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CURSO DE CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL FAVENI – FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE ESPÍRITO SANTO FILOSOFIA E SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO 1 Sumário 1 OS PRÉ-SOCRÁTICOS.............................................................................. 2 2 ALGUMAS OBSERVAÇÕES ACERCA DE ALGUNS PRÉ- SOCRÁTICOS:.............................................................................................................3 3 LATÃO ........................................................................................................ 5 4 ARISTÓTELES ........................................................................................... 9 5 A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA .......................................................... 17 6 GLOSSÁRIO ............................................................................................. 21 7 RENÉ DESCARTES: UMA BREVE BIOGRAFIA ...................................... 22 8 DEUS, A CIÊNCIA E O LIVRE-ARBÍTRIO ................................................ 24 9 O PROBLEMA DO HOMEM: A MORAL ................................................... 27 10 UTILITARISMO ...................................................................................... 29 11 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA SOCIOLOGIA ................................... 34 12 O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA ..................................................... 37 13 A IMPORTÂNCIA DA SOCIOLOGIA ..................................................... 42 14 A SOCIOLOGIA NO BRASIL ................................................................. 44 15 FASES DA SUA IMPLANTAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL ......... 46 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 53 2 1 OS PRÉ-SOCRÁTICOS Fonte: filosofia.uol.com.br Os pré-socráticos são filósofos que viveram na Grécia Antiga e nas suas colônias. Assim são chamados, pois são os que vieram antes de Sócrates, considerado um divisor de águas na filosofia. Muito pouco de suas obras está disponível, restando apenas fragmentos. O primeiro filósofo em que temos uma obra sistemática e com livros completos é Platão, depois Aristóteles. Estes são chamados de filósofos da natureza, pois investigaram questões pertinentes a esta, como de que é feito o mundo. Romperam com a visão mítica e religiosa da natureza que prevalecia na época, adotando uma forma científica de pensar. Alguns se propuseram a explicar as transformações da natureza. Tinham preocupação cosmológica. A maior parte do que sabemos desses filósofos é encontrada na doxografia de Aristóteles, Platão, Simplício e na obra de Diógenes Laércio (século III d. C), Vida e obra dos filósofos ilustres. A partir do século VII A.C., há uma revolução monetária da Grécia, e advêm a ela inovações científicas. Isso colaborou com uma nova forma de pensar, mais racional. Os pré-socráticos inspiraram a interpretação de filósofos contemporâneos como Nietzsche, que nos iluminou com a sua obra A filosofia na época trágica dos Gregos e Hegel, que aplicou seu sistema na história da filosofia. 3 2 ALGUMAS OBSERVAÇÕES ACERCA DE ALGUNS PRÉ-SOCRÁTICOS: O primeiro Filósogo grego conhecido foi Tales de Mileto que viveu por volta do ano 600 a.C. Tales na companhia de Anaximandro e Anaxímenes defendia que a água, o indefinido, e o ar eram o princípio ou origem de todas as coisas. Preocupavam-se em encontrar a unidade por detrás da multiplicidade dos bjectos do universo, e o princípio de explicação da natureza a partir da própria natureza. Fonte: encrypted-tbn3.gstatic.com/ Heraclito acreditava na filosofia do devir, falava de um devir não puramente linear que seria a negação absoluta do ser, mas sim do devir que se desenrolava no interior de um círculo. Considerava haver um ciclo do devir que em tudo representava harmonia, com efeito na circunferência, o começo e o fim coincidem. Defendia que de um lado existia o Logos, que governava todas as coisas e, do outro, o devir que se desenrolava no interior de um círculo apertado por laços poderosos. Acreditava que era no interior de cada um de nós que se operavam as mudanças, dizia que a vida e a morte, a juventude, a velhice e o sono eram a mesma coisa, porque estes transformam-se naquelas e inversamente aquelas transformam-se nestes. 4 Era um defensor da mudança dizia que não se podia penetrar duas vezes no mesmo rio. O fogo de Heraclito: Para Heraclito, o mundo era o mesmo para todos os seres, nenhum deus, nenhum homem o criou; mas foi, é, e será sempre um fogo eternamente vivo, que com medida se acende e com medida se apaga. Parménides foi o fundador da escola eleática. Defendia a imutabilidade e unicidade do ser, afirmando que a multiplicidade e a mudança eram apenas aparências. Zenão, que foi seu discípulo, viria a defender as teses de Parménides sobre a imutabilidade do real. A esfera de Parménides: Parménides dizia que o Ser é completo de todos os lados, semelhante a uma esfera bem redonda. Anaxágoras foi o primeiro filósofo registrado pela história a ter afirmado a existência de um princípio inteligente como causa da ordem do mundo. Para ele o espírito é que ordenava tudo e daí tudo era causa. Empédocles, foi o criador da teoria dos quatro elementos que vigoraria até a era moderna: terra, água, ar e fogo, seriam os componentes últimos das coisas, ora reunidos sob a atracção do amor, ora separados pela força da discórdia (ou do ódio). 5 3 LATÃO Fonte: 1.bp.blogspot.com Platão nasceu em 427 a.C e faleceu na mesma cidade, Atenas, em 347 a.C. Filho de uma família da aristocracia ateniense dedicada à política, foi discípulo de Crátilo (séc. V a.C.) que por sua vez foi seguidor de Heráclito de Éfeso (séc. VI a.C.) e, posteriormente, tornou-se discípulo de Sócrates (470-399 a.C). Fundou sua Academia em 387 a.C., nos arredores de Atenas, em cujo pórtico figurava o lema: “Não passe destes portões quem não tiver estudado geometria”. A academia de Platão durou cerca de um milênio, até o momento em que Justiniano a dissolveu em 529 d.C. O Platonismo é uma corrente filosófica baseada no pensamento de Platão. Indica a filosofia de Platão e da sua escola, isto é, os filósofos que se situam entre o século IV A.C. e a primeira metade do século I A.C. Cerca de um século depois da morte de Platão, em 248 A.C., a Escola enveredou para o ceticismo sob a direção de Arciselau (século III A.C.). 6 A Academia de Platão A Academia platônica assemelhava-se a uma congregação religiosa, consagrada a Apolo e às musas. Platão afirmava a existência de uma verdade suprema: as Ideias das formas ideais, eternas, imutáveis e incorruptíveis, das quais se origina o mundo sensível, tal como o percebemos, e que é sujeito ao devir, à corrupção e à morte. Fonte: www.infoescola.com/ A Academia foi fundada por Platão em 387 A.C. Seu nome é alusivo ao herói de guerra Academo, que havia doado aos atenienses um terreno, nos arredores de Atenas, onde se construiu um jardim aberto ao público. De uma maneira geral, os elementos centrais do pensamento platônico são: A doutrina das ideias, onde os objetos do conhecimento se distinguem das coisas naturais; A superioridade da sabedoria sobre o saber, uma espécie de objetivo político para a filosofia; 7 A Dialética, enquanto procedimento científico. Fonte: 4.bp.blogspot.com Períodos O platonismo é geralmente dividido em três períodos: Platonismo antigo propriamente dito; Médio platonismo, que remonta aos séculos I-II D.C.; Neoplatonismo, desenvolvido no final da Antiguidade no período helenístico: mais que um período do platonismo, é considerado por muitoscomo uma verdadeira corrente filosófica propriamente dita. Esta subdivisão foi operada por estudiosos dos tempos recentes. Todos (médio ou neoplatônicos), embora ampliando e modificando o significado originário da filosofia de Platão, pretendiam estar em linha de continuidade com a doutrina do mestre. Consideravam-se, sobretudo, como simples exegetas, mais do que inovadores. 8 Fonte: image.slidesharecdn.com/ Assim como todos os pensadores que, ao longo dos séculos, filiaram-se ao pensamento platônico (Plotino, Agostinho, Ficino), os neoplatônicos eram convencidos de que a verdade fosse algo que se descobria e não se inventava. Portanto o modo mais autêntico de fazer filosofia consistiria na reflexão sobre as verdades eternas, imutáveis e universais das Ideias - primeiramente descobertas por Platão. Pode-se dizer, portanto, que o platonismo foi sempre entendido pelos platônicos como uma única corrente filosófica, que sempre permaneceu fiel a si mesma, ora como forma de interpretação, ora como reelaboração do pensamento de Platão. 