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Oliveira-Educacao_Teologica_Indigena_no_Centro-Oeste_Brasil


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PAULO CÉSAR DUARTE DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EDUCAÇÃO TEOLÓGICA INDIGENA NO CENTRO OESTE DO BRASIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Londrina 
2006 
 
PAULO CÉSAR DUARTE DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EDUCAÇÃO TEOLÓGICA INDÍGENA NO CENTRO OESTE DO BRASIL 
 
Dissertação apresentada em cumprimento às exigências do 
Curso de Mestrado em Divindade da Faculdade Teológica 
Sul Americana, sob a orientação do Prof. Dr. Marcos 
Orison. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Londrina 
2006 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
À minha querida esposa Quézia e aos meus filhos Jônatas e Míriam, 
 
Pelo amor e carinho que tenho recebido sempre e pelo encorajamento nos momentos mais 
difíceis. Sem vocês não conseguiria ter alcançado mais um degrau. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
A Deus e ao nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo pelas vitórias e alegrias que nos outorgou 
neste tempo de estudos. 
 
Aos meus pais, incentivadores constantes do meu crescimento como estudante, dando-me 
conselhos e incentivo para buscar a primazia da sabedoria. 
 
À Faculdade Teológica Sul Americana (FTSA), por sua visão de preparar vidas para servir o 
Reino de Deus, entre as quais somos uma. 
 
Aos Professores e funcionários da FTSA que me acompanharam durante todo o meu curso e 
que demonstraram compreensão e carinho. 
 
Ao Prof. Dr. Luiz Wesley de Souza, o primeiro a caminhar comigo nessa pesquisa, ajudando-
me no processo do projeto de pesquisa, tornando-se um suporte para os momentos que preci-
sei de um conselheiro. 
 
Aos amigos Agnaldo Eufrázio Malaguti e Sueli Aparecida Silva que proveram o meu susten-
to, ajudando-me em toda a caminhada acadêmica. Sem vocês, não conseguiria ter chegado ao 
final. 
 
Aos colegas de classe pelo exemplo, amizade e companheirismo em Cristo na luta para 
satisfazer as exigências próprias de uma época de estudos e pela solidariedade no processo 
acadêmico e espiritual que nos conduziu à vitória. 
 
Aos diretores e professores dos Institutos Bíblicos e colegas missionários da Sociedade 
Internacional de Lingüística que contribuiram com preciosas informações. Esse trabalho não 
seria o mesmo sem a contribuição de cada um de vocês. 
 
Ao Pr. Henrique Terena, por ter me apoiado desde o início, numa das nossas conversas 
informais no encontro do CONPLEI em Dourados – MS, em 2004. 
 
À Associação Lingüística Evangélica Missionária (ALEM), por compreender a necessidade e 
importância do preparo para o ministério e por me incentivar a continuar os estudos. 
 
Ao José Carlos Alcântara da Silva por ter, como diretor da ALEM, permitido minha saída da 
aldeia do Povo Tembé para continuação dos meus estudos. 
 
A Elisabeth Ferreira Vasconcelos de Andrade, colega de missão e doutoranda em Educação, 
que em nossas conversas informais sobre o tema me ajudou a entender um pouco sobre a 
pesquisa no campo da educação. 
 
Ao Isaac Costa de Souza pela revisão e correção do texto final e pelas preciosas sugestões. 
 
A Carlos Delmiro de Oliveira, meu pai, por ter me concedido auxílio financeiro necessário 
para ir ao Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a fim de realizar pesquisa em alguns Institutos 
Bíblicos. Certamente isso não seria possível sem a sua ajuda. 
 
E ao professor Dr. Marcos Orison, que nos últimos meses, mesmo em meio a muitas 
mudanças na pós-graduação, ajudou-me com preciosas sugestões. 
 
 
RESUMO 
 
OLIVEIRA, Paulo César Duarte de. Educação Teológica no Centro Oeste do Brasil. 
Londrina, 2006. 79 p. (Dissertação do Mestrado em Divindade – Faculdade Teológica Sul 
Americana) 
 
 
Apresenta a história de aproximadamente três décadas, que diz respeito a dois Institutos Bí-
blicos e um Centro de Treinamento Bíblico. O Instituto Bíblico Reverendo Felipe Landes e 
Cades Barnéia, no estado do Mato Grosso do Sul, localizados nas cidades de Dourados e A-
quidauana, e o Centro de Treinamento Ami, no estado do Mato Grosso, localizado na Chapa-
da dos Guimarães. Essas instituições estão voltadas para o preparo de líderes evangélicos 
indígenas e possuem indígenas em sua liderança e no quadro de docentes. A história apresen-
tada nessa pesquisa começa em 1978. O caminho percorrido por estas escolas é o mesmo que 
os nossos Seminários e Faculdades Teológicas no Brasil, voltados para não indígenas. Expõe 
os principais componentes dessas instituições teológicas, sistematizando uma série de infor-
mações nesse aspecto. Utiliza-se da pedagogia de Paulo Freire e da teologia da Missão Inte-
gral como ferramentas teóricas para uma reflexão acerca da educação teológica indígena. 
Analisa os principais componentes tais como: objetivos, currículos, corpo discente e docente, 
levantando questões pertinentes a cada um desses tópicos. E finaliza apresentando cinco su-
gestões, em formas de passos, a fim de ser mais prático, na busca de uma educação teológica 
relevante. Reconhece a necessidade de estudos futuros que abarquem outros aspectos não 
trabalhos aqui. 
 
Orientador: Dr. Marcos Orison 
 
ABSTRACT 
 
OLIVEIRA, Paulo César Duarte de. Theological Education in Middle-West Brazil. Londrina, 
2006. 79 p. (Master Thesis on Divinity – South American Theological School) 
 
This thesis presents the history of approximately three decades concerning two Biblical Insti-
tutes and one Bible Training Center. Respectively, the Biblical Institute Reverend Felipe 
Landes and Cades Barnéia located in the state of Mato Grosso do Sul in the cities of Doura-
dos and Aquidauana, and the Ami Training Center in the state of Mato Grosso located in the 
Guimarães Plateau. These institutions aim at preparing evangelical indigenous leaders, and 
have indigenous leaders and docents. The history presented in this research begins in 1978. 
The path followed by these schools is the same as the one followed by our Seminars and 
Theological Colleges in Brazil, which aim at non-indigenous people. This paper presents the 
main components of these theological institutions, systematizing a series of information re-
lated to this aspect. The pedagogy of Paulo Freire and the theology of Integral Mission are 
used here as theoretical tools for reflection on indigenous theological education. This re-
search also analyses the institution’s main components, such as, goals, curriculums and do-
cent body, raising questions pertinent to each of these topics. To conclude, the paper gives 
five suggestions divided into steps, to make it more practical, for the search of a relevant 
theological education. The need for further studies, which include other aspects not devel-
oped here, is recognized. 
 
Supervisor: Dr. Marcos Orison 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 9 
 
CAPÍTULO I. Educação Teológica Indígena no Centro Oeste do Brasil. ............................. 11 
1.1. Um breve histórico.................................................................................................... 11 
1.1.1. Instituto Bíblico Rev. Felipe Landes.............................................................. 12 
1.1.2. Instituto Bíblico Cades Barnéia...................................................................... 13 
1.1.3. Centro de Treinamento Ami........................................................................... 13 
1.2. Os principais componentes......................................................................................... 14 
1.2.1. Os objetivos iniciais dos Institutos.................................................................. 14 
1.2.2. Os currículos.................................................................................................... 16 
1.2.3. O corpo discente.............................................................................................. 20 
1.2.4. O corpo docente...............................................................................................24 
 
CAPÍTULO II. Educação Teológica Indígena: Necessidade ou Ministério?.......................... 27 
2.1. A importância da formação de liderança indígena.................................................... 27 
2.1.1. A edificação da Igreja...................................................................................... 29 
2.1.2. A expansão do Reino de Deus......................................................................... 34 
2.2. Um modelo pedagógico a partir de Paulo Freire....................................................... 40 
2.2.1. O educando no seu contexto: o ponto de partida da educação........................ 41 
2.2.2. O diálogo como eixo principal no espaço pedagógico.................................... 43 
2.2.3. Educação “problematizadora” versus educação “bancária”............................ 47 
2.2.4. O currículo: um projeto participativo.............................................................. 49 
2.3. Missão Integral: parâmetros para uma educação teológica integral.......................... 50 
2.3.1. A relevância do contexto................................................................................. 51 
2.3.2. A natureza do ser humano............................................................................... 54 
2.3.3. Igreja, Reino e Mundo..................................................................................... 56 
 
CAPÍTULO III. Por uma educação teológica indígena relevante........................................... 60 
3.1. Educação e Missão.................................................................................................... 60 
3.1.1. Missão para com Deus.................................................................................... 62 
3.1.2. Missão para consigo mesma........................................................................... 63 
3.1.3. Missão para com o mundo.............................................................................. 65 
3.1.4. Missão para com o estudante.......................................................................... 66 
3.2. Revisão dos principais componentes dos IBIs e do Centro de Treinamento............ 67 
3.2.1. Revisando os objetivos iniciais....................................................................... 67 
3.2.2. Revisando os currículos.................................................................................. 70 
3.2.3. Revisando o corpo discente............................................................................ 74 
3.2.4. Revisando o corpo docente............................................................................. 78 
3.3. Sugestões para uma educação teológica indígena relevante..................................... 79 
3.3.1. Passo 1: Analisar o contexto sócio-cultural e histórico do(a) educando(a).... 80 
3.3.2. Passo 2: Desenvolver uma educação dialógica e problematizadora............... 82 
3.3.3. Passo 3: Conceber o(a) educando(a) como ser integral.................................. 84 
3.3.4. Passo 4: Conceber a missão da igreja como integral...................................... 85 
3.3.5. Passo 5: Desenvolver uma educação centralizada no Reino de Deus............ 87 
 
CONCLUSÃO........................................................................................................................ 89 
 
BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................... 93 
TABELAS 
 
