Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1. BASES DO TREINAMENTO DESPORTIVO Para que o aprendizado e execução de um esporte ocorram com eficiência, é necessário que tenhamos uma metodologia clara científica, a cerca do treinamento a ser aplicado. Buscando a satisfação desse pré-requisito, este texto lhe fornecerá apoio a elaboração de periodizações de treinamento onde sejam utilizados e respeitados os preceitos da Metodologia do Treinamento Desportivo. O objetivo destas planificações é a busca do melhor aproveitamento da capacidade de performance dos indivíduos, dentro dos diferentes esportes, através da organização científica dos conteúdos de treinamento. Através das teorias de periodização do treinamento obtemos referências que nos permitem realizar a classificação da importância dos diferentes conteúdos nas fases de treinamento e suas respectivas quantidades (volumes) e intensidades (sobrecargas). Devemos buscar, sobretudo, a experimentação desses conceitos. bem como a adaptação dos mesmos as inerêneias dos diferentes esportes, para que assim, possamos agir de forma positiva ao desenvolvimento d da atividade praticada, contribuindo para a evolução dos conhecimentos nela inseridos, dentro tios requisitos tia metodologia científica. 1.1 HISTÓRICO DO TREINAMENTO DESPORTIVO – ORIGEM DOS JOGOS A necessidade de o homem organizar métodos de treinamento surgiu da propensão natural da humanidade para realizar jogos onde pudessem ser aferidas as habilidades dos contendores. Estes jogos no início eram uma forma de comemoração e às vezes fundiam-se com rituais religiosos, sendo que a as atividades desenvolvidas nesses jogos eram relacionadas com habilidades necessárias à sobrevivência destes povos, principalmente relacionando-se com a caça e habilidades guerreiras. Assim sendo, uma das primeiras modalidades de que se têm registro histórico é a do arco e flecha, e fica claro a correlação do mesmo com seu uso para a caça e como artefato militar. As pesquisas arqueológicas levam à conclusão de que o arco e flecha podem existir desde 20.000 a.c., sendo sua existência realmente comprovada através de evidências encontradas em tumbas e monumentos de diversas civilizações que datam de 400 a.c. Porém, a primeira evidência de um jogo propiamente dito pode ser encontrada no Egito nos murais predinásticos de Beni-Hasan, datados de aproximadamente 3.000 a.e., onde são retratadas lutas corporais que seriam equivalentes à moderna luta greco-romana. Obviamente esta conclusão é baseada no fato de que estas competições são as únicas que não podem ser confundidas com simples combates ou rituais de guerra, caracterizando assim a luta como provavelmente o primeiro jogo civilizado. Além desta forma de luta que certamente influenciou os gregos na elaboração de sua modalidade, temos ainda uma contribuição asiática através, dos jogos equestres. O cavalo já era um velho conhecido do homem, que o utilizava desde 3.000 A.C., sendo que o primeiro relato de um jogo envolvendo cavalos vem do Tibet onde este era utilizado para a prática do Pula, precursor do atual Pólo. O "pula" tibetano difundiu-se pela Ásia, sendo que evidências reconheeíveis deste esporte são encontradas na Pérsia datadas de 525 A.C. A civilização grega logo importou as competições com cavalos, sendo que o polo não obteve tanto sucesso entre os gregos quanto as corridas de cavalo com carruagem (bigas), que sobreviveram até o período do império romano e subsequente império bizantino. 1.2 JOGOS OLÍMPICOS A civilização grega marcou o início da realização de eventos esportivos organizados através dos primeiros jogos olímpicos que datam de 776 a.c., onde Coroebus tornou-se o primeiro campeão olímpico documentado ao correr à distância aproximada de cento e noventa metros. Os jogos eram realizados a cada quatro anos, sendo que todas as guerras cessavam para sua realização, e eram uma combinação de provas esportivas e comemorações religiosas, tanto que estes eram realizados em honra aos deuses gregos, onde Zeus era o representante máximo destas divindades. Na mitologia grega os deuses habitavam o monte Olimpo, sendo a denominação jogos olímpicos uma forma de ressaltar o caráter religioso destes eventos. Eram realizados nas encostas do monte Kronion no território do Olimpo, tendo como participantes atletas gregos e estrangeiros procedentes das colónias gregas. Ocorriam também eventos de poesia, drama e música, além das provas atléticas, o que caracterizava um imenso festival cultural do povo grego. Os atletas competiam em busca da glória olímpica e da fama que isto proporcionava, pois, ao retornarem às suas cidades, eram tratados como deuses, recebendo altas honras e compensações materiais pelos feitos obtidos. O prêmio para os vencedores nos jogos era apenas uma folha de oliva o que equivale às medalhas olímpicas atuais mas, como nos dias de hoje, aquela tinha apenas um valor simbólico, sendo os atletas idolatrados pelo povo e eternizados pelos escultores e poetas. Homero, na Odisseia, descreve a importância dos jogos: "Não há maior glória para um homem durante sua vida, do que a de vencer por suas própias mãos e pés." Neste contexto vários atletas atuavam como profissionais, sendo sustentados pela aristocracia e pelo estado, competindo em várias eventos, além dos jogos olímpicos. Este profissionalismo e tratamento mitológico que recebiam os campeões de então pouco se diferencia do que ocorre com os atuais atletas de nível olímpico. Os jogos olímpicos foram encerrados dentro do império romano em 394 a.c. pelo imperador Teodósio que, ao se converter ao cristianismo, considerou os jogos como um ritual pagão por exaltarem em parte, os deuses gregos. Foram reiniciados graças aos esforços do barão Pierre de Coubertin que resultaram na realização dos jogos olímpicos de Atenas em 1896. Anteriormente, por volta de 1800, os gregos tentaram reviver os jogos em Atenas, mas não obtiveram sucesso. Em 1894, em Paris, Pierre de Coubertin, organizou um congresso internacional de esportes com a participação de nove países: Bélgica, Inglaterra, França, Grécia, Itália, Rússia. Espanha. Suécia e Estados Unidos da América. Neste congresso os nove países aclamaram a proposta de Pierre de Coubertin em reiniciar os jogos olímpicos, e desde então os mesmos são realizados a cada quatro anos, sendo que sofreram interrupções apenas durante as duas Grandes Guerras Mundiais (1916, 1940, 1944). Os Jogos Olímpicos tiveram como sedes as seguintes cidades: Atenas (1896); Paris (1900); Saint Louis (1904): Londres (1908); Estocolmo (1912); Antuérpia (1920); Paris (1924): Amsterdam (1928); Los Angeles (1932); Berlim (1936); Londres (1948); Helsinki (1952); Melhourne (1956); Roma (1960); Tóquio (1964); México (1968); Munique (1972); Montreal (1976); Moscou (1980); Los Angeles (l 984): Seul (1988); Barcelona (1992); Atlanta (1996); Syclney (2000) Foi Pierre de Couhertin quem forjou o lema do esporte amador: "O essencial não é vencer, mas competir com lealdade, cavalheirismo e valor." Porém, os ideais de Pierre de Couhertin foram eclipsados pelas ideologias nacionalistas que surgiram no início dos anos trinta, quando o regime totalitário da Alemanha de Adolf Hitler, através de seu ministro da propaganda, Paul Joseph Goehhcls, utilizou-se dos jogos de Berlim em 1936 para divulgar a ideologia nazista, organizando uma grande e eficiente infra-estrutura de treinamento, para, através desta, ohter a maioria das medalhas disputadas e assim proclamar a superioridade da "raça ariana". Porém, o atleta negro norte-americano Jesse Owens, ganhou quatro medalhas de ouro no atletismo, frustrando em parte os objetivos de Hitler. O Iraque, Egito e Líbano boicotaram os jogos olímpicos de Melbourne em 1956, protestando contra a iniciativa francesa da construção do canal de Suez, sendo que Espanha, Suíça e Holanda o fizeram também, como protesto à invasão da URSS na Hungria. As conotações políticas tambémfizeram-se notar nos jogos de 1968 no México, onde atletas negros americanos utilizaram do pódio olímpico para protestarem contra o racismo imperante na América do Norte. Contudo, com maior gravidade, temos o assassinato de onze atletas da delegação de Israel, durante os jogos olímpicos de Munique em 1972, por terroristas palestinos. Temos ainda o boicote realizado por trinta e três países africanos aos jogos de 1976 em Montreal, em protesto ao regime de apharteid da África do Sul, onde a minoria branca detinha o poder e renegava direitos civis à maioria negra. A guerra fria também deu sua contribuição à história dos jogos olímpicos, sendo que os E.U.A. e mais quarenta países boicotaram os jogos de Moscou em 1980, protestando contra a invasão soviética ao Afeganistão, ocorrida em 1979. Os soviéticos retribuíram ao boicote americano, não participando dos jogos olímpicos realizados em Los Angeles em 1984. Nos jogos de Seul em l 988, o ideal olímpico foi maculado pelo fantasma do dopping, sendo que o velocista canadense, nascido na Jamaica, Ben Johnson, ganhador dos cem metros rasos do atletismo, teve sua medalha de ouro cassada devido à comprovação via exame antidopping do uso de esteróides anabólicos. Grande parte da imprensa e dos especialistas esportivos concorda com o fato de que os ganhos financeiros, que são propiciados às estrelas olímpicas representam um grande fator de incentivo ao ideal de "vencer a qualquer custo". Os jogos olímpicos de Barcelona, em 1992, foram os primeiros sem a participação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, devido as mesmas terem sido separadas, sendo que as equipes de suas antigas repúblicas competiram sob a denominação de "Equipe Unificada". Em Atlanta (1996), foi comemorado o centenário dos jogos olímpicos da era moderna, onde 197 países participaram enviando representantes e as antigas repúblicas do bloco soviético competiram sob suas bandeiras individuais. Após o fim da guerra fria e da consequente dissolução do bloco comunista, os jogos adentraram a sua fase comercial e atualmente servem de veiculação a produtos esportivos de diversas nacionalidades, caracterizando a era do marketing esportivo, onde as horas livres da maioria das populações são utilizadas para o acompanhamento de diversos eventos esportivos, mobilizando assim recursos financeiros jamais imaginados. 