9 4 ARISTÓTELES Fonte: www.ghtc.usp.br Aristóteles nasceu no ano de 385 a.C. em Estagiros, cidadezinha da Trácia fundada por colonos gregos no lugar onde hoje se situa Stavro, na costa setentrional do mar Egeu. Era ainda muito jovem quando morreu seu pai, Nicômaco, médico bastante famoso, neto de Esculápio. Um amigo da família, Próxeno, que morava em Estagiros, se encarregou de sua educação. Aos dezessete anos, foi para Atenas prosseguir seus estudos. Em 367, quando Platão retorna da Sicília e retoma seu magistério na Academia, Aristóteles aparece como um de seus alunos mais assíduos e se distingue por seu ardor e pela excepcional inteligência. Depois de alguns anos de estudo, rompe subitamente com Platão, mas sem cessar de testemunhar-lhe respeito e continuando a conservar do mestre uma grata lembrança. Permanece, no entanto, em Atenas até 347; presume- se que teria fundado uma escola retórica que lhe valeu grande reputação. 10 Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com/ De 347 a 342, Aristóteles deixa Atenas. Torna-se como que um embaixador oficioso junto a Filipe, que acaba de subir ao trono da Macedônia e é quase seu amigo. Mais tarde o encontramos junto com outros alunos de Platão, como Xenócrates, na Eólida, junto a Hérmias, tirano de Atárnea, que seguiu seus cursos em Atenas e está contente por tê-lo junto a si. Permanece na corte do tirano até a morte de Hérmias, que será estrangulado pelos persas. Hérmias deixa uma filha e uma sobrinha. Aristóteles casa-se com a sobrinha. Não se sentindo em segurança em Atárnea, parte para Mitilene, onde permanece até 342. Vai então à Macedônia, onde o chamava Filipe para lhe confiar à educação de seu filho Alexandre, de treze anos. O filósofo esforça-se por desenvolver nele as qualidades de moderação e de razão que lhe parecem essenciais para a conduta de um soberano. Alexandre sente por seu mestre um grande apego, que conservará até quando suceder a seu pai. Todavia, Alexandre parte em conquista da Ásia em 335, e Aristóteles considera que seu papel terminou. Deixa Alexandre e retorna a Atenas. O ensino de Platão na Academia tem sequência com Xenócrates. Aristóteles, então, abre uma escola perto do templo de Apolo Lício, donde o nome de escola do Liceu que lhe foi dado. Aristóteles expõe suas ideias enquanto passeia com seus discípulos, e é por isso que são chamados peripatéticos, do grego nFpínaTov, que significa “lugar de passeio". O ensino de Aristóteles compreende duas séries de aulas: de manhã, trata das questões puramente teóricas, no ensino exotérico reservado aos iniciados. 11 Fonte: encrypted-tbn3.gstatic.com/i À tarde, Aristóteles se dirige a um público mais amplo: as questões tratadas são mais acessíveis. A retórica ocupa um lugar importante; é o ensino exotérico. Durante doze anos, prossegue suas aulas, não sem publicar numerosas obras que abordam todos os domínios do saber humano. Com a morte de Alexandre, em 323, os partidários da Macedônia veem-se ameaçados de morte e de perda dos bens pelo partido nacional ateniense, dirigido por Demóstenes. Aristóteles, pró- macedônio, é acusado. Sem aguardar o julgamento que deve condená-lo, deixa Atenas e vai para Cálcis, na ilha de Eubéia. Morre ali um ano depois, em 322, aos 63 anos. Deixa dois filhos, uma menina, Pítia, com o nome de sua mulher, e um menino, Nicômaco, com o nome de seu pai. 12 ABSTRAÇÃO Fonte: 2.bp.blogspot.com/_ Na filosofia, abstração é um processo (ou, para alguns, um alegado processo) na formação de conceitos reconhecendo um grupo de características comuns nos indivíduos, e tendo isso como base, forma-se um conceito desta característica. A noção de abstração é importante para o entendimento de algumas controvérsias filosóficas em relação ao empirismo e ao problema dos universais. Também se tornou recentemente popular na lógica formal como abstração predicada. Outra ferramenta filosófica para a discussão sobre abstração é espaço do pensamento. A Lógica de Port-Royal, resumiu a estreita relação do processo de abstração com a natureza do homem, dizendo: ―a limitação da nossa mente leva-nos a só compreender as coisas compostas quando as consideramos em suas partes e contemplamos as faces diversas com que elas se nos apresentam, isto é, o que se costuma chamar conhecer por abstração. A abstração é a operação mediante a qual alguma coisa é escolhida como objeto de percepção, atenção, observação, consideração, pesquisa, estudo, etc. e isolada de outras coisas. Ela é inerente a qualquer procedimento cognitivo. Segundo Aristóteles, o processo todo do conhecimento pode ser descrito com ela; sendo que Tomás de Aquino reduz todo o conhecimento intelectual à operação de abstrações. O homem cria por abstração. 13 É o ato de separar mentalmente um ou mais elementos de uma totalidade complexa (coisa, representação, fato), os quais só mentalmente podem subsistir fora dessa totalidade. (cf.: Aurélio). SILOGISMO Fonte: cdn.slidesharecdn.com Um silogismo (do grego antigo, "conexão de ideias", "raciocínio"; composto pelos termos σύν "com" e λογισμός "cálculo") é um termo filosófico com o qual Aristóteles designou a argumentação lógica perfeita, constituída de três proposições declarativas que se conectam de tal modo que a partir das primeiras duas, chamadas premissas, é possível deduzir uma conclusão. A teoria do silogismo foi exposta por Aristóteles em Analíticos anteriores. Num silogismo, as premissas são um ou dois juízos que precedem a conclusão e dos quais ela decorre como consequente necessário dos antecedentes, dos quais se infere a consequência. Nas premissas, o termo maior (predicado da conclusão) e o termo menor (sujeito da conclusão) são comparados com o termo médio, e assim temos a premissa maior e a premissa menor segundo a extensão dos seus termos. 14 Um exemplo clássico de silogismo é o seguinte: Todo homem é mortal. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal. SÓCRATES Sócrates nasceu em Atenas, provavelmente no ano de 470 aC, e tornou-se um dos principais pensadores da Grécia Antiga. Podemos afirmar que Sócrates fundou o que conhecemos hoje por filosofia ocidental. Foi influenciado pelo conhecimento de outro importante filósofo grego: Anaxágoras. Seus primeiros estudos e pensamentos discorrem sobre a essência da natureza da alma humana. Sócrates era considerado pelos seus contemporâneos um dos homens mais sábios e inteligentes. Em seus pensamentos, demonstra uma necessidade grande de levar o conhecimento para os cidadãos gregos. Seu método de transmissão de conhecimentos e sabedoria era o diálogo. Através da palavra, o filósofo tentava levar o conhecimento sobre as coisas do mundo e do serhumano. Conhecemos seus pensamentos e ideias através das obras de dois de seus discípulos: Platão e Xenofontes. Infelizmente, Sócrates não deixou por escrito seus pensamentos. Sócrates não foi muito bem aceito por parte da aristocracia grega, pois defendia algumas ideias contrárias ao funcionamento da sociedade grega. Criticou muitos aspectos da cultura grega, afirmando que muitas tradições, crenças religiosas e costumes não ajudavam no desenvolvimento intelectual dos cidadãos gregos. 15 Fonte : upload.wikimedia.org/ Em função de suas ideias inovadoras para a sociedade, começa a atrair a atenção de muitos jovens atenienses. Suas qualidades de orador e sua inteligência, também colaboraram para o aumento de sua popularidade. Temendo algum tipo de mudança na sociedade, a elite mais conservadora de Atenas começa a encarar Sócrates como um inimigo público e um agitador em potencial. Foi preso, acusado de pretender subverter a ordem social, corromper a juventude e provocar mudanças na religião grega. Em sua cela, foi condenado a suicidar-se tomando um veneno chamado cicuta, em 399 AC. Algumas frases e pensamentos atribuídos ao filósofo Sócrates: - A vida que não passamos em revista não vale a pena viver. - A palavra é o fio de ouro do pensamento. - Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância. - É melhor fazer pouco e bem, do que muito e mal. - Alcançar o sucesso pelos próprios méritos. Vitoriosos os que assim procedem. - A ociosidade é que envelhece, não o trabalho. 