 
1 Tabela 1: Disciplinas do 1º. Ano do Instituto Bíblico Reverendo Felipe Landes................. 16 
2. Tabela 2: Disciplinas do 2º. Ano do Instituto Bíblico Reverendo Felipe Landes................ 17 
3. Tabela 3: Disciplinas do 1º. Ano do Instituto Bíblico Cades Barnéia.................................. 17 
4. Tabela 4: Disciplinas do 2º. Ano do Instituto Bíblico Cades Barnéia.................................. 17 
5. Tabela 5: Disciplinas do 3º. Ano do Instituto Bíblico Cades Barnéia.................................. 18 
6. Tabela 6: Disciplinas do 1º. Ano do Centro de Treinamento Ami....................................... 18 
7. Tabela 7: Disciplinas do 2º. Ano do Centro de Treinamento Ami....................................... 19 
8. Tabela 8: Disciplinas do 3º. Ano do centro de Treinamento Ami........................................ 19 
 
 
 
 
ABREVIAÇÕES 
 
 
IBRFL: Instituto Bíblico Reverendo Felipe Landes 
IBCB: Instituto Bíblico Cades Barnéia 
CTA: Centro de Treinamento Ami 
MEU: Missão Evangélica Unida 
SAIM: South American Indian Mission 
UNIEDAS: União das Igrejas Evangélicas da América do Sul 
CONPLEI: Conselho Nacional de Pastores e Líderes Indígenas 
INTRODUÇÃO 
 A partir da década de 70, inúmeras instituições teológicas começam a surgir no Brasil. 
Entre elas merece destaque as conhecidas como institutos bíblicos. Em alguns casos, os 
institutos bíblicos surgiram com o propósito de preparar evangelistas para áreas rurais e para 
evangelização de indígenas. 
 Esta pesquisa focalizará sua atenção em institutos bíblicos que foram estruturados a 
partir de 1978, com a finalidade de formar líderes evangélicos indígenas que pudessem dar 
continuidade à grande comissão estabelecida por Jesus. 
O tema deste trabalho Educação Teológica Indígena no Centro Oeste do Brasil, ainda 
que pareça abrangente, compreende um estudo dos principais componentes dos Institutos 
Bíblicos Reverendo Felipe Landes e Cades Barnéia e do Centro de Treinamento Ami. Os dois 
primeiros ficam localizados no estado do Mato Grosso do Sul, nas cidade de Dourados e 
Aquidauana, respectivamente; o terceiro, localiza-se na Chapada dos Guimarães, estado do 
Mato Grosso. 
O objetivo desta pesquisa é sistematizar algumas informações acerca da história e dos 
principais componentes dessas instituições e a partir daí avaliar como se processa a educação 
teológica indígena. Como este trabalho abordará apenas um aspecto da educação teológica, 
isso aponta para a necessidade de estudos futuros em relação aos aspectos não abordados. 
A metodologia utilizada na obtenção dos dados em relação a estas instituições foi a 
pesquisa de campo, realizada por meio de um questionário e entrevistas gravadas com 
aproximadamente doze líderes ligados a essas escolas e mais cerca de oito missionários que 
trabalham com a tradução da bíblia para povos indígenas e que tiveram contato com alunos 
desses institutos bíblicos. Outras fontes utilizadas dizem respeito a folders, relatórios, notas 
pessoais e regimento interno das referidas instituições. O autor da pesquisa encontrou certas 
limitações na obtenção principalmente de informações sobre a fundação desses institutos 
 10 
bíblicos, devido a falta de material escrito e de pessoal que pudesse descrever por meio da 
história oral este período inicial da vida da instituição. A dificuldade também é resultado do 
momento em que a pesquisa foi feita, que coincidiu com as férias dos líderes mais antigos. 
Também foi utilizado levantamento bibliográfico prévio para o desenvolvimento dos 
demais aspectos da pesquisa. Esta está organizada em três capítulos. 
No primeiro capítulo, será apresentada, de forma não muito extensa, a história das 
instiutições alvos desta pesquisa e em seguida os seus prinicipais componentes, tais como: os 
objetivos iniciais, os currículos, o corpo discente e docente. Neste capítulo veremos, por 
exemplo, quais foram os objetivos iniciais e quais os objetivos hoje; apresentaremos a 
proposta de grade curricular de cada uma das instituições; refletiremos acerca da origem do 
corpo discente, considerando questões como: Como são sustentados? Como são selecionados? 
Qual o percentual dos que retornam para aldeia? Abordaremos também o corpo docente, onde 
trataremos sobre questões como: Quem são os docentes? Em que áreas são preparados? E 
qual o desafio em relação a docência teológica? 
No segundo capítulo, trataremos inicialmente sobre a importância da formação de 
líderesindígenas. Veremos principalmente a importância e o papel desses líderes na vida e na 
missão da igreja emergente no contexto indígena. Ainda neste capítulo, será apresentado o 
referencial teórico a ser utilizado nesta pesquisa, com dois focos: um na pedagogia freireana e 
o outro na teologia da Missão Integral. Nesses focos serão buscado subsídios para refletirmos 
sobre a educação teológica indígena. 
No terceiro e último capítulo, será mostrada a relação entre educação teológia e a 
missão da igreja. Em seguida, será feita uma revisão dos principais componentes dessas 
instituições, apresentados no Capítulo 1. E, por fim, serão apresentadas, de forma didática, 
algumas sugestões com o objetivo de ajudar no desenvolvimento de educação teológica 
relevante. 
CAPÍTULO I 
EDUCAÇÃO TEOLÓGICA INDÍGENA NO CENTRO OESTE DO BRASIL 
Neste capítulo, será feita uma apresentação panorâmica dos Institutos Bíblicos 
Reverendo Felipe Landes, Cades Barnéia e do Centro de Treinamento Ami, descrevendo 
alguns dos seus principais componentes estruturais. Ver-se-á um pouco da história dessas 
instituições, quando foram fundadas e outras particularidades. Serão também descritos quais 
foram os objetivos iniciais e quais são os atuais objetivos de cada uma delas. Serão 
apresentadas as propostas curriculares de cada um desses institutos bíblicos e por fim será 
feita a apresentação dos corpos docente e discente. 
1.1 Um breve histórico 
Desde 1978 até os dias atuais, várias escolas bíblicas surgiram no cenário brasileiro 
com o intuito de preparar liderança indígena evangélica. No site do Conselho Nacional de 
Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas (CONPLEI)1 é possível encontrar o nome de 
algumas dessas instituições de ensino teológico. O presente trabalho destacará, numa visão 
panorâmica, apenas três delas: os institutos bíblicos Rev. Felipe Landes, Cades Barnéia e o 
Centro de Treinamento Ami. Os dois primeiros localizados no Mato Grosso do Sul e o último 
no Mato Grosso. 
A educação teológica indígena é resultado do trabalho de organizações missionárias 
que atuam junto aos povos indígenas. No caso dos institutos bíblicos Rev. Felipe Landes, 
Cades Barnéia e do Centro de Treinamento Ami, pelo menos quatro organizações – SAIM, 
MEU, UNIEDAS e Missão Caiuá – ajudaram em sua estruturação. Com exceção da MEU, 
que tem desenvolvido educação teológica em Porto Velho, no estado de Rondônia, 
percorrendo várias aldeias, essas organizações continuam envolvidas com os referidos 
institutos. 
 
1 Ver o site http://www.conplei.org para maiores informações. 
 12 
1.1.1 Instituto Bíblico Reverendo Felipe Landes 
 Em 1978, exatamente quando a Missão Caiuá completava seus 50 anos de existência e 
ministério servindo a população indígena Kaiwá em Dourados, mais um sonho do Rev. 
Orlando e da dona Loide se concretizava: organizou-se o Instituto Bíblico Rev. Felipe Landes, 
em Dourados, no Mato Grosso do Sul. E, conforme as palavras do Rev. Gordon, dona Loide2 
sempre afirmava: “Temos que ter evangelistas índios, temos que ter um instituto bíblico.” 
Um dos primeiros diretores desse instituto bíblico foi o pastor da Igreja Filadélfia3, em 
Dourados, e “durante quatro anos foram formados três indígenas: o sr. Guilherme, o sr. Xisto 
e o sr. Adalberto.” Em 1984, quando o Rev. Gordon chegou para ajudar no instituto bíblico, à 
convite de dona Loide, ele teve em sua primeira turma oito alunos não-indígenas. Então, 
conversando com a direção da Missão, ele disse: “Não vim aqui para fazer um instituto 
bíblico para “brancos”. Ou vocês arrumam índios ou vou embora.” E, segundo o Rev. 
Gordon, “uma campanha foi feita nas aldeias e conseguimos dezoito alunos indígenas.” 
Algum tempo depois, a direção da Missão Caiuá nomeou o Rev. Gordon como diretor 
do instituto bíblico. E “dois ou três anos depois, começou a ter uma seqüência de diretores 
brasileiros, com exceção de Mabel (Irlandesa). Alguns desses diretores foram: Mizael, Heitor, 
[...] Rev. Gerson (o último não indígena a desempenhar esse papel). Em 2005 foi nomeado 
um indígena como diretor do Felipe Landes: Jayson de Souza Morais (Tato).” 
Atualmente, as aulas desse instituto vão de terça até sexta-feira. O curso tem duração 
de dois anos, no qual ao final o aluno recebe um diploma de evangelista. 
 