2. FASES DO TREINAMENTO DESPORTIVO Para facilitação e compreensão das evoluções ocorridas dentro da ciência do treinamento desportivo, faz- se necessária a divisão do mesmo em fases históricas. Tubino (1979) realiza uma modificação nas fases propostas por Pereira da Costa (1972), dividindo o histórico do treinamento nas seguintes fases: 2.1 PERÍODO DA ARTE Esta fase compreende os Jogos Olímpicos realizados na Grécia antiga a partir de 776 A.C. até as primeiras Olimpíadas da era moderna realizadas em Atenas em 1896. Os treinamentos eram conduzidos de uma forma global, sendo que havia uma estruturação dos mesmos em períodos de treinamento aos quais os gregos chamavam de "tetras". O t re inamen to era ex t remamente empírico e baseado nas experiências subjetivas de cada treinador, sendo que geralmente os conteúdos eram extenuantes, com o objetivo de forjar o espírito do atleta através da dor. Em grande parte, estas doutrinas de treinamento tiveram influência dos espartanos, que eram conhecidos dentro do mundo grego pelo seu rigor e disciplina, além de serem excelentes guerreiros. Os gregos possuíam noções de nutrição e se utilizavam de recursos ergogênicos, tais como poções elaboradas com ervas para o aumento da performance física. 2.2 PERÍODO DA IMPROVISAÇÃO Inicia-se com a primeira Olimpíada da era moderna em Atenas em 1896 e termina na sétima Olimpíada da era moderna em Antuérpia em 1920. O treinamento desportivo nesta fase apresenta um alto grau de uniformidade quanto aos recursos empregados no treinamento, sendo que os atletas de melhor aporte genético obtinham o sucesso. Começa a surgir uma necessidade de estruturação e compreensão dos fenómenos envolvidos no desempenho esportivo, sendo que estas aspirações culminam com as teorias do período da sistematização. 2.3 PERÍODO DA SISTEMATIZAÇÃO O treinamento entra em um período de grande evolução, onde vários teóricos começam a serem conhecidos com o surgimento de novas propostas. Um dos percursores desta fase é o finlandês Lauri Pihkala, que com o desempenho arrebatador de Paavo Nurmi de 1920 a 1933, revolucionou as estruturas da teoria do treinamento. Paavo Nurmi obteve vinte e dois recordes mundiais e dez medalhas olímpicas, sendo sete de ouro e três de prata. Também foram de vital importância as teorias da sistematização os estudos desenvolvidos pelo alemão Krummel. a partir de 1920. Finalizando este período, que compreendeu de 1920 a 1930, temos o desenvolvimento do sistema fartlek pelo sueco Gosse Holmer, na década de 30. Fartlek significa jogo de velocidade, em que os trabalhos de corrida eram desenvolvidos mediante resistências naturais, tais como corridas na areia da praia, corridas em bosques e ladeiras. O sistema compreende uma alternância entre corridas rápidas e lentas, utilizando-se descanso ativo e mantendo-se um controle do tempo de treinamento empregado. 2.4 PERÍODO PRÉ-CIENTÍFICO Entre 1930 e 1950, principalmente nos anos que precederam a Segunda Grande Guerra Mundial, vários estudos científicos foram direcionados com o objetivo de mensurar as variáveis envolvidas no desempenho físico. A ciência começa a focalizar o seu interesse dentro das atividades físicas, sendo que neste fase Woldemar Gersehller e Waitzer (1933) despontam com novas propostas de treinamento. Nessas novas propostas advogam a volta da utilização de pistas em vez de corridas em bosques e praias, como preconiza o fartlek, e a utilização de sessões mais curtas e da utilização de corridas de velocidade. Porém, a maior contribuição deste período é a criação do interval-training (treinamento intervalado) realizado pelo alemão Toni Nett em conjunto com o tcheco Kerssenbroe, que era mundialmente conhecido por ser treinador do extraordinário Emil Zatopek, o qual era conhecido como a "locomotiva humana". Dentro do interval training, temos o uso de distâncias entre duzentos a quatrocentos metros, onde são realizados várias repetições destas distâncias, sendo que por vezes o volume chegava a setenta repetições, com intervalos de aproximadamente um minuto, quando o atleta realiza o repouso ativo. 2.5 PERÍODO CIENTÍFICO A partir de 1950, através dos experimentos científicos de Gerehller e Herbert Reindell, que fundamentaram as bases fisiológicas do interval-training, tem-se então a caracterização do perído científico do treinamento. Raul Mollet (1961) inicia o movimento do "treinamento total", onde advoga a necessidade de reestruturação das componentes do treinamento, conceituando sua posição do seguinte modo: "É uma filosofia de apreciação da atividade desportiva em função de todas suas componentes que, através de uma programação racional, procura desenvolver as técnicas, táticas e as qualidades físicas, apoiando-as na alimentação apropiada, numa atitude psicológica favorável, nos regramentos dos hábitos de vida, na adaptação social adequada e no planejamento das horas de lazer". Desta forma, Mollet inicia uma abordagem global para a ciência do treinamento, extrapolando o campo da preparação física, e iniciando a conseientização do enfoque do atleta como um ser social. Atualmente, com as evoluções tecnológicas encontram-se difundidos, métodos de avaliação e controle do treinamento que há alguns anos eram pouco acessíveis. Como exemplo podemos citar os monitores de frequência cardíaca (pulsômetros), sendo que as avaliações do comportamento cardíaco eram apenas possíveis com testes em esteiras ou com o uso de telemetria com equipamentos de alto custo, e estas monitorações jamais eramutilizadas durante todo o treinamento. Com o custo acessível dos pulsômetros, e a acuidade de um eletrocardiograma que algumas marcas apresentam, é possível atualmente monitorar-se a frequência cardíaca durante todas as sessões de treinamento, e obter-se, através do processamento destas informações no computador gráfico, a demonstração do aproveitamento efetivo de cada sessão de treinamento. Certamente em nenhum outro momemto da história tantas pesquisas e recursos estiveram à disposição dos profissionais que executam as tarefas de treinamento desportivo, o que demonstra a grande evolução e valorização que esta área vem experimentando. 3. METODOLOGIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO As ciências do esporte, como em outras áreas do conhecimento humano, vêm adotando uma abordagem holística, onde o ser humano é enfocado de uma maneira global, dentro dos diferentes campos de estudos. Este enfoque busca o desprendimento dos conceitos cartesianos, onde dividia-se o todo em partes e a análise era calcada sobre cada parte, de forma independente. Através desta metodologia cartesiana, não se buscava a integração dos diferentes aspectos para um enfoque global das variáveis em estudo, o que, via de regra, tem ocorrido atualmente, bastando analisar a multidisciplinaridade das equipes de pesquisa científica atuais. Neste contexto o desempenho humano começou a ser analisado dentro dos diferentes enfoques que implicam em sua realização, sendo que estudos avaliam o impacto de cada vertente na performance humana, solicitando assim um corpo de conhecimento global, que busca analisar todas as variáveis implicadas no fenômeno. Para que possamos realizar um treinamento dentro dos padrões científicos é necessário dividir este treinamento em aspectos e partes que confluam na performance motriz humana; essa divisão ocorre da seguinte forma: preparação física, preparação técnica, preparação tática e preparação psicológica. Devemos salientar que, durante um treinamento, a negligência de um desses aspectos pode induzir a um nível insatisfatório de performance, sendo preciso, portanto, o conhecimento de como trabalhar cada fator - físico, técnico, tático e psicológico - e em que momento do treinamento um fator deve ter precedência a outro, para a evolução da performance. Neste sentido a metodologia do treinamento busca a planificação e prescrição de treinamento, utilizando-se de diferentes estudos para a sua elaboração. Tabela 1. Intensidade de estímulo aplicado e suas adaptações. Fonte: Monteiro; pag 16, 2002. Nas últimas décadas, através de pesquisas científicas e métodos cada vez mais modernos e eficazes na realização e controle destas, vários conhecimentos acerca do treinamento desportivo evoluíram e se transformaram radicalmente, em alguns casos. Dentro da metodologia do treinamento desportivo acumulam- se conhecimentos das áreas de fisiologia do exercício, da cinesiologia, além dos métodos de planificação e controle do treinamento. Na fisiologia do exercício, vários itens foram elucidados e ainda são reestruturados, no que diz respeito à realização dos exercícios, quanto às sobrecargas, duração e efeito dos mesmos sobre o sistema fisiológico do organismo. A cinesiologia reestrutura, estuda e prescreve as melhores formas e técnicas de execução dos movimentos e suas implicações anatômicas, utilizando-se de conhecimentos de anatomia e de física (mecânica), sendo que modificações e aperfeiçoamentos ainda ocorrem nesta área. Já na planificação do treinamento, vários métodos e propostas mostraram-se eficientes, porém, a base de toda teoria do treinamento desportivo obedece a alguns princípios básicos. Podemos classificar estes princípios em dois grupos: Princípios básicos do treinamento e, Periodização do treinamento. Dentro dos princípios básicos encontramos as teorias necessárias à compreensão e prescrição científica dos conteúdos de treinamento, sendo estes a base estrutural da elaboração da periodização do treinamento. Os métodos de administração do treinamento e suas diferentes fases, visando ao aumento da performance em um momento específico (competição), são discutidos dentro dos princípios da periodização do treinamento. Princípios básicos do treinamento: São os fatores iniciais para a analise de um determinado tipo de estorço, a fim de que possamos classificá-lo corretamente e, em decorrência disso, realizarmos o treinamento mais adequado à situação apresentada. Para isso, devemos reconhecer os principais sistemas energéticos do metabolismo muscular que estão envolvidos na atividade em estudo e, após esta identificação, iremos analisar as formas mais adequadas de solicitação dessas fontes energéticas no treinamento, bem como a forma de aprimoramento máximo para as mesmas, o que visa gerar um aumento da performance da referida atividade. 