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DOR ONCOLÓGICA Bruno Wance Oncologista Clínico Graduação em Medicina - UFRJ Residência Médica em Oncologia Clínica - Hospital de Câncer de Barretos ROTEIRO Importância do Tema Como Avaliar Princípios do Manejo Opióides Adjuvantes Intervenções Casos Clínicos ROTEIRO Importância do Tema Como Avaliar Princípios do Manejo Opióides Adjuvantes Intervenções Casos Clínicos http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs297/en/ Câncer é uma das principais causas de morbimortalidade no mundo, aproximadamente 14 milhões de novos casos em 2012 Uma em cada seis mortes no mundo são causadas pelo câncer Aproximadamente 70% das mortes por câncer ocorre em países de renda baixa ou moderada É esperado um aumento de 70% no número de casos novos nas próximas duas décadas Meta-análise com 52 artigos Avaliar prevalência de dor em pacientes com câncer de acordo com os diferentes estadios da doença Resultados Após tratamento curativo: 33% Em tratamento ativo: 59% Doença avançada/metastática: 64% Todos os estadios: 53% De todos os pacientes com dor: 1/3 refere dor moderada ou intensa 5 Pesquisa na base do serviço de emergência do MD Anderson em 2010 Principais queixas: Dor Febre dispneia Avaliação sobre a incidência e o manejo de complicações oncológicas em serviço de emergência de hospital geral Motivo mais comum de admissão: Dor oncológica (33%) Dispneia (29%) Nausea/Vômito (27%) Revisão da literatura que avaliou a adequação do tratamento de dor oncológica Resultado: Aproximadamente 1 a cada 2 pacientes com dor oncológica estão sub-tratados Revisão sistemática que avaliou a adequação do tratamento de dor oncológica: 1a publicação em 2008: 43,4% sub-tratamento Atualização em 2014: 31,8% sub-tratamento Em queda porém ainda elevado Estudo para avaliar: barreiras que dificultam o adequado manejo de dor oncológica sugerir intervenções capazes de revertê-las Avaliados pacientes e profissionais Barreiras Déficit de conhecimento Avaliação inadequada da dor Conceitos equivocados sobre o tema Intervenções: Educação do paciente Educação do profissional Avaliação correta da dor Consulta de dor ROTEIRO Importância do Tema Como Avaliar Princípios do Manejo Opióides Adjuvantes Intervenções Casos Clínicos Revisão da literatura sobre a associação entre dor oncológica crônica e distress psicológico Resultados: 14/19 estudos avaliados encontraram associação significativa entre elevados índices de dor e elevado distress psicológico Resultados sugerem que a avaliação de dor oncológica crônica deve incluir de rotina screening para distress psicológico Dor Total ROTEIRO Importância do Tema Como Avaliar Princípios do Manejo Opióides Adjuvantes Intervenções Casos Clínicos Princípios do controle de dor - WHO Pela boca (via oral é a preferencial) Pelo relógio (respeitar os intervalos fixos de tempo) Pela escada (escada analgésica) Para o indivíduo (analisar as características da dor e particularidades do indivíduo) Uso de adjuvantes (otimizar analgesia, reduzir efeitos adversos de opióides, controlar fatores contribuintes como depressão, ansiedade,...) Atenção aos detalhes (instruções precisas, escritas e verbais, sobre nome, indicações, dosagens, intervalos, toxicidade,...) Cancer pain relief, second edition, WHO A ESCADA ANALGÉSICA - WHO - ROTEIRO Importância do Tema Como Avaliar Princípios do Manejo Opióides Adjuvantes Intervenções Casos Clínicos Opióides Mecanismo de Ação: Receptores específicos mu, kappa e delta Distribuídos nos tecidos, sistema nervoso central e periférico Medicamentos podem ser agonistas puros, agonistas-antagonistas, antagonistas puros Opioides Principais Medicamentos: Codeína Tramadol Morfina Oxicodona Metadona Fentanil Codeína e Tramadol Considerados classicamente opióides fracos (segundo degrau da escada analgésica da OMS) Disponíveis no mercado de forma isolada ou em combinações Pouca evidência de sua eficácia no tratamento do dor oncológica fraca-moderada CONTROVÉRSIA: O SEGUNDO DEGRAU INCERTEZA