2 Rev. Orlando e Dona Loide foram líderes da Missão Caiuá por mais de 40 anos. No início do ministério, o Rev. 
Orlando foi o diretor e dona Loide vice-diretora; mais tarde, ela foi também administradora e chefe do hospital. 
(ver: TUCKER, Ruth A. “... E até aos confins da terra” – Uma História Biográfica das Missões Cristãs. Trad. 
Neyde Siqueira. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova. 1986, p.521-4). 
3 Não há informação quanto ao nome deste primeiro diretor. No período da pesquisa, as pessoas com quem 
conversamos não lembravam o seu nome e boa parte da documentação desse instituto bíblico havia sido perdido. 
 13 
1.1.2 Instituto Bíblico Cades Barnéia 
Em 1980, sob a inspiração da South America Indian Mission (SAIM), e parceria com a 
União das Igrejas Evangélicas da América do Sul (UNIEDAS) e com a Missão Evangélica 
Unida (MEU), nasce o Instituto Bíblico Cades Barnéia, que significa “lugar de decisão”. 
Atualmente, esse instituto bíblico é conhecido na região de Anastácio como Instituto Bíblico 
Água Azul. 
Essa instituição nasceu com o propósito de preparar biblica e teologicamente líderes 
evangélicos indígenas para o exercício do ministério cristão, seja na igreja local, na Missão 
UNIEDAS, no próprio IBCB ou ainda plantando igrejas em outras comunidades indígenas. 
Um aspecto dessa instituição que merece ser mencionado é que a mesma é dirigida por 
indígenas da etnia Terena. 
De fato, somente em 1981 é as aulas tiveram início no Cades Barnéia. A primeira 
turma formada era composta de “dezoito a vinte alunos, entre Terenas, Guaranis e alguns não 
indígenas da região.” Desde então, esse instituto vem sendo um instrumento para a 
capacitação teológica dos próprios indígenas. E, conforme afirma o pastor Josias Terena, 
“mais de nove etnias já estudaram no Instituto Bíblico Cades Barnéia. Tivemos aqui 
Nambiquara, Gavião, Suruí, Bakairi, Kadiwéu, Guarani, Pariri, Xavante e Terena.” Os alunos 
que concluem o curso acabam atendendo as necessidades das igrejas locais, ou vão 
desenvolver ministério em outras aldeias. 
O curso oferecido pelo Cades Barnéia é o curso médio em missões e tem a duração de 
três anos, divididos em dois semestres por ano. Sendo as aulas oferecidas de terça-feira até o 
sábado pela manhã. 
1.1.3 Centro de Treinamento Ami 
Os missionários da South America Indian Mission (SAIM), ainda quando estavam no 
Mato Grosso do Sul, já pensavam na organização de um centro de treinamento que oferecesse 
 14 
um curso bíblico de preparo transcultural, no estado do Mato Grosso, com o objetivo de 
alcançar a população indígena desta região. 
Sendo assim, em 1994 um grupo de pessoas, dentre elas: Daniel e Julia Snyder, Pr. 
Paulo e Edina, Reginaldo Sandro, Celso e Aldecir e, por fim, Doracir, dirigiram-se para a 
Chapada dos Guimarães. Lá havia uma propriedade comprada desde 1980 que estava à 
disposição de igrejas fundadas pela SAIM em Cuiabá. Como esta área não estava sendo 
utilizada pelas igrejas, esses missionários começaram os preparativos para o funcionamento 
do Centro de Treinamento. 
Assim, em março de 1995, na Chapada dos Guimarães, Mato Grosso, é organizado o 
Centro de Treinamento Ami. O nome Ami foi extraído do livro de Oséias, no Antigo 
Testamento, e é um vocábulo de origem hebraica que significa “meu povo”. 
A primeira turma era composta de alunos indígenas e não-indígenas. Mas, como nos 
outros Institutos Bíblicos vistos até aqui, o seu objetivo era principalmente o preparo de 
líderes evangélicos indígenas. 
O Ami oferece o curso bíblico depreparo transcultural com duração de três anos, 
sendo o ano letivo dividido em quatro bimestres, onde cada bimestres tem duração de seis 
semanas, tendo, entre um bimestre e outro, um período prático em área indígena. Além do 
curso bíblico, é oferecido um supletivo de no máximo dois anos, mas a maioria dos alunos 
conclui em um ano. Segundo os diretores do Ami, “Muitos vão passar pelo supletivo para 
aprender a ler e escrever em português.” 
1.2 Os principais componentes 
1.2.1 Os objetivos iniciais dos Institutos 
De acordo com depoimentos de líderes desses institutos bíblicos, pode-se constatar 
que tais instituições nasceram com o objetivo de preparar líderes (mão-de-obra) autóctones 
para o ministério na igreja emergente e para a expansão do evangelho entre os povos 
 15 
indígenas. Um exemplo disso é percebido na afirmação que encontramos em documento do 
Instituto Bíblico Reverendo Felipe Landes, da Missão Caiuá, que diz: “O Instituto bíblico foi 
fundado com o objetivo de formar evangelistas índios para auxiliar nos trabalhos existentes e 
para abertura de novos campos em aldeias onde o ingresso de não indígena é proibido ou 
inviável” (grifo nosso).4 E ainda no portal geral da Igreja Presbiteriana do Brasil, encontramos 
a seguinte afirmação: “A Missão Evangélica Caiuá, ainda mantém um Instituto Bíblico para 
formação de obreiros indígenas, com o intuito de que o próprio índio cumpra a missão da 
evangelização entre o seu povo.”5 Tal visão permanece ainda hoje: preparar os próprios 
indígenas para a tarefa da evangelização. 
Quanto ao Instituto Bíblico Cades Barnéia, os objetivos foram os mesmos preconizado 
pela Missão Caiuá. O pastor Josias Terena, membro da Missão UNIEDAS e atual diretor do 
dessa instituição, afirma: “O objetivo principal do Instituto Bíblico Cades Barnéia sempre foi 
preparar o índio para o trabalho missionário e é nosso objetivo ainda hoje preparar o índio 
para evangelizar o próprio índio.” Além disso, acrescenta: “nossos ex-alunos, que agora são 
missionários, têm trabalhado em sua própria comunidade ou em outra, e isso é gratificante.” 
 A trajetória do Instituto Bíblico Ami, não difere muito do que vimos até aqui em 
relação aos outros. Seu objetivo inicial foi expresso por alguns professores da seguinte 
maneira: 
Desde o início, o alvo principal era o de fazer discípulos. A educação e o 
atendimento das necessidades na área de saúde para as tribos nessa região era um 
forma de fazer isso. O alcance das tribos com o evangelho sempre foi nosso 
primeiro alvo. O curso bíblico e as atividades na parte da tarde é só uma forma de 
alcançar o alvo de fazer discípulos. A esperança é que os alunos que saiam daqui 
façam discípulos em suas aldeias. [...] fortalecendo as igrejas onde eles estiverem 
(grifo nosso). 
 
4 Folder do Instituto Bíblico Rev. Felipe Landes. 
5 Portal da Igreja Presbiteriana do Brasil: http://www.ipb.org.br/missoes/mec.php3, extraído em 25/02/2006. 
 16 
Em outro documento se diz que o Centro de Treinamento Ami foi fundado “visando o 
preparo de obreiros indígenas e todos aqueles que recebem o chamado específico para o 
trabalho transcultural” (grifo nosso).6 
O que se observa nessas três instituições de ensino teológico, seja preparando 
evangelistas, missionários ou discípulos, é a preocupação com o preparo de líderes indígenas 
que possam atender as necessidades da igreja local e ao mesmo tempo contribuir com a 
expansão do evangelho. A visão comum encontrada no discurso oral ou escrito dos dois 
desses institutos bíblicos é a de preparar vocacionados para o ministério.7 Já no Ami não há 
tanto rigor. Uma vez que seu objetivo é formar discípulos, o aluno é aceito mesmo que não 
seja convertido. O pastor Henrique Terena afirma: “O nosso alvo é fazer discípulos. Muitos 
alunos que chegam aqui não são convertidos e muitos deles tomam aqui a decisão de seguir a 
Jesus.”8 
1.2.2 Os currículos 
 Como os institutos bíblicos mencionados até aqui foram fundados por organizações 
missionárias estrangeiras e nacionais9 com a visião de formar liderança autóctone para a igreja 
local e para o trabalho missionário junto aos povos indígenas do Brasil, o currículo adotado 
inicialmente acabou sendo basicamente o que já existia em nossos institutos bíblicos ou 
seminários não indígenas, com pouca ou nenhuma adaptação. No entanto, o mesmo veio a 
passar gradativamente por mudanças nos anos seguintes. Várias questões na área do currículo 
podem ser levantadas. Porém, uma questão fundamental que será ressaltada nesse ponto é: 
quem determina ou elabora o currículo? 
 
6 Folder de divulgação do Instituto Bíblico Ami. 
7 Refiro-me ao Instituto Bíblico Rev. Felipe Landes e ao Cades Barnéia, uma vez que a terceira instituição em 
apreço é um centro de treinamento. 
8 Entrevista com Henrique Dias Terena, professor, membro da diretoria do Ami e atual presidente do Conselho 
Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas (CONPLEI), concedida em 07/06/06. 
9 A organização nacional, nesse caso, é a Missão Caiuá, que, mesmo tendo sido organizada por missionários 
estrangeiros, foi dirigida a partir de 1943 por missionários brasileiros e não há dúvida sobre sua nacionalização. 
 17 
No caso do Instituto Bíblico Rev. Felipe Landes, a grade curricular adotada foi a do 
Instituto Bíblico Eduardo Lane (IBEL), como é possível observar nas palavras do Rev. 
Benjamim quando afirma: “inicialmente ele foi estruturado, seguindo o modelo do Instituto 
Bíblico Eduardo Lane (IBEL), depois, com o passar do tempo, esta estrutura foi se adaptando, 
especialmente a grade curricular.” 
 Nos primeiros anos, diz o Rev. Gordon: “O nível das disciplinas era muito alto, a cada 
ano nós procuramos baixar o nível das disciplinas para que os alunos pudessem absolver. Não 
precisa mudar o currículo, talvez o professor devesse modificar o conteúdo ao nível dos 
alunos. O currículo está dando o básico para o evangelista sair preparado para servir a igreja.” 
Em relação ainda ao currículo, o Rev. Matoso acrescenta: “O currículo é definido pelo 
conselho diretor que o apresenta a Assembléia da Missão Caiuá para aprovação ou não.” O 
Instituto Bíblico tem em sua grade curricular10 de 37 disciplinas, distribuídas num período de 
quatro semestres, podendo, assim, ser concluída em dois anos. 
Tabela 1 
Disciplinas do 1º. Ano do Instituto Bíblico Rev. Felipe Landes 
1º. Semestre 2º. Semestre 
Doutrina Doutrina 
Panorama do VT Panorama do VT 
Educação Cristã Educação Cristã 
Português Português 
Música Homilética 
Saúde e Nutrição Levítico e Hebreus 
Hermenêutica História da Igreja 
História da Igreja Tabernáculo 
Evangelismo e Discipulado Livros Poéticos 
 Práticas Manuais 
 