4. SISTEMAS ENERGÉTICOS Sistema energético é a via metabólica através da qual a musculatura obtém energia à contração muscular, que ocorre através da energia da quebra das moléculas de ATP (Adenosina Trifosfato), como nos foi demonstrado na teoria do deslizamento dos filamentos. Porém, o estoque de ATP é limitado e precisa ser refeito, e para isso é necessária energia que é fornecida pelos sistemas energéticos. Os sistemas energéticos dividem-se em aeróbios e anaeróbios. Dentro das vias aeróbias, a ressíntese do ATP é feita mediante reações oxidativas (em presença do oxigénio). Já nas vias anaeróbias a ressíntese do ATP é feita através de reações onde não há a presença do oxigénio. Em suma, o objetivo básico dos sistemas energéticos é manter o suprimento de ATP muscular para que a musculatura possa manter-se em trabalho. Cada tipo de esforço muscular aciona um sistema energético e alguns tipos de esforços acionam mais de um sistema. Os tipos de esforços podem ser divididos em: 4.1 ESFORÇOS ANAERÓBIOS ALÁTICOS São esforços onde a musculatura obtém a energia neeessária à ressíntese do ATP através da quebra dos radicais PC (Fosfocreatina). Os esforços que acionam este sistema são os que se encontram entre um à dez segundos de duração, sendo a intensidade situada entre 90 a 100% da capacidade máxima. A curta duração é explicada pela alta intensidade do esforço e pelo fim das reservas musculares de PC (fosfocrcatina). Não havendo formação de lactato nestes esforços e nem a participação do oxigênio nas reações necessárias, resultou a denominação de esforços "anaeróbios aláticos". Quando realizadas em intensidade máxima, estas solicitações necessitam de uma média de quarenta e oito horas para a recuperação dos níveis de energia entre as sessões, e de intervalos de três a cinco minutos entre os exercícios de uma mesma sessão. 4.2 ESFORÇOS ANAERÓBIOS LÁTICOS São esforços que obtém a energia necessária à ressíntese do ATP através da quebra anaeróbia da glicose (glicólise anaeróbia), tendo como consequência a formação de lactato. Os esforços que acionam este sistema metabólico são os que se encontram entre dez segundos e três minutos de duração, sendo a intensidade suficiente para que a fadiga ocorra dentro deste intervalo de tempo. Quando realizados em intensidade máxima, estes esforços necessitam de uma média de quarenta e oito horas para a recuperação dos níveis de energia entre as sessões, e de cinco a trinta minutos de intervalo de repouso entre os exercícios de uma mesma sessão. 4.3 ESFORÇOS ANAERÓBIOS / AERÓBIOS São estorços que obtêm a energia necessária à ressíntese do ATP em parte através da glicólise anaeróbia, e em parte através da glicólise aeróbia. São também conhecidos como esforços mistos. Os esforços que se encontram neste grupo são os que tem duração entre três a seis minutos com intensidades suficientes para que não se consiga executar mais de seis minutos de exercício. A realização dos esforços anaeróbios/aeróbios em intensidade máxima implica em um período médio de recuperação de aproximadamente quarentae oito horas entre as sessões, e de cinco a dez minutos entre os exercícios de uma mesma sessão. 4.4 ESFORÇOS AERÓBIOS São esforços que obtêm a energia necessária à ressíntese do ATP, através da quebra aeróbia da glicose (glicólise aeróbia), podendo também utilizar gorduras como fontes energéticas. Os esforços que se encontram neste grupo são os que têm duração superior a seis minutos. Um ponto importante é que as gorduras somente começam a ser acessadas nos estorços aeróbios, em média, após doze minutos de duração. É comum o mito de que quanto menor a intensidade do esforço, maior será a quantidade de gorduras metabolizadas, o que irá propiciar uma diminuição de maior amplitude no percentual de gordura corporal. O que realmente ocorre é que o percentual de utilização de gorduras para o fornecimento da energia necessária ao exercício é maior nas baixas intensidades de esforço, localizando-se em torno de 60% da energia utilizada, contra 35% de utilização nos esforços de alta intensidade. (Bryant & Peterson. 1996) Porém, quando comparamos duas intensidades de corrida, para a mesma duração, constatamos que, apesar da menor proporção de calorias advindas da queima de gorduras nos esforços de alta intensidade, estes são os que mobilizam uma quantidade de gordura absoluta maior para o fornecimento de energia, do que a utilizada pelos exercícios de baixa intensidade. Por exemplo, caso executemos sessenta minutos de exercício teremos: Tabela 02. Comparação do percentual de calorias, e calorias totais advindas da metabolização de gorduras, em duas intensidades de exercícios. Fonte: Olmos; pag. 24, 2000. Intensidade % Calorias ut i l i z adas % de calorias de gorduras Calorias to t a i s de gorduras Baixa - 50% 400 cal. 60% 210 cal. Alta - 75% 800 cal. 35% 280 cal. Constatamos então que os exercícios de alta intensidade, além de metabolizarem mais calorias no total, também utilizam mais calorias advindas da metabolizacão de gorduras e, conseqüentemente, utilizam uma maior quantidade destas. O mito de que o exercício aeróbio de baixa intensidade utiliza mais gorduras é correto cientificamente, apenas quando analisamos o percentual destas que participam na obtenção de energia ao esforço, porém em valores absolutos o mesmo não representa a melhor estratégia para a diminuição do percentual de gordura corporal, além de que esta apenas ocorrerá caso o indivíduo esteja submetido a uma dieta de restrição calórica. Devemos apenas, nos casos de pessoas descondicionadas fisicamente, optar pelas baixas intensidades, a fim de evitarem-se lesões e complicações advindas do baixo grau de condicionamento destes indivíduos. Após analisarmos os sistemas energéticos devemos conhecer os princípios teóricos nos quais fundamenta-se toda teoria do treinamento. 5. PRINCÍPIOS BÁSICOS DO TREINAMENTO 5.1 PRINCÍPIO DA ESPECIFICIDADE DO TREINAMENTO Para conseguirmos o aprimoramento da fonte energética que está envolvida na atividade em que iremos desempenhar, devemos ter em mente o princípio da especificidade do treinamento, ou seja, devemos selecionar esforços que tenham como fonte energética a mesma da atividade a fim de que desenvolvamos positivamente o nível de performance. Além da fonte energética, devemos analisar ainda a especificidade do gesto motor dos esforços escolhidos para os gestos motores da atividade em questão. Para exemplificar, a um at leta de judô administraremos treinos de musculação e corrida de longa distância, com o in tu i to de melhorar sua performance. Primeiramente, analisemos a corrida de longa distância, a qual se caracteriza por ser um esforço aeróbio, enquanto que o judô é predominantemente um esforço anaeróbio e, assim sendo, não estaremos treinando a fonte energética básica para o judô (anaeróbia), o que não produzirá aumento da performance desse atleta em sua situação específica. Já a musculação, quando corretamente utilizada, caracteriza-se por ser um esforço anaeróbio, o que atingirá a fonte energética desejada, porém não estaremos satisfazendo o quesito da especificidade do gesto motor, pois as técnicas da musculação são bem distintas das utilizadas no judô, sendo necessária a adaptação dos exercícios da musculação às necessidades específicas do judô. Baseados neste exemplo, vemos que a corrida de longa distância é t o t a lm en t e descartável para o aumento da performance, e a musculação, desde que adaptada aos movimentos específicos do judô, propiciará aumento da performance. A especificidade do treinamento é que determina a transferência ou não da performance do exercício proposto à atividade que iremos desempenhar. Isto implica em duas possibilidades: a) Transferência Positiva - quando o exercício proposto aumenta a performance; da atividade alvo. b) Transferência Negativa - quando o exercício proposto diminui ou prejudica a performance da atividade alvo. Muitos mitos acerca das atividades a se desempenhar já foram criados, utilizando o princípio da transferência negativa, tais como: trabalhos de força muscular com pesos prejudicam a flexibilidade; exercícios aeróbios de longa duração "queimam a musculatura"; e tantos outros que mereceriam um livro com o i n t u i t o de apenas abordá-los. Atualmente , constatamos que em alguns casos o princípio da especificidade não é respeitado, pois ainda é normal identiticarmos treinamentos onde atletas de esportes anaeróbios realizam uma grande carga de exercícios aeróbios, tais como corridas de longa duração, ou até mesmo utilizam-se da musculação sem adaptarem os movimentos a seu esporte, seguindo protocolos de musculação que estão voltados apenas ao desenvolvimento da massa muscular ou, em outros casos, ao da força motora. Nestes casos, a escolha dos conteúdos provavelmente foi realizada sem o conhecimento teórico do princípio da especificidade do treinamento, gerando uma limitação aos níveis máximos de performance que estes indivíduos poderiam atingir. 