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O ESTUDO DE CASO COMO ESTRATÉGIA 
METODOLÓGICA PARA O ENSINO DE QUÍMICA NO 
NÍVEL MÉDIO 
CASE STUDY AS A METHODOLOGICAL STRATEGY TO CHEMISTRY 
TEACHING IN HIGH SCHOOL 
Maurícius Selvero Pazinato [mauriciuspazinato@gmail.com] 
Mara Elisa Fortes Braibante [maraefb@gmail.com] 
Universidade Federal de Santa Maria, Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências: Química 
da Vida e Saúde, Campus UFSM, Camobi, Departamento de Química (Prédio 18), sala 2119, Santa 
Maria – RS, CEP 97105900. 
 
RESUMO 
O método Estudo de Casos tem origem na metodologia “Aprendizagem Baseada em 
Problemas” e consiste em narrativas de situações complexas que necessitam do 
conhecimento científico para a tomada de decisão. Os objetivos deste trabalho são 
apresentar o caso “A saúde de Maria Eduarda”, relatar sua aplicação em uma turma 
da 3ª série do ensino médio como parte de uma intervenção baseada na temática 
“Alimentos”, bem como discutir sua contribuição em relação à formação científica e 
cidadã dos participantes desta pesquisa. Os resultados demonstram que esta 
metodologia auxilia os estudantes na interpretação de textos, promove a capacidade 
de identificação e resolução de problemas, além de possibilitar a aplicação dos 
conteúdos de Química em situações do cotidiano. 
PALAVRAS-CHAVE: estudo de caso; estratégia; ensino de Química. 
 
ABSTRACT 
The Case Study method has its origin in the “Problem-Based Learning” methodology 
and consists of narratives of complex situations which need scientific knowledge for 
decision making. The purposes of this paper are to present the case “Maria Eduarda’s 
Health”, to describe its application in a Senior High School group as part of an 
intervention based on the theme “Food”, as well as to discuss its contribution 
concerning the civic and scientific education of the participants of the survey. The 
results show that this methodology helps the students in textual interpretation, 
promotes the ability to identify and solve problems and, in addition, enables the 
application of Chemistry contents in everyday situations. 
KEYWORDS: Case Study; strategy; Chemistry teaching. 
 
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INTRODUÇÃO 
A busca por metodologias que sejam aliadas dos professores no desenvolvimento 
dos conteúdos de Química tem suscitando diversos estudos. Muitas propostas vêm 
sendo apresentas, a partir da ideia da construção do conhecimento por meio da 
utilização de “problemas” no ensino de Ciências. Em específico, neste trabalho 
trataremos da utilização do método Estudo de Casos no Ensino de Química. 
Antes de apresentarmos os pressupostos que orientam esse método, uma reflexão 
a respeito da problematização no Ensino de Ciências nos parece conveniente ser 
feita. No livro A necessária renovação do Ensino de Ciências, Cachapuz e 
colaboradores (2011) apresentam algumas considerações acerca do problema para a 
Ciência sob a perspectiva de dois importantes pensadores da área. 
Simplificadamente, para Bachelard, sem a interrogação não pode haver 
conhecimento científico e para Popper toda a discussão científica deve partir de um 
problema. Com respaldo nesses comentários, corroboramos com a ideia de Cachapuz 
e colaboradores (2011) quando finalizam essa discussão e propõem que é nos 
problemas que encontramos 
uma das principais fontes de motivação intrínseca, que deve ser 
estimulada no sentido de se criar nos alunos um clima de verdadeiro 
desafio intelectual, um ambiente de aprendizagem de que as nossas 
aulas de Ciências são hoje tão carentes (CACHAPUZ et al., 2011: 76). 
Nesse contexto, a metodologia de ensino Estudo de Casos tem origem no método 
Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), conhecido também como Problem 
Based Learning (PBL), que surgiu no final dos anos sessenta na Escola de Medicina 
da Universidade de McMaster localizada na cidade de Ontário, Canadá (SÁ e 
QUEIROZ, 2009; QUEIROZ et al., 2007; SILVA et al., 2011). Como uma das variantes 
do ABP, “o Estudo de Caso é um método que oferece aos estudantes a oportunidade 
de direcionar sua própria aprendizagem, enquanto exploram a Ciência envolvida em 
situações relativamente complexas” (QUEIROZ et al., 2007: 731). 
Algumas de suas principais definições são: os Estudos de Casos são histórias com 
uma determinada mensagem, não são simples narrativas para entretenimento, são 
histórias para ensinar (HERREID, 1998). Para Serra e Vieira (2006: 10) “casos são 
relatos de situações ocorridas no ‘mundo real’, apresentadas a estudantes com a 
finalidade de ensinar, preparando-os para a prática”. O método de Estudo de Casos 
consiste na utilização de narrativas – os casos propriamente ditos – sobre dilemas 
vivenciados por indivíduos que necessitam tomar decisões ou buscar soluções para 
os problemas enfrentados (SILVA et al., 2011: 186). No livro Estudo de Casos no 
ensino de Química, as autoras Luciana Passos Sá e Salete Linhares Queiroz enunciam 
que: 
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O Estudo de Casos é um método que oferece aos estudantes a 
oportunidade de direcionar sua própria aprendizagem e investigar 
aspectos científicos e sociocientíficos, presentes em situações reais ou 
simuladas, de complexidade variável. Esse método consiste na 
utilização de narrativas sobre dilemas vivenciados por pessoas que 
necessitam tomar decisões importantes a respeito de determinadas 
questões. Tais narrativas são chamadas casos (SÁ e QUEIROZ, 2009: 
12). 
O ensino de Química demanda a relação de dois componentes básicos: a 
informação química e o contexto social (SANTOS e SCHNETZLER, 2003), sendo que o 
entendimento dos conteúdos químicos auxilia na formação de cidadãos informados, 
capacitando a sua atuação na sociedade. O Estudo de Caso é uma proposta capaz de 
atender a essa demanda, pois enfatiza o aprendizado autodirigido dos conceitos 
químicos e o desenvolvimento da habilidade de tomada de decisões que se 
fundamentam nos conceitos científicos. Nesse sentido, os objetivos deste artigo são 
apresentar o caso “A saúde de Maria Eduarda”, relatar sua aplicação em uma turma 
da 3ª série do ensino médio, bem como discutir os resultados obtidos em relação à 
formação científica e cidadã dos participantes desta pesquisa. 
A utilização do Estudo de Casos no ensino de Química está evidenciada nos 
trabalhos apresentados em congressos e artigos publicados em revistas da área de 
Educação em Ciências. As iniciativas de popularização dessa metodologia de ensino 
na área da Química devem-se principalmente aos periódicos Journal of Chemical 
Education, The Chemical Educator e Chemistry Education Research and Practice, 
sendo que o primeiro criou uma seção específica para abordar este método em 1998. 
No Brasil, o método foi introduzido pelo Grupo de Pesquisa em Ensino de Química do 
Instituto de Química de São Carlos (GPEQSC) da Universidade de São Paulo, que 
produziram casos abordando questões sociocientíficas e científicas (SÁ e QUEIROZ, 
2009). Um levantamento bibliográfico apresentado por Pinheiro et al. (2010) 
realizado nos periódicos Química Nova, The Chemical Educator, Chemical Education 
Research and Practice, International Journal of Educational Development, Journal of 
Chemical Education, dentre outros, verificou a existência de 35 artigos científicos 
publicados entre 1980 e 2009, abordando o Estudo de Casos como uma ferramenta 
para o ensinode Química. Apesar desse considerável número, poucos trabalhos 
estavam relacionados com o aprimoramento dos conceitos químicos no nível médio, 
sendo grande parte deles voltados para o ensino de Química na graduação e pós-
graduação. 
Atualmente, algumas propostas utilizando o Estudo de Caso no ensino médio são 
encontradas com maior frequência na literatura. Dentre elas, destacamos o trabalho 
de Silva e colaboradores (2011) que utiliza o caso “SOS Mogi-Guaçu: mortandade de 
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peixes no pesqueiro Recanto do Sentado” com estudantes da 2ª série do ensino 
médio. Na perspectiva de uma educação sustentável e para a cidadania, através 
desse caso os estudantes tiveram a oportunidade de discutir sobre poluição aquática, 
tipos de agrotóxicos e suas implicações para os seres vivos, despejos de esgotos em 
rios, processos de eutrofização, entre outros temas de importância ambiental. Os 
autores também enfatizam que essa estratégia de ensino promoveu nos estudantes o 
desenvolvimento da comunicação escrita, da argumentação e persuasão, da 
capacidade de trabalhar em grupo e de investigar e solucionar problemas. Ainda em 
uma problemática ambiental, Sousa e colaboradores (2012) estruturaram o “Caso 
das macieiras da serra”, que suscitou a discussão de questões como o controle de 
pragas na agricultura e seus impactos sociais, ambientais e econômicos, além de 
possibilitar aos estudantes da 3ª série do ensino médio a utilização do conceito de 
isomeria para a explicação ou resolução do problema. O trabalho de Alba e 
colaboradores (2013) também utiliza a proposta metodológica Estudo de Casos no 
nível médio. O caso “Automedicação: uma opção perigosa!” foi aplicado a uma turma 
da 2ª série do ensino médio que estava iniciando seus estudos em Química Orgânica 
e foi utilizado para o ensino de funções orgânicas. Segundo os autores, a 
metodologia empregada favoreceu aprendizagens conceituais, desenvolvimento de 
habilidades, além de motivar os estudantes que se envolveram nas atividades 
desenvolvidas. 
A fim de contribuir com mais uma proposta de utilização do Estudo de Casos no 
ensino médio, foi elaborado e aplicado pelos autores deste trabalho o caso “A saúde 
de Maria Eduarda”. A seguir, apresentaremos os objetivos e pressupostos em que 
nos baseamos para sua elaboração. 
 