16 Fonte: www.voltemosadireita.com. - O início da sabedoria é a admissão da própria ignorância. - Chamo de preguiçoso o homem que podia estar melhor empregado. - Há sabedoria em não crer saber aquilo que tu não sabes. - Não penses mal dos que procedem mal; pense somente que estão equivocados. - O amor é filho de dois deuses, a carência e a astúcia. - A verdade não está com os homens, mas entre os homens. - Quatro características deve ter um juiz: ouvir cortesmente, responder sabiamente, ponderar prudentemente e decidir imparcialmente. - Quem melhor conhece a verdade é mais capaz de mentir. - Sob a direção de um forte general, não haverá jamais soldados fracos. - Todo o meu saber consiste em saber que nada sei. - Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo de Deus. 17 5 A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA A Filosofia contemporânea (ou pós-moderna) é a Filosofia que se encontra no período histórico do final do século XIX até os dias de hoje. Caracteriza-se por uma visão crítica frente a moral, à religião e a ciência. Assim, os filósofos pós-modernos procuram criticar as bases morais da sociedade ocidental, questionar o cristianismo e os abusos da Ciência. Há, também, uma crítica especialmente forte quanto à Política, que sofreu tantas reviravoltas nesse período no Ocidente. Fonte: aopensar.zip.net/ Uma das correntes filosóficas dessa época é o Idealismo. Explicaremos sobre essa abaixo: 18 IDEALISMO O Idealismo é uma corrente filosófica que emergiu apenas com o advento da modernidade, uma vez que a posição central da subjetividade é fundamental na modernidade. Seu oposto é o materialismo. Tendo suas origens a partir da revolução filosófica iniciada por Descartes, associada a Kant até Hegel, que seria talvez o último grande idealista da modernidade. Muitos, ainda, acreditam que a teoria das ideias de Platão é historicamente a primeira dos idealismos, em que a verdadeira realidade está no mundo das ideias, das formas inteligíveis, acessíveis apenas à razão. Fonte: encrypted-tbn2.gstatic.com Definição de idealismo É muito difícil resumir o pensamento idealista, uma vez que há divergências de perspectivas teóricas entre os filósofos idealistas. De todo modo, podemos considerar o primado do Eu subjetivo como central em todo idealismo, o que não significa necessariamente reduzir a realidade ao pensamento. Assim, na filosofia idealista, o postulado básico é que Eu sou Eu, no sentido de que o Eu é objeto para mim (Eu). Ou seja, a velha oposição entre sujeito e objeto se revela no idealismo como incidente no interior do próprio eu, uma vez que o próprio Eu é o objeto para o sujeito (Eu). 19 Fonte: upload.wikimedia.org/ Ideias básicas do Idealismo 1. Qualquer teoria filosófica em que o mundo material, objetivo, exterior só pode ser compreendido plenamente a partir de sua verdade espiritual, mental ou subjetiva. Seus opostos seriam representados pelo realismo ('na filosofia moderna') e materialismo; 1.1 No sentido ontológico, doutrina filosófica, cujo exemplo mais conhecido é o platonismo, segundo a qual a realidade apresenta uma natureza essencialmente espiritual, sendo a matéria uma manifestação ilusória, aparente, incompleta, ou mera imitação imperfeita de uma matriz original constituída de formas ideais inteligíveis e intangíveis; 20 Fonte: www.migueljara.com 1.2. No sentido epistemológico, tal como ocorre no kantismo, teoria que considera o sentido e a inteligibilidade de um objeto de conhecimento dependente do sujeito que o compreende, o que torna a realidade cognoscível heterônoma, carente de autossuficiência, e necessariamente redutível aos termos ou formas ideais que caracterizam a subjetividade humana; 1.3 no âmbito prático, cujo exemplo mais notório é o da ética kantiana, doutrina que supõe o caráter fundamental dos ideais de conduta como guias da ação humana, a despeito de uma possível ausência de exequibilidade integral ou verificabilidade empírica em tais prescrições morais. 2. Propensão a idealizar a realidade ou a deixar-se guiar mais por ideais do que por considerações práticas; 3. Teoria ou prática que valoriza mais a imaginação do que a cópia fiel da natureza. Seu oposto seria o realismo. 21 6 GLOSSÁRIO Idealismo absoluto: Doutrina idealista inerente ao hegelianismo, caracterizada pela suposição de que a única realidade plena e concreta é de natureza espiritual, sendo a compreensão materialística ou sensível dos objetos um estágio pouco evoluído e superável no paulatino desenvolvimento cognitivo da subjetividade humana. Idealismo dogmático: Idealismo, especialmente o berkelianismo, que se caracteriza por negar a existência dos objetos exteriores à subjetividade humana [Termo cunhado pelo filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) para designar uma orientação idealista com a qual não concorda.]. Seu oposto seria o idealismo transcendental. Idealismo imaterialista: Idealismo defendido por Berkeley (1685-1753) que, partindo de uma perspectiva empirista, na qual a realidade se confunde com aquilo que dela se percebe, conclui que os objetos materiais se reduzem a ideias na mente de Deus e dos seres humanos; berkelianismo, imaterialismo. Idealismo transcendental (também chamado formal ou crítico): Doutrina kantiana, segundo a qual os fenômenos da realidade objetiva, por serem incapazes de se mostrar aos homens exatamente tais como são, não aparecem como coisas-em-si, mas como representações subjetivas construídas pelas faculdades humanas de cognição. Seu oposto seria o idealismo dogmático. 22 7 RENÉ DESCARTES: UMA BREVE BIOGRAFIA Fonte: encrypted-tbn3.gstatic.com/ Uma personalidade dominante da história intelectual ocidental, René Descartes foi um filósofo, fisiologista e matemático francês, nascido em 31 de março de 1596, em La Haye, na província de Touraine. Ele foi um contemporâneo de Galileu e Pascal e, portanto, trabalhou sob as mesmas influências religiosas repressoras da Inquisição. Cedo em sua vida, pouco após ter se alistado no exército, em 1617, Descartes descobriu que tinha talento para matemática, de modo que ele passou a maior parte de seus anos militares e subsequentes (ele pediu demissão quatro anosmais tarde) estudando matemática pura, especialmente geometria analítica, que se tornou o campo ao qual fez suas maiores contribuições. Em 1626 ele se estabeleceu em Paris, mas foi persuadido a mudar-se para a Holanda em 1628, país que estava, então, no auge do seu poder. Ali ele morou e trabalhou pelos próximos 20 anos, devotando seu tempo e esforços ao estudo da matemática e filosofia, na perseguição da verdade. Em 1649, foi convidado para ser professor da Rainha Cristina da Suécia, mudando-se para Estocolmo, mas morreu poucos meses após chegar, de pneumonia aguda, em 11 de fevereiro de 1650. http://www.google.com.br/imgres?q=ren%C3%A9+descartes&hl=pt-BR&biw=1366&bih=673&tbm=isch&tbnid=3LlhfY6vM5QB_M:&imgrefurl=http://pt.wikipedia.org/wiki/Ren%C3%A9_Descartes&docid=oKdNb6-8KwhofM&imgurl=http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/73/Frans_Hals_-_Portret_van_Ren%C3%A9_Descartes.jpg/190px-Frans_Hals_-_Portret_van_Ren%C3%A9_Descartes.jpg&w=190&h=233&ei=T_LsT_SYC6Pz0gGk9onnDQ&zoom=1&iact=hc&vpx=193&vpy=188&dur=186&hovh=186&hovw=152&tx=85&ty=115&sig=102490247769462068140&page=1&tbnh=135&tbnw=109&start=0&ndsp=24&ved=1t:429,r:0,s:0,i:86 23 Os trabalhos de Descartes em filosofia e ciência foram publicados em cinco livros: Le Monde (O Mundo), uma tentativa de descrever o universo físico, o Discours de la Méthode Pour Bien Conduire Sa Raison et Chercher La Vérité Dans Les Sciences (Discurso sobre o Método de Bem Conduzir sua Razão e Procurar a Verdade nas Ciências), seu trabalho mais importante; Meditationes, um sumário de suas ideias filosóficas em epistemologia, Principia Philosophiae (Princípios da Filosofia), cuja maior parte foi devotada à física, especialmente as leis do movimento, e Les Passions de L'ame (As Paixões da Alma), sua mais importante contribuição à fisiologia e à psicologia. As contribuições de Descartes à física foram feitas principalmente na óptica, mas ele escreveu extensamente sobre muitos outros temas, incluindo biologia, cérebro e mente. Ele não foi um experimentalista, no entanto. Fonte: super.abril.com.br O esteio da filosofia de Descartes pode ser resumida por sua famosa frase em latim: Cogito, ergo sum (penso, logo existo). Ele foi o primeiro a levantar a doutrina do dualismo corpo/mente, a propor uma sede física para a mente, e a maneira como ela se inter-relaciona com o corpo. Portanto, ele discutiu temas importantes para as neurociências, que vieram a dominar os quatro séculos seguintes, tais como a ação voluntária e involuntária, os reflexos, consciência, pensamento, emoções, e assim por diante. 24 8 DEUS, A CIÊNCIA E O LIVRE-ARBÍTRIO Para Descartes, o Deus criador transcende radicalmente a natureza. Deus Foi "inteiramente indiferente ao criar as coisas que criou". Não se submeteu a nenhuma verdade prévia. Em virtude do poder de seu livre-arbítrio, criou as verdades. Eis por que Deus quer que a soma dos ângulos de um triângulo seja igual a dois ângulos retos. Fonte: /salmos3703.files.wordpress.com Acrescentemos que, para Descartes, Deus criou o mundo instante por instante (é a "criação contínua"). O tempo é descontínuo e a natureza não tem nenhum poder próprio. As leis da natureza só são o que são a cada momento, em virtude da vontade do criador. É importante compreender que essa transcendência radical de Deus possui duas consequências fundamentais. O livre-arbítrio humano e a independência da ciência. 25 Fonte: 4.bp.blogspot.com/ 1. - O homem não é uma parte de Deus. A transcendência do criador afasta qualquer panteísmo. O homem, simples criatura ultrapassada por seu criador (concebo Deus porque descubro em mim a marca de sua infinitude, mas não o compreendo), recebo, assim, uma autonomia que será perdida no sistema panteísta de Spinoza. O homem é livre, pode dizer sim ou não às ordens de Deus. É certo que, na Quarta Meditação, Descartes fala da liberdade esclarecida, dessa liberdade que não pode tratar da verdade ou do bem, dessa liberdade que é antes um estado de libertação do que uma decisão pura, situada além de todas as razões. Mas nos Princípios e sobretudo nas cartas ao Pe. Mesland, de 2 de maio de 1644 e 9 de fevereiro de 1645, Descartes afirma radicalmente o livre-arbítrio, o poder de recusar a Verdade e o Bem até mesmo na presença da evidência que se manifesta. Esses textos esclarecem a teoria do juízo presente na Quarta meditação. O entendimento concebe a verdade e é a vontade que dá as costas a ou afirma essa verdade. Deus propõe e o homem, por intermédio de seu livre-arbítrio, dispõe. Desse modo, Deus não é o culpado dos meus erros nem dos meus pecados. Sou eu que me engano, sou eu que peco. Meu livre-arbítrio me faz merecedor ou culpado. 