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Alice Bastos Alojamento conjunto Introdução O alojamento conjunto (AC) é o local em que a mulher e o recém-nascido sadio, logo após o nascimento, permanecem juntos, em tempo integral, até a alta; O Estatuto da Criança e do Adolescente no Capítulo I, art. 10°, inciso V, estabelece que: “Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanência junto à mãe”. Objetivos 1. Permitir aprendizado materno sobre como cuidar do RN; 2. Estabelecer bom relacionamento psicoemocional mãe-filho (ou mãe-pai-filho); 3. Incentivar o aleitamento materno; 4. Reduzir a incidência de infecções hospitalares cruzadas; 5. Permitir à equipe de saúde melhor integração e observação sobre o comportamento do binômio mãe-filho. Vantagens Humanização do atendimento do binômio mãe- filho e sua família; Convivência contínua entre mãe e bebê; Facilita o conhecimento mútuo e a satisfação imediata das necessidades físicas e emocionais do RN; Bebês em AC choram menos e dormem mais do que quando se encontram em berçários; Maior envolvimento dos pais e/ou de outras pessoas significativas no futuro cuidado com a criança; Promoção do estabelecimento precoce do vínculo afetivo entre a mãe e o seu filho; O aumento da ligação afetiva reduz os casos de abuso ou de negligência infantil e de abandono da criança; Promoção do aleitamento materno com o apoio, promoção e proteção, de acordo com as necessidades da mulher e do RN, respeitando as características individuais; Ocorre a descida do leite mais rápida; Melhor atitude em relação ao aleitamento materno; Tempo mais prolongado de amamentação; Oportunidade para as mães, em especial as primigestas, aprenderem noções básicas dos cuidados com os RNs; Isso aumentará a autoconfiança da mãe; Tranquilidade para as mães que ficam inseguras quanto ao atendimento prestado aa seus filhos quando não estão perto deles; Troca de experiências com outras mães quando compartilham o mesmo quarto, em especial com mães mais experientes que também estão cuidando dos seus filhos; Maior interação entre a mãe e sua família e os profissionais de saúde responsáveis pela atenção à criança; Diminuição do risco de infecção hospitalar; Isso acontece porque os cuidados ao RN são prestados pelas próprias mães que são colonizadas por germes da comunidade, com menor capacidade patogênica; A colonização do RN no AC é feita principalmente por germes gram- positivos, diferente do que ocorre nos berçários, onde predomina a flora gram- negativa; Berçário transforma-se em ambiente mais calmo, totalmente dedicado à atenção das crianças doentes ou de risco. Normas básicas O alojamento conjunto destina-se a: 1. Mulheres clinicamente estáveis e sem contraindicações para a permanência junto ao seu bebê; As mães devem ter capacidade física e mental de cuidar e amamentar seu filho; 2. RNs clinicamente estáveis, com boa vitalidade, capacidade de sucção e controle térmico, peso Alice Bastos maior ou igual a 1800 gramas e idade gestacional maior ou igual a 34 semanas; 3. RNs com acometimentos sem gravidade, como por exemplo: icterícia, necessitando de fototerapia, malformações menores, investigação de infecções congênitas sem acometimento clínico, com ou sem microcefalia; 4. RNs em complementação de antibioticoterapia para tratamento de sífilis ou sepse neonatal após estabilização clínica na UTI ou UCI neonatal. Cabe ao serviço de saúde realizar a gestão eficiente dos leitos de forma que mulheres em outras situações ginecológicas e obstétricas, especialmente em situação de perda gestacional, não permaneçam no mesmo quarto ou enfermaria com puérperas e RNs; Além disso, o serviço de saúde deve evitar que puérperas que não podem amamentar por doença de base ou uso de medicamentos, permaneçam junto com mulheres que amamentam. Atribuições da equipe de saúde do AC 1. Avaliar as puérperas diariamente, com atenção aos sinais de alerta para complicações no período pós- parto; 2. Promover e