Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Thaís Silva Batista | Medicina UNIFTC | 4º P 2021.1 Anamnese Psiquiátrica e Exame Psíquico A entrevista psiquiátrica possui três objetivos básicos: a formulação de um diagnóstico, a formulação de um prognóstico e o planejamento terapêutico. Anamnese Historia do paciente, o que é contato pelo paciente Identificação Queixa Principal HMA Antecedentes Psiquiátricos Antecedentes Médicos Antecedentes Familiares História Psicossocial Exame Psíquico (NÃO É ANAMNESE) Suspeita Diagnóstica Conduta Plano Terapêutico 1. IDENTIFICAÇÃO Nome (social); idade/data de nascimento; estado civil; religião; escolaridade (se atentar a esse tópico, pois pode auxiliar no diagnóstico), endereço; procedência; se tem filhos. 2. QUEIXA PRINCIPAL Sintoma + há quanto tempo. Convém relacionar no máximo três queixas, de preferência apenas uma. É redigida com as palavras do paciente (entre aspas, ou usando sic). ! O item motivo do atendimento só é necessário quando não há consciência de morbidade por parte do paciente 3. HISTORIA DA DOENÇA ATUAL Relato sobre a época e modo de início da doença, modo de evolução; a presença de fatores desencadeantes, gatilhos; momentos de melhora e piora; o impacto sobre a vida do paciente, intercorrência de outros sintomas e as queixas atuais (os sintomas aparecem em momentos diferentes então é importante saber qual veio primeiro); tratamentos efetuados. ! Fazem parte também da HDA os negativos pertinentes (sintomas cuja ausência pode ser significativa para a identificação da doença ou da fase evolutiva em que esta se encontra). 4. ANTECEDENTES PSIQUIÁTRICOS Usado apenas quando o paciente tem uma historia psiquiátrica longa. Medicações que já usou (dose e posologia, quando usou, resposta, efeitos colaterais e terapêuticos, motivo de uso); Efeitos prévios; Tentativas prévias de suicídio (como, quando, intenção). 5. ANTECEDENTES MÉDICOS: Doenças clínicas; medicações em uso; hábitos tóxicos (álcool, tabaco, drogas ilícitas); cirurgias (destaque para bariátrica); passado de TCE; alergias; enurese (xixi involuntário); sonilóquio (falar durante o sono); pesadelos frequentes; terror noturno; sonambulismo; fobia escolar, na infância; convulsões ou desmaios. ! Geralmente não possuem relação direta ou indireta de causa e efeito com a moléstia atual. Se existir essa relação, eles são incluídos na HDA. 6. ANTECEDENTES FAMILIARES: Doenças psiquiátricas (alcoolismo, depressão, ansiedade, doença mental, etc); hipotireoidismo; tumores de SNC; suicídio. 7. HISTORIA PSICOSSOCIAL (hábitos de vida) Com quem reside, relação familiar; uso de SPAs (substancias psicoativas); lazer. 8. SUSPEITA DIAGNÓSTICA Diagnóstico sindrômico: associação de sinais e sintomas que evoluem em conjunto, a síndrome é provocada por vários mecanismos e dependente de causas diversas. Exemplos de síndromes: pneumonia, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, demência, depressão, ansiedade, fóbica, obsessiva, etc. Diagnóstico etiológico (nosológico): o que o paciente tem dentro da síndrome, por exemplo, dentro da síndrome depressiva ele pode ter um episódio depressivo, um transtorno depressivo recorrente, etc; (geralmente a etiopatogenia das doenças mentais é desconhecida). Suspeita orgânica: (descartar alguns transtornos, afastar causas orgânicas que tenham repercussão psíquica). 9. CONDUTA Solicitação de exames; medicamentos; orientações (atividades físicas regulares 30min, 3-5 vezes por semana; espiritualidade; exposição ao sol 10-20min SAÚDE MENTAL ETAPAS Thaís Silva Batista | Medicina UNIFTC | 4º P 2021.1 por dia, entre 10:00 e 15:00; lazer; higiene do sono; hábitos alimentares saudáveis, meditação, atenção plena/mindfulness, yoga, exercícios de respiração, acupuntura, ventosotrapia, auriculoterapia). 