OBJETIVOS DO ESTUDO DE CASO E PRESSUPOSTOS PARA SUA 
ELABORAÇÃO 
O método de Estudo de Casos muitas vezes é empregado com o objetivo de 
promover competências e habilidades nos estudantes como, por exemplo, 
interpretação de textos, resolução de problemas e tomada de decisões, porém sua 
utilização em sala de aula não é tão fácil quanto parece. O método exige uma 
participação ativa do professor, que tem um papel indispensável na aprendizagem 
dos alunos, sua atuação não se limita a simples escolha ou à redação de um caso e a 
sua aplicação. Essa metodologia de ensino exige muito do professor, pois antes da 
aplicação do caso há um trabalho extenso e minucioso por parte de quem o escreveu 
(que pode ser o docente ou não), a preparação cuidadosa executada pelo professor 
que vai aplicá-lo, bem como a exigência de dominar o assunto e sua aplicabilidade 
para as possíveis discussões em aula. Após a aplicação do caso, o professor deve se 
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dedicar à avaliação do processo em si e das apresentações dos grupos e dos 
estudantes individualmente. Desta forma, a aplicação de um estudo de caso 
contempla três etapas (Figura 1), sendo que a primeira se divide em outras três 
(SERRA e VIEIRA, 2006). 
 
Figura 1- Etapas da aplicação do Estudo de Caso. 
Através da aplicação de um estudo de caso podem ser almejados os seguintes 
objetivos educacionais: introduzir conteúdos específicos; estimular a capacidade de 
tomada de decisão; demonstrar a aplicação de conceitos químicos na prática; 
desenvolver a habilidade em resolver problemas; desenvolver a habilidade de 
comunicação oral e escrita; trabalhar em grupo e o pensamento crítico. Para tanto, é 
necessário que estudantes e professor cumpram algumas tarefas básicas que estão 
elencadas no Quadro 1, que foi elaborado a partir das ideias de Sá e Queiroz (2009). 
Tarefas dos estudantes Tarefas do professor 
- Identificar e definir o problema. 
- Acessar, avaliar e usar informações 
necessárias à resolução do problema. 
- Apresentar a solução do problema. 
- Ajudar o estudante a analisar o problema, 
buscar informações sobre o assunto, 
considerar suas possíveis soluções. 
- Incentivar a reflexão sobre as 
consequências das decisões tomadas. 
Quadro 1- Tarefas para o bom andamento do Estudo de Caso 
 
Em relação à elaboração de um “bom” estudo de caso, alguns aspectos devem ser 
considerados pelos autores. O Quadro 2 elenca algumas características de um estudo 
de caso “bom” e outro “ruim”, que foram organizadas com base nas ideias de Herreid 
(1998) e Serra e Vieira (2006). 
 
 
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Características de um estudo de caso 
“ruim” 
Características de um estudo de caso 
“bom” 
- apresentar apenas a descrição dos fatos; 
- apresentar uma história sem foco 
definido; 
- não deixar claro o problema a ser 
discutido; 
- não conter informações necessárias para 
o esclarecimento do caso; 
- não mostrar o ambiente com o qual o 
assunto ou a organização estão 
envolvidos; 
- ser longo. 
- abordar um assunto relevante, que 
desperte interesse e atual; 
- possibilitar que haja empatia entre os 
estudantes e os personagens centrais; 
- incluir declarações e comentários dos 
personagens; 
- ser construído com objetivo didático 
claro; 
- apresentar fatos claros, precisos, 
abrangentes e que contenham todos os 
dados que os estudantes possam precisar 
para tomar decisões; 
- possibilitar a reflexão de situações usuais 
do mundo real; 
- provocar um conflito (fatos 
controversos); 
- ser curto. 
Quadro 2- Características do Estudo de Caso “bom” e “ruim”. 
 
Um exemplo de um “bom” caso, de acordo com as recomendações propostas por 
Herreid (1998) e Serra e Vieira (2006), é o “Ameaça nos Laranjais” (SÁ, 2006). Este 
caso é apresentado no Quadro 3, em que destacamos as principais características 
que devem ser consideradas para a produção de um “bom” caso. 
 
 
 
 
 
 
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Quadro 3- O Caso “Ameaça nos Laranjais” e a identificação dos elementos que auxiliam na 
elaboração de um “bom” caso 
 
Ameaça nos Laranjais 
 
Aproximadamente há três anos, em laranjais do município mineiro de Comendador Gomes, a 
poucos quilômetros da divisa com São Paulo, foi identificada pela primeira vez uma doença estranha, de 
origem misteriosa, que aniquila uma laranjeira emalgumas semanas e, atualmente representa a maior 
ameaça para a citricultura do estado de São Paulo e do sul de Minas Gerais. 
Alfredo sempre morou e estudou em Barretos, onde concluiu o ensino médio juntamente com 
alguns amigos de infância. Depois de tantos anos estudando juntos, finalmente a separação foi 
inevitável. Alfredo prestou vestibular para odontologia na UNESP de Araraquara e George para letras, na 
mesma universidade. Fernando, Solange, Fabiana e Milena optaram por química na USP de São Carlos. 
Ao visitar a família no feriado, Alfredo tomou conhecimento de coisas estranhas que ocorriam por 
lá. Logo ao amanhecer, ao tomar café, seus pais, Seu Joaquim e Dona Cecília, lhe contaram o que está 
acontecendo. 
- Filho, os laranjais das nossas terras estão com uma misteriosa doença, perderam as folhas, que 
estão ficando sem brilho e algumas até já morreram. Estamos preocupados porque necessitamos da 
renda que vem desses laranjais, inclusive para manter você na universidade. 
- Pai, eu não entendo nada de agricultura, mas posso pedir ajuda aos meus colegas que estão 
morando em São Carlos. Eles estudam química e talvez possam nos ajudar a eliminar o problema que 
escrever uma carta e contar a eles o nosso problema. Vou fazer isso agora mesmo. 
 
Barretos, 07 de setembro de 2004. 
Olá, Queridos amigos! 
Como é grande a saudade que sinto de vocês! Não nos vemos há muito tempo. Achei que vocês voltariam para a 
casa nesse feriado. 
Eu preciso de ajuda. Os nossos laranjais estão com uma misteriosa doença. As folhas perdem o brilho, acabam por 
cair, algumas árvores já até morreram. Parece que isso também tem acontecido em outras regiões aqui perto. 
Gostaria que vocês nos aconselhassem sobre o que devemos fazer, pois acredito que na área de química existam 
pesquisas sobre esse assunto. 
Mamãe está mandando um abraço para todos vocês. 
Espero reencontrá-los em breve, 
Alfredo. 
 
 
Vocês são esses amigos de infância de Alfredo, e terão que ajudá-lo a descobrir o que está acontecendo 
nos pomares de laranja e propor soluções para o problema. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Um bom caso narra 
uma história Um bom caso 
deve ser atual 
Um bom 
caso é 
relevante 
ao leitor e 
desperta o 
interesse 
pela 
questão 
Um bom 
caso 
inclui 
citações 
Um bom 
caso força 
uma 
decisão 
Um bom 
caso 
provoca um 
conflito 
Um bom 
caso deve 
ter 
utilidade 
pedagógica 
Um bom caso produz 
empatia com os 
personagens centrais 
Um bom caso é curto 
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Baseados no caso “Ameaça nos Laranjais” e fundamentados nos pressupostos 
citados anteriormente, elaboramos o caso “A saúde de Maria Eduarda”. A seguir, 
apresentaremos o contexto e a metodologia empregada nesta pesquisa bem como o 
caso aplicado, seguidos pela análise dos resultados. 
 