proteger o aleitamento materno sob livre demanda, apoiando a puérpera na superação de possíveis dificuldades de acordo com suas necessidades específicas; 3. Estimular e facilitar a presença do pai sem restrição de horário; 4. Apoiar, incentivar e orientar a participação da mãe e do pai nos cuidados ao RN, bem como de outros familiares, de acordo com o desejo dos pais; 5. Realizar o exame clínico do RN em seu próprio berço ou no leito materno, preferencialmente na presença da mãe e do pai; 6. Identificar e enfatizar os recursos disponíveis na comunidade e na rede de saúde local para atendimento continuado das mulheres e das crianças; 7. Realizar atividades de educação em saúde, preferencialmente em grupo. Boas práticas Acolhimento O profissional de saúde deve prover atendimento humanizado e seguro às mulheres, aos RNs, aos acompanhantes, aos familiares e aos visitantes, e ser capaz de acolhê-los. Comunicação O profissional de saúde deve ter competência para se comunicar com eficiência; É mais fácil conseguir isso por meio da técnica do aconselhamento; A comunicação é essencial para que as mulheres sintam o interesse do profissional por elas e por seu filho, adquiram confiança no profissional e sintam-se apoiadas e acolhidas. Orientações Devem fazer parte da rotina dos profissionais de saúde orientações à mãe e aos familiares sobre vários aspectos relacionados ao cuidado do RN. Ç Os primeiros dias após o parto são fundamentais para o sucesso da amamentação; É um período de intenso aprendizado para a mãe e o bebê; Os seguintes aspectos devem ser abordados com as mães que planejam amamentar os seus filhos: 1. Importância do aleitamento materno; 2. Desvantagens da introdução precoce de qualquer outro alimento, sólido ou líquido; 3. Recomendação quanto à duração da amamentação (dois anos ou mais, sendo exclusiva nos primeiros seis meses); 4. Importância do aleitamento materno sobre livre demanda; 5. Flexibilidade quanto ao tempo de permanência na mama em cada mamada; 6. Prevenção de problemas relacionados à amamentação, tais como: ingurgitamento mamário, traumas/fissuras mamilares, mastite; 7. Manutenção de hábitos saudáveis da mãe, tais como: alimentação e ingestão líquida adequadas e restrição ao uso de fumo, drogas, Alice Bastos bebidas alcoólicas e medicamentos não prescritos; 8. Ordenha do leite (toda mãe que amamentava deve receber alta do alojamento conjunto sabendo ordenhar o seu leite, pois há muitas situações nas quais a ordenha é útil). Água, chás e principalmente outros leites devem ser evitados, pois há evidências de que seu uso está associado com desmame precoce e aumento da morbimortalidade infantil; A mamadeira é uma importante fonte de contaminação; Algumas crianças que experimentam a mamadeira podem apresentar “confusão de bicos”; É a dificuldade apresentada quando vão mamar no peito, causada pela diferença marcante entre a maneira de sugar na mama e na mamadeira; Nesses casos, é comum o bebê começar a mamar no peito, porém, após alguns segundos, largar a mama e chorar. A chupeta tem sido desaconselhada pela possibilidade de interferir negativamente na duração do aleitamento materno; Também está associada com maior ocorrência de candidíase oral, de otite média e de alterações do palato. A compreensão da mãe e das pessoas que vão conviver com o bebê acerca de alguns comportamentos habituais da criança pequena é fundamental para a tranquilidade de todos os membros da família; Má interpretação de comportamentos normais do RN pode ter consequênciasnegativas para sua saúde física e mental; É importante enfatizar que cada bebê é único, respondendo de maneiras diferentes às diversas experiências; Comparações com filhos anteriores ou com outras crianças devem ser evitadas, podendo interferir na interação entre a mãe e o bebê; O nível de demanda dos RNs é muito variável e pode estar relacionado com o grau de dificuldade na passagem da vida intrauterina para a extrauterina. Ç A interação entre a