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Transtornos Psicossomáticos ou Somatoformes

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Júlia Santos, Medicina Psiquiatria 
 
 
(OBJETIVOS) 
1. Definir transtornos somatoformes (transtorno dos sintomas 
somáticos, ansiedade de doença, transtornos conversivos e 
transtorno factício), diferenciando o quadro clínico de cada 
transtorno. 
2. Entender como se dá o diagnóstico de cada transtorno 
somatoforme, relacionando com sua conduta terapêutica 
(medicamentosa e não medicamentosa). 
3. Saber distinguir as doenças orgânicas dos transtornos 
somatoformes, diferenciando a abordagem inicial para cada 
tipo de paciente. 
 
Transtornos Somatoformes 
Os transtornos somatoformes, ou psicossomático, são um 
conjunto de condições onde a mente afeta o corpo, pois o 
termo psicossomático vem de psique (alma) e soma (corpo). 
Dessa forma, há um grupo de transtornos mentais que geram 
sinais e sintomas físicos, incluindo comportamentos delirantes 
ou não. Também podem ser chamados de funcionais, ou seja, 
os sintomas não são criados intencionalmente, e de acordo com 
sentimentos fortes (como angústia), há uma somatização 
daqueles pensamentos para o físico. 
Contudo, a transformação de fatores psicológicos em sintomas 
somáticos podem ser gerados de forma involuntária ou 
voluntária (no caso do transtorno factício). 
 
Simulação X Dissimulação 
A dissimulação e a simulação se baseiam em distorcer a 
realidade a fim de garantir um benefício próprio. 
 Dissimulação: ocorre quando se procura não demonstrar ou 
amenizar os sintomas que realmente existem, ocultando 
uma doença ou sua sintomatologia. 
 Simulação: compreendida pela forma que o indivíduo tenta 
fingir sintomas que não existem, estando sempre 
relacionada a um incentivo externo. Ou seja, é a produção 
intencional de sintomas físicos ou mentais falsos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Conversivos 
Relativamente às perturbações anteriormente unificadas sob o 
signo da histeria, sejam perturbações conversivas (com 
sintomas físicos), designadas como perturbações de sintomas 
somáticos no DSM-5, ou perturbações dissociativas (com 
sintomas psicológicos ou da integração da consciência e do eu); 
ambas se distiguem da simul 
ação pela ausência de voluntariedade na produção dos sintomas 
em simultâneo com a ausência de consciência da motivação 
dessa produção. 
Factícios 
São justamente a voluntariedade e a consciência que 
distinguem os quadros simulados das perturbações factícias e 
das perturbações conversivas e dissociativas. 
Assim, tanto a simulação quanto as perturbações factícias 
partilham entre si o carácter de voluntariedade na produção de 
sintomas. Porém, se na simulação a motivação é consciente 
buscando um ganho secundário externo, concreto e objetivo; 
nas perturbações factícias esse ganho não existe, considerando-
se a motivação inconsciente e determinada pelo mero ganho 
primário de satisfação de uma necessidade psíquica interna. 
 
Transtorno de Somatização 
Definição 
A ansiedade de doença é um transtorno de sintomas somáticos, 
também chamado de somatização, a qual é caracterizada por 
seis meses ou mais de uma preocupação geral e não delirante 
ao achar que é portador de uma doença grave. Normalmente, 
há sintomas corporais não relacionados à doença em si, mas 
que o paciente acredita estar acometido. 
Essa preocupação que causa um comportamento ansioso é 
extremamente prejudicial e gera um sofrimento significativo 
para o indivíduo, além de não ser justificada por outro 
transtorno clínico. 
Comumente, o paciente não tem o insight da presença desse 
transtorno. 
Epidemiologia 
A ansiedade de doença atinge cerca de 4-6% dos pacientes com 
queixas médicas gerais, podendo chegar a 15%, a qual é mais 
comum em pessoas entre 20-30 anos de idade. Já entre os 
estudantes de medicina, atinge cerca de 3% nos primeiros anos 
da faculdade. 
 