CONTEXTO DA APLICAÇÃO DO CASO E METODOLOGIA DA PESQUISA 
Este trabalho faz parte de uma pesquisa de mestrado, na qual investigamos as 
implicações da inserção da temática “Alimentos” aliada a metodologias de ensino 
diferenciadas no nível médio, sendo uma delas o Estudo de Casos (PAZINATO, 2012). 
As intervenções foram desenvolvidas durante os períodos regulares da disciplina de 
Química de uma turma da 3ª série do ensino médio de uma escola da rede estadual 
de ensino da cidade de Santa Maria, RS – Brasil. A turma era composta por 32 
estudantes, 19 do sexo feminino e 13 do sexo masculino, com faixas etárias bastante 
homogêneas, sendo 26 alunos com 17 anos e 6 alunos com 18 anos. 
Durante o período de dois meses, os conteúdos de Química foram desenvolvidos a 
partir do tema “Alimentos” através de oficinas temáticas. Na primeira oficina temática 
“Composição química dos alimentos” foram abordados os seguintes conteúdos: 
- tipos de nutrientes: macronutrientes que são as biomacromoléculas 
(carboidratos, lipídeos, proteínas) e micronutrientes (vitaminas e sais minerais); 
- funções orgânicas. 
Na segunda oficina “Alimentos: o combustível da vida” foram trabalhados os 
conteúdos: 
- Energia 
- Unidades do SI 
- Processo de obtenção de energia a partir dos alimentos 
- A quantificação da energia das reações químicas (calorímetro) 
- Energia dos alimentos e das atividades físicas 
- Guias alimentares: Pirâmide dos alimentos e roda alimentar. 
Essas duas oficinas ocuparam sete das dez intervenções desenvolvidas e tiveram 
duração de 10 horas/aula. O Estudo de Caso “A saúde de Maria Eduarda” foi 
elaborado pelos pesquisadores deste trabalho com o objetivo de estimular os 
estudantes na resolução de problemas e na tomada de decisões conscientes, 
fundamentadas nos conhecimentos científicos adquiridos nas oficinas anteriores. Para 
a aplicação do estudo de caso foram necessárias duas intervenções, que 
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corresponderam a 4 horas/aula, sendo que a décima intervenção foi destinada para 
avaliação dos estudantes sobre toda intervenção. 
Durante a primeira intervenção referente à aplicação do caso, a turma foi dividida 
em quatro grupos, organizados pela afinidade dos alunos. Após a formação dos 
grupos, o caso “A saúde de Maria Eduarda” foi distribuído para cada estudante. Em 
um segundo momento, foi explicado o objetivo da atividade e que para poder 
resolvê-la seria necessária a realização de uma pesquisa bibliográfica. A fim de 
auxiliar os estudantes nesta etapa, foram fornecidas informações sobre algumas 
fontes de pesquisa, tais como: livros, textos de divulgação científica, revistas 
científicas e materiais eletrônicos. Os livros utilizados na pesquisa dos alunos foram 
disponibilizados pela biblioteca da escola, os textos de divulgação científica e os 
artigos científicos foram viabilizados pelo pesquisador e a pesquisa eletrônica foi 
realizada no laboratório de informática da escola. O tempo disponibilizado pela escola 
para as aulas de Química não permitiu que os estudantes realizassem toda a 
pesquisa em horário de aula, sendo essa concluída em horários do turno inverso, e 
para isso foi disponibilizado a cada grupo cópias dos textos de divulgação científica e 
dos artigos científicos. Os grupos tiveram o período de uma semana para 
pesquisarem e organizarem as suas propostas de “solução” para o caso. Na aula 
seguinte, dois estudantes de cada grupo apresentaram para o restante da turma os 
resultados de sua pesquisa, bem como cada grupo entregou um relatório 
descrevendo a solução do caso. O Quadro 4 apresenta o caso “A saúde de Maria 
Eduarda”. 
De acordo com a classificação de Herreid (1998) o caso “A saúde de Maria 
Eduarda” é considerado um “bom” estudo de caso, pois apresenta as seguintes 
características: o assunto é relevante e atual, desperta o interesse, produz empatia 
com os personagens centrais, inclui citações, provoca conflitos e é curto. 
Em relação à análise dos dados obtidos, os mesmo foram tratados em uma 
perspectiva qualitativa e nos preocupamos mais com o processo do que com os 
resultados finais. Ainda esta pesquisa apresenta as seguintes características: 
-[...] tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o 
pesquisador como seu principal instrumento [...] 
- Os dados coletados são predominantemente descritivos [...] 
- A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto 
[...] 
- A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo [...] 
(LÜDKE eANDRÉ, 1986: 11). 
 
 
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Quadro 4- O caso “A saúde de Maria Eduarda”. 
 
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Nesta investigação valorizamos a subjetividade dos sujeitos da pesquisa, através 
da observação e do material obtido durante a realização das intervenções, e o 
pesquisador não é considerado neutro, pois suas crenças e valores influenciam na 
obtenção e análise dos dados. De acordo com Günther (2006), a pesquisa qualitativa 
tem como características a grande flexibilidade e adaptabilidade, já que não utiliza 
instrumentos e procedimentos padronizados, considera cada problema objeto de uma 
pesquisa específica para a qual são necessários instrumentos e procedimentos 
específicos. Sendo assim, os passos que desenvolvemos foram: delineamento, coleta 
de dados, transcrição e preparação dos mesmos para sua análise específica. A seguir, 
apresentaremos os resultados obtidos e a maneira como foram analisados. 
 
