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Aula 03 Quinhentismo: a Carta de Caminha, os relatos dos Viajantes e dos Padres Jesuítas Quinhentismo é como ficou conhecido o período inicial da Literatura produzida no Brasil. Os temas estão ligados ao Descobrimento, aos relatos dos Navegadores, e aos textos dos Padres Jesuítas. No primeiro século de nossa história, após a chegada dos portugueses, não se pode falar na existência de uma literatura brasileira legítima, mas sim, de uma produção escrita dos viajantes e dos primeiros moradores. Ocorreram, portanto, apenas manifestações isoladas que se prendem à descrição da terra e do índio ou a textos escritos pelos jesuítas que aqui estiveram. Contexto histórico do Quinhentismo O Ciclo das Grandes Navegações e Descobertas Durante o Quinhentismo, a visão de mundo estava em choque, pois a terra estava deixando de ser plana para se tornar redonda com o lento final da teoria do heliocentrismo (sol como centro do universo). Ocorreram os avanços dos instrumentos de observação (lunetas), das cartas náuticas (mapas de navegação marítima), e a proposta do modelo astronômico de Nicolau Copérnico (1473-1543) colocando o Sol como o centro do universo, questionando a teoria adotada pela Igreja Católica, no modelo de Ptolomeu, onde a Terra era o centro. Esses avanços contribuíram para o ciclo das Grandes Navegações e as descobertas que se tornaram as marcas de uma época: a descoberta da America pelo genovês Cristóvão Colombo, em 1492; o caminho pelo mar desde a Península Ibérica até o Oceano Índico, realizado em 1498 pelo português Vasco da Gama; e, depois, a chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil em 1500. As Grandes Navegações e os descobrimentos ocorreram em meio a outros progressos que iriam revolucionar a vida humana, como, por exemplo, a máquina de imprimir criada por Johannes Gutenberg na Alemanha, em 1450. O Renascimento No mundo das artes e da Filosofia, estava em cena ao final da Idade Média o Renascimento Cultural, que trouxe novas técnicas e a perspectiva para as artes plásticas e uma postura de instigação para a filosofia. https://cursoenemgratuito.com.br/quinhentismo/ A Reforma Protestante A Reforma Protestante foi deflagrada pelas 95 Teses de Martinho Lutero em 1517. Lutero pregava que o cristianismo devia voltar à sua pureza primitiva, suprimindo as indulgências e submetendo as decisões e tradições eclesiásticas ao controle da Bíblia e não ao controle do Papa. A reação Católica contra Martinho Lutero Em resposta à Reforma Protestante, a igreja Católica promoveu a Contrarreforma, que procurava pôr fim aos abusos, reerguer espiritualmente a Igreja e reconquistar para o catolicismo os países que dele se haviam afastado. Literatura de Informação Quinhentista São textos produzidos por viajantes e cronistas das expedições e tinham como objetivo descrever a terra e o selvagem, privilegiando aspectos geográficos e etnográficos. A literatura desta época não possui valor literário, mas, sim, um valor histórico. Veja os principais autores e obras: Autores e Obras do Quinhentismo: a) Pero Vaz de Caminha: – Carta do Descobrimento b) Pero de Magalhães Gândavo: – Tratado da Terra do Brasil – História da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil c) Gabriel Soares de Souza: – Tratado Descritivo do Brasil d) Hans Staden: – Meu cativeiro entre os índios do Brasil Literatura de Formação Em 1549, chegaram ao Brasil os padres da Companhia de Jesus (jesuítas), incumbidos de catequizar os índios e de inserir em sua realidade a cultura europeia. Para isso, produziam textos que, vinculados à Contrarreforma, catequizavam e doutrinavam o índio e instruíam os filhos dos colonizadores que aqui moravam. Os textos produzidos pelos padres Jesuítas eram literariamente mais elaborados. Os formatos utilizados, incluindo-se sermões, eram cartas, poesias e a dramaturgia, escrevendo peças de teatro, sendo este o instrumento mais utilizado pelos padres no contato com os indígenas. Veja os principais autores e suas obras: Padre