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LIDERANÇA E ESPIRITUALIDADE Que delícia ler esse livro… Puro deleite! Uma leitura agradável e fácil, que ensina e entretém, que distrai e acrescenta. Informações, dados interessantes, citações importantes, questionamentos e muitas histórias, que despertam a nossa atenção, nos fazem refletir e nos preenchem a mente e o coração. Leitura que faz bem ao corpo, ao intelecto, e à alma! Razão e emoção, na medida certa! O professor Adilson Souza é craque nessa área. Fundador da EstAção RH, headhunter, mentor e palestrante de sucesso, ele coleciona histórias inspiradoras, que ajudaram a moldar o seu caráter inquieto e pioneiro, e que permitem a exposição clara e didática dos temas sobre os quais se debruça com tanta paixão e envolvimento. Como especialista em comunicação, identifico no professor Adilson várias características que justificam o seu sucesso. Ele sempre se dedica aos estudos e às pessoas com muito entusiasmo. Comunicação contagiante! No contato com ele e com seu livro, nossa reação é de empolgação e curiosidade, motivação e prazer. Comunicação constrói percepção. A dele, mostra claramente a autoridade de quem conhece e a generosidade de quem se propõe a ensinar, com disponibilidade e alegria. É um líder servidor, que além de nos acrescentar com tantos dados e informações, pratica efetivamente aquilo que apregoa. Teoria e prática de vida sempre sintonizadas! Liderança e Espiritualidade fala de propósito, de valores, de crenças, de missão de vida. No decorrer de cada capítulo, o professor Adilson nos convida a refletirmos sobre confiança, respeito, sentido de pertencer, significado para a vida, desenvolvimento de potencial, oportunidade de realização, justiça, gratidão, numa junção maravilhosa de vida pessoal e profissional, em nossas relações habituais e de trabalho. Seu convite é atraente e desafiador: aproveitarmos as fantásticas oportunidades do nosso trabalho de cada dia para nos desenvolvermos como seres integrais, realizados e realizadores, liderando a nossa vida, a nossa carreira e nossos liderados com amor e espiritualidade. Convite aceito, Professor! Obrigada por essa jornada encantadora. Profa. Dra. Leny Kyrillos Fonoaudióloga, consultora em comunicação, palestrante, escritora e comentarista na Rádio CBN Adilson Souza é professor, palestrante, consultor e mentor. Possui doutorado em Liderança pela Florida Christian University (Orlando, EUA), mestrado em Psicologia, pós-graduação Educação, Administração de Empresas e Administração de RH, e graduação em Ciências Econômicas. Conta com experiência de mais de vinte anos como docente nos cursos de pós-graduação da ESPM, FGV e Florida Christian University e mais de trinta anos em Desenvolvimento do Fator Humano em organizações dos mais variados portes e nacionalidades. É sócio fundador da EstAção RH Consultoria Empresarial e vive em São Paulo, com esposa e filhos. LIDERANÇA E ESPIRITUALIDADE ADILSON SOUZA, PH.D. HUMANIZANDO AS RELAÇÕES PROFISSIONAIS 3ª edição dados internacionais de catalogação na publicação (cip) vagner rodolfo crb-8/9410 S719l Souza, Adilson Liderança e espiritualidade / Adilson Souza. – Santos : Simonsen, 2017. 162 p. ; 14cm x 21cm. Inclui bibliografia e índice. ISBN: 978-85-69041-11-5 1. Administração. 2. Líder. 3. Líderes. 4. Liderança. 5. Espiritualidade. I. Título. CDD 658.4092 CDU 65.012.41 Copyright © 2017 Adilson Souza Editor Rodrigo Simonsen Editora assistente Nicole Marques Ferreira Revisores Denison Santos, Diogo dos Santos, Gabriela Leite, Raissa Castro, Sabrina Matos Capa e projeto gráfico Anderson Junqueira Impressão e acabamento RR Donnelley [2017] Todos os direitos desta edição reservados a Adilson Martins de Souza adilsonsouza.blog.br linkedin.com/in/adilsonsouzacoachpalestrante Aos meus queridos pais, Antônio de Souza e Maria Neuza Martins Souza, que me ensinaram e ensinam diariamente a prática do respeito e amor. A minha linda, querida, amada, divertida e entusiasmada esposa, Sumaia Thomas, pelo incentivo incondicional para que pudesse realizar o doutorado em liderança e convertê-lo neste livro. Aos meus filhos Lui, Liz e Thiago, que são fontes de luz e trouxeram mais significado e alegria para a minha vida. http://adilsonsouza.blog.br http://linkedin.com/in/adilsonsouzacoachpalestrante C Aos meus queridos alunos e ex-alunos. A todos aqueles que me confiaram parte do seu desenvolvimento por intermédio dos processos de coaching, mentoring e/ou que participaram dos meus treinamentos e palestras. A todos os meus clientes da EstAção RH. Prefácio onheço o Adilson há muitos anos. Lembro-me das tardes que íamos juntos a Campinas para darmos aula, na van da ESPM. O trecho de quase duas horas passava voando. Ficávamos falando sobre pessoas, sobre metodologias e sobre a vida. Com o tempo, conheci melhor o trabalho que ele faz e sempre mantive grande admiração pela sua postura e a forma como conduzia os negócios. Nunca fiquei surpreso com os excelentes feedbacks que sempre recebi a respeito do trabalho do Adilson como professor, coach e consultor. Agora aprendi que ele é um líder que soube explorar sua espiritualidade. Quando o Adilson me ligou e me convidou para escrever o prefácio de seu novo livro, disse sim na hora. Nem pensei. Fiquei feliz, pois ele disse que eu represento vários dos valores que estão nele. Depois que desliguei, me dei conta que nem tinha perguntado sobre o que era o livro. Assim que recebi o manuscrito, levei um susto! Espiritualidade? Eu sou ateu! Não acredito nem em homeopatia! E agora? Vou magoar meu amigo! Quando li com calma o livro, fiquei aliviado. São valores que eu realmente acredito e busco praticar no dia a dia. Acredito que seja possível ter espiritualidade mesmo sendo ateu. Mesmo sendo ateu desde criancinha. Me lembro de ficar debatendo com meu avô, com Nietzsche debaixo do braço. Imagina! Eu perdendo tempo debatendo se existe ou não Deus com o cara que mais me influenciou na minha vida. Devia ter ouvido mais, devia ter aceitado mais. Hoje só tenho gratidão pelos momentos que passei com ele. E sinto sua falta todo dia. Ele era o cara mais espiritualizado que eu já conheci. Maçom, levava a sério os estudos de tudo que fosse relacionado ao oculto. Às vezes dizia que estava meditando, mas eu sabia que tirava um cochilo. Era a pessoa de quem todos queriam estar perto. Engraçado, cheio de piadas. Ria como criança com trocadilhos. Sempre estava lá para ajudar quem precisasse. Era respeitado por todos. Com o tempo, aprendi que você não precisa ser um ateu praticante. O que muda na sua vida o que os outros acreditam? A viagem na qual embarcamos é interna. No final do dia, temos que acordar e dormir com nós mesmos. E foi nessa jornada que embarquei há muitos anos. O grande desafio é entendermos o que queremos desta vida, o que vamos fazer a respeito disto e como queremos conduzir esta jornada. E acho que essa é a essência da espiritualidade: uma jornada interna, que é refletida no mundo à sua volta. Eu era empreendedor antes mesmo de saber que eu seria empreendedor. Antes mesmo de saber o que era ser um empreendedor ou de ter qualquer comportamento que pudesse dar esta pista ao mundo. Sempre vi o mundo de um jeito diferente. Gosto de dizer que tem dois tipos de pessoa: aquela que vê o mundo como concreto e a que vê como massa de modelar. Acho que os empreendedores enxergam tudo como massa de modelar, como algo que poderia ou deveria ser de outro jeito. E não aceitam ou desistem até conseguirem. A minha jornada espiritual veio com o conflito entre esse desejo de modelar o mundo e toda a frustração, ansiedade e medo que vem junto. Insegurança, sentir que sou uma fraude e ficar pensando em milhares de cenários que podem dar errado fazem parte do kit empreendedor. E não é para ganhar dinheiro. Esse é o elemento menos importante de toda essa trajetória. É sobre conseguir chegar onde você quer. É sobre fazer aquilo que você PRECISA (não quer, precisa!) fazer. No começo foi sofrido e acho que ainda estou bem longe do que preciso ser. Bem longe mesmo.Tenho muito a aprender, a apanhar e ensinar. Acho que tudo começou a fazer mais sentido para mim quando embarquei nessa jornada interna, de tentar entender que tipo de pessoa eu queria ser. Comecei a escrever todo dia sobre o que estava sentindo e pensando. Coloquei no papel meus valores, o impacto que queria fazer no mundo. Foi transformador. Ao mesmo tempo, tive que aprender a domar a minha ansiedade. Aquele sentimento que vem de épocas anteriores a nos colocarmos no topo da cadeia alimentar. O “deve ter um leão naquele arbusto” deu lugar ao “e se faltar dinheiro? ”. Todo nosso corpo acaba reagindo como se fossemos ser atacados o tempo todo. Aprender a meditar foi transformador para mim. Nunca fui ao Tibet ou tive um guru indiano. Aprendi a meditar usando um app e praticando todo dia, duas vezes ao dia. Não consigo descrever as mudanças que aconteceram no meu cérebro, mas a vida fica pelo menos 10% melhor já nos primeiros meses. Domar o ego também foi muito complicado. Queremos ser amados, queremos ser admirados. E acabamos tomando decisões que não necessariamente ajudam a atingirmos nossos objetivos. Aprendi que o ego é, na maioria das vezes, o maior obstáculo para avançarmos em direção aos nossos objetivos. E não é fácil domá-lo. É muito difícil realmente receber feedback de alguém. Às vezes é um soco no estômago, mas é só assim que aprendemos e crescemos. E acho que isso resume a minha visão do nosso papel na vida. Crescer. Acho que a nossa missão é estar constantemente crescendo. Crescendo nossos negócios, nosso conhecimento, nosso autoconhecimento, melhorando nossa saúde, nossa relação com os outros. Enfim, todo dia é uma oportunidade para nos tornarmos pessoas melhores. E isso, para mim, é espiritualidade. Lendo o livro do meu amigo Adilson, me identifiquei com várias das histórias, mas principalmente com cada um dos princípios que ele apresenta. Eu realmente acredito em todos eles. O Brasil está carente de bons líderes. Em todas