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 
O caso “A saúde de Maria Eduarda” foi aplicado com o objetivo de promover 
competências e habilidades, como interpretação de textos, resolução de problemas e 
tomada de decisões, além de proporcionar a aplicação dos conceitos químicos em 
situações reais. Para incentivar a discussão do caso, a turma foi dividida em quatro 
grupos, que deveriam produzir um texto com as possíveis soluções para o problema 
e escolher dois representantes para apresentarem em aula as considerações de todo 
o grupo. 
Com base nos textos produzidos pelos estudantes, na apresentação dos grupos e 
na discussão em sala de aula, foram criadas duas categorias para a análise da 
aplicação do caso, sendo elas: Possíveis soluções para o problema proposto e 
Avaliação dos estudantes sobre o caso. 
- Possíveis soluções para o problema proposto 
De acordo com Sá e Queiroz (2009), para resolver um caso os estudantes devem 
passar por três etapas: identificação e definição do problema; acessar, avaliar e usar 
informações necessárias à sua solução; e por fim, apresentar a solução do problema. 
Assim, podemos constatar que os quatro grupos atingiram esses três estágios, pois 
todos apresentaram soluções para o caso. 
Em relação à primeira fase da resolução do caso, os estudantes identificaram o 
problema proposto pela situação, conforme os trechos a seguir: 
Grupo 1: Nós temos que descobrir o que está prejudicando a saúde 
dela (Maria Eduarda), para isso temos que entender os dados do 
exame de sangue. Depois, temos que apontar as medidas que o 
médico deverá tomar para melhorar a saúde da Maria Eduarda. 
Grupo 2: A gente é os amigos químicos da Maria Eduarda e vamos 
(sic) ajudá-la a descobrir o que está prejudicando a sua saúde. 
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Grupo 3: Temos que encontrar soluções para ajudar a melhorar a 
saúde da Maria Eduarda. Vamos ter que pesquisar e analisar o exame 
de sangue dela, para descobrir o que ela tem. 
Grupo 4: O problema é a saúde dela (Maria Eduarda) temos que 
descobrir por que ela não está bem. 
Os grupos não apresentaram dificuldades na interpretação do problema, 
provavelmente isso se deve ao fato de o caso aplicado ser considerado “estruturado”, 
conforme a classificação de Sá (2010). Neste tipo de estudo de caso, o problema a 
ser solucionado é de fácil detecção, e pode apresentar várias alternativas de solução, 
cabendo ao estudante a tarefa de optar pela mais viável. 
Sobre a segunda etapa da resolução, os estudantes utilizaram várias fontes 
bibliográficas em sua pesquisa. Essa constatação foi realizada em aula, pois foi 
fornecido um tempo para consultas em livros, textos de divulgação científica, artigos 
científicos e materiais eletrônicos. Além disso, na aula referente à apresentação das 
soluções de cada grupo, alguns estudantes comentaram que utilizaram os dados dos 
exames de sangue de amigos, vizinhos ou parentes para comparar com os índices 
apresentados pelo caso. Portanto, a pesquisa bibliográfica é uma das características 
centrais desse método, uma vez que requer que o próprio estudante acesse, avalie e 
use as informações para solucionar os problemas (SILVA et al., 2011; SÁ e QUEIROZ, 
2009). 
Enfim, para apresentação da solução do problema, os estudantes aplicaram seus 
conhecimentos de Química e apuraram informações realmente relevantes para o 
caso. A solução do problema exigiu que os estudantes formulassem hipóteses, parte 
essencial de uma pesquisa. Para Cachapuz e colaboradores (2011) a hipótese tem 
um papel de articulação e de diálogo entre as teorias, as observações e as 
experimentações, servindo de guia à própria investigação. Algumas hipóteses 
levantadas pelos grupos foram: 
Grupo 2: Comparando os níveis dos componentes do sangue da 
Maria Eduarda com os padrões, percebemos que todos estão fora da 
faixa de normalidade. Isso pode ser por causa da má alimentação que 
vem tendo, ou também por não ter tempo para exercícios físicos. 
Grupo 3: A Maria Eduarda está com todos os componentes do 
sangue alterados. Temos duas possibilidades para a causa desse 
problema: a primeira pode ser a alimentação errada e a segunda 
pode ser alguma doença. Já as tonturas e dores de cabeça podem ser 
por causa da falta de nutrientes ou ela pode estar grávida. 
Esses textos confirmam a ideia de Cachapuz e colaboradores (2011), de que as 
hipóteses são os guias de uma pesquisa. 
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Nessa metodologia, o elemento central do processo de aprendizagem são os 
problemas, os dilemas, os casos a serem solucionados (SILVA et al., 2011). Desta 
forma, a aplicação dos conteúdos químicos na tentativa de encontrar soluções para o 
caso de Maria Eduarda, favoreceu a aprendizagem dos estudantes. Alguns textos 
produzidos pelos grupos foram: 
Grupo 1: Pesquisando, descobrimos que alimentos com frituras 
(pastel, hambúrguer...) possuem ácidos graxos trans. Os lipídeos que 
podem ser formados por esse tipo de ácido, que afeta o coração e 
causa o cansaço que a Maria Eduarda sente. A tontura e a visão fraca 
é falta da substância química retinol presente na vitamina A, que é 
encontrada na cenoura, espinafre e fígado de animal. 
Grupo 2: A Maria Eduarda come muito doce. Os doces são formados 
por açúcares, que são um tipo de carboidrato, que quando em 
excesso ficam no sangue e causam uma doença conhecida como 
diabetes. O principal açúcar encontrado nos doces é a sacarose (um 
dissacarídeo) que se quebra em glicose e frutose, por isso que a 
Maria Eduarda está com a glicose acima do normal. Para baixar essa 
quantidade de glicose, ela deve diminuir os carboidratos como os 
doces, as massas e os pães. 
Grupo 3: O exame de sangue dela (Maria Eduarda) nos informa que 
ela está se alimentando muito mal. Estudamos que os alimentos 
fornecem importantessubstâncias para as pessoas e que devemos ter 
uma alimentação saudável, fazer atividades físicas também pode 
ajudar. A melhor maneira de manter os níveis adequados de 
colesterol é se exercitar e comer bem. Procuramos alguns alimentos 
que ajudam a manter o bom colesterol e baixar o mau colesterol: 
frutas, vegetais, feijões e comer frango ou peixes ao invés de carne 
vermelha. Então, percebemos que a Maria Eduarda deve comer um 
pouco de tudo e evitar excessos, tem que comer todos os nutrientes 
como carboidratos, proteínas, vitaminas e lipídeos, pois eles fornecem 
substâncias importantes para a nossa vida. 
Grupo 4: Analisando os exames de Maria Eduarda, podemos notar 
que eles não apresentaram um bom resultado. Sua alimentação não 
está balanceada e com certeza ela deve ingerir mais do que as 2.100 
Kilocalorias indicadas para a sua idade. A alimentação dela está fora 
dos padrões estabelecidos pela OMS (Organização Mundial da Saúde) 
na pirâmide dos alimentos, pois os carboidratos são o tipo de 
alimento que ela mais consome. 
A função do ensino de Química deve ser a de desenvolver a capacidade de tomada 
de decisão, o que implica a necessidade de vinculação do conteúdo trabalhado com o 
contexto social em que o aluno está inserido (SANTOS e SCHNETZLER, 1996). 
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Podemos perceber que o caso possibilitou a aplicação e a discussão dos conteúdos 
científicos, a partir do problema proposto e que para os estudantes proporem 
possíveis soluções, tiveram que tomar decisões fundamentadas nos conceitos 
científicos aprendidos na escola. 
Em relação às providências que o médico de Maria Eduarda deverá tomar, dois 
grupos apresentaram suas opiniões: 
Grupo 1: O Dr. Pedro deverá recomendar que a Maria Eduarda se 
alimente melhor e faça exercícios físicos. Ela deve parar de comer 
besteiras e doces fora de hora, já que sua glicose está 110 mg/dL e o 
normal é de 70 - 100. Também deve ter uma alimentação variada 
com todos os tipos de nutrientes, e rica em vitamina A para melhorar 
sua visão. 
Grupo 4: Para não utilizar medicamentos no tratamento da Maria 
Eduarda, o médico deverá mandar que ela mude seus hábitos 
alimentares. O médico pode fazer uma dieta para ela com todas as 
vitaminas e nutrientes que ela precisa. 
Nos textos produzidos é evidente a apropriação de termos como nutrientes, 
carboidratos, lipídeos, proteínas e vitaminas, o que demonstra certa familiaridade dos 
estudantes com esses conceitos. Embora estejam presentes nas produções dos 
alunos, muitas vezes, esses conceitos não são empregados corretamente, como, por 
exemplo, no trecho do grupo 4, no qual os estudantes fazem menção a nutrientes e 
às vitaminas, como se as vitaminas não fossem um tipo de nutriente. 
Ao final dessa atividade, todos os grupos apontaram a alimentação como causa ou 
uma das causas dos problemas de saúde de Maria Eduarda, e propuseram diversas 
soluções para o caso, cumprindo com a proposta inicial da metodologia de ensino. De 
acordo com Cardoso e Colinvaux (2000) o ensino da Química deve-se ao fato de 
possibilitar ao homem o desenvolvimento de uma visão crítica do mundo que o cerca, 
podendo analisar, compreender e utilizar este conhecimento no cotidiano, tendo 
condições de interferir em situações que contribuem para sua qualidade de vida. 
 - A avaliação dos estudantes sobre o caso 
A avaliação dos estudantes sobre o estudo de caso “A saúde de Maria Eduarda” 
ocorreu durante a apresentação dos grupos, e as suas opiniões foram registradas 
através de anotações feitas pelos pesquisadores. Apesar de somente dois integrantes 
de cada grupo apresentarem as soluções para o caso, essa aula promoveu muitas 
discussões e a participação de toda a turma. 
O estudo de caso “A saúde de Maria Eduarda” foi uma ferramenta motivadora do 
ensino de Química. Por meio das situações problemáticas propostas, os estudantes 
sentiram-se motivados a pesquisar soluções para o caso: 
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Estudante do grupo 4: Ao discutirmos sobre a saúde da Maria 
Eduarda, nos perguntávamos o que poderia estar causando esses 
problemas nela? 
Estudante do grupo 1: O mais legal era ir achando as soluções para 
os sintomas dela. O mais fácil foi o da baixa visão à noite, que é 
causado pela deficiência de vitamina A. 
Uma das habilidades desenvolvidas pelo caso proposto foi a busca de informações 
em diferentes fontes. Os estudantes ressaltaram em suas falas que aprenderam a 
fazer pesquisas bibliográficas e que essas contribuíram muito para a resolução do 
problema, isso pode ser observado nos trechos a seguir: 
Estudante do grupo 4: Pesquisamos em vários livros, sites e artigos 
científicos. No começo, sentimos dificuldades pela linguagem 
utilizada, mas no final fomos nos acostumando. 
Estudante do grupo 3: Nunca pesquisamos em tantas coisas 
diferentes, mas isso foi essencial para conseguirmos encontrar uma 
solução para os problemas da Maria Eduarda. 
Outro aspecto a ser considerado é a identificação dos estudantes com os 
personagens do caso e com o problema proposto. De acordo com Sá e Queiroz 
(2009), as narrativas que devem ser solucionadas devem estar relacionadas com o 
contexto social e/ou profissional no qual os alunos estão imersos. 
Estudante do grupo 4: A Maria Eduarda se parece muito comigo, a 
única diferença é que em vez de Direito, quero cursar Farmácia. 
Estudante do grupo 2: Nós vivemos os mesmos problemas da Maria 
Eduarda, também temos a pressão do vestibular e às vezes, ficamos 
doentes também e, isso nos atrapalha. 
Encontrar metodologias de ensino que ajudem os estudantes a realizarem 
atividades que levam em consideração suas experiências, interesses e estimulem a 
tomada de consciência e participação nas decisões de caráter sócio-científico são de 
vital importância para um bom encaminhamento da educação básica no país (SILVA 
et al., 2011). Desta forma, constatamos que o estudo de caso motivou os estudantes 
e desenvolveu habilidades como interpretação de problemas e investigação de 
soluções, auxiliando-os na capacidade de tomada de decisões, componente 
necessário para uma formação cidadã. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Os nossos principais objetivos com a aplicação do caso “A saúde de Maria 
Eduarda” foram: auxiliar os estudantes na interpretação de textos, promover a 
capacidade de identificação e resolução de problemas, além de possibilitar a 
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aplicação dos conteúdos de Química. Através dos resultados obtidos, percebemos 
que atingimos esses propósitos. 
O Estudo de Caso é um método que exige leitura e interpretação para que se 
possa compreender o problema proposto. Apesar de o caso aplicado apresentar a 
tarefa de forma clara, a mesma precisou ser entendida pelos estudantes para que 
pudessem sistematizar os próximos passos de suas pesquisas. Esta metodologia de 
ensino propiciou um ambiente de interação entre os estudantes na busca de 
respostas que solucionassem o problema da personagem central “Maria Eduarda”. 
Eles propuseram hipóteses, pesquisaram em diferentes fontes, debateramsobre as 
possíveis causas dos sintomas da personagem, para enfim formularem suas 
respostas e soluções para o caso. Desta forma, fica evidente que a metodologia de 
ensino utilizada desenvolveu habilidades como interpretação de problemas 
(interpretação do exame de sangue), pesquisa em diferentes fontes (levantamento 
de informações relevantes para o caso), investigação de possíveis soluções (análise e 
julgamento das informações obtidas) bem como a capacidade de tomada de decisões 
para a proposição de respostas e soluções para o caso. 
 Além disso, esta atividade proporcionou a aplicação dos conhecimentos químicos 
em situações reais, as quais muitas vezes faziam parte da rotina dos próprios 
estudantes. Outra vantagem da estória narrada no caso aplicado foi à identificação 
da turma com os problemas vivenciados pela personagem central que, como os 
estudantes, estava no último ano do ensino médio e com várias atividades durante o 
seu dia, dentre elas a preparação para o vestibular. 
A temática “Alimentos” que esteve em pauta em todas as intervenções, inclusive 
no caso proposto, permitiu a discussão e a reflexão dos estudantes em relação aos 
seus hábitos alimentares. A relação da Química com a energia e a composição 
química dos alimentos possibilitou alguns esclarecimentos e maior compreensão 
sobre este tema tão complexo e ao mesmo tempo tão presente no dia a dia de 
todos. Acreditamos que a indiscutível presença dos alimentos no cotidiano deu 
significado aos conteúdos e conceitos abordados em aula, contribuindo para um 
ensino voltado para o desenvolvimento pessoal com a aplicação dos conteúdos de 
Química em situações cotidianas. 
Portanto, todos esses fatores favoreceram a aprendizagem dos conteúdos de 
Química. O método Estudo de Casos promoveu o trabalho em grupo, a capacidade 
de tomada de decisão e a interpretação de problemas reais, desta forma 
concretizando os objetivos que tínhamos traçado quando escolhemos esta temática e 
metodologia de ensino. Além disso, com este artigo esperamos contribuir com mais 
uma proposta de utilização do Estudo de Casos no nível médio, tanto para a área de 
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ensino de Química, bem como para professores que estejam em busca de estratégias 
de ensino diferenciadas. 
 