10. PLANO TERAPÊUTICO: “Planejamento” para as próximas consultas; exemplos: “avaliar desmame de...”; “Avaliar mudança para tal medicamento se não houver melhora de insônia”; “Conversar sobre Eletroconvulsoterapia” (terapia de choque). Exame (físico ou psíquico) Avaliação do momento do paciente, o que é possível ver na hora. Também é chamado de exame do estado mental, exame mental, exame psi- copatológico, exame psiquiátrico. 1. APARÊNCIA: podemos observar o que está aparente, não oculto; engloba: a) Aparência quanto à idade e à saúde; b) A presença de deformidades e peculiaridades físicas; c) O modo de vestir-se e os cuidados pessoais, incluindo ordem, asseio e excentricidades; d) A expressão facial, através da mímica e enquanto sinais sugestivos de doença orgânica, depressão, ansiedade, alegria exagerada ou sem motivo aparente. Exemplo: Idade aparente superior à referida; ausência de todas as unidades dentárias; CID R46.1 – aparência pessoal bizarra; Paciente aparenta ter sido submetido a muitos procedimentos estéticos. 2. NÍVEL DE CONSCIÊNCIA: Vai desde o estado de consciência plena (percebe o que ocorre a sua volta e responde à essa percepção) até o coma (não responde à estimulação em diferentes graus). SonolÍncia: lentificação geral dos processos ideacionais, com predisposição para dormir. Obnubilação da consciência: diminuição do nível de vigília, acompanhado de dificuldade em focalizar a atenção e manter um pensamento ou comportamento objetivo. Estupor: permanece em mutismo e sem movimentos, com preservação relativa da consciência. Delirium: quadro agudo caracterizado por diminuição do nível de vigília, acompanhado de alterações cognitivas (desorientação, déficits de memória) ou perceptuais (ilusões e alucinações). Estado crepuscular: estreitamento da consciência, podendo manter comportamentos motores relativamente organizados, na ausência de um estado de consciência plena. Ocorre, predominantemente, em estados epilépticos. ! Na psiquiatria não se utiliza o termo vigio (normovigio é utilizado para descrever a vigilância que é um ramo da atenção). ! O rebaixamento do nível de consciência refere- se a um nível de consciência entre a lucidez e o coma. Perda da clareza da consciência: a percepção do mundo externo torna-se vaga e imprecisa (aumenta o limiar para a captação de estímulos externos) 3. PSICOMOTRICIDADE: Integração das funções motrizes e mentais sob o efeito da educação e do desenvolvimento do sistema nervoso. Avaliar: Velocidade e intensidade da mobilidade geral na marcha, quando sentado e na gesticulação. Agitação (hiperatividade) ou retardo (hipoatividade), a presença de tremores, de acatisia, estereotipias, maneirismos (movimentos involuntários estereotipados), tiques (movimentos involuntários e espasmódicos); Presença de sinais de catatonia (obediência automática, flexibilidade cérea - manutenção de posturas impostas por outros), resistência passiva e ativa, negativismo (resistência imotivada), estupor (lentificação motora, imobilidade) e catalepsia (manutenção de uma posição imóvel). 4. ATITUDE: Colaborativo, ansioso, abordável, calmo, hostil, cooperante, amistosa, confiante, interessada. ! O examinador não deve provocar ativamente qualquer atitude no paciente. A atitude deve ser espontânea. 5. ATENÇÃO: capacidade para centrar-se em uma atividade Vigilância: manutenção de um foco de atenção para estímulos externos. Pode estar aumentada (hipervigilante: tensa, desconfortável) e diminuída (hipovigilante: Thaís Silva Batista | Medicina UNIFTC | 4º P 2021.1 desatento,alheio a movimentação externa) ou normovigil. Tenacidade (foco especifico): não dar atenção (normotenaz: pessoa atenta/hipotenaz: pessoa dispersa, é preciso trazer o paciente de volta para a consulta). Concentração capacidade demanter a atenção voluntária, em processos internos de pensamento ou em alguma atividade mental. Para a sua observação, pode-se pedir que se subtraia, consecutivamente, o número 7, a partir do 100 (Mini Exame do Estado Mental - MEEM). 