as esferas da sociedade. E acredito que podemos nos tornar melhores líderes e pessoas se tivermos a humildade para aprender. O Adilson ajuda líderes há muitos anos e tem um vasto conhecimento e formação focado em pessoas. É sempre um prazer conversar e aprender com ele. Tenho certeza que todos os princípios que estão ali são fruto de muita reflexão e muita experiência prática lidando com gente de ponta. Aproveitem esta oportunidade para tornarem-se líderes melhores! — pedro waengertner Co-Fundador da Aceleratech, investidor, professor e profissional de marketing Introdução ntes de começar este livro, gostaria de fazer algumas perguntas – assim mesmo, de bate-pronto. A Pense no seu líder. Nos seus colegas de trabalho. Na sua equipe. Por que essas pessoas mantêm qualquer tipo de relação com você? Quais valores permeiam essas relações? Elas estariam ao seu lado, mesmo que tudo desmoronasse? Elas se acovardariam diante da possibilidade de um terrível fracasso, ou lutariam ao seu lado, mesmo que estivessem diante de um cenário onde o fracasso e a vitória pudessem ser comemorados ou lamentados em conjunto? Essas pessoas estão realmente com você? Você tem dado o seu melhor a elas, mesmo nos seus piores dias, naqueles que você levanta sem saber como conseguiu se manter de pé? Consegue inspirá-los, mesmo que esteja com o coração destroçado – e fazer o seu discurso, sincero, relatando a transparência da sua alma, e se mostrando vulnerável e humano? Você se mostra vulnerável e humano a elas? Ou se esconde atrás de uma máscara que criou ao longo do tempo para poder suportar as traições e melindres que já o fizeram pensar em desistir? Sua vida é motivo de inspiração para você mesmo, ou quando se olha no espelho, a primeira coisa que agradece é não ter alguém como você na própria equipe? Quem é você? É aquela pessoa que todos querem ter por perto, simplesmente porque as encoraja a serem melhores, através de um exemplo genuinamente construído com integridade? Ou aquele que todos suportam, sob condições hostis, já que nada podem fazer para mantê-lo afastado? Estas pessoas estariam ao seu lado caso pudessem escolher a própria equipe de trabalho? O que é, de fato, que mantem uma equipe unida? O que é que faz o coração das pessoas vibrar quando acordam, e as mantêm conectadas ao trabalho que lhes traz sustento? A resposta não é dinheiro – não para todos. Acredite em mim. A busca pelo sentido trará, nos próximos anos, uma reviravolta em todo o sistema econômico. E vai escancarar, diante de nós, que a vida precisa fazer sentido para ser vivida. E um líder desconectado com alguns valores da espiritualidade será deposto. Como um rei tirano que fala palavras bonitas diante do povo, mas cujas ações gritam mais alto que suas palavras. O fato que te conecta às pessoas que estão juntas de você não tem nada a ver com o quanto ganham. E é disso que vamos falar agora. A vida urge. Competitividade é a palavra que parece coroar os dias no mercado corporativo. As pessoas estão cada vez mais ocupadas com seus trabalhos, e, ao mesmo tempo, cada vez menos engajadas com eles. Como isso é possível? Colaboradores cada vez mais deprimidos, pesquisas mostrando altos índices de insatisfação na carreira. Pessoas que se sentem prisioneiras dentro de suas próprias vidas. Muitas delas, reféns de chefes carrascos que não entenderam ainda qual a real intenção do papel de um líder. Líderes sofrem. Estão sob constante pressão, precisam de resultados, mas nunca na história da humanidade pudemos presenciar tantos casos de líderes despreparados para esta determinada função. Porque, mesmo com formações técnicas, existe algo comportamental que define quem somos. E quem seremos quando estivermos lado a lado com as pessoas. Algo que nos diferencia dos outros seres vivos. Algo que pode colocar uma empresa em risco, ou fazê-la subir a um outro nível. E esse algo a mais, esse diferencial, que nem deveria ser um diferencial, já que estamos falando de humanos, é humanidade. Falta humanidade nos ambientes de trabalho. E se você ainda não se deu conta disso é porque não está a par do número de casos de afastamento por depressão, estresse, abusos, entre outras coisas, que transformaram escritórios pelo mundo todo em ambientes que aprisionam almas e sugam vidas e energia de seres humanos plenamente capazes de desempenhar o melhor de seus talentos O ambiente de trabalho tornou-se hostil – graças a líderes que não conseguiram desenvolver, neles e em suas equipes, virtudes e valores que fazem uma diferença brutal no resultado – seja de uma equipe, de uma empresa ou de um país. A primeira vez que percebi a importância do papel da liderança, eu ainda era um menino. Estava entrando em campo, no auge dos meus onze anos, sabendo muito bem o que queria ser: um grande jogador de futebol. Como um pré-adolescente sonhador, eu olhava para a figura do técnico e me perguntava como alguém conseguia enxergar algo que nem nós mesmos podíamos ver. Ele nos inspirava. Fazia com que quiséssemos ser melhores, extraía o melhor de cada um, sabia ser justo, respeitava o time, e nos engajava de tal forma que estávamos prontos, às quatro da manhã, para pegar o trem dos treinos de preparação para os jogos do campeonato. Esse homem conseguia nos elevar a um outro patamar – sem que aquilo parecesse um grande esforço. A pergunta é: o que qualifica um ser humano ao papel de líder? Porque, na história da humanidade, muitas pessoas se destacaram, trazendo novos cenários à tona, simplesmente porque inspiravam outras pessoas a seguirem determinados caminhos. E, afinal, onde perdemos a mão? Por que existe tanta gente mal preparada para liderar uma equipe? Onde estão os valores que permeiam estes líderes atuais, que entraram para a categoria de pessoas mais odiadas de todos os tempos? Desde quando os líderes passaram a ser odiados? E por quê? Os líderes das empresas atualmente são os grandes responsáveis pela altíssima taxa de pedidos de demissão, insatisfação e depressão. E se você acha possível uma empresa trazer bonsresultados com colaboradores infelizes, é porque nunca viu uma empresa sendo gerida por um líder que pratica a espiritualidade em sua forma mais genuína. Eu acredito que o trabalho deveria possibilitar o alcance de um significado para a vida. Uma maneira de se desenvolver ao máximo seu potencial, como também realizar-se como ser emocional e intelectual. E hoje dedico minha vida a isso – provar que é possível termos ambientes de trabalho mais humanos, justos, que tragam o melhor de cada ser humano à tona, e se tornem foco de expansão da criatividade, dos talentos, fazendo com que empresas possam se tornar grandes palcos para relacionamentos perenes e satisfatórios. Porque o ambiente de trabalho pode – e deve – ser um lugar de conexão autêntica, onde as pessoas possam se sentir felizes, realizadas, encontrando sentido para suas vidas, e se engajando em projetos com legítima intenção de mudar algo. Só que, para isso, líderes devem estar alinhados com essa nova maneira de pensar. Não tão nova, mas diferente o bastante para provocar reações e reflexões. Um líder que consegue elevar seus colaboradores a outro patamar impacta não somente os resultados de uma equipe ou de uma empresa – traz alma e vida aos projetos executados em grupo. Inspirado em líderes que conheci, que tive, e em estudos de caso com executivos que acompanhei durante meus mais de trinta anos, fiz um verdadeiro dossiê para que as pessoas entendam o que é, de fato, integrar espiritualidade e liderança. E como essa integração pode efetivar a verdadeira felicidade num grupo de pessoas. Porque está mais do que na hora de brecar essa inquietação constante que permeia os relacionamentos interpessoais dentro dos ambientes de trabalho. Mudaram os tempos, cresceram as necessidades e a inteligência espiritual mostra-se urgente no cenário atual. E, o que seria inteligência espiritual? No início do século XX, o tal do QI (quociente de inteligência), fazia pessoas se orgulharem. Era com o QI que solucionávamos problemas lógicos – e eles passaram a ser primordiais em testes de avaliação para classificar a inteligência dos indivíduos. Um tempo depois, tornou-se popular a inteligência emocional. Neurocientistas e psicólogos mostravam o quanto sentimentos como a empatia e a compaixão eram importantes nas relações. E isso deu início a uma nova Era, onde todo mundo investia para poder desenvolver seu lado emocional com sabedoria. Hoje existe um novo quociente que pode mudar todos os conceitos. O Quociente Espiritual – uma inteligência que nos permite solucionar problemas de sentido e valor. Uma inteligência que diz respeito à maneira como damos mais significado para nossa vida. Mas qual o sentido de “espiritual” nessa configuração? O dicionário Webster define espírito como “o princípio animador ou vital. Aquilo que dá vida ao organismo físico em contraposição a seus elementos materiais. O hábito da vida”. É através da espiritualidade que fazemos perguntas existenciais, as quais, procuram respostas que tragam sentido ao que fazemos diariamente. E nunca houve, na história da humanidade, tantas pessoas em busca de um sentido para a vida. E, quando falamos do ambiente de trabalho, que deveria, em tese, ser um espaço onde cada ser humano encontrasse sentido à própria vida, que trouxesse sua contribuição ao mundo de maneira única, expressando sua criatividade e talento, acabamos presos a conceitos que ficaram no passado, mas que ainda permeiam as relações de trabalho, e as confundem. A inteligência espiritual nos coloca como protagonistas de nossas vidas. Ela permite que nos façamos a pergunta ‘estou onde gostaria de estar? Poderia mudar esta situação? Poderia criar uma nova situação a partir do momento que me encontro? Através de uma contribuição que nos faz enxergar nossos valores, princípios e moral, conseguimos encontrar sentido no dia a dia, e significado para pequenas e grandes ações, trazendo uma contribuição generosa para pequenos grupos, impactando positivamente o mundo. E um