Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DEFINIÇÃO Este tema está fundamentado na relação entre o conhecimento científico e o conhecimento escolar a partir da compreensão do conceito de transposição didática e da ação pedagógica como atuação consciente do professor em sua prática cotidiana. PROPÓSITO Os conceitos de transposição didática e de ação pedagógica são fundamentais para compreender como conseguimos trabalhar com conhecimentos historicamente constituídos no contexto acadêmico. A compreensão desses conceitos torna-se, portanto, fundamental para refletir acerca da atuação do docente em sua prática cotidiana. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar o conceito de ação pedagógica MÓDULO 2 Definir o conceito de transposição didática INTRODUÇÃO Quando falamos em aprendizagem, logo pensamos na sala de aula. A figura do aprender ficou marcada por muito tempo em um modelo tradicional de ensino, no qual o professor era o centro e o detentor do conhecimento, tendo como objetivo do processo apenas o ato de instruir. Posteriormente, por meio de estudos e reflexões sobre este tema, a ação, as práticas do professor e a concepção de ensino e de educar tiveram novas perspectivas e abordagens. Teorias mais antigas pensavam no aluno como um papel em branco, prestes a ser preenchido; por isso, sua voz e seus saberes eram invisibilizados, ou seja, descartados pelos desejos e saberes daqueles que tinham o saber científico. O processo de ensino-aprendizagem focava na memorização e uniformidade de currículos e métodos. Assim, os professores se detinham em trabalhar todos os saberes que vinham dos livros e da academia utilizando as mesmas práticas para todas as turmas e todos os alunos. Foto 1: Sala de aula tradicional (Fonte: USP). Foto 2: Cartilha (Fonte: Plataforma do letramento). Com o passar do tempo, as concepções de ensino e do ensinar passaram por mudanças, e a ação pedagógica começou a ser repensada, tendo o aluno como centro do processo de ensino-aprendizagem. AÇÃO PEDAGÓGICA Para falarmos de ação pedagógica, precisamos antes entender alguns pontos: 1. O conceito de Ação Pedagógica entrou em vigor ao longo do século XX. Antes disso, o entendimento da didática era filosófica. Assim, perdia seu sentido diante da necessidade de estruturas mais concretas. Como exemplo, a taxa de analfabetismo do Brasil, que apresentava como média nacional a ordem de 74,6%. 2. A ação pedagógica não é sinônimo de ação docente, mas a efetiva articulação entre as ações do professor e do aluno. Então, a didática atua na reflexão da prática que se dá entre professores e alunos. 3. A educação não acontece apenas pelo docente. Todos os envolvidos no processo de planejamento - sejam eles professores, coordenadores pedagógicos e gestores - devem ter como guia dessa ação os alunos e seus conhecimentos e saberes. A partir desses pontos, passamos a entender que a educação não acontece somente na escola. Embora essa afirmação possa ser considerada óbvia, é necessário que percebamos o quanto ela está relacionada à educação escolar e, consequentemente, com a prática docente. Se por um lado a educação é um processo que não se restringe apenas à escola, mas à sociedade, por outro a escola é um espaço privilegiado de ensino- aprendizagem legitimamente estabelecido. Quando a escola se constitui enquanto espaço social de ensino, aquilo que será ensinado passa a ter mais legitimidade que outros tipos de saber que não passam por esse mesmo lugar. E, se precisamos selecionar, também indicamos que tipo de saberes receberá ou não tal legitimidade. Estamos entrando no espaço da intencionalidade e da relação de poder, portanto, começamos a falar de Ação Pedagógica. SABER X PODER O espaço escolar é um local historicamente marcado pela relação entre saber e poder. Como vimos no vídeo, a Esfinge devorou todos aqueles que não conseguiam decifrar seu enigma. Considerando sua própria atitude, após ter o enigma decifrado por Édipo, chegamos à conclusão de que toda a sua identidade, a condição de sua existência, estava centrada no fato de apenas ela possuir o saber, o que