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O ESTUDO DE CASO COMO ESTRATÉGIA METODOLÓGICA PARA O ENSINO DE QUÍMICA NO NÍVEL MÉDIO CASE STUDY AS A METHODOLOGICAL STRATEGY TO CHEMISTRY TEACHING IN HIGH SCHOOL Maurícius Selvero Pazinato [mauriciuspazinato@gmail.com] Mara Elisa Fortes Braibante [maraefb@gmail.com] Universidade Federal de Santa Maria, Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde, Campus UFSM, Camobi, Departamento de Química (Prédio 18), sala 2119, Santa Maria – RS, CEP 97105900. RESUMO O método Estudo de Casos tem origem na metodologia “Aprendizagem Baseada em Problemas” e consiste em narrativas de situações complexas que necessitam do conhecimento científico para a tomada de decisão. Os objetivos deste trabalho são apresentar o caso “A saúde de Maria Eduarda”, relatar sua aplicação em uma turma da 3ª série do ensino médio como parte de uma intervenção baseada na temática “Alimentos”, bem como discutir sua contribuição em relação à formação científica e cidadã dos participantes desta pesquisa. Os resultados demonstram que esta metodologia auxilia os estudantes na interpretação de textos, promove a capacidade de identificação e resolução de problemas, além de possibilitar a aplicação dos conteúdos de Química em situações do cotidiano. PALAVRAS-CHAVE: estudo de caso; estratégia; ensino de Química. ABSTRACT The Case Study method has its origin in the “Problem-Based Learning” methodology and consists of narratives of complex situations which need scientific knowledge for decision making. The purposes of this paper are to present the case “Maria Eduarda’s Health”, to describe its application in a Senior High School group as part of an intervention based on the theme “Food”, as well as to discuss its contribution concerning the civic and scientific education of the participants of the survey. The results show that this methodology helps the students in textual interpretation, promotes the ability to identify and solve problems and, in addition, enables the application of Chemistry contents in everyday situations. KEYWORDS: Case Study; strategy; Chemistry teaching. 2 | P á g i n a I S S N : 2 1 7 6 - 1 4 7 7 O ESTUDO DE CASO PARA O ENSINO DE QUÍMICA... REVISTA CIÊNCIAS&IDEIAS VOL. 5, N.2.MAI/AGO -2014 INTRODUÇÃO A busca por metodologias que sejam aliadas dos professores no desenvolvimento dos conteúdos de Química tem suscitando diversos estudos. Muitas propostas vêm sendo apresentas, a partir da ideia da construção do conhecimento por meio da utilização de “problemas” no ensino de Ciências. Em específico, neste trabalho trataremos da utilização do método Estudo de Casos no Ensino de Química. Antes de apresentarmos os pressupostos que orientam esse método, uma reflexão a respeito da problematização no Ensino de Ciências nos parece conveniente ser feita. No livro A necessária renovação do Ensino de Ciências, Cachapuz e colaboradores (2011) apresentam algumas considerações acerca do problema para a Ciência sob a perspectiva de dois importantes pensadores da área. Simplificadamente, para Bachelard, sem a interrogação não pode haver conhecimento científico e para Popper toda a discussão científica deve partir de um problema. Com respaldo nesses comentários, corroboramos com a ideia de Cachapuz e colaboradores (2011) quando finalizam essa discussão e propõem que é nos problemas que encontramos uma das principais fontes de motivação intrínseca, que deve ser estimulada no sentido de se criar nos alunos um clima de verdadeiro desafio intelectual, um ambiente de aprendizagem de que as nossas aulas de Ciências são hoje tão carentes (CACHAPUZ et al., 2011: 76). Nesse contexto, a metodologia de ensino Estudo de Casos tem origem no método Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), conhecido também como Problem Based Learning (PBL), que surgiu no final dos anos sessenta na Escola de Medicina da Universidade de McMaster localizada na cidade de Ontário, Canadá (SÁ e QUEIROZ, 2009; QUEIROZ et al., 2007; SILVA et al., 2011). Como uma das variantes do ABP, “o Estudo de Caso é um método que oferece aos estudantes a oportunidade de direcionar sua própria aprendizagem, enquanto exploram a Ciência envolvida em situações relativamente complexas” (QUEIROZ et al., 2007: 731). Algumas de suas principais definições são: os Estudos de Casos são histórias com uma determinada mensagem, não são simples narrativas para entretenimento, são histórias para ensinar (HERREID, 1998). Para Serra e Vieira (2006: 10) “casos são relatos de situações ocorridas no ‘mundo real’, apresentadas a estudantes com a finalidade de ensinar, preparando-os para a prática”. O método de Estudo de Casos consiste na utilização de narrativas – os casos propriamente ditos – sobre dilemas vivenciados por indivíduos que necessitam tomar decisões ou buscar soluções para os problemas enfrentados (SILVA et al., 2011: 186). No livro Estudo de Casos no ensino de Química, as autoras Luciana Passos Sá e Salete Linhares Queiroz enunciam que: 3 | P á g i n a I S S N : 2 1 7 6 - 1 4 7 7 O ESTUDO DE CASO PARA O ENSINO DE QUÍMICA... REVISTA CIÊNCIAS&IDEIAS VOL. 5, N.2.MAI/AGO -2014 O Estudo de Casos é um método que oferece aos estudantes a oportunidade de direcionar sua própria aprendizagem e investigar aspectos científicos e sociocientíficos, presentes em situações reais ou simuladas, de complexidade variável. Esse método consiste na utilização de narrativas sobre dilemas vivenciados por pessoas que necessitam tomar decisões importantes a respeito de determinadas questões. Tais narrativas são chamadas casos (SÁ e QUEIROZ, 2009: 12). O ensino de Química demanda a relação de dois componentes básicos: a informação química e o contexto social (SANTOS e SCHNETZLER, 2003), sendo que o entendimento dos conteúdos químicos auxilia na formação de cidadãos informados, capacitando a sua atuação na sociedade. O Estudo de Caso é uma proposta capaz de atender a essa demanda, pois enfatiza o aprendizado autodirigido dos conceitos químicos e o desenvolvimento da habilidade de tomada de decisões que se fundamentam nos conceitos científicos. Nesse sentido, os objetivos deste artigo são apresentar o caso “A saúde de Maria Eduarda”, relatar sua aplicação em uma turma da 3ª série do ensino médio, bem como discutir os resultados obtidos em relação à formação científica e cidadã dos participantes desta pesquisa. A utilização do Estudo de Casos no ensino de Química está evidenciada nos trabalhos apresentados em congressos e artigos publicados em revistas da área de Educação em Ciências. As iniciativas de popularização dessa metodologia de ensino na área da Química devem-se principalmente aos periódicos Journal of Chemical Education, The Chemical Educator e Chemistry Education Research and Practice, sendo que o primeiro criou uma seção específica para abordar este método em 1998. No Brasil, o método foi introduzido pelo Grupo de Pesquisa em Ensino de Química do Instituto de Química de São Carlos (GPEQSC) da Universidade de São Paulo, que produziram casos abordando questões sociocientíficas e científicas (SÁ e QUEIROZ, 2009). Um levantamento bibliográfico apresentado por Pinheiro et al. (2010) realizado nos periódicos Química Nova, The Chemical Educator, Chemical Education Research and Practice, International Journal of Educational Development, Journal of Chemical Education, dentre outros, verificou a existência de 35 artigos científicos publicados entre 1980 e 2009, abordando o Estudo de Casos como uma ferramenta para o ensinode Química. Apesar desse considerável número, poucos trabalhos estavam relacionados com o aprimoramento dos conceitos químicos no nível médio, sendo grande parte deles voltados para o ensino de Química na graduação e pós- graduação. Atualmente, algumas propostas utilizando o Estudo de Caso no ensino médio são encontradas com maior frequência na literatura. Dentre elas, destacamos o trabalho de Silva e colaboradores (2011) que utiliza o caso “SOS Mogi-Guaçu: mortandade de 4 | P á g i n a I S S N : 2 1 7 6 - 1 4 7 7 O ESTUDO DE CASO PARA O ENSINO DE QUÍMICA... REVISTA CIÊNCIAS&IDEIAS VOL. 5, N.2.MAI/AGO -2014 peixes no pesqueiro Recanto do Sentado” com estudantes da 2ª série do ensino médio. Na perspectiva de uma educação sustentável e para a cidadania, através desse caso os estudantes tiveram a oportunidade de discutir sobre poluição aquática, tipos de agrotóxicos e suas implicações para os seres vivos, despejos de esgotos em rios, processos de eutrofização, entre outros temas de importância ambiental. Os autores também enfatizam que essa estratégia de ensino promoveu nos estudantes o desenvolvimento da comunicação escrita, da argumentação e persuasão, da capacidade de trabalhar em grupo e de investigar e solucionar problemas. Ainda em uma problemática ambiental, Sousa e colaboradores (2012) estruturaram o “Caso das macieiras da serra”, que suscitou a discussão de questões como o controle de pragas na agricultura e seus impactos sociais, ambientais e econômicos, além de possibilitar aos estudantes da 3ª série do ensino médio a utilização do conceito de isomeria para a explicação ou resolução do problema. O trabalho de Alba e colaboradores (2013) também utiliza a proposta metodológica Estudo de Casos no nível médio. O caso “Automedicação: uma opção