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EXPERIMENTO 2: EXTRAÇÃO* Letícia Maciel de Souza¹, Luciana Alberti¹, Nathana Barilli¹ ¹Acadêmicas do curso de Engenharia Química CEO/UDESC O artigo utiliza a extração por fluido supercrítico (SFE) com dióxido de carbono como operação unitária envolvida no processo. O produto de interesse é o óleo de gerânio, um importante ingrediente na formulação de perfumes e cosméticos, extraído do gerânio rosa (Pelargonium sp.) uma planta cultivada em Portugal. A extração com fluidos supercríticos, em especial o dióxido de carbono, é uma tecnologia em ascensão, considerada segura e ecologicamente correta e, diferentemente dos solventes orgânicos, não deixa traços de contaminantes nos extratos. A técnica permite a produção de aromas e fragrâncias personalizadas, visto que a seletividade do fluido supercrítico pode ser ajustada pelas condições de operação. Contudo, é um processo caro devido aos altos custos de investimentos e precauções de segurança (trabalha com pressões elevadas). O emprego da extração supercrítica é vantajosa apenas quando o produto possui alto valor agregado. O óleo de gerânio é um extrato muito valioso para a indústria de perfumes e cosméticos. Ele pode ser utilizado como substituto floral do perfume de rosas, pois possui “um aroma rosado”. O autor escolheu este material pelo fato que “Portugal apresenta um grande potencial de exploração deste recurso natural, uma vez que a planta está bem adaptada ao clima e solo local”. ● Projeto e construção de um novo equipamento SFE Neste trabalho, o autor utilizou uma nova configuração para o SFE, projetada e construída desde o início. O equipamento foi construído em aço inoxidável e projetado para trabalhar até 200 bar. O controle do processo foi feito através de um painel de controle, onde estão montadas todas as válvulas e manômetros. O equipamento SFE é muito compacto (todo o conjunto cabe em uma bancada de trabalho de 1,50 m de largura), flexível e fácil de operar. A configuração do SFE foi dividida em quatro áreas em termos de pressão de operação, sendo estas descritas na tabela 1. Tabela 1 - Configuração do SFE Área Pressão de operação (bar) Descrição 1 – Média pressão 60 CO2 99,9% foi fornecido ao sistema e refrigerado antes de entrar na bomba. 2 – Alta pressão 80-200 O CO2 foi comprimido e aquecido a condições supercríticas e realizada a extração. 3 – Média pressão 20-50 Primeira etapa de despressurização feita através da válvula de regulagem, VR1. 4 – Baixa pressão 1-6 Segundo estágio de despressurização através da válvula de regulagem VR2. O extrato é recuperado do CO2 corrente. ● Material vegetal As amostras consistiram em folhas verdes da planta de gerânio rosa Pelargonium sp. A planta foi colhida de Dezembro 2004/ Janeiro de 2005, no Norte de Portugal (clima úmido). Ela foi seca ao ar durante a noite, à temperatura ambiente (10–15°C), durante aproximadamente 15 h. As folhas foram cortadas em pequenos pedaços de 5 a 20 mm. Para estudar o efeito do pré-tratamento da matriz, a planta foi congelada e então moída em partículas de tamanho pequeno de 1-5 mm. ● Extração de fluido supercrítico O extrator foi preenchido com amostra da planta de gerânio, fechado e colocado no forno (a massa utilizada para cada extração foi de 122,5 g). O sistema foi pressurizado para a pressão definida de extração. A estabilidade da pressão e temperatura levou de 18 a 20 minutos. As condições operacionais usadas nos experimentos são mostradas na tabela 2. Tabela 2 - Condições operacionais Parâmetros variáveis Parâmetros constantes Tempo de extração (t):5, 15, 30, 60, 180 min T = 60°C, P = 100 bar Temperatura (t): 40, 80, 100 °C t = 120 min, P = 100 bar Pressão (p): 80, 160 bar t = 120 min, T = 60°C Pré tratamento: planta cortada (5-20mm), planta moída (1-5 MM) t = 120 min, T = 60°C, P = 100 bar Modo de operação: estático (15 min), dinâmico (15 min); 1,6 kg CO2/h T = 60°C, P = 100 bar Condições de referência: t = 120 min, T = 60°C, P= 100 bar, planta cortada e modo estático. Figura 1 - Layout de configuração de extração de fluido supercrítico (SFE). Fonte: GOMES, 2006. Os experimentos foram realizados no modo estático, exceto por um experimento no modo dinâmico (com fluxo contínuo de CO2). No modo estático, após o extrator ser pressurizado e aquecido até as condições de operação desejadas, a amostra foi deixada em contato com o CO2 supercrítico por 120 min, fechando a válvula V3. No final do tempo de extração, a válvula V3 foi aberta e o extrato foi coletado. A recuperação do extrato foi feita através de um separador colocado após a VR2, em baixa pressão, depois duas etapas de despressurização. O