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RESENHA - RUPTURA. A CRISE DA DEMOCRACIA LIBERAL (Castells)

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RESENHA
CASTELLS, M. RUPTURA. A CRISE DA DEMOCRACIA LIBERAL. RIO DE JANEIRO: ZAHAR, 2018.
Thaís Alves Tavares 20172530027
1. Defina a natureza da ruptura a qual se refere Manuel Castells e suas implicações para o modelo de democracia liberal. 
Castells afirma que a crise começa com a ruptura da relação entre governantes e governados; essa ruptura gera uma desconfiança das instituições e deslegitima a representação política. O autor continua dizendo que a ruptura é mais profunda do que aparenta. É sobre o colapso gradual de um modelo político de representação e governança: a democracia liberal que se havia consolidado nos dois últimos séculos, à custa de lágrimas, suor e sangue, contra os Estados autoritários e o arbítrio institucional (p.10). "Não é uma rejeição à democracia, mas à democracia liberal". O colapso da democracia liberal abre espaço ao pós-liberalismo, sob uma expressão de ordem disfarçada de caos, com o crescimento de partidos nacionalistas, xenofóbicos e críticos à política tradicional e, apesar da crise ter uma dimensão global, ela possui especificidades locais.
2. Discuta os efeitos da globalização da economia sobre as economias nacionais, identificando suas implicações para a crise da democracia liberal. 
No capítulo "As raízes da ira", Castells argumenta que a globalização da economia e da comunicação arruinou e desestruturou as economias nacionais e restringiu a capacidade do Estado-nação de responder em seu âmbito a problemas que são globais na origem, nesse caso, crises financeiras, violação dos direitos humanos, mudança climática, economia criminosa ou terrorismo (p.18). A incoerência, os Estados-nação começaram a estimular o processo de globalização; esses mesmos Estados que agora sofrem as consequências negativas da globalização, sob o impacto dos setores populares. A lógica ilimitada do mercado destaca as diferenças entre o que é útil ou não às redes globais de capital, produção e consumo, ou seja, além de desigualdade, há polarização; com isso, Castells discorre: os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
Governos nacionais decidiram unir-se ao processo de globalização para não ficarem de fora dessa nova economia e da divisão de poder. Criaram, então, uma nova forma de Estado: o Estado-rede. E quanto mais o Estado-nação se distancia da própria nação, mais se afastavam o Estado e a nação, tendo crise de legitimidade na mente dos cidadãos. Essa crise de representação de interesses se une a uma crise identitária como resultante da globalização.
Dando um exemplo de como a globalização contribui para a crise da democracia liberal, o autor estuda o mandato de Trump e diz que o mesmo identificou a globalização como inimigo do povo, fazendo ecoar um sentimento geral e ainda responsabilizou os financistas de Wall Street pela miséria das pessoas. Ele continua dizendo que a explicação para a força do movimento nacionalista é a importância que a política da identidade ganhou tanto nos Estados Unidos quanto no resto do mundo.
3. Como Castells associa a simplificação do universo político com a personalização da política em detrimento de crença nas instituições democráticas? 
Castells trabalha sobre a influência da mídia e a sua interferência no universo político, e aponta que a política é feita através de imagens e se caracteriza como emocional. Para o autor, a forma de luta mais eficiente é a destruição moral da imagem de quem se denomina líder, gerando desconfiança e reprovação sobre a classe política. Seguindo com o estudo, Castells fala sobre como a emoção atua no terrorismo e que os efeitos sobre a política são profundos; ele diz que o desejo que as pessoas têm de proteger um estado de emergência permanente, corrói e nega as liberdades civis e as instituições democráticas.
O autor descreve em "A autodestruição da legitimidade institucional pelo processo político", que a luta pelo poder nas sociedades democráticas passa pela política midiática; com isso, nosso comportamento e decisões dependem das informações que recebemos e trocamos nesse universo. Castells diz que a mensagem mais impactante é uma imagem, e é na imagem do rosto humano que projetamos uma relação de confiança, pois como já dito, a política é mais emocional que racional. O sociólogo expõe que mensagens negativas são cinco vezes mais eficazes em sua influência do que as positivas, portanto, basta gerar imagens negativas sobre uma pessoa para a destruir (algo que temos visto com frequência nas eleições). No meio de tantas informações odiosas, e muitas vezes falsa, o vínculo entre o pessoal e o institucional se rompe.
4. Analise como o autor compreende a política do medo como responsável pela abdicação das liberdades civis e pela abertura de espaço para o ressurgimento do populismo autoritário. 
Ao falar sobre terrorismo indiscriminado, sendo o medo a emoção humana mais poderosa, Castells diz que o desejo que as pessoas têm de proteção para estabelecer um estado de emergência que desgasta e nega a prática das liberdades civis e as instituições democráticas. O autor continua e diz que essa proteção, essa precaução, são sempre em relação "aos outros", sendo assim, os cidadãos aceitam que os vigiem e controlem, que torne militar o espaço público. O terrorismo islâmico global, com manifestações em diversos territórios, se transformou em perigo constante e em forte ameaça ao chamado mundo civilizado, o pânico produzido pelo terror cria "um estado de emergência permanente justifica no imaginário coletivo a restrição sistemática das liberdades civis e políticas, criando uma ampla base para a islamofobia, a xenofobia e o autoritarismo político" (CASTELLS, 2018, p.36).
