. 7459) Para a autora, esse medo pode levar a um bloqueio mesmo que inconsciente, dos alunos a tudo que parecer similar com a matemática e, por vezes, passam a ter aversão ou medo em relação à disciplina. Papert (1987, p. 21) denomina o medo da matemática como “Matofobia” e segundo o autor “impede muitas pessoas de aprenderem qualquer coisa que reconheçam como Matemática, embora elas não tenham dificuldades com o conhecimento matemático quando não o percebem como tal”. Estudantes competentes e inteligentes podem ser atingidos por esse sentimento negativo que vai perpassando por eles de série em série, trazendo bloqueios, criando tabus, uma vez que a maioria das vezes a forma como a disciplina é trabalhada não a desmistifica, muito pelo contrário, aumenta sua complexidade. Para algumas pessoas, a matemática é vista como uma ciência que alguns “gênios” que podem construir e da qual podem desfrutar, para os demais, o que resta é o esforço incomparável do pensamento para entender a disciplina e mostrar acertos intocáveis ou, então, provoca o imediato afastamento de tudo que está ligado com a matemática. Outro fator que pode levar a Matofobia é a descontextualizarão do ensino, onde é marcado, sobretudo pela memorização de fórmulas e regras desconectadas da realidade dos alunos, fazendo com que a matemática perca sua beleza para alguns discentes por não conseguir assimilar o conteúdo, tornando a matemática um “bicho de sete cabeças”. O sentimento de fracasso na aprendizagem de matemática é o resultado de sentimento negativo que a disciplina proporciona ao aluno, adicionado ao bloqueio de não dominar sua linguagem o que dificulta o acesso ao conhecimento. Quando se configura a matemática como algo difícil de compreender e de pouca utilidade prática produz sentimentos e representações que influenciarão no desenvolvimento da aprendizagem. De acordo com Felicetti e Giraffa (2011, p. 25) “os estudantes têm a necessidade de praticar Matemática, e não apenas ficarem na rotina da aprendizagem de regras, procedimentos e memorizações”. Acrescentando ainda que: O sucesso ou insucesso na disciplina de Matemática está ligado não só naquilo que é ensinado, mas, principalmente, em como é ensinado de modo a consolidar os conteúdos matemáticos a cada nível de aprendizagem, uma 51 Prática de Ensino em Matemática II 10 vez que esta disciplina de torna mais complexa a cada nível de ensino. (FELICETTI, GIRAFFA, 2001, p. 25) Para Felicetti (2007) a Matofobia também é identificada como uma questão cultural onde os alunos, geralmente, não gostam ou têm medo da matemática porque não conseguem entendê-la. Nesse sentido, a autora afirma que: A visão do conhecimento da Matemática como um muro de tijolos funciona muito bem. Nessa visão, cada tijolo representa um conceito. Os conceitos mais simples, como os números e as operações, formam a base do muro. Pouco a pouco outros conceitos, ou tijolos, vão sendo acrescentados e o muro começa crescer. Se faltar um tijolo, o muro tem uma fraqueza ou, em alguns casos, se faltam muitos tijolos (ou Por outro lado, com os conceitos solidamente a se multiplicar e a se consolidar no estudante. Como resolver o problema da falta de um ou mais tijolos, em outras palavras, dos conceitos? Voltando atrás e buscando o conhecimento que esta faltando para retomar a construção do muro de forma sólida. Mas por que ter todo esse trabalho? Porque a Matemática é importante, sendo a linguagem das ciências exatas, dos negócios e do dinheiro. (FELICETTI, 2007, p. 49) Na co mparação da matemática com um “muro” e seus conceitos com os “tijolos”, a autora mostra a importância da disciplina e da construção de conceitos sólidos que devem ocorrer ao longo dos anos. Quando falta um, compromete toda a obra e nesse caso, pode-se afirmar que compromete a aprendizagem. Quando é percebida essa falta, o professor deve voltar e analisar o que está faltando para que seu aluno compreenda a disciplina e, em seguida retomar o conteúdo para que os alunos não apresentem mais medo da matemática no decorrer dos anos escolares. Retomando a aula Estamos indo bem até aqui, para encerrar esta primeira aula vamos recordar... 1 - Breve história do ensino da matemática no brasil O ensino no Brasil passou por diversas reformas e o ensino da matemática também passou por algumas reformulações. Do ensino Jesuítico, onde se destacava o ensino da escrita dos números e operações, o movimento escolanovista se opondo ao ensino tradicional, a Matemática moderna e nas mais atuais tendências e metodologias praticadas pelos professores nas aulas é comum alguns relatos de uma quantidade razoável de alunos que não gostam ou não entendem a disciplina. A legislação vigente veio para nortear os trabalhos dos professores que as usam como suporteem seus planejamentos. 2 - As dificuldades no aprendizado da matemática Pode-se afirmar que é comum alguns alunos relatarem que não entendem a matemática, não gostam e até sentem arrepios quando o assunto são os cálculos. Essa aversão à matemática se torna uma Matofobia. As dificuldades enfrentadas no aprendizado da matemática têm inúmeros fatores que, dentre eles podemos destacar a questão familiar onde os pais não gostam ou têm dificuldades e transmitem essa visão da disciplina como muito difícil e incompreensível. Outro fator é o despreparo de profissionais que também trazem consigo insegurança ao ensinar a matéria. Diante dessas dificuldades enfrentadas pelos alunos, o professor de matemática deve em suas práticas de ensino inovar e buscar sempre um ensino voltado para o cotidiano de seus alunos, mostrar que a matemática tem um sentido, é importante e usada em diversas áreas do conhecimento. BERTI, Nivia Martins. O ensino de matemática no Brasil: buscando uma compreensão histórica. Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG, 2005. BOYER, C. B. História da Matemática. São Paulo, Ed. Edgard Blücher, 1974, Reimp. 1996. BRUN, W. P. Crise no ensino de matemática: amplificadores que potencializam o fracasso da aprendizagem. São Paulo: Clube dos Autores, 2013. D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Educação Matemática: da teoria à prática. Campinas, Papirus, 2002 (Coleção Perspectiva em Educação Matemática). FELICETTI, Vera Lúcia. Um estudo sobre o problema da matofobia como agente influenciador nos altos índices de reprovação na 1ª série do Ensino. Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica do rio Grande do Sul. Porto alegre, 2007. SILVA, Meiriane Vieira da. As dificuldades de aprendizagem de matemática e sua relação com a matofobia. Monografia (Especialização em fundamentos da Educação: Práticas Pedagógicas Interdisciplinares) - Universidade Estadual da Paraíba, Pró Reitoria de Ensino Médio, Técnico e Educação à Distância, 2014. SANTOS, Tassiana. A matofobia no âmbito educacional e as dimensões para seu estudo. Disponível em: <http://educere. bruc.com.br/arquivo/pdf2017/24585_11936.pdf>. Acesso em: 20 out 2018. Vale a pena ler Vale a pena 52
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