 
 
 
 
 
 
 Voluntariedade Consciência 
Simulação e 
dissimulação 
Sim Sim 
Ansiedade de doença Sim Não 
Somatização Não Não 
Factício Sim Não 
Conversivo Não Não 
Júlia Santos, Medicina Psiquiatria 
Etiologia 
O principal achado desse transtorno é a amplificação dos 
sentimentos somáticos. Além disso, o indivíduo tem baixa 
tolerância ao desconforto físico. 
Dessa forma, a amplificação dessas sensações corporais 
estimula a procura do pronto-socorro, a fim de assumir o papel 
confortável de doente (sem obrigações, desafios ou deveres 
habituais). 
É importante citar à coexistência do transtorno de somatização 
com outros transtornos, como depressão e ansiedade, pois 
cerca de 80% dos pacientes apresentam outro diagnóstico. 
Outra forma de explicar o transtorno de somatização é o 
mecanismo de defesa de deslocamento, onde o paciente 
desloca seus desejos hostis para queixas físicas. 
 
Quadro Clínico 
Normalmente tem sintomas físicos gerais e os indivíduos creem 
que têm uma doença grave não detectada. Mesmo com o 
avançar do tempo e com testes patológicos negativos, o 
paciente não se convence de que está bem. 
Contudo, suas crenças não são suficientemente fixas para serem 
considerados delírios. 
Com frequência é acompanhado por depressão e ansiedade. 
Outros Transtornos Somáticos 
Embora o DSM-5 especifique que os sintomas devem estar 
presentes por pelo menos seis meses, podem ocorrer 
manifestações transitórias após estresses importantes, com 
mais frequência morte ou doença grave de alguém importante 
para o paciente que dure menos tempo. 
Dessa forma, recebe o diagnóstico de “outros transtornos de 
sintomas somáticos especificados e relacionados”. 
 
Diagnóstico 
Os critérios diagnósticos segundo o DSM-5 indicam que para 
haver o diagnóstico de transtorno de somatização é necessário 
que: 
 O paciente esteja preocupado com a falsa crença de que 
têm uma doença grave, com base em sua falsa 
interpretação de sinais ou sensações físicos; 
 Precisa durar pelo menos 6 meses; 
 A crença não tenha a intensidade de um delírio 
(diagnosticado de modo mais apropriado como transtorno 
delirante); 
 Não esteja restrita a um sofrimento em relação à aparência 
(diagnosticado de modo mais apropriado como transtorno 
dismórfico corporal); 
 Os sintomas sejam intensos ao ponto de causar sofrimento 
emocional ou prejuízo na capacidade do indivíduo de 
funcionamento em áreas importantes da vida. 
Diferencial 
Os principais diagnósticos diferenciais são com doenças 
orgânicas, incluindo AIDS, endocrinopatias, miastenia, 
esclerose múltipla, doenças degenerativas do sistema nervoso, 
lúpus sistêmico eritematoso e neoplasias. 
Mas o maior diagnóstico diferencial é com a ansiedade de 
doença, onde o indivíduo tem medo excessivo de ter uma 
doença. 
Crenças como de transtorno delirante ocorrem na 
esquizofrenia e em outros transtornos psicóticos, mas podem 
ser diferenciadas de transtorno de sintomas somáticos por sua 
intensidade delirante e pela presença de outros sintomas 
psicóticos. Além disso, os delírios somáticos de pacientes com 
esquizofrenia tendem a ser bizarros e idiossincrásicos e a estar 
em desacordo com seu meio cultural, conforme ilustrado no 
caso a seguir. 
Já com o transtorno factício com sintomas físicos e de 
simulação, as diferenças principais são que os indivíduos com 
transtorno de somatização realmente sentem, e não simulam, 
os sintomas que relatam. 
 
Tratamento 
 O principal manejo é a terapia psiquiátrica a fim de diminuir 
o estresse; 
 Psicoterapia: principalmente no intuito de reduzir a 
ansiedade; 
 Outros métodos, como a hipnose, podem gerar um insight 
no paciente, estimulando a melhora; 
 Exames físicos frequentes ajudam a tranquilizar o paciente; 
 A farmacoterapia alivia um transtorno de sintomas 
somáticos somente quando o paciente apresenta uma 
condição subjacente responsiva a drogas, como um 
transtorno de ansiedade ou um depressivo. 
 Quando o transtorno de sintomas somáticos é secundário a 
outro transtorno mental primário, este deve ser tratado por 
si só. 
 