perigosa!” foi aplicado a uma turma da 2ª série do ensino médio que estava iniciando seus estudos em Química Orgânica e foi utilizado para o ensino de funções orgânicas. Segundo os autores, a metodologia empregada favoreceu aprendizagens conceituais, desenvolvimento de habilidades, além de motivar os estudantes que se envolveram nas atividades desenvolvidas. A fim de contribuir com mais uma proposta de utilização do Estudo de Casos no ensino médio, foi elaborado e aplicado pelos autores deste trabalho o caso “A saúde de Maria Eduarda”. A seguir, apresentaremos os objetivos e pressupostos em que nos baseamos para sua elaboração. OBJETIVOS DO ESTUDO DE CASO E PRESSUPOSTOS PARA SUA ELABORAÇÃO O método de Estudo de Casos muitas vezes é empregado com o objetivo de promover competências e habilidades nos estudantes como, por exemplo, interpretação de textos, resolução de problemas e tomada de decisões, porém sua utilização em sala de aula não é tão fácil quanto parece. O método exige uma participação ativa do professor, que tem um papel indispensável na aprendizagem dos alunos, sua atuação não se limita a simples escolha ou à redação de um caso e a sua aplicação. Essa metodologia de ensino exige muito do professor, pois antes da aplicação do caso há um trabalho extenso e minucioso por parte de quem o escreveu (que pode ser o docente ou não), a preparação cuidadosa executada pelo professor que vai aplicá-lo, bem como a exigência de dominar o assunto e sua aplicabilidade para as possíveis discussões em aula. Após a aplicação do caso, o professor deve se 5 | P á g i n a I S S N : 2 1 7 6 - 1 4 7 7 O ESTUDO DE CASO PARA O ENSINO DE QUÍMICA... REVISTA CIÊNCIAS&IDEIAS VOL. 5, N.2.MAI/AGO -2014 dedicar à avaliação do processo em si e das apresentações dos grupos e dos estudantes individualmente. Desta forma, a aplicação de um estudo de caso contempla três etapas (Figura 1), sendo que a primeira se divide em outras três (SERRA e VIEIRA, 2006). Figura 1- Etapas da aplicação do Estudo de Caso. Através da aplicação de um estudo de caso podem ser almejados os seguintes objetivos educacionais: introduzir conteúdos específicos; estimular a capacidade de tomada de decisão; demonstrar a aplicação de conceitos químicos na prática; desenvolver a habilidade em resolver problemas; desenvolver a habilidade de comunicação oral e escrita; trabalhar em grupo e o pensamento crítico. Para tanto, é necessário que estudantes e professor cumpram algumas tarefas básicas que estão elencadas no Quadro 1, que foi elaborado a partir das ideias de Sá e Queiroz (2009). Tarefas dos estudantes Tarefas do professor - Identificar e definir o problema. - Acessar, avaliar e usar informações necessárias à resolução do problema. - Apresentar a solução do problema. - Ajudar o estudante a analisar o problema, buscar informações sobre o assunto, considerar suas possíveis soluções. - Incentivar a reflexão sobre as consequências das decisões tomadas. Quadro 1- Tarefas para o bom andamento do Estudo de Caso Em relação à elaboração de um “bom” estudo de caso, alguns aspectos devem ser considerados pelos autores. O Quadro 2 elenca algumas características de um estudo de caso “bom” e outro “ruim”, que foram organizadas com base nas ideias de Herreid (1998) e Serra e Vieira (2006). 6 | P á g i n a I S S N : 2 1 7 6 - 1 4 7 7 O ESTUDO DE CASO PARA O ENSINO DE QUÍMICA... REVISTA CIÊNCIAS&IDEIAS VOL. 5, N.2.MAI/AGO -2014 Características de um estudo de caso “ruim” Características de um estudo de caso “bom” - apresentar apenas a descrição dos fatos; - apresentar uma história sem foco definido; - não deixar claro o problema a ser discutido; - não conter informações necessárias para o esclarecimento do caso; - não mostrar o ambiente com o qual o assunto ou a organização estão envolvidos; - ser longo. - abordar um assunto relevante, que desperte interesse e atual; - possibilitar que haja empatia entre os estudantes e os personagens centrais; - incluir declarações e comentários dos personagens; - ser construído com objetivo didático claro; - apresentar fatos claros, precisos, abrangentes e que contenham todos os dados que os estudantes possam precisar para tomar decisões; - possibilitar a reflexão de situações usuais do mundo real; - provocar um conflito (fatos controversos); - ser curto. Quadro 2- Características do Estudo de Caso “bom” e “ruim”. Um exemplo de um “bom” caso, de acordo com as recomendações propostas por Herreid (1998) e Serra e Vieira (2006), é o “Ameaça nos Laranjais” (SÁ, 2006). Este caso é apresentado no Quadro 3, em que destacamos as principais características que devem ser consideradas para a produção de um “bom” caso. 7 | P á g i n a I S S N : 2 1 7 6 - 1 4 7 7 O ESTUDO DE CASO PARA O ENSINO DE QUÍMICA... REVISTA CIÊNCIAS&IDEIAS VOL. 5, N.2.MAI/AGO -2014 Quadro 3- O Caso “Ameaça nos Laranjais” e a identificação dos elementos que auxiliam na elaboração de um “bom” caso Ameaça nos Laranjais Aproximadamente há três anos, em laranjais do município mineiro de Comendador Gomes, a poucos quilômetros da divisa com São Paulo, foi identificada pela primeira vez uma doença estranha, de origem misteriosa, que aniquila uma laranjeira emalgumas semanas e, atualmente representa a maior ameaça para a citricultura do estado de São Paulo e do sul de Minas Gerais. Alfredo sempre morou e estudou em Barretos, onde concluiu o ensino médio juntamente com alguns amigos de infância. Depois de tantos anos estudando juntos, finalmente a separação foi inevitável. Alfredo prestou vestibular para odontologia na UNESP de Araraquara e George para letras, na mesma universidade. Fernando, Solange, Fabiana e Milena optaram por química na USP de São Carlos. Ao visitar a família no feriado, Alfredo tomou conhecimento de coisas estranhas que ocorriam por lá. Logo ao amanhecer, ao tomar café, seus pais, Seu Joaquim e Dona Cecília, lhe contaram o que está acontecendo. - Filho, os laranjais das nossas terras estão com uma misteriosa doença, perderam as folhas, que estão ficando sem brilho e algumas até já morreram. Estamos preocupados porque necessitamos da renda que vem desses laranjais, inclusive para manter você na universidade. - Pai, eu não entendo nada de agricultura, mas posso pedir ajuda aos meus colegas que estão morando em São Carlos. Eles estudam química e talvez possam nos ajudar a eliminar o problema que escrever uma carta e contar a eles o nosso problema. Vou fazer isso agora mesmo. Barretos, 07 de setembro de 2004. Olá, Queridos amigos! Como é grande a saudade que sinto de vocês! Não nos vemos há muito tempo. Achei que vocês voltariam para a casa nesse feriado. Eu preciso de ajuda. Os nossos laranjais estão com uma misteriosa doença. As folhas perdem o brilho, acabam por cair, algumas árvores já até morreram. Parece que isso também tem acontecido em outras regiões aqui perto. Gostaria que vocês nos aconselhassem sobre o que devemos fazer, pois acredito que na área de química existam pesquisas sobre esse assunto. Mamãe está mandando um abraço para todos vocês. Espero reencontrá-los em breve, Alfredo. Vocês são esses amigos de infância de Alfredo, e terão que ajudá-lo a descobrir o que está acontecendo nos pomares de laranja e propor soluções para o problema. Um bom caso narra uma história Um bom caso deve ser atual Um bom caso é relevante ao leitor e desperta o interesse pela questão Um bom caso inclui citações Um bom caso força uma decisão Um bom caso provoca um conflito Um bom caso deve ter utilidade pedagógica Um bom caso produz empatia com os personagens centrais Um bom caso é curto 8 | P á g i n a I S S N : 2 1 7 6 - 1 4 7 7 O ESTUDO DE CASO PARA O ENSINO DE QUÍMICA... REVISTA CIÊNCIAS&IDEIAS VOL. 5, N.2.MAI/AGO -2014 Baseados no caso “Ameaça nos Laranjais” e fundamentados nos pressupostos citados anteriormente, elaboramos o caso “A saúde de Maria Eduarda”. A seguir, apresentaremos o contexto e a metodologia empregada nesta pesquisa bem como o caso aplicado, seguidos pela análise dos resultados. CONTEXTO DA APLICAÇÃO DO CASO E METODOLOGIA DA PESQUISA Este trabalho faz parte de uma pesquisa de mestrado, na qual investigamos as implicações da inserção da temática “Alimentos” aliada a metodologias de ensino diferenciadas no nível médio, sendo uma delas o Estudo de Casos (PAZINATO, 2012). As intervenções foram desenvolvidas durante os períodos regulares da disciplina de Química de uma turma da 3ª série do ensino médio de uma escola da rede estadual de ensino da cidade de Santa Maria, RS – Brasil. A turma era composta por 32 estudantes, 19 do sexo feminino e 13 do sexo masculino, com faixas etárias bastante homogêneas, sendo 26 alunos com 17 anos e 6 alunos com 18 anos. Durante o período de dois meses, os conteúdos de Química foram desenvolvidos a partir do tema “Alimentos” através de oficinas temáticas. Na primeira oficina temática “Composição química dos alimentos” foram abordados os seguintes conteúdos: - tipos de nutrientes: macronutrientes que são as biomacromoléculas (carboidratos, lipídeos, proteínas) e micronutrientes (vitaminas e sais minerais); - funções orgânicas. Na segunda oficina “Alimentos: o combustível da vida” foram trabalhados os conteúdos: - Energia - Unidades do SI - Processo de obtenção de energia a partir dos alimentos - A quantificação da energia