5.2 PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIDADE BIOLÓGICA Cada ser humano possui características individuais que são determinadas pela carga genética dos mesmos, o que implica em diferentes níveis de adaptações e respostas aos estímulos do exercício, apesar de todos termos os mesmos tipos de adaptações e respostas. Baseado nisto, constatamos que nem todos nascem com a capacidade de tornarem-se campeões, e dos que desfrutam deste privilégio, apenas aqueles que seguirem o protocolo adequado de treinamento conseguirão êxito. Figura 2. \momento de aplicação do estímulo para gerar adaptações. Fonte: monteiro; pág. 16, 2002. Tabela 2. Tempo de recuperação das reservas energéticas. Fonte: Monteiro; pág 16, 2002. Devido à individualidade biológica, cada at leta deve ter o seu programa de treinamento baseado nas capacidades orgânicas e no estágio de treinamento que o mesmo se encontra, sendo comum o erro de utilizar o treinamento de outro atleta devido ao fato de este ter obtido sucesso. Sobretudo devemos realizar os planejamentos, dentro de metas reais, para que isto não gere frustrações decorrentes de resultados que, porventura, sejam obtidos, já que nem sempre os atletas são abençoados pela natureza com os dons necessários para que se tornem atletas de elite. Isto não significa, porém, que estes não tenham a capacidade de evoluírem dentro de um esporte, e sim, que a amplitude desta evolução pode não ser a desejada e o tempo utilizado para atingi-la maior que o imaginado, sendo importante, sempre que possível, atentarmos nossos a t l e t as para este princípio a f i m de que os mesmos não se decepcionem com sua performance ou estabeleçam metas impossíveis de se atingir. 5.3 PRINCÍPIO DA SUPERCOMPENSAÇÃO Sempre que o organismo sofre o desgaste advindo de um estímulo, não realiza apenas reposição da energia envolvida, e sim, repõe mais energia do que a ut i l i zada, caso não sofra outroestímulo semelhante durante o processo de recuperação. Assim sendo, teremos tempos adequados para que o organismo realize a supercompensação frente aos diferentes tipos de estímulos. Devido à supercompensação, o at le ta após um período de treinos, pode suportar sobrecargas maiores de treinamento. Porém, a capacidade do organismo de se recuperar destes estímulos de maior magnitude não evolui na mesma proporção, o que implica em tempos maiores para a recuperação do organismo, frente aos estímulos que poderão ser suportados. 5.4 PRINCÍPIO DA SOBRECARCA Para que o treinamento gere aumento da performance é preciso que exponhamos o organismo a estímulos maiores que os normalmente encontrados, ou seja, sempre que o estímulo se estabilizar o organismo também estabilizará sua resposta. Isto não significa que devemos sempre treinar mais e mais forte, pois caso assim procedamos, iremos esgotar a capacidade de o organismo responder aos estímulos e estaremos adentrando a síndrome de estresse ao t reinamento. Os aumentos da sobrecarga de treinamento podem ocorrer quando aumentamos o volume (repetições, séries, distância, tempo ctc.) ou a intensidade (carga, velocidade etc.) do treinamento, sendo que no caso do treinamento intervalado, o mesmo pode ocorrer com a diminuição dos intervalos de descanso entre as series. De acordo com as diferentes fases do treinamento, temos diferentes combinações de volume e intensidade, o que permite a satisfação do princípio da sobrecarga, permitindo ao organismo o tempo adequado de recuperação frente aos diferentes estímulos. Zatsiorshv (1995) classifica as sobrecargas de acordo com seus efeitos, em três tipos: estimulante , retentiva e depressiva. As sobrecargas es t imulan tes acarretam adaptações positivas da fo rma física; as retentivas permitem a estabil ização e retenção da forma física e; as depressivas, por sua baixa m a g n i t u d e , acar re t am a d iminu ição da performance física. Obviamente, dependendo dos tempos de recuperação aplicados, uma sobrecarga que acarretaria um efeito estimulante pode reverter-se em depressiva ou retentiva, devido ao fato de o organismo não obter o tempo necessário à supercompensação. 5.5 PRINCÍPIO DA SÍNDROME GERAL DE ADAPTAÇÃO Este princípio, proposto pelo dr. Hans Seyle, estipula que a síndrome geral de adaptação ocorre em três fases: Fase de alarme - que resulta da aplicação das sobrecargas no organismo; Fase de resistência - quando o organismo busca a adaptação para resistir às demandas impostas pelo estímulo e; Fase de exaustão - quando, caso o estímulo persista além da capacidade de recuperação do organismo, o mesmo terá suas reservas diminuídas e, conseqüentemente, entrará em estresse. Obviamente, no treinamento devemos evitar a fase de exaustão propiciando a nossos atletas os tempos correios de recuperação aos estímulos, além de visarmos à obtenção da fase de resistência, pois nesta ocorrerá a supercompensação das reservas energéticas. Analisando este princípio, podemos concluir que existem quatro situações básicas onde podemos aplicar o estímulo novamente: a) Antes da recuperação energética ao nível inicial; b) No momento da recuperação energética ao nível inicial; c) No momento em que o organismo realizou a superecompensação e; d) Após o organismo ter executado a supereompensação. Cada s i tuação acarretará em uma consequência ao nível energético e, conseqüentemente, à capacidade de performance do organismo. a) Aplicação de estímulos antes da recuperação energética ao nível inicial Neste caso, o organismo não terá recuperado a energia suficiente para resistir a um estímulo semelhante e a consequência será a queda das reservas energéticas orgânicas, o que caracteriza a fase de exaustão, culminando com o supertreinamento do indivíduo e queda de sua performance. Notamos que o estímulo da segunda sessão de t reinamento é aplicado antes que a reserva energética a t in j a o nível anterior, o que é repetido progressivamente, gerando uma queda progressiva das reservas energéticas, até o ponto onde não será mais possível executar o mesmo estímulo. b) Aplicação de estímulos no momento da recuperação energética ao nível inicial Agora, o estímulo será novamente aplicado quando o organismo retornou ao nível inicial de energia neste caso, o gráfico ficará: Este caso representa as situações de treinamento onde a performance permanece estabilizada, pois, como os estímulos são aplicados no momento em que o nível energético apenas retornou ao nível inicial , não obtemos a supercompensação e o nível energético torna-se constante. c) Aplicação de estímulos no momento em o organismo realizou a supercompensação Esta situação representa a situação ideal Em que um estímulo deve ocorrer novamente, para que os níveis energéticos sejam maximizados, sendo o mesmo representado através do gráfico: Através desta situação, a performance será maximizada progressivamente, porém somente após alguns anos de treinamento é que obteremos as amplitudes ideais dos diferentes estímulos para os diferentes atletas, a fim de que este objetivo seja atingido. Zakharov analisa a adaptação conforme os efeitos do treinamento e divide-os em: ➢ Efeito Imediato – São alterações que ocorrem no trabalho físico, podendo ser após a realização de uma tarefa ou ao término de um treino. ➢ Efeito Posterior – Caracteriza-se por alterações no organismo, no período de tempo entre o término do trabalho físico e o próximo estímulo. A é a curva de sub-recuperação e B é a curva de supercompensação. ➢ Efeito Sumário – É o resultado da soma dos efeitos de treinamento de várias cargas. ➢ Efeito Acumulativo – É o resultado da combinação dos efeitos imediatos e posteriores das sessões de treino. Há ainda o limite genético de cada indivíduo, que irá determinar a estabilização do rendimento, independente do treinamento, além de outros fatores como o envelhecimento, que diminuem a amplitude máxima que o atleta poderá atingir. Figura 1. Momento de aplicação do estímulo antes da recuperação. Fonte: Monteiro; pág. 18, 2002. Figura 2. Momento de aplicação do estímulo durante a recuperação. Fonte: Monteiro; pág. 18, 2002. Figura 3. Momento de aplicação do estímulo após a recuperação. Fonte: Monteiro; pág. 18, 2002. Figura 4. Momento de aplicação do estímulo após a supercompensação. Fonte: Monteiro; pág. 18, 2002. Figura 5. Momento de aplicação do estímulo após a supercompensação. Fonte: Monteiro; pág. 18, 2002. d) APLICAÇÃO DE ESTÍMULOS APÓS O ORGANISMO TER EXECUTADO A SUPERCOMPENSACÃO Esta possibilidade ocorre quando o tempo de recuperação é demasiadamente longo, sendo que o organismo irá diminuir a quantidade de energia devido ao fato de a mesma não ter sido solicitada. A mesma situação representa o processo de perda das capacidades de performance após períodos onde o atleta deixa de executar o treinamento, sendo que o processo de perda é muito mais rápido que o de aquisição da forma física. Devido a isto, devemos evitar ao máximo o afastamento das atividades de treinamento, pois em um mês de repouso estaremos perdendo vários meses de trabalho árduo. Podemos representar graficamente esta situação da seguinte forma: O estímulo é aplicado após a supercompensacão porém, antes do nível energético atingir o seu valor inicial sendo que, neste caso, como podemos observar, o nível energético se elevará dentro de uma progressão menor e mais lenta que no caso da aplicação do estímulo exatamente no momento da supercompensação. Caso o estímulo fosse aplicado após a supercompensação, porém nos momentos em que o nível energético atinge o inicial ou está abaixo deste, estaremos dentro das situações anteriormente descritas. 