mãe e seu bebê nos primeiros dias é muito importante para uma futura relação sadia; A mãe e os futuros cuidadores da criança devem ser orientados a responder prontamente às necessidades do bebê; No AC, os profissionais devem estimular o pai da criança, quando presente, a participar ativamente dos cuidados com o bebê; Os primeiros meses de convivência são cruciais no estabelecimento da função paterna. Ç Ç A prática de colocar as crianças para dormir em decúbito dorsal no AC e o fornecimento de informações simples e claras quanto ao posicionamento recomendado do bebê para dormir devem fazer parte da rotina dos profissionais de saúde que atuam no AC. Ç Toda criança deveria sair da maternidade com a primeira consulta agendada em um serviço de saúde ou consultório, de preferência na primeira semana de vida. Alta da mulher e do RN Recomenda-se, a permanência mínima de 24 horas em AC, momento a partir do qual a alta pode ser considerada, desde que preenchido alguns critérios. Puérpera: Em bom estado geral, com exame físico normal, sem sinais de infecção puerperal/sítio cirúrgico, com loquiação fisiológica; Sem intercorrências mamárias como fissura, escoriação, ingurgitamento ou sinais de mastite, e orientada nas práticas de massagem circular e ordenha do leite materno; Com recuperação adequada, comorbidades compensadas ou com encaminhamento assegurado para seguimento ambulatorial de acordo com as necessidades; Alice Bastos Bem orientada para continuidade dos cuidados em ambiente domiciliar e referenciada para a Unidade Básica de Saúde; Estabelecimento de vínculo entre mãe e bebê; Com encaminhamento para unidade de referência para acesso a ações de saúde sexual e reprodutiva e escolha de método anticoncepcional, caso a mulher não receba alta já em uso de algum método contraceptivo, ou para seguimento pela atenção básica da prescrição ou inserção de método pela equipe da maternidade. Recém-nascido: A termo e com peso adequado para a idade gestacional, sem comorbidades e com exame físico normal; Com ausência de icterícia nas primeiras 24 horas de vida; Com avaliação de icterícia, preferencialmente transcutânea, e utilização do normograma de Bhutani para avaliar a necessidade de acompanhamento dos níveis de bilirrubina quando necessário; Apresentando diurese e eliminação de mecônio espontâneo e controle térmico adequado; Com sucção ao seio com pega e posicionamentos adequados, com boa coordenação sucção/deglutição, salvo em situações em que há restrições ao aleitamento materno; Em uso de substituto do leite humano/fórmula láctea para situações em que a amamentação é contraindicada de acordo com atualização OMS/2009; Revisão das sorologias da mulher realizadas durante a gestação ou no momento da internação para o parto, assim como investigação de infecções congênitas no RN, conforme necessidade; Sorologias que merecem destaque: sífilis, HIV, toxoplasmose, hepatite B; Realização de tipagem sanguínea, Coombs da mãe e do RN, quando indicado; Oximetria de pulso (teste do coraçãozinho) e triagem ocular (teste do reflexo vermelho ou teste do olhinho) realizados; triagem auditiva (teste da orelhinha) assegurado no primeiro mês de vida e triagem biológica (teste do pezinho) assegurada preferencialmente entre o 3° e o 5° dia de vida; Avaliação e vigilância adequadas dos RNs para sepse neonatal precoce com base nos fatores de risco da mãe; A mãe, o pai e outros cuidadores devem ter conhecimento e habilidade para dispensar cuidados adequados ao RN, e reconhecer situações de risco como a ingestão inadequada de alimento, o agravamento da icterícia e eventual desidratação nos primeiros sete dias de vida; Avaliação do serviço social para os fatores de risco psíquicos, sociais e ambientais; Agenda com a atenção básica, o retorno da mulher e do RN entre o 3° e o 5° dia de vida; Preenchimento de todos os dados na Caderneta da Gestante e na Caderneta de Saúde da Criança.
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