das reações químicas (calorímetro) - Energia dos alimentos e das atividades físicas - Guias alimentares: Pirâmide dos alimentos e roda alimentar. Essas duas oficinas ocuparam sete das dez intervenções desenvolvidas e tiveram duração de 10 horas/aula. O Estudo de Caso “A saúde de Maria Eduarda” foi elaborado pelos pesquisadores deste trabalho com o objetivo de estimular os estudantes na resolução de problemas e na tomada de decisões conscientes, fundamentadas nos conhecimentos científicos adquiridos nas oficinas anteriores. Para a aplicação do estudo de caso foram necessárias duas intervenções, que 9 | P á g i n a I S S N : 2 1 7 6 - 1 4 7 7 O ESTUDO DE CASO PARA O ENSINO DE QUÍMICA... REVISTA CIÊNCIAS&IDEIAS VOL. 5, N.2.MAI/AGO -2014 corresponderam a 4 horas/aula, sendo que a décima intervenção foi destinada para avaliação dos estudantes sobre toda intervenção. Durante a primeira intervenção referente à aplicação do caso, a turma foi dividida em quatro grupos, organizados pela afinidade dos alunos. Após a formação dos grupos, o caso “A saúde de Maria Eduarda” foi distribuído para cada estudante. Em um segundo momento, foi explicado o objetivo da atividade e que para poder resolvê-la seria necessária a realização de uma pesquisa bibliográfica. A fim de auxiliar os estudantes nesta etapa, foram fornecidas informações sobre algumas fontes de pesquisa, tais como: livros, textos de divulgação científica, revistas científicas e materiais eletrônicos. Os livros utilizados na pesquisa dos alunos foram disponibilizados pela biblioteca da escola, os textos de divulgação científica e os artigos científicos foram viabilizados pelo pesquisador e a pesquisa eletrônica foi realizada no laboratório de informática da escola. O tempo disponibilizado pela escola para as aulas de Química não permitiu que os estudantes realizassem toda a pesquisa em horário de aula, sendo essa concluída em horários do turno inverso, e para isso foi disponibilizado a cada grupo cópias dos textos de divulgação científica e dos artigos científicos. Os grupos tiveram o período de uma semana para pesquisarem e organizarem as suas propostas de “solução” para o caso. Na aula seguinte, dois estudantes de cada grupo apresentaram para o restante da turma os resultados de sua pesquisa, bem como cada grupo entregou um relatório descrevendo a solução do caso. O Quadro 4 apresenta o caso “A saúde de Maria Eduarda”. De acordo com a classificação de Herreid (1998) o caso “A saúde de Maria Eduarda” é considerado um “bom” estudo de caso, pois apresenta as seguintes características: o assunto é relevante e atual, desperta o interesse, produz empatia com os personagens centrais, inclui citações, provoca conflitos e é curto. Em relação à análise dos dados obtidos, os mesmo foram tratados em uma perspectiva qualitativa e nos preocupamos mais com o processo do que com os resultados finais. Ainda esta pesquisa apresenta as seguintes características: -[...] tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento [...] - Os dados coletados são predominantemente descritivos [...] - A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto [...] - A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo [...] (LÜDKE eANDRÉ, 1986: 11). 10 | P á g i n a I S S N : 2 1 7 6 - 1 4 7 7 O ESTUDO DE CASO PARA O ENSINO DE QUÍMICA... REVISTA CIÊNCIAS&IDEIAS VOL. 5, N.2.MAI/AGO -2014 Quadro 4- O caso “A saúde de Maria Eduarda”. 11 | P á g i n a I S S N : 2 1 7 6 - 1 4 7 7 O ESTUDO DE CASO PARA O ENSINO DE QUÍMICA... REVISTA CIÊNCIAS&IDEIAS VOL. 5, N.2.MAI/AGO -2014 Nesta investigação valorizamos a subjetividade dos sujeitos da pesquisa, através da observação e do material obtido durante a realização das intervenções, e o pesquisador não é considerado neutro, pois suas crenças e valores influenciam na obtenção e análise dos dados. De acordo com Günther (2006), a pesquisa qualitativa tem como características a grande flexibilidade e adaptabilidade, já que não utiliza instrumentos e procedimentos padronizados, considera cada problema objeto de uma pesquisa específica para a qual são necessários instrumentos e procedimentos específicos. Sendo assim, os passos que desenvolvemos foram: delineamento, coleta de dados, transcrição e preparação dos mesmos para sua análise específica. A seguir, apresentaremos os resultados obtidos e a maneira como foram analisados. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS O caso “A saúde de Maria Eduarda” foi aplicado com o objetivo de promover competências e habilidades, como interpretação de textos, resolução de problemas e tomada de decisões, além de proporcionar a aplicação dos conceitos químicos em situações reais. Para incentivar a discussão do caso, a turma foi dividida em quatro grupos, que deveriam produzir um texto com as possíveis soluções para o problema e escolher dois representantes para apresentarem em aula as considerações de todo o grupo. Com base nos textos produzidos pelos estudantes, na apresentação dos grupos e na discussão em sala de aula, foram criadas duas categorias para a análise da aplicação do caso, sendo elas: Possíveis soluções para o problema proposto e Avaliação dos estudantes sobre o caso. - Possíveis soluções para o problema proposto De acordo com Sá e Queiroz (2009), para resolver um caso os estudantes devem passar por três etapas: identificação e definição do problema; acessar, avaliar e usar informações necessárias à sua solução; e por fim, apresentar a solução do problema. Assim, podemos constatar que os quatro grupos atingiram esses três estágios, pois todos apresentaram soluções para o caso. Em relação à primeira fase da resolução do caso, os estudantes identificaram o problema proposto pela situação, conforme os trechos a seguir: Grupo 1: Nós temos que descobrir o que está prejudicando a saúde dela (Maria Eduarda), para isso temos que entender os dados do exame de sangue. Depois, temos que apontar as medidas que o médico deverá tomar para melhorar a saúde da Maria Eduarda. Grupo 2: A gente é os amigos químicos da Maria Eduarda e vamos (sic) ajudá-la a descobrir o que está prejudicando a sua saúde. 12 | P á g i n a I S S N : 2 1 7 6 - 1 4 7 7 O ESTUDO DE CASO PARA O ENSINO DE QUÍMICA... REVISTA CIÊNCIAS&IDEIAS VOL. 5, N.2.MAI/AGO -2014 Grupo 3: Temos que encontrar soluções para ajudar a melhorar a saúde da Maria Eduarda. Vamos ter que pesquisar e analisar o exame de sangue dela, para descobrir o que ela tem. Grupo 4: O problema é a saúde dela (Maria Eduarda) temos que descobrir por que ela não está bem. Os grupos não apresentaram dificuldades na interpretação do problema, provavelmente isso se deve ao fato de o caso aplicado ser considerado “estruturado”, conforme a classificação de Sá (2010). Neste tipo de estudo de caso, o problema a ser solucionado é de fácil detecção, e pode apresentar várias alternativas de solução, cabendo ao estudante a tarefa de optar pela mais viável. Sobre a segunda etapa da resolução, os estudantes utilizaram várias fontes bibliográficas em sua pesquisa. Essa constatação foi realizada em aula, pois foi fornecido um tempo para consultas em livros, textos de divulgação científica, artigos científicos e materiais eletrônicos. Além disso, na aula referente à apresentação das soluções de cada grupo, alguns estudantes comentaram que utilizaram os dados dos exames de sangue de amigos, vizinhos ou parentes para comparar com os índices apresentados pelo caso. Portanto, a pesquisa bibliográfica é uma das características centrais desse método, uma vez que requer que o próprio estudante acesse, avalie e use as informações para solucionar os problemas (SILVA et al., 2011; SÁ e QUEIROZ, 2009). Enfim, para apresentação da solução do problema, os estudantes aplicaram seus conhecimentos de Química e apuraram informações realmente relevantes para o caso. A solução do problema exigiu que os estudantes formulassem hipóteses, parte essencial de uma pesquisa. Para Cachapuz e colaboradores (2011) a hipótese tem um papel de articulação e de diálogo entre as teorias, as observações e as experimentações, servindo de guia à própria investigação. Algumas hipóteses levantadas pelos grupos foram: Grupo 2: Comparando os níveis dos componentes do sangue da Maria Eduarda com os padrões, percebemos que todos estão fora da faixa de normalidade. Isso pode ser por causa da má alimentação que vem tendo, ou também por não ter tempo para exercícios físicos. Grupo 3: A Maria Eduarda está com todos os componentes do sangue alterados. Temos duas possibilidades para a causa desse problema: a primeira pode ser a alimentação errada e a segunda pode ser alguma doença. Já as tonturas e dores de cabeça podem ser por causa da falta de nutrientes ou ela pode estar grávida. Esses textos confirmam a ideia de Cachapuz e colaboradores (2011), de que as hipóteses são os guias de uma pesquisa. 