lhe garantia determinado poder. Essa relação também está presente no cotidiano escolar. Michel Foucault levanta em seu livro, Microfísica do poder, Michel Foucault levanta uma discussão sobre saber e poder. Ele explica que precisamos notar que o poder não se encontra nos polos ou nas pontas de onde ele é exercido e para onde ele exerce, ou seja, que a única forma de percebermos relações de poder é pelas relações. Ou seja, as nossas relações sociais são marcadas por disputas, e essa teia de relações de poder toca e modifica constantemente o cotidiano. Como a Ação Didática no ato educacional nos remete à intencionalidade, essa relação é afetada pela teia de poderes, mas também se integra em um conjunto de regras sociais que o professor se vale para manter do seu lado elementos do poder. A noção de que ele estabelece uma vigília constante sobre os alunos, e que seu poder de punição de formas diversas está presente, faz parte do cotidiano estrutural do ensino. Por outro lado, ocorre o enfrentamento constante dos alunos questionando a autoridade desses professores e a importância dos saberes presentes no currículo formal escolar. A desmotivação, o mau desempenho e o confronto atuam como indicadores dessas práticas de questionamento sobre a detenção do poder. O professor se encontra em uma conjuntura complexa e necessita traçar estratégias, construir práticas que permitam que o processo de ensino- aprendizagem seja efetivo, apesar das disputas. As pressões das relações escolares podem tornar a dinâmica da escola um espaço de tensão e enfrentamento. Por isso, o professor deve ultrapassar o modelo tradicional de ensino e propor um processo de ensino-aprendizagem repleto de intencionalidade.Com base nisso, discurse como as relações de saber e poder ocorrem entre professores e alunos e como superá-las. Diante dos enfrentamentos escolares, o aluno tende a tomar uma posição de resistência. Ele questiona o significado do aprendizado, o valor do conhecimento curricular e o motivo dos seus saberes de vida serem depreciados em relação aos saberes escolares. Por isso, as ações que ocorrem na escola devem estar alinhadas às dinâmicas sociais e de pensamento. O sujeito que atua na educação precisa se preparar, desenhar estratégias, perceber objetivos, entender as forças que influem em seu trabalho. Considerando todos esses aspectos, a ação pedagógica pode ser pensada em três passos fundamentais: PERCEBER O PROFESSOR COMO UM AGENTE EDUCADOR, DEFINIR O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM e IDENTIFICAR AS NECESSIDADES DO EDUCANDO. PERCEBER O PROFESSOR COMO UM AGENTE EDUCADOR É fundamental que aquele que ensina se reconheça como agente educador, devendo entender que há a necessidade de uma série de procedimentos, escolhas, preparo e posturas. Esse elemento fundamental da ação docente é, muitas vezes, mal compreendido, pois o docente é apresentado como detentor absoluto do conhecimento e, portanto, não permitiria interferência ou contribuição no ato de ensinar. Vamos entender na prática: Em meu primeiro emprego como professora, meus alunos, além de não prestarem atenção na aula, debochavam e até pareciam ter raiva de mim. Tentando mudar aquele cenário, levei um encarte de jornal de um mercado do bairro e propus que eles simulassem uma ida às compras. Ao destacar a importância de se fazer contas corretamente para não faltar dinheiro, demonstrei a importância da matemática. Percebi que, para alcançar os meus objetivos com a turma, seria necessário assumir meu papel de agente educador, planejando a aula antecipadamente, analisando os interesses dos meus alunos e aproximando minha realidade da deles. DEFINIR O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM Para que a proposta educacional faça sentido etenha utilidade, devemos adequar as escolhas metodológicas à contextualização da realidade do aluno. Para isso, precisamos introduzir o aluno no processo educativo e permitir que ele traga elementos conhecidos e corriqueiros para a sala de aula, alcançando, a partir desses elementos, novos saberes e sentidos para conhecimentos anteriormente