6. ORIENTAÇÃO: Autopsíquica: em relação à Pessoa: Pergunte a respeito de seus dados pessoais e investigue se reconhece familiares e as pessoas com as quais esta em contato. Alopsíquica: orientação quanto ao Tempo e Espaço 7. LINGUAGEM: Modo de se comunicar. Envolve linguagem verbal, gestos, olhar, expressão facial e escrita. Quantidade: pode demonstrar um indivíduo em mutismo, monossilábico, prolixo, não espontâneo, etc. Velocidade: pode ser rápida, lenta, hesitante, latência para iniciar respostas. Qualidade: conteúdo do discurso (pobre, elaborado), alterações na articulação das palavras, neologismo (criação de novas palavras), ecolalia (repetição da última ou das últimas palavras dirigidas ao paciente), tartamudez (gagueira). Volume: alto ou baixo. 8. PENSAMENTO: Conjunto de funções integrativas capazes de associar conhecimentos novos e antigos, integrar estímulos externos e internos, analisar, abstrair, julgar, concluir, sintetizar e criar. Avalia-se: FORMA: Relação e nexo das ideias entre si. Coerência: construção das frases em relação à sintaxe; Logicidade: pensamento fundado na realidade. Circunstancialidade: alteração na qual há expressão do pensamento por meio de detalhes irrelevantes e redundantes, porém paciente consegue chegar ao objetivo; Tangencialidade: o objetivo nunca é alcançado, ou não é claramente definido; embora o paciente fique sempre próximo ao que seria sua meta; Fuga de idéias: associações tênues ou livres FLUXO: velocidade com que as idéias passam pelo pensamento (acelerado, lentificado, adequado, ou bloqueado). CONTEÚDO: neste item investiga-se os conceitos emitidos pelo paciente e sua relação com a realidade. Conteúdo predominante; preocupações; obsessões; ideação suicida ou homicida; presença de delírios (falsa crença não compartilhada por membros do grupo sócio-cultural).nestes casos, deve ser elucidado o conteúdo do delírio. 9. HUMOR: Estado emocional de longa duração, interno, não dependente de estímulos externos. É a tonalidade de sentimento predominante. Pode influenciar a percepção de si mesmo, e do mundo ao seu redor. Eutímico (bom humor); hipotimia (sintomas depressivos), hipertimia (euforia), disforia (tonalidade afetiva desagradável, mal-humorada). 10. AFETO: Inclui a manifestação externa da resposta emocional do paciente a eventos. Avalia-se o humor/afeto pela expressão facial, gestos, tonalidade afetiva da voz, conteúdo do discurso e psicomotricidade, choro fácil, risos imotivados, etc. Qualidade do afeto: tristeza, culpa, alegria, vergonha, sintônico; distanciado - parece frio; embotado – zero afeto. Modulação do afeto: hipermodulação, hipomodulação, embotamento, rigidez; Tonalidade afetiva (humor): hipotimia (sintomas depressivos), hipertimia (euforia), disforia (tonalidade afetiva desagradável, mal-humorada). 11. SENSOPERCEPÇÃO: União do nosso psiquismo ao ambiente ao nosso redor através dos sentidos Ilusões: Ocorrem quando os estímulos sensoriais reais são confundidos ou interpretados erroneamente. Ex.: confundir a imagem de uma pessoa com outra. Alucinações: Ocorrem quando há percepção sensorial na ausência de estímulo externo (percepção sem objeto). Ex.: ouvir vozes sem que haja estímulo auditivo. Obs: Estar atento a sinais sugestivos de alucinações, mesmo quando o cliente as nega. Despersonalização: alteração na percepção de si próprio, manifestada por sentimentos de estranheza ou irrealidade. Desrealização: alteração na percepção do meio ambiente. Thaís Silva Batista | Medicina UNIFTC | 4º P 2021.1 12. INTELIGÊNCIA: Inclui raciocínio, planejamento, resolução de problemas, pensamento abstrato, compreensão de ideias complexas, aprendizagem rápida e