2. - Do mesmo modo, a transcendência de Deus vai tornar possível uma ciência puramente racional e mecanicista da natureza. a) A natureza, segundo Descartes, não possui dinamismo próprio. Todo dinamismo pertence ao criador. Na medida em que a natureza é despojada de toda 26 profundidade metafísica, Descartes pode eliminar as noções aristotélicas e medievais de forma, alma, ato e potência. Toda finalidade desaparece e a natureza é reduzida a um mecanicismo inteiramente transparente para a linguagem matemática. A natureza nada tem de divino, é um objeto criado, situado no mesmo plano da inteligência humana, e, por conseguinte, inteiramente entregue à sua exploração. Isto consiste, ao mesmo tempo, na rejeição de todo naturalismo pagão (a natureza não é uma deusa) e na fundamentação metafísica do racionalismo científico. Fonte: novotempo.com b) nem tudo tem o mesmo valor na obra científica de Descartes. Se sua ótica e suas considerações sobre a expressão algébrica das curvas (ele é, juntamente com Fermat, o inventor da geometria analítica) constituem incontestável contribuição científica, sua física (dada, aliás, mais como uma possibilidade racional do que como a verdade certa) não passa de um romance. Mas o espírito dessa física e da fisiologia cartesiana - que não passa de um capítulo da física - nada mais é do que o espírito do mecanicismo. Quando Descartes declara que os animais são máquinas, ele coloca, em princípio, que é possível explicar as funções fisiológicas por intermédio de mecanismos semelhantes àqueles que fazem mover os autômatos que vemos "nos jardins de nossos reis". O detalhe das explicações não passa de um sonho. Mas a direção tomada é a ciência moderna. Para Descartes, o mundo físico 27 não possui mistérios. As coisas se determinam reciprocamente (leis do choque), por contato direto, num espaço em que não existe o vazio. 9 O PROBLEMA DO HOMEM: A MORAL Fonte: mises.org.br/ 1. - No Discurso sobre o Método, Descartes adota uma moral provisória - pois a ação não pode esperar que a filosofia cartesiana engendrasse uma nova moral. Recordemos seus três preceitos: a) Submeter-se aos usos e costumes de seu país. b) Antes mudar os próprios desejos que a ordem do mundo e vencer-se a si próprio do que à fortuna. c) Ser sempre firme e resoluto em suas ações; saber decidir-se mesmo na ausência de toda evidência, à semelhança do viajante perdido na floresta que, ao invés de ficar fazendo voltas, adota uma direção qualquer e nela se mantém! (O cartesianismo, antes de ser uma filosofia da inteligência, é uma filosofia da vontade). 28 Fonte: www.coladaweb.com 2. - É certo que a moral definitiva de Descartes não apresenta uma unidade perfeita. Influências estoicas, epicuristas e cristãs estão presentes nela. Mas, na realidade, essa complexidade reflete a própria complexidade da condição humana. No plano das ideias claras e distintas, Descartes separa claramente as duas substâncias, alma e corpo: a essência da alma é pensar; a do corpo é ser um objeto no espaço. E, no entanto, o pensamento está preso a esse fragmento de extensão.A alma age sobre o corpo e este age sobre ela. (Para Descartes, o ponto de aplicação da alma ao corpo é a glândula pineal, isto é, a epífise.) Mas isso não esclarece a união da alma e do corpo, que é um fato de experiência, puramente vivido e ininteligível. Na medida em que Descartes considera o homem no que ele tem de essencial, enquanto espírito, ou quando se ocupa do composto humano, sua moral assume aspectos diferentes: a) Consideremos o homem enquanto espírito, enquanto liberdade: o valor supremo é a generosidade. "A verdadeira generosidade que faz com que um homem se estime, no ponto máximo em que ele pode legitimamente estimar-se, consiste, em parte, na consciência de que nada lhe pertence verdadeiramente, exceto essa livre disposição de suas vontades... e em parte no sentimento de uma firme e constante resolução de bem usá-la, isto é, de nunca lhe faltar vontade para empreender e executar todas as coisas que julgar melhores, o que é seguir a virtude perfeitamente". 29 b) Se considerarmos o homem enquanto espírito unido a um corpo, somos obrigados a levar em conta as paixões, isto é, a afetividade em sentido amplo. Paixão é, para Descartes, tudo o que o corpo determina na alma. E Ele, que nada tem de asceta, acha que devemos antes dominá-las do que desenvolvê-las. Isso porque ele se coloca do ponto de vista da felicidade. O bom funcionamento do corpo, as ligações harmoniosas entre os espíritos animais e os pensamentos humanos são altamente desejáveis. A moral surge, então, como uma técnica de felicidade e, nessa técnica, a medicina desempenha importante papel. A moral surge aqui como uma aplicação direta ao mecanicismo cartesiano. 10 UTILITARISMO Em Filosofia, o utilitarismo é uma doutrina ética que prescreve a ação (ou inação) de forma a aperfeiçoar o bem-estar do conjunto dos seres envolvidos. O utilitarismo é então uma forma de consequencialismo, ou seja, ele avalia uma ação (ou regra) unicamente em função de suas consequências. Filosoficamente, pode-se resumir a doutrina utilitarista pela frase: Agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar (Princípio do bem-estar máximo). Trata-se então de uma moral eudemonista, mas que, ao contrário do egoísmo, insiste no fato de que devemos considerar o bem-estar de todos e não o de uma única pessoa. 30 Fonte: m1.paperblog.com/i Antes de quaisquer outros, foram Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806-1873) que sistematizaram o princípio da utilidade e o aplicaram a questões concretas – sistema político, legislação, justiça, política econômica, liberdade sexual, emancipação feminina, etc. Em Economia, o utilitarismo pode ser entendido como um princípio ético no qual o que determina se uma decisão ou ação é correta, é o benefício intrínseco exercido à coletividade, ou seja, quanto maior o benefício coletivo, tanto melhor a decisão ou ação. Princípio da Utilidade John Stuart Mill foi um dos filósofos que se debruçaram sobre o princípio da utilidade. Bentham expõe o conceito central da utilidade no primeiro capítulo do livro Introduction to the Principles of Morals and Legislation (―Introdução aos princípios da moral e legislação‖), da seguinte forma: ― Por princípio da utilidade, entendemos o princípio segundo o qual toda ação, qualquer que seja, deve ser aprovada ou rejeitada em função de sua tendência de aumentar ou reduzir o bem-estar das partes afetadas pela ação. (...) Designamos por utilidade a tendência de alguma coisa em alcançar o bem-estar, o bem, o belo, a 31 felicidade, as vantagens, etc. “O conceito de utilidade não deve ser reduzido ao sentido corrente de modo de vida com um fim imediato". Fonte: upload.wikimedia.org/ Perspectiva moral e política: Características gerais O utilitarismo, concebido como um critério geral de moralidade pode e deve ser aplicado tanto às ações individuais quanto às decisões políticas, tanto no domínio econômico quanto nos domínios sociais ou judiciários. O Utilitarismo é um tipo de ética normativa -- com origem nas obras dos filósofos e economistas ingleses do século XVIII e XIX, Jeremy Bentham e John Stuart Mill, -- segundo a qual uma ação é moralmente correta se tende a promover a felicidade e condenável se tende a produzir a infelicidade, considerada não apenas a felicidade do agente da ação, mas também a de todos os afetados por ela. O utilitarismo rejeita o egoísmo, opondo-se a ideia de que o indivíduo deva perseguir seus próprios interesses, mesmo à custa dos outros, e se opõe também a qualquer teoria ética que considere ações ou tipos de atos como certos ou errados independentemente das consequências que eles possam ter. 32 Fonte: 2.bp.blogspot.com/ O utilitarismo assim difere radicalmente das teorias éticas que fazem o caráter de bom ou mal de uma ação depender do motivo do agente porque, de acordo com o Utilitarismo, é possível que uma coisa boa venha a resultar de uma motivação ruim no indivíduo. Antes, porém, desses dois autores darem forma ao Utilitarismo, o pensamento utilitarista já existia, inclusive na filosofia antiga, principalmente no de Epicuro e seus seguidores na Grécia antiga. E na Inglaterra, alguns historiadores indicam o Bispo Richard Cumberland, um filósofo moralista do século XVII, como o primeiro a apresentar uma filosofia utilitarista. Uma geração depois, Francis Hutcheson, com sua teoria do "sentido interior da moralidade" ("moral sense") manteve uma posição utilitarista mais clara. Ele cunhou a frase utilitarista de que "a melhor ação é a que busca a maior felicidade para o maior número de indivíduos". Também propôs uma forma de "aritmética moral" para cálculo da melhor consequência possível. David Hume tentou analisar a origem das virtudes em termos de sua contribuição útil. O próprio Bentham disse haver descoberto o "princípio de utilidade" nos escritos de vários pensadores do século XVIII como Joseph Priestley, um clérigo dissidente famoso por haver descoberto o oxigênio, e Claude-Adrien Helvétius, autor de uma filosofia de meras sensações, de Cesare Beccaria, jurista italiano, e de David Hume. Helvétius foi posterior a Hume e deve ter conhecido seu pensamento, e Beccária o de Helvétius. 