líder que está desconectado deste conceito age puramente pelo resultado material e financeiro, sem perguntar a si mesmo se está contribuindo para o crescimento de todos que o rodeiam. Um líder encoraja, inspira, motiva, desafia. Ou melhor – deveria fazer tudo isso. E estamos constantemente em papéis de liderança em nossas vidas. Lembro-me de minha mãe liderando a família, de trás de sua máquina de costura, fazendo com que seus quatro filhos acreditassem que era possível sonhar. Engajando todos nós a se empenhar em arrumar a casa antes das brincadeiras. Com uma delicadeza no olhar, ela promovia transformações em nossa conduta, mesmo quando não percebíamos que estávamos sendo influenciados por sua maneira de pensar. Seus valores eram transmitidos através das suas atitudes, sempre coerentes com suas palavras. Mesmo sendo uma família com poucos recursos, víamos a bravura do meu pai nos encorajando a ir adiante. Sua maneira didática de nos fazer perceber o que era justiça – mesmo quando estávamos, os quatro irmãos, disputando o último pedaço de bolo. Ah, meu pai – ele sim nos fazia acreditar que a gente podia ir mais longe do que achava que era capaz. Ele nos mostrava que éramos donos do nosso próprio destino – e com essa implacável segurança – que me fez olhar para o alto, e entender que eu poderia alçar voos maiores do que os que eu estava destinando a mim mesmo. Esses voos eram materializados pelo Tio Osmar, que acenava do avião todas as vezes que embarcava em suas viagens de trabalho, com seus ternos impecáveis. Através dele eu percebia como as pessoas poderiam desenvolver seu potencial ao mesmo tempo em que trabalhavam. Afinal, trabalhar era a grande oportunidade que a vida nos dava de desenvolver o nosso melhor. Mas, assim como eu, todos tiveram pais, tios e familiares que lhes eram inspiradores. Técnicos de time ou pessoas chave que marcaram a infância. Assim como, até hoje, estamos nas mãos de líderes. Quer estejamos dentro, ou fora das empresas. Uma liderança ruim pode derrubar um país. Uma boa liderança pode inspirar um povo e fazê-lo renascer das cinzas. Porque estamos falando de pessoas, de relações. E passamos a maior parte do tempo nos relacionando uns com os outros justamente quando estamos nos ambientes de trabalho. Então, por que esse é exatamente o lugar onde não pregamos o que há de mais importante na conduta humana? Por que é exatamente ali que existem mais pessoas deprimidas e oprimidas? Convido você a embarcar nessa viagem fantástica, de novas descobertas, possibilidades, e, caso esse seja seu momento, ensiná-lo a tornar-se um líder de verdade. Não aquele que cobra resultados, mas sim aquele que está à frente de uma organização, inspirando e fazendo com que as pessoas se sintam naturalmente engajadas, motivadas, felizes, fazendo aquilo que são destinadas a fazer, e trazendo o melhor de cada um – como um técnico compõe um time de futebol. E a partir de agora, vamos discutir quais os valores que podem permear as relações interpessoais de trabalho. Valores como justiça, confiança, respeito, possibilidade de alcançar com o trabalho significado para a vida, oportunidades para as pessoas desenvolverem o seu potencial e se realizarem como seres emocionais e intelectuais, e vamos apontar as possibilidades de realização de práticas espirituais na gestão de pessoas. Porque um líder não muda apenas a realidade de seus colaboradores. Uma líder impacta a vida de milhares de pessoas, e pode fazer delas um paraíso ou um verdadeiro inferno. Afinal, a felicidade só precisa mesmo residir nas férias e nos finais de semana? Ou podemos considerar que esse alimento para a alma pode ser encontrado no dia a dia, mesmo batendo cartão de ponto? Convido você a conhecer minha trajetória, minhas descobertas, e minha conclusão a respeito de um tema que será a pauta dos próximos anos para quem quer ser mais que um número no mercado de trabalho – para quem quer fazer a diferença, cooperar com o crescimento de pessoas ao seu redor, e impactar positivamentecomunidades, famílias, trazendo sentido e propósito para o dia a dia em uma empresa. Parafraseando Nelson Mandela, digo que o que importa em nossa vida não é a vida que tivemos, mas sim a diferença que fizemos na vida dos outros. É isso que determina a importância da vida que conduzimos. E 1 Confiança “ Aquele que não é capaz de governar a si mesmo não será capaz de governar os outros.” mahatma gandhi ra uma quarta feira qualquer. E a Dona Antônia faltou. Dona Antônia era a senhora que fazia o café, a faxina e passeava entre as mesas, limpando os restos de bolacha que ficavam quando os colaboradores iam embora. E enquanto estavam lá. O gerente reuniu todo mundo, como quem vai dar uma grande notícia: — Temos que nos organizar hoje. A Dona Antônia não virá e precisamos manter a agência limpa. Seu filho tinha adoecido, ela havia comunicado o chefe. E ali estávamos, eternamente dependentes daquela mulher que parecia um mero detalhe no funcionamento de tudo, mas era tão indispensável quanto qualquer outro ser humano dentro de uma corporação. Depois que todos comprometeram-se em manter a agência limpa, e distribuíram funções entre si, a grande questão era – quem faria o café? E todos apontaram o dedo para mim. Eu era jovem, tinha meus dezessete anos recém completos. Mal sabia fazer café, mas já tinha visto Dona Antônia prepará-lo, e sempre ficava na barra da saia de minha mãe enquanto a via fazendo, quando pequeno, em nossa casa. Café não era difícil de se fazer e eu era desprovido de vaidade – não ligava em ter que fazer café ou servir as pessoas. Na verdade, adorava me sentir útil de alguma forma. Assim como os cafés das reuniões importantes que eu faria depois de adulto, aquele cafezinho me aproximou das pessoas. Porque passei a não só servir café aquele dia, como servir em todos os outros. Para clientes, colaboradores. E, graças a ele ganhei um contrato de trabalho maior e mais duradouro. Meu gerente, que até então pouco me notava, começou a perceber, naquele jovem, um potencial que nem eu conseguia enxergar. Como líder, identificou que, através da minha maneira de lidar com as pessoas, eu adquiria a confiança delas – e era comum que todos viessem conversar comigo sobre as mais variadas questões. Essa confiança começou a ser percebida pelo próprio, que, certa tarde me ofereceu uma nova oportunidade de trabalho. Isso aconteceu exatamente dois meses antes do término do meu contrato. Eu não sabia dizer como, nem porquê, mas eu tinha uma característica que atraia as pessoas: eu era confiável. Só que não foi exatamente nesse dia que eu percebi que era um cara confiável. Foi antes. Numa tarde ensolarada em que o gerente do banco pediu que eu me sentasse na cadeira em frente de sua mesa. E esclareceu que devido à confiança que depositava em mim, precisava de uma “gentileza”: — Quero que, a partir de amanhã, você abra o banco. Parecia coisa de filme. Eu ali parado, sem entender aquela nova atribuição, e ele contando o que aconteceria no dia seguinte enquanto via minha cabeça acenando em sinal positivo. “Só que para isso, você precisa cumprir a orientação que eu vou te dar. Você vem daquela direção, então, quando chegar, olha para a porta do banco se tiver um vigia, você vem e abre. Se não tiver, você vai até a padaria e espera ele chegar ou chegar um colaborador. Só abra a agencia nessa condição. Você pode cumprir isso?” A partir daquele dia, eu era o responsável por abrir a agência. Essa confiança depositada em mim despertou o desejo de me tornar uma pessoa confiável. Era grandioso perceber que muitas responsabilidades viriam a partir dessa percepção. Daquele momento em diante, embora eu fosse apenas um jovem de dezessete anos, me sentia no dever de não decepcionar a pessoa que havia depositado toda sua confiança em mim. No caminho de casa, enquanto caminhava pelas ruas esburacadas e íngremes de Francisco Morato, município afastado de São Paulo, ficava imaginando como aquela responsabilidade me tornaria adulto. E, se qualquer um acreditasse que era cedo demais para uma responsabilidade daquele porte, todos ficariam espantados caso viessem a conhecer a história de meu pai, Seu Antônio. Seu Antônio era um exemplo de liderança para mim desde cedo. Mesmo que eu não soubesse muito bem o que era liderança. Homem de fibra, chegara em São Paulo de ônibus, depois de sair de caminhão de Sergipe, onde morava com seus outros doze irmãos, para desbravar a cidade grande, e escapar das surras do pai, rigoroso, que não o poupava desde criança. Com sangue fervendo nas veias, Seu Antônio chegou em São Paulo numa madrugada fria de inverno e passou a noite na rua até que pudesse tomar um ônibus para onde imaginava ser a salvação da lavoura. Sua saga só começava. Sem saber onde se instalar, foi de casa em casa até decidir que era aqui em São Paulo que moraria para todo o sempre. Buscou um pedreiro que pudesse subir uma casa num terreno, conseguiu um emprego onde pagavam por hora, e trouxe minha mãe. Foi assim que começou a história da família sergipana em Francisco Morato. Seu Antônio, que sabia obedecer como ninguém as ordens de meu avô, viu- se, pela primeira vez, chefiando uma família. E agarrou as oportunidades em São Paulo com unhas e dentes. Homem forte, só não queria pegar na enxada. Dizia que não tinha saído do Norte para fazer o mesmo trabalho aqui. E foi taxativo quando teve uma oportunidade que o desagradava – ou pagavam o que era justo, ou estava fora. Sem meias palavras, ele nos ensinava a cumprir nossa palavra, a honrar compromissos, a ser justo e principalmente, a estudar – coisa que ele não tinha tido a oportunidade de fazer, já que fora obrigado a trabalhar desde cedo, e ajudar a sustentar a família debaixo do sol quente. Das coisas que aprendi na infância, a mais importante de todas foi que havia um homem em quem eu podia me espelhar em vários aspectos. Em contrapartida, minha mãe liderava a casa com uma ternura que dava equilíbrio aos ânimos de meu pai e fazia com que o termômetro familiar sempre estivesse