Ansiedade de Doença 
O conceito primordial de ansiedade de doença é o medo 
excessivo de ter ou contrair uma determinada doença. É um 
tipo variantedo transtorno de sintomas somáticos, ou 
hipocondria. 
No caso de ansiedade de doença, diferente do transtorno de 
sintomas somáticos, é que há poucos ou nenhum sintoma 
somático. 
Além disso, se enquadram nesse transtorno, as pessoas que têm 
uma condição clínica, mas reagem de forma extrema à 
ansiedade daquele diagnóstico, imaginando os piores 
prognósticos possíveis. 
Epidemiologia 
Em outros levantamentos, até 15% das pessoas na população 
em geral se preocupam com ficar doentes e incapacitadas, 
como consequência. É esperado que o transtorno seja 
diagnosticado com maior frequência em idosos do que em 
pessoas mais jovens. 
 
Etiologia 
A etiologia em si é desconhecida. Contudo, a parte somática 
desse transtorno vem do fato do indivíduo ter medo de 
determinada doença, assumindo o papel de doente. O papel de 
doente proporciona uma fuga que permite ao paciente ser 
dispensado dos deveres e das obrigações habituais. 
Alguns dos fatores que originam esse transtorno são: 
 Sentimentos de culpa e desamparo são deslocados para o 
temor da doença; 
 A raiva gera sintomas físicos ou medo de uma doença física; 
 Parentes que morreram de determinada doença geram 
pânico em repassar à doença hereditariamente; 
 Desejos agressivos geram medo de incapacidades físicas. 
 
 
 
Júlia Santos, Medicina Psiquiatria 
Manifestações Clínicas 
Os pacientes com transtorno de ansiedade de doença, assim 
como aqueles com problemas de sintomas somáticos, 
acreditam que têm uma doença grave que ainda não foi 
diagnosticada e não podem ser persuadidos do contrário. 
Mantêm uma crença de que têm uma doença em particular ou, 
à medida que o tempo passa, podem transferir sua crença para 
outra doença. Suas convicções persistem apesar dos resultados 
laboratoriais negativos, do curso benigno da doença alegada e 
da devida tranquilização por parte dos médicos. A preocupação 
com a doença interfere em sua interação com a família, amigos 
e colegas de trabalho. Frequentemente, são viciados em realizar 
pesquisas na internet sobre sua doença temida, inferindo o pior 
das informações (ou desinformações) que lá encontram. 
 
Diagnóstico 
O diagnóstico é clínico! Os critérios diagnósticos para ansiedade 
de doença pelo DSM-5 são: 
 Preocupações com falsa crença de haver ou desenvolver 
uma doença grave; 
 Pode ou não haver sintomas físicos (ausentes ou de 
intensidade leve); 
 Deve durar pelo menos seis meses; 
 Não haver achados patológicos; 
 A ansiedade deve ser incapacitante; 
 Deve haver comportamentos excessivos relacionados à 
saúde; 
 O transtorno não é bem explicado por outra condição, 
como hipocondria, transtorno de pânico, TAG e etc; 
 A crença NÃO pode ter caráter delirante. 
Lembrando que não é considerada ansiedade de doença o 
sofrimento com a aparência (mais bem diagnosticada como 
transtorno dismórfico corporal). Pode ou não haver visitas 
repetidas ao médico. 
 
Tratamento 
 Tratamento psiquiátrico (alguns pacientes resistem); 
 Psicoterapia de grupo homogêneo (com o mesmo 
transtorno); 
 Psicoterapia individual para haver o insight 
(comportamental, cognitiva e hipnose); 
 Farmacoterapia: foca-se em aliviar os sintomas de 
ansiedade. 
 
Transtorno Conversivo 
O transtorno conversivo, ou transtorno de sintomas 
neurológicos funcionais, é uma doença de sintomas que afetam 
funções motoras e sensoriais voluntárias que aparentam ter 
causas orgânicas. Contudo, as causas são fatores psicológicos, 
sendo precedidas por estressores ou conflitos. É importante 
frisar a influência da hereditariedade no surgimento desse 
transtorno. 
A doença já foi conhecida como transtorno de somatização, 
histeria, reação conversiva e reação dissociativa. Freud usou o 
termo conversão na hipótese de que os sintomas do transtorno 
conversivo refletem conflitos inconscientes. 
Epidemiologia 
O transtorno propriamente dito afeta entre 11-300 pessoas em 
100 mil. A recorrência desse transtorno é de 5 a 15% das 
consultas psiquiátricas em um hospital geral e 25 a 30% das 
internações em um hospital para veteranos de guerra envolvem 
pacientes com diagnóstico de transtorno conversivo. 
A frequência em relação ao sexo é de 2-10 homens pra uma 
mulher. Além disso, o início do transtorno se dá geralmente no 
fim da infância até o início da idade adulta, sendo raro antes dos 
10 anos e depois dos 35. 
Dados indicam que o transtorno conversivo é mais comum 
entre as populações rurais e em militares que foram expostos a 
situações de combate. 
Pode estar relacionado a outros transtornos, como depressão, 
esquizofrenia e ansiedade. 
 