5.6 PRINCÍPIO DO HETEROCRONISMO DA RECUPERAÇÃO Após a análise destas situações, podemos concluir que dentro do processo de treinamento Devemosselecionar o estímulo adequado e o melhor momento para a realização do mesmo novamente, pois se o aplicarmos cedo demais estaremos entrando em um ciclo de desgaste das reservas energéticas e, caso o apliquemos tarde demais, estaremos perdendo os benefícios da supercompensação. Existem estudos que estimam, de acordo com as diversas sessões de treinamento, o tempo adequado para que novos estímulos semelhantes sejam novamente aplicados. Estas diferenças nos tempos de recuperação do organismo, frente às diferentes cargas de trabalho, são conhecidas como heterocronismo da recuperação. Convém ressaltar que, devido ao princípio da individualidade biológica, ocorrem algumas diferenças nestes tempos para os diferentes organismos. A tabela abaixo contém os diferentes tempos de recuperação dos sistemas energéticos frente aos variados estímulos: Tabela 02. Tempo de recuperação dos sistemas energéticos frente a diferentes estímulos. Fonte: Olmos; pag. 24, 2000. Tipo de Sessão Sistemas Energéticos Tempo de Recuperação Anaeróbia Alática Anaeróbio Alático Anaeróbio Lático Aeróbio 40 - 48 horas 20 - 24 horas 06 - 10 horas Anaeróbia Lática Anaeróbio Alático Anaeróbio Lático Aeróbio 20 - 24 horas 40 - 48 horas 06 - 10 horas Aeróbia / Anaeróbia Anaeróbio Alático Anaeróbio Lático Aeróbio 40 - 48 horas 20 - 24 horas 68 - 72 horas Aeróbia Anaeróbio Alático Anaeróbio Lático Aeróbio 04 - 06 horas 20 - 24 horas 68 - 72 horas Somente o acompanhamento e registro do treinamento permitirá a descoberta do tempo adequado para cada atleta, baseado na evolução da performance através da utilização de intervalos menores ou maiores do que os preconizados. É importante observar que mesmo um treino com característica predominantemente aeróbia implica em um desgaste dos outros sistemas energéticos, devendo também ser considerados estes tempos de recuperação, para a aplicação de estímulos que utilizem estes sistemas. A observância do princípio do heterocronismo da recuperação é de suma importância para a compreensão e prescrição científica dos conteúdos de treinamento. 5.7 PRINCÍPIO DA MULTILATERALIDADE O desenvolvimento das capacidades de performance de um desportista está diretamcente ligado a qualidade e quantidade de estímulos esportivos que este recebeu no decorrer de sua formação atlética, principalmente em sua infância. Assim sendo, advogam teóricos como Schmolinsky e Ozolin, que a prática de diversas modalidades (futebol, natação, lutas ete.) acarreta uma maior "cultura" esportiva e, conseqüentemente, uma multilateralidade de conhecimentos, que irão influenciar no sucesso esportivo do atleta em sua fase de especialização. Segundo Hegedus (1980). a multilateralidade não depende apenas da prática de diversas modalidades, pois podemos praticar diversas esportes com o mesmo objetivo funcional (remo, natação, corrida de fundo, ciclismo de estrada), onde somente uma capacidade física estará sendo desenvolvida, que, nestes casos, é a resistência aeróbia. Devemos objetivar a diversidade técnica e funcional nas atividades ministradas, ou seja, estas atividadcs devem solicitar diferentes tipos de coordenação neuromuscular e utilizarem diferentes sistemas energéticos, o que pode ser obtido através de apenas um esporte, desde que este seja bem-orientado e garanta o desenvolvimento multilateral dos futuros atletas competitivos. Já Toni Nett adverte que para a obtenção de performances de alto nível, a importância reside na multilateralidade especial, que é o desenvolvimento de todas as capacidades e possibilidades dentro de um esporte; e na realização de trabalhos específicos, o que atende aos princípios da especificidade do treinamento e os da multilateralidade. 5.8 PRINCÍPIO DA SISTEMATIZAÇÃO O treinamento deve obedecer a uma sistemática de desenvolvimento, onde os conteúdos devem evoluir e serem planificados de acordo com as teorias do treinamento e variáveis fisiológicas envolvidas, obtendo, assim, uma seqüêneia pedagógica que visa ao desenvolvimento atlético. Dentro da planificação, devemos ter o planejamento escrito dos conteúdos de treinamento, e as justificativas para a utilização dos procedimentos adotados, frente aos conhecimentos e referenciais das ciências do treinamento. Devemos iniciar os conteúdos de menor complexidade, evoluindo progressivamente aos de maior complexidade, e os de menor volume e intensidade, aos de maior volume de intensidade. Isto representa uma progressão dos conteúdos, que deve obedecer as capacidades individuais de performance, permitindo aos indivíduos a aquisição e domínio dos conteúdos ministrados. 5.9 PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE O treinamento deve ter uma frequência ideal de realização, a fim de que as modificações fisiológicas e as capacidades de performance adquiridas possam ter seus níveis estabilizados e otimizados. Caso ocorram interrupções ao treinamento, ou ministração de sobrecargas de trabalho extremamente leves por períodos prolongados de tempo (sobrecargas depressivas), a capacidade de performance diminuirá, afetando assim a qualidade do treinamento aplicado. Assim sendo, devemos ter a noção dos efeitos do treinamento, ou seja das mudanças que o mesmo induz no organismo do atleta, desde que respeitados os princípios de treinamento. Verchosanskij divide os efeitos advindos da aplicação periódica das sobrecargas de treinamento em: imediatos, retardados e somativos. Os efeitos imediatos são aqueles verificados imediatamente após uma sessão de treinamento, onde, devido ao desgaste das reservas energéticas, o nível de performance estará diminuído. Já entre as semanas de treinamento, dependendo de como o mesmo esteja planificado, haverá um acúmulo ou depreciação do nível energético, caracterizando os efeitos retardados do treinamento. Dentro do efeito somativo, teremos a soma dos efeitos imediatos com os retardados, resultando na otimização da forma física, caso a planificação seja correta, e na depreciação da forma física, caso os princípios da metodologia do treinamento não tenham sido corretamente aplicados. 5.10 PRINCÍPIO DA CONSCIENTIZAÇÃO Os conteúdos e objetivos do treinamento aplicado devem, na medida do possível, ser compreendidos pelo atleta, gerando uma consciência da lógica e importância destes conteúdos ao sucesso do treinamento. Alguns atletas, devido à sua natureza investigativa, ou por vezes por desconfiança aos conteúdos apresentados, realizam perguntas acerca do treinamento, buscando entender a lógica de elaboração do mesmo. A aprendizagem de técnicas desportivas ocorre com maior velocielaele e qualidade, quando o executante compreende os fundamentos motrizes nela envolvidos, aprimorando assim seu grau de consciência corporal. Estas técnicas de conscientização técnica Figura 6. Redução do VO2máx induzida pelo destreino. Fonte: Monteiro; pág 22, 2002. Figura 7. Comportamento da Força Isométrica Máxima durante 16 semanas de treinamento e oito semanas de destreino. Fonte: Monteiro; pág 22, 2002 são amplamente utilizadas atualmente dentro do treinamento mental, a fim de obter um aprimoramento técnico decorrente deste processo, que consiste na visualização e mentalizarão, pelo atleta, de performances que obtiveram êxito total: quebra de recordes, conquista de títulos ete. Estudos demonstram que, ao mentalizar um movimento, mobiliza-se a mesma cadeia motora de neurônios da realização efetiva deste movimento. Baseado nisso, o atleta obtém uma melhora na execução da técnica apenas pelo fato de visualizar a ocorrência da mesma. Em alguns casos, o atleta em estado de total relaxamento, imagina o decorrer total da competição, como se assistisse a um filme, onde utiliza as táticas e técnicas adequadas, culminando no sucesso de sua participação. 5.11 PRINCÍPIO DA UTILIDADE Prevê que a prática esportiva deva ser totalmente adequada à realidade do praticante,sendo que o mesmo só ocorrerá caso se obtenha um aumento da performance. Ozolin adverte para o fato de que o treinamento deve pautar- se em variáveis tais como: sexo. idade, grau de preparação física e características individuais, entre outras, para efetivo sucesso do treinamento. Por vezes, os atletas suportam sobrecargas de grande intensidade e volume durante longos períodos de treinamento, o que não significa que a metodologia esteja correta, pois, mais do que a assimilação, o treinamento visa à otimização da performance. Além dos fatores metodológicos, o treinamento deve reverter em benefício à sociedade na qual o indivíduo está inserido, buscando sua prática, entre outros objetivos, a melhoria da qualidade de vida. 6. EFEITOS FISIOLÓGICOS DO TREINAMENTO Os aumentos de performance, advindos do treinamento, resultam em parte das alterações fisiológicas que o treinamento acarreta sobre o organismo. Estas alterações representam os mecanismos de resposta que o organismo apresenta mediante a aplicação dos diferentes tipos de estímulos. Fox e Mathews (1986) dividem os efeitos fisiológicos do treinamento em três categorias: Alterações Bioquímicas; Alterações Cardiorrcspiratórias e; Outras alterações induzidas pelo treinamento. Porém, podemos efetuar esta divisão de acordo com o tipo de sistema energético solicitado, e seu efeito sobre as variáveis fisiológicas, assim sendo, teremos efeitos advindos das solicitações anaeróbia e aeróbia. Temos algumas respostas que são comuns aos dois tipos de estimulação, sendo, dentre estas, as mais importantes: a) Mudanças na composição corporal, onde o conteúdo da massa adiposa tende a diminuir enquanto o conteúdo de massa magra tende a maximizar-se, sendo que o aumento de massa muscular é mais pronunciado na solicitação anaeróbia, principalmente quando utilizado o treinamento com pesos. O efeito de diminuição do tecido adiposo é comum para ambas solicitações, ocorrendo, em decorrência disto, uma redução nos níveis de colesterol e triglicerídeos. b) Diminuição dos valores da pressão arterial, que ocorre devido ao aumento de eficiência do músculo cardíaco, conjugado a um processo de facilitação da circulação sanguínea. c) Facilitação do processo de adaptação ao calor, pois devido às altas temperaturas que o organismo atinge durante o esforço físico, os mecanismos de ajuste e controle da temperatura corporal tornam-se mais eficientes, facilitando o processo de adaptação ao calor. Outros efeitos também são resultados de ambos os tipos de estimulação (aeróbia ou anaeróbia), sendo que apenas suas amplitudes são diferentes e, devido a isso, alguns são classificados como decorrentes de um sistema quando a sua modificação, mediante este tipo de solicitação, é mais significativa. Como exemplo, podemos citar o aumento de massa óssea observado em atletas (Rasch, 1991). Este efeito ocorre tanto para a estimulação aeróbia como para a anaeróbia, sendo citado como decorrente do exercício anaeróbio, devido aos aumentos da massa óssea serem bem mais significativos dentro deste tipo de solicitação e principalmente quando esta solicitação é obtida através do treinamento com pesos. Assim sendo, a divisão apresentada a seguir não representa uma compartimentação dos efeitos do treinamento, e sim, uma exposição dos mais significativos que cada tipo de solicitação acarretará. 