REFERÊNCIAS 
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O ESTUDO DE CASO PARA O ENSINO DE QUÍMICA... 
 
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Habilidades. Química Nova na Escola, São Paulo, v. 34, n. 4, p. 220-228, 2012. 
 
 
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89 
 
 
Estudo de Casos: Um Recurso Didático para o 
Ensino de Química no Nível Médio 
Fabiele Cristiane Dias Broietti 
Flaveli Aparecida de Souza Almeida 
Renata Cristina Mello Alves Silva 
Resumo 
O presente trabalho teve como objetivo abordar os rótulos de produtos 
alimentícios possibilitando aos alunos do ensino médio a compreensão de termos 
como diet, light, normal, caloria, %VD e sódio por meio da aplicação da 
metodologia do estudo de casos. O estudo foi realizado em uma turma de 2º ano 
do Ensino Médio de uma escola pública do estado do Paraná. O caso tratava de 
uma conversa entre a avó e sua neta sobre as dúvidas para se alimentar melhor 
com a interpretação das informações contidas nos rótulos. O trabalho consistiu na 
aplicação de um questionário no início e no final das atividades, leitura do caso, 
análise de alguns rótulos, leitura de artigos, discussão da problemática e 
apresentação oral da resolução do caso pelos alunos. Os resultados com a 
aplicação do caso sugerem que se trata de uma estratégia eficiente que pode ser 
empregada pelo professor numa concepção de ensino que prioriza a 
aprendizagem. 
Palavras-chave: estudo de casos, ensino médio, rótulos de alimentos. 
Abstract 
Cases Study: A Resource for high school chemistry teaching 
The present study aimed to address alimentary products labels enabling 
high school students to understand terms such as diet, light, normal, calories, VD% 
and sodium applying the case study methodology. The study was conducted in a 
2nd year of high school class at a public school in Paraná state. The case was a 
conversation between a grandmother and her granddaughter about how to eat 
better interpreting the information on the labels. The work consisted of a 
questionnaire at the beginning and the end of activities, reading the case, analysis 
of some labels, reading articles, discussion of the problem and an oral 
presentation of a resolution to the case by the students. The results presented by 
the application of the case suggest that is an effective strategy that can be used by 
a teacher in a teachingconcept that emphasizes learning. 
Keywords: cases study, high school, food labels. 
 
 
 
 
 R. B. E. C. T., vol 5, núm. 3, set-dez.2012 
 
90 
 
Introdução 
O método do estudo de casos é uma variante do método Aprendizagem Baseada em 
Problemas também conhecido como “Problem Based Learning (PBL)” que oferece aos estudantes 
a oportunidade de direcionar sua própria aprendizagem em situações relativamente complexas 
(Waterman, 1998). 
No método do estudo de casos, o ato de contar histórias, em que indivíduos enfrentam 
decisões ou dilemas, reais ou fictícios, faz com que o aluno se familiarize com os personagens e 
circunstâncias mencionadas no caso, de modo a compreender a situação e o contexto nele 
presente, com o intuito de solucionar o fato apresentado. 
Neste contexto, o papel principal do professor consiste em ser um articulador na busca do 
conhecimento e ajudar o estudante a trabalhar com o tema proposto, desde a análise do 
problema considerado até as possíveis soluções envolvidas naquela situação. 
A aplicação do método de estudo de casos pode ser diversificada e depende da forma 
como o professor espera que os alunos trabalhem na solução do problema proposto. Herreid 
(1998a) elaborou um esquema de classificação e sugeriu que os casos podiam ser explorados, 
pelo professor, nos seguintes formatos: 
• de tarefa individual: o caso tem o caráter de uma tarefa que o aluno deve solucionar e 
que implica na elaboração posterior de uma explicação histórica dos eventos que conduziram à 
sua resolução; 
• de aula expositiva: o caso tem a característica de uma história contada pelo professor 
aos seus alunos, de maneira muito elaborada e com objetivos específicos; 
• de discussão: o caso é apresentado pelo professor como um dilema. Os alunos são 
questionados a respeito das suas perspectivas e sugestões com relação à resolução do mesmo; 
• de atividades em pequenos grupos: os casos são histórias que devem ser solucionadas e 
dizem respeito ao contexto social e/ou profissional em que os alunos estão imersos. Uma 
característica essencial é que os casos são analisados por grupos pequenos de estudantes, que 
trabalham em colaboração. O professor, neste contexto, desempenha um papel de facilitador 
durante as discussões, em vez de um papel didático e diretivo. 
No ensino de química, há lugar para qualquer uma dessas formas de abordar o estudo de 
casos, dependendo exclusivamente de como o professor busca trabalhar com seus alunos e da 
maneira que deseja conduzir os alunos ao conhecimento proposto. 
Outro fator importante para o ensino e aprendizagem, considerado por Herreid (1998b), é 
que o caso pode seguir alguns aspectos importantes na sua elaboração, tais como: deve ter 
utilidade pedagógica; ser relevante ao leitor; despertar interesse pela questão; deve ser atual; 
 
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91 
curto; provocar um conflito; criar empatia com os personagens; forçar uma decisão; ter 
aplicabilidade geral; narrar uma história e incluir citações. 
Após a escolha da forma como o caso será trabalhado com os alunos e a elaboração do 
mesmo, outra importante etapa consiste na formulação de questões a serem trabalhadas pelos 
alunos, considerando os objetivos esperados com a sua aplicação. Nessa etapa devem ser 
contemplados os conteúdos científicos, as habilidades que se deseja que os alunos adquiram, as 
formas como os conceitos a serem aprendidos serão desenvolvidos e sua execução na formulação 
da possível solução a ser apresentada. 
Como essa etapa envolve a tomada de decisão, existem vários modelos que podem 
auxiliar o professor na elaboração de questões, como os citados e discutidos no livro Estudo de 
casos no Ensino de Química (Sá e Queiroz, 2009). 
 
Estudo de Casos no Ensino de Química 
No Brasil, a metodologia de ensino pautada em estudo de casos ainda se apresenta de 
forma tímida, no qual o acesso a casos prontos é pouco encontrado. Realizando um levantamento 
sobre a utilização deste método encontramos poucos trabalhos como o realizado por Brito e Sá 
(2010), que relatam o estudo de casos como estratégia para estimular a argumentação de alunos 
do ensino médio a respeito de questões sócio-científicas relacionadas ao tema biocombustíveis. 
Outro recente trabalho encontrado foi o de Pinheiro e outros (2010). Os autores descrevem que o 
método de estudo de casos, apesar de não ser muito utilizado no ensino superior, 
especificamente nos cursos de Química, vem se configurando como eficiente no que se refere à 
aprendizagem e para uma formação mais ampla do aluno. Eles relatam suas experiências com a 
aplicação do método com licenciandos e estes, aplicam a metodologia no ensino médio, 
utilizando como tema o biodiesel. Como resultado deste trabalho os autores conseguiram aliar a 
experimentação, a leitura, à aproximação entre conhecimento científico-tecnológico e a formação 
do futuro professor com novas metodologias que privilegiam aspectos tecnológicos, sociais, 
econômicos e ambientais da Química. 
Outra contribuição tem sido feita, por exemplo, pelo site do grupo de pesquisa em Ensino 
de Química do Instituto de Química de São Carlos1 que disponibiliza exemplos de casos e 
sugestões de atividades. Mais contribuições sobre a aplicação desta metodologia podem ser 
encontradas por meio de trabalhos divulgados em congressos e eventos da área que relatam 
propostas didáticas para o ensino de ciências e, principalmente, pelo trabalho de aplicação e 
compilação realizado no livro Estudo de Casos no Ensino de Química (Sá e Queiroz, 2009), que 
 