separador foi disposto em um banho de resfriamento de gelo e sal (-10°C a -5°C) para facilitar na retenção do extrato. Como a massa obtida foi muito pequena, foi necessário usar uma armadilha de solvente (hexano) para recuperar o extrato final. Como amostra controle para composição dos extratos, foi obtido o óleo essencial por hidrodestilação, da mesma planta de gerânio utilizada nos experimentos de SFE. As condições de hidrodestilação foram: tempo de extração 2 h, 20 g de planta verde fresca e 600 mL de água desionizada). O método analitico empregado foi a caracterização de extratos SFE por GC / MS: A composição dos extratos foi determinada por GC / MS análise do absoluto obtido (extrato solúvel em etanol). Cromatografia gasosa GC / FID e GC / MS foram realizados em paralelo, usando um instrumento Varian CP-3800. A temperatura do forno foi programada isotérmica em 50 ° C por 5 min, então aumentada de 50 para 200 °C a 2 °C / min e no final mantida isotérmica por 40 min. Os injetores foram ajustados a 240 ° C, com uma proporção de divisão de 1/50 para FID e 1/200 para MS. O detector FID foi mantido em 250 ° C. O volume de amostra injetado foi de 1 μL. O gás de arraste foi o hélio He N60, a uma taxa de fluxo de 1 mL / min. A composição foi expressa em valores percentuais calculados diretamente das áreas de pico do GC, em uma base sem solvente e sem aplicação de fatores de correção. Neste estudo avaliou-se o efeito dos parâmetros operacionais sobre o rendimento da extração e composição dos extratos. As variáveis estudadas foram o tempo de extração, pressão, temperatura, taxa de fluxo do solvente, pré-tratamento da planta, seu modo operacional e projeto do extrator. Entre as variáveis avaliadas, pressão e temperatura são as mais importantes, estas afetam a seletividade do fluido supercrítico, rendimento e taxa de extração, especialmente nas proximidades do ponto crítico. O extrato SFE, foi obtido nas condições operacionais de referência (60°C, 100 bar, 120 min), o seu rendimento foi calculado como sendo a razão entre a massa de óleo essencial/ extrato obtido, pela massa de planta fresca que foi utilizada na extração. Os resultados obtidos para a extração com fluido supercrítico podem ser observados na figura 2, na qual temos a faixa de rendimentos de extração obtidos por hidrodestilação (HD), extração de solvente com hexano (SE) e extração de fluido supercrítico (SFE). É possível notar que os rendimentos são distintos para cada um dos métodos considerados. O método de hidrodestilação obteve o menor rendimento. Isto se deve por este método oferecer apenas a fração volátil constituída de óleo essencial, enquanto o método SE apresentou o maior rendimento devido o mesmo ter apresentado um extrato completo, no qual foram obtidos além do óleo, pigmentos e ceras. Por outro lado, a técnica realizada neste estudo, mostrou valores intermediários em relação às outras técnicas, mostrando-se mais seletivo em relação a extração de solvente com hexano, mas ainda tendo uma coextração de não solúveis. Comparando SFE nas condições operacionais de referência e hidrodestilação,além da diferença nos teores de linalol, foram encontradas pequenas diferenças na composição, exceto para o germacreno-D e componentes formato de geranil, cuja quantidade praticamente dobrou no extrato de SFE. Para a maioria dos componentes analisados a extração por fluido supercrítico superou os valores de HD, mostrando-se mais eficiente na extração de fragrâncias que a hidrodestilação. Considerando a técnica de extração por solvente, o extrato SFE era mais rico em componentes voláteis e terpenos de hidrocarbonetos do que o extrato de hexano. Conclui-se que o SFE também foi um método de extração mais eficiente quando comparado a extração com solvente. Para analisar a influência dos parâmetros na composição dos extratos SFE, quatro grupos de fragrâncias, principais tipos de componentes foram considerados. São eles: F1 - a fração mais volátil, constituída por óxido de rosa e isomentona. F2 - a fração característica, constituída por guaia-6,9-dieno e formato de citronelol. F3 - a fração com aroma de rosa, composta de citronelol e geraniol (fração de rodinol) e F4 - a fração de baixa volatilidade, com geranil tiglato e feniletil tiglato. Todas estas foram comparadas com o óleo essencial. Ainda falando da influência dos parâmetros utilizados, conclui-se que o tempo de extração não afetou significativamente a composição e o rendimento de SFE. Entretanto, a pressão afetou significativamente, como pode ser visto na tabela 4. Dobrando o valor de pressão, de 80 para 160 bar o rendimento aumentou mais de 10 vezes. Os resultados mostram que apenas para os componentes mais voláteis, o aumento da quantidade solúvel foi significativo, quando aumentada a pressão. Outro parâmetro analisado foi a temperatura, observou-se que uma variação da temperatura de 40°C para 100°C ocasionou diminuição do rendimento, que ficou três vezes menor. Por outro lado, comparando as composições nota-se que a temperatura afetou de maneira diferente o comportamento dos componentes. Em relação ao pré-tratamento da planta, o rendimento de extração obtido usando a planta congelada moída foi 25% superior ao rendimento obtido com a planta fresca cortada. Isto porque ao moer a planta a área de superfície de contato é aumentada. Considerando a influência deste parâmetro na composição, o conteúdo nos componentes mais voláteis (F1) aumentou a fração perfumada (F3) diminuiu 8 e 20%, respectivamente, enquanto a quantidade dos compostos em F2 aumentou 27%. Em F4 o efeito não foi significativo. Este resultado revelou que houve perda dos componentes voláteis durante o processo de moagem, mesmo que a planta fosse moída congelada, enquanto os componentes não polares (F2), são melhor extraídos quando a área de contato com o solvente é aumentada. Observa-se também que o rendimento de extração usando o modo de operação dinâmico aumentou 43% em relação ao rendimento obtido com o modo de operação estático. Além das análises já realizadas neste estudo, seria possível realizar um teste para determinação do índice de acidez presente no óleo de gerânio. Esta análise físico-química é comumente utilizada para determinação de acidez em óleos. Sua importância está relacionada ao fornecimento de um dado importante na avaliação do estado de conservação do óleo. Tendo em vista que a decomposição de glicerídeos é responsável pela formação de rancidez e que esta muitas vezes é acompanhada de ácidos graxos, os mesmos são expressos em termos de índice de acidez. Este índice é definido como a massa de NaOH necessária para neutralizar um grama de amostra. A determinação da acidez é dada por titulação. A análise poderia ser realizada pesando-se as amostras, homogeneizadas em solução de éter: álcool na proporção (2:1) v/v e titulação das amostras utilizando solução de hidróxido de sódio previamente padronizada. Realizar em duplicata visando à precisão analítica e os resultados expressos em teor de ácido oléico/ 100g da amostra. Com os resultados apresentados no artigo, poderia ter sido realizado também o cálculo de desvio padrão médio para avaliar a questão do erro do modelo e também determinar as regiões de temperatura e pressão em que ocorre a máxima extração através de gráfico para melhor visualização do ponto e para que o artigo fosse mais didático. Se este experimento fosse realizado no DEAQ-UDESC toda a parte de preparo da amostra, separação e tratamento das folhas poderia ser realizado nos laboratórios disponíveis, o material poderia ser seco de forma natural, sob a bancada em contato com o ar atmosférico ou utilizando estufas para otimizar o processo. Após o preparo das amostras o material a ser analisado seria submetido ao processo de extração enzimática, na qual utiliza-se uma enzima específica para determinado tipo de óleo. A técnica consiste no uso de enzimas que utilizam moléculas de água para romper a parede celular da planta e extrair o óleo presente, em meio aquoso. Poderia ser utilizado um agitador tipo “shaker”, para facilitar o contato entre o extrato e a enzima e diminuir o tempo de extração. O óleo então pode ser separado da água através da centrifugação. Esta alternativa poderia ser desenvolvida desde que houvesse a disponibilidade da enzima específica, ou poderíamos desenvolver um estudo buscando enzimas alternativas que conseguissem realizar o mesmo experimento, porém com baixo custo. Referências: Ecycle. Conheça as técnicas de extração de óleos vegetais. Disponível em: <https://www.ecycle.com.br/3182-extracao-de-oleos- vegetais#:~:text=A%20extra%C3%A7%C3%A3o%20enzim%C3%A1tica%20consiste%20n o,utiliza%20solventes%20org%C3%A2nicos%2C%20por%20exemplo.> Acesso em: 24/11/2020. https://www.ecycle.com.br/3182-extracao-de-oleos-vegetais#:~:text=A%20extra%C3%A7%C3%A3o%20enzim%C3%A1tica%20consiste%20no,utiliza%20solventes%20org%C3%A2nicos%2C%20por%20exemplo https://www.ecycle.com.br/3182-extracao-de-oleos-vegetais#:~:text=A%20extra%C3%A7%C3%A3o%20enzim%C3%A1tica%20consiste%20no,utiliza%20solventes%20org%C3%A2nicos%2C%20por%20exemplo https://www.ecycle.com.br/3182-extracao-de-oleos-vegetais#:~:text=A%20extra%C3%A7%C3%A3o%20enzim%C3%A1tica%20consiste%20no,utiliza%20solventes%20org%C3%A2nicos%2C%20por%20exemplo
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