6.1 EFEITOS FISIOLÓGICOS ADVINDOS DA SOLICITAÇÃO ANAERÓBIA Os esforços anaeróbios são aqueles em que a ressíntese do ATP é feita através de reações onde não há a presença do oxigênio. São caracterizados por sua alta intensidade e curta duração, tendo geralmente a duração máxima de três minutos. As alterações bioquímicas mais significantcs induzidas pelos esforços anaeróbios são: a) Aumento da atividade enzimática e das reservas de ATP-PC necessárias as reações anaeróbias; b) Otimização das reações necessárias ao sistema do ácido lático (glicólise anaeróbia); c) Maior eficiência do sistema ácido-base, que efetua o tamponamento do ácido lático, produzido durante a glicólise anaeróbia, além de um aumento da capacidade em suportar níveis de acidez mais elevados; d) Aumento da atividade dos ribossomos das células musculares, gerando uma maior capacidade de síntese proteica e; e) Aumento das reservas de glicogênio muscular. A estimulação anaeróbia em nível global produz um aumento da massa muscular do atleta (hipertrofia), sendo este efeito mais pronunciado nos atletas que utilizam programas de treinamento com pesos. Além do aumento da massa muscular, há o aumento da massa óssea e da resistência dos tendões, ligamentos e articulações, além de um aumento na espessura das cartilagens. Estas adaptações visam a propiciar uma melhor absorção das sobrecargas de trabalho pelo sistema musculo-esquelético obtendo, assim, um aumento na capacidade de performance do organismo. Em nível cardíaco, devido à solicitação de altos volumes sanguíneos em breves intervalos de tempo, que são caracterizados pelo aumento rápido das frequências cardíaca e respiratória, o treinamento anaeróbio induz a um aumento da espessura das paredes ventriculares do músculo cardíaco (Fishman et al. 1997). Esse aumento de espessura propicia uma maior força de ejeção sanguínea pelo coração, o que facilita a remoção e metabolização do ácido lático produzido durante o esforço, gerando também uma redução da pressão erterial em repouso (Harris e Holly, 1987). Constata-se também uma diminuição da frequência cardíaca de repouso, o que é conhecido como bradicardia, porém, esta não é da mesma magnitude da encontrada nos atletas de endurance (Fleck, 1988). 6.2 EFEITOS FISIOLÓGICOS ADVINDOS DA SOLICITAÇÃO AERÓBIA A Solicitação aeróbia é caracterizada por esforços que obtêm a energia necessária à ressíntese do ATP, através da quebra aeróbia da glicose (glicólise aeróbia), podendo também utilizar gorduras como fontes energéticas, através de beta-oxidação. Os esforços que se encontram nesse grupo são os que tem duração superior a seis minutos, onde a duração máxima dependerá, entre outros fatores, da quantidade de energia disponível ao esforço. Dentro das alterações bioquímicas induzidas pelo estímulo aeróbio, estão aquelas que objetivam um melhor aproveitamento e extração de oxigênio sanguíneo e suprimento dos substratos necessários ao metabolismo aeróbio celular. As alterações mais significantes induzidas pelos esforços aeróbios são: a) Aumento do número de mitocôndrias nas células musculares, ocorrendo tanto nas fibras rápidas, tipicamente anaeróbias, como nas fibras lentas (Holloszy, 1967); b) Otimização do número de capilares que circundam uma fibra muscular, o que possibilita uma oferta sanguínea de oxigênio necessário às reações aeróbias, além de facilitar a difusão do mesmo para dentro das células musculares, sendo que este aumento ocorre em maior amplitude nas fibras lentas do que nas rápidas, porém, ocorre de maneira global (Saltin e Golnick, 1983; Yang et al, 1994); c) Aumento da concentração dos glóbulos vermelhos (hemácias) e, consequentemente, da hemoglobina, o que possibilita uma maior capacidade de transporte de oxigênio na corrente sanguínea e; d) Elevação na concentração e nível de atividade das enzimas envolvidas no metabolismo aeróbio, o que otimiza a oxidação de carboidratos e gorduras. A capacidade pulmonar é modificada, fato este observado no aumento da ventilação-minuto que é a quantidade de ar inspirado ou expirado durante um minuto, tendo ainda uma otimização da ventilação alveolar, que corresponde à quantidade de ar inspirado que efetviamente chega aos alvéolos. Essa maior oferta de oxigênio se traduz em aumento do VO2 máx (Potência Aeróbia Máxima), o que corresponde a máxima quantidade de oxigênio consumida durante a realização de um esforço máximo. Em nível cardíaco, temos um aumento no volume de ejeção, que é a quantidade de sangue ejetada pelo ventrieulo a cada sístole, sendo queeste é obtido através do aumento de tamanho da cavidade ventricular esquerda em aproximadamente 25% em relação a um indivíduo sedentário (McArdle et al. 1991). Acompanhando estas modificações temos um aumento no volume sanguíneo circulante, que é de aproximadamente 5,7 litros para 6,4 litros, em indivíduos do sexo masculino, e de 4,3 litros para 4,8 litros, em indivíduos do sexo feminino (Pila Telena, 1985), além de uma diminuição da frequência cardíaca de repouso (bradicardia). Porém, este aumento da capacidade de circulação sanguínea não é suficiente para suprir todos os vasos sanguíneos da musculatura, casos estes vasos estejam dilatados ao máximo (Anderson e Saltin.1985). O quadro a seguir fornece uma comparação dos principais efeitos produzidos pelas solicitações aeróhia c anaeróbia: Tabela 04. Comparação dos efeitos induzidos pelas estimulações aeróbia e anaeróbia em diferentes variáveis orgânicas. Fonte: Olmos; pag. 42, 2000. Variável Treinamento Anaeróbio Treinamento Aeróbio Frequência cardíaca em Repouso Diminuição Grande Diminuição Pressão Arterial Diminuição Diminuição Massa Muscular Aumento Ligeiro Aumento Massa Óssea Aumento Ligeiro Aumento Tecido Adiposo Diminuição Diminuição Força Muscular Aumento Ligeiro Aumento Potência Aeróbia Máxima Sem Alteração Significativa Grande Aumento Densidade Capitar Aumento Grande Aumento Enzimas Aeróbias Sem Alteração Significativa Grande Aumento Enzimas Anaeróbias Grande Almento Sem Alteração Significativa Reservas de Glicogênio Aumento Grande Aumento Número de Mitocôndrias Sem Alteração Significativa Grande Aumento Notamos, assim, que diversos fatores influenciam a amplitude e a natureza dos efeitos do treinamento, sendo que dentre estes podemos citar: a) Intensidade e volume utilizado no treinamento; b) Tipo de solicitação predominante dentro do plano de treinamento; c) Periodicidade do treinamento e; d) Potencial genético do atleta. Os itens a, b e c relacionam-se diretamente com o processo de treinamento e, dependendo da especificidade do treinamento e da amplitude e frequência do mesmo, as alterações anteriormente citadas ocorrerão em um maior grau ou não. Quanto ao potencial genético do atleta, este limitará suas possibilidades de evolução independente do grau de dedicação e da qualidade técnica do treinamento empregado. Conseqüentemente ao decorrer dos anos de treinamento, o atleta terá se aproximado ao máximo de seu limite genético, ocorrendo assim uma evolução mais lenta e de menor amplitude de suas capacidades de performance. Estudos voltados para a determinação do percentual de influência da hereditariedade em algumas capacidades fisiológicas demonstram que a potência aeróbia máxima é determinada em aproximadamente 93.4%, a potência muscular, em 99,2% e o tempo de reação, em 85,7% (Fox e Mathews, 1986). Outro fator determinado pela hereditariedade é a proporção dos diferentes tipos de fibras musculares. Em primeira instância estas estão divididas em fibras vermelhas classificadas como tipo I ou de contração lenta, e fibras brancas classificadas como tipo II ou de contração rápida. Analisando-se os tipos de fibras musculares, veremos que as fibras que têm o aparato fisiológico adaptado para as necessidades das reações anaeróbias são as fibras brancas do tipo II. Estas fibras são subdivididas em três tipos: IIA, IIB e IIC (Fleck e Kraemer,1987). sendo que todas possuem uma alta concentração de ATP e PC, além de uma alta atividade das enzimas glicolíticas. As fibras tipo IIA possuem tanto capacidade para realizar reações através do metabolismo anaeróbio como através do aeróbio, as do tipo IIB são essencialmente anaeróbias, sendo sua capacidade de efetuar reações aeróbias extremamente baixas. Já as fibras do tipo IIC podem tanto efetuar reações aeróbias como anaeróbias, sendo que estas fibras, devido a estimulação predominante do treinamento, podem