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BMDT Diagnóstico diferencial de HIV e doenças oportunistas Vírus da imunodeficiência humana (hiv) - É uma doença caracterizada por uma disfunção grave do sistema imunológico do indivíduo infectado pelo HIV - Sua evolução é marcada por uma destruição de linfócitos TCD4+ Transmissão - Pode ocorrer por via sexual, sanguínea (transfusão e compartilhamento de drogas injetáveis), via vertical (mãe para filho) e ocupacional (através de materiais perfurocortantes) Características - O HIV possui tropismo celular (propensão que um vírus tem em infectar determinado tipo de célula) por: Receptor (glicoproteína CD4 celular) . É o primeiro reconhecimento gp120 do HIV = linfócitos auxiliares, monócitos, macrófagos, células dendríticas, células da microglia, osteócitos Co-receptor celular (receptores de quimiocina) . É o segundo reconhecimento gp41 do HIV = CCR5 (reconhecimento por vírus M trópicos) e CCR4 (reconhecimento por vírus linfotrópicos) História natural da infecção por HIV Fase aguda - A transmissão ocorre (na maioria das vezes) por meio das mucosas genital ou retal (através de relações sexual) - Pode ser assintomática ou sub clínica (marcada por sintomas como febre, calafrios, artralgia, mialgia, mal-estar, letargia, anorexia, náusea, diarreia, faringite, eritema, leucopenia, monocitose relativa, trombocitopenia) - Infecção: 1- Nas primeiras horas o HIV e as células infectadas atravessam a barreira da mucosa 2- O vírus se estabelece no local de entrada e infecta as células apresentadoras de antígeno (APCs) e os linfócitos TCD4+ 3- O vírus se dissemina para os linfonodos 4- Ocorre a replicação viral e o vírus é liberado na corrente sanguínea 5- Ocorre uma lenta e progressiva depleção de linfócitos TCD4+ * Resposta imune celular: controla a replicação viral na infecção aguda BMDT Fase crônica/latente - Pode durar até 10 anos e após esse tempo progride para a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) - O portador é assintomático - É caracterizada pela perda gradativa de LTCD4+ e pela presença de IgG para gp120, gp41 e p24 (capsídeo viral) * Resposta imune humoral: reduz a disseminação do HIV na fase crônica AIDS - É sintomática - Proporciona um aumento de infecções oportunistas (ex: candidíase oral e esofágica, criptococose, toxoplasmose, herpes zoster) - Características: . Número de LTCD4 = menor que 200 cel/mm cúbicos . Alta viremia (aumento da carga viral) . Destruição do tecido linfoide . População viral homogênea Diagnóstico laboratorial - Os métodos laboratoriais usados para a detecção da infecção pelo HIV são os que avaliam a presença de resposta humoral (ou seja, de anticorpos específicos) - O diagnóstico pode ser realizado através de: pesquisa de anticorpos na saliva ou/e pesquisa de antígenos e anticorpos no sangue - O diagnóstico sorológico é realizado através de pelo menos 2 testes, sendo um de triagem e outro confirmatório - A combinação de 2 ou mais testes (formando um fluxograma) tem como objetivo aumentar o valor preditivo positivo (VPP) Marcadores - Inicialmente, a infecção caracteriza-se por altos níveis de antígenos RNA viral (material genético) e antígeno p24 (proteína viral) precedendo a produção de anticorpos - Depois de um tempo, ocorre produção de anticorpos anti-HIV específicos, sendo eles inicialmente IgM e em seguida IgG Janela imunológica/período refratário - É o tempo após a infecção, no qual ela ainda não pode ser evidenciada pelos métodos laboratoriais Testes de rastreamento 1. Elisa - É um teste imunoenzimático e quantitativo (ou seja, quanto maior a quantidade de anticorpos, maior a atividade da enzima detectada) - É um teste padrão de triagem (é capaz de detectar anticorpos contra antígenos do HIV) - É capaz de detectar tanto HIV-1 quanto HIV-2 (pois possui antígenos de ambos) - Permite a detecção de anticorpos (Ac) e antígenos (Ag) específicos no soro/plasma sanguíneo - É feito em placas de microtitulação, que indicam a presença/ausência e quantificam os antígenos ou anticorpos presentes na amostra - Sua sensibilidade é superior a 99,6%, sendo este um teste excelente para rastreamento BMDT - Seu resultado pode ser positivo (altamente reagente), negativo (não reagente) ou indeterminado (parcialmente reagente) - Sua especificidade é de 90-99% (principalmente em população de baixo risco), contudo o resultado deve ser confirmado com um teste específico (ex: Western Blot) - Falsos negativos podem ocorrer na fase aguda do HIV, em imunodepressão