33 Outro apoio ao Utilitarismo é o de natureza teológica, devido a John Gay, um filósofo estudioso da Bíblia que argumentava que fazer a vontade de Deus era o único critério de virtude, mas que, devido à bondade divina, ele concluía que Deus desejava que o homem promovesse a felicidade humana. Bentham, que aparentemente acreditava que o indivíduo, no governo de seus atos iria sempre buscar maximizar seu próprio prazer e minimizar seu sofrimento, colocou no prazer e na dor ambos a causa das ações humanas e as bases de um critério normativo da ação. À arte de alguém governar suas próprias ações, Bentham chamou "ética particular". Neste caso a felicidade do agente é o fator determinante; a felicidade dos outros governa somente até o ponto em que o agente é motivado por simpatia, benevolência, ou interesse na boa vontade e opinião favorável dos outros. Para Bentham, a regra de se buscar a maior felicidade possível para o maior número possível de pessoas devia ter papel primordial na arte de legislar, na qual o legislador buscaria maximizar a felicidade da comunidade inteira criando uma identidade de interesses entre cada indivíduo e seus companheiros. Aplicando penas por atos mal-intencionados, o legislador seria prejudicial para um homem que causasse danos ao seu vizinho. O trabalho filosófico mais importante de Bentham, An Introduction to the Principles of Morals and Legislation ("Uma introdução aos princípios de moral e legislação"), de 1789, foi pensado como uma introdução a um projeto de Código Penal. Jeremy Bentham atraiu jovens intelectuais como discípulos,entre eles o economista David Ricardo, James Mill e o jurista John Austin. Mais tarde John Stuart Mill, filho de James Mill, defendia o voto feminino, a educação paga pelo Estado para todos, e outras propostas radicais para sua época, com base na visão utilitarista de que tais medidas eram essenciais à felicidade e bem-estar de todos, assim como também a liberdade de expressão e a não interferência do governo quando o comportamento individual não afetasse as outras pessoas. Seu ensaio "Utilitarianism," publicado no Fraser's Magazine (1861), é citado como uma elegante defesa da doutrina Utilitarista e considerada ser ainda a melhor introdução ao assunto, apresentando o Utilitarismo como uma ética tanto para o comportamento do indivíduo comum quanto para a legislação social. 34 11 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA SOCIOLOGIA Um conceito básico da sociologia: cultura O ser humano, para se manter vivo, independentemente de seu contexto cultural, precisa satisfazer uma série de determinadas funções vitais. Estas funções são comuns a todos os indivíduos da sociedade, pois fazem parte de uma necessidade biológica do organismo, mas a maneira de satisfazê-las varia de uma cultura para outra. Não precisamos pensar para realizá-las, elas se sobrepõem à nossa vontade. Estas funções vitais são chamadas de instinto. Os animais são formados apenas por traços instintivos. Independentemente do local onde eles forem criados, eles agirão do mesmo jeito. Não importa se um cachorro for criado entre gatos, ele continuará a agir como um cachorro. Veja a tabela abaixo: INSTINTO CULTURA Nascemos aptos a realizar esta característica por vezes é uma necessidade biológica. Aprendemos com as Instituições Sociais. Seres Humanos e animais possuem. Apenas os seres humanos possuem. O indivíduo não tem como escolher ou optar. O indivíduo tem escolha, cabe exceção. É igual em todas as sociedades. Varia conforme a sociedade. No entanto, os comportamentos humanos não são biologicamente determinados. A sua herança genética nada tem a ver com suas ações e pensamentos, pois todos os seus atos dependem inteiramente de um processo de aprendizado. O ser humano, e consequentemente a forma (ensinado). Todos nós somos herdeiros de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquiridos pelas numerosas gerações que nos antecederam. 35 Todo este complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelos seres humanos como membro de uma sociedade é chamado de cultura. Todas as possibilidades de realização humanas, sendo todas aprendidas pelo ser humano independem de uma transmissão genética. O ser humano é o único ser capaz de produzir cultura. A cultura é sempre dinâmica, ou seja, vai se transformando ao longo do tempo, assim como nós vamos mudando nossa forma de pensar conforme a cultura de nossa sociedade vai mudando. O que são as Ciências Sociais? Denominamos Ciências Sociais o conjunto de conhecimentos que nos permite pesquisar e estudar os comportamentos sociais, ou seja, o objeto de estudo das Ciências Sociais é o comportamento social humano. Assim, podemos dizer que se trata do estudo sistemático do comportamento social do ser humano. De que se ocupam as Ciências Sociais As Ciências Sociais foram às últimas a se constituírem. São, portanto, as mais jovens. Enquanto a Biologia, a Química e a Física existiam já no século XVII, ou mesmo um pouco antes, as Ciências Sociais só vieram se estabelecer como ciência, com um objeto de estudo definido e com um método próprio, na virada do século XIX para o século XX. Enquanto a Biologia, por exemplo, se preocupa em compreender o fenômeno da vida e em catalogar suas diversas formas, a preocupação das Ciências Sociais (Antropologia, Ciência Política e Sociologia) é identificar e compreender as relações que se tecem entre os seres humanos na sua existência concreta, isto é, as relações sociais - relações políticas, culturais, econômicas, religiosas, de transmissão de conhecimentos, etc. Desse modo, ao se perguntar o que estuda as Ciências Sociais, podemos responder: elas estudam as relações sociais. Para o ser humano do nosso tempo, a formação científica é fundamental para compreender e para poder intervir em seu meio. Ou seja, é fundamental conhecer a Biologia, a Física, a Química, a Matemática, mas o conhecimento das relações sociais, construído pelas Ciências 36 Sociais, não é menos fundamental. Isto porque a sociedade está em permanente construção, precisando constantemente de nossa intervenção. E a gente só pode intervir naquilo que conhece. Caso contrário, é intervenção cega e esta pode nos levar aonde não queremos ir. As Ciências Sociais se interessam por explicar como as sociedades funcionam, como está distribuído o poder, qual o papel das várias instituições, como os grupos se formam e para quê, o que a sociedade produz para a sobrevivência dos homens e como produz, o que faz uma sociedade diferente de outra, quais as ideias que cimentam essa sociedade, que transformações sociais as transformações técnicas engendram, etc., etc. Tudo isso são assuntos que dizem respeito às Ciências Sociais. O trabalho do sociólogo, do antropólogo e do cientista político ajuda a tornar mais racional à ação humana e mais equilibrado o convívio entre os seres humanos. Áreas de concentração Devido à complexidade inerente ao estudo do comportamento social humano em suas várias dimensões, as Ciências Sociais apresentam-se agrupadas em áreas de concentração ou disciplinas. A saber: Antropologia – Ocupa-se do estudo e pesquisa das semelhanças e diferenças culturais entre os agrupamentos humanos, preocupa-se também com a origem e evolução das culturas. Atualmente, a maioria dos trabalhos nesta área, aponta para a necessidade de compreensão da diversidade cultural existente nas sociedades industriais. São ainda objetos de estudos da Antropologia, os tipos de organização familiar, as religiões, a magia, as gangues de rua, etc. Ciência Política – Compreender como se distribui o poder na sociedade, assim como, entender a formação e o desenvolvimento das diversas formas de governo, além dos mecanismos eleitorais e partidos políticos são algumas das preocupações de que se ocupa a Ciência Política. 37 Sociologia – Como já dissemos anteriormente, trata-se da ciência que estuda as relações sociais e as formas de associação, considerando as interações que ocorrem na vida cotidiana; abrange, portanto, estudos relativos aos grupos e camadas sociais, aos processos de cooperação, competição e conflitos na sociedade. Conhecer e entender (sobre a Sociologia) é preciso! A Sociologia não é redentora ou solucionadora dos males sociais, ou dos problemas intelectuais das pessoas. Ela surge como uma ciência que vai fornecer novas visões sobre a sociedade. Sua contribuição está no fato de nos dar referenciais para refletirmos sobre as sociedades. 