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Patologias do Sistema Nevoso Capítulo 22 - Robbins Pamela Barbieri – T23 – FMBM 1 Transtornos cerebrais causados por processos patológicos que envolvem os vasos sanguíneos. Os três mecanismos patogênicos principais são 1) oclusão trombótica, 2) oclusão embólica e 3) ruptura vascular → AVE, quando essas condições apresentam sintomas agudos. Hipóxia, isquemia e infarto: • Hipóxia funcional, causada por baixa pressão parcial de oxigênio (p. ex., grande altitude), déficit na capacidade de transporte do oxigênio (ex.: anemia grave, envenenamento com monóxido de carbono) ou inibição do uso de oxigênio pelo tecido (ex.: envenenamento com cianeto). • Isquemia transiente ou permanente, devido à hipoperfusão tecidual que pode ser causada por hipotensão, obstrução vascular ou ambas. Fatores pré-disponentes: aterosclerose cerebral, hipertensão arterial, diaben tes mellitus, doenças cardíacas. Isquemia Cerebral Global A lesão isquêmico-hipóxica amplamente disseminada pode ocorrer no contexto da hipotensão sistêmica grave, (pressões sistólicas abaixo de 50 mmHg, como na parada cardíaca, choque e hipotensão grave). Resultado clínico: varia com a gravidade e a duração da agressão. Agressão branda → pode haver estado de confusão pós-isquêmico transiente, com eventual recuperação total. Isquemia cerebral grave → morte neuronal disseminada (pacientes que sobrevivem costumam continuar gravemente prejudicados neurologicamente e em estado vegetativo persistente. Outros pacientes satisfazem os critérios clínicos da chamada morte cerebral, incluindo a evidência de lesão cortical difusa (eletroencefalograma isoelétrico ou “plano”) e dano ao tronco encefálico, incluindo ausência de reflexos e estímulos respiratórios. Quando os pacientes com essa forma de lesão irreversível são mantidos em ventilação mecânica, o cérebro sofre gradualmente a autólise, resultando no conhecido “cérebro de respirador”.) Morfologia Isquemia global – cérebro fica inchado, com giros largos e sulcos estreitos, demarcação pobre entre as substâncias cinzenta e branca. Infarto cerebral – 3 categorias: 1) As alterações precoces (12-24 horas após a agressão): alteração aguda da célula neuronal (neurônios vermelhos), Os neurônios são mais suscetíveis à lesão hipóxica do que as células gliais, e os neurônios mais suscetíveis são as células piramidais do hipocampo, do neocórtex e das células de Purkinje do cerebelo. Patologias do Sistema Nevoso Capítulo 22 - Robbins Pamela Barbieri – T23 – FMBM 2 caracterizada inicialmente pela microvacuolização, seguida por eosinofilia citoplasmática e posterior picnose nuclear e cariorrexe. Ocorrem alterações similares ocorrem um pouco mais tarde nos astrócitos e oligodendrócitos. Depois disso, a reação ao dano tecidual começa com a infiltração pelos neutrófilos. 2) As alterações subagudas (24 horas a duas semanas): necrose do tecido, influxo de macrófagos, proliferação vascular e gliose reativa. 3) O reparo (após duas semanas): se caracteriza pela remoção de todo o tecido necrótico, perda de estrutura organizada do SNC e gliose. A distribuição da perda neuronal e da gliose no neocórtex é tipicamente não uniforme, com a preservação de algumas camadas e a devastação de outras — um padrão chamado necrose pseudolaminar. Os infartos de zonas limítrofes (“divisor de águas”) são áreas de infarto em forma de cunha que ocorrem nas regiões do cérebro e da medula espinhal situadas nas porções mais distais dos territórios arteriais. São vistos normalmente após episódios hipotensivos. Nos hemisférios cerebrais, a zona limítrofe entre as distribuições da artéria cerebral anterior e média corre risco maior. O dano a essa região produz uma faixa de necrose sobre a convexidade cerebral, alguns centímetros lateral à fissura inter-hemisférica. Isquemia Cerebral Focal A oclusão arterial cerebral primeiro leva à isquemia focal e depois ao infarto na distribuição do vaso comprometido. O fluxo colateral através do círculo de Willis ou das anastomoses corticais-leptomeníngeas pode limitar o dano em algumas regiões. No entanto, há pouco escoamento colateral para as estruturas como o tálamo, os gânglios basais e a substância branca profunda, que é fornecido pelos