adquiridos. Vamos entender na prática: Oriundo de uma ótima faculdade e com muitas especializações, entrei na escola desejando revolucionar o ensino; assim, preparei uma aula que me agradaria se eu fosse aluno. Para minha surpresa, as crianças mostravam desinteresse e questionavam a necessidade de aprender aquilo. Ao observar o trabalho de uma colega extremamente tradicional, vi uma turma participativa e interessada. Foi uma grande decepção, pois eu estava preparado, conhecendo as teorias mais modernas. Quando lhe pedi o seu segredo, ela me questionou se eu conhecia os interesses e a realidade dos alunos. Entendi que eu deveria levar em consideração o cotidiano deles, mostrando que me importava com as suas opiniões e buscando estratégias adequadas à realidade deles – e não à minha. IDENTIFICAR AS NECESSIDADES DO EDUCANDO Como terceiro passo, é preciso planejar. Talvez esse pareça ser um elemento menos importante que os anteriores pelo caráter meramente técnico que possa aparentar. Se por um lado o planejamento e a escolha do processo de ensino-aprendizagem exigem determinados conhecimentos didáticos, por outro, o professor não pode acreditar que essa opção técnica seja totalmente independente das percepções anteriores. Se o professor não tiver plena consciência das necessidades de seu educando, poderá estipular que determinado encadeamento de conteúdo será apreendido pela turma toda, ao mesmo tempo, sem se preocupar, assim, com as dificuldades (ou habilidades) específicas de grupos ou alunos. Por isso, cabe ao docente identificar quais saberes são fundamentais e farão diferença na vida e no cotidiano deles, escolhendo estratégias de ensino que tenham significado para as suas vidas. Vamos entender na prática: Fui convidado para ministrar um treinamento em uma empresa sobre um assunto que eu dominava bastante. No primeiro dia, falei por horas e horas. Tinha a certeza de ter me saído muito bem. Pedi para a turma fazer uma prova e me assustei com o resultado: ninguém tinha entendido nada. Ao refletir sobre tal processo, decidi mudar minha abordagem. No dia seguinte, perguntei se sabiam por que estavam ali e o que gostariam de aprender. Eles relataram seus medos e expectativas quanto à formação. Em seguida, eu disse como poderia ajudá-los – e todo o processo mudou. Tentando despertar sua curiosidade, trouxe para a realidade deles o conhecimento abordado. Ali eu aprendi uma lição: minha ação como docente não deve estar centrada no que eu preciso passar, mas na relação entre o meu conhecimento e o que o aluno precisa aprender. Acredito que você já percebeu que não é tão fácil ser professor. Esse profissional deve pensar no cotidiano, no dia após dia da função e, ao mesmo tempo, não perder o ímpeto e o ânimo de criar e recriar. Para que isso seja possível, é importante que o professor nunca se esqueça que é um agente educador, que deve sempre levar a sério a sua responsabilidade em conduzir e dinamizar o processo de ensino-aprendizagem, respeitando o conhecimento do aluno como forma de valorizar e redimensionar essa troca. TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA Você já teve um professor memorável? Aquele que sempre tinha novas abordagens para sua matéria, trazia materiais diferentes para exemplificar o aprendizado ou até fazia músicas com o conteúdo das disciplinas? Apesar da passagem dos anos, você ainda se lembra daquela aula e dos ensinamentos aprendidos naquele dia. Quando transformamos os conceitos científicos necessários para o aprendizado escolar e trabalhamos de forma que eles passem a ter significado para o aluno, chamamos esse processo de transposição didática. Através dela, é possível realizarmos uma identificação dos conteúdos e conceitos científicos que necessitam ser trabalhados para que façam sentido na escola. Mas, antes de falarmos da transposição didática, é importante que conheçamos a diferença entre os tipos de conhecimento que transitam pelo espaço escolar. Agora que você entendeu a diferença entre o saber científico e o saber escolar, vamos pensar na prática. Imagine a seguinte situação: É o seu primeiro