adequado. Costurava para fora, com sua máquina de costura que era uma companhia barulhenta nas noites frias, mas que ela dizia ser sua fonte de força – sim, era com aquele trabalho que ela esquecia os problemas do dia a dia e o medo de faltar algo para os filhos. Era trabalhando que ela desocupava a mente. E, assim, ela nos fazia perceber que o trabalho podia ser onde alimentávamos a alma. Mesmo cansada, ela se dispunha a trabalhar com afinco, produzindo peças para as pequenas confecções da região. Foi assim que nos criava. Com dignidade, mostrando que cada um tinha sua responsabilidade dentro daquela casa. Por isso, ter acesso àquela chave do banco me enchia de orgulho. Fazia com que eu entendesse o quão importante era a formação que tinha tido, através de meu pai, que contava histórias de sua vida para ilustrar como deveríamos conduzir as nossas através das tempestades que se apresentavam. Me senti um adulto, assim como ele havia se sentido quando seu pai lhe dera atribuições de cuidar dos irmãos menores. Hoje, depois de tanto tempo, já empresário e líder de uma empresa em RH, percebo que aqueles passos foram fundamentais para a minha jornada. Se eu não confiasse naquela bagagem, não teria chegado nem na metade do caminho que construí. E é nas coisas simples que percebemos quanto estamos atrasados em relação a tantas outras mais complexas. Se, para liderar uma grande corporação precisamos da dose certa de fibra e humanidade, para liderar uma família, são necessários os mesmos requisitos. É com garra, vontade, certeza de que os princípios estarão acima de tudo, que fazemos nossa história ser digna de ser escrita. Aos poucos, fui notando como a ausência destes valores e princípios destruía tudo numa grande corporação. Em empresas, as coisas caminham bem quando os líderes são dignos de confiança e assumem a responsabilidade que lhes cabe. Mas eles também podem colocar tudo a perder quando não sabem gerir competências, identificar talentos ou fazer com que oscolaboradores estejam satisfeitos, alcançando sua máxima performance. A liderança pode mudar cenários, deixar pessoas mais satisfeitas, motivadas, comprometidas e desafiadas em suas competências e fazer com que cada um produza melhor, e seja mais feliz no ambiente de trabalho apresentando uma produtividade compatível com seu potencial. Mas é claro que não é só a produtividade que conta como resultado final, embora ela seja essencial para a empresa. Uma liderança com uma inteligência espiritual apurada é como um maestro afinado com os músicos. Ele sente cada frequência vibrar, cada som, cada detalhe que não passa despercebido, e, fazendo pequenos ajustes, consegue extrair o máximo de cada um, desde que os talentos sejam identificados corretamente. Já viu um músico enquanto entrega seu melhor para uma orquestra? Provavelmente cada molécula dele está vibrando na mesma sintonia do grupo, e, mesmo que as atribuições sejam diferentes, ele é essencial para o funcionamento de tudo, e sua ausência seria sutilmente percebida por todos. Uma orquestra sem um músico perde todo o equilíbrio e beleza. E, assim como um maestro, um líder deve ter esse olhar, treinado, para cada pequeno acorde. De qualquer forma, não é todo líder que consegue exercer essa função com maestria. É só olhar para as empresas onde existem líderes “carrascos e odiados” que você percebe isso. No próprio filme “Whiplash – Em Busca da Perfeição”, um baterista tenta, a todo custo, ser elogiado pelo implacável professor, responsável até mesmo pelo suicídio de um antigo aluno, tamanha pressão exercida para que seus alunos estivessem num nível de perfeição que ele considerava adequado. Suas palavras eram duras, ele não poupava críticas agressivas, e naquele cenário, mesmo que só permanecessem os bons, o custo emocional era alto demais para que houvesse prazer na execução da própria arte. Há diferença substancial entre ser duro e ignorante. Quando os líderes são vistos pelos seus liderados como duros, em linhas gerais são percebidos como firmes nos propósitos e nas considerações, normalmente são claros nos argumentos e objetivos, e tendem a ser justos nas considerações. Já quando os colaboradores vêm em seus líderes, atitudes ignorantes, em linhas gerais são percebidos como agressivos porque normalmente apresentam informações que vão além das atividades desempenhadas pelos colaboradores, atingindo os aspectos pessoais e afetando negativamente o emocional dos indivíduos e a relação líder-liderado. Já ouvi relatos de deixar os cabelos em pé – chefes que agrediam verbalmente os subordinados, que, mantendo as aparências de “exigentes”, tinham o aval para fazer com que o desconforto fosse constante e a pressão se tornasse absurda. Tudo para que o medo provocasse o respeito. Mas fazer-se respeitar pelo medo é bem diferente do que pelo exemplo. Quando pequeno, lembro-me de meu pai, contando histórias de como seu pai os punia quando faziam algo que considerasse errado. Ele o respeitava porque tinha medo de apanhar, e não porque acreditava nele, ou o admirava. Admiração aliás, era a última coisa que permeava aquela relação. E isso acabou fazendo com que Seu Antônio entrasse num caminhão rumo a São Paulo, sob as pragas de meu avô, que disse que ele não conseguiria se manter e voltaria com o rabo entre as pernas. Seu medo era tanto que ele preferia passar por qualquer situação na cidade grande, a voltar para debaixo das asas do pai e apanhar como um gado que saia do pasto. Talvez por conta dessa falsa ideia de controle, muitos de nós acabaram levando para o meio corporativo essa maneira de se controlar os outros – com um chicote na mão e um grito na garganta. Por mais absurdo que possa parecer – é exatamente assim que alguns líderes ainda impõem sua presença e suas ideias às suas equipes – enfiando-as goela abaixo, sem pudor. E sem medo de serem detestados. E não existe coisa pior do que um líder que contamina negativamente a equipe das mais variadas formas e maneiras, sem saber como extrair o melhor de cada um ou como apoiar seus colaboradores. Não tem nada pior do que o abandono emocional de um líder, ou o massacre que ele pode provocar numa equipe. Um líder despreparado não destrói apenas um time – destrói famílias, sonhos, pessoas e, consequentemente, empresas. As características de um bom gestor podem ser visíveis a olho nu. E estas características sempre passam pelos sentimentos mais nobres como o amor. Um líder bem-sucedido geralmente, por mais duro que possa parecer em determinadas condutas, exala amor. Planta amor, semeia amor – e provoca emoções positivas nas pessoas de tal forma que elas se engajam naturalmente em seu propósito. Eles sabem cativar, tem carisma, são justos. Sabemos o que podemos esperar de um bom líder. Mesmo quando ele sai de campo, sabemos que não vai nos abandonar. Sim, porque até um líder deve sair de campo de vez em quando para fazer o outro brilhar. Fazer com que o outro possa dar sua melhor contribuição, com a certeza de que o resultado esperado é maior do que as glórias em seu nome. Quer um exemplo? Quando eu tinha por volta de vinte nove anos, era capitão de um time de futebol de salão. Estávamos na semifinal do campeonato e eu liderava o time. Naquele jogo, em particular, precisávamos de um empate para que conseguíssemos a classificação. Seria simples – se não estivéssemos perdendo de cinco a zero. Enquanto a bola rolava em quadra, tive um insight. Eu precisava tomar uma decisão. Pedi um tempo e chamei todo o time. Todos pararam, intrigados, não imaginavam o que eu iria propor. “Não estamos bem”, comecei, sem dizer grandes novidades. “Mas temos que tomar uma decisão e fazer uma mudança”, completei. Alguns se entreolharam e continuei. “Se tomamos cinco gols, também podemos fazer outros cinco. E o que quero propor agora é que alguém me substitua. Hoje não estou na minha melhor performance, e acredito que vocês jogarão melhor sem mim. Talvez eu seja mais importante no banco do que aqui dentro. Quero propor o time num outro formato.” Eles ficaram surpresos. Eu era o vice artilheiro da competição e ninguém queria que eu saísse. Achavam que sem minha presença em campo, as coisas poderiam piorar. “Temos que testar tudo”, ponderei. E, eu, como líder, naquele momento, saí de quadra. Quando voltamos, fizemos o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto gols. O time estava fervendo. Quando faltavam apenas dois minutos para o apito final, meu coração acelerou. E a bola foi, certeira, para dentro da rede. Empatamos o jogo e isso nos deu condições de irmos para a final. Todos celebramos e aquele dia pude perceber claramente que se eu não tivesse reconhecido que não estava bem, poderia ter afundado o time. Se, por vaidade, não quisesse sair de cena, colocaríamos tudo a perder. Como líder, precisei usar meu papel de influenciador e conquistar a confiança do time, para que eles entendessem que eu estava visualizando um cenário que eles próprios não podiam enxergar. Só que tudo tinha de ser feito com extrema habilidade, já que poderia dar a conotação de que eu ia abandonar o barco para não perder junto com o time. E eu percebi que ninguém queria perder. Mas minha contribuição maior seria no banco de reservas. Hoje, nas empresas, existe uma miopia severa, que impossibilita os líderes de enxergarem os contextos. Um líder não é maior que um contexto – ele está dentro dele. Mesmo o presidente da empresa deve entender que a empresa deve ser a coisa mais forte – e se desapegar disso. Mesmo que ele tenha sua função, e desempenhe seu papel de forma extraordinária, deve entender que ele não é o mais importante. Sempre admirei o Paulo Roberto Falcão – um líder que jogou na seleção –, que sempre teve uma atuação muito elegante. Como líder, ele trabalhava para o time, e conseguiu ser destaque por onde jogava, sem trabalhar para isso. A atuação e postura dele era sempre a mesma: “Eu trabalho para o time”. Hoje, nas empresas, isso é exceção. A maioria dos empresários e gerentes que afundam as empresas e desmotivamcolaboradores