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MANUAL DE PROCESSO PENAL – Renato Brasileiro de Lima1844 6.4. Efeitos Em relação aos efeitos, é sabido que, como todo e qualquer recurso, o agravo em execução também é dotado de efeito devolutivo. Como é aplicável, subsidiariamente, o mesmo proce- dimento do RESE, conclui-se que o agravo também é dotado de efeito regressivo (diferido ou iterativo), permitindo que o juiz da execução possa se retratar de sua decisão. No tocante ao efeito suspensivo, o art. 197 da LEP é categórico ao dizer que o agravo em execução não o possui.196 Se, pelo menos em regra, o agravo em execução não é dotado de efeito suspensivo, especial atenção deve ser dispensada ao quanto disposto no art. 179 da LEP, que dispõe que “transitada em julgado a sentença, o juiz expedirá ordem para a desinternação ou a liberação”. Como se percebe, a partir do momento que o dispositivo condiciona a desinternação ou a liberação do agente inimputável ou semi-imputável cuja periculosidade tenha cessado ao trânsito em julgado da referida decisão, é de se concluir que, nesse caso, o agravo em execução é dotado de efeito suspensivo, visto que sua simples interposição tem o condão de impedir o trânsito em julgado, ao qual está condicionada a produção dos efeitos da referida decisão. 7. CARTA TESTEMUNHÁVEL De acordo com o art. 639 do CPP, a carta testemunhável será cabível contra a decisão que denegar o recurso ou contra a decisão que, admitindo embora o recurso, obste à sua expedição e seguimento para o juízo ad quem. 7.1. Hipóteses de cabimento Trata-se de instrumento criado para obstar os problemas decorrentes de os juízes se oculta- rem para não receber os recursos ou de determinarem aos escrivães que não lhes deem andamento. Sobre sua origem, a doutrina aponta que “o recorrente comparecia ao cartório, acompanhado de duas testemunhas, e relatava o que estava sucedendo ao escrivão, manifestando sua intenção de recorrer. Caso o escrivão admitisse a veracidade dos fatos narrados, fornecendo atestado a respeito, o problema ficava solucionado. Em caso de relutância do escrivão, o recorrente com- parecia ao tribunal com as duas testemunhas”.197 Leitura isolada do art. 639 do CPP pode levar à conclusão (equivocada) de que a carta testemunhável seria a impugnação adequada contra toda e qualquer decisão que não recebesse um recurso interposto ou que negasse seu seguimento. Porém, não se pode perder de vista que a lei processual penal também faz referência ao cabimento de outras impugnações contra decisões que não conhecerem determinado recurso. É o que ocorre, por exemplo, com o não conhecimento de apelação interposta. De acordo com o art. 581, XV, caberá RESE contra a decisão que denegar a apelação ou a julgar deserta. Nos casos de não acolhimento de embargos declaratórios e embargos infringentes nos tribunais, os regimentos, em regra, possibilitam o uso de agravo. Na mesma linha, segundo o art. 1042, I, in fine, do novo CPC, denegado o recurso extraordinário ou o recurso especial, caberá agravo de instrumento, no prazo de quinze dias, para o Supremo Tribunal Federal ou para o Superior Tribunal de Justiça, conforme o caso. 196. Para mais detalhes acerca do cabimento de mandado de segurança para atribuir efeito suspensivo a recurso criminal interposto pelo Ministério Público, objeto do enunciado da súmula n. 604 do STJ (“O mandado de segurança não se presta para atribuir efeito suspensivo a recurso criminal interposto pelo Ministério Público”), remetemos o leitor ao Título 13, referente aos Recursos, mais precisamente ao item 7.3, atinente ao efeito suspensivo. 197. Nessa linha: GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antônio Magalhães; FERNANDES, Antônio Scarance. Recursos no processo penal. 6ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. p. 159. TÍTULO 14 • RECURSOS 1845 Portanto, a carta testemunhável deve ser utilizada de maneira residual, subsidiária. Em ou- tras palavras, a carta testemunhável será cabível apenas na hipótese de ausência de previsão legal de outro recurso adequado contra a decisão de não recebimento ou não seguimento do recurso. Na visão da doutrina, a carta testemunhável será cabível apenas quando não recebido ou obstado o seguimento de recurso que deva ser julgado pela instância superior. Isso porque, se- gundo o art. 645 do CPP, o procedimento da carta testemunhável na instância superior seguirá o procedimento do recurso denegado. Portanto, a carta testemunhável não se apresenta como o recurso adequado contra decisão denegatória de recurso que deva ser apreciado na própria instância em que a decisão impugnada foi proferida, como ocorre com os embargos de decla- ração opostos contra sentença de juiz de 1ª instância. Como tais embargos são apreciados pelo próprio órgão jurisdicional que prolatou a decisão embargada, não tendo seguimento para a instância superior, fica inviabilizado o manejo da carta testemunhável. Nesse caso, como não há um recurso previsto em lei, o caminho viável é a interposição de apelação contra a sentença, arguindo a nulidade da decisão em virtude do vício que deu ensejo à interposição dos embargos de declaração.198 Se adequada a carta testemunhável, pouco interessa o motivo do não recebimento do re- curso interposto ou de seu não seguimento: falta de interesse ou legitimidade, intempestividade, deserção, etc. 7.2. Prazo De acordo com o art. 640 do CPP, a carta testemunhável será requerida ao escrivão, ou ao secretário do tribunal, conforme o caso, nas 48 (quarenta e oito) horas seguintes ao despacho que denegar o recurso, indicando o requerente as peças do processo que deverão ser trasladadas. Para que esse prazo possa ser contado em horas, é indispensável que conste do mandado lavrado pelo Oficial de Justiça a exata hora em que ocorreu a intimação; caso contrário, o prazo de 48 (quarenta e oito) horas será contado em dias – 02 (dois). 7.3. Procedimento Ao contrário dos demais recursos, que são dirigidos a um órgão jurisdicional (v.g., juiz, desembargador), a carta testemunhável será requerida ao escrivão, no âmbito da Justiça Estadual, ao diretor de Secretaria, na Justiça Federal, ou ao secretário da Presidência do Tribunal, confor- me o caso, nas quarenta e oito horas seguintes ao despacho que denegar o recurso, indicando o requerente as peças do processo que deverão ser trasladadas (CPP, art. 640). Como se pode notar, a carta é processada por instrumento, daí por que o recorrente deve indicar as peças para a formação do traslado por ocasião do requerimento de sua extração. Justifica-se a interposição da carta testemunhável perante o diretor de secretaria pelo fato de seu juízo de admissibilidade não ser feito pelo juízo a quo, mas apenas perante a instância superior. Assim, ainda que intempestiva ou descabida, a carta testemunhável deve ser enca- minhada ao juízo ad quem para seu julgamento, que pode deixar de apreciá-la somente sob o fundamento de ausência de seus pressupostos de admissibilidade. O escrivão, ou o secretário do tribunal, dará recibo da petição à parte e, no prazo máximo de cinco dias, no caso de recurso no sentido estrito, fará entrega da carta, devidamente conferida e concertada. O escrivão, ou o secretário do tribunal, que se negar a dar o recibo, ou deixar de entregar, sob qualquer pretexto, o instrumento, será suspenso por trinta dias. O juiz, ou o pre- sidente do Tribunal de Apelação, em face de representação do testemunhante, imporá a pena e mandará que seja extraído o instrumento, sob a mesma sanção, pelo substituto do escrivão ou do secretário do tribunal. Se o testemunhante não for atendido, poderá reclamar ao presidente 198. AVENA, Norberto. Processo penal esquematizado. 