dia de aula como professor. Você já é um profissional preparado, com grande bagagem histórica de leitura e de experiências, e recebe como missão levar uma parte desse conhecimento a pessoas com vivências e maturidades diferentes. Qual será a melhor abordagem para iniciar a sua aula? a) Apesar de o meu conhecimento ser muito importante, os alunos não terão capacidade de aprender. Por isso, devo reduzir o conteúdo ao máximo e deixá-lo bem fácil, a fim de que eles possam entendê-lo e aprendam apenas o básico. b) Eu sei que eles possuem experiência de vida, mas sou eu que tenho o conhecimento que eles realmente precisam adquirir. Como meu conhecimento é o mais importante, todos os alunos devem concentrar o máximo de atenção apenas no conteúdo e seguir o que eu determinar, pois o que falarei será vital para eles. NENHUMA DAS ALTERNATIVAS ESTÁ CORRETA. Quando nos referimos aos saberes escolares e científicos, parece que ambos são isolados, porém são indissociáveis. Não podemos pensar no saber científico sem levar em consideração o cotidiano e as experiências que surgem dentro e fora da sala de aula. Ao mesmo tempo, nossos alunos precisam ter acesso ao conhecimento acadêmico e ao resultado de suas observações e experimentações, o que fomenta sempre o interesse e desperta a curiosidade. Para que haja equilíbrio entre transmissão e aquisição do conhecimento, o professor deve apresentar o conteúdo não só com qualidade conceitual e científica, mas coerente com a realidade dos alunos, de modo que faça sentido para eles e que desperte o desejo de aprender. Para isso, é importante que entendamos que o aluno está no centro do processo e cabe a você mediar esses conhecimentos de forma que ele se envolva com o tema e tenha interesse em querer saber cada vez mais, sendo: I - INFORMAÇÃO A apresentação do conteúdo deve possuir informações de qualidade, bem organizadas e estruturadas de forma que o aluno possa ter acesso ao conhecimento facilmente em qualquer lugar e de forma compreensiva. E - EMOÇÃO O aluno precisa ter suas emoções despertadas para que a informação possa lhe fazer sentido: ele não deve ficar apático diante daquilo que lhe é apresentado. C - CONHECIMENTO A combinação da informação do conteúdo com o impacto das emoções do aluno gera o conhecimento, e a ferramenta que auxilia no equilíbrio dessa combinação é a transposição didática. A junção da informação com a emoção para formar o conhecimento é chamada de transposição didática. Então, agora que você aprendeu esses conceitos, vamos repensar o caso da sala de aula visto anteriormente? Com a transposição didática compreendemos a importância de o professor identificar que o seu trabalho é produzir um novo caminho para o desenvolvimento do aluno, proporcionando novas formas de aprender e levando em consideração o cotidiano escolar sem impedir o acesso dos alunos a essas informações. Vamos, a seguir, entender mais profundamente esse conceito. SURGIMENTO DA TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA O conceito de transposição didática surgiu em 1975 com Michel Verret e foi aprofundado por Yves Chevallard em 1985. Chevallard desenvolveu a ideia de transposição em que o saber científico se modifica quando é passado para o campo escolar, ou seja: não basta apenas transmitir as informações aos alunos, desconsiderando o contexto necessário para sua compreensão. Em nossasociedade, os conhecimentos geralmente estão pautados em duas grandes áreas: saber científico e saber escolar. Em outras palavras, a transposição didática trabalha com a adaptação do conhecimento científico para transmiti-lo ao aluno com base em estratégias pedagógicas de ensino. Como você pode ver no vídeo, o processo de passagem do saber científico para o saber escolar ocorre de forma mais eficaz quando o conteúdo apresentado faz sentido e se adapta à realidade do aluno. A transposição didática não auxiliará apenas a pensar nos conhecimentos que os alunos podem trazer a partir das suas experiências. Mais que isso, ela permite identificar como os conhecimentos formarão esse sujeito para o futuro. Talvez você esteja pensando: