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Bruna Oliveira de Paula – Medicina UFMT / Sinop – Turma 3 Psiquiatria Transtornos somatoformes, dissociativos e de conversão As três formas de transtornos (somatoforme, dissociativo e conversivo) fazem parte do "espectro histérico", sendo considerados transtornos psicorreativos (ou seja, constituem uma resposta emocional a um evento traumático), estando atrelados intimamente ao nível sociocultural, econômico e educacional, que modula o quanto de estresse emocional tomará a forma de queixa somática. A somatização seria um salto do psíquico para o orgânico, com repercussão de diversas queixas somáticas em múltiplos sistemas orgânicos (p. ex., sistema cardiovascular, respiratório e digestivo). A conversão também corresponde a um salto do psíquico para o orgânico, que costuma ser precedido por conflitos e outros estressares, com repercussão no sistema de comunicação do indivíduo com o mundo, afetando as funções motoras voluntárias e/ ou sensoriais. O transtorno dissociativo, o salto é do psíquico para o próprio psíquico, ocasionando ruptura nas funções geralmente integradas de consciência, identidade, memória e percepção do ambiente. Transtornos dissociativos O fenômeno de experiência dissociativa não possui estratificação social específica, ocorrendo igualmente entre homens e mulheres, pessoas com renda familiar maior ou menor, empregados e desempregados, independentemente do nível educacional, local de nascimento, religião ou número de pessoas no ambiente familiar. Contudo, a incidência de sintomas dissociativos tende a diminuir com a idade. Amnesia dissociativa O traço essencial da amnésia dissociativa refere-se à incapacidade de recordar informações pessoais importantes, geralmente de natureza traumática ou estressante, sendo muito extensa para ser considerada esquecimento normal. Não é resultante do efeito direto de substância ou condição neurológica. Tratamento O tratamento da amnésia dissociativa envolve a retirada do paciente do ambiente estressar e a utilização de terapia cognitiva e hipnose, a fim de integrar o conteúdo dissociado. Pode-se também valer do uso de drogas (p. ex., Diazepam e amoarbital), como facilitadores farmacológicos de entrevistas. Transtorno de personalidade múltipla A personalidade múltipla é considerada um transtorno dissociativo de identidade, relacionado com intenso trauma infantil, sendo tida como a forma mais grave dos transtornos dissociativos. Caracteriza-se pela presença de duas ou mais identidades distintas ou estados de personalidade que assumem controlem do comportamento do indivíduo, acompanhado por incapacidade de recordar informação pessoal importante, sendo muito extensa para ser considerada esquecimento comum. A mudança de personalidade geralmente associa-se com ansiedade e seus comemorativos somáticos (palpitação, sudorese e tremor). Além disso, podem também ocorrer sintomas pseudoneurológicos, como cefaleia, síncope, parestesia e diplopia, além de outros associados ao sistema cardiorrespiratório e gastrointestinal. Tratamento Psicoterapia, TCC, hipnose e medicamentos, como: antidepressivos, benzodiazepínicos e anticonvulsivantes neurolépticos. Distúrbio de despersonalização O traço essencial desse distúrbio traduz-se pela sensação de distanciamento ou estranhamento com relação a si próprio. Pode-se experimentar uma sensação de automatismo, como que em um sonho ou vendo a si próprio como em um filme. Tem -se sensação de não controle sobre suas ações. Esse transtorno é muito comum em populações normais, associado ao uso de drogas, cefaleias ou mesmo após situações estressantes. Bruna Oliveira de Paula – Medicina UFMT / Sinop – Turma 3 Tratamento Quando está associado a algum sintoma subsidiário, tratamos a causa base. Fluoxetina mostrou resultados satisfatórios. Fuga dissociativa O traço essencial da fuga dissociativa é uma viagem, repentina e inesperada para longe de casa ou dos locais que costuma frequentar. O indivíduo continua fazendo suas atividades diárias, mas não consegue recordar parte ou todo o seu passado. Geralmente está acompanhada de confusão quanto à identidade pessoal ou mesmo pode-se assumir uma nova identidade. As crises podem durar de minutos a meses. Geralmente, após a fuga experimenta-se confusão, perplexidade, desrealização, despersonalização e amnésia. Tratamento Psicoterapia, hipnose, entrevista e farmacoterapia. Transtorno dismorfico corporal É a preocupação excessiva com algum defeito corporal imaginário ou uma distorção de um defeito mínimo na aparência física. A idade de início mais frequente é entre 15 e 20 anos e se apresenta mais em mulheres do que homens. Manifestações clinicas A principal preocupação desses pacientes é com problemas faciais ou na cabeça, como cabelos, nariz, olhos, lábios, sorriso, peito, espinhas, rugas, cicatrizes, assimetrias, abdômen, etc. Diagnóstico diferencial Transtorno delirante, depressão e transtornos de somatização. Tratamento Procedimentos cirúrgicos, dermatológicos, odontológicos ou de outro tipo são ineficazes. Pode-se fazer uso de antidepressivos tricíclicos ou ISRS. Transtorno somatoforme doloroso persistente A característica essencial desse transtorno é dor em uma ou mais partes, com gravidade suficientes para receber atenção medica e não pode se justificar por outra patologia. Os fatores psicológicos desempenham um papel importante nesse quadro, estado relacionada, a dor, a deterioração do funcionamento do indivíduo e estresse emocional. Ocorre mais em mulheres do que em homens, possuindo idade de inicio mais frequente entre os 40 e 50 anos. É mais comum em pessoas que realizam trabalho físico. Tratamento Farmacoterapia: antidepressivos tricíclicos e ISRS. Além disso é comum indicar psicoterapia e programa de controle de dor. Transtornos somatoformes Transtornos de somatização Anteriormente chamados de histeria, possuem como característica a presença de vários sintomas somáticos que não podem ser explicados por causas físicas ou laboratoriais. Normalmente se iniciam antes dos 30 anos e podem perdurar por muitos anos. Surge como expressão de uma neurose profunda, entendendo-se simultaneamente a conflitos inconscientes. Dentro dos sintomas encontramos: gastrointestinais, sexuais e pseudoneurológicos. É comum a procura excessiva por muitos médicos na busca de ter um diagnóstico e há claro prejuízo no âmbito social e profissional desses pacientes. É mais comum em mulheres, sendo mais frequentes em pacienteis com pouca informação e nível social mais baixo. Outros transtornos costumam coexistis com esse distúrbio, como depressão, ansiedade, uso de substancias e transtorno de personalidade. Apresentação clinica Esses pacientes descrevem seus sintomas de maneira exagerada, de modo chamativo. É comum queixas de: • Náuseas e vômitos • Dificuldade de engolir • Dor em membros • Dificuldade de respirar • Amnesia • Complicações na gravidez e menstruação O transtorno tem uma evolução crônica e raramente os pacientes ficam inteiramente assintomáticos. Devemos observar ➔ ocorrência dos sintomas por pelo menos 2 meses sem evidencia demonstrada de transtorno clinico que justifique a sintomatologia. Há comprometimento do funcionamento social, atribuído aos sintomas e existe recusa em aceitar a informação de que seus sintomas tem base psicológica. Bruna Oliveira de Paula – Medicina UFMT / Sinop – Turma 3 Diagnósticos diferenciais Qualquer comorbidade física relacionada aos sintomas e depressão. Tratamento Psicoterapia individual e em grupo. Possuem resistência em aceitar que suas queixas possuem origem psicológica. Hipocondria Existe excesso de preocupação e medo de uma pessoa contrair ou crer que vai contrair umadoença seria. É resultado de interpretações pouco realistas e imprecisas de sintomas e sensações físicas. Essas preocupações provocam mal-estar físico e deterioração de sua capacidade funcional, social e profissional. É um transtorno com múltiplas explicações para sua etiologia, que vai desde um comportamento condicionado na infância, associado a crianças que conviviam em um meio em que havia muito a preocupação com doenças, até a visão de que se trata de uma forma de comportamento obsessivo compulsivo. A hipocondria o tem uma preocupação excessiva com seu corpo, de tal forma que tudo que não diz respeito a ele não é importante. Lembrar que ter uma doença clinica não exclui o diagnostico de hipocondria. As preocupações são no âmbito: • Corporal ➔ sistemas no geral • Anormalidades físicas menores ➔ feridas pequenas • Sensações vagas e ambíguas ➔ coração cansado Homens e mulheres são igualmente afetados e os sintomas se iniciam em qualquer idade. Manifestações clinicas É comum os pacientes acreditarem que possuem uma doença grave que ainda não foi diagnosticada e, à medida que o tempo passa, podem se preocupar em crenças de outras doenças. Normalmente esse distúrbio acompanha depressão e ansiedade. Os sintomas duram pelo menos 6 meses. Diagnósticos diferenciais Transtornos de personalidade, depressão, doenças físicas e transtornos delirantes. Tratamento Psicoterapia e farmacoterapia (este último apenas quando o paciente apresenta alguma patologia). O paciente deve ser visto em intervalos de tempo curtos, a fim de não despertar a sensação de abandono. Transtorno de conversão Presença de um ou mais sintomas neurológicos, como: paralisia, cegueira, mutismo e parestesia, que não podem ser explicados por meio de nenhuma patologia medica ou neurológica. Ocorre com maior frequência em mulheres, pode se iniciar em qualquer idade, porem o mais comum é durante a adolescência e início da idade adulta. É mais comum em populações rurais, com pouca informação. Manifestações clinicas Sintomas sensoriais ➔ anestesia, parestesia, surdez, cegueira, visão turva Sintomas motores ➔ movimentos anormais, alterações de marcha, debilidade e paralisia, tremores rítmicos Sintomas críticos ➔ pseudoconvulsoes Diagnósticos diferenciais Esquizofrenia, depressão e doenças neurológicas. Tratamento A resolução dos sintomas pode ser espontânea. A terapia introspectiva é benéfica. Pode-se utilizar da hipnose e exercícios de relaxamento também.
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