aprendizagem a partir da experiência. Para avaliação, utiliza-se de comparação com a média esperada para o grupo sociocultural e para a faixa etária do indivíduo. ! Capacidade de abstração: capacidade de formular conceitos e idéias, compará-los, relacioná-los. Observe se o paciente recorre a analogias e metáforas. (pode ser avaliada a compreensão de provérbios); Capacidade de generalização: perguntar sobre grupos de coisas, animais. ! Juízo crítico: capacidade de perceber e avaliar adequadamente a realidade externa e separá- la dos aspectos do mundo interno ou subjetivo. Inclui a aptidão para auto-avaliação adequada e uma visão realista de si mesmo. 13. MEMÓRIA: capacidade de registrar, fixar ou reter, evocar e reconhecer objetos, pessoas, experiências ou estímulos sensoriais. Sua análise engloba a avaliação das memórias imediata, recente e remota. Imediata: que cobre os últimos 5 minutos. Recente: engloba os últimos dias e horas. Remota: desde os primeiros anos de vida. 14. VONTADE: normobúlico; hipobúlico. 15. PROSPECÇÃO: plano de futuro do paciente (presente; não, exequível; não). 16. AUTOPATOGNOSE: reconhecimento da doença, insight (presente; ausente; parcial). Exame psíquico normal Paciente com aparência bem cuidada, calmo, colaborativo. Sem alterações de psicomotricidade ou sensopercepção. Alerta, normovigil e normotenaz, orientado auto e alopsiquicamente, linguagem adequada, pensamento lógico, sem alterações de conteúdo ou curso. Eutímico, afeto sintônico. Memória e inteligência sem alterações. Normobúlico, prospecção presente e exequível. Autopatognose presente. ! A súmula psicopatológica e o exame psíquico possuem o mesmo conteúdo, sendo a súmula um resumo do exame psíquico: a partir de um exame psíquico bem feito, qualquer outra pessoa terá que formular a mesma súmula psicopatológica. ! É interessante a tentativa de estimar a intensidade das alterações quantitativas com uma maior precisão, prática comum no exame físico: por exemplo, “pensamento acelerado (3+/4+)”. É válida também a atribuição de graus de certeza quanto à presença de determinada alteração (por exemplo: “alucinações auditivas?”). Curiosidades: • Alcoolismo é mais comum em homens; • Esquizofrênicos em geral não são casados; • Pacientes com retardo mental costumam apresentar um baixo nível educacional; • Hipobulia: queda da vontade; • Abulia ou avolição: zero vontade; • Hipomania: oscilação repentina de humor; transtorno bipolar; • Anedonia: perda do prazer; • Hipovitaminose B: pode ser responsável pelo adoecimento psíquico. Exemplo de prescrição: Escotalopram 10mg 1-0-0 (1 pela mahã) Lítio 300mg 1-1-2 Fluoxetina 20mg 1-0-0 Rivotyril 0,5mg 0-0-1 Hora de praticar: 1. Sobre Exame Psíquico, qual das associações abaixo está CORRETA? a) Avolição é uma alteração da vontade. b) Prospecção é uma alteração da linguagem. c) Humor deprimido é uma alteração do afeto. d) Alucinação é uma alteração do pensamento. 2. Sobre exame psíquico, marque a correta: a) Um paciente com afeto sintônico não apresenta mudanças de mímica facial durante consulta. b) Um pensamento "delirante" tem alteração no seu conteúdo. c) A tenacidade é um ramo da atenção, neste caso, direcionada ao ambiente. d) Orientação alopsíquica se refere a como o paciente se identifica 3. Sobre anamnese psiquiátrica, marque a correta: a) Em antecedentes familiares, não devemos perguntar ao paciente se algum familiar já morreu por suicídio, pois isso pode deixá-lo constrangido, ou lhe dar "ideias". b) O histórico de cirurgias às quais o paciente foi submetido não é importante, apenas se houver neurocirurgias. c) Para fazer uma suspeita diagnóstica podemosapenas encaminhar o paciente para um clínico geral (ou geriatra, se for idoso). d) Questionar sobre o lazer do paciente pode nos ajudar a traçar suspeitas diagnósticas.
Compartilhar