vasos penetrantes profundos. Infarto cerebral. A, Infiltração de um infarto cerebral pelos neutrófilos nas bordas da lesão onde o suprimento vascular está intacto. B, Por volta do décimo dia, uma área Patologias do Sistema Nevoso Capítulo 22 - Robbins Pamela Barbieri – T23 – FMBM 3 de infarto exibe a presença de macrófagos e gliose reativa circundante. C, Antigos infartos intracorticais são vistos como áreas de perda de tecido com quantidade modesta de gliose residual. Infartos embólicos – mais comuns. Infartos trombóticos – (trombos murais cardíacos – disfunção miocárdica, a doença valvular e a fibrilação atrial são fatores predisponentes). A tromboembolia também surge nas artérias, mais frequentemente a partir das placas ateromatosas dentro das artérias carótidas ou do arco aórtico. Outras embolias de origem venosa atravessam para a circulação arterial através de defeitos cardíacos e se alojam no cérebro; entre elas, temos a tromboembolia das veias profundas da perna e os êmbolos gordurosos. O território da artéria cerebral média, uma extensão direta da artéria carótida interna, é afetado mais frequentemente pelo infarto embólico. Os êmbolos tendem a se alojar onde os vasos se ramificam ou nas áreas de estenose, provocadas normalmente por aterosclerose. → Infartos não hemorrágicos: resultam de oclusões vasculares agudas e podem ser tratados com terapias trombolíticas. → Infartos hemorrágicos: resultam da reperfusão do tecido isquêmico, através dos colaterais ou após a dissolução dos êmbolos, e muitas vezes produzem múltiplas (e às vezes confluentes) hemorragias petequiais. Infarto cerebral. A, Corte do cérebro exibindo uma região focalmente hemorrágica grande e colorida na distribuição esquerda da artéria cerebral média (infarto hemorrágico ou vermelho). B, Um infarto com hemorragias pontuais, consistente com lesão isquêmica-reperfusão, está presente no lobo temporal. C, Antigo infarto cístico exibe destruição do córtex e gliose circundante. Morfologia do infarto focal: Infarto não hemorrágico → evolui ao longo do tempo. 6 primeiras horas - aspecto inalterado. 48 horas depois - tecido se torna pálido, macio e entumescido. Patologias do Sistema Nevoso Capítulo 22 - Robbins Pamela Barbieri – T23 – FMBM 4 2º ao 10º dia - o cérebro fica gelatinoso e friável, a fronteira entre o tecido normal e anormal se torna mais distinta à medida que o edema se resolve no tecido viável adjacente. 10º a 3ª semana - tecido se liquefaz e acaba deixando uma cavidade cheia de líquido revestida por tecido cinzento escuro que se expande gradualmente à medida que o tecido morto é reabsorvido. Sequência característica - após as primeiras 12 horas, a alteração neuronal isquêmica (neurônios vermelhos) e o edema citotóxico e vasogênico predominam. As células endoteliais e gliais, principalmente os astrócitos, intumescem e as fibras mielinizadas começam a se desintegrar. Em até 48 horas, há alguma emigração neutrófila, seguida pelas células fagocitárias mononucleares durante as 2-3 semanas subsequentes. Os macrófagos contendo mielina ou produtos da degradação dos eritrócitos podem persistir na lesão por meses até anos. À medida que o processo de fagocitose e liquefação avança, os astrócitos nas bordas da lesão aumentam progressivamente, se dividem e desenvolvem uma rede proeminente de extensões citoplasmáticas. Após vários meses, o notável aumento nuclear e cito plasmático dos astrócitos regride. Na parede da cavidade, os processos de astrócitos formam uma densa rede de fibras gliais misturadas com novos capilares e algumas fibras de tecido conjuntivoperivascular. No córtex cerebral, a cavidade é de limitada a partir das meninges e do espaço subaracnóideo por uma camada gliótica de tecido, derivada da camada molecular do córtex. A pia e a aracnoide não são afetadas e não contribuem para o processo de cura. A imagem microscópica e a evolução do infarto hemorrágico se comparam às do infarto isquêmico, com a adição do extravasamento e reabsorção sanguínea. Infarto cerebral Patologias do Sistema Nevoso Capítulo 22 - Robbins Pamela Barbieri – T23 – FMBM 5 Tecido nervoso normal. Neurônios vermelhos. Neurônios vermelhos Patologias do Sistema Nevoso Capítulo 22 - Robbins Pamela Barbieri – T23 – FMBM 6 