muito grave e em múltiplas transfusões - Falsos-positivos ocorrem com mais frequência e podem ocorrer em condições crônicas (ex: doenças reumáticas, alcoolismo, sífilis, neurocisticercose e distúrbios de coagulação) - A vacinação contra influenza e outras infecções agudas (ex: hepatite B, dengue e malária) também estão associadas a falsos positivos para HIV neste teste - Tipos: Elisa de 1ª e 2ª geração . A janela imunológica é de dois meses (em média) . Detectam de forma indireta (detectam a presença de anticorpos IgG contra a proteína do vírus) Elisa de 3ª geração . A janela imunológica é de menos de seis semanas, em torno de 22 dias (em média de 20-30 dias) . Detecta de forma indireta (detecta a presença de anticorpos IgM/IgG contra a proteína do vírus) Elisa de 4ª geração . A janela imunológica é de 15 dias . Detecta de maneira direta (detecta a presença de antígenos do capsídeo - p24) e de maneira indireta (detecta a presença de anticorpos IgM/IgG contra a proteína do vírus) 2. Ensaios de aglutinação de partículas - São os métodos mais simples que detectam a ligação antígeno-anticorpo sem a necessidade de leitura colorimétrica - Apresentam um perfil de sensibilidade e especificidade semelhante ao do ELISA - São de mais fácil execução e necessitam de poucos equipamentos, sendo adequados como testes de rastreamento em áreas com carência de recursos 3. Testes rápidos - É feito presencialmente - Apresentam resultado em 30 minutos - Podem utilizar como amostra a saliva, o sangue ou o soro/plasma - Apresenta sensibilidade menor que 99,5% e especificidade menor que 99% - A janela imunológica é de 1-3 meses - Seu uso é restrito para situações em que o diagnóstico é essencial para a conduta imediata (ex: parturientes, acidente ocupacional, mutirões) - É o tipo de teste de rastreamento mais adequado em regiões com pouca infraestrutura laboratorial ou de difícil acesso 4. Detecção de antígenos virais por métodos sorológicos - Pode detectar o antígeno viral p24 (presente na fase aguda da infecção pelo HIV) através de uma metodologia ELISA adaptada especificamente com preparações de IgG policlonal de pacientes infectados BMDT - Níveis elevados do antígeno viral p24 ocorrem no período inicial da infecção pelo HIV, especialmente precedendo a produção de anticorpos específicos. Com isso, esse tipo de teste de rastreamento pode ser útil como alternativa à detecção do RNA viral 5. Detecção de ácidos nucleicos - Os testes que detectam ácidos nucleicos virais são adjuvantes e não substitutos dos exames sorológicos convencionais Teste confirmatórios 1. Western Blot - É o exame padrão-ouro para confirmação de HIV - Apresenta uma especificidade superior a 99% - Detecta a reatividade sorológica aos diferentes antígenos do HIV e consegue identificar a presença de anticorpos IgG específicos contra as diferentes proteínas virais - Os critérios atuais mais aceitos consideram como resultado positivo a presença de duas das seguintes bandas: p24, gp41 e gp120/160 - Resultados intermediários geralmente significam a positividade da enzima p24 que muitas vezes está associada à doenças auto- imunes (tireoidite de hashimoto, lúpus eritematoso sistêmico, neoplasias) ou pessoas africanas 2. Imunoblot - Possui alta sensibilidade e especificidade - Nesse teste, proteínas recombinantes ou peptídeos sintéticos representativosde regiões antigênicas do HIV-1 e HIV2 são imobilizados por uma tira de nylon. Além das frações virais às tiras contêm regiões de bandas controles (não virais), que são empregadas para estabelecer, por meio de uma comparação, um limiar de reatividade para cada banda viral presente 3. Imunofluorescência - É uma técnica clássica no diagnóstico virológico aplicado ao vírus HIV - Consiste em identificar anticorpos através da sua habilidade de se ligar a antígenos virais expressos em células infectadas - Os anticorpos são visualizados em incubação através de uma substância anticorpo fluorescente - Os parâmetros de sensibilidade e especificidade são muito semelhantes ao WB - Este teste requer equipamento especial e treinamento para ser utilizado 4. PCR qualitativa (reação em cadeia da polimerase) - É a técnica que permite a amplificação da quantidade de cDNA/DNA específico - É feito através da utilização da enzima Taq DNA polimerase, dNTP, sequências iniciadoras específicas (primers) e variações de temperatura controladas - É responsável pela localização da sequência alvo (ex: DNA, RNA) - É um método qualitativo empregado para detectar o HIV-1 