Etiologia 
De acordo com as diferentes teorias, a etiologia do transtorno 
conversivo tem diversas origens. 
 Psicanalítica: o transtorno seria causado pela repressão de 
um conflito interno ou pelo mecanismo de defesa em 
converter a ansiedade em um sintoma físico; os sintomas 
permitem a expressão parcial de desejos agressivos e 
proibidos. 
 Pedagógica: o sintoma conversivo viria de um 
comportamento aprendido na infância, se tornando um 
meio de enfrentamento a um conflito. 
 Biológica: consideraria a causa do transtorno conversivo 
como o hipometabolismo do hemisfério cerebral dominante 
e o hipermetabolismo do hemisfério não dominante; os 
sintomas são causados por uma excitação cortical excessiva 
de um dos lados, gerando efeitos motores. 
 
Quadro Clínico 
Os sintomas mais comuns desse transtorno são paralisia, 
cegueira e mutismo. Pode estar associado ao transtorno da 
personalidade passivo-agressiva. 
Os pacientes afetados correm risco de cometer suicídio. 
Motores 
 Movimentos involuntários; 
 Tiques; 
 Blefarospasmo; 
 Torcicolo; 
 Opistótono; 
 Convulsões: é uma pseudoconvulsao, onde pode haver 
transtorno epiléptico coexistente; há incontinência 
urinária, mordida na língua, e lesões pós-queda; 
 Marcha anormal; 
 Pode haver queda, sendo mais raro; 
 Astasia-abasia (marcha extremamente atáxica e 
cambaleante acompanhada por movimentos truncais 
grosseiros, irregulares, movimentos espasmódicos 
truncais e de balanço dos braços); 
 Paralisia; 
 Fraqueza; 
 Afonia. 
Sensoriais 
 Anestesia (especialmente das extremidades; pode 
envolver apenas mãos e pés ou apenas a linha média); 
 Parestesia; 
 Cegueira; 
 Visão de túnel; 
 Surdez. 
 
Uni ou bilateral 
Júlia Santos, Medicina Psiquiatria 
Viscerais 
 Vômito psicogênico; 
 Pseudociese; 
 Globo faríngeo; 
 Desmaio ou síncope; 
 Retenção urinária; 
 Diarreia. 
Outros Sintomas Associados 
 Ganho primário: o paciente obtém ganho primário ao 
manter os conflitos internos fora de sua consciência; 
 Ganho secundário: os pacientes acumulam vantagens e 
benefícios tangíveis como resultado de estarem doentes; 
por exemplo, ser dispensado de obrigações e situações vitais 
difíceis, recebendo apoio e assistência; 
 La belle indifférence: é uma atitude inapropriadamente 
arrogante de um paciente em relação a sintomas graves; isto 
é, ele parece estar despreocupado com o que parece ser um 
prejuízo importante; 
 Identificação: Pacientes com transtorno conversivo podem 
moldar seus sintomas de forma inconsciente conforme os de 
alguém importante para eles. Por exemplo, um genitor ou 
uma pessoa que morreu recentemente podem servir como 
modelo para um transtorno conversivo. Durante a reação de 
luto patológico, as pessoas enlutadas costumam ter 
sintomas do morto. 
Comorbidade 
Frequentemente ocorrem distúrbios clínicos e, sobretudo, 
neurológicos entre pacientes com transtornos conversivos. O 
que costuma ser visto nessas condições neurológicas ou clínicas 
comórbidas é uma elaboração dos sintomas provenientes da 
lesão orgânica original. 
 
Tratamento 
Normalmente, a resolução dos sintomas é espontânea, mas 
pode ser facilitada por: 
 Terapia de apoio + insight; 
 Terapia comportamental; 
 Hipnose; 
 Ansiolíticos; 
 Exercícios de relaxamento corporal; 
 Medicamentos: lorazepam parenteral e amobarbital; 
 Psicanálise pode ser extremamente útil na busca dosagentes estressores. 
 