José de Anchieta a) Padre José de Anchieta (considerado o pai do teatro brasileiro): – De Beata Virgine Dei Matre Maria (poesia) – Arte da Gramática da Língua mais usada na Costa do Brasil – Auto de São Lourenço (peça teatral, entre muitas outras) b) Padre Manuel da Nóbrega: – Cartas do Brasil (relato de experiências) – Diálogo sobre a conversão dos Gentios A Carta de Pero Vaz de Caminha A Carta é um documento de grande valor histórico, pois relata oficialmente a chegada dos portugueses ao Brasil. Que tal ler um fragmento da obra? Carta a el-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil Senhor, posto que o capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta Vossa terra nova, que se ora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta. (…) E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de longo, até terça-feira d’ oitavas de Páscoa, que foram 21 dias d’Abril, que topamos alguns sinais de terra (…) E à quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves, a que chamam fura- buchos. Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é, primeiramente d’um grande monte, mui alto e redondo, e d’outras serras mais baixas ao sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs o nome o Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz. (…) E dali houvemos vista d’homens, que andavam pela praia, de 7 ou 8, segundo os navios pequenos disseram, por chegaram primeiro. (…) A feição deles é serem pardos, maneira d’avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto. (…) Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos, pelas espáduas; e suas vergonhas tão altas e tão çarradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha. (…) E uma daquelas moças era toda tinta, de fundo a cima, daquela tintura, a qual, certo, era tão bem feita e tão redonda e sua vergonha, que ela não tinha, tão graciosa, que a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhes tais feições, fizera vergonha, por não terem a sua como ela. (…) O capitão, quando eles vieram, estava assentado em uma cadeira e uma alcatifa aos pés por estrado, e bem vestido, com um colar d’ouro mui grande ao pescoço. (…) Um deles, porém, pôs olho no colar do capitão e começou d’acenar com a mão para a terra e despois para o colar, como que nos dizia que havia em terra ouro. E também viu um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e então para o castiçal, como que havia também prata. (…) Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre- Douro-e-Minho, porque neste tempo d’agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem! Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. (…) capitão-mor: trata-se de Pedro Álvares Cabral. conta: relato. oitavas de Páscoa: semana que vai desde o domingo de Páscoa até o domingo seguinte. horas de véspera: final da tarde. chã: plana. cousa: coisa. Uma pausa para a leitura Para saber mais Hans Staden foi um mercenário que nasceu em Homberg, na Alemanha, e veio ao Brasil em duas viagens durante 1548 e 1549. A segunda viagem de Hans Staden ficou conhecidapor causa dos nove meses em que foi prisioneiro dos indígenas Tupinambás. Nesse período como prisioneiro, Hans Staden deixou valioso registro a respeito dos rituais antropofágicos ( rituais de canibalismo) dos indígenas. Hans Staden, que veio ao Brasil à procura de riquezas, registrou suas experiências após retornar à Alemanha em um livro lançado em 1557. Questão 01 _____________________________ (UFSM) Sobre a literatura produzida no primeiro século da vida colonial brasileira, é correto afirmar que: a) É formada principalmente de poemas narrativos e textos dramáticos que visavam à catequese. b) Inicia com Prosopopeia, de Bento Teixeira. c) É constituída por documentos que informam acerca da terra brasileira e pela literatura jesuítica. d) Os textos que a constituem apresentam evidente preocupação artística e pedagógica. e) Descreve com fidelidade e sem idealizações a terra e o homem, ao relatar as condições encontradas no Novo Mundo. Questão 02 _____________________________ (UFV) Leia a estrofe abaixo e faça o que se pede: Dos vícios já desligados nos pajés não crendo mais, nem suas danças rituais, nem seus mágicos cuidados. (ANCHIETA, José de. O auto de São Lourenço Assinale a afirmativa verdadeira, considerando a estrofe acima, pronunciada pelos meninos índios em procissão: a) Os meninos índios representam o processo de aculturação em sua concretude mais visível, como produto final de todo um empreendimento do qual participaram com igual empenho a Coroa Portuguesa e a Companhia de Jesus. b) A presença dos meninos índios representa uma síntese perfeita e acabada daquilo que se convencionou chamar de literatura informativa. c) Os meninos índios estão afirmando os valores de sua própria cultura, ao mencionar as danças rituais e as magias praticadas pelos pajés. d) Os meninos índios são figuras alegóricas cuja construção como personagens atende a todos os requintes da dramaturgia renascentista. e) Os meninos índios representam a revolta dos nativos contra a catequese trazida pelos jesuítas, de quem querem libertar-se tão logo seja possível. Questão 03 _____________________________ Leia o texto “Erro de português”, de Oswald de Andrade, para responder à questão. Erro de português Quando o português chegou Debaixo duma bruta chuva Vestiu o índio Que pena!Fosse uma manhã de sol O índio tinha despido O português. Oswald de Andrade Podemos observar que há uma crítica do autor em relação aos povos colonizadores, sobretudo uma crítica sobre as intenções dos padres jesuítas, amplamente expressas na literatura produzida durante o Quinhentismo. A crítica de Oswald de Andrade está presente no verso: (a) “Quando o português chegou (...)”; (b) “(...) Vestiu o índio (...)”; (c) “(...) Debaixo de uma bruta chuva (...)”; (d) “(...) O índio tinha despido (...)”; (e) “(...) Que pena! Fosse uma manhã de sol (...)”. Quando o Novo Mundo foi realmente novo, Theodore de Bry inspirou-se em alguns dos maiores exploradores da história para registrar suas maravilhas. Théodore de Bry foi um gravurista, ourives e editor famoso por suas representações das primeiras expedições europeias às Américas. Aplicando o que aprendeu Questão 04 _____________________________ Enem 2013 TEXTO I Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez deles; e daí a pouco começaram a vir mais. E parece-me que viriam, este dia, à praia, quatrocentos ou quatrocentos e cinquenta. Alguns deles traziam arcos e flechas, que todos trocaram por carapuças ou por qualquer coisa que lhes davam. […] Andavam todos tão bem- dispostos, tão bem feitos e galantes com suas tinturas que muito agradavam. CASTRO, S. A carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento). TEXTO II PORTINARI, C. O descobrimento do Brasil. 1956. Óleo sobre tela, 199 x 169 cm Disponível em: www.portinari.org.br. Acesso em: 12 jun. 2013. (Foto: Reprodução) Pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro, a carta de Pero Vaz de Caminha e a obra de Portinari retratam a chegada dos portugueses ao Brasil. Da leitura dos textos, constata-se que a) a carta de Pero Vaz de Caminha representa uma das primeiras manifestações artísticas dos portugueses em terras brasileiras e preocupa-se apenas com a estética literária. b) a tela de Portinari retrata indígenas nus com corpos pintados, cuja grande significação é a afirmação da arte acadêmica brasileira e a contestação de uma linguagem moderna. c) a carta, como testemunho histórico-político, mostra o olhar do colonizador sobre a gente da terra, e a pintura destaca, em primeiro plano, a inquietação dos nativos. d) as duas produções, embora usem linguagens diferentes – verbal e não verbal –, cumprem a mesma função social e artística. e) a pintura e a carta de Caminha são manifestações de grupos étnicos diferentes, produzidas em um mesmo momento histórico, retratando a colonização. Questão 05 ____________________________ ECKHOUT, A. “Índio Tapuia” (1610-1666) “A feição deles é serem pardos, maneira d’avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir, nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto.” CAMINHA, P. V. A carta. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Ao se estabelecer uma relação entre a obra de Eckhout e o trecho do texto de Caminha, conclui- se que: a) ambos se identificam pelas características estéticas marcantes, como tristeza e melancolia, do movimento romântico das artes plásticas. b) o artista, na pintura, foi fiel ao seu objeto, representando-o de maneira realista, ao passo que o texto é apenas fantasioso. c) a pintura e o texto têm uma característica em comum, que é representar o habitante das terras que sofreriam processo colonizador. http://www.dominiopublico.gov.br/ d) o texto e a pintura são baseados no contraste entre a cultura europeia e a cultura indígena. e) há forte direcionamento religioso no texto e na pintura, uma vez que o índio representado é objeto da catequização jesuítica. Questão 06 _____________________________ Leia, abaixo, o fragmento da História da Província de Santa Cruz, de Pero de Magalhães Gândavo, para responder à questão. Finalmente que como Deus tenha de muito longe esta terra dedicada à cristandade, e o interesse seja o que mais leva os homens trás si que nenhuma outra coisa haja na vida, parece manifesto querer entretê-los na terra com esta riqueza do mar até chegarem a descobrir aquelas grandes minas que a mesma terra promete, para que assim desta maneira tragam ainda toda aquela bárbara gente que habita nestas partes ao lume e ao conhecimento da nossa santa fé católica, que será descobrir-lhe outras minas maiores no céu, o qual nosso Senhor permita que assim seja, para glória sua, e salvação de tantas almas. GÂNDAVO, Pero de Magalhães. História da Província de Santa Cruz. Org. Ricardo Martins Valle. Introd. e notas Ricardo Martins Valle e Clara Carolina Souza Santos. São Paulo: Hedra, 2008. p. 115. A leitura atenta do texto permite afirmar que a) nos textos de informação estavam consorciados o projeto de exploração das novas terras descobertas e o de difusão da fé cristã. b) O autor julga desinteressante a perspectiva de exploração mercantil do Brasil, preferindo a ela o projeto de difusão da fé cristã. c) o autor condena os homens ambiciosos e interesseiros, que preferem a exploração mercantil ao projeto abnegado de difusão da fé cristã. d) o autor condena a hipocrisia dos que afirmam empreender em nome da fé cristã, mas que apenas se interessam pelas “grandes minas” a descobrir. e) havia discrepância e dissenso entre o projeto de exploração das novas terras descobertas e o de difusão da fé cristã.Questão 07 _____________________________ Quando morre algum dos seus põem-lhe sobre a sepultura pratos, cheios de viandas, e uma rede (…) mui bem lavada. Isto, porque creem, segundo dizem, que depois que morrem tornam a comer e descansar sobre a sepultura. Deitam- nos em covas redondas, e, se são principais, fazem-lhes uma choça de palma. Não têm conhecimento de glória nem inferno, somente dizem que depois de morrer vão descansar a um bom lugar. (…) Qualquer cristão, que entre em suas casas, dão-lhe a comer do que têm, e uma rede lavada em que durma. São castas as mulheres a seus maridos.” Padre Manuel da Nóbrega. O texto, escrito no Brasil colonial: a) Pertence a um conjunto de documentos da tradição histórico literária brasileira, cujo objetivo principal era apresentar à metrópole as características da colônia recém descoberta. b) Já antecipa, pelo tom grandiloquente de sua linguagem, a concepção idealizadora que os românticos brasileiros tiveram do indígena. c) É exemplo de produção tipicamente literária, em que o imaginário renascentista transfigura os dados de uma realidade objetiva. d) É exemplo característico do estilo árcade, na medida em que valoriza poeticamente o “bom selvagem”, motivo recorrente na literatura brasileira do século XVIII. e) Insere-se num gênero literário específico, introduzido nas terras americanas por padres jesuítas com o objetivo de catequizar os indígenas brasileiros.
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