5. Exemplifique o colapso da ordem política a partir da abordagem de um dos processos políticos que Manuel Castells investiga em seu livro: a eleição de Donald Trump (Estados Unidos), o referendo do Brexit (Reino Unido), a eleição de Macron (França).
Logo no início do livro, Castells fala sobre a desconfiança da população acerca das instituições, deslegitimando a representação política. A partir dessa rejeição, começam a aparecer lideranças políticas que negam as formas partidárias já existentes, alterando, assim, a ordem política nacional e mundial. Trump, Brexit, Le Pen, Macron são expressões de uma ordem, ou caos, segundo Castells, pós-liberal. Castells esclarece que a crise da democracia, gerando um discurso do medo, é a raiz comum às diversas manifestações que apresenta a ascensão de Trump à presidência dos Estados Unidos, na secessão dos Reino Unido em relação à União Europeia, sobre as tensões nacionalistas extremas que ameaçam destruir essa União Europeia, na desintegração do sistema político francês.
Sem mais delongas, Castells afirma que Trump é despreparado para o cargo de Presidência dos Estados Unidos, mas como ele poderia ter sido eleito? Trump entrou na campanha atacando a imigração e denunciando mexicanos como ladrões, estupradores e narcotraficantes, simbolizou sua xenofobia com aquela promessa de construir um muro na fronteira com o México; identificou, ainda, a globalização como inimigo do povo. Durante a campanha, a relação com o eleitorado foi direta, em comícios e discursos extremistas. A questão racial foi o ponto máximo da campanha de Trump; enquanto na eleição de Obama, em vez de tranquilizar o racismo, parece ter estimulado-o, levando a Trumo o voto do ressentimento racial dos brancos; as pesquisas mostram uma correlação entre atitudes racistas e o voto em Trump, seus eleitores são, sobretudo, pessoas aterrorizadas com a rápida mudança econômica, tecnológica, étnica e cultural do país. 
A classe social também definiu o voto entre os brancos. Castells expõe que "quanto mais instruídos e de maior nível econômico, mais votaram em Hillary", enquanto que Trump conseguiu o voto dos "operários brancos, dos pobres do campo e das regiões em crise". Foram os brancos que elegeram Trump, com uma mensagem de defesa de sua identidade e de rejeição à diversidade étnica. Como Trump mesmo disse em campanha: Make AmericaGreat Again.
O caso Brexit há fortes semelhanças com o trumpismo, o que leva a crer que a ascensão da extrema direita em meio a um colapso de certa ordem política está distante de ser um fato isolado. Em junho de 2016, 54% dos ingleses votaram por abandonar a União Europeia. O autor diz que os partidários da permanência na União Europeia desencadearam o "Projeto do Medo", com uma mobilização de personalidades econômicas e políticas, criando uma catástrofe econômica caso a secessão vencesse; houve, no entanto, uma reação popular contra as elites políticas que se alinharam com unanimidade em favor da União Europeia. As atitudes que se expressaram na decisão de sair da União Europeia estavam presentes na opinião pública dois anos antes, de acordo com o sociólogo, os cidadãos selecionam as informações que recebem em função de suas convicções, perante as emoções que sentem. 
Castells continua, o que sempre foi um exemplo de democracia liberal se caracterizou por uma incessante afirmação de interesses nacionais no processo de construção europeia. O motivo explícito a favor do Brexit foi a exigência do controle das fronteiras e a rejeição à imigração, semelhante a vitória de nacionalista de Trump. apenas um ano após o Brexit o panorama político britânico se alterou, provocando um aumento no número de assentos dos trabalhistas, a integração de partidos com vistas ao Estado de bem-estar social e, além disso, manifestações populares contra o Brexit. O autor conclui dizendo que, para além das divisões sociais e culturais, o Brexit não é uma campanha pelo referendo, mas "da integração entre sociedade e política na qual se expressam as novas relações de poder" (CASTELLS, 2018, p.51).
A descrença na legitimidade também chega à França após a crise econômica de 2008, que levou milhões de franceses ao desemprego. Criou-se, então, o imaginário de que a globalização seria a principal responsável pelo descrédito em relação aos principais partidos do país. Sendo favorecido por essa descrença, Castells diz que Macron é quase o arquétipo do que as elites financeiras e tecnocráticas estão em busca na Europa como respostas à crise. O presidente francês é formado na tecnocracia do Estado e contrário tanto às demandas dos socialistas quanto dos políticos de direita. Segundo Castells, o liberalismo econômico e o autoritarismo político aparecem como "resistência da pós-democracia liberal", ou seja, a crise dos principais partidos franceses derrubou a soberania que exerciam e reuniu o que restou deles em torno de um novo líder, capaz de movimentar sua liderança com a bandeira da renovação e modernidade. A possibilidade de uma França nacionalista que, após o triunfo do Brexit, acabasse derrubando a União Europeia resultou em pânico, o que levou Macron a ser acolhido como o salvador da Europa, sendo elogiado inclusive por Trump.
Castells acredita que todas essas movimentações (Trump, plebiscito do Brexit e Macron) são motivados pelo medo do terrorismo e do fenômeno da globalização, globalização essa revestida com as diretrizes do neoliberalismo, leva o cidadão comum à sensação de desproteção. No entanto, as eleições recentes, apontam para a tentativa de retomada do papel do Estado a qualquer custo, não importa a ideologia política.

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