converter-se tanto para fibras do tipo IIA como do tipo IIB e em alguns casos podem transformar-se em fibras do tipo I. Porém as fibras do tipo IIC ocorrem em uma proporção de apenas 2% do total das fibras musculares (Hegedus.1992). Alguns autores atribuem esta baixa ocorrência a possibilidade de estas fibras já terem sido convertidas em outros tipos. Devido a estas características, as fibras do tipo II são capazes de realizar trabalhos de alta intensidade com curta duração, o que ocorre dentro dos esforços anaeróbios, sendo também chamadas devido à alta velocidade de contração destes esforços, de fibras de contração rápida. A ocorrência das fibras de contraçáo rápida em atletas do atletismo como os velocistas e saltadores é de aproximadamente 60% do total de fibras musculares. Já os levantadores de peso possuem um total de aproximadamente 55% em libras rápidas. (Fox e Mathews, 1986). As fibras vermelhas possuem seu aparato fisiológico adaptado à realização das reações aeróbias, e são responsáveis pela contração muscular durante os esforços de baixa intensidade e longa duração. Corredores de fundo de nível internacional possuem aproximadamente 70% a 90% de suas fibras musculares em fibras do tipo I. (Fink et al, 1977: Hegedus, 1992). Isto demonstra a adaptação morfológica e a decorrente vantagem fisiológica que estes atletas possuem para o desempenho de provas de longa duração, já que a percentagem das fibras brancas e vermelhas em sedentários é de 50% para cada tipo (Saltin e Golniek, 1983). Baseado nisto, não é um exagero a afirmação em forma de anedota que alguns especialistas em treinamento utilizam para descrever a importância da hereditariedade para a obtenção de resultados de alto nível: "Se você deseja ser um campeão olímpico, deve antes de tudo escolher seus pais." 7. MEIOS E MÉTODOS DE TREINAMENTO Os meios de treinamento compreendem os exercícios que serão empregados na melhoria da aptidão física, os quais são denominados exercícios preparatórios gerais, preparatórios especiais e competitivos. 7.1 EXERCÍCIOS PREPARATÓRIOS GERAIS Apresentam exercícios muito variados e incluem exercícios próximos aos exercícios preparatórios especiais. Na seleção deles, devem ser consideradas duas condições básicas: exercícios variados para garantir o desenvolvimento das capacidades físicas do desportista precisam ser adequados às particularidades da especialização desportiva, facilitando a transferência do efeito desses exercícios para a modalidade praticada. 7.2 EXERCÍCIOS PREPARATÓRIOS ESPECIAIS Estes exercícios incluem elementos próximos das ações competitivas. O importante, nesses exercícios, é analisar a especificidade deles em relação à competição, ao sistema de produção de energia predominante, aos grupos musculares envolvidos e ao gesto específico. 7.3EXERCÍCIOS COMPETITIVOS Apresentam ações íntegras exatamente como elas ocorrem no momento competitivo e realizam-se nas condições e regras oficiais das competições. Esses são os únicos meios que permitem a reconstrução do conjunto de exigências específicas de certa modalidade desportiva, estimulando, assim, alto nível de desenvolvimento do treinamento. 7.4 EXERCÍCIOS DE EFEITO GERAL As atividades de efeito geral ou exercícios aeróbios caracterizam-se pela mobilização de uma massa muscular maior do que 1/6 a 1/7 da musculatura esquelética total por longo período de tempo, com baixa intensidade, promovendo, portanto, adaptações no sistema cardiorrespiratório e nos processos celulares oxidativos (Hollmann e Hettinger, 1989). Podemos dividir esses exercícios em cíclicos e acíclicos. Os exercícios cíclicos, como a corrida e o ciclismo, são realizados com movimentos que se iniciam e terminam, completando um ciclo, facilitando a manutenção estável da frequência cardíaca. A "ginástica aeróbica", o step e os esportes de caráter coletivo apresentam exercícios acíclicos, pela grande variedade de movimentos, implicando em variação da intensidade. As atividades de resistência podemser classificadas conforme a variabilidade e o potencial para a manutenção de certa taxa constante do gasto energético (ACSM, 2000): Grupo l - caminhada, corrida e ciclismo: podem ser facilmente mantidas em intensidade constante e a variabilidade do gasto energético é relativamente baixa. Grupo 2 - natação: o gasto energético está altamente relacionado com a habilidade técnica, mas um indivíduo pode manter a atividade constante. Grupo 3 - dança, ginástica aeróbica, step, jogos esportivos, etc. São altamente variáveis em intensidade. 7.5 EXERCÍCIO DE EFEITO LOCALIZADO Os exercícios de efeito localizado são caracterizados pela solicitação isolada de determinado segmento corporal, seja para alongar ou fortalecer. As capacidades físicas desenvolvidas com a realização desses exercícios são a força, a resistência muscular localizada e a flexibilidade. a) FORÇA - Máxima ➢ Coordenação Intramuscular - conseguir recrutar maior quantidade de unidades motoras e, conseqüentemente, exercer mais força. ➢ Hipertrofia - aumentar a seção transversal do músculo, aumentando assim o seu tamanho. b) RESISTÊNCIA MUSCULAR LOCALIZADA ➢ Aeróbia - realizar maior quantidade de exercícios, sem perder a eficiência em condições aeróbias. ➢ Anaeróbia - realizar maior quantidade de exercícios, sem perder a eficiência em condições anaeróbias. c) FLEXIBILIDADE ➢ Ativa - realizar um exercício com grande amplitude pela contração do músculo agonista e pelo alongamento do antagonista. ➢ Passiva - realizar um exercício com grande amplitude pela ação de agentes externos, como a ação da gravidade, pela ajuda de um parceiro ou de um equipamento. ➢ Estática - permanecer determinado tempo em determinada posição, sem que haja movimento. ➢ Dinâmica - executar movimentos balísticos ou com insistência. 8. MÉTODOS DE TREINAMENTO Os métodos de treinamento são as diferentes formas de como os exercícios podem ser realizados. Segundo Gomes (1999), compreendem, no verdadeiro sentido da palavra, os vários procedimentos tomados para sistematizar os meios que devem garantir os resultados almejados. Como exemplo, a corrida pode ser organizada por vários métodos diferentes, dependendo da etapa de treinamento e dos objetivos. O exercício pode ser realizado, então, de forma contínua ou intervalada. 8.1 MÉTODO CONTÍNUO O método contínuo, também chamado de método de duração, é fundamental para o treino das modalidades cíclicas de longa duração (natação, corrida e ciclismo) e para desenvolver a resistência de base em outras modalidades. Possui a característica de desenvolvimento da resistência aeróbia, pois utiliza grandes volumes de treino, baixa intensidade e ausência de intervalos. De acordo com o comportamento da frequência cardíaca, o método contínuo pode ser dividido em: a) Método Contínuo Constante Esta forma procura manterá intensidade (I) durante toda a realização do exercício (V). Por exemplo, caminhar 30 minutos, mantendo a intensidade a 140 bpm do início ao final da atividade. Este exercício apresenta aumento progressivo na intensidade. Inicia-se uma corrida de 40 minutos com 120 bpm, aumentando 10 bpm a cada 5 minutos. b) Método contínuo Crescente Este exercício apresenta progressão na intensidade. Inicia-se o exercício de uma bicicleta ergométrica com 140 bpm, aumentando 10 bpm a cada 10 minutos, até atingir 180 bpm, totalizando 50 minutos de atividade. c) Método Contínuo Decrescente Este exercício apresenta regressão na intensidade. Inicia-se o exercício de uma bicicleta ergométrica com 180 bpm, diminuindo 10 bpm a cada 10 minutos, até atingir 130 bpm, totalizando 50 minutos de atividade. d) Método Contínuo Crescente/Decrescente Nesta forma de execução, a intensidade, durante a natação aumenta desde o início gradativamente e, em 15 minutos, passa de 150 bpm para 180 bpm. Na sequência, diminui de 180 bpm para 150 bpm, até completar mais 15 minutos. e) Método Contínuo Decrescente/Crescente Nesta forma de execução, a intensidade, durante a natação diminui desde o início gradativamente e, em 15 minutos, passa de 180 bpm para 150 bpm. Na sequência, aumenta de 150 bpm para 180 bpm, até completar mais 15 minutos. f) Método Contínuo Variativo I Neste método, a carga varia constantemente, podendo-se, na bicicleta ergométrica, alterar o peso ou a velocidade e, na corrida em esteira, a velocidade ou a inclinação a cada 1 ou 2 minutos. g) Método Contínuo Variativo II Neste método, a carga também varia constantemente. Exemplos dessa forma de variação de intensidade (frequência cardíaca) são a participação em aulas de ginástica com movimentos acíclicos (ginástica aeróbica e step) e em esportes coletivos como futebol, basquete, tênis, etc. 8.2 MÉTODO INTERVALADO O método intervalado, também chamado de fracionado, compreende períodos destinados ao estímulo (exercício) e períodos destinados à recuperação. Dependendo da orientação da carga de treino (distância, velocidade e tempos de recuperação), os sistemas de produção de energia e as capacidades físicas serão diferenciados. O método intervalado pode ser dividido conforme a característica das cargas em: a) Método Intervalado Constante Esta forma de exercício procura manter a intensidade, a distância e a pausa durante toda a realização do exercício. Por exemplo, correr 5 x 200 metros, a 70% da velocidade máxima, com pausa de l minuto no treinamento cardiorrespiratório e 5 x 20 repetições, com pausa de 40", utilizando o mesmo peso no neuromuscular. Esta forma de exercício procura aumentar o volume ou a intensidade durante realização do exercício. b) Método Intervalado Crescrescente Esta forma de exercício procura aumentar o volume ou a intensidade durante realização do exercício. Exemplos metabólicos: ➢ Alteração na distância: correr l x 100, l x 150, l x 200, l x 250 e l x 300 metros, a 70% da velocidade máxima, com pausa de 1,5 