antes da soroconversão (no período de janela imunológica de 3-8 semanas após o contagio), fazer a confirmação de um teste de triagem reagente ou um Western Blot indeterminado BMDT e avaliar a presença da infecção em crianças de mães portadoras do vírus HIV Testes de monitoramento 1. PCR-RT ou qPCR - É o PCR realizado em tempo real - É um método quantitativo utilizado para o monitoramento da carga viral - É um teste destinado a monitorar a infecção pelo HIV, orientar o tratamento e prever a evolução futura da doença 2. Citometria de fluxo (imunofluorescência) - É um imunoensaio marcado - É uma técnica que permite a detecção de antígenos em células ou anticorpos do sangue, a partir de uma marcação com anticorpos conjugados a fluorocromo (faz a diferenciação das populações de linfócitos T através da identificação de moléculas expressas na superfície, com uso de anticorpos monoclonais conjugados a fluorocromo) - Pode ser usada para identificação de subpopulações de linfócitos (ex: TCD4 e TCD8) ou em imunofenotipagem (ex: leucemia linfóide ou mielóide) Períodos de detecção Antes da soroconversão (tem HIV mas não tem AIDS) - Detecção de RNA HIV: pode ser feita de 7-10 dias através de qPCR - Detecção de antígeno p24: pode ser feita de 15-17 dias através de ELISA (4ª geração) Após a soroconversão (tem AIDS) • Teste Inicial/Triagem (possui máxima sensibilidade) - Detecção de anticorpos IgM: pode ser feita em até 22 dias através de ELISA (3ª ou 4ª geração) - Detecção de anticorpos IgG: pode ser feita em até 30 dias através de ELISA (3ª ou 4ª geração) • Teste confirmatório (possui máxima especificidade) - Deve ser feito em até 30 dias através de Western Blot ou Imunoblot Monitoramento do HIV A partir da carga viral: - Metodologia = qPCR - Estima o número de cópias do genoma viral circulando no paciente (número de cópias do RNA de HIV/mL) - Parâmetros: Reagente (positivo) = ≥5.000 cópias do RNA de HIV/mL Indeterminado = <5.000 cópias do RNA de HIV/mL Negativo ou não detectável = ≤50 cópias/mL A partir da contagem de linfócitos TCD4+: - Mais que 500 células/mm3 = estágio da infecção pelo HIV com baixo risco de doença - Entre 200 e 500 células/mm3 = estágio caracterizado por surgimento de sinais e sintomas menores - Entre 50 e 200 células/mm3 = estágio com alta probabilidade de surgimento de doenças oportunistas - Menos que 50 células/mm3 = estágio com grave comprometimento de resposta imunitária A partir da contagem de TCD4/TCD8: - Metodologia = citometria de fluxo - Monitora a eficácia do tratamento antirretroviral de pacientes com HIV - Deve ser feita 3x por ano (em média) BMDT Tuberculose - É uma doença granulomatosa crônica e contagiosa - Acomete principalmente os pulmões, mas pode afetar qualquer órgão ou tecido - Tipicamente os centros dos granulomas tuberculosos são caracterizados por necrose de caseificação - Etiologia: Mycobacterium tuberculosis Patogênese 1- Uma vez que a cepa virulenta de micobactéria ganha acesso aos endossomos dos macrófagos, o microorganismo é capaz de inibir as respostas microbicidas normais, prevenindo a fusão dos lisossomos com os vacúolos fagocíticos 2- A imunidade celular representa a principal linha de defesa contra a bactéria, a qual é endocitada por meio de receptores da manose pelos macrógafos alveolares que apresentam às proteínas das micobactérias pelo MHC II ao TCR dos linfócitos TCD4 (helper) 3- Os macrófagos produzem IL-2 que promove a estimulação, a diferenciação em TH1 e a expansão clonal dos linfócitos T helper que também produzem Il-2 (perpetuando, de forma autócrina, os sinais estimulatórios) 4- Os linfócitos T helper ativados produzem interferon gama que aumenta a apresentação de antígenos pelos macrófagos, que gera a ativação de mais macrófagos e estimula a morte intracelular das micobactérias por meio da ação de espécies reativas de oxigênio e também estimula e mantém a formação do granuloma Diagnóstico Exames gerais Exames de sangue - Marcam a presença de marcadores inflamatórios séricos (ex: elevação da proteína C reativa, da ferritina, hipoalbuminemia e gamopatia policlonal no proteinograma) Radiografia torácica - Permite diferenciar o diagnóstico da tuberculose (ex: tuberculose miliar e tuberculose pulmonar com cavitação) Exame bacteriológico Microscopia direta - A amostra é o escarro (devem se colhidas de 2-3 amostras de escarro para a pesquisa de BAAR, sendo pelo menos uma das amostras obtidas pela manhã) - É empregada para diagnóstico e acompanhamento do tratamento de TB - É feita