são os que fazem questão que o time vá até eles. A pergunta central é: como estabelecer confiança se só o outro vai até você? Como estabelecer confiança numa relação de trabalho? É possível inspirar confiança e ser alguém confiável através de uma relação de trabalho? Por que a confiança deve ser um valor importante a ser desenvolvido quando falamos da dinâmica de trabalho entre as pessoas? A questão é que ninguém consegue trabalhar com quem não confia. Experimente ir a um médico cuja índole é questionada. Ou a um advogado que tem má fama. Você conseguiria acreditar na prescrição ou nas palavras daquela pessoa e sair satisfeito daquele encontro? Da mesma forma, acontece no dia a dia no trabalho. É impossível ter uma convivência sadia no ambiente corporativo se não estabelecemos relações de confiança. E relações de confiança não se constroem da noite para o dia – são cultivadas. Ao mesmo tempo, podem ser destruídas com uma simples mentira que prove um desvio de conduta. Afinal, quem consegue ficar pisando em ovos quando falamos de se entregar com paixão ao trabalho? Será possível liderar uma equipe sem se relacionar com os liderados? O princípio básico da liderança é que o líder se aproxime dos liderados, que conheça a história dos outros, que traga empatia no olhar, nas atitudes, saiba a trajetória, a história, e, assim, possa haver uma conexão maior dentro do time. Desde menino, estive presente para isso – que deveria perceber as pessoas. Meu pai, com sua estratégia de sempre nos ensinar através de histórias, nos fazia perceber a individualidade de cada ser humano. Mesmo sem estudo, ele sabia conectar todos os quatro irmãos através da voz do coração, que era a linguagem universal para nos aproximar uns dos outros. Era com as palavras que ele despertava nosso interesse pelas histórias. Elas tinham cor, cheiro, ritmo, cadência. E, mesmo quando ele reclamava dos abusos no trabalho, sempre trazia uma grande lição. Me lembro bem de quando estava perplexo porque um de seus chefes pedira um serviço em sua casa. Ele deu de ombros e disse que aquilo não estava certo. Era funcionário da empresa, e não daquele homem. O homem ficou surpreso com a negativa de seu Antônio, que não arredou o pé em suas convicções. Sempre soube o que era certo e o que era errado, mesmo sem noções empresariais sobre ética no ambiente de trabalho. Isso o fazia especial. Foi através do Seu Antônio que percebi o valor da fé quando lidamos com a instabilidade. Mesmo debaixo da maior das tempestades, ele jamais deixou que seu medo nos apavorasse. Estávamos sempre seguros, porque víamos que ele saberia o que fazer na hora certa, e sempre tomaria as melhores decisões em nome da família. Aquela liderança me inspirava. E eu nem sabia que esse era o nome daquilo que Seu Antônio fazia de forma tão natural. Seus amigos pediam conselhos a ele; Ele vez ou outra tinha uma carta na manga – um pedido de aumento com uma justificativa aceitável. Sabia que nenhum trabalho poderia humilhá-lo ou tirar proveito dele. E o contrário era verdadeiro. Nunca o vi tirando vantagem de nenhuma situação. Assim, fui crescendo e percebendo como era bom observar as histórias de vida das pessoas que me cercavam. Era incrível notar como cada pessoa tinha uma história, trazia uma verdade, um sonho, uma expectativa. E isso me fazia saber lidar com elas e entender que o princípio básico que unia os seres humanos – mesmo dentro de uma empresa – era um só: empatia. Colocar-se no lugar do outro era a chave para que houvesse uma relação de verdade. Não precisei estudar empatia para aprender a decifrar as necessidades e sentimentos de quem estava ao meu redor. E ser empático nas relações é mais que a última moda em desenvolvimento pessoal – é a prova de que estamos evoluindo como seres humanos e entendendo que nossa sobrevivência depende da maneira como nos relacionamos. Com o passar do tempo, fui notando que os valores da espiritualidade estão relacionados com a melhoria do ambiente de trabalho, a retenção de talentos, o desenvolvimento das lideranças, o desenvolvimento dos colaboradores e, consequente, com o desenvolvimento organizacional. E, diante de um contexto de alta complexidade, competitividade e de oportunidades, as organizações têm sofrido cada vez mais com fortes mudanças e por isso, os recursos humanos são diretamente impactados, sobretudo, as lideranças. Estamos o tempo todo falando de pessoas. Pessoas movem os cenários econômicos, as configurações dentro das empresas. São elas que podem colocar tudo a perder ou fazer a coisa dar certo. As pessoas movimentam tudo. E a má gestão de pessoas pode fazer com que haja verdadeira destruição em massa dentro de pequenos escritórios. Porque hoje as pessoas acordaram e sabem que não podem mais vender a alma em troca de um salário. Elas estão conscientes e finalmente reivindicando seus direitos. Ao mesmo tempo, líderes perderam a mão e acreditam que o que vale é “controlar” os colaboradores, com ameaças veladas e monitoramento constante. Afinal, as empresas do futuro trarão qual diferencial? Como será o cenário dentro das empresas, se as pessoas mal estão conseguindo conviver entre si? Quais empresas sobreviverão ao novo cenário? E, acima de tudo, quais aptidões serão necessárias para que todos possam crescer profissionalmente, evoluir como seres humanos, sentirem-se plenos dentro de seu potencial, e sentir que estão colaborando com o mundo? Afinal, você está feliz com seu trabalho? Muita gente diz que não. E hoje esse é o principal mistério a ser resolvido dentro dos ambientes corporativos. Nos perguntamos, entre outras coisas, onde se perderam os valores que deveriam permear as relações humanas. Muitos deles surgem como bálsamo para aliviar nossa dor ao não reconhecer tanta estranheza. Não é de nossa natureza detectar maldade, egoísmo, competitividade e ambição num nível tão abusivo como vemos hoje. O dinheiro tem falado mais alto, e comprado valor e reputação. E isso está fazendo com que a reflexão venha mais e mais profunda. Afinal, se os líderes não farejarem o que está errado, provavelmente tudo irá desandar. E experimente deixar um time sem comando e verá a confusão que pode se tornar. Por mais que sejamos autossuficientes, quando nos unimos em torno de um propósito comum, podemos ir mais longe. E é sobre isso que estamos falando – a capacidade de irmos mais longe, como equipe. E um bom líder consegue conduzir um time e fazê-lo voar alto. Alto demais para que seja necessário colocar os pés no chão e esquecer como se voa. Um bom líder forma gaviões e não alimenta um gado para que fiquem dentro do pasto, domesticados e satisfeitos com o que lhes é dado. Ele almeja que cresçam, e faz isso com tanta delicadeza e maestria, que fica impossível seguir imune. Ninguém consegue seguir imune a uma liderança espiritualizada. Sim, as organizações bem-sucedidas serão aquelas que, por meio de suas lideranças, conseguem, com seus colaboradores, estabelecer uma conexão entres os valores pessoais e os valores da organização e, consequentemente, obtêm maior comprometimento com as rotinas, tarefas, normas, objetivos e metas organizacionais. Sendo assim, os líderes são os maiores responsáveis tanto pela manutenção dos talentos, quanto pela utilização das competências máximas das pessoas no ambiente de trabalho. Aliás, só existem colaboradores satisfeitos e comprometidos quando a liderança está absolutamente comprometida em fazer com que sua equipe alcance resultados extraordinários, atuando de maneira que potencialize os resultados individuais da equipe. E se estamos falando de potencializar resultados, precisamos deixar claro que estamos lidando com seres humanos com potenciais infinitos e ilimitados, que, se bem conduzidos e liderados, conseguem extrair o máximo de si. Não basta contratar pessoas talentosas quando se tem um nível médio, e muitas vezes medíocre de líderes. Seriam talentos desperdiçados que poderiam ser contaminados pela liderança – muitas vezes com medo de perder o statuspara novos talentos. Um líder ruim tem esta característica – não dá espaço para ninguém brilhar, temendo que sua luz –, que nem é tão forte assim, seja ofuscada. Alta rotatividade e índices ruins de clima organizacional podem trazer uma tendência de má formação de líderes e o staff da organização deve se atentar constantemente para esse quadro. O que também torna cada vez mais desejável que os executivos e gerentes tornem-se verdadeiros líderes, pois suas atitudes diárias exercem fortes impactos na percepção da empresa perante seus colaboradores, clientes, mercados e marca, potencializando os resultados organizacionais. E aqui não estamos falando só de resultados. Os resultados podem mover as empresas, mas o que move as pessoas é o propósito, o engajamento, a causa pela qual levantam todos os dias para trabalhar. Muita gente que conheço, chega em determinada fase da vida e pergunta a si mesmo: “Será que estou no lugar certo?”. Essas pessoas começam a questionar valores, e quando os valores delas não conectam com o da empresa, é hora de repensar mesmo se estão no lugar certo. Porque perder tempo no lugar errado pode custar uma vida. É comprovado que pessoas satisfeitas, motivadas, comprometidas e desafiadas em suas competências, produzem mais e são mais felizes no ambiente de trabalho. De acordo com estudos realizados pelas Organizações Gallup, durante vários anos, com 80.000 gerentes em quatrocentas companhias, o bom relacionamento do empregado com o superior imediato é mais importante para a retenção do funcionário talentoso na organização do que a substancial política de salários e benefícios. Ou seja: se tenho um líder em quem posso confiar, que me inspira, promove o bem-estar dos funcionários e faz com que eu possa atingir meu potencial, mesmo que a outra empresa pague um salário maior, o que vai valer na hora da decisão é justamente como me sinto quando estou trabalhando. Surpreso? Então, atente-se para esses dados: o empregado pode ingressar numa empresa que ofereça generosos pacotes de benefícios e por atuarem com políticas de valorização dos empregados, mas no final das contas é o relacionamento com os supervisores imediatos que vai determinar por quanto tempo os empregados talentosos permanecerão na organização. Hoje, a grande razão para a evasão dos talentos é a incapacidade do chefe em retê-los na empresa. Mesmo com uma boa remuneração e condições físicas de trabalho, o que é determinante na Hora H é o estilo de liderança utilizado pelos gestores. Sim – é por causa dos líderes – bons ou ruins, que uma mão de obra talentosa acaba escapando para uma empresa concorrente. Será que o “feijão com arroz” não é mais o bastante, o suficiente? Estariam os ambientes empresariais permitindo que os talentos realizassem o seu trabalho de forma tão extraordinária a ponto de criarem e produzirem verdadeiras obras de artes? E a diversão poderia ser entendida com uma fonte alegre e espontânea para produzir resultados extraordinários? Estariam as empresas favorecendo o deslocamento de seus talentos para outras áreas das empresas? Os ambientes empresarias possibilitam que as pessoas encontrem um ambiente favorável para o seu desenvolvimento? Seria um repensar a vida em sua dimensão mais ampla? Seria uma forma mais contributiva e alegre? Poderia então ser uma forma de valorizar e estimular seus talentos para encontrem o melhor de seus potenciais? Seria então viver a vida no trabalho com mais entusiasmo? Ou simplesmente, trazer ou estimular a vida em cada integrante da organização? O que de fato as pessoas buscam? E as empresas, o que de fato querem? O que as pessoas encontram nos seus postos de trabalhos? E o que as organizações esperam de seus colaboradores? E quantas delas têm clareza do que realmente querem em sua vida profissional? Seria também o ambiente desse trabalho uma oportunidade para o crescimento e desenvolvimento emocional? Seria o ambiente organizacional um local propício para a prática do amor pelo próximo? Seria o ambiente de trabalho um local para as pessoas se encontrarem com o seu melhor? Poderia o trabalho ser uma fonte de prazer? Seria uma forma de pedir socorro, tanto para as empresas como para as pessoas? Poderíamos também entender que o próprio ambiente organizacional seria uma oportunidade de realização profissional? Talvez o dinheiro não seja a parte mais importante das relações de trabalho para os profissionais? Ser feliz no trabalho implica ser feliz na vida? Ou ainda ser feliz na vida implica em ser feliz com o trabalho? Poderíamos somar outras possibilidades de reconhecimento, além do dinheiro? Seria a outra metade a possibilidade de ser percebido como um ser e não somente um número? Que espécie de “alimento” as pessoas encontram nas organizações? Como as empresas “alimentam” seus colaboradores? O que as organizações podem fazer para criar ambientes mais produtivos e com melhor satisfação nas relações com seus colaboradores e clientes? O que seria das organizações com ambientes mais humanizados? E o que há de convergente e divergente nesses reais interesses? Eu percebia, pelo meu transito no mundo corporativo, que as lideranças, por mais que fossem evoluídas, tinham um teto para alcançar uma performance. E passar disso requeria uma coisa muito mais refinada. E cada vez que eu transitava no ambiente com essas pessoas, percebia que faltava humanidade nas relações. Que era muito mais técnica – que as pessoas tinham muito rigor em meta e resultado e percebi que, para levar para um outro patamar, a conversa era outra. Porque o ambiente da organização é um ambiente que promove o desenvolvimento das pessoas, só que nem sempre é isso que acontece. As pessoas ficam mais deprimidas, sentindo que tem pouca capacidade de realizar. E percebo que a mola propulsora disso está ligada ao papel da liderança. Sim, os líderes podem colocar tudo a perder numa empresa – e na vida dos colaboradores. Um líder impacta pessoas e suas famílias. Impacta vidas, estados mentais e de saúde física. Um líder precisa ter a dimensão exata da responsabilidade que tem – ele está lidando com vidas em suas mãos. Portanto, não é hora de olhar o próprio umbigo – é hora de encarar o desafio como uma grande oportunidade de desenvolver pessoas. Era observando meus professores na faculdade que eu entendia que um líder tinha uma razão especial de ser. E, com esse ímpeto de inspirar como eles, eu brigava com minha vergonha de falar em público. Desde sempre eu queria liderar. Mas como liderar, se eu tinha vergonha de falar mais alto que o colega e ser ouvido pela sala toda? Com uma pele clara, que ficava vermelha ao ouvir a pronúncia do meu nome, aliás apelido, eu tinha que lutar contra isso diariamente quando fazia uma pergunta qualquer ao professor da faculdade. Minha meta era fazer uma pergunta por dia, para ir me livrando dos medos que me impediam de ser quem eu acreditava que podia ser. Aos poucos fui construindo uma nova identidade. A cada dia propunha um desafio que fazia com que eu transpusesse um novo obstáculo. Minha vergonha foi perdendo espaço para a coragem. Investi numa pós-graduação e coloquei na cabeça que queria conquistar pequenos grupos através da relação que estabeleceria com eles. Sim, eu queria dar aulas. Já sabia falar em público. Não tinha mais medo do que poderiam pensar de mim. Assim, ofereci – a custo zero – um curso numa escola onde eu poderia falar sobre tudo aquilo que estava estudando, e praticar a oratória. Sim, nada como praticar aquilo que eu sentia que me impulsionaria para um novo patamar. Aos sábados e domingos as salas de aula lotavam e as pessoas ficavam ali à espera do conteúdo que eu trazia. Sempre tive prazer em compartilhar. Via sentido quando compartilhava conhecimento, quando compartilhava experiências e quando conseguia tocar o coração das pessoas através das minhas palavras. Ah, e mudar vidas. E, assim, eu começava a perceber que estava no caminho certo – e já podia dar o próximo passo, que era dar aula na graduação. Por mais que parecesse um desafioe tanto, meu coração dizia que eu estava preparado. Eu confiava em meu potencial e tinha certeza de que conseguiria. Era uma certeza maior do que qualquer medo. Era uma certeza que me impulsionava e fazia com que eu quisesse ir mais longe. Eu ainda não sabia o que estava me movendo, de fato, mas sabia que podia alcançar aquilo que almejava. Mandei currículo freneticamente para algumas faculdades e não obtive resposta. A falta de resposta não me desanimou. Sabia que estava criando ondas num sentido, à medida que me colocava em movimento. A ação faria com que as sementes que eu havia semeado trouxessem frutos, quando estivessem prontas para serem germinadas. Depois de alguns meses, veio um convite. Estava sentado, quando ouvi a voz do outro lado da linha. Não esperava que fosse acontecer naquele momento. Mas senti uma espécie de frio na barriga. Eu desejara aquilo como nunca, mas, quando percebi que estava prestes a acontecer, meu coração acelerou. Era realmente o que eu queria? Sabia que sim, mas a ligação me pegara de surpresa. Era uma ligação de uma faculdade convidando-me para uma entrevista. Queriam que eu desse aulas numa pós- graduação. A expressão “pós-graduação” me dava calafrios. Estava disposto a dar aula numa faculdade, mas numa pós? Estaria preparado para aquilo? Tive medo, mas resolvi encarar o desafio. Aceitei a entrevista e percebi que precisaria definir uma estratégia. Era um sonho, e eu precisava confiar que aquilo daria certo. Na época, eu começava a formação em programação neurolinguística, que era um intenso aprendizado em todos os níveis. Estava absolutamente conectado com meu propósito, e sentia como se minha vida fluísse de maneira única. Uma noite antes da entrevista, pensei comigo mesmo: “Agora vou realizar de fato o que quero e me preparar mentalmente para isso. Eu quero e vou fazer acontecer”. Então, resolvi usar aquilo que tinha aprendido na PNL para me fortalecer mentalmente. Sabia que precisava acreditar que daria certo, e meu magnetismo e energia fariam toda a diferença na atitude que eu apresentaria diante dos entrevistadores no dia seguinte. Sabia que era um desafio, mas que estava munido com todas as ferramentas para conquistar aquilo que sempre sonhara. E era um passo bem maior do que eu tinha sonhado. Fiz um ritual de preparação. A ideia era me sentir bem e ter uma noite de sono que me deixasse no melhor estado possível. Selecionei a música ideal para meditar antes de dormir e outra que estaria tocando quando eu acordasse. Queria estar pleno de energia e sabia que meu cérebro se moldaria a partir daquilo que eu propusesse naquele momento. Para dar certo, eu precisaria acreditar, e para que eles acreditassem e confiassem em mim, o primeiro passo era que eu confiasse em mim. Confiar em mim. Muitas vezes em minha vida eu tinha perdido a confiança em mim mesmo. Eram naqueles momentos em que eu duvidava um pouco do que era capaz. E quando essa dúvida me assaltava, ela era corrosiva – fazia com que meu medo me dominasse. Então, nada mais justo que uma dose extra de confiança. Eu sabia como dominar a mim mesmo. E precisava fazer uso das técnicas que eram comprovadamente eficazes. Naquela noite, me preparei, coloquei a música que me colocaria em estado meditativo de felicidade e deitei. E então, uma espécie de mágica aconteceu. Não sei ao certo se dormi, se sonhei, ou se pensei tudo aquilo. O fato é que fiz uma viagem através do tempo, revisitando todos os momentos que tinham me feito confiante. Aquela noite me trouxe a lembrança dos momentos mais importantes, fortes e marcantes que eu já tinha experimentado em minha vida. E aquilo me deu forças de tal forma que eu jamais esqueci. A primeira lembrança que me veio à mente foi meu primeiro dia na escola. Eu estava na Freguesia do Ó, excitado por algo novo que tinha esperado muito tempo para acontecer. Como meus irmãos mais velhos frequentavam a escola fazia tempo, eu não via a hora de colocar a calça, a camisa, o sapato de pano, pegar o caderno de brochura e sair pelas ruelas, caminhando, depois