12 O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA Como tudo começou! Apesar de a ciência sociológica ser considerada nova, pois ela se consolidou por volta do século XIX, à angústia de se entender as sociedades, por sua vez, não é tão nova assim. Se olharmos para a Grécia Antiga, vamos ver que lá já havia o desejo de se entender a sociedade. No século V a.C, havia uma corrente filosófica, chamada sofista, que começava a dar mais atenção para os problemas sociais e políticos da época. Porém, não foram os gregos os criadores da Sociologia. Mas foram os gregos que iniciaram o pensamento crítico filosófico. Fonte: ensinomedioonline.com.br/ 38 Eles criaram a Filosofia (que significa amor ao conhecimento) e que, por sua vez, foi um impulso para o surgimento daquiloque chamamos, hoje, de ciência, a qual se consolidaria a partir dos séculos XVI e XVII, sendo uma forma de interpretação dos acontecimentos da sociedade mais distanciada das explicações míticas. Foram com os filósofos gregos Platão (427-347 a.C) e Aristóteles (384-322 a.C), que surgiram os primeiros passos dos trabalhos mais reflexivos sobre a sociedade. Platão foi defensor de uma concepção idealista e acreditava que o aspecto material do mundo seria um tipo de fruto imperfeito das ideias universais, as quais existem por si mesmas. Aristóteles já mencionava que o homem era um ser que, necessariamente, nasce para estar vivendo em conjunto, isto é, em sociedade. No seu livro chamado Política, no qual consta um estudo dos diferentes sistemas de governo existentes, percebesse o seu interesse em entender a sociedade. Já na Idade Média... Séculos mais tarde, no período chamado de Idade Média (que vai do século V ao XV, mas exatamente entre os anos 476 a 1453), houve, segundo os renascentistas (que vamos conhecer mais à frente), um período de “trevas” quanto à maneira de ver o mundo. Segundo eles, havia um prevalecer da fé, onde os campos mítico e religioso, tendiam a oferecer as explicações mais viáveis para os fatos do mundo. 39 Fonte: www.ucsminhaescolha.com.br Na Europa Medieval, esse predomínio religioso foi da Igreja Católica. Tal predomínio da fé, de certo modo, e segundo os humanistas renascentistas, asfixiava as tentativas de explicações mais especulativas e racionais (científicas) sobre a sociedade. Não cumprir uma regra ou lei estabelecida pela sociedade, poderia ser entendido como um pecado, tamanha era a mistura entre a vida cotidiana e a esfera sobrenatural. É claro que se olharmos a Idade Média somente pela ótica dos renascentistas ela pode ficar com uma “cara meio tenebrosa”. Na verdade, ela também foi um período muito rico para a história da humanidade, importante, inclusive, para a formação da nossa casa, o mundo ocidental. Vale à pena conhecermos um pouco mais sobre essa história. E, na continuidade da história... Tudo caminhava para o uso da razão O predomínio, na organização das relações sociais, dos princípios religiosos durou até pelos menos o século XV. Mas já no século XIV começava a acontecer uma renovação cultural. Era o início do período conhecido por Renascimento. Os renascentistas, com base naquilo que os gregos começaram, isto é, a questionar o mundo de maneira reflexiva, rejeitavam tudo aquilo que seria parte da cultura medieval, presa aos moldes da igreja, no caso, a Católica. O renascimento espalhou-se por muitas partes da Europa e influenciava a arte, a ciência, a literatura 40 e a filosofia, defendendo, sempre, o espírito crítico. Nesse tempo, começaram a aparecer homens que, de forma mais realista, começavam a investigar a sociedade. A exemplo disso temos Nicolau Maquiavel (1469-1527) que, em sua obra intitulada de O Príncipe, faz uma espécie de manual de guerra para Lorenzo de Médici. Ali comenta como o governante pode manipular os meios para a finalidade de conquistar e manter o poder em suas mãos. Obras como estas davam um novo olhar para sociedade, olhar pelo qual, através da razão os homens poderiam dominar a sociedade, longe das influências divinas. Era a doutrina do antropocentrismo ganhando força. O homem passava a ser visto como o centro de tudo, inclusive do poder de inventar e transformar o mundo pelas suas ações. Além de Maquiavel, outros autores renascentistas, como Francis Bacon (1561-1626), filósofo e criador do método científico conhecido por experimental, ajudavam a dar impulso aos tempos de domínio da ciência que se iniciavam. Não perdendo de vista... Estamos contando tudo isso para que você perceba que nem sempre as pessoas puderam contar com a ciência para entender o mundo, sobretudo o social, que é o queremos compreender. Dessa maneira, muitas pessoas no passado, ficaram ‘presas’ principalmente, àquelas explicações a respeito da realidade que eram baseadas na tradição, em mitos antigos ou em explicações religiosas. O Iluminismo Já no século XVIII, houve um momento na Europa, chamado de Iluminismo, que começou na Inglaterra e na França, mas que posteriormente espalhou-se por todo o continente em que a ideia de valorizar a ciência e a racionalidade no entendimento da vida social tornou-se ainda mais forte. Uma característica das ideias do Iluminismo era o combate ao Estado absoluto, ou absolutismo, que começou a surgir na Europa ainda no final da Idade 41 Média, no século XV, em que o rei concentrava todo o poder em suas mãos e governava sendo considerado um representante divino na terra, uma voz de Deus, a qual até a igreja, não raramente, se sujeitava. Com a ciência ganhando força, era, digamos, inviável o fato de voltar a pensar a vida e a organização social por vias que não levassem em conta as considerações da ciência em debate com as de fundo religioso. Como por exemplo, imaginar os governantes como sendo representantes sobrenaturais. Fonte: 2.bp.blogspot.com/ Nesse período, a continuada consolidação da reflexão sistemática sobre a sociedade foi ajudada por autores como Voltaire (1694-1778), filósofo que defendia a razão e combatia o fanatismo religioso; Jean- Jacques Rousseau (1712-1778), que estudou sobre as causas das desigualdades sociais e defendia a democracia; Montesquieu (1689-1755), que criticava o absolutismo, e defendia a criação de poderes separados (legislativo, judiciários e executivo), os quais dariam maior equilíbrio ao Estado, uma vez que não haveria centralidade de poder na mão do governante. Portanto, com a contribuição Iluminista... 42 A partir das teorias sobre a sociedade que no período Iluminista surgiram, é que começa a ser impulsionada, ou preparada, a ideia da existência de uma ciência que pudesse ajudar a interpretar os movimentos da própria sociedade. 13 A IMPORTÂNCIA DA SOCIOLOGIA Fonte: /2.bp.blogspot.com/ Sociologia é o estudo do comportamento social das interações e organizações humanas. Cabe à sociologia estudar as relações sociais que se dão entre seres humanos em determinada sociedade; as relações sociais entre sociedades distintas e as relações socais entre os indivíduos de uma determinada sociedade e as Instituições Sociais por eles próprios criados. Instituições Sociais são todas as organizações que existem em dada comunidade e que são responsáveis pela transmissão da cultura. Na realidade, todos nós somos sociólogos porque você e eu estamos sempre analisando nossos comportamentos e nossas experiências interpessoais em situações organizadas. O objetivo da sociologia é tornar essas compreensões cotidianas da sociedade mais sistemáticas e precisas, à medida que suas percepções vão além de nossas 43 experiências pessoais. Pois nós somos simplesmente pequenos jogadores num mundo imenso e complexo, com pessoas, símbolos e estruturas sociais, e somente ampliando nossa perspectiva além do “aqui e agora” é que podemos perceber as causas que moldam e limitam nossas vidas. Agimos em um meio social que influencia profundamente nossa maneira de sentir e ser em relação a nós mesmos e ao mundo que nos cerca, como nos vemos e percebemos os acontecimentos, como agimos e pensamos, e onde e a que distância podemos ir na vida. Às vezes a limitação é óbvia, até mesmo opressiva e enfraquecedora, em outras tantas é sutil e até mesmo despercebida. Mas sempre ela está moldando nossos pensamentos, sentimentos e ações. Examine a situação de um/uma aluno. Há grandes valores culturais e crenças que enfatizam a importância da educação e, desse modo, forçam os alunos a acreditar que eles devem ir à escola e, em seguida, à universidade. Há um ponto que espero que esteja claro: todos nós vivemosem uma teia complexa de causas que dita muito do que vemos, sentimos e fazemos. Nenhum de nós é totalmente livre; na verdade, podemos escolher nosso caminho na vida cotidiana, mas nossas opções são sempre limitadas. Isso reforça a ideia sociológica de que o ser humano é produto e produtor de sua cultura. A sociologia examina essas limitações e, como tal, é uma área muito ampla, pois estuda todos os símbolos culturais que os seres humanos criam estruturas sociais que ditam a vida social; examina todos os processos sociais, tais como desvio, crime, divergência, conflitos, migrações e movimentos sociais que fluem através da ordem estabelecida socialmente; e busca entender as transformações que esses processos provocam na cultura e estrutura social. Em tempos de mudança, em que a cultura e a estrutura estão atravessando transformações drásticas, a sociologia torna-se particularmente importante. Como a velha maneira de fazer as coisas se transforma, as vidas pessoais são interrompidas e, como consequência, as pessoas buscam respostas para o fato de as rotinas e fórmulas do passado não funcionarem mais. O mundo hoje está passando por uma transformação dramática: o aumento de conflitos étnicos, o desvio de empregos para países de mão de obra mais barata, as fortunas instáveis da atividade econômica e do comércio, a mudança no mercado de trabalho, a propagação do 44 HIV/AIDS, o aumento da fome, a quebra do equilíbrio ecológico, a redefinição dos papéis sociais dos homens e das mulheres e muitas outras mudanças. Enquanto a vida social e as rotinas diárias se tornam mais ativas, a percepção sociológica não é completamente necessária. Mas, quando a estrutura básica da sociedade e da cultura muda, as pessoas buscam o conhecimento sociológico. 