através da técnica de ziehl-neelsen (a qual analisa a presença de BAAR) BMDT Cultura - A amostra é o escarro (devem se colhidas de 2-3 amostras de escarro para a pesquisa de BAAR, sendo pelo menos uma das amostras obtidas pela manhã) - É empregada para diagnóstico de TB - É feita através do meio Löwenstein-Jensen e Middlebrook (o qual analisa a presença de BAAR) Teste tuberculino (TT ou PPD) - É empregado para o diagnóstico de infecção tuberculosa e tuberculose latente - É feito através de um injeção intradérmica com o antígeno tuberculínico (PPD-Rt23) - O resultado sai 72-96 horas após a injeção (é um teste de hipersensibilidade IV/tardia) - Resultados falso-positivos podem ocorrem em indivíduos que tomaram a vacina BCG ou apresentam micobactérias não TB - Resultados falso-negativos podem ocorrem em indivíduos que são imunodeprimidos ou em gestantes - Parâmetros: . 0-4 mm = não reativo (não infectado) . 5-9 mm: reativo fraco (significado que o individuo está infectado ou tomou a vacina BCG recentemente ou é HIV+ e tem TB ativa) . ≥10 mm: reativo forte (significa que o individuo tem TB ativa ou tomou a vacina BCG recentemente) Ensaio de liberação de IFN-gama (IGRA) - Testa se o paciente possui células sensibilizadas contra proteínas de TB - Atualmente esse tipo de teste tem sido recomendado como potenciais substitutos da prova tuberculínica nos países de alta renda devido ao seu elevado custo - Até o momento esta tecnologia não está incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS) - Duas das principais formas de IGRA: . QuantiFERON®-TB Gold in tube = quantifica, por meio de um ensaio imunoenzimático (ELISA), os níveis de interferon-gama liberado pelas células T de memória após estimulação de sangue total com os antígenos específicos do M. tuberculosis . T-SPOT® TB = é um método imunoenzimático simplificado (ELISPOT) que quantifica células T efetoras específicas as quais foram ativadas após exposição aos antígenos do M. tuberculosis Tipo de tuberculose Tuberculose pleural - É diagnosticada através de uma amostra do líquido pleural - O diagnóstico é feito através de microscopia direta e cultura Tuberculosemiliar - É diagnosticada através de uma amostra de biópsia de fígado, medula óssea ou urina BMDT - O diagnóstico é feito através de microscopia direta e cultura Meningite - É diagnosticada através de uma amostra do LCS (líquido cerebroespinhal) - O diagnóstico é feito através de microscopia direta, cultura e qPCR (exame complementar) - Marcadores de meningite: . Contagem de células brancas = linfocitose e excesso de polimorfonucleares (neutrófilos, eosinófilos e basófilos) . Glicose = baixa . Proteína = elevada Pneumonia - É uma doença inflamatória que acomete porções distais do pulmão (vias aéreas terminais, alvéolos e interstício) - É marcada por condensação inflamatória aguda dos alvéolos e/ou infiltração do tecido intersticial pulmonar que resulta da ação de células inflamatórias em resposta à agressão de um determinado agente bacteriano Etiologia - Pneumonia hospitalar = Staphylococcus aureus - Pneumonia da comunidade = Streptococcus pneumoniae Imunidade inata - É uma resposta imediata - Possui como mecanismo de defesa o patógenos específicos (PAMPs e os receptores que os reconhecem - PRRs) - Componentes: macrófagos, lisozimas (lactoferrina, antitripsina), surfactante (lipoproteínas), sistema complemento e fagócitos Imunidade adquirida - É mediada por anticorpos, LTCD4+ e LTCD8+ - É uma resposta tardia e se inicia com a geração de linfócitos que foram estimulados por APCs nos linfonodos adjacentes ou no BALT, o que leva a uma imunidade protetora específica Diagnóstico Exames gerais Hemograma - É útil para avaliar a gravidade e monitoração terapêutica da doença - Avalia a presença de leucopenia Exames de sangue - Marcam a presença de marcadores inflamatórios séricos (ex: proteínas C reativa e procalcitonina - PCT) Radiografia torácica - Permite a visualização da condensação pulmonar Exames bacteriológicos Microscopia direta - A amostra é o escarro (devem se colhidas de 2-3 amostras de escarro, sendo pelo menos uma das amostras obtidas pela manhã) BMDT - É feita através da coloração de gram (a qual analisa a presença de staphylococcus aureus ou streptococcus pneumoniae) Cultura - A amostra é o escarro (devem se colhidas de 2-3 amostras de escarro, sendo pelo menos uma das amostras obtidas pela manhã) - É feita através do meio ágar sangue (o qual analisa a presença de staphylococcus aureus e streptococcus pneumoniae)