 
10 A grade curricular apresentada se encontra no documento com o título Regimento Interno e Grade Curricular 
do Instituto. Conforme o Rev. Matoso, já foi feita uma proposta para mudança de algumas disciplinas 
(22/02/2006). 
 18 
Tabela 2 
Disciplinas do 2º. Ano do Institutot Bíblico Rev. Felipe Landes 
1º. Semestre 2º. Semestre 
Doutrina Doutrina 
Panorama do NT Panorama do NT 
Educação Cristã Educação Cristã 
Português Português 
Harmonia dos Evangelhos Música 
Evangelismo e Discipulado Prática de Evangelismo e Discipulado 
Seitas e Heresias Vida Crsitã e Aconselhamento 
Missões Administração Eclesiástica 
Homilética Missões Indígenas 
 No Cades Barnéia, o currículo foi elaborado pela missão indígena UNIEDAS e outros 
missionários que atuavam naquela região. E desde o início de suas aulas em 1981 até hoje, 
tem sido mantido o mesmo currículo, com poucas mudanças. O pastor Josias Terena afirma 
que: “Desde o início mantemos o mesmo currículo, tem alguma mudança, mas não é muita 
coisa, às vezes queremos atualizar um pouco”. A grade curricular apresenta 50 disciplinas 
distribuídas sistematicamenteem seis semestres, ou seja, pode ser concluída em três anos. 
Tabela 3 
Disciplinas do 1º. Ano do Instituto Bíblico Cades Barnéia 
1º. Semestre 2º. Semestre 
Visão Geral da Bíblia Doutrina Homem/pecado/salvação 
Doutrina da Bíblia Evangelho de João 
Orientação Cristã Lar Cristão 
Gênesis/Êxodo Números/Deuteronômio/Josué 
Áudio Visual Metódos de Estudo I 
Sinóticos Antropologia /Missiologia 
Prevenção/Doenças Primeiros Socorros 
Coral Música/Regência 
Tabela 4 
Disciplinas do 2º. Ano do Instituto Bíblico Cades Barnéia 
1º. Semestre 2º. Semestre 
Doutrina Deus/Cristo/Espírito Santo Doutrina da Igreja 
Juízes/Rute/Samuel/Reis Esdras/ Neemias/ Ester 
 19 
Atos dos Apóstolos Romanos/Tiago 
Evangelismo Efésios/Colossenses 
João/Pedro/Judas História do Cristianismo 
Pedagogia Cristã Homilética I 
Métodos de Estudo II Guerra Espiritual 
Introdução a tradução Primeiros Socorros 
Coral Coral 
 
Tabela 5 
Disciplinas do 3º. Ano do Instituto Bíblico Cades Barnéia 
1º. Semestre 2º. Semestre 
Doutrina das Últimas Coisas Profetas Menores 
Isaías/Jeremias I, II Tessalonicenses/ II Timóteo 
I Timóteo/Tito I, II Coríntios 
Daniel/Apocalipse Levíticos/Hebreus 
Liderança Cristã Missões 
Bíblia e Cultura Indígena Aconselhamento Pastoral 
Doutrina dos Anjos Princípio de Ensino 
Coral Doutrina Escatologia 
 
 No Ami, a experiência não foi diferente. O currículo foi elaborado por “missionários 
da SAIM com a participação ativa dos professores do Ami, tanto brasileiros como indígenas. 
E várias adaptações já foram feitas para chegar a atual grade curricular.” A atual proposta 
curricular que o Ami oferece é composta de 51 disciplinas, que podem ser concluídas dentro 
de um período de três anos, distribuídas em seis semestres, sendo cada semestre constituído 
de dois “bimestres com duração de seis semanas cada”. E além das disciplinas oferecidas em 
sala de aula, os alunos do Ami desenvolvem tarefas nas áreas de: “carpintaria, oficina, 
horticultura, enfermagem, construção e datilografia”. 
Tabela 6 
Disciplinas do 1º. Ano do Centro de Treinamento Ami 
1º. Semestre 2º. Semestre 
Português I Português II 
A Bíblia Visão da Bíblia 
Lar Cristão Mateus e os Evangelhos 
Orientação Cristã Números a Josué 
Áudio Visual Evangelho de João 
Prevenção/Doenças Métodos de Estudo 
 20 
Corpo Humano/Nutrição Guerra Espiritual 
Gênesis/Êxodo Primeiros Socorros 
 Música 
 
 
Tabela 7 
Disciplinas do 2º. Ano do Centro de Treinamento Ami 
1º. Semestre 2º. Semestre 
Português III Português IV 
Juízes/2Reis Homem/pecado/salvação 
Introdução a Tradução Homilética I 
Atos História Cristã 
Métodos de Estudar a Bíblia Romanos/Tiago 
I João a Judas Efésios a Colossenses 
Pré-Evangelismo Esdras a Ester 
Anatomia/Fisiologia/Patologia Anatomia/Fisiologia/Patologia 2 
 Oração 
 
Tabela 8 
Disciplinas do 3º. Ano do Centro de Treinamento Ami 
1º. Semestre 2º. Semestre 
Português V Português VI 
Doutrina Deus/Cristo/Espírito Santo Igreja e Missões 
I Timóteo/Tito Aconselhamento Pastoral 
Farmacologia Profetas Menores 
Liderança Cristã Isaías/Jeremias 
Antropologia Levíticos/Hebreus 
I, II Coríntios Princípio de Ensino 
Livros Poéticos I, II Tessalonicenses/Escatologia 
Daniel/Apocalipse 
 
 É possível constatar os seguintes grupos de disciplinas em comum nas três grades 
curriculares: doutrinárias, analíticas (estudo de livros e epístolas), históricas e práticas. 
1.2.3 O corpo discente 
Qual a origem dos alunos? Como são selecionados? Como são sustentados? Qual o 
percentual dos que retornam para as aldeias? Em que língua os alunos estudam? Essas são 
algumas questões relevantes que trataremos agora, procurando respondê-las. 
 21 
Segundo os líderes desses institutos bíblicos, os alunos procedem de diferentes aldeias. 
Mas, vale ressaltar que essas instituições já receberam e formaram alunos não-indígenas. 
No Instituto Bíblico Rev. Felipe Landes, basicamente os alunos representaram quatro 
etnias: Terena, Guarani, Kaiwá e Xavante. No Cades Barnéia, o pastor Josias Terena garante 
que desde o início já passaram o nove etnias: “Nambiquara, Gavião, Suruí, Bakairi, Kadiwéu, 
Guarani, Pariri, Xavante e Terena”. No Centro de Treinamento Ami, houve um número bem 
maior de etnias estudando a palavra de Deus, “foram cerca de 25 povos representados, sendo 
uma média de 12 a 15 por ano”. Algumas das etnias que já passaram por essa escola bíblica 
são: “Jarawara, Ka’apor, Tikuna, Aikanã, Tupari, Parintintin, Suruí, Parecis, Guajajara, 
Paumari, Nambiquara, Bakairi, Mamaindé, Karitiana, Xavante, Terena”.11 
Os critérios de seleção do aluno são basicamente os mesmos: ser indicado pela igreja 
local, por missionário ou conselho, preencher um formulário de matrícula e uma avaliação 
junto ao conselho diretor do instituto. De acrodo com o Rev. Benjamim: 
Em cada aldeia onde há vocacionado para fazer o instituto e depois atuar como 
missionário, ele passa por uma avaliação da igreja local ou conselho, para saber se a 
pessoa está apta, e se realmente é aquilo que ela quer. Depois é preciso preencher 
vários requisitos do instituto bíblico e isso é feito através de uma avaliação com o 
conselho diretor do instituto, que é formado pelo diretor, coordenadora pedagógica, 
um representante dos professores e um representante dos alunos. 
 Nas palavras do pastor Josias Terena, a carta de apresentação traz informação quanto a 
participação ativa do(a) candidato(a) em sua igreja local e também informa se ele(a) é um 
vocacionado(a) ou não. 
No nosso caso Terena, o candidato vem com uma carta de informação assinada pelo 
pastor de sua igreja local. No caso dos Xavantes, eles precisam trazer uma carta 
assinada pelo cacique, missionário ou pastor da igreja local. A carta serve para trazer 
uma informação se ele está sendo um membro ativo em sua igreja e se ele tem essa 
vocação para ser um missionário. 
 Em relação aos alunos que pretendem ingressar no curso bíblico do Ami, a carta de 
recomendação pode ser da igreja, se já existe igreja na aldeia, do(a) missionário(a) que 
trabalha com o povo, da própria comunidade ou mesmo dos pais, que assumem a 
 