de ganhar um beijo de boa-sorte da minha mãe, Neusa, e a benção do meu pai, Antônio. Sentia-me maior do que eu era. Sentia-me importante. E, para um terceiro filho, que herda a maioria das roupas dos irmãos e leva as maiores pauladas da vida nas brigas em família, ser o protagonista daquele dia era, de fato, algo especial. Para um menino que via seu pai levantar todas as manhãs para trabalhar e voltar cansado e com um sorriso no rosto, que via sua mãe preparar as comidas mais fartas e tirar do próprio prato quando a quantidade não dava pra todos, a oportunidade de estudar me fazia sonhar. Fazia-me perceber que eu podia ir mais longe. Que eu podia conquistar aquele local, mas também podia conquistar o mundo. Ah, o mundo. Ele aparecia para mim em sonhos que eu não sabia se poderia tocar. E, mesmo sem ter ideia de como seria meu futuro, eu tinha um ideal. E esse ideal passava por vestir aquelas roupas e ir para a escola, parecendo alguém. No fundo, no fundo, eu queria ser alguém. Todos já nos sentimos assim. Quando somos mais uma peça na engrenagem de casa, e percebemos que poderemos ser reconhecidos fora daquele ambiente, de uma outra forma. Era hora de reinventar aquele Adilson. Aquele moleque tímido podia ganhar novas características, conquistar novas amizades, crescer, tornar-se maduro. E, embora naquele momento eu não soubesse exatamente o significado dessas palavras, tinha plena certeza que entrar na escola faria com que eu me sentisse diferente. O segundo momento que me veio à mente quando eu estava naquela cama, deitado, em estado meditativo, foi o dia em que joguei no Juventus. Eu era um menino cheio de sardas cujo apelido era Pintado. Numa tarde qualquer o técnico disse, de um jeito só dele, que participaríamos de uma peneira no Juventus. Fiquei empolgado, já que o Juventus era o time que mais carregava títulos na categoria infantil. Eu e meus irmãos tínhamos uma grande facilidade com a bola. Devíamos isso, em grande medida, ao meu pai, que sempre nos incentivava a jogar e dizia para minha mãe que não queria nos ver fazendo lição de casa a tarde. Como tinha tido uma infância sofrida, de muito trabalho, queria ver eu e meus irmãos sujos de barro depois de um jogo de futebol no campinho perto de casa. Para vê-lo feliz era só aparecer sujo de terra da cabeça aos pés e machucado, dizer que o jogo tinha sido uma grande competição. Ele vibrava. Vibrava e dizia que era isso que havia de mais valioso na infância. Enquanto dizia, seus olhos entregavam sua dor. Não tinha tido a oportunidade de brincar quando criança. Desde cedo pegara na enxada para ajudar a família e sabia, assim que teve o primeiro filho, que jamais deixaria seus filhos sofrerem a mesma sina. Naquele campo, diante do técnico, me enchi de orgulho. Sabia que meu pai ficaria orgulhoso. Falei: “Eu vou”. E fiquei com uma inquietação importante: “O que esse cara está vendo em mim que eu não consigo enxergar?”. Sabia que o técnico tinha escolhido apenas três meninos para a peneira. E sabia também que ele apostava na gente. Mesmo assim, tinha uma vaga ideia de que os outros eram infinitamente melhores que eu. Por isso, ficava com medo. Medo de não ser selecionado naquele treino decisivo. Na noite que decidia isso, coloquei chuteira, meião, peguei o trem para a estação Ipiranga, para ir até a Mooca na manhã seguinte e eu ainda me perguntava: “O que ele está vendo em mim que eu não consigo ver?”. Fiquei, durante todo o caminho, observando os meninos que iam comigo e pensando no que o técnico tinha pensado ao me convidar para aquele teste. Quando cheguei lá, aquela multidão de crianças amontoadas – e eu ainda me fazia a mesma pergunta. O apito se fez ouvir, tirando-me dos devaneios, e quando o jogo começou, eu sabia a resposta. Eu era criança. Não tinha uma percepção tão sofisticada das coisas para saber exatamente as palavras que poderia usar. Mas sabia. Eu via claramente o porquê daquele chamado. Ele tinha chamado o Pintado porque era ummenino que sabia o que queria. Sim, eu sabia exatamente o que queria. E quando colocava uma coisa na cabeça, ia até o fim, mesmo que aquilo me tirasse o couro, para conseguir. Não sabia ainda que palavras representavam aquilo, mas tudo que ele via em mim era determinação e raça. Eu era determinado e “raçudo”. Ainda assim, achei pouco. Mas era o que eu era. E se ele gostava daquelas qualidades, tinha que dar o meu melhor, dentro daquilo que sabia fazer. Olhei um por um. Eles podiam ser bons de bola, mas nenhum era tão tinhoso como eu quando queria algo. Perceber aquilo fez com que eu me jogasse naquela peneira como se minha vida dependesse daquele resultado. Dei o máximo de mim, sem fazer tanta força, porque era da minha natureza lutar pelo que queria. Tinha aprendido aquilo em casa. E aquilo, de certa forma, funcionou. Três horas depois, quando chamou todos nós para divulgar o resultado do teste, ele disse meu nome. E quando ele falou meu nome, meu coração saltou disparado, que nem o Violento, cavalo do meu avô, que meu pai tentava domar e quase o fez perder a vida quando criança. Quando ele falou meu nome, entendi que emoção era uma coisa que nascia dentro da gente e fazia o olho produzir água. Que fazia o coração bater, as pernas tremerem. Fazia a gente descontrolar. Eu tinha conseguido. Vibrei, cumprimentei meus amigos e me senti, naquele momento, um vitorioso. Aquilo era um decreto de que eu tinha entendido onde ele queria que eu chegasse. Tinha enxergado o que meu líder esperava de mim, antes mesmo que soubesse que tinha aquelas habilidades únicas. E, quando fui para o primeiro jogo e vesti a camisa sete, meu coração queria sair pela boca mais uma vez. Descemos num túnel escuro e, ao entrar em campo, eu achava que estava no Maracanã lotado e muita gente torcendo por mim, mesmo com poucas pessoas desconhecidas num estádio na rua Javari. Aquele era um momento precioso da minha vida do qual eu jamais esqueceria. Porque a sensação que brotava naquele instante fazia de mim um campeão. O terceiro momento que me trouxe forças naquela noite foi a lembrança do dia em que uma mentira me alertou para o quanto a transparência poderia ser importante. O dia em que menti, pela primeira vez, na tentativa de ser mais esperto. E acabei caindo do cavalo. Eu me vi ali, participando do processo seletivo do Banco do Brasil – meus irmãos já estavam trabalhando e faziam datilografia. Por isso, vez ou outra eu pegava a máquina de escrever e ficava catando milho, achando que conseguira grandes feitos em datilografia. Quando fui para à entrevista, falei que sabia datilografar. Estava diante do meu entrevistador, vi uma oportunidade e não hesitei em contar uma mentira deslavada. Então, o recrutador pediu que eu datilografasse um texto. Datilografei e ficou realmente horrível. Foram alguns segundos envergonhado pela minha conduta. E quando entreguei o papel a ele, ele pegou aquela folha, olhou atentamente nos meus olhos e disse: “Não ficou bom. Você sabe mesmo datilografar?”. Naquele momento, era hora da verdade. Olhei em seus olhos e respondi “Não ficou bom mesmo. Mas vou me empenhar ao máximo para ficar melhor”. Aquela fala fez diferença – e a predisposição de melhorar para fazer ficar bom foi o que fez com que ele considerasse uma próxima entrevista. O quarto momento que veio na sequência de cenas, daquela noite fatídica que antecedia a minha entrevista, foi quando vi pela primeira vez meu nome no jornal logo que passei no vestibular de economia. Era um dia absolutamente incomum. Uma prova de que eu estava sendo premiado pelos meus esforços. E meus esforços não eram poucos. Para um menino que estudara a vida toda em escola pública, fazer valer essa determinação de se engajar com o compromisso de um vestibular, era uma vitória e tanto. E, logo depois, veio a última grande cena, que coroava a minha sequência de realizações que tinham tido um grande efeito positivo em minha vida. Era a cena da minha formatura, dançando com a minha querida mãe no meio do salão, como quem realiza um sonho. Pude ouvir a música, relembrar os olhos dela, emocionados com a minha realização, e sentir que eu estava no caminho certo. Quando acordei, com a música que tinha pré-selecionado, meu coração estava abastecido de boas memórias. E cada célula do meu corpo sabia que eu tinha condições de fazer acontecer naquela entrevista. Eu sabia que a vitória dependia de alguns fatores, e eu tinha algumas histórias de superação, construídas dentro de mim, que me faziam ir mais longe. O impacto que aquelas cenas tinham produzido dentro de mim me fazia mais forte. Mais capaz. Mais confiante. Aquela entrevista seria um sucesso. Eu sentia isso. Durante o percurso, fui relembrando as cenas que tinham estado presentes em meu subconsciente pela madrugada. Cenas que me fortaleciam. Que me deixavam mais capaz. Entrei pela porta, animado, percebendo que faria aquele trajeto inúmeras vezes. Meu sorriso entregava meu excesso de confiança. E, por mais que excesso de confiança pudesse fazer qualquer um se frustrar, eu sentia, lá no âmago do meu ser, que aquele projeto só estaria começando. O diretor e o reitor me encararam. E eu retribui o olhar. Conversamos um pouco, falei das minhas aptidões e interesses, eles conversaram entre si e logo mostraram a agenda da disciplina que eu daria aula. Naquele instante lembrei de um professor que dizia que, quando estávamos no fluxo dos acontecimentos, não precisávamos fazer grandes esforços para concretizar nossos sonhos. Eles simplesmente iam se realizando, dia após dia, sem que a gente precisasse mover montanhas para isso. Porque a força que nos move quando estamos confiantes de que seguimos com nosso propósito. Certa vez uma amiga compartilhou sobre um livro de Jamie Sams, chamado Dançando o Sonho, que a convicção interior tem a ver com algo que questionamos, experimentamos em primeira mão e descobrimos ser verdadeiro. “Se quisermos ficar encurralados na estagnação, podemos continuar na corda bamba que mata nossa capacidade de crescimento, ao confinar nossas vidas a uma monotonia linear e uniforme”, e tudo isso fazia muito sentido para mim. Sabia que aquele era meu caminho, que tinha feito movimentos suficientes para chegar até ali e que aquele momento não podia escapar das minhas mãos. Quando olhei para a agenda deles, percebi que as datas coincidiam com as datas do curso de formação em programação neurolinguística que aconteciam na mesma época. Decidi ser honesto. Eu não poderia honrar com aquele compromisso. Já estava dedicado ao curso, e precisava terminá-lo, porque o investimento havia sido considerável. Ao mesmo tempo, queria me comprometer com aquela oportunidade. Coloquei as cartas na mesa. Sabia que a melhor maneira de sair daquela situação era sendo sincero. E fui. Expliquei os motivos pelos quais não poderia assumir aquele compromisso naquele momento, mas que estava apto a começar logo após isso. Eles conversaram entre si e deram a solução: “Quando você pode?”, perguntaram em tom amigável. E aquela pergunta me deixou confortável para entender que, mesmo quando houvessem obstáculos, se estivéssemos comprometidos com aquilo que faz nosso coração vibrar, nada nos impediria de que trilhássemos nosso caminho sagrado. E assim organizamos nossas agendas para as minhas primeiras aulas na pós-graduação. Quando saí dali, com aquele desejo realizado, me senti um pouco aquele menino que encontrara o gênio da lâmpada numa praia deserta. Eu era esse menino. Desde que nascera, e desde que realizara cada um dos desejos que faziam com que minha alma se engrandecesse. Meus desejos estavam ao meu alcance. E saber que poderia alcançar aquilo que quisesse me tornou um cara mais responsável. Eu precisava saber exatamente o que desejar. Os desafios começaram logo no dia em que eu iniciaria as minhas atividades como professor na pós-graduação. Foi naquele dia que o Pintado, o menino tímido que não sabia o que falar em sala de aula, surgiu dentro de mim mais uma vez enquanto um colega teve a ideiagenial de que todos se apresentassem e contassem um pouco do que tinham realizado até ali. E ele logo começou com sua invejável formação: mestrado, doutorado, e toda sua bagagem acadêmica de fazer inveja. Meu rosto começou a ficar vermelho. O que eu ia falar? Eu tinha, no máximo, uma pós-graduação. Aquela criança tímida começou a me dominar. E eu sabia que não podia deixar que aquilo acontecesse. Tinha um passado, tinha ativos consideráveis, e tinha qualidades que faziam de mim um cara apto para assumir aquela posição. Pensei rapidamente e me atentei ao fato de que precisava trazer para o que tinha, e não para o que não tinha. Eu precisava encontrar meu momento de vitória, de sucesso. Fatores positivos que me destacariam naquela configuração. E, se eu deixasse o medo me dominar, aquilo não aconteceria. Quando finalmente chegou minha vez, pensei: “Se estou aqui é porque posso e mereço estar aqui”. Pronto. Esse modo de pensar me trouxe confiança. E a partir de então pude compartilhar com segurança minha experiência de dez anos no mercado corporativo. Esse era um grande diferencial. Curioso perceber como nas organizações, o currículo fala alto, mas, no fundo, as atitudes que fazem a diferença. Gosto de pontuar isso nas minhas aulas, quando mostro trechos de um filme chamado O Senhor Estagiário. Robert De Niro faz o papel de um senhor de setenta anos que, depois de ver sua esposa morrer e se aposentar, fica procurando sentido na vida, e não encontra nenhum sentido sem o trabalho. Quando ele percebe que haverá uma seleção para estagiários idosos numa empresa liderada por uma jovem CEO, logo se inscreve para poder ocupar seu tempo de forma produtiva, e quando é selecionado para o programa, dá de cara com uma empresa com tecnologia de ponta na qual mal consegue ligar o Mac de última geração. Sua experiência como vice-presidente de uma empresa que fabricava listas telefônicas parece inútil e sem sentido, mas ele está disposto a colaborar da forma que puder naquela organização e, aos poucos, começa a chamar a atenção da equipe e construir relações, atraindo a confiança de todos, através de alguns valores e atitudes que o tornam essencial na corporação e braço direito da CEO da empresa. Ao longo da minha trajetória em empresas, percebi que as pessoas escolhem as outras por esse fator. E que a confiança é algo sensível. Você pode demorar anos para construir – e alguns segundos para jogar isso no lixo. Vamos construindo isso na vida, de acordo com algumas escolhas que fazemos. Conscientes ou não, elas determinam quem somos. Sempre me pergunto, em minhas parcerias, o que estou construindo de confiança com as pessoas com as quais me relaciono no ambiente de trabalho. Enxergo um líder como uma pessoa confiável e confiante, já que ele deve inspirar confiança em seus liderados. A pergunta mágica é: “Por que confiamos uns nos outros?”. Confiar é uma fé conjunta. Quando estamos com o outro. E quando temos isso com as pessoas com as quais estamos ligados, o propósito e significado da relação vão desencadeando para outros valores. Por isso a confiança torna- se a base das relações. O alicerce. Em sessões de coach e de mentoring, por exemplo, surpreendo-me com confidências das pessoas, e sei que elas apenas confidenciam as coisas porque confiam que aquelas informações ficarão guardadas comigo. E quem confidencia, geralmente são os executivos que estão em posições estratégicas, e não tem com quem dividir a carga toda. Os executivos têm uma vida solitária e normalmente não se sentem à vontade para compartilhar situações que estão passando com as pessoas de seu cotidiano. São líderes que comandam empresas, coordenam departamentos inteiros, mas não têm extremo domínio de suas emoções, nem sentem confiança para dividir o que sentem com quem está por perto. No entanto, todos podem se tornar confiáveis – se se interessarem genuinamente pelas histórias uns dos outros. Vejo no dia a dia pessoas com histórias inspiradoras, e acabo me interessando naturalmente por elas, fazendo com que eu me conecte com estas pessoas. Quando começo a identificar essas histórias, crio um campo para que eu possa ser confiável. O interesse genuíno na história de vida dos outros faz com que entremos num campo onde as trocas são mais autênticas e podemos nos despir de medos, inseguranças e vaidades. Quando temos alguém em quem podemos conversar abertamente sobre qualquer assunto, fica fácil tomar decisões assertivas, simplesmente porque criar conexões pode ser a chave que abre a porta para todas as respostas. Se é confiável ou não, isso é mais do que a competência técnica. Quando você confia você se relaciona diferente com o erro. O nível de tolerância com quem você confia é muito maior. Se você não confia, um erro pode ser um fator de decisão para não fazer mais parte do time. Por isso, a confiança é mais que um valor a ser estabelecido numa relação. Ela é primordial para que as relações possam existir em sua totalidade. Eu posso até desenvolver a confiança, mas quando não confio em alguém, não há nada que me faça ter qualquer tipo de relação com esta pessoa. E isso é o que temos que ficar atentos. O que devo perguntar a mim mesmo quando estou num ambiente de trabalho é: “O que estou fazendo para construir essa relação que permita que consigamos estar juntos como equipe?”. Alguns erros podem abalar essa confiança numa equipe. E não estamos falando de erros de processo, e sim quando faltamos com a verdade. Por que deixamos de confiar uns nos outros? Porque muitos não são transparentes e não dizem exatamente o que está acontecendo. Eu já vivi isso e ouvi histórias grotescas de equipes que não foram absolutamente transparentes umas com as outras, e os fantasmas escondidos nas gavetas acabaram surgindo todos de uma só vez, para assombrar o time. É muito pior quando se omite algo, do que quando declaramos o que pensamos. A verdade liberta e traz um novo signo para a relação. Na política, é comum que a falta de transparência destrone líderes e mostre a pior face de pessoas que ninguém imaginava serem desleais. A verdade estabelecida nas relações é base sustentável para tudo. Se a situação não está legal na empresa, por exemplo, um líder deve saber ser transparente e ético. Ele sabe o que não pode compartilhar dados confidenciais, mas deve dividir com a equipe aquilo que pode beneficiar todo mundo. Quanto mais for transparente e objetivo com isso, mais efetivo tende a ser a possibilidade de estabelecer essa base nesse relacionamento. Porque ninguém gosta de estar num barco sem saber se aquele barco vai afundar. É dever do capitão anunciar se existe algum perigo que comprometa toda a tripulação. E saber que alguém está conduzindo o barco protegendo a integridade de todos e comprometido em fazer o melhor percurso, sendo transparente caso algum desvio na rota possa trazer danos para a navegação, nos faz ter uma viagem confortável. E o líder deve colocar para seus liderados mesmo que o cenário esteja obscuro – e pontuar que ele faz parte daquele cenário, colocando o time para pensar, encontrando uma direção. Todos gostamos de ser cuidados, de saber que existe alguém que tem tudo sob controle. Esta sensação que nos conforta quando temos um líder espiritualizado, conectado com valores essenciais, que não trai nossa confiança. Líder tem que ser estratégico e se perguntar o quanto pode compartilhar de cada situação. Porque relação de trabalho é uma troca. Se fizermos a analogia com um time numa final de campeonato podemos observar que o técnico, quando sabe conduzir o time da melhor maneira possível, vence com a equipe, extraindo o melhor de cada um quando todos confiam em seu potencial. Nossa vida está cheia de momentos que muitas vezes não conseguimos entender para onde irão nos levar, mas eu vejo nosso roteiro como um filme, onde podemos tirar fotos de vários frames isolados. No entanto, não é o frame que determina quem somos. Uma foto descontextualizada não representa o conteúdo de toda uma vida. Ela pode representar o pior
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