1
 Disponível em: http://www.gpeqsc.com.br, acessada em dezembro de 2010. 
 
 
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92 
apresenta o uso do método aplicado nos cursos de ensino superior e que serve de referência para 
a construção e utilização do método no ensino médio. 
Com o método de estudo de casos, corretamente aplicado, o processo transforma-se em 
uma poderosa ferramenta no processo de ensino e aprendizado, e assim, portanto, restará ao 
professor a responsabilidade de orientar as pesquisas e as propostas apresentadas até a 
resolução do caso apresentado. 
Embasado nisto, o objetivo deste trabalho consistiu na elaboração e aplicação de um caso 
para abordar os rótulos nos produtos alimentícios, considerando que este assunto permeia o 
cotidiano dos alunos, podendo ser utilizado para contribuir no processo de ensino e 
aprendizagem de conceitos que envolvem a química tais como: caloria, %VD (porcentagem de 
valores diários), a forma como está presente o elemento sódio e a confusão entre os termos diet, 
light, normal. 
 
Metodologia 
As atividades foram aplicadas em uma turma de 27 alunos do 2o Ano do Ensino Médio de 
um escola pública estadual, situada na cidade de Londrina – Paraná, que adota o sistema de 
blocos, com aulas geminadas. O sistema de blocos consiste na divisão do ensino anual em dois 
blocos, no qual as disciplinas estudadas durante o ano letivo são organizadas por semestres. 
A aplicação da proposta se deu no decorrer do 2o bimestre de 2009 e teve duração de 6 
horas-aula com a turma dividida em quatro grupos, conforme o quadro a seguir. 
 
Quadro 1: Distribuição das atividades 
 
Aulas Atividades 
1ª e 2ª  Questionário de sondagem 
 Leitura do caso 
 Entrega e análise dos rótulos 
3ª e 4ª  Entrega e leitura dos artigos 
 Discussão em grupo e elaboração da apresentação 
5ª e 6ª  Apresentação do trabalho de cada equipe 
 Questionário final e conclusão das atividades 
 
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Como o assunto sobre rótulos é muito extenso, para esse estudo buscou-se limitar aos 
conceitos sobre diet, light, normal, caloria, %VD e a forma como se apresenta o elementosódio, 
pois esses ainda causam confusão ou são de total desconhecimento para as pessoas que 
compram determinados produtos e os consomem. 
Inicialmente foi aplicado um questionário de sondagem, Quadro 2, para detectar os 
conhecimentos prévios dos alunos sobre o assunto a ser abordado. 
Quadro 2: Questionário de sondagem do conhecimento sobre rótulos nutricionais. 
Questões 
1) Você tem o hábito de observar e ler as informações contidas nas embalagens dos 
alimentos que consome? 
2) O sódio indica que os alimentos possuem sabor salgado? 
3) Você sabe o que é valor energético e a sua importância para alimentação? 
4) Você sabe o que significa e acha importante conhecer este valor %VD? 
5) Você sabe a diferença entre produtos diet, light e normal? 
 
Após, foi feita a leitura do caso, Quadro 3, em grupo sendo conduzido pelo professor em 
voz alta. 
 
Quadro 3: Estudo de Caso aplicado aos estudantes na atividade desenvolvida. 
Rótulos nutricionais: um quebra cabeça de informações! 
A jovem Maria estava estudando para o vestibular de Química que faria no final do mês 
quando recebeu um telefonema no meio da tarde. Do outro lado da linha era a sua avó toda 
preocupada, pois tinha acabado de voltar de uma consulta médica: 
- Oi Maria! Tudo bem com você?! 
- Tudo bem vovó. Por que a senhora está com essa voz preocupada? 
- É que eu fiz uma consulta com o meu médico e ele pediu para eu ter um cuidado 
especial com a comida que eu compro e prestar mais atenção nos rótulos dos alimentos. 
- Olha vovó ele está certo. É sempre bom sabermos o que estamos comprando, assim 
podemos nos alimentar melhor e termos uma vida mais saudável. 
- Então, é por isso que eu resolvi te ligar, pois eu sei que você gosta desse assunto e pode 
me ajudar. 
 
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- Sim, é claro que eu ajudo! 
- Bem essas coisas são muito complicadas e eu não entendo nada do que está escrito 
naqueles rótulos. 
- Calma vovó. Estou indo na casa da senhora e vamos entender junto o que são todas 
essas informações! 
 
Vocês, estudantes de química, poderiam também ajudar a Maria e a sua avó a entender 
as informações contidas nos rótulos dos alimentos, como: %VD, valor energético, sódio, produtos 
diet, light e normal. 
 
Após a leitura do caso foram entregues aos grupos, rótulos de gelatinas e sucos de 
produtos diet, light e normal, para que os alunos observassem as diferenças contidas nos rótulos 
desses produtos. As figuras 1, 2, 3, 4 e 5, são exemplos de rótulos de sucos líquidos e em pó: 
 
 
 
 
 
 Figura 1: Rótulo do suco em pó normal. Figura 2: Rótulo do suco em pó light - zero açúcar 
 
Figura 3: Rótulo do suco diet em pó Figura 4: Rótulo do suco líquido normal. 
zero açúcar. 
 
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95 
 
Figura 5: Rótulo do suco líquido light. 
 
Após os apontamentos iniciais, com a necessidade de um maior aprofundamento e uma 
maior compreensão do tema exposto, foram entregues aos alunos três artigos para leitura. Esse 
subsídio foi mais uma ferramenta para ajudá-los na possível solução do caso apresentado. 
Estes artigos encontram-se publicados na revista Química Nova na Escola e são: De olho 
nos rótulos: compreendendo a unidade caloria (Chassot et al., 2005); Diet ou Light: Qual a 
Diferença? (Silva e Furtado, 2005) e Interpretação de Rótulos de Alimentos no Ensino de Química 
(Neves et al., 2009). 
Os alunos tomaram a iniciativa de pesquisar acerca dos assuntos discutidos em sala de 
aula para complementar a discussão e tentar resolver o caso na próxima aula, com as novas 
informações e materiais para montar uma apresentação final. Após o retorno, os alunos munidos 
dessas informações, se reuniram em seus grupos, debateram e decidiram como organizar e 
apresentar suas pesquisas no fechamento do trabalho. 
Cada grupo fez sua apresentação de forma expositiva, com cartazes e com a ajuda de 
vídeos explicativos sobre os assuntos trabalhados, num período de no máximo 15 minutos por 
grupo, sendo que ao final de todas as apresentações houve ainda: debates sobre o assunto 
discutido, a escolha da solução com relação ao problema apresentado e, também, a 
aprendizagem proporcionada pelo estudo de caso. 
Para o encerramento do estudo, foi aplicado um questionário final, com as mesmas 
questões dadas inicialmente, Quadro 2, para se obter informações e uma comparação da 
aprendizagem pelo método proposto. 
 
 
 
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0
5
10
15
20
25
Não Ás Vezes Sim
Resposta no início do 
trabalho
Resposta no final do 
trabalho
Análise e discussão dos resultados 
Na aplicação do método do estudo de casos, observou-se inicialmente que alguns alunos 
mostraram-se resistentes, pois para eles a mudança de estratégias de ensino leva-os a temer que 
a dificuldade dessa forma de aprendizagem seja muita maior do que no processo de ensino e 
aprendizagem em que estão acostumados e inseridos dentro da sua vida escolar, ou seja, atuando 
como sujeitos passivos. 
Com a aplicação do questionário de sondagem sobre o assunto que seria aplicado e com 
uma explanação sobre como o estudo seria construído nas aulas, a barreira inicial mostrada pelos 
alunos começou a não mais existir, sendo necessário que houvesse, portanto, uma visão ampla da 
forma de condução do trabalho para que o processo fosse aceito pelos alunos. 
A utilização e a leitura de textos científicos numa linguagem acessível, os auxiliou a 
manter o interesse com o tema proposto e foi importante para criar uma empatia e manter o 
interesse na busca da solução para a situação-problema apresentada. 
Com as discussões que se seguiam e o interesse crescente, a aplicação da metodologia 
teve um ganho perceptível em sua aceitação, quando partiu dos próprios alunos o interesse de 
fazer uma apresentação com a aplicação do conhecimento adquirido de forma expositiva e com o 
uso de alguns vídeos, como, Cuidados com a alimentação – sódio1, Diet e light. Você conhece a 
diferença???2 e Calcular calorias manualmente3. 
Com o resultado obtido no questionário aplicado no início e no final do trabalho, tem-se a 
representação de um bom nível de aprendizado alcançado com o método, como demonstrado 
nas Figuras 6, 7, 8, 9 e 10: 
 
 
 
 
 
Figura 6: Você tem o hábito de observar e ler as informações contidas nas embalagens dos 
limentos que consome? 
 
1 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=M6OHgU0UBwM, acessada em 
novembro de 2009. 
2
 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=jvb586M2p40, acessada em novembro 
de 2009. 
3
 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=Y5AmM4xESmg, acessada em 
novembro de 2009. 
 
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Conforme ilustra a Figura 6, poucos alunos tinham o hábito de observar e ler as 
informações contidas nas embalagens, mas com o estudo dirigido e ao final do trabalho do estudo 
de caso, houve uma mudança de atitude. Verificou-se que o interesse na observação das 
informações dos rótulos se tornou maior, inclusive sobre assuntos que não foram tratados 
diretamente no trabalho como: antioxidantes, estabilizantes, corantes, etc. 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 7: O sódio indica que os alimentos possuem sabor salgado? 
 
Na Figura 7, mais da metade dos alunos na turma tinham como entendimento da palavra 
sódio a concepção do sabor salgado. Com a aplicação do estudo de caso e as discussões realizadas 
em sala de aula ao longo da realização do trabalho, houve por eles uma nova interpretação, na 
qual a quantidade de sódio não interfere diretamente com o sabor dos alimentosque são 
consumidos, mas sim a função de contribuir para regular a pressão osmótica do sangue, plasma e 
fluidos intracelulares, e assim, manter o equilíbrio hídrico do organismo e a transmissão dos 
impulsos nervosos. Mas, por outro lado, uma ingestão em excesso de sódio é um fator de risco 
que pode agravar quadros de hipertensão arterial. 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 8: Você sabe o que é valor energético e a sua importância para alimentação? 
 
 
0
5
10
15
20
25
Não Não Sabem Sim
Resposta no início do 
trabalho
Resposta no final do 
trabalho
 
0
5
10
15
20
25
Não Sim
Resposta no início do 
trabalho
Resposta no final do 
trabalho
 
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A análise da Figura 8 indica que, no início do trabalho, muitos alunos ainda não 
reconhecem o termo valor energético, mas após realizarem o trabalho, a partir das discussões em 
sala de aula, das leituras realizadas e dos vídeos apresentados, os alunos passaram a associar 
valor energético com a palavra caloria que eles já tinham algum conhecimento e dessa forma 
ficou mais fácil para eles perceberem a importância dessa informação para a alimentação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 9: Você sabe o que significa e acha importante conhecer este valor %VD? 
 
Na Figura 9, verifica-se que quase a totalidade dos alunos, no início do trabalho, não sabia 
reconhecer o valor %VD, após a leitura dos textos e aplicação do estudo de caso, essa 
interpretação do termo foi quase totalmente reconhecida e compreendida pelos alunos ao final 
do trabalho. 
 
 
 
 
 
 
Figura 10: Você sabe a diferença entre produtos diet, light e normal? 
 
Conforme ilustra a Figura 10, muitos alunos, antes da realização da atividade, tinham um 
conhecimento parcial dos termos diet, light e normal. Este conhecimento parcial pode ser 
confirmado quando foi solicitado aos alunos que falassem a respeito da diferença entre esses 
termos, os alunos mostraram-se confusos. Com a aplicação do estudo de caso, os alunos 
 
0
5
10
15
20
25
30
Não Sim
Resposta no início do 
trabalho
Resposta no final do 
trabalho
 
0
5
10
15
20
25
Não Sabe Parcialmente Sabe
Resposta no início do 
trabalho
Resposta no final do 
trabalho
 
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puderam reconhecer a diferença entre eles e com isso o resultado obtido ao final do trabalho foi 
totalmente satisfatório. Esclarecendo, portanto, muitas dúvidas sobre o uso desses termos nos 
rótulos dos alimentos. 
Em todas as apresentações orais os alunos simulavam a presença da vovó de Maria e 
explicavam criteriosamente o significado de cada informação contida nos rótulos. As explicações 
estavam embasadas nas leituras realizadas dos artigos propostos, em pesquisas realizadas fora da 
sala de aula e nos debates realizados em sala. Desse modo, longe de uma aula passiva, houve 
vários momentos de debates de uma forma cooperativa na construção do conhecimento. 
Após todo o trabalho realizado, foi dado como caso resolvido, que a informação dos 
rótulos quando conhecida de maneira adequada é um importante aliado no controle de uma 
alimentação saudável e, que com um maior cuidado, também se pode evitar o agravamento de 
doenças por uma alimentação em que o devido conhecimento daquilo que se consome é de 
grande importância. 
 
Considerações Finais 
Após a aplicação do caso e a apresentação dos trabalhos realizados pelos alunos em 
grupo, houve uma maior compreensão por parte dos mesmos quanto à importância dos rótulos 
nutricionais e aos conceitos químicos envolvidos, dentro de cada segmento que foi abordado. 
Ficou demonstrada, de acordo com o comparativo das respostas obtidas pelo 
questionário no início e no final do trabalho, pelas discussões realizadas durante as aulas e pela 
apresentação oral, que a metodologia de estudo de casos é uma ferramenta importante que pode 
ser desfrutada pelo professor em sala de aula, obtendo-se bons resultados numa concepção de 
ensino diferente do tradicional. 
 
Referências 
Brito, J. Q. A.; Sá, L. P. Estratégias promotoras da argumentação sobre questões sócio-científicas 
com alunos do ensino médio. Revista electrónica de enseñanza de las ciências, v. 9, n. 3, p. 505-
529, 2010. 
Chassot, A.; Venquiaruto, l. D.; Dallago, R. M. De olho nos rótulos: compreendendo a unidade 
caloria. Química nova na escola, n. 21, p. 10-12, 2005. 
Herreid, C. F. Sorting potatoes for miss bonner – bringing order to case-study methodology 
through a classification scheme. Journal of college science teaching, v. 27, n. 4, p. 236-239, 1998a. 
Herreid, C. F. What makes a good case? Journal of college science teaching, v. 27, n. 3, p. 163-
169, 1998b. 
 
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100 
Neves A. P.; Guimarães P. I. C.; Merçon F. Interpretação de rótulos de alimentos no ensino de 
química. Química nova na escola, v. 31, n. 1, p. 34-39, 2009. 
Pinheiro, A. N.; Medeiros, E. L.; Oliveira, A. C. Estudos de casos na formação de professores de 
química. Química nova na escola, v. 33, n. 9, p. 1996-2002, 2010. 
Sá, L. P; Queiroz, S. L. Estudo de casos no ensino de química. Campinas, São Paulo: Átomo, 2009. 
Silva, R. M. G.; Furtado,S. T. F. Diet ou light: qual a diferença? Química nova na escola, n. 21, p. 
14-16, 2005. 
Waterman, M. A. Investigative case study approach for biology learning. Bioscene: journal of 
college biology teaching, v. 24, n. 1, p. 3-10, 1998. 
 
Fabiele Cristiane Dias Broietti - Licenciada em Química pela Universidade Estadual de 
Londrina (UEL), especialista em Ensino de Química pela UEL, mestre em Ensino de Ciências na 
Modalidade Química pela UEL e doutoranda em Ensino de Ciências Modalidade Química pela 
Universidade Estadual de Maringá (UEM), é professora do Departamento de Química da UEL. -
fabieledias@uel.br 
Flaveli Aparecida de Souza Almeida - Licenciada em Química pela Universidade Estadual 
de Londrina (UEL), especialista em Química pela UEL, mestre em Química Analítica pela Pontifícia 
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ) e doutora em Ciências pela PUC/RJ, é professora 
do Departamento de Química da UEL. - flaveli@uel.br 
Renata Cristina Mello Alves Silva - Licenciada em Química pela Universidade Estadual de 
Londrina (UEL), especialista em Ensino de Química pela UEL, é professora do Ensino Médio pela 
Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED/PR). - rencmas@hotmail.com 
Estudo de Casos 
Aplicados ao Ensino 
de Ciências da 
Natureza
SALETE LINHARES QUEIROZ
ENSINO MÉDIO
ISBN 978-85-99697-49-8
A expansão do Ensino Técnico no Brasil, fator importante para melhoria de nossos recursos humanos, é um dos pilares do desenvolvimento 
do país. Esse objetivo, dos governos estaduais e federal, visa à melhoria da 
competitividade de nossos produtos e serviços, vis-à-vis com os dos países com 
os quais mantemos relações comerciais. 
Em São Paulo, nos últimos anos, o governo estadual tem investido de forma 
contínua na ampliação e melhoria da sua rede de escolas técnicas - Etecs e Classes 
Descentralizadas (fruto de parcerias com a Secretaria Estadual de Educação e com 
Prefeituras). Esse esforço fez com que, de agosto de 2008 a 2011, as matrículas do 
Ensino Técnico (concomitante, subsequente e integrado, presencial e a distância) 
evoluíssem de 92.578 para 162.105. 
A garantia da boa qualidade da educação profissional desses milhares de jovens 
e de trabalhadores requer investimentos em reformas, instalações/laboratórios, 
material didático e, principalmente, atualização técnica e pedagógica de 
professores e gestores escolares. 
A parceria do Governo Federal com o Estado de São Paulo, firmada por 
intermédio do Programa Brasil Profissionalizado, é um apoio significativo para 
que a oferta pública de ensino técnico em São Paulo cresça com a qualidade 
atual e possa contribuir para o desenvolvimento econômico e socialdo estado e, 
consequentemente do país.
Almério Melquíades de Araújo 
Coordenador de Ensino Médio e Técnico
Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza
Diretora Superintendente
Laura Laganá
 