11 Ken Lake. Relatório 2003-2004 e 2004-2005. 
 22 
responsabilidade pelo envio do candidato. Snyder declara: “Nós requeremos uma carta do 
pastor ou da comunidade.” Se não houver igreja pode ser carta: “da comunidade ou do(a) 
missionário(a).” E ainda foi declarado que “os missionários normalmente indicam. Às vezes 
tem pastor ou alguém da aldeia que indica. Mas alguns simplesmente chegam”. 
O que se observa em relação ao sustento dos alunos desses institutos é que suas igrejas 
ou outras igrejas colaboram financeiramente de alguma maneira para sua manutenção. 
Segundo o Rev. Benjamim, da Missão Kaiwá: “A Missão tem levantado junto a igrejas 
e mantenedores o sustento dos alunos, de tal maneira que o próprio aluno não se sinta 
impedido de vir por causa do sustento. Ao ser aceito um aluno, nós o apresentamos a uma ou 
mais igrejas para que seja adotado como filho da igreja, para estar orando por ele e o 
sustentando financeiramente”. 
Em relação ao sustento dos alunos no Cades Barnéia, o pastor Josias Terena afirma: 
O IBCB estipulou um valor mensal, mas, infelizmente, nossos alunos que vêm das 
aldeias não têm condições de pagar suas mensalidades. Nós cobramos R$ 80,00 por 
alunos solteiros e R$ 150,00 por alunos casados. Mas, infelizmente, eles não têm 
condições. O que temos feito, então, é que a própria igreja da qual ele é membro é 
que o mantém aqui com suas contribuições de gênero alimentício. 
 No Ami, o aluno é ensinado a ter responsabilidade quanto ao seu sustento e, portanto, 
quando deixa de pagar algumas mensalidades, ele retorna para aldeia a fim de levantar o que é 
necessário para sua manutenção. A mensalidade no Ami é de meio salário mínimo por pessoa. 
“A escola dá um desconto se o sustento vier da aldeia, mas, todos têm que pagar”. E ainda em 
um documento, encontramos a seguinteafirmação em relação à mensalidade: “pode ser paga 
por ele mesmo em dinheiro, em gêneros alimentícios ou em trabalho além do horário de 
serviço da escola”. 
 Em cada uma dessas escolas bíblicas, é exigido do aluno um período prático, ou seja, 
um tempo de estágio. Quanto a esse tempo de estágio, o Rev. Benjamim afirma: 
Aqui, por está perto da aldeia, nós temos, todo final de semana, atividades nos 
trabalhos locais. Nós temos uma aldeia onde, há quatro anos, eles mesmos (os 
alunos) abriram um trabalho. Eles vão no domingo pela manhã e retornam à tarde. E 
 23 
há os meses de férias. Além disso, em julho eles têm quinze dias de estágios 
supervisionados e no final do ano mais um mês de estágio. São um mês e meio de 
estágio, além dos finais de semana (grifo nosso). 
 No Cades Barnéia, diz o pastor Josias Terena: 
Nós oferecemos num semestre três ministérios onde os alunos vão colocar em 
prática o que eles têm aprendido. A própria escola já oferece um treinamento prático 
para os alunos [...], nas igrejas indígenas da região. [...] Como nós temos esse 
trabalho em outras tribos, o tempo é de quinze a vinte dias. Quando temos atividade 
aqui em nossa região é de três dias, geralmente um final de semana, sexta, sábado e 
domingo. Julho é férias onde os alunos podem retornar para suas aldeias. 
 Os Alunos no Ami também desenvolvem um período de estágio. “O ministério e parte 
da tarde são áreas em que o aluno pode pôr em prática aquilo que está aprendendo em sala de 
aula”. Nos meses de férias também é um tempo propício para o aluno desenvolver o que 
aprendeu na escola bíblica, colocando em prática no convívio em sua aldeia e sua igreja. 
 Um outro ponto crucial em relação aos alunos, diz respeito ao percentual de 
formandos que não retornam para aldeia ao concluir o curso. Esse percentual é baixo, entre 
cerca de 10% no Instituto Bíblico Rev. Felipe Landes e aproximadamente 5% no Centro de 
Treinamento Ami. Já no Instituto Bíblico Cades Barnéia, o pastor Josias Terena não informou 
o percentual dos que não retornam, mas sua afirmação indica que mais da metade dos alunos 
formados estão no ministério, seja na aldeia ou não: “Eu acredito que deve ter 60% que hoje 
são pastores e missionários. Porque hoje, inclusive, nossa diretoria da Missão Indígena 
UNIEDAS e mais a diretoria do IBCB foram ex-alunos daqui do IBCB e que hoje estão 
exercendo função importante dentro da Missão, dentro da obra de Deus”. 
Porém, ainda que os percentuais dos que retornam para suas aldeias seja alto, isso não 
significa que estejam desenvolvendo algum ministério na igreja local, principalmente como 
pastor ou qualquer outro cargo de liderança, pois, em alguns casos, os alunos não estão na 
idade apropriada para exercerem autoridade sobre os mais velhos. 
E, por fim, vale ressaltar que geralmente alguns alunos chegam ao instituto bíblico 
sem nenhum conhecimento da língua portuguesa, no sentido de ler e escrever, mesmo 
 24 
possuindo certo grau de bilingüismo oral. Por esta razão, muitos precisam primeiro aprender a 
ler e a escrever em português – e isso pode durar de um a dois anos, dependendo do grau de 
dificuldade que o aluno encontra no aprendizado da língua. Depois de superada esta etapa é 
que o aluno pode ingressar no curso bíblico. 
A realidade é diferente entre os institutos bíblicos quanto ao processo de ensino-
aprendizagem desenvolver-se em língua portuguesa. No Instituto Bíblico Rev. Felipe Landes, 
diz o Rev. Benjamim: “No nosso caso aqui, 70% são bilíngües e, portanto, não apresentam 
problemas com relação a isso (língua portuguesa – observação nossa). Nós percebemos que o 
homem às vezes é bilíngüe, mas, a esposa tem dificuldade”. 
No contexto do Cades Barnéia, o pastor Josias Terena afirma: “Para nós Terenas, não 
temos tido essa dificuldade, mas, para os que vêm de outras etnias, de outras tribos, já tem a 
dificuldade. Os Xavantes enfrentam uma dificuldade maior, porque falam muito pouco e lêem 
pouco português”. 
No Centro de Treinamento Ami, como já mencionado anteriormente, é oferecido um 
supletivo para atender a essa necessidade do aluno. Este curso tem duração de um a dois anos, 
porém muitos conseguem concluir dentro do período de um ano. 
1.2.4. O corpo docente 
 Quem são os professores(as)? Em que áreas são preparados(as)? E qual o desafio em 
relação ao corpo docente? A questão que envolve a docência teológica, ainda hoje, é um 
assunto na pauta das agendas das instituições de ensino teológico no Brasil. Essa temática não 
deixa de ser relevante em relação às instituições que constituem o universo desta pesquisa. 
 Os professores que compõe o quadro de docentes dessas instituições, que abordamos 
até aqui, são estrangeiros de várias nacionalidades, brasileiros não-indígenas e indígenas. 
Normalmente, esses professores são os missionários que pertencem às organizações 
missionárias que fundaram o instituto bíblico ou o centro de treinamento. Também podem ser 
 25 
pastores ou professores de seminários da região próxima a essas escolas, ou ainda líderes e 
pastores indígenas. 
 O Rev. Benjamim (Felipe Landes) considera como desafio da educação teológica 
indígena o preparo de docentes indígenas. E em relação a isso, ele afirma: “Em nosso caso, 
nós estamos distantes de termos professores capacitados para ministrar, porque a visão que se 
tem da bíblia [...] é aquilo que foi dado no instituto bíblico [...]. Nós precisamos preparar 
melhor os professores indígenas. É uma caminhada que vai demorar um bom tempo, mas é 
um desafio”. O corpo docente desse instituto bíblico sempre foi formado por missionários(as) 
e pastores, tanto estrangeiros como brasileiros. 
 O pastor Josias Terena (Cades Barnéia) também aponta como desafio da educação 
teológica indígena a formação de professores indígenas. Em seu discurso, ele afirma: “A falta 
de professores para [...] o povo indígena, [...] essa tem sido uma grande dificuldade que temos 
tido aqui. O que nós queremos é aperfeiçoar o ensino teológico do povo indígena, para ser 
nosso próprio professor aqui no instituto”. No Cades Barnéia, há oito professores, dos quais 
quatro são índios Terena e os demais são não-indígenas pastores e professores de seminários 
da região. De acordo com o pastor Josias Terena, esses professores: “Têm formação na área 
teológica, são bacharéis em teologia em sua grande maioria. Mas alguns têm formação na área 
de educação, saúde e etc.” 
 No contexto do Ami, o corpo docente é composto de vinte professores, sendo “dez 
estrangeiros, cinco brasileiros não-indígenas e seis indígenas”. A formação da maioria desses 
professores compreende as seguintes áreas de formação: “Bacharel em Teologia, Mestrado 
em Missiologia, Doutorado em Ministério e Pedagogia”. 
Weidt aponta para a importância de um corpo docente diversificado, tanto em relação 
à origem cultural quanto ao nível acadêmico. Ele afirma: “Minha sugestão para os cursos de 
treinamento de líderes é então que diversos professores de diversas culturas e níveis 
 26 
acadêmicos contribuam no ensino. Creio que um corpo docente formado de professores 
indígenas, brasileiros e estrangeiros tem a maior chance de passar o conteúdo de uma forma 
integral”.12 
 
 
12 Friedrich Manfred WEIDT, O povo Guarani-Mbyá no Sul do Brasil: Contextualização e Práxis Evangélica, 
p.148. 
CAPÍTULO II 
EDUCAÇÃO TEOLÓGICA INDÍGENA: NECESSIDADE OU MINISTÉRIO? 
 Nesse segundo capítulo, abordaremos a questão da importância da formação de 
liderança indígena e apresentaremos o referencial de ação pedagógica baseado nas 
contribuições de Paulo Freire e da Missão Integral da Igreja. 
2.1 A importância da formação de liderança indígena 
 Deus confiou à sua Igreja, ou seja, ao seu povo, e isso inclui a igreja evangélica 
emergente no contexto indígena, a responsabilidade de dar continuidade ao ministério de 
Cristo. A Igreja é o corpo de Cristo e seus líderese pastores “devem compreender que o poder 
que lhes foi dado deve ser usado de forma a dar continuidade à práxis pastoral de Jesus.”1 
 Esse chamado, como é demonstrado na doutrina do sacerdócio universal de todos os 
crentes, é responsabilidade de toda igreja, de todo laos Theou (povo de Deus), quer seja clero 
ou leigo. E segundo Lutero, não cabe distinção entre clero e leigo2. A todo membro do corpo 
de Cristo, deve ser ensinado sua responsabilidade3 sacerdotal em relação aos demais, pois, 
afinal, a missão da Igreja é composta de todos. Mas, embora todos sejam considerados 
sacerdotes, “Jesus deu à Igreja alguns homens para pastoreá-la, para serem guias, homens que 
deviam ajudar a todos, sendo eles mesmos modelos para o rebanho até a sua volta triunfal.” 
(grifo nosso)4 
 Pastores, presbíteros, diáconos e demais líderes da igreja local são constituídos por 
Deus com o propósito de equipar e capacitar todos os santos (Ef. 4.12) para o cumprimento de 
sua missão. Costa afirma que: “A eleição feita pela igreja deve ser vista como reconhecimento 
 