minutos. ➢ Alteração na velocidade: correr 5 x 200 metros, aumentando a velocidade a cada estímulo (60%-70%- 80%-90%-100% da velocidade máxima). ➢ Alteração na pausa: 5 x 200 metros a 70% da velocidade máxima, diminuindo a pausa (2'-l'45"-l'30"- l'15"-l'). Embora a pausa esteja diminuindo, a carga de treino sobre o organismo é maior. Exemplos neuromusculares: Flexibilidade e Força ➢ Alteração na intensidade no treinamento de força: l x 12 -70% l RM, l x 10 - 80% l RM e l x 8 - 85% l RM, com pausa de l1. ➢ Alteração na duração de permanência no exercício de alongamento: l x 30", l x 45" e l x l', com pausa de 40". ➢ Alteração na pausa: diminuir a pausa a cada série de força (1x12- 70% l RM, com pausa de l'30"; 1x12- 70% l RM, com pausa de l'; e l x 12 - 70% l RM, com pausa de 30") ou de alongamento (l x 30", com l' de pausa; e l x 30", com 30" de pausa). c) Método Intervalado Decrescente Esta forma de exercício procura diminuir o volume ou a intensidade durante realização do exercício. Exemplos metabólicos: ➢ Alteração na distância: correr l x 300, l x 250, l x 200, l x 150 e l x 100 metros, a 70% da velocidade máxima, com pausa de 1,5 minuto. ➢ Alteração na velocidade: 5 x 200 metros, diminuindo a velocidade a cada estímulo (100%-90%-80%- 70%-60% da velocidade máxima). ➢ Alteração na pausa: 5 x 200 metros a 70% da velocidade máxima, diminuindo a pausa (l'-l'15"-l'30"- l'45"-2'). Embora a pausa esteja aumentando, a carga de treino sobre o organismo é menor. Exemplos neuromusculares: Flexibilidade e Força ➢ Alteração na intensidade no treinamento de força: l x 8 - 85% l RM, com pausa de l'; l x 10 - 80% l RM e l x 12 -70% l RM. ➢ Alteração na duração de permanência no exercício de alongamento: l x l', l x 45" e l x 30", com pausa de 40". ➢ Alteração na pausa: aumentar a pausa a cada série de força (l x 20 - 60% l RM, com pausa de 30"; l x 20 -60% 1RM, com pausa de l'; e l x 20 - 60% l RM, com pausa de 1'30") ou de alongamento (l x 30", com 15" de pausa; e lx 30", com 30" de pausa). d) Método Intervalado Crescente/Decrescente Esta forma de exercício procura aumentar e diminuir o volume ou a intensidade durante realização do exercício. Exemplos metabólicos: ➢ Alteração na distância: nadar l x 200, l x 300, l x 400, l x 300 e l x 200 metros, a 70% da velocidade máxima, com pausa de 2 minutos. ➢ Alteração na velocidade: 5 x 200 metros, aumentando a velocidade até o terceiro estímulo e diminuindo a partir do quarto. Exemplos neuromusculares: Flexibilidade e Força ➢ Alteração na intensidade no treinamento de força: l x 15 - 70% l RM, com pausa de l min; l x 10 - 80% 1RM e l x 15 - 70% l RM. ➢ Alteração na duração de permanência no exercício de alongamento: l x 30", l x l' e l x 30", com pausa de 40". ➢ Alteração na pausa: aumentar a pausa a cada série de força (l x 20 - 60% l RM, com pausa de 45"; l x 20 - 60% l RM, com pausa de 30"; e l x 20 - 60% l RM, com pausa de 45") ou de alongamento (l x 30", com 30" de pausa; l x 30", com 15" de pausa; e l x 30", com 30" de pausa). e) Método Intervalado Decrescente/Crescente Esta forma de exercício procura diminuir e aumentar o volume ou a intensidade durante realização do exercício. Exemplos metabólicos: ➢ Alteração na distância: nadar l x 400, l x 300, l x 200, l x 300 e l x 400 metros, a 70% da velocidade máxima, com pausa de 2 minutos. ➢ Alteração na velocidade: 5 x 200 metros, diminuindo a velocidade até o terceiro estímulo e aumentando a partir do quarto. Exemplos neuromusculares: Flexibilidade e Força ➢ Alteração na intensidade no treinamento de força: 1x8-85% l RM, com pausa de l'; l x 10 - 80% l RM e l x 8 -85% l RM. ➢ Alteração na duração de permanência no exercício de alongamento: l x 40", l x 20" e l x l', com pausa de 40". ➢ Alteração na pausa: aumentar a pausa a cada série de força (l x 25 - 50% l RM, com pausa de 30"; l x 25 - 50% 1 RM, com pausa de l'; e l x 25 - 50% l RM, com pausa de 30") ou de alongamento (l x 30", com 30" de pausa; l x 30", com 15" de pausa; e l x 30", com 30" de pausa). f) Método Intervalado Variativo Esta forma de exercício procura alterar o volume ou a intensidade durante a realização do exercício. Exemplos metabólicos: ➢ Alteração na duração do estímulo: pedalar l x 30 seg., l x 2 min., 1x1 min., 1x1 min. e 30 seg. e l x l min., a uma velocidade de 30 km/h e com pausa ativa de 2 minutos. ➢ Alteração na velocidade: 5x2 min a 26, 35, 28, 32 e 26 km/h respectivamente (Figura 22). Exemplos neuromusculares: Flexibilidade e Força ➢ Alteração na intensidade no treinamento de força:, 1x8-85% l RM, com pausa de l'; l x 10 - 80% l RM; l x 4 -90% l RM; e l x 15 - 60% l RM. ➢ Alteração na duração de permanência no exercício de alongamento: l x 40', l x 20", l x l' e l x 40", com pausa de 40". ➢ Alteração na pausa: aumentar a pausa a cada série de força (l x 25 - 50% l RM, com pausa de 30"; l x 25 - 50% l RM, com pausa de 30"; e l x 25 - 50% l RM, com pausa de l') ou de alongamento (l x 30", com 30" de pausa; l x 30", com 30" de pausa; e l x 30", com 15" de pausa). 9. CARGA DE TREINAMENTO Os níveis baixos de capacidade funcional pós-atividade e sua posterior recuperação são determinados pêlos estímulos que se aplicam no processo de treinamento. No exercício, os estímulos utilizados determinam a carga de trabalho a que se submete o praticante. A carga provoca mudanças de adaptação no organismo do desportista (Zakharov, 1992). A carga de treinamento, segundo Manso et ai. (1996), advém da relação da quantidade de trabalho (volume) com seu aspecto qualitativo (intensidade). 9.1 CLASSIFICAÇÃO DA CARGA DE TREINO a) Tipos de Carga: ➢ Carga Geral - melhoria da capacidade orgânica geral, com maior quantidade de exercícios. ➢ Carga Específica - desenvolvimento máximo da eficiência motora. b) Orientação da Carga: ➢ Carga Seletiva - realização da carga para um único objetivo, a força ou a resistência, por exemplo. ➢ Carga Complexa - realização da carga para dois ou mais objetivos; é método intervalado em que se desenvolve a resistência aeróbia, anaeróbia e a resistência de força especial. c) Determinação da Carga: ➢ Intensidade da Carga - Na seleção dos critérios de intensidade, será preciso levar em consideração, no exercício físico, o peso utilizado no treinamento de força e a velocidade na corrida, por exemplo. ➢ Duração do Exercício - Está estreitamente ligada à intensidade, pois os exercícios com durações diferentes são assegurados por diferentes mecanismos energéticos. ➢ Intervalos de Descanso - Os intervalos podem ser divididos em: ✓ Intervalo Rígido - Períodos de recuperação com tempos muito curtos, o que leva ao desenvolvimento da fadiga em progressão muito rápida. ✓ Intervalo Curto - Períodos de recuperação que permitem a restauração próxima ao nível inicial do exercício. Embora a fadiga também ocorra, o seu ritmo é relativamente mais baixo do que o anterior, permitindo, assim, um volume de trabalho muito maior. ✓ Intervalo Completo - Períodos de recuperação que permitam a restauração completa do organismo para o próximo estímulo. ➢ Característica dos Intervalos: ✓ Ativos - Utilização de movimentos mais brandos ou de exercícios de menor intensidade, promovendo a regeneração. ✓ Passivos - Recuperação após um determinado estímulo, sem a utilização de qualquer movimento. d) Grandeza da Carga A grandeza da carga representa a relação entre o exercício e as respostas do organismo a esse fator. A Tabela 3 apresenta a variação da carga de treinamento e seus respectivos tempos de recuperação. Quanto mais forte for a carga aplicada, maior será o tempo de recuperação para que ocorra a supercompensação. Cargas leves proporcionam recuperações rápidas (Volkov, 1990). Carga (% de Volume Máximo) Recuperação (horas) Recuperativa – 10 a 20 % 4 a 5 horas Recuperativa de Manutenção – 20 a 40 % 4 a 8 horas Estabilizadora – 40 a 60 % 12 a 18 horas Ordinária – 60 a 80 % 24 a 36 horas Choque – 80 a 100 % 48 a 72 horas Uma divisão mais criteriosa, segundo Platonov e Bulatova (1998), apresentada nas tabelas a seguir, mostra as características da carga de treino, objetivos e tempos de recuperação para cargas aplicadas em atletas com boa experiência no desporto. Carga Critérios de Magnitude Objetivos Pequena 15 – 20 % do Volume Aceleração dos processos de recuperação Média 40 – 60 % do Volume Manutenção do nível conseguido Importante 60 – 75 % do Volume Estabilização e aumento do nível de treinamento Grande Fadiga Clara Aumento do nível de treinamento O volume de treino citado na tabela acima refere-se à quantidade de trabalho suportada pelo indivíduo, interferindo, é claro, maior ou menor grau de fadiga. Deve-se lembrar que as cargas recomendadas para o desenvolvimento das capacidades físicas no treinamento personalizado são submáximas, ou seja, cargas importantes, também chamadas de cargas ordinárias. Essas cargas representam de 60% a 75%-80% do volume máximo. DURAÇÃO DOS INTERVALOS (HORAS) Capacidades Físicas Carga Média Carga Importante Carga Grande Força Máxima 36-48 48-60 60-90 Força Explosiva 24-36 36-48 48-60 Velocidade 12-24 24-48 48-72 Coordenação 6-12 12-24 24-48 Flexibilidade 6-12 12-24 24-48 Resistência Anaeróbia Submáxima 36-48 48-60 60-72 Resistência Aeróbia Máxima 36-48 48-60 60-72 Resistência Anaeróbia Máxima 12-24 24-48 48-60 Resistência Aeróbia Submáxima 48-60 60-72 72-96 Resistência com Pouca Potência Aeróbia 48-72 72-96 96-120 9.2 APLICAÇÃO E CONTROLE DA CARGA PARA DESENVOLVER A RESISTÊNCIA AERÓBIA a) MÉTODO CONTÍNUO O método contínuo, também chamado de método de duração, é fundamental para o treino das modalidades cíclicas de longa duração (natação, corrida no atletismo e ciclismo) e para desenvolver a resistência de base em outras modalidades. Possui a característica de desenvolvimento da resistência aeróbia, pois utiliza grandes volumes de treino, baixa intensidade
Compartilhar