14 A SOCIOLOGIA NO BRASIL Podemos dizer que a Sociologia brasileira começa a “engatinhar” a partir da década de 1930, vindo a se fortalecer nas décadas seguintes. Apesar de alguns autores da sociologia dizer que não há uma data correta que marca o seu começo em solo brasileiro, essa época parece ser a mais adequada para se falar em início dos estudos sociológicos no Brasil. Fonte: www.infoescola.com/ Quando dizemos “data mais adequada”, é porque as produções literárias que surgem a partir dessa década (1930) começam a demonstrar um interesse na compreensão da sociedade brasileira quanto à sua formação e estrutura. Mas note 45 não estamos afirmando que antes da data acima ninguém havia se proposto a entender nossa sociedade. Antes da década de 1930 muitos ensaios sociológicos sobre o Brasil foram elaborados por historiadores, políticos, economistas, etc. No entanto, na maioria destes trabalhos, os autores apresentavam a tendência de escrever sobre raça, civilização e cultura, mas não tentavam explicar a formação e a estrutura da sociedade brasileira. A partir de 1930, surge no Brasil um período no qual a reflexão sobre a realidade social ganha um caráter mais investigativo e explicativo. Esse caráter mais investigativo e explicativo foi impulsionado pelos muitos movimentos que estimularam uma postura mais crítica sobre o que acontecia na sociedade brasileira. Dentre alguns destes movimentos estão o Modernismo, a formação de partidos (sobretudo o partido comunista) e os movimentos armados de 1935. Movimentos como esses, de alguma forma, traziam transformações de ordem social, econômica, política e cultural ao país, e despertavam o interesse de pensadores em dar explicações a tais fenômenos. Aos poucos a Sociologia passa a constituir-se como uma forma de reflexão sobre a sociedade brasileira. Veja como isso aconteceu: Movimento Modernista: Lutava para que as regras vigentes sobre a arte e a literatura deixassem de “engessar” a produção brasileira. A intenção do movimento era que os moldes internacionais não sufocassem o que viesse a ser arte com um jeito nacional. A Semana de Arte Moderna de 1922, em SP, foi uma espécie de marco da independência da arte brasileira. Partido Comunista Fundado em 25 de Março de 1922, tinha o ideário de criar uma cultura socialista no Brasil. Com base em teóricos como o alemão Karl Marx, inauguraram uma maneira de se fazer política voltada aos interesses do proletariado. Movimentos armados de 1935 46 Também conhecidos como o “Levante Comunista”. Tiveram como protagonistas o Partido Comunista (PCB) e os Tenentes de esquerda do exército brasileiro. Alguns de seus projetos e lutas eram pelo fim do imperialismo e pela existência de uma ditadura democrática. Apesar de vencidos, serviram para que o PCB ficasse conhecido e ganhasse maior força no cenário brasileiro. 15 FASES DA SUA IMPLANTAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL Dividindo os acontecimentos da implantação da Sociologia no Brasil como ciência, em fases, ou em geração de autores, de acordo com o sociólogo brasileiro Otávio Ianni (1926-2003), destacamos aqui três delas (na aula de hoje estudaremos a primeira fase agora e as outras duas fases na próxima aula), as quais se complementam: A fase “A” da implantação da Sociologia no Brasil A primeira geração da Sociologia brasileira seria composta por aqueles autores que se preocuparam em fazer estudos históricos sobre a nossa realidade, com um caráter mais voltado à Literatura do que para a Sociologia. Desta geração de autores, queremos destacar Euclides da Cunha (1866- 1909). Cunha nasceu no Rio de Janeiro, foi militar engenheiro, além de ter estudado Matemática e Ciências Físicas e Naturais. Porém, o que gostava de fazer, como profissional, era o jornalismo. Em 1895, abandonou o Exército e começou a trabalhar como correspondente do jornal “O Estado de São Paulo”. Nessa função foi enviado para a Guerra de Canudos, no interior da Bahia, de onde surgiu sua maior contribuição à Sociologia brasileira: o livro Os Sertões. Se analisarmos este livro pelo enfoque literário, podemos perceber que Cunha faz, usando seus conhecimentos de Ciências e Físicas Naturais, relatos sobre como era a terra e a paisagem de Canudos. Também faz a descrição dos homens que ali viviam, ou seja, os sertanejos, nos quais percebe que, ao contrário do que pensava antes de conhecê-los, eram fortes e valentes, ainda que a aparência dos mesmos não demonstrasse isso. 47 Por fim, Cunha descreve a guerra, isto é, como foi que o governo da época conseguiu acabar com o que considerava ser uma revolução que reivindicava a volta do sistema monárquico no Brasil. Na verdade Antônio Conselheiro (o líder da Revolução de Canudos) e seus seguidores apenas defendiam seus lares, sua sobrevivência. Olhando mais pelo lado sociológico, podemos perceber que Cunha estava fazendo revelações quanto à organização da República que estava sendo consolidada. Canudos era um retrato de uma sociedade republicana que não conseguia suprir as necessidades básicas de seu povo. Coisa que Antônio Conselheiro, com sua maneira missionária de ser, acreditava e lutava para acontecer, pois... “...abria aos desventurados os celeiros fartos pelas esmolas e produtos do trabalho comum. Compreendia que aquela massa, na aparência inútil, era o cerne vigoroso do arraial. Formavam-na os eleitos, felizes por terem aos ombros os frangalhos imundos, esfiapados sambenitos de uma penitência que lhes fora a própria vida; bem-aventurados porque o passo trôpego, remorado pelas muletas e pelas anquiloses, lhes era a celeridade máxima, no avançar para a felicidade eterna”. (CUNHA, 1979: 132 ). Após duas tentativas sem sucesso de “tomar” Canudos – pois os sertanejos tornavam difícil a vida dos soldados, por conhecerem muito bem a caatinga sertaneja – o governo federal republicano deixou de subestimar a força daquelas pessoas que se uniram a Conselheiro. Convocou para uma terceira expedição batalhões armados de vários estados brasileiros e promoveuuma grande guerra e matança naquela região, em prol da República. A observação de Euclides da Cunha e as revelações que faz quanto à sociedade brasileira em Os Sertões, transforma esta obra em um dos referenciais de início do pensamento sociológico no Brasil. A fase “B” da implantação da Sociologia no Brasil Numa segunda fase de geração de autores, a preocupação em se fazer pesquisas de campo, que é uma característica das pesquisas sociológicas, começa a ser levada em conta. Existem vários autores desta geração que poderíamos referenciar, como Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior, Sérgio Buarque de Holanda, Fernando de Azevedo, Nelson Wernek Sodré, Raymundo Faoro, etc. 48 No entanto, vamos nos fixar em dois deles, os quais podem ser vistos como clássicos do pensamento social brasileiro: Gilberto Freyre e Caio Prado Júnior. Gilberto Freyre foi o autor de Casa Grande & Senzala (1933), livro no qual demonstrou as características da colonização portuguesa, a formação da sociedade agrária, o uso do trabalho escravo e, ainda, como a mistura das raças ajudou a compor a sociedade brasileira. Freyre foi um sociólogo que nasceu em Pernambuco no ano de 1900 e, no desenvolver de sua profissão, criou várias cátedras de Sociologia, como na Universidade do Distrito Federal, fundada em 1935. Freyre faleceu em 1987. Quando escreveu Casa Grande & Senzala tinha 33 anos e, antirracista que era, inaugurou uma teoria que combatia a visão elitista existente na época, importada da Europa, a qual privilegiava a cor branca. Segundo tal visão racista, a mistura de raças seria a causa de uma formação “defeituosa” da sociedade brasileira, e um atraso para o desenvolvimento da nação. Freyre propõe um caminho inverso. Em Casa Grande & Senzala ele começa justamente valorizando as características do negro, do índio e do mestiço acrescentando, ainda, a