1 Cornélio Póvoa de OLIVEIRA, O poder pastoral, p. 66. 
2 Timothy GEORGE, Teologia dos Reformadores, p. 96-98. 
3 De acordo com Habin, tal responsabilidade: “compreende o seu ministrar mesmo enquanto recebe a 
ministração de outros. Cada um deve interceder pelo outro e ensinar ao outro, até corrigindo quando for 
necessário. “ Christopher B. HARBIN, Ecleiologia: O Reinar de Deus na Terra, p. 12. 
4 Cornélio Póvoa de OLIVEIRA, op. cit, p. 66. 
 28 
público e evidência de que os referidos oficiais foram escolhidos, vocacionados e capacitados 
por Deus para determinado ofício.”5 E ainda Harbin acrescenta: “A igreja pode convocar 
indivíduos para funções especiais, mas tal convocação não elimina a responsabilidade dos 
demais.”6 A esse respeito, o missiólogo Charles Van Engen afirma: “A pessoa ordenada [...] 
não é mais chamada para o ministério que qualquer outra pessoa; ao contrário, é designada 
para capacitar cada membro no ministério.”7 
 A responsabilidade desses líderes é, portanto, capacitar e preparar o povo de Deus para 
o cumprimento de sua missão no mundo. E em relação a essa missão, diz Harbin: “Existe um 
duplo enfoque da missão em seu relacionamento com o reinar de Deus: a missão tem aspecto 
interior – aplicação pessoal do ensino e da vida do reinar de Deus; e o seu aspecto exterior – o 
levar a mensagem do reinar de Deus aos demais.”8 E quanto a esses dois aspectos9, vale 
ressaltar que eles não são excludentes, um não existe em detrimento do outro e, sim, são 
complementares. Assim, observando a vida e o ministério do apóstolo Paulo, constata-se que 
ele entendia que edificar a igreja significava tanto o fortalecimento dos crentes (Ef. 4.11-12) 
quanto à expansão do Reino de Deus (Rm 15.20). 
 Portanto, diante de tão grande responsabilidade, cremos que a liderança evangélica 
indígena precisa ser bem treinada e instruída para que possa fortalecer a Igreja em sua 
caminhada, enfrentando os desafios próprios de sua situação sócio-cultural e lingüística, com 
vistas à expansão do Reino de Deus. 
 A seguir refletiremos sobre a ação pastoral ad intra e ad extra, ou seja, 
respectivamente ação pastoral voltada para dentro e para fora da igreja. 
 
5 Hermisten Maia Pereira da COSTA, Vocação e Ordenação: definições e razões, p. 7-9. 
6 Christopher B. HARBIN, op. cit, p. 12. 
7 Charles Van. ENGEN, Povo Missionário, Povo de Deus: por uma redefinição do papel da igreja local, p. 202. 
8 Christopher B.HARBIN, op. cit, p. 9. 
9 O alvo da missão da igreja, seja em sua dimensão interna ou externa é glorificar a Deus e isso aponta para um 
terceira dimensão da missão da igreja, que é de acordo com alguns estudiosos a missão para com Deus. 
 29 
2.1.1 A edificação da Igreja 
 A igreja evangélica indígena é uma realidade no cenário evangélico brasileiro. E, à 
semelhança da igreja no contexto secular urbano, ela não está isenta de problemas e desafios. 
O contexto secular indígena, ainda que distinto do urbano, apresenta inúmeros desafios para 
igreja evangélica emergente. Alguns são os já consagrados nos escritos missiológicos: a 
pobreza, a violência, a droga, o alcoolismo etc. Outros incluem a identidade cristã do 
indígena. E diante da grande complexidade de desafios que se abre ao trabalho missionário e 
ministerial dessas igrejas, é necessário que os seus líderes e pastores se tornem aptos para 
capacitar o povo de Deus para o serviço cristão, a fim de construir ou edificar o corpo de 
Cristo. 
 Nessa caminhada, o papel dos pastores e líderes é bem descrito nas Escrituras. Pedro 
em sua primeira epístola faz a seguinte exortação: “Rogo, pois, aos presbíteros que há entre 
vós, eu, presbítero como eles, [...] pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós.”10 Essa 
clássica exortação do apóstolo Pedro aponta para o cuidado com o rebanho de Deus, como o 
foco da ação pastoral. O cuidado desse rebanho requer uma supervisão diligente e uma 
vigilância atenta. Quanto a essa exortação de Pedro, Oliveira afirma: “A idéia de pastorear 
está ligada ao trabalho do pastor de ovelhas. Isso significa que o apóstolo Pedro está dizendo 
aos presbíteros que eles deveriam alimentar o rebanho de Deus e protegê-lo dos inimigos que 
querem destruir sua fé.”11 
 O rebanho de Deus é alimentado pelo ensino e pela pregação das Escrituras e dessa 
forma a Igreja é edificada e se expande. E ainda ela é capaz de fazer frente aos seus inimigos 
e aos falsos ensinamentos. Paulo, além de ter plena convicção de que Deus o chamara para 
edificar sua Igreja, entendia que a edificação, tanto no sentido de fortalecimento quanto no de 
expansão, se daria pela proclamação da Palavra de Deus. 
 
10 BÍBLIA de Estudo de Genebra. 
11 Cornélio Póvoa de OLIVEIRA, op. cit, p. 56. 
 30 
 Ao escrever a igreja de Corinto, ele diz: “Eu, irmãos, quando fui ter convosco [...] 
decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado [...] a minha palavra e a 
minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em 
demonstração do Espírito e de poder.” (1 Co 2.1-4)12 Sendo Paulo, um dos homem mais sábio 
de sua época, e que poderia ter falado sobre qualquer outra coisa, tomou a redenção em Jesus 
Cristo como tema de sua proclamação. Isso mostra que, no ministério do apóstolo Paulo, o 
método usado era sempre o da exposição da palavra de Deus para edificação do corpo de 
Cristo em suas duas dimensões, tanto no seu fortalecimento quanto na sua expansão. 
 Assim, escrevendo a Timóteo, ele afirma: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil 
para o ensino, para repreensão, para a correção, para educação na justiça, a fim de que o 
homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (2 Tm 3.16-17)13 
Esses versículos dirigidos a Timóteo, além de apontarem a autoridade divina das Escrituras, 
revelam igualmente ser o ensino bíblico o método básico para equipar os santos para o seu 
serviço, visando a edificação do corpo de Cristo. 
 A esse respeito vale destacar as palavras de Robinson, ao sugerir como equipar a igreja 
por meio do ensino e da pregação: 
A pregação do púlpito ungida por Deus dá o rumo de direção da Igreja. A 
proclamação da Palavra produz convicção, conclama ao arrependimento e resulta 
em entrega de vidas. O Estímulo dado pela exortação feita de púlpito concita e 
motiva os membros do corpo a obedecerem a Cristo. A direção do ministério de 
equipar é determinada e toma o seu rumo por meio do ministério pastoral da Palavra 
e do ensino. Muito do ministério de equipar se realiza quando a Palavra de Deus é 
ensinada e o Espírito Santo a coloca nos corações e nas mentes dos que a ouvem. 
[...] Ela (a palavra de Deus – observação nossa) prepara inteiramente a pessoa para 
praticar boas obras. Equipa a pessoa paraa realização da obra de Deus.14 
 Nas palavras de Robinson, é por meio da pregação e do ensino das Escrituras que as 
pessoas se convertem e são preparadas para realizarem a obra dada por Deus à sua Igreja. É, 
portanto, função do pastor, por meio do ensino e da pregação da palavra de Deus, treinar, 
 
12 BÍBLIA, op. cit. 
13 Idem. 
14 Darrell W. ROBISON, Vida total da igreja: Uma estratégia para o século 21, p. 161 e 163. 
 31 
aperfeiçoar e capacitar cada membro do corpo de Cristo para o desenvolvimento dos mais 
diversos ministérios na igreja local. E ainda que essa seja a função do pastor, Oliveira afirma 
que esse tipo de líder: 
Não está afastado da missão da Igreja, assim, como os membros não estão afastados 
do seu chamado pastoral para com o mundo. O pastor faz a missão junto com a 
Igreja, porque não se separa os membros do corpo, não se separa o braço da perna, 
como não se separa o olho do ouvido. O corpo deve agir em unidade, todos os seus 
membros devem trabalhar juntos para que o todo funcione bem.15 
Nessa afirmação, Oliveira nos chama a atenção para o fato de que todos os membros 
do corpo de Cristo devem agir em unidade, visando um fim proveitoso. Paulo, em sua epístola 
aos Efésios, nos chama a atenção para unidade no corpo, dizendo: “Mas, seguindo a verdade 
em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo corpo, bem 
ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, 
efetua o seu próprio aumento para edificação de si mesmo em amor.” (Ef 4.15-16)16 O que 
Paulo nos mostra aqui é que nenhuma igreja será edificada se os seus membros trabalharem 
isoladamente. A própria variedade de dons, afirma Charles Van Engen: 
Mostra-nos a impossibilidade de uma só pessoa, o “ministro”, ser a única designada 
para realizar o ministério do corpo de Cristo. Tampouco espera-se que uma pessoa 
ponha todas as outras a trabalhar. Antes os líderes preparam, organizam, assistem e 
servem os portadores e executores dos dons do Espírito, mas não controlam, não 
determinam nem designam esses dons.17 
O pastor indígena tem diante de si um grande desafio que lhe exige um preparo 
adequando, pois além da responsabilidade de cuidar do rebanho, capacitando-o para o 
exercício do serviço cristão, buscando manter a unidade do corpo, ele deve também ser capaz 
de mobilizar as “pessoas [...] de seus espaços de comodismo, ansiedade [...] para os espaços 
da comunhão com Deus e com o próximo, do serviço à comunidade e ao mundo, da vida em 
livre solidariedade.”18 E não se alcançará os propósitos de Deus, se o pastor ou o líder apenas 
capacitar, mas não buscar motivá-los ou envolvê-los simultaneamente nos ministérios da 
 
15 Cornélio Póvoa de OLIVEIRA, op. cit, p. 54. 
16 BÍBLIA, op. cit. 
17 Charles Van ENGEN, op.cit, p. 199. 
18 Júlio Paulo Tavares ZABATIEIRO: O Pastor Urbano é um capacitador multidisciplinar, p. 237. 
 32 
igreja local. E depois de mobilizá-los, os pastores ou presbíteros devem ainda supervisionar 
ou coordenar a vida da Igreja. Esse era o modelo de ministério de Paulo, que pode e deve ser 
seguido. 
Em sua práxis ministerial, Paulo, após organizar os convertidos em igrejas e 
estabelecer liderança local, algum tempo depois voltava para supervisioná-las. No livro de 
Atos, encontramos esse exemplo de cuidado que o apóstolo Paulo tinha para com as igrejas ou 
comunidades que eram estabelecidas ao longo de suas viagens missionárias. Lucas registra as 
seguintes palavras: “Alguns dias depois, disse Paulo a Barnabé: voltemos agora, para visitar 
os irmãos por todas as cidades nas quais anunciamos a palavra do Senhor, para ver como 
passam.” (At 15.36)19 E ainda lemos: “havendo passado ali algum tempo, saiu, atravessando 
sucessivamente a região da Galácia e Frígia, confirmando todos os discípulos.” (At 18.23)20 
O método de ensino e a pregação bíblica, mencionados acima, apontam para a 
capacitação ou formação do povo Deus como eixo central do ministério pastoral. Essa ação 
capacitadora ou formadora tem como um de seus alvos a formação da identidade cristã da 
igreja local. Quanto a isso, Zabatieiro nos chama a atenção quando levanta a seguinte questão: 
“Como formar o povo de Deus para a identidade cristã nesta época em que são tantos os 
modelos de igreja, os modelos de ministério, os modelos de vida cristã, as teologias que nos 
convocam a sermos desta ou daquela maneira?”21 Atualmente, um dos maiores desafios à 
igreja evangélica indígena é a formação de sua identidade cristã. Pois o que se observa em 
muitas igrejas evangélicas no contexto indígena é uma reprodução de nossa práxis evangélica 
em vários aspectos22. Isso revela a necessidade e a importância da preparação de pastores e 
líderes capazes de formar uma identidade cristã contextualizada. 
 