QUANTO À MAIOR EFICÁCIA EM RELAÇÃO AO 1º DEGRAU MAIORIA DOS PACIENTE PRECISA RAPIDAMENTE SUBIR PARA O 3º DEGRAU DEVIDO CONTROLE INEFICAZ DE DOR LIMITAÇÃO: DOSE-TETO MODELO DE DOIS DEGRAUS PARECE FORNECER ALÍVIO MAIS RÁPIDO E EFICAZ, MENOR NECESSIDADE DE MUDANÇAS NA TERAPIA ANTI-ÁLGICA, MAIOR SATISFAÇÃO DO PACIENTE CONTROVÉRSIAS: O SEGUNDO DEGRAU Morfina Protótipo de opióide para dor moderada a severa (terceiro degrau da escada analgégica da OMS) Historicamente considerada a droga de escolha para dor moderada a severa (controvérsia!) Disponível em formulações VO, EV, SC, VR VO: Meia vida curta porém disponível em formulações de liberação controlada Deve ser usada com cautela em pacientes portadores de insuficiência renal Oxicodona Disponível em diversas formulações VO Estudos mostram semelhante eficácia e tolerância quando comparado à morfina Metadona Meia vida imprevisível (12h a 01 semana) Custo baixo e duração prolongada Maior segurança em pacientes com disfunção renal Utilizada na dependência a opóide (‘craving`) Difícil manejo, devendo ser utilizada apenas por profissionais que conheçam a droga Fentanil Disponível em formulações EV e transdérmica Vantagem: Posologia transdérmica (01 troca a cada 3 dias) Maior segurança em pacientes com disfunção renal Evidências sugerem menor grau de constipação, quando comparado à morfina Risco de reações cutâneas e variações na absorção Contém metal: risco de queimaduras durante RM CONTROVÉRSIA: MORFINA É A DROGA DE ESCOLHA? RECOMENDAÇÃO DA WHO: NÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS ESTUDOS FALHARAM EM COMPROVAR BENEFÍCIO DE MORFINA SOBRE OUTROS OPIÓIDES FORTES CONSIDERAR: ACESSO, CUSTO, VIA, POSOLOGIA, FARMACOCINÉTICA, PERFIL DE TOXICIDADE, DENTRE OUTROS CONTROVÉRSIAS: MORFINA É A DROGA DE ESCOLHA? Opioides e Eventos Adversos Constipação Sonolência e confusão mental Nauseas e vômitos Retenção urinária Mioclonia Depressão respiratória Opioides e Constipação Evento comum: 60-90% Grande impacto em qualidade de vida Fisiopatologia: Ligação com receptores no trato gastrointestinal e SNC, reduzindo a peristalse Redução da peristalse causa redução trânsito intestinal e aumento da reabsorção de água e eletrólitos Fatores contribuintes: desidratação, uso concomitante de outras medicações constipantes (quimioterápicos, adjuvantes…), distúrbios metabólicos (hipercalcemia), idade avançada, obstrução intestinal maligna Opioides e Constipação Prevenção e manejo Identificar fatores de risco e contribuintes Orientar e prescrever laxativos Bisacodil: aumenta peristalse e diminui reabsorção de água Lactulose: aumenta osmolaridade das fezes e atrai água Supositório / enemas / extração manual Incentivar aumento da ingesta hídrica, mobilidade, dieta rica em fibras Opioides e Sonolência / Confusão Mental Mais comum durante o início do tratamento ou no escalonamento de dose Apresentação clínica variável (défcit leve de atenção – confusão mental e delirium) Duração de dias a semanas – tolerância Fatores contribuintes: desidratação, uso concomitante de benzodiazepínicos Manejo: a depender da gravidade, uso de estimulantes, naloxone Opióides e Náuseas / Vômitos Geralmente ocorre no início do uso Desenvolvimento rápido de tolerância Fisiopatologia: Efeito direto na “zona de gatilho” Aumento da sensibilidade vestibular Atraso no esvaziamento gástrico Manejo: procinéticos (metoclopramida), antgonista do receptor de serotonina (ondansetrona) Opióides e Retenção Urinária Fisiopatologia: Efeito direto sobre a inervação vesical aumentando o tônus do esfíncter vesical Ligação direta em receptores medulares causando relaxamento vesical Manejo: cateterismo vesical imediato, tentativa de redução de dose, naloxone, doxazosina Opióides e Mioclonia Mioclonia = espasmos involuntários de certos grupos musculares Indicativo de neurotoxicidade Geralmente associado à sonolência e confusão mental Manejo: rotação de opióide, adição de adjuvante para reduzir dose do opióide, benzodiazepínico em baixa dose Opióides e Depressão