Picnose eosinofilia. Patologias do Sistema Nevoso Capítulo 22 - Robbins Pamela Barbieri – T23 – FMBM 7 Macrófagos com citoplasma espumoso. GFAP, o centro da lesão, que corresponde a necrose CD68 marca macrófagos, derivados da micróglia ou de monócitos do sangue. Infartos lacunares: Patologias do Sistema Nevoso Capítulo 22 - Robbins Pamela Barbieri – T23 – FMBM 8 Pequenas cavidades (lacunas) nos núcleos da base são comuns em pacientes hipertensos crônicos. Hemorragia intracraniana As hemorragias dentro do cérebro estão associadas a (1) hipertensão e outras doenças que levam à lesão da parede vascular, (2) lesões estruturais, como as malformações arteriovenosas e cavernosas, e (3) tumores. As hemorragias subaracnóideas são causadas mais frequentemente por aneurismas rompidos, mas também ocorrem com outras malformações vasculares. As hemorragias subdurais ou peridurais geralmente estão associadas com trauma. Hemorragia Parenquimatosa Cerebral Primária As hemorragias intraparenquimatosas espontâneas (não traumáticas) são mais comuns em idosos (60 anos) → maioria se deve à ruptura de um pequeno vaso intraparenquimatoso. Hipertensão é a principal causa subjacente. Hemorragia cerebral contribui para aproximadamente 15% das mortes entre as pessoas com hipertensão crônica. Pode ser devastadora quando afeta grandes porções do cérebro e se estende para o sistema ventricular; pode afetar pequenas regiões e ser clinicamente silenciosa. As hemorragias intraparenquimatosas hipertensivas ocorrem tipicamente nos gânglios basais, tálamo, pontes e cerebelo, com a localização e o tamanho do sangramento determinando as suas manifestações clínicas. Morfologia As hemorragias agudas são caracterizadas pelo sangue extravasado que comprime o parênquima adjacente. Com o tempo, as hemorragias são convertidas em uma cavidade com borda de cor marrom. Ao exame microscópico: lesões iniciais consistem em sangue coagulado circundado por tecido cerebral exibindo alterações neuronais e gliais anóxicas e também edema. No fim das contas, o edema se resolve, aparecem os macrófagos carregados de pigmento e lipídios, e a proliferação dos astrócitos reativos se torna visível na periferia da lesão. Os eventos celulares seguem o mesmo curso observado após o infarto cerebral. Patologias do Sistema Nevoso Capítulo 22 - Robbins Pamela Barbieri – T23 – FMBM 9 Causas: Angiopatia Amiloide Cerebral → doença em que os peptídeos amiloidogênicos, os mesmos encontrados na doença de Alzheimer, se depositam nas paredes dos vasos meníngeos e corticais de médio e pequeno calibre (enfraquecimento das paredes e aumento do risco de ruptura). Ocorrem frequentemente nos lobos dos córtex. Hemorragia Subaracnóidea e Aneurismas Saculares → causa mais frequente de hemorragia subaracnóidea não traumática é a ruptura de um aneurisma sacular (ou berry), também pode resultar de malformação vascular, trauma, ruptura de uma hemorragia intracerebral no sistema ventricular, distúrbios hematológicos e tumores. A ruptura pode ocorrer a qualquer momento, mas em cerca de 1/3 dos casos está associada a aumentos agudos na pressão intracraniana, tal como no esforço durante a defecação ou no orgasmo sexual. O sangue sob pressão arterial é forçado para dentro do espaço subaracnóideo → dor de cabeça súbita lancinante (“pior dor de cabeça que eu já tive”) e perde rapidamente a consciência. De 25-50% das pessoas afetadas morrem no primeiro sangramento, e os sangramentos recorrentes são comuns nos sobreviventes e o prognóstico piora a cada episódio de sangramento. 90% dos aneurismas saculares → ocorrem na circulação anterior perto dos principais pontos de ramificação arterial. 20-30%, há vários aneurismas. Podem ser congênitos (se desenvolvem devido a defeitos nos vasos). Patologias do Sistema Nevoso Capítulo 22 - Robbins Pamela Barbieri – T23 – FMBM 10 Corte através de um aneurisma sacular exibindo a parede fibrosa hialinizada do vaso. Além dos aneurismas saculares, os aneurismas ateroscleróticos, micóticos, traumáticos e dissecantes também ocorrem intracranialmente. Os aneurismas não saculares se manifestam normalmente com infarto cerebral devido à oclusão vascular em vez de hemorragia subaracnóidea.
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