13 | P á g i n a I S S N : 2 1 7 6 - 1 4 7 7 O ESTUDO DE CASO PARA O ENSINO DE QUÍMICA... REVISTA CIÊNCIAS&IDEIAS VOL. 5, N.2.MAI/AGO -2014 Nessa metodologia, o elemento central do processo de aprendizagem são os problemas, os dilemas, os casos a serem solucionados (SILVA et al., 2011). Desta forma, a aplicação dos conteúdos químicos na tentativa de encontrar soluções para o caso de Maria Eduarda, favoreceu a aprendizagem dos estudantes. Alguns textos produzidos pelos grupos foram: Grupo 1: Pesquisando, descobrimos que alimentos com frituras (pastel, hambúrguer...) possuem ácidos graxos trans. Os lipídeos que podem ser formados por esse tipo de ácido, que afeta o coração e causa o cansaço que a Maria Eduarda sente. A tontura e a visão fraca é falta da substância química retinol presente na vitamina A, que é encontrada na cenoura, espinafre e fígado de animal. Grupo 2: A Maria Eduarda come muito doce. Os doces são formados por açúcares, que são um tipo de carboidrato, que quando em excesso ficam no sangue e causam uma doença conhecida como diabetes. O principal açúcar encontrado nos doces é a sacarose (um dissacarídeo) que se quebra em glicose e frutose, por isso que a Maria Eduarda está com a glicose acima do normal. Para baixar essa quantidade de glicose, ela deve diminuir os carboidratos como os doces, as massas e os pães. Grupo 3: O exame de sangue dela (Maria Eduarda) nos informa que ela está se alimentando muito mal. Estudamos que os alimentos fornecem importantessubstâncias para as pessoas e que devemos ter uma alimentação saudável, fazer atividades físicas também pode ajudar. A melhor maneira de manter os níveis adequados de colesterol é se exercitar e comer bem. Procuramos alguns alimentos que ajudam a manter o bom colesterol e baixar o mau colesterol: frutas, vegetais, feijões e comer frango ou peixes ao invés de carne vermelha. Então, percebemos que a Maria Eduarda deve comer um pouco de tudo e evitar excessos, tem que comer todos os nutrientes como carboidratos, proteínas, vitaminas e lipídeos, pois eles fornecem substâncias importantes para a nossa vida. Grupo 4: Analisando os exames de Maria Eduarda, podemos notar que eles não apresentaram um bom resultado. Sua alimentação não está balanceada e com certeza ela deve ingerir mais do que as 2.100 Kilocalorias indicadas para a sua idade. A alimentação dela está fora dos padrões estabelecidos pela OMS (Organização Mundial da Saúde) na pirâmide dos alimentos, pois os carboidratos são o tipo de alimento que ela mais consome. A função do ensino de Química deve ser a de desenvolver a capacidade de tomada de decisão, o que implica a necessidade de vinculação do conteúdo trabalhado com o contexto social em que o aluno está inserido (SANTOS e SCHNETZLER, 1996). 14 | P á g i n a I S S N : 2 1 7 6 - 1 4 7 7 O ESTUDO DE CASO PARA O ENSINO DE QUÍMICA... REVISTA CIÊNCIAS&IDEIAS VOL. 5, N.2.MAI/AGO -2014 Podemos perceber que o caso possibilitou a aplicação e a discussão dos conteúdos científicos, a partir do problema proposto e que para os estudantes proporem possíveis soluções, tiveram que tomar decisões fundamentadas nos conceitos científicos aprendidos na escola. Em relação às providências que o médico de Maria Eduarda deverá tomar, dois grupos apresentaram suas opiniões: Grupo 1: O Dr. Pedro deverá recomendar que a Maria Eduarda se alimente melhor e faça exercícios físicos. Ela deve parar de comer besteiras e doces fora de hora, já que sua glicose está 110 mg/dL e o normal é de 70 - 100. Também deve ter uma alimentação variada com todos os tipos de nutrientes, e rica em vitamina A para melhorar sua visão. Grupo 4: Para não utilizar medicamentos no tratamento da Maria Eduarda, o médico deverá mandar que ela mude seus hábitos alimentares. O médico pode fazer uma dieta para ela com todas as vitaminas e nutrientes que ela precisa. Nos textos produzidos é evidente a apropriação de termos como nutrientes, carboidratos, lipídeos, proteínas e vitaminas, o que demonstra certa familiaridade dos estudantes com esses conceitos. Embora estejam presentes nas produções dos alunos, muitas vezes, esses conceitos não são empregados corretamente, como, por exemplo, no trecho do grupo 4, no qual os estudantes fazem menção a nutrientes e às vitaminas, como se as vitaminas não fossem um tipo de nutriente. Ao final dessa atividade, todos os grupos apontaram a alimentação como causa ou uma das causas dos problemas de saúde de Maria Eduarda, e propuseram diversas soluções para o caso, cumprindo com a proposta inicial da metodologia de ensino. De acordo com Cardoso e Colinvaux (2000) o ensino da Química deve-se ao fato de possibilitar ao homem o desenvolvimento de uma visão crítica do mundo que o cerca, podendo analisar, compreender e utilizar este conhecimento no cotidiano, tendo condições de interferir em situações que contribuem para sua qualidade de vida. - A avaliação dos estudantes sobre o caso A avaliação dos estudantes sobre o estudo de caso “A saúde de Maria Eduarda” ocorreu durante a apresentação dos grupos, e as suas opiniões foram registradas através de anotações feitas pelos pesquisadores. Apesar de somente dois integrantes de cada grupo apresentarem as soluções para o caso, essa aula promoveu muitas discussões e a participação de toda a turma. O estudo de caso “A saúde de Maria Eduarda” foi uma ferramenta motivadora do ensino de Química. Por meio das situações problemáticas propostas, os estudantes sentiram-se motivados a pesquisar soluções para o caso: 15 | P á g i n a I S S N : 2 1 7 6 - 1 4 7 7 O ESTUDO DE CASO PARA O ENSINO DE QUÍMICA... REVISTA CIÊNCIAS&IDEIAS VOL. 5, N.2.MAI/AGO -2014 Estudante do grupo 4: Ao discutirmos sobre a saúde da Maria Eduarda, nos perguntávamos o que poderia estar causando esses problemas nela? Estudante do grupo 1: O mais legal era ir achando as soluções para os sintomas dela. O mais fácil foi o da baixa visão à noite, que é causado pela deficiência de vitamina A. Uma das habilidades desenvolvidas pelo caso proposto foi a busca de informações em diferentes fontes. Os estudantes ressaltaram em suas falas que aprenderam a fazer pesquisas bibliográficas e que essas contribuíram muito para a resolução do problema, isso pode ser observado nos trechos a seguir: Estudante do grupo 4: Pesquisamos em vários livros, sites e artigos científicos. No começo, sentimos dificuldades pela linguagem utilizada, mas no final fomos nos acostumando. Estudante do grupo 3: Nunca pesquisamos em tantas coisas diferentes, mas isso foi essencial para conseguirmos encontrar uma solução para os problemas da Maria Eduarda. Outro aspecto a ser considerado é a identificação dos estudantes com os personagens do caso e com o problema proposto. De acordo com Sá e Queiroz (2009), as narrativas que devem ser solucionadas devem estar relacionadas com o contexto social e/ou profissional no qual os alunos estão imersos. Estudante do grupo 4: A Maria Eduarda se parece muito comigo, a única diferença é que em vez de Direito, quero cursar Farmácia. Estudante do grupo 2: Nós vivemos os mesmos problemas da Maria Eduarda, também temos a pressão do vestibular e às vezes, ficamos doentes também e, isso nos atrapalha. Encontrar metodologias de ensino que ajudem os estudantes a realizarem atividades que levam em consideração suas experiências, interesses e estimulem a tomada de consciência e participação nas decisões de caráter sócio-científico são de vital importância para um bom encaminhamento da educação básica no país (SILVA et al., 2011). Desta forma, constatamos que o estudo de caso motivou os estudantes e desenvolveu habilidades como interpretação de problemas e investigação de soluções, auxiliando-os na capacidade de tomada de decisões, componente necessário para uma formação cidadã. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os nossos principais objetivos com a aplicação do caso “A saúde de Maria Eduarda” foram: auxiliar os estudantes na interpretação de textos, promover a capacidade de identificação e resolução de problemas, além de possibilitar a 16 | P á g i n a I S S N : 2 1 7 6 - 1 4 7 7 O ESTUDO DE CASO PARA O ENSINO DE QUÍMICA... REVISTA CIÊNCIAS&IDEIAS VOL. 5, N.2.MAI/AGO -2014 aplicação dos conteúdos de Química. Através dos resultados obtidos, percebemos que atingimos esses propósitos. O Estudo de Caso é um método que exige leitura e interpretação para que se possa compreender o problema proposto. Apesar de o caso aplicado apresentar a tarefa de forma clara, a mesma precisou ser entendida pelos estudantes para que pudessem sistematizar os próximos passos de suas pesquisas. Esta metodologia de ensino propiciou um ambiente de interação entre os estudantes na busca de respostas que solucionassem o problema da personagem central “Maria Eduarda”. Eles propuseram hipóteses, pesquisaram em diferentes fontes, debateramsobre as possíveis causas dos sintomas da personagem, para enfim formularem suas respostas e soluções para o caso. Desta forma, fica evidente que a metodologia de ensino utilizada desenvolveu habilidades como interpretação de problemas (interpretação do exame de sangue), pesquisa em diferentes fontes (levantamento de informações relevantes para o caso), investigação de possíveis soluções (análise e julgamento das informações obtidas) bem como a capacidade de tomada de decisões para a proposição de respostas e soluções para o caso. Além disso, esta atividade proporcionou a aplicação dos conhecimentos químicos em situações reais, as quais muitas vezes faziam parte da rotina dos próprios estudantes. Outra vantagem da estória narrada no caso aplicado foi à identificação da turma com os problemas vivenciados pela personagem central que, como os estudantes, estava no último ano do ensino médio