19 BÍBLIA, op.cit. 
20 Idem. 
21 Júlio Paulo Tavares ZABATIEIRO, O Pastor Urbano é um capacitador multidisciplinar, op. cit, p. 239. 
22 O que ocorre atualmente na igreja evangélica emergente no contexto indígena é uma reprodução da nossa 
Teologia e práxis eclesiológica e isso aponta para a falta de uma reflexão teológica e de uma práxis eclesiológica 
próprias que sejam relevante ao seu contexto. 
 33 
 O cuidado pastoral com o rebanho de Deus implica também em protegê-lo, como 
mencionamos anteriormente. O apóstolo Paulo, por exemplo, quando estava para se ausentar 
de Éfeso, mostrou-se preocupado com os inimigos que se levantariam contra aquela igreja. 
Por isso, adverte aos presbíteros daquela comunidade dizendo: 
Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu 
bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual comprou com seu próprio sangue. 
Eu sei que, depois de minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não 
pouparão o rebanho. E que dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas 
pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles. (At 20.28-30)23 
E ainda em uma de suas epístolas pastorais, Paulo escrevendo a Timóteo, seu filho na 
fé, diz: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque fazendo 
assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes.” (1 Tm 4.16)24 
A Escritura é clara quanto ao cuidado que se deve ter com o rebanho de Deus e, 
inúmeras vezes, nos chama a atenção em relação àqueles que tentam ou que agem com o 
intuito de remover da fé dos que crêem em Jesus. E no contexto indígena, a igreja evangélica 
emergente não está isenta de inimigos desta natureza e nem tampouco de seus falsos 
ensinamentos. Um exemplo de tentativa de remover a fé no contexto indígena parte daqueles 
que se posicionam contra o evangelho, que em sua grande maioria são não indígenas e que 
costumam afirmar para os indígenas que o evangelho é “coisa de branco” e que o índio já tem 
sua religião.25 
Por esta razão, a admoestação do apóstolo Paulo é relevante também para os líderes e 
pastores indígenas. Cuida de ti mesmo, do rebanho de Deus e da doutrina! É essa a 
advertência bíblica nessas referências para pastores e líderes evangélicos, indígenas ou não. E 
isso requer preparo em várias áreas da vida. 
 
23 BÍBLIA, op. cit. 
24 Idem. 
25 O autor desta pesquisa já ouviu muito essa afirmação na reserve indígena onde trabalha. Ela foi feita 
principalmente por acadêmicos descomprometidos com Deus e que vão para a área indígena desenvolver seus 
projetos de pesquisa. 
 34 
Pastorear ou cuidar do rebanho de Deus exige que os pastores e líderes sejam aptos a 
capacitar todo corpo de Cristo para expansão do Reino de Deus. Pois sua função principal, 
afirma Van Engen: “será edificar o corpo de Cristo para que venha a ser o povo 
missionário.”26 
2.1.2 A expansão do Reino de Deus 
 No Novo Testamento, a responsabilidade da Missio Christipassa para a igreja. Essa 
delegação de responsabilidade é feita pelo próprio Jesus: “Assim como tu me enviaste ao 
mundo, também eu os enviei ao mundo.” (Jo 17.18)27 A este envio, convencionou-se chamar 
de missão. 
 O chamado para o cumprimento desta missão foi dado por Jesus em duas ocasiões 
distintas. A primeira foi após sua morte e ressurreição, quando ele aparece aos seus discípulos 
na Galiléia e diz: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei 
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; 
ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco 
todos os dias até a consumação do século.” (Mt. 28.18-20)28 A segunda foi quando Jesus se 
dirigiu aos seus discípulos, pouco antes de sua ascensão, dizendo-lhes: “Mas recebereis poder, 
ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como 
em toda Judéia e Samaria e até aos confins da terra.” (At 1.8)29 
 Essas passagens bíblicas, e poderiam ainda ser acrescentadas outras, evidenciam que a 
Igreja é, na sua essência, missionária. Ela existe por causa da missão. Kohl, com base nessas 
passagens bíblicas, afirma: “A missão é, de fato, o ponto focal da Igreja. É o propósito para o 
qual ela existe.”30 E, portanto, todos que fazem parte do corpo de Cristo têm o compromisso e 
a responsabilidade de anunciar o evangelho. Cabrial, referindo-se a esse tópico, afirma: “A 
 
26 Charles Van ENGEN, op. cit, p. 203. 
27 BÍBLIA, op. cit. 
28 Idem. Ver ainda Marcos 16.15, 16. 
29 Ibidem. 
30 Manfred Waldemar KHOL, Missão: o coração da igreja para o novo milênio, p. 47. 
 35 
igreja herdou o compromisso de tornar Deus conhecido em todas as nações da terra, 
anunciando a redenção da humanidade por meio de Jesus Cristo, o ‘Messias prometido’ para 
ser o libertador de toda humanidade.”31 
 A Igreja, sim, herdou a responsabilidade de dar continuidade à práxis de Jesus. Isso 
não é privilégio de apenas um grupo seleto de pastores e líderes. O livro de Atos e as cartas 
paulinas mencionam muitas pessoas, que não eram necessariamente pastores ou presbíteros, 
que foram essenciais à vida da igreja em seus anos iniciais e também na propagação do 
evangelho. 
 Em Atos, por exemplo, Lucas, referindo-se ao dia de pentecostes, revela que o 
derramamento do Espírito Santo resultou na participação de todos e não apenas dos apóstolos 
ou dos líderes no que diz respeito à proclamação das grandezas de Deus: 
Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de 
repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda casa 
onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de 
fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e 
passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem. 
(At 2.1-4)32 
 O Silva, em seu livro O Espírito Santo e a Missão da Igreja, comentando esta 
passagem bíblica, afirma: 
A partir do derramar do Espírito sobre todo povo de Deus, não haveria mais 
distinção para o serviço, porém todos, homens e mulheres, jovens e velhos, livres e 
escravos, seriam vocacionados e capacitados para a missão. Portanto, fica claro, a 
partir de Atos, que o Espírito Santo usaria a totalidade do povo de Deus, para 
cumprir seu propósito missionário. (grifo nosso)33 
 Ainda dentro dessa perspectiva, Paulo, em 1 Tessalonicenses 1.8, indica a participação 
e a responsabilidade de toda a igreja na proclamação do evangelho. Nesse texto, Paulo afirma: 
“Porque de vós repercutiu a palavra do Senhor não só na Macedônia e Acaia, mas também por 
toda parte se divulgou a vossa fé para com Deus, a tal ponto de não termos necessidade de 
 
31 Silvanio Silas Ribeiro CABRIAL, Missio Dei e o crescimento das igrejas históricas, p. 35. 
32 BÍBLIA, op. cit. 
33 Eder José de Melo SILVA, O Espírito Santo e a Missão da Igreja, p. 70-71. 
 36 
acrescentar coisa alguma.”34 O contexto desta passagem nos mostra que certamente todo laos 
Theou (povo de Deus) e não apenas os líderes dessa comunidade, mesmo em meio a 
tribulações, esteve envolvido para que por toda parte fosse possível ouvir da sua fé para com 
Deus. 
 No Pacto de Lausanne, artigo 6º, a ênfase quanto à responsabilidade da propagação do 
evangelho também recai sobre todo o corpo de Cristo. 
Afirmamos que Cristo envia o seu povo redimido ao mundo assim como o Pai o 
enviou, e que isso requer uma penetração de igual modo profunda e sacrificial. [...] 
A evangelização mundial requer que a igreja inteira leve o evangelho integral ao 
mundo todo. A igreja ocupa o ponto central do propósito divino para com o mundo, 
e é o agente que ele promoveu para difundir o evangelho. [...] (grifo nosso).35 
 Em todas as afirmações vistas até aqui, o que se pode constatar é que Deus tem 
chamado do mundo um povo para si um povo, como diz Pedro: “[...] de propriedade exclusiva 
de Deus [...].” (1 Pe 2.9)36 E é esse mesmo povo, sem distinção nenhuma entre clero e leigo, 
que Ele envia novamente ao mundo, agora como seus servos, suas testemunhas e seus agentes 
de transformação, com um propósito bem definido: estender o seu Reino. 
 Para o cumprimento dessa missão, os pastores e líderes da igreja local exercem um 
papel de suma importância que é preparar ou capacitar: “os santos para o desempenho do seu 
serviço” (Ef 4.12), com vistas à edificação do corpo de Cristo. Essa edificação precisa ser 
entendida não só como fortalecimento dos membros da igreja, mas, como diz Lopes, “deve 
ser compreendida como a construção do Corpo de Cristo, do Reino de Deus, fazendo-os se 
expandir para dentro do mundo, alcançando aqueles que carecem da glória de Deus.”37 
 Em relação ao papel dos pastores e líderes, e com base em Efésios 4, Lopes ainda 
afirma: “Não existe outro propósito, não existe outra necessidade de se ter pessoas exercendo 
 