Transtorno Factício 
O transtorno factício é uma condição de simulação, ou seja, o 
indivíduo teatraliza sinais e sintomas inexistentes, porém com 
incentivo de satisfação interna. As perturbações factícias são 
voluntárias, porém inconscientes, o que difere da simulação e 
dissimulação. 
Conceitos 
O paciente com transtorno factício simula, induz ou agrava 
uma condição/doença a fim de receber atenção, estando ou 
não doente. O principal anseio nesse transtorno é obter 
cuidados médicos, normalmente não incluindo ganho 
financeiro. 
Já o transtorno factício por procuração, ou imposto ao outro, é 
uma condição em que o paciente simula sinais e sintomas físicos 
em outra pessoa, normalmente bebês e crianças pequenas. 
Nessa busca por atenção, o paciente pode por a si mesmo ou a 
terceiros, em perigo de morte. Os transtornos factícios podem 
provocar morbidade significativa ou até mesmo mortalidade, 
pois o paciente forja sinais e sintomas físicos, sejam eles 
perigosos ou não. Portanto, mesmo que as queixas 
apresentadas sejam falsificadas, as necessidades clínicas e 
psiquiátricas desses indivíduos devem ser levadas a sério. 
Muitas pessoas diagnosticadas com transtorno factício têm 
diagnósticos psiquiátricos comórbidos (p. ex., transtornos do 
humor, da personalidade ou relacionados ao uso de 
substâncias). 
A Síndrome de Munchausen constitui uma forma crônica e 
extrema da doença factícia associada, habitualmente, a 
múltiplas hospitalizações, peregrinação por diferentes unidades 
de saúde e busca de procedimentos médico-cirúrgicos invasivos 
e desnecessários. 
Epidemiologia 
Cerca de 0,8 a 1% dos pacientes psiquiátricos têm síndrome de 
Munchausen, dos quais dois terços são homens. Já os pacientes 
diagnosticados com transtorno factício com sintomas físicos, as 
mulheres preponderam na proporção de 3 para 1. 
Normalmente são profissionais da área de saúde. 
Já o transtorno factício por procuração é mais comum entre 
mulheres contra bebês ou crianças pequenas. 
 
Etiologia 
É composto principalmente por fatores psicossociais. Já foram 
feitos estudos sobre os fatores biológicos que influenciariam no 
transtorno factício, mas nenhuma conclusão foi estabelecida. 
Fatores Psicossociais 
Relatos de caso empíricos indicam que muitos deles sofreram 
abuso ou privação na infância, resultando em hospitalizações 
frequentes durante os primeiros anos do desenvolvimento. Em 
tais circunstâncias, uma internação hospitalar pode ter sido 
considerada uma fuga de uma situação traumática em casa ou 
dos pais ausentes e rejeitadores. 
 Os transtornos são uma forma de compulsão à repetição, 
repetindo o conflito básico de necessidade e busca de 
aceitação e amor; 
 Indivíduos que procuram procedimentos dolorosos, como 
operações cirúrgicas e testes diagnósticos invasivos, podem 
ter uma constituição de personalidade masoquista em que a 
dor serve como punição por pecados passados; 
 Indivíduos que simulam doenças psiquiátricas podem ter 
tido um parente que foi hospitalizado com a doença que 
estão simulando, esperando se reunir com o indivíduo. 
Isso ocorre principalmente com pessoas com problemas de 
identidade e em visualizar sua autoimagem. Além disso, há 
aquelas que incorporam as características sintomatológicas de 
terceiros. 
Se forem profissionais da saúde, com frequência esses 
indivíduos não são capazes de se diferenciar dos pacientes com 
quem entram em contato. 
 
Quadro Clínico 
O transtorno factício é dividido pelo DSM-5 em: 
 Imposto a si mesmo; 
 Imposto a outro. 
Contudo, pode ser feita a diferenciação do quadro clínico em 
dois, predominantemente psicológico e predominantemente 
físico. 
Júlia Santos, Medicina Psiquiatria 
Psicológico 
Inclui comportamentos depressivos, alucinatórios, 
dissociativos, conversivos e bizarros. Uma vez que a condição 
não melhora depois que são administradas as medidas 
terapêuticas de rotina, o paciente pode receber grandes doses 
de drogas psicoativas e submeter-se a eletroconvuloterapia. 
Nos casos de pacientes deprimidos, o paciente pode criar uma 
história falsa de um luto vivido em que a morte foi dramática e 
violenta. 
Também pode haver sintomas alucinatórios auditivos e visuais; 
alguns indivíduos podem até usar substâncias psicoativas para 
produzir esses efeitos. 
Outros sintomas do transtorno factício incluem pseudologia 
fantástica e impostura. Na pseudologia fantástica, um material 
factual limitado é misturado com extensas fantasias 
exuberantes. O interesse do ouvinte agrada o paciente e, dessa 
forma, reforça o sintoma. 
 