Respiratória Complicação rara quando seguidos os guidelines de uso correto dos opióides e quando respeitados os conceitos de escalonamento de dose Risco maior em pacientes portadores de apnéia do sono ou outros distúrbios cardiorespiratórios Redução da frequência respiratória associada à sonolência Manejo: retirar opióide, naloxone, garantir via aérea Escalonamento de Dose Objetivo: Encontrar a menor dose eficaz, capaz de promover o adequado controle álgico com toxicidade manejável Situações: Início do tratamento Toxicidade limitante / Rotação de opióide Aumento da dor / Tolerância Escalonamento de Dose Passo-a-passo Avaliar a dor (EN, BPI, síndromes…) Escolher a medicação (princípios de controle de dor e escada analgésica, características das drogas…) Definir a dose inicial Reavaliar Recalcular a dose Escalonamento de Dose 3. Definir a dose inicial A menor dose recomendada Escalonamento de Dose 3. Definir a dose inicial Outras considerações usar inicialmente apresentações de liberação rápida prescrever tomadas regulares (“de horário”) e orientar uso do resgate resgate deve corresponder a 5-15% da dose total diária Escalonamento de Dose 4. Reavaliar QUANDO: RECOMENDADO RESPEITAR INTERVALO MÍNIMO DE 5 A 6 MEIAS-VIDAS (TEMPO SUFICIENTE PARA ATINGIR DOSE ESTÁVEL) COMO: INTENSIDADE E INTERFERÊNCIA, OU SEJA, EXPERIÊNCIA DA DOR (ESCALA NUMÉRICA, BPI, OUTRAS) * LEMBRAR SEMPRE DE AVALIAR TOXICIDADE E SE NECESSÁRIO AJUSTAR SINTOMÁTICOS Escalonamento de Dose 5. Recalcular a dose DIVERSAS MANEIRAS, CITAREMOS UMA: AUMENTAR A DOSE TOTAL DIÁRIA A PARTIR DE UMA MÉDIA DA DOSE DE RESGATE NECESSÁRIA NOS ÚLTIMOS DIAS IMPORTANTE ORIENTAR SOBRE DIÁRIO DE DOR E O USO CORRETO DE RESGATE RECALCULAR DOSE DE RESGATE BASEADO NA NOVA DOSE TOTAL DIÁRIA ATENÇÃO COM AUMENTOS > 50% DA DOSE TOTAL DIÁRIA ATENÇÃO AO MOTIVO DO USO DO RESGATE: SEMPRE DURANTE O BANHO OU ALGUMA ATIVIDADE ESPECÍFICA? ROTEIRO Importância do Tema Como Avaliar Princípios do Manejo Opióides Adjuvantes Intervenções Casos Clínicos Adjuvantes Definição: Medicações utilizadas no controle álgico cuja principal indicação não é o tratamento de dor Principais Classes: Antidepressivos Anticonvulsivantes Corticóides Tópicos (lidocaína, capsaisina...) Inibidores de osteoclastos Outros Adjuvantes Controvérsia: quando iniciar? Após tentativa de controle álgico com opióide Vantagens: reduzir o número de medicações prescritas, evitar escalonamento concomitante, evita confundir causa de evento adverso. Concomitante ao início da terapia com opióide - Vantagens: reduzir a dose necessária de opióide, controle de outras vias da dor, controle de comorbidades. Adjuvantes Dor neuropática Antidepressivos Tricíclicos (desipramina, nortriptilina) ou inibidores não seletivos da receptação da serotonina (duloxetina) 1ª linha em pacientes com humor deprimido Anticonvulsivantes Gabapentinóides (Gabapentina e Pregabalina) 1ª linha em pacientes sem humor deprimido ROTEIRO Importância do Tema Como Avaliar Princípios do Manejo Opióides Adjuvantes Intervenções Casos Clínicos Intervenções 4o degrau – escada de dor Diversas modalidades: Injeções em articulações / partes moles Injeções em coluna / medula Bloqueios neurais Técnicas avançadas em neuroeixo Discutidas sempre em caráter multiprofissional e com o paciente Recursos importante em casos refratários, mas não restritos a eles ROTEIRO Importância do Tema Como Avaliar Princípios do Manejo Opióides Adjuvantes Intervenções Casos Clínicos Caso Clínico 1 LCB, 61 ANOS, MASCULINO HÁ 30 DIAS DOR ABDOMINAL EM BARRA, IRRADIANDO PARA DORSO, DE MODERADA A FORTE INTENSIDADE, EM QUEIMAÇÃO E EM APERTO, POR VEZES INCAPACITANTE (EN: 9/10), MELHORA APENAS PARCIAL COM USO DE CODEÍNA 30MG 6/6H. JUN/18 RM ABD SUP: LESÃO EXPANSIVA PANCREÁTICA CORPO-CAUDAL DE 6,5CM COM INVASÃO DE TRONCO CELÍACO E SUPRA RENAL E. MÚLTIPLAS LESÕES HEPÁTICAS A MAIOR DE 4,7CM SEG VI E OUTRA DE 3,2CM SEG III, SUGESTIVAS DE IMPLANTES SECUNDÁRIOS CEA 336,9 CA19/9 - 9864,00 (FUNÇÕES ORGÂNICAS PRESERVADAS) COMORB: HAS / DEPRESSÃO LCB, 61 