ideia de que a mistura dessas raças seria a “força”, o ponto positivo, da nossa cultura. Este autor forneceu, para o seu tempo, uma nova maneira de ver a constituição da nacionalidade brasileira, isto é, o Brasil feito por uma harmoniosa união entre o branco (de origem europeia), o negro (de origem africana), o índio (de origem americana) e o mestiço, ressaltando que essa “mistura” contribuiu, em termos de ricos valores, para a formação da nossa cultura. Veja alguns trechos de sua obra a este respeito: “Um traço importante de infiltração de cultura negra na economia e na vida doméstica do brasileiro resta-nos acentuar: a culinária” (FREYRE, 2002). “Foi ainda o negro quem animou a vida doméstica do brasileiro de sua maior alegria.” (FREYRE, 2002). “Nos engenhos, tanto nas plantações como dentro de casa, nos tanques de bater roupa... carregando sacos de açúcar... os negros trabalhavam sempre cantando.” (FREYRE, 2002). Entanto, vale ressaltar aqui que Gilberto Freyre tinha um “olhar” aristocrático e conservador sobre a sociedade brasileira, pois além de justificar as elites no 49 governo, sua descrição do tempo da escravidão em Casa Grande & Senzala adquire uma conotação harmoniosa, ele não via conflitos nessa estrutura. Mas se para Gilberto Freyre era um erro pensar que a mistura das raças seria um atraso para o Brasil, há outro autor que se propôs a verificar qual seria e onde estaria a origem do atraso da nação brasileira. Estamos falando de Caio Prado Júnior. Este autor vai nos fornecer uma visão muito mais crítica sobre a formação da nossa sociedade. Veja por quê. Enquanto Gilberto Freyre fazia uma análise conservadora da formação da sociedade brasileira, Caio Prado recorria à visão marxista, isto é, partindo do ponto de vista material e econômico para o entendimento da nossa formação. Caio Prado Júnior nasceu em 1907 e faleceu em 1990. Formou-se em direito e, de forma autodidata, leu e tomou para si os ideais de Marx, o que o fez uma pessoa comprometida com o Socialismo. Caio Prado também era uma espécie de “contramão” do Partido Comunista Brasileiro no seu tempo, pois um dos militantes daquele partido, Octávio Brandão (1896-1980), havia escrito um livro na década de 1920, chamado Agrarismo e Industrialismo no qual apresentava a tese de que o atraso do Brasil, em termos econômicos, estava no fato dele ter tido um passado feudal. E esta tese continuou a ser defendida pelo PCB com o historiador Nelson Wernek Sodré (1911-1999), que interpretava o escravismo, no Brasil Colonial, como uma característica do feudalismo. É por essa razão que Caio Prado era contrário ao Partido Comunista, pois a ideia de que no passado o Brasil havia sido feudal era “importada” do marxismo oficial, da Europa, e que na sua opinião, não funcionava aqui. E, para Caio Prado, a prova disso estaria no fato de que no sistema feudal o servo não era considerado uma mercadoria, coisa que ocorria aqui com os escravos, o que denota uma característica do sistema capitalista (e não feudal) no que tange à análise da mão- de-obra. No seu livro Formação do Brasil Contemporâneo, publicado em 1942, Caio Prado apresenta a tese de que a origem do atraso da nação brasileira estaria vinculada ao tipo de colonização a que o Brasil foi submetido por Portugal, isto é, uma colonização periférica e exploratória. Traduzindo para melhor compreendermos... Caio Prado explica que Portugal teve grande contribuição no “nosso atraso” como nação, pois o centro do capitalismo, na época do 50 “descobrimento” do Brasil, estava na Europa, o que fazia com que as riquezas daqui fossem levadas para lá. Este tipo de organização econômica foi denominado de primária e exportadora, pois os produtos extraídos das monoculturas brasileiras, nos latifúndios, eram exportados para os países que estavam em processo de industrialização. As teses desse autor rompem com as análises dos autores que antes dele apresentaram um pensamento conservador restrito, isto é, de reprodução daquilo que estava posto na sociedade brasileira e, consequentemente, sem a intenção de apresentar propostas para sua transformação. Assim sendo, segundo a visão de Caio Prado, Gilberto Freyre, em Casa Grande e Senzala, pode ser considerado “conservador”. Veja por que: a) Seus escritos nos levam a pensar que a miscigenação acontecia sempre de maneira harmoniosa. Mas é a relação entre os senhores brancos e suas escravas negras, por exemplo? Se verificarmos relatos da história veremos que as negras eram forçadas a terem relações sexuais com eles, o que é bem diferente de harmonia. b) Sobre os problemas sociais da época, Freyre não apresenta nenhuma proposta para a solução dos mesmos, ou para a transformação da sociedade. Segundo Caio Prado, a América era vista pelos europeus como sendo “...um território primitivo habitado por rala população indígena incapaz de fornecer qualquer coisa de realmente aproveitável. Para os fins mercantis que se tinham em vista, a ocupação não se podia fazer como nas simples feitorias comerciais, com um reduzido pessoal incumbido apenas do negócio, sua administração e defesa armada; era preciso ampliar estas bases, criar um povoamento capaz de abastecer e manter as feitorias que se fundassem e organizar a produção dos gêneros que interessassem ao seu comércio. A ideia de povoar surge daí, e só daí”. (PRADO JÚNIOR, 1942: 24). 51 Para Caio Prado Júnior, os pontos “a” e “b” mencionados acima demonstram a postura conservadora de Gilberto Freyre, pois transparece um certo conformismo com a situação em que se apresentava a sociedade. Conformismo que pressupõe continuidade, sem transformação. E a fase “C” da implantação da Sociologia no Brasil Já a partir dos anos de 1940 novos sociólogos começam a aparecer no cenário brasileiro. Esta terceira geração é formada por sociólogos que vieram de diferentes instituições universitárias, fundadasa partir de 1930 e inauguram estilos mais ou menos independentes de fazer Sociologia. Dessa forma, e progressivamente, a intelectualidade sociológica no Brasil começa a ganhar corpo. Também começam a surgir estilos ou tendências, o que fez com que surgissem diferentes “escolas” de Sociologia em São Paulo, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte e em outros lugares. Dos autores que fazem parte dessa terceira geração, podemos citar Oliveira Viana, Florestan Fernandes, Guerreiro Ramos, dentre vários outros. Mas vamos nos deter na obra do sociólogo paulista Florestan Fernandes (1920-1995), importante nome da Sociologia crítica no Brasil. Qual é a proposta de Sociologia que ele apresenta? Florestan Fernandes foi um sociólogo que fez um contínuo questionamento sobre a realidade social e das teorias que tentavam explicar essa realidade. O objetivo deste autor foi de, numa intensa busca investigativa e crítica, ir além das reflexões já existentes. Florestan Fernandes tinha como metodologia “dialogar”, de maneira muito crítica, com a produção sociológica clássica. Florestan também mantinha contínuo diálogo com o pensamento crítico brasileiro. Autores como Euclides da Cunha e Caio Prado Júnior, os quais vimos anteriormente, fazem parte de sua lista de interlocutores. O diálogo com esses autores foi fundamental para o seu trabalho de análise dos movimentos e lutas existentes na sociedade, principalmente aquelas travadas pelos setores populares. 52 Fonte: 4.bp.blogspot.com/- Um outro aspecto de sua maneira crítica de fazer Sociologia foi a sua afinidade com o pensamento marxista, principalmente sobre o modo de analisar a sociedade, o que se constituiu numa espécie de “norte” crítico orientador de seu pensamento. As transformações sociais que ocorreram a partir de 1930 no Brasil foram, também, uma espécie de “motor” para os trabalhos de Florestan. Mas não apenas para ele, pois como já mencionamos, essas transformações serviram de impulso para os trabalhos sociológicos no Brasil como um todo. E isso se deu principalmente a partir de 1940, pois essas transformações se intensificaram muito por causa do aumento da industrialização e da urbanização. Algumas das consequências da urbanização, inclusive gerada pela migração de pessoas que, vindas do campo, procuravam trabalho nas indústrias das grandes cidades, foram o surgimento de problemas de falta de moradia, desemprego e criminalidade. Essas situações emergentes, logicamente, tornavam-se temas para a análise sociológica. Para finalizar, vale ressaltar que a Sociologia crítica que Florestan inaugura também tinha o “olhar” voltados aos mais diversos grupos e classes existentes na sociedade. Algumas de suas pesquisas com grupos indígenas e sobre as relações raciais em São Paulo, por exemplo, tiveram o mérito de fornecer explicações que se contrapunham às explicações dadas pelas classes dominantes da sociedade brasileira. 53 BIBLIOGRAFIA (1973), “La religion civile en Amérique”, in Archives de Sciences Sociales des Religions, 35, 1, 7-22. (1991), Beyond belief. Essays on religion in a post-traditionalist world, Berkeley, University of California Press. 70. 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