 
Físico 
É o tipo mais conhecido da síndrome de Munchausen! 
Também foi denominado adição a hospitais, adição policirúrgica 
(produzindo o assim chamado abdome de tábua de lavar) e 
síndrome do paciente profissional, entre outros nomes. O 
abdome de tábua de lavar recebe esse nome devido à grande 
quantidade de procedimentos cirúrgicos que esses pacientes 
passam devido à sua compulsão. 
As principais características dos pacientes com o transtorno 
predominantemente físico são as simulações de sintomas 
envolvendo algum sistema orgânico específico. 
 São inúmeras as apresentações clínicas, que incluem 
hematomas, hemoptise, dor abdominal, febre, 
hipoglicemia, síndromes semelhantes a lúpus, náusea, 
vômitos, vertigem e convulsões. 
 A urina é contaminada com sangue ou fezes; 
 São tomados anticoagulantes para estimular distúrbios 
hemorrágicos; 
 É usada insulina para produzir hipoglicemia; 
 Simulação de dor principalmente cólica renal; 
 Com resultados negativos, o paciente pode acusar o 
profissional de incompetência; isso provoca a saída do 
hospital, onde o paciente busca outra unidade e 
recomeça o ciclo. 
Transtorno Factício por Procuração 
Nesse diagnóstico, uma pessoa produz intencionalmente sinais 
ou sintomas físicos em outra pessoa que está sob seus cuidados, 
ou seja, um transtorno factício imposto a outro. Um objetivo 
aparente do comportamento é que o cuidador assuma de 
maneira indireta o papel de doente; outro objetivo é se aliviar 
do papel de cuidador fazendo o filho ser hospitalizado. 
O mais comum ocorre com mães que enganam a equipe médica 
com uma sintomatologia falsa do seu filho. 
Diagnóstico 
Deve-se desconfiar de transtorno factício quando: 
 Apresentação dramática incomum de sintomas que 
desafiam a compreensão clínica ou psiquiátrica 
convencional; 
 Sintomas que não respondem apropriadamente a 
tratamento ou medicamentos habituais; 
 Emergência de sintomas novos e incomuns quando outros 
sintomas se resolvem; 
 Avidez para se submeter a procedimentos ou testes ou para 
relatar os sintomas; 
 Relutância em permitir acesso a fontes colaterais de 
informação (i.e., recusa em assinar a liberação de 
informações ou em dar informações de contato para a 
família e amigos); 
 Extensa história médica ou evidências de múltiplas cirurgias; 
 Alergias a muitos medicamentos; 
 Profissão médica; 
 Não recebe muitas visitas; 
 Capacidade de prever a progressão incomum dos sintomas 
ou resposta incomum ao tratamento. 
Manejo do Diagnóstico 
1. Buscar informações de amigos e parentes; comumente, 
fontes externas revelam a falsa doença. 
2. Evitar questionamento acusatório que possa provocar 
truculência, evasão ou fuga do hospital. 
3. Atentar para a queixa trazida pelo paciente, buscando 
exageros, incoerências e choque de informações. 
4. Podem ser feitos testes. Mesmo que nenhum teste 
laboratorial ou de patologia seja diagnóstico de transtornos 
factícios, seus resultados podem ajudar a confirmar o 
diagnóstico demonstrando a simulação. 
 
Tratamento 
O principal aspecto do tratamento de transtornos factícios é 
diagnosticar precocemente a doença. O tratamento, assim, é 
mais bem focado no manejo em vez de na cura. As diretrizes 
para o tratamento e manejo do transtorno factício são 
apresentadas: 
1. Reduzir o risco de morbidade e mortalidade; 
2. Abordar as necessidades emocionais subjacentes ou o 
diagnósticopsiquiátrico subjacente ao comportamento de 
doença factícia; 
3. Estar atento às questões éticas e legais; 
4. Associar o tratamento com psicólogos especializados; 
5. Em casos de transtorno factício por procuração, contatam-se 
os serviços de assistência à criança, devendo ser feitos 
arranjos para o monitoramento constante da saúde da 
criança.

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