2ª ed. São Paulo: Método, 2010. p. 1171. MANUAL DE PROCESSO PENAL – Renato Brasileiro de Lima1846 do tribunal ad quem, que avocará os autos, para o efeito do julgamento do recurso e imposição da pena. Após a extração do traslado (cópia) das peças indicadas pelo recorrente, a carta testemunhá- vel seguirá omesmo procedimento do recurso que foi denegado ou não teve andamento (CPP, art. 645). Logo, considerando que o recurso não conhecido tenha sido o recurso em sentido estrito, isso significa dizer que, após a apresentação das razões recursais em dois dias, a parte contrária terá oportunidade de oferecer contrarrazões no mesmo prazo (CPP, art. 588, caput). Depois, os autos serão conclusos ao juízo a quo, para fins de retratação (ou confirmação) da decisão impugnada (CPP, art. 589, caput). Nessa hipótese, não será possível a aplicação da regra constante do art. 589, parágrafo único, do CPP, porquanto, ao reformar a decisão de não conhecimento ou não seguimento do recurso interposto, o juízo a quo estará tão somente recebendo o recurso interposto ou lhe dando andamento, o que não autoriza a interposição de qualquer outro recurso pela parte contrária. 7.4. Efeitos Como todo e qualquer recurso, a carta testemunhável é dotada de efeito devolutivo: seu objetivo é o conhecimento do recurso que o juízo a quo não admitiu, ou a determinação para que o juiz dê seguimento ao recurso já recebido. Todavia, se a carta testemunhável estiver sufi- cientemente instruída, de tal modo a permitir o conhecimento do recurso denegado, o Tribunal tem autorização para, de imediato, decidir a seu respeito (CPP, art. 644). Daí a importância do recorrente, por ocasião da formação do instrumento, ter a cautela de trasladar as peças para que o Tribunal possa apreciar o recurso não admitido, manifestando-se expressamente a respeito dessa opção nas razões da carta testemunhável. De acordo com o art. 646 do CPP, a carta tes- temunhável não terá efeito suspensivo. Na medida em que o procedimento da carta testemunhável é o mesmo procedimento do re- curso que foi denegado ou não teve andamento (CPP, art. 645), pode-se dizer que tal impugnação será dotada de efeito regressivo (diferido ou iterativo) caso o recurso obstado também o possua. É o que ocorre, por exemplo, com a carta testemunhável interposta contra o não conhecimento de recurso em sentido estrito ou agravo em execução. Como o procedimento do RESE, e, por consequência, da carta testemunhável, preveem a possibilidade de retratação, é de se concluir que a carta testemunhável também permitirá ao juízo a quo se retratar da decisão impugnada. 8. CORREIÇÃO PARCIAL A correição parcial pode ser conceituada como o instrumento destinado à impugnação de decisões judiciais que possam importar em inversão tumultuária do processo, sempre que não houver recurso específico previsto em lei. A correição parcial é adotada por quase todos os Estados, seja nas leis de organização judiciária, seja nos regimentos internos dos Tribunais. Em alguns Estados, conserva o nome de correição parcial; em outros, é chamada de reclamação. Neste caso, é importante não confun- di-la com a reclamação destinada à preservação da competência e da autoridade dos julgados do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça (CF, art. 102, I, “l”, e art. 105, I, “f”, respectivamente). A Lei nº 5.010/66, que organiza a Justiça Federal de 1ª instância, também prevê a correição parcial em seu art. 6º, inciso I. Por sua vez, segundo o Código de Processo Penal Militar (art. 498), o Superior Tribunal Militar poderá proceder à correição parcial: a) a requerimento das partes, para o fim de ser corrigido erro ou omissão inescusáveis, abuso ou ato tumultuário, em processo, cometido ou consentido por juiz, desde que, para obviar tais fatos, não haja recurso previsto neste Código; b) mediante representação do Ministro Corregedor-Geral, para corrigir arquivamento irregular em inquérito ou processo.
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