ANOS, MASCULINO Provável neoplasia maligna pancreática metastática para fígado, se apresentando com dor abdominal em andar superior, em barra (queimação e aperto), de forte intensidade (EN 9/10) e elevada interferência no dia-a-dia (incapacitante). Em uso de Codeína sem controle eficaz O medicamento Codeína está bem indicado para o caso em questão? Justifique. Quais as síndromes (ou tipos de dor) você consegue identificar no caso acima? Você iniciaria uso de medicação adjuvante? Qual classe indicaria e por que? Monte uma prescrição de até 3 medicamentos para dor e até 2 medicamentos de suporte (sintomáticos) para esse paciente. LCB, 61 ANOS, MASCULINO Provável neoplasia maligna pancreática metastática para fígado, se apresentando com dor abdominal em andar superior, em barra (queimação e aperto), de forte intensidade (EN 9/10) e elevada interferência no dia-a-dia (incapacitante). Em uso de Codeína sem controle eficaz 5. Optado por iniciar: Dipirona 1.000mg 6/6h EV+ Morfina 3mg 4/4h EV + Nortriptilina 25mg/noite VO Considerando a dose de morfina diária, qual seria a dose de resgate proposta? Considerando a meia vida da morfina = 4 horas, quando seria seguro fazer o escalonamento de dose caso não se atinja controle eficaz com a dose atual? LCB, 61 ANOS, MASCULINO Provável neoplasia maligna pancreática metastática para fígado, se apresentando com dor abdominal em andar superior, em barra (queimação e aperto), de forte intensidade (EN 9/10) e elevada interferência no dia-a-dia (incapacitante). Em uso de Codeína sem controle eficaz 6. Ao checar a evolução da enfermagem no dia seguinte, percebeu-se que o paciente fez uso de 4 resgates (3mg morfina EV cada). O residente lembrou-se da regra discutida em aula e optou por aumentar a dose de horário para 5mg morfina 4/4h EV. Mostre o calculo que o fez pensar assim Você faria diferente? Por que? LCB, 61 ANOS, MASCULINO Provável neoplasia maligna pancreática metastática para fígado, se apresentando com dor abdominal em andar superior, em barra (queimação e aperto), de forte intensidade (EN 9/10) e elevada interferência no dia-a-dia (incapacitante). Em uso de Codeína sem controle eficaz 7. Realizado o aumento de dose sugerido pelo residente e ao avaliar o paciente no dia seguinte o mesmo se encontrava torporoso, apresentando abalos musculares involuntários, miose bilateral, bradipnéia e vômitos. O que aconteceu? O que fazer? Mensagens Importantes Importância do Tema Como Avaliar Princípios do Manejo Opióides Adjuvantes Intervenções Importância do Tema Câncer doença já prevalente e de incidência crescente Dor é um sintoma frequente nos pacientes oncológicos, e gera números elevados de admissões É uma realidade do especialista E do não especialista Literatura aponta para altos índices de sub-tratamento Identificação de barreiras e proposição de soluções são necessárias para aprimorar o controle eficaz da dor oncológica Como Avaliar Intensidade + Interferência = Experiência da dor Ferramentas práticas (Escala Numérica, BPI) Raciocínio sindrômico Lembrar do fator psicológico e do conceito de Dor Total Princípios do Manejo Recomendações da OMS (pela boca, pelo relógio…) Escada Analgésica da OMS Tratamento farmacológico E não farmacológico (intervenções psicosociais, métodos integrativos, intervenções, reabilitação…) Opióides Conhecer as drogas, particularidades e manejo de eventos adversos Atenção durante o escalonamento de dose (respeitar a meia vida das medicações, evitar aumentos maiores que 50% da dose atual, atenção ao grau de hidratação...) Adjuvantes Podem ser iniciados de forma concomitante aos opióides Principal uso na prática, em casos de dor neuropática Principais classes: antidepressivos e anticonvulsivantes Intervenções Discutidas sempre em caráter multiprofissional e com o paciente Recursos importante em casos refratários, mas não restritos a eles Obrigado “A Mão Que Prescreve Opióide Prescreve Laxante” - Poeta desconhecido bwance@hotmail.com
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