Vice-Diretor Superintendente
César Silva
 
Chefe de Gabinete da Superintendência
Luiz Carlos Quadrelli
 
Coordenador do Ensino Médio e Técnico
Almério Melquíades de Araújo
REALIZAÇÃO
Unidade de Ensino Médio e Técnico
Grupo de Capacitação Técnica, Pedagógica e de Gestão - Cetec Capacitações
Responsável Cetec Capacitações
Lucília dos Anjos Felgueiras Guerra
Responsável Brasil Profissionalizado
Silvana Maria Brenha Ribeiro
Coordenador de Projetos
Edilberto Félix da Silva
Revisão de Conteúdo
Yara Denadai Golfi
Projeto Gráfico
Diego Santos
Fábio Gomes
Priscila Freire
ISBN 978-85-99697-49-8
Projeto de formação continuada de professores da educação profissional do 
Programa Brasil Profissionalizado - Centro Paula Souza - Setec/MEC
Estudo de Casos 
Aplicados ao Ensino 
de Ciências da 
Natureza
SALETE LINHARES QUEIROZ
NOTA
O presente material foi concebido para o Curso “Estudo de Casos Aplicados ao 
Ensino de Ciências da Natureza”, e nasceu da necessidade de um ensino pautado 
na realidade do educando, para que os conhecimentos ensinados façam sentido 
ao aluno e não se restrinjam apenas à memorização de conceitos e fatos, sem 
nenhuma relação com o dia-a-dia ou com questões socialmente relevantes. Um 
ensino que proporcione ao aprendiz uma melhor compreensão do mundo e das 
coisas que acontecem ao seu redor.
De acordo com o PCN+ Ensino Médio para Área de Ciências da Natureza, Mate-
mática e suas Tecnologias, no mundo atual, os estudantes devem ser capazes 
de saber se informar, comunicar-se, argumentar, compreender e agir; enfrentar 
problemas de diferentes naturezas, participar socialmente, de forma prática e 
solidária; ser capaz de elaborar críticas ou propostas; e, especialmente, adquirir 
uma atitude de permanente aprendizado. Mas quais abordagens educacionais 
podem proporcionar o ensino que queremos, que a sociedade necessita e que o 
mercado de trabalho espera? Como proporcionar um ensino de excelência em si-
tuações de poucos recursos materiais e condições físicas não muito adequadas?
Na busca por essas respostas, me deparei com o livro “Estudo de Casos no Ensino de 
Química” de Luciana Passos Sá e Salete Linhares Queiroz. Após a leitura da obra, pas-
sei a utilizar o Estudo de Caso em minhas aulas e percebi o enorme potencial dessa 
abordagem educacional, que proporciona o ensino de conteúdos tanto informati-
vos como formativos, adequados para formação de um cidadão e um profissional 
que tenha uma ação interativa e responsável em nossa sociedade.
Como Coordenador de Projetos do Centro Paula Souza, em 2012, decidi promo-
ver uma primeira orientação sobre Estudo de Casos para os professores de Quí-
mica da instituição, pois trata-se de uma abordagem pouco utilizada pelos pro-
fessores e que contribui muito para o ensino de Química e das outras Ciências.
Para essa orientação, convidei a Profa. Dra. Salete Linhares Queiroz do Instituto 
de Química de São Carlos (USP), que aceitou prontamente. E objetivando incen-
tivar ainda mais o uso de abordagens educacionais ativas, um novo curso foi ela-
borado e a obra “Estudo de Casos Aplicados ao Ensino de Ciências da Natureza”, 
que permitirá aos seus leitores educadores, se apropriarem do método de Estu-
do de Caso, para que construam aulas cada vez melhores e capazes de despertar 
no aluno o gosto pela aprendizagem e pela pesquisa, fazendo com que este se 
torne um cidadão capaz de enfrentar os desafios deste novo século.
Edilberto Felix da Silva
Professor Coordenador de Projetos
Apresentação
A presente apostila, dirigida a professores dos componentes curriculares de Bio-
logia, Física e Química do Ensino Médio e do Ensino Médio Integrado ao Técnico 
do Centro Paula Souza, tem como objetivo apresentar características e possibili-
dades de aplicação do método de Estudo de Casos no ensino de Ciências. Duran-
te a realização do curso Estudo de Casos Aplicados a Ciências da Natureza, serão 
levadas a cabo atividades, pautadas no material nela contido, tendo em vista o 
oferecimento de subsídios aos professores na elaboração, produção e utilização 
de casos investigativos em suas aulas. Ao final do curso, casos produzidos pelos 
professores serão selecionados visando à sua compilação e publicação no forma-
to de material didático. 
Vantagens inerentes à aplicação do método de Estudo de Casos no ensino de Ci-
ências têm sido amplamente discutidas, com destaque para a sua potencialidade 
no estabelecimento de atividades didáticas que permitem o desenvolvimento 
de conteúdos não somente informativos, mas também formativos. Espero que as 
ações realizadas no curso contribuam para a sua difusão no Centro Paula Souza e 
possam auxiliar os professores na busca de alternativas de ensino que propiciem 
não somente o aprendizado de conteúdos de Ciências, mas também o desenvol-
vimento de habilidades como cooperação, argumentação e pensamento crítico. 
Desde já agradeço aos professores interessados na temática, cujos nomes estão 
elencados a seguir, pela sua disponibilidade em participar do curso. 
Salete Linhares Queiroz
PROFESSORES MATRICULADOS NO CURSO (2015): ADRIANA MUNIZ, ADRIANO BASTOS NETO, 
BEATRICE VASCONCELOS, BEATRIZ TINI, CAMILA FANTOZZI, CAROLINE COSTA, CLAUDINEI ANTONIO 
DE PAULA, CLEUSA MARIA PEREIRA, DAINE DE OLIVEIRA FILHO, DORIANA DE LUCCA, EDUARDO 
NUNES, ELAINE CRISTINA CENDRETTI, ELDER RAMIRES, GILBERTO BASSETO JUNIOR, GILMAR GOMES 
FACHINI, IRENILDES OLIVEIRA, JAMIL DA SILVA, JAQUELINI RUFFO, JEFERSON DE OLIVEIRA, JOSÉ 
BENEDITO JUNIOR, JOSE EDUARDO DE OLIVEIRA, JULIANA CAULKINS, JULIANA CASTRO, KELLY 
LEME, LIGIA MARIA TROLEZI, LUCAS DA CRUZ SILVA, LUCIANA MENEZES, LUCIANO TRONCHINI, LUIS 
FERNANDO DA ROCHA, MARCIO TULIO SANTOS, MARCO AURELIO RIBEIRO, MARIISABEL QUEIROZ, 
MARIA DE FATIMA COCENZO, MARISA ISABEL REMEDI, ORLANDO LUCCHI, PAULO COSTA, REGIANE 
BRAZ, ROBERTO CARLOS DE OLIVEIRA, SERGIO EDUARDO CANDIDO, SILVANA BOTASSO, SIMONE 
AMADEU, SOLANGE ALBUQUERQUE, SUELI ARAUJO, TARCILIO CINTRA, VIVIAN RAMIRES.
Sumário
Método de estudo de casos: suas origens 
no exterior e sua difusão no ensino de Ciências no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . 9
Estudo de casos: aspectos a considerar na sua produção . . . . . . . . . . . . . . 14
Estudo de casos: possibilidades de utilização em sala de aula. . . . . . . . . . 19
Diretrizes para produção 
de material didático baseado em estudo casos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Formatação do texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Segundo Sá e Queiroz1, o método de Estudo de Casos é uma variante do método 
Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), também conhecido como Problem 
Based Learning (PBL). Este se originou na Universidade de McMaster, Ontário, Ca-
nadá, no final dos anos sessenta, e a sua aplicação por muito tempo se deu no 
âmbito da formação de profissionais da área da saúde. O método se pauta na 
aproximação dos alunos com problemas reais e busca a promoção do aprendi-
zado de conceitos científicos, o fomento ao pensamento crítico e à habilidade 
de resolução de problemas. Universidades renomadas fazem uso do método há 
muito tempo, como a Universidade de Maastricht, na Holanda. De fato, a sua difu-
são foi ampla e alcançou países em diversos continentes, inclusive no Brasil, onde 
alguns cursos de Medicina funcionam nos moldes apregoados pelo PBL. A título 
de exemplo, citamos os cursos de Medicina da Universidade Federal de São Carlos 
e da Universidade Federal do Amapá. 
Na sua concepção original, o método PBL assume a aplicação junto aos alunos de 
problemas durante todo o período de um curso universitário. A aplicação do mé-
todo de estudo de casos, por outro lado, se baseia na aplicação de problemas, no 
formato de casos investigativos, que pode ocorrer no contexto