e com várias atividades durante o seu dia, dentre elas a preparação para o vestibular. A temática “Alimentos” que esteve em pauta em todas as intervenções, inclusive no caso proposto, permitiu a discussão e a reflexão dos estudantes em relação aos seus hábitos alimentares. A relação da Química com a energia e a composição química dos alimentos possibilitou alguns esclarecimentos e maior compreensão sobre este tema tão complexo e ao mesmo tempo tão presente no dia a dia de todos. Acreditamos que a indiscutível presença dos alimentos no cotidiano deu significado aos conteúdos e conceitos abordados em aula, contribuindo para um ensino voltado para o desenvolvimento pessoal com a aplicação dos conteúdos de Química em situações cotidianas. Portanto, todos esses fatores favoreceram a aprendizagem dos conteúdos de Química. O método Estudo de Casos promoveu o trabalho em grupo, a capacidade de tomada de decisão e a interpretação de problemas reais, desta forma concretizando os objetivos que tínhamos traçado quando escolhemos esta temática e metodologia de ensino. Além disso, com este artigo esperamos contribuir com mais uma proposta de utilização do Estudo de Casos no nível médio, tanto para a área de 17 | P á g i n a I S S N : 2 1 7 6 - 1 4 7 7 O ESTUDO DE CASO PARA O ENSINO DE QUÍMICA... REVISTA CIÊNCIAS&IDEIAS VOL. 5, N.2.MAI/AGO -2014 ensino de Química, bem como para professores que estejam em busca de estratégias de ensino diferenciadas. REFERÊNCIAS ALBA, J.; SALGADO, T. D. M.; DEL PINO, J. C. Estudo de Caso: uma proposta para a abordagem de funções da Química Orgânica no Ensino Médio. Revista Brasileira de Ensino de Ciência e Tecnologia, v. 6, n. 2, p. 76-96, 2013. CACHAPUZ, A.; GIL-PEREZ D.; CARVALHO de, A. M. P.; PRAIA, J.; VILCHES, A. (organizadores). A necessária renovação do ensino de Ciências. 2. ed. São Paulo: Editora Cortez, 2011. 264 p. CARDOSO, S. P.; COLINVAUX, D. Explorando a motivação para estudar Química. Revista Química Nova, São Paulo, v. 23, n. 2, p. 401-404, 2000. GÜNTHER, H. Pesquisa Qualitativa Versus Pesquisa Quantitativa: Esta É A Questão? Revista Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 22, n. 2, p. 201-210, mai-ago, 2006. HERREID, C. F. What makes a good case? Journal of College Science Teaching, v. 27, n. 3, p. 163-169, 1998. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1986. 99 p. PAZINATO, M. S. Alimentos: uma temática geradora do conhecimento químico. 176 f. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2012. PINHEIRO, A. N.; MEDEIROS, E. L.; OLIVEIRA, A. C. Estudo de Casos na formação de professores de Química. Química Nova, São Paulo, v. 33, n. 9, p. 1996-2002, 2010. QUEIROZ, S. L.; SÁ, L. P.; FRANSCISCO, C. A. Estudos de Caso em Química. Química Nova, São Paulo, v. 30, n. 3, p. 731-739, 2007. SÁ, L. P. A argumentação no ensino superior de Química: investigando uma atividade fundamentada em estudos de casos. 152 p. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Universidade de São Paulo, São Carlos, 2006. SÁ, L. P. Estudo de casos na promoção da argumentação sobre questões sócio-científicas no ensino superior de Química. 278 p. Tese (Doutorado em Química) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2010. SÁ, L. P.; QUEIROZ, S. L. Estudo de casos no Ensino de Química. Campinas: Editora Átomo, 2009. 95p. 18 | P á g i n a I S S N : 2 1 7 6 - 1 4 7 7 O ESTUDO DE CASO PARA O ENSINO DE QUÍMICA... REVISTA CIÊNCIAS&IDEIAS VOL. 5, N.2.MAI/AGO -2014 SANTOS, W. L. P. dos; SCHNETZLER, R. P. Educação Química: compromisso com a cidadania. 3. ed. Ijuí: Editora Unijuí, 2003. 144 p. SANTOS, W. L. P. dos; SCHNETZLER, R. P. Função social: O que significa ensino de Química para formar cidadão? Revista Química Nova na Escola, São Paulo, n. 4, p. 28-34, nov., 1996. SERRA, F.; VIEIRA, P. S. Estudos de Casos: como redigir, como aplicar. Rio de Janeiro: LTC, 2006. 98 p. SILVA, O. B. da; OLIVEIRA, J. R. S. de; QUEIROZ, S. L. SOS Mogi-Guaçu: Contribuições de um Estudo de Caso para a Educação Química no Nível Médio. Química Nova na Escola, São Paulo, v. 33, n. 3, p. 185-192, 2011. SOUSA, R. S. de; ROCHA, P. D. P.; GARCIA, I. T. S. Estudo de Caso em Aulas de Química: Percepção dos Estudantes de Nível Médio sobre o Desenvolvimento de suas Habilidades. Química Nova na Escola, São Paulo, v. 34, n. 4, p. 220-228, 2012. R. B. E. C. T., vol 5, núm. 3, set-dez.2012 ISSN - 1982-873X 89 Estudo de Casos: Um Recurso Didático para o Ensino de Química no Nível Médio Fabiele Cristiane Dias Broietti Flaveli Aparecida de Souza Almeida Renata Cristina Mello Alves Silva Resumo O presente trabalho teve como objetivo abordar os rótulos de produtos alimentícios possibilitando aos alunos do ensino médio a compreensão de termos como diet, light, normal, caloria, %VD e sódio por meio da aplicação da metodologia do estudo de casos. O estudo foi realizado em uma turma de 2º ano do Ensino Médio de uma escola pública do estado do Paraná. O caso tratava de uma conversa entre a avó e sua neta sobre as dúvidas para se alimentar melhor com a interpretação das informações contidas nos rótulos. O trabalho consistiu na aplicação de um questionário no início e no final das atividades, leitura do caso, análise de alguns rótulos, leitura de artigos, discussão da problemática e apresentação oral da resolução do caso pelos alunos. Os resultados com a aplicação do caso sugerem que se trata de uma estratégia eficiente que pode ser empregada pelo professor numa concepção de ensino que prioriza a aprendizagem. Palavras-chave: estudo de casos, ensino médio, rótulos de alimentos. Abstract Cases Study: A Resource for high school chemistry teaching The present study aimed to address alimentary products labels enabling high school students to understand terms such as diet, light, normal, calories, VD% and sodium applying the case study methodology. The study was conducted in a 2nd year of high school class at a public school in Paraná state. The case was a conversation between a grandmother and her granddaughter about how to eat better interpreting the information on the labels. The work consisted of a questionnaire at the beginning and the end of activities, reading the case, analysis of some labels, reading articles, discussion of the problem and an oral presentation of a resolution to the case by the students. The results presented by the application of the case suggest that is an effective strategy that can be used by a teacher in a teachingconcept that emphasizes learning. Keywords: cases study, high school, food labels. R. B. E. C. T., vol 5, núm. 3, set-dez.2012 90 Introdução O método do estudo de casos é uma variante do método Aprendizagem Baseada em Problemas também conhecido como “Problem Based Learning (PBL)” que oferece aos estudantes a oportunidade de direcionar sua própria aprendizagem em situações relativamente complexas (Waterman, 1998). No método do estudo de casos, o ato de contar histórias, em que indivíduos enfrentam decisões ou dilemas, reais ou fictícios, faz com que o aluno se familiarize com os personagens e circunstâncias mencionadas no caso, de modo a compreender a situação e o contexto nele presente, com o intuito de solucionar o fato apresentado. Neste contexto, o papel principal do professor consiste em ser um articulador na busca do conhecimento e ajudar o estudante a trabalhar com o tema proposto, desde a análise do problema considerado até as possíveis soluções envolvidas naquela situação. A aplicação do método de estudo de casos pode ser diversificada e depende da forma como o professor espera que os alunos trabalhem na solução do problema proposto. Herreid (1998a) elaborou um esquema de classificação e sugeriu que os casos podiam ser explorados, pelo professor, nos seguintes formatos: • de tarefa individual: o caso tem o caráter de uma tarefa que o aluno deve solucionar e que implica na elaboração posterior de uma explicação histórica dos eventos que conduziram à sua resolução; • de aula expositiva: o caso tem a característica de uma história contada pelo professor aos seus alunos, de maneira muito elaborada e com objetivos específicos; • de discussão: o caso é apresentado pelo professor como um dilema. Os alunos são questionados a respeito das suas perspectivas e sugestões com relação à resolução do mesmo; • de atividades em pequenos grupos: os casos são histórias que devem ser solucionadas e dizem respeito ao contexto social e/ou profissional em que os alunos estão imersos. Uma característica essencial é que os casos são analisados por grupos pequenos de estudantes, que trabalham em colaboração. O professor, neste contexto, desempenha um papel de facilitador durante as discussões, em vez de um papel didático e diretivo. No ensino de química, há lugar para qualquer uma dessas formas de abordar o estudo de casos, dependendo exclusivamente de como o professor busca trabalhar com seus alunos e da maneira que deseja conduzir os alunos ao conhecimento proposto. Outro fator importante para o ensino e aprendizagem, considerado por Herreid (1998b), é que o caso pode seguir alguns aspectos importantes na sua elaboração, tais como: deve ter utilidade pedagógica; ser relevante ao leitor; despertar interesse pela questão; deve ser atual; R. B. E. C. T., vol 5, núm. 3, set-dez.2012 ISSN - 