34 BÍBLIA, op. cit. 
35 PACTO DE LAUSANNE. A Igreja e a Evangelização, p. 91. 
36 BÍBLIA, op.cit. 
37 César Marques LOPES, Mobilizando a igreja local para uma missão integral transformadora, p. 138. 
 37 
essa função pastoral além do trabalho de converter membros de igrejas em novos missionários 
do Reino de Deus.” (ênfase do autor)38 
 No livro Líderes ontem, líderes hoje, Marcondes, falando da responsabilidade dos 
líderes eclesiais, afirma: “Os líderes têm a grave responsabilidade de despertar a consciência 
da comunidade cristã para que ela assuma seu papel de sal da terra e luz do mundo, com todas 
as suas implicações.”39 
 Em resumo, o propósito de Deus é que pastores e líderes cumpram o seu papel 
preparando toda igreja para a ação pastoral conjunta em relação ao mundo. Contudo, a 
existência de pastores e líderes não elimina, de maneira alguma, a responsabilidade da igreja 
inteira em sua ação missionária. Por outro lado, a participação dos membros do corpo de 
Cristo não minimiza nem despreza o papel dos pastores e líderes. Portanto, a ação pastoral 
deve ser entendida como ação de toda igreja, ou seja, como uma responsabilidade coletiva. E 
ainda é necessário destacar que dentro do propósito de Deus não há espaço para que uns 
poucos sejam tidos como sujeitos e a grande maioria como objetos da ação pastoral. Todo 
povo de Deus, clero e leigo, devem ser tidos como sujeitos da missão. 
 Nessa ação pastoral ou missionária, no contexto indígena, a igreja evangélica 
emergente se depara com muitos desafios. Entretanto, por falta de espaço nesse trabalho, 
abordaremos apenas o desafio da contextualização teológica. 
 René Padilla, teólogo e missiólogo equatoriano, em seu livro Missão Integral, ao 
abordar o tema da contextualização do evangelho, dando atenção à relação entre a teologia e a 
evangelização na América Latina, afirma: “A igrejana América Latina é uma igreja sem 
teologia própria.”40 E esse mesmo autor, nos chama a atenção para que sejam observados 
alguns aspectos que justifica sua afirmação. Permitam-nos citá-los: 
 
38 Idem, p. 139. 
39 Juarez Marcondes FILHO, Líder ontem, líder hoje, p. 109. 
40 C. René. PADILLA, Missão Integral, p. 107. 
 38 
Então que se constate quanto de nossa literatura cristã é traduzido do inglês [...] e 
quão pouca é escrita pó nós. Que veja quanto de nossa pregação se reduz a uma 
mera repetição de fórmulas doutrinais mal-assimiladas, sem inserção em nossa 
própria realidade histórica. Que observe como nossas igrejas, sem cerimônia, 
mantém a coloração teológica das missões que as fundaram, e concebem o estudo 
teológico fundamentalmente como o estudo das peculiaridades doutrinais das igrejas 
às quais remonta sua origem. Que examine o corpo docente e o programa de nossos 
seminários e institutos bíblicos teológicos. Que passe em revista nossa hinologia e 
nossa ‘corinhologia’.41 
 Uma análise cuidadosa de todos esses aspectos de nossa realidade eclesiástica não 
fugirá da conclusão que o próprio René Padilla nos aponta: a nossa ‘dependência teológica’. 
Se a igreja na América Latina, e aqui incluo a igreja evangélica brasileira, sofre a falta de uma 
reflexão teológica própria não surpreende que o mesmo aconteça com a igreja evangélica 
emergente em contexto indígena. A verdade é que a igreja evangélica indígena, como 
qualquer outra igreja evangélica num contexto sócio-cultural específico, carece de uma 
teologia que responda às suas próprias necessidades. E esse quadro não será revertido 
enquanto a prática de importação ou imposição (mesmo que involuntária) de teologia 
continuar. 
 No contexto indígena, inúmeras questões têm continuado sem respostas, pelo fato da 
teologia sistemática ocidental não oferecer necessariamente respostas bíblicas para questões 
do dia-a-dia. Por esta razão, muitos novos cristãos continuam buscando ajuda dos pajés para 
lidar com tais questões. Norval Oliveira, lingüista e tradutor bíblico, em seu artigo O Conceito 
de salvação num contexto animista, nos ajuda a entender um pouco esta questão, quando 
afirma: 
As verdades bíblicas são absolutas e se aplicam a todos os contextos culturais. 
Porém, cristãos de diferentes épocas e lugares, no afã de aplicar as verdades divinas 
criaram certas ênfases, ou melhor, aplicaram verdades bíblicas ao seu próprio 
contexto de acordo com as suas necessidades, deixando de enfatizar outros aspectos 
dessas mesmas verdades. Assim, no contexto ocidental altamente influenciado por 
filosofias, a ênfase recaiu sobre aspectos mais filosóficos. Aplicando essas verdades 
num contexto intelectualizado e filosófico, os irmãos ocidentais estavam 
apresentando as verdades bíblicas de forma que elas fossem relevantes para o povo 
 
41 Idem, p.107. 
 39 
ocidental. As ênfases filosóficas, contudo, quando aplicadas a outros contextos 
culturais podem ser inoperantes e irrelevantes. (grifo nosso)42 
 Esse mesmo autor ainda acrescenta: 
Povos animistas são muito interessados no aqui e agora. Por isso, precisamos 
apresentar a eles um conceito de salvação que também dê respostas às questões 
imanentes. Como lidar com questões espirituais no dia-a-dia, por exemplo. O que 
Jesus e sua mensagem dizem sobre o mundo dos espíritos e os perigos cotidianos 
advindos dele? Quando Jesus salva, ele salva aqui e agora ou a salvação é apenas 
para o futuro após a morte? Esses são assuntos pertinentes num contexto animista. 
(grifo nosso)43 
 Ebehart, também lingüista e tradutor bíblico, da Wycliffe Bible Translator, faz uma 
afirmação semelhante. Diz ele: 
A teologia sistemática e ocidental não funciona para muitas culturas, incluindo 
muitas culturas indígenas – eles pensam diferente. Temos que descobrir quais são as 
perguntas que eles estão fazendo quando pensam em Deus, e depois procurar 
responder a essas perguntas aplicando a palavra de Deus a essas preocupações. Por 
exemplo, em vez de perguntar – quais são os atributos de Deus? Muitos querem 
saber – será que Deus é mais forte do que os espíritos do mato? A teologia indígena 
terá que responder a esse tipo de pergunta.44 
 Observa-se nessas afirmações que a teologia sistemática ocidental não oferece 
necessariamente respostas a questões do cotidiano das pessoas, incluindo aqui os indígenas 
em seu contexto específico. Talvez, sua inoperância ou irrelevância esteja no âmbito da 
cosmovisão, que influencia a interpretação das Escrituras. 
 Nesse momento, é importante destacar as diferenças que Hiebert faz entre Bíblia e a 
teologia e entre duas definições de teologia. Em primeiro lugar, ele afirma que: “A Bíblia é 
um documento histórico da revelação de Deus aos homens. A teologia é a explicação 
sistemática e histórica das verdades contidas na Bíblia.”45 Em segundo lugar, ele diz: 
Algumas vezes, utilizamos o termo (teologia) quando falamos sobre a verdade 
absoluta. A teologia é uma descrição e explicação sistemática da maneira como as 
coisas realmente são, a maneira como Deus as vê, e iremos nos referir a isso como 
“Teologia”, com T maiúsculo. Em outras ocasiões, utilizamos o termo quando 
falamos de descrições e explicações humanas da realidade, que surgem a partir de 
 
42 Norval Oliveira da. SILVA, O Conceito de salvação num contexto animista. (manuscrito) citado com 
permissão. 
43 Ibid. 
44 Davi EBEHART. Notas pessoais. Citado com permissão. 
45 Paul G. HIEBERT, op. cit, p. 197. 
 40 
nosso estudo bíblico. Iremos nos referir a isso como “teologia” com um t minúsculo. 
Freqüentemente, confundimos as duas teologias (acréscimo nosso).46 
 Essa teologia com T maiúsculo é absoluta e supra-cultural, já a teologia com t 
minúsculo é desenvolvida pelo ser humano e moldada por seu contexto histórico-cultural 
específico. E é justamente esta teologia com t minúsculo, resultado do nosso estudo bíblico e 
condicionada por nossa cultura, que muitas vezes não traz respostas bíblicas e teológicas num 
dado contexto indígena. 
 Diante desse desafio, um bom preparo bíblico e teológico para os pastores e líderes da 
igreja evangélica indígena seria um bom começo na busca de uma reflexão teológica própria 
ou contextual. 
 A seguir, apresentaremos o referencial teórico deste trabalho, em dois focos: o da 
pedagogia freireana e da missão integral. 
2.2 Um modelo pedagógico a partir de Paulo Freire 
Paulo Freire é talvez o educador brasileiro mais conhecido e reconhecido, tanto a nível 
nacional como internacional. Sua experiência em vários projetos, direta ou indiretamente 
relacionados com a educação em diversos contextos sócio-culturais, traz imensa contribuição 
a diversas áreas do saber. Sua proposta pedagógica é fruto de uma reflexão-ação a partir de 
um contexto histórico-cultural real e não uma teoria acabada. Sendo assim, ela pode ser 
reinventada ou recriada em qualquer outro contexto. Mesmo que suas pressuposições 
ideológicas sejam questionáveis, é possível, encontrar em suas obras subsídios para 
pensarmos sobre Educação Teológica Indígena. 
 A seguir, então, serão apresentados alguns aspectos principais extraídos do 
pensamento freireano que servirão de base para o referencial teórico desse trabalho. 
 
46 Idem, p. 198. 
 41 
2.2.1 O educando no seu contexto: o ponto de partida da educação 
 Segundo Freire, o homem não existe fora do mundo, nem fora da realidade, “pois é um 
ser de raízes espaço-temporal.”47 Ou seja, o homem existe no e com o mundo e vive em 
constante relação com ele mesmo e com os outros. Por esta razão, a educação deveria ser 
precedida por uma reflexão sobre a relação homem-mundo, tendo como ponto de partida o 
educando e a educanda no seu contexto histórico-cultural. 
 Nas palavras de Andrade: 
A abordagem