1982-873X 91 curto; provocar um conflito; criar empatia com os personagens; forçar uma decisão; ter aplicabilidade geral; narrar uma história e incluir citações. Após a escolha da forma como o caso será trabalhado com os alunos e a elaboração do mesmo, outra importante etapa consiste na formulação de questões a serem trabalhadas pelos alunos, considerando os objetivos esperados com a sua aplicação. Nessa etapa devem ser contemplados os conteúdos científicos, as habilidades que se deseja que os alunos adquiram, as formas como os conceitos a serem aprendidos serão desenvolvidos e sua execução na formulação da possível solução a ser apresentada. Como essa etapa envolve a tomada de decisão, existem vários modelos que podem auxiliar o professor na elaboração de questões, como os citados e discutidos no livro Estudo de casos no Ensino de Química (Sá e Queiroz, 2009). Estudo de Casos no Ensino de Química No Brasil, a metodologia de ensino pautada em estudo de casos ainda se apresenta de forma tímida, no qual o acesso a casos prontos é pouco encontrado. Realizando um levantamento sobre a utilização deste método encontramos poucos trabalhos como o realizado por Brito e Sá (2010), que relatam o estudo de casos como estratégia para estimular a argumentação de alunos do ensino médio a respeito de questões sócio-científicas relacionadas ao tema biocombustíveis. Outro recente trabalho encontrado foi o de Pinheiro e outros (2010). Os autores descrevem que o método de estudo de casos, apesar de não ser muito utilizado no ensino superior, especificamente nos cursos de Química, vem se configurando como eficiente no que se refere à aprendizagem e para uma formação mais ampla do aluno. Eles relatam suas experiências com a aplicação do método com licenciandos e estes, aplicam a metodologia no ensino médio, utilizando como tema o biodiesel. Como resultado deste trabalho os autores conseguiram aliar a experimentação, a leitura, à aproximação entre conhecimento científico-tecnológico e a formação do futuro professor com novas metodologias que privilegiam aspectos tecnológicos, sociais, econômicos e ambientais da Química. Outra contribuição tem sido feita, por exemplo, pelo site do grupo de pesquisa em Ensino de Química do Instituto de Química de São Carlos1 que disponibiliza exemplos de casos e sugestões de atividades. Mais contribuições sobre a aplicação desta metodologia podem ser encontradas por meio de trabalhos divulgados em congressos e eventos da área que relatam propostas didáticas para o ensino de ciências e, principalmente, pelo trabalho de aplicação e compilação realizado no livro Estudo de Casos no Ensino de Química (Sá e Queiroz, 2009), que 1 Disponível em: http://www.gpeqsc.com.br, acessada em dezembro de 2010. R. B. E. C. T., vol 5, núm. 3, set-dez.2012 92 apresenta o uso do método aplicado nos cursos de ensino superior e que serve de referência para a construção e utilização do método no ensino médio. Com o método de estudo de casos, corretamente aplicado, o processo transforma-se em uma poderosa ferramenta no processo de ensino e aprendizado, e assim, portanto, restará ao professor a responsabilidade de orientar as pesquisas e as propostas apresentadas até a resolução do caso apresentado. Embasado nisto, o objetivo deste trabalho consistiu na elaboração e aplicação de um caso para abordar os rótulos nos produtos alimentícios, considerando que este assunto permeia o cotidiano dos alunos, podendo ser utilizado para contribuir no processo de ensino e aprendizagem de conceitos que envolvem a química tais como: caloria, %VD (porcentagem de valores diários), a forma como está presente o elemento sódio e a confusão entre os termos diet, light, normal. Metodologia As atividades foram aplicadas em uma turma de 27 alunos do 2o Ano do Ensino Médio de um escola pública estadual, situada na cidade de Londrina – Paraná, que adota o sistema de blocos, com aulas geminadas. O sistema de blocos consiste na divisão do ensino anual em dois blocos, no qual as disciplinas estudadas durante o ano letivo são organizadas por semestres. A aplicação da proposta se deu no decorrer do 2o bimestre de 2009 e teve duração de 6 horas-aula com a turma dividida em quatro grupos, conforme o quadro a seguir. Quadro 1: Distribuição das atividades Aulas Atividades 1ª e 2ª Questionário de sondagem Leitura do caso Entrega e análise dos rótulos 3ª e 4ª Entrega e leitura dos artigos Discussão em grupo e elaboração da apresentação 5ª e 6ª Apresentação do trabalho de cada equipe Questionário final e conclusão das atividades R. B. E. C. T., vol 5, núm. 3, set-dez.2012 ISSN - 1982-873X 93 Como o assunto sobre rótulos é muito extenso, para esse estudo buscou-se limitar aos conceitos sobre diet, light, normal, caloria, %VD e a forma como se apresenta o elementosódio, pois esses ainda causam confusão ou são de total desconhecimento para as pessoas que compram determinados produtos e os consomem. Inicialmente foi aplicado um questionário de sondagem, Quadro 2, para detectar os conhecimentos prévios dos alunos sobre o assunto a ser abordado. Quadro 2: Questionário de sondagem do conhecimento sobre rótulos nutricionais. Questões 1) Você tem o hábito de observar e ler as informações contidas nas embalagens dos alimentos que consome? 2) O sódio indica que os alimentos possuem sabor salgado? 3) Você sabe o que é valor energético e a sua importância para alimentação? 4) Você sabe o que significa e acha importante conhecer este valor %VD? 5) Você sabe a diferença entre produtos diet, light e normal? Após, foi feita a leitura do caso, Quadro 3, em grupo sendo conduzido pelo professor em voz alta. Quadro 3: Estudo de Caso aplicado aos estudantes na atividade desenvolvida. Rótulos nutricionais: um quebra cabeça de informações! A jovem Maria estava estudando para o vestibular de Química que faria no final do mês quando recebeu um telefonema no meio da tarde. Do outro lado da linha era a sua avó toda preocupada, pois tinha acabado de voltar de uma consulta médica: - Oi Maria! Tudo bem com você?! - Tudo bem vovó. Por que a senhora está com essa voz preocupada? - É que eu fiz uma consulta com o meu médico e ele pediu para eu ter um cuidado especial com a comida que eu compro e prestar mais atenção nos rótulos dos alimentos. - Olha vovó ele está certo. É sempre bom sabermos o que estamos comprando, assim podemos nos alimentar melhor e termos uma vida mais saudável. - Então, é por isso que eu resolvi te ligar, pois eu sei que você gosta desse assunto e pode me ajudar. R. B. E. C. T., vol 5, núm. 3, set-dez.2012 94 - Sim, é claro que eu ajudo! - Bem essas coisas são muito complicadas e eu não entendo nada do que está escrito naqueles rótulos. - Calma vovó. Estou indo na casa da senhora e vamos entender junto o que são todas essas informações! Vocês, estudantes de química, poderiam também ajudar a Maria e a sua avó a entender as informações contidas nos rótulos dos alimentos, como: %VD, valor energético, sódio, produtos diet, light e normal. Após a leitura do caso foram entregues aos grupos, rótulos de gelatinas e sucos de produtos diet, light e normal, para que os alunos observassem as diferenças contidas nos rótulos desses produtos. As figuras 1, 2, 3, 4 e 5, são exemplos de rótulos de sucos líquidos e em pó: Figura 1: Rótulo do suco em pó normal. Figura 2: Rótulo do suco em pó light - zero açúcar Figura 3: Rótulo do suco diet em pó Figura 4: Rótulo do suco líquido normal. zero açúcar. R. B. E. C. T., vol 5, núm. 3, set-dez.2012 ISSN - 1982-873X 95 Figura 5: Rótulo do suco líquido light. Após os apontamentos iniciais, com a necessidade de um maior aprofundamento e uma maior compreensão do tema exposto, foram entregues aos alunos três artigos para leitura. Esse subsídio foi mais uma ferramenta para ajudá-los na possível solução do caso apresentado. Estes artigos encontram-se publicados na revista Química Nova na Escola e são: De olho nos rótulos: compreendendo a unidade caloria (Chassot et al., 2005); Diet ou Light: Qual a Diferença? (Silva e Furtado, 2005) e Interpretação de Rótulos de Alimentos no Ensino de Química (Neves et al., 2009). Os alunos tomaram a iniciativa de pesquisar acerca dos assuntos discutidos em sala de aula para complementar a discussão e tentar resolver o caso na próxima aula, com as novas informações e materiais para montar uma apresentação final. Após o retorno, os alunos munidos dessas informações, se reuniram em seus grupos, debateram e decidiram como organizar e apresentar suas pesquisas no fechamento do trabalho. Cada grupo fez sua apresentação de forma expositiva, com cartazes e com a ajuda de vídeos explicativos sobre os assuntos trabalhados, num período de no máximo 15 minutos por grupo, sendo que ao final de todas as apresentações houve ainda: debates sobre o assunto discutido, a escolha da solução com relação ao problema apresentado e, também, a aprendizagem proporcionada pelo estudo de caso. Para o encerramento do estudo, foi aplicado um questionário final, com as mesmas questões dadas inicialmente, Quadro 2, para se obter informações e uma comparação da aprendizagem pelo método proposto. R. B. E. C. T., vol 5, núm. 3, set-dez.2012 96 0 5 10 15 20 25 Não Ás Vezes Sim Resposta no início do trabalho Resposta no final do trabalho Análise e discussão dos resultados Na aplicação do método do estudo de casos, observou-se inicialmente que alguns alunos mostraram-se resistentes, pois para eles a mudança de estratégias de ensino leva-os a temer que a dificuldade dessa forma de aprendizagem seja muita maior do que no processo de ensino e aprendizagem em que estão acostumados e inseridos dentro da sua vida escolar, ou seja, atuando como sujeitos passivos. Com a aplicação do questionário de sondagem sobre o assunto que seria aplicado e com uma explanação sobre como o estudo seria construído nas aulas, a barreira inicial mostrada pelos alunos começou a não mais existir, sendo necessário que houvesse, portanto, uma visão ampla da forma de condução do trabalho para que o processo fosse aceito pelos alunos. A utilização e a leitura de textos científicos numa linguagem acessível, os auxiliou a manter o interesse com o tema proposto e foi importante para criar uma empatia e manter o interesse na busca da solução para a situação-problema apresentada. Com as discussões que se seguiam e o interesse crescente, a aplicação da metodologia teve um ganho perceptível em sua aceitação, quando partiu dos próprios alunos o interesse de fazer uma apresentação com a aplicação do conhecimento adquirido de forma expositiva e com o uso de alguns vídeos, como, Cuidados com a alimentação – sódio1, Diet e light. Você conhece a diferença???2 e Calcular calorias manualmente3. Com o resultado obtido no questionário aplicado no início e no final do trabalho, tem-se a representação de um bom nível de aprendizado alcançado com o método, como demonstrado nas Figuras 6, 7, 8, 9 e 10: Figura 6: Você tem o hábito de observar e ler as informações contidas nas embalagens dos limentos que consome? 1 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=M6OHgU0UBwM, acessada em novembro de 2009. 2 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=jvb586M2p40, acessada em novembro de 2009. 3 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=Y5AmM4xESmg, acessada em novembro de 2009. R. B. E. C. T., vol 5, núm. 3, set-dez.2012 ISSN - 1982-873X 97 Conforme ilustra a Figura 6, poucos alunos tinham o hábito de observar e ler as informações contidas nas embalagens, mas com o estudo dirigido e ao final do trabalho do estudo de caso, houve uma mudança de atitude. Verificou-se que o interesse na observação das informações dos rótulos se tornou maior, inclusive sobre assuntos que não foram tratados diretamente no trabalho como: antioxidantes, estabilizantes, corantes, etc. Figura 7: O sódio indica que os alimentos possuem sabor salgado? Na Figura 7, mais da metade dos alunos na turma tinham como entendimento da palavra sódio a concepção do sabor salgado. Com a aplicação do estudo de caso e as discussões realizadas em sala de aula ao longo da realização do trabalho, houve por eles uma nova interpretação, na qual a quantidade de sódio não interfere diretamente com o sabor dos alimentosque são consumidos, mas sim a função de contribuir para regular a pressão osmótica do sangue, plasma e fluidos intracelulares, e assim, manter o equilíbrio hídrico do organismo e a transmissão dos impulsos nervosos. Mas, por outro lado, uma ingestão em excesso de sódio é um fator de risco que pode agravar quadros de hipertensão arterial. Figura 8: Você sabe o que é valor energético e a sua importância para alimentação? 0 5 10 15 20 25 Não Não Sabem Sim Resposta no início do trabalho Resposta no final do trabalho 0 5 10 15 20 25 Não Sim Resposta no início do trabalho Resposta no final do trabalho R. B. E. C. T., vol 5, núm. 3, set-dez.2012 98 A análise da Figura 8 indica que, no início do trabalho, muitos alunos ainda não reconhecem o termo valor energético, mas após realizarem o trabalho, a partir das discussões em sala de aula, das leituras realizadas e dos vídeos apresentados, os alunos passaram a associar valor energético com a palavra caloria que eles já tinham algum conhecimento e dessa forma ficou mais fácil para eles perceberem a importância dessa informação para a alimentação. Figura 9: Você sabe o que significa e acha importante conhecer este valor %VD? Na Figura 9, verifica-se que quase a totalidade dos alunos, no início do trabalho, não sabia reconhecer o valor %VD, após a leitura dos textos e aplicação do estudo de caso, essa interpretação do termo foi quase totalmente reconhecida e compreendida pelos alunos ao final do trabalho. Figura 10: Você sabe a diferença entre produtos diet, light e normal? Conforme ilustra a Figura 10, muitos alunos, antes da realização da atividade, tinham um conhecimento parcial dos termos diet, light e normal. Este conhecimento parcial pode ser confirmado quando foi solicitado aos alunos que falassem a respeito da diferença entre esses termos, os alunos mostraram-se confusos. Com a aplicação do estudo de caso, os alunos 0 5 10 15 20 25 30 Não Sim Resposta no início do trabalho Resposta no final do trabalho 0 5 10 15 20 25 Não Sabe Parcialmente Sabe Resposta no início do trabalho Resposta no final do trabalho R. B. E. C. T., vol 5, núm. 3, set-dez.2012 ISSN - 1982-873X 99 puderam reconhecer a diferença entre eles e com isso o resultado obtido ao final do trabalho foi totalmente satisfatório. Esclarecendo, portanto, muitas dúvidas sobre o uso desses termos nos rótulos dos alimentos. Em todas as apresentações orais os alunos simulavam a presença da vovó de Maria e explicavam criteriosamente o significado de cada informação contida nos rótulos. As explicações estavam embasadas nas leituras realizadas dos artigos propostos, em pesquisas realizadas fora da sala de aula e nos debates realizados em sala. Desse modo, longe de uma aula passiva, houve vários momentos de debates de uma forma cooperativa na construção do conhecimento. Após todo o trabalho realizado, foi dado como caso resolvido, que a informação dos rótulos quando conhecida de maneira adequada é um importante aliado no controle de uma alimentação saudável e, que com um maior cuidado, também se pode evitar o agravamento de doenças por uma alimentação em que o devido conhecimento daquilo que se consome é de grande importância. Considerações Finais Após a aplicação do caso e a apresentação dos trabalhos realizados pelos alunos em grupo, houve uma maior compreensão por parte dos mesmos quanto à importância dos rótulos nutricionais e aos conceitos químicos envolvidos, dentro de cada segmento que foi abordado. Ficou demonstrada, de acordo com o comparativo das respostas obtidas pelo questionário no início e no final do trabalho, pelas discussões realizadas durante as aulas e pela apresentação oral, que a metodologia de estudo de casos é uma ferramenta importante que pode ser desfrutada pelo professor em sala de aula, obtendo-se bons resultados numa concepção de ensino diferente do tradicional. Referências Brito, J. Q. A.; Sá, L. P. Estratégias promotoras da argumentação sobre questões sócio-científicas com alunos do ensino médio. Revista electrónica de enseñanza de las ciências, v. 9, n. 3, p. 505- 529, 2010. Chassot, A.; Venquiaruto, l. D.; Dallago, R. M. De olho nos rótulos: compreendendo a unidade caloria. Química nova na escola, n. 21, p. 10-12, 2005. Herreid, C. F. Sorting potatoes for miss bonner – bringing order to case-study methodology through a classification scheme. Journal of college science teaching, v. 27, n. 4, p. 236-239, 1998a. Herreid, C. F. What makes a good case? Journal of college science teaching, v. 27, n. 3, p. 163- 169, 1998b. R. B. E. C. T., vol 5, núm. 3, set-dez.2012 100 Neves A. P.; Guimarães P. I. C.; Merçon F. Interpretação de rótulos de alimentos no ensino de química. Química nova na escola, v. 31, n. 1, p. 34-39, 2009. Pinheiro, A. N.; Medeiros, E. L.; Oliveira, A. C. Estudos de casos na formação de professores de química. Química nova na escola, v. 33, n. 9, p. 1996-2002, 2010. Sá, L. P; Queiroz, S. L. Estudo de casos no ensino de química. Campinas, São Paulo: Átomo, 2009. Silva, R. M. G.; Furtado,S. T. F. Diet ou light: qual a diferença? Química nova na escola, n. 21, p. 14-16, 2005. Waterman, M. A. Investigative case study approach for biology learning. Bioscene: journal of college biology teaching, v. 24, n. 1, p. 3-10, 1998. Fabiele Cristiane Dias Broietti - Licenciada em Química pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), especialista em Ensino de Química pela UEL, mestre em Ensino de Ciências na Modalidade Química pela UEL e doutoranda em Ensino de Ciências Modalidade Química pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), é professora do Departamento de Química da UEL. - fabieledias@uel.br Flaveli Aparecida de Souza Almeida - Licenciada em Química pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), especialista em Química pela UEL, mestre em Química Analítica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ) e doutora em Ciências pela PUC/RJ, é professora do Departamento de Química da UEL. - flaveli@uel.br Renata Cristina Mello Alves Silva - Licenciada em Química pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), especialista em Ensino de Química pela UEL, é professora do Ensino Médio pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED/PR). - rencmas@hotmail.com Estudo de Casos Aplicados ao Ensino de Ciências da Natureza SALETE LINHARES QUEIROZ ENSINO MÉDIO ISBN 978-85-99697-49-8 A expansão do Ensino Técnico no Brasil, fator importante para melhoria de nossos recursos humanos, é um dos pilares do desenvolvimento do país. Esse objetivo, dos governos estaduais e federal, visa à melhoria da competitividade de nossos produtos e serviços, vis-à-vis com os dos países com os quais mantemos relações comerciais. Em São Paulo, nos últimos anos, o governo estadual tem investido de forma contínua na ampliação e melhoria da sua rede de escolas técnicas - Etecs e Classes Descentralizadas (fruto de parcerias com a Secretaria Estadual de Educação e com Prefeituras). Esse esforço fez com que, de agosto de 2008 a 2011, as matrículas do Ensino Técnico (concomitante, subsequente e integrado, presencial e a distância) evoluíssem de 92.578 para 162.105. A garantia da boa qualidade da educação profissional desses milhares de jovens e de trabalhadores requer investimentos em reformas, instalações/laboratórios, material didático e, principalmente, atualização técnica e pedagógica de professores e gestores escolares. A parceria do Governo Federal com o Estado de São Paulo, firmada por intermédio do Programa Brasil Profissionalizado, é um apoio significativo para que a oferta pública de ensino técnico em São Paulo cresça com a qualidade atual e possa contribuir para o desenvolvimento econômico e socialdo estado e, consequentemente do país. Almério Melquíades de Araújo Coordenador de Ensino Médio e Técnico Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza Diretora Superintendente Laura Laganá Vice-Diretor Superintendente César Silva Chefe de Gabinete da Superintendência Luiz Carlos Quadrelli Coordenador do Ensino Médio e Técnico Almério Melquíades de Araújo REALIZAÇÃO Unidade de Ensino Médio e Técnico Grupo de Capacitação Técnica, Pedagógica e de Gestão - Cetec Capacitações Responsável Cetec Capacitações Lucília dos Anjos Felgueiras Guerra Responsável Brasil Profissionalizado Silvana Maria Brenha Ribeiro Coordenador de Projetos Edilberto Félix da Silva Revisão de Conteúdo Yara Denadai Golfi Projeto Gráfico Diego Santos Fábio Gomes Priscila Freire ISBN 978-85-99697-49-8 Projeto de formação continuada de professores da educação profissional do Programa Brasil Profissionalizado - Centro Paula Souza - Setec/MEC Estudo de Casos Aplicados ao Ensino de Ciências da Natureza SALETE LINHARES QUEIROZ NOTA O presente material foi concebido para o Curso “Estudo de Casos Aplicados ao Ensino de Ciências da Natureza”, e nasceu da necessidade de um ensino pautado na realidade do educando, para que os conhecimentos ensinados façam sentido ao aluno e não se restrinjam apenas à memorização de conceitos e fatos, sem nenhuma relação com o dia-a-dia ou com questões socialmente relevantes. Um ensino que proporcione ao aprendiz uma melhor compreensão do mundo e das coisas que acontecem ao seu redor. De acordo com o PCN+ Ensino Médio para Área de Ciências da Natureza, Mate- mática e suas Tecnologias, no mundo atual, os estudantes devem ser capazes de saber se informar, comunicar-se, argumentar, compreender e agir; enfrentar problemas de diferentes naturezas, participar socialmente, de forma prática e solidária; ser capaz de elaborar críticas ou propostas; e, especialmente, adquirir uma atitude de permanente aprendizado. Mas quais abordagens educacionais podem proporcionar o ensino que queremos, que a sociedade necessita e que o mercado de trabalho espera? Como proporcionar um ensino de excelência em si- tuações de poucos recursos materiais e condições físicas não muito adequadas? Na busca por essas respostas, me deparei com o livro “Estudo de Casos no Ensino de Química” de Luciana Passos Sá e Salete Linhares Queiroz. Após a leitura da obra, pas- sei a utilizar o Estudo de Caso em minhas aulas e percebi o enorme potencial dessa abordagem educacional, que proporciona o ensino de conteúdos tanto informati- vos como formativos, adequados para formação de um cidadão e um profissional que tenha uma ação interativa e responsável em nossa sociedade. Como Coordenador de Projetos do Centro Paula Souza, em 2012, decidi promo- ver uma primeira orientação sobre Estudo de Casos para os professores de Quí- mica da instituição, pois trata-se de uma abordagem pouco utilizada pelos pro- fessores e que contribui muito para o ensino de Química e das outras Ciências. Para essa orientação, convidei a Profa. Dra. Salete Linhares Queiroz do Instituto de Química de São Carlos (USP), que aceitou prontamente. E objetivando incen- tivar ainda mais o uso de abordagens educacionais ativas, um novo curso foi ela- borado e a obra “Estudo de Casos Aplicados ao Ensino de Ciências da Natureza”, que permitirá aos seus leitores educadores, se apropriarem do método de Estu- do de Caso, para que construam aulas cada vez melhores e capazes de despertar no aluno o gosto pela aprendizagem e pela pesquisa, fazendo com que este se torne um cidadão capaz de enfrentar os desafios deste novo século. Edilberto Felix da Silva Professor Coordenador de Projetos Apresentação A presente apostila, dirigida a professores dos componentes curriculares de Bio- logia, Física e Química do Ensino Médio e do Ensino Médio Integrado ao Técnico do Centro Paula Souza, tem como objetivo apresentar características e possibili- dades de aplicação do método de Estudo de Casos no ensino de Ciências. Duran- te a realização do curso Estudo de Casos Aplicados a Ciências da Natureza, serão levadas a cabo atividades, pautadas no material nela contido, tendo em vista o oferecimento de subsídios aos professores na elaboração, produção e utilização de casos investigativos em suas aulas. Ao final do curso, casos produzidos pelos professores serão selecionados visando à sua compilação e publicação no forma- to de material didático. Vantagens inerentes à aplicação do método de Estudo de Casos no ensino de Ci- ências têm sido amplamente discutidas, com destaque para a sua potencialidade no estabelecimento de atividades didáticas que permitem o desenvolvimento de conteúdos não somente informativos, mas também formativos. Espero que as ações realizadas no curso contribuam para a sua difusão no Centro Paula Souza e possam auxiliar os professores na busca de alternativas de ensino que propiciem não somente o aprendizado de conteúdos de Ciências, mas também o desenvol- vimento de habilidades como cooperação, argumentação e pensamento crítico. Desde já agradeço aos professores interessados na temática, cujos nomes estão elencados a seguir, pela sua disponibilidade em participar do curso. Salete Linhares Queiroz PROFESSORES MATRICULADOS NO CURSO (2015): ADRIANA MUNIZ, ADRIANO BASTOS NETO, BEATRICE VASCONCELOS, BEATRIZ TINI, CAMILA FANTOZZI, CAROLINE COSTA, CLAUDINEI ANTONIO DE PAULA, CLEUSA MARIA PEREIRA, DAINE DE OLIVEIRA FILHO, DORIANA DE LUCCA, EDUARDO NUNES, ELAINE CRISTINA CENDRETTI, ELDER RAMIRES, GILBERTO BASSETO JUNIOR, GILMAR GOMES FACHINI, IRENILDES OLIVEIRA, JAMIL DA SILVA, JAQUELINI RUFFO, JEFERSON DE OLIVEIRA, JOSÉ BENEDITO JUNIOR, JOSE EDUARDO DE OLIVEIRA, JULIANA CAULKINS, JULIANA CASTRO, KELLY LEME, LIGIA MARIA TROLEZI, LUCAS DA CRUZ SILVA, LUCIANA MENEZES, LUCIANO TRONCHINI, LUIS FERNANDO DA ROCHA, MARCIO TULIO SANTOS, MARCO AURELIO RIBEIRO, MARIISABEL QUEIROZ, MARIA DE FATIMA COCENZO, MARISA ISABEL REMEDI, ORLANDO LUCCHI, PAULO COSTA, REGIANE BRAZ, ROBERTO CARLOS DE OLIVEIRA, SERGIO EDUARDO CANDIDO, SILVANA BOTASSO, SIMONE AMADEU, SOLANGE ALBUQUERQUE, SUELI ARAUJO, TARCILIO CINTRA, VIVIAN RAMIRES. Sumário Método de estudo de casos: suas origens no exterior e sua difusão no ensino de Ciências no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . 9 Estudo de casos: aspectos a considerar na sua produção . . . . . . . . . . . . . . 14 Estudo de casos: possibilidades de utilização em sala de aula. . . . . . . . . . 19 Diretrizes para produção de material didático baseado em estudo casos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Formatação do texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 Segundo Sá e Queiroz1, o método de Estudo de Casos é uma variante do método Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), também conhecido como Problem Based Learning (PBL). Este se originou na Universidade de McMaster, Ontário, Ca- nadá, no final dos anos sessenta, e a sua aplicação por muito tempo se deu no âmbito da formação de profissionais da área da saúde. O método se pauta na aproximação dos alunos com problemas reais e busca a promoção do aprendi- zado de conceitos científicos, o fomento ao pensamento crítico e à habilidade de resolução de problemas. Universidades renomadas fazem uso do método há muito tempo, como a Universidade de Maastricht, na Holanda. De fato, a sua difu- são foi ampla e alcançou países em diversos continentes, inclusive no Brasil, onde alguns cursos de Medicina funcionam nos moldes apregoados pelo PBL. A título de exemplo, citamos os cursos de Medicina da Universidade Federal de São Carlos e da Universidade Federal do Amapá. Na sua concepção original, o método PBL assume a aplicação junto aos alunos de problemas durante todo o período de um curso universitário. A aplicação do mé- todo de estudo de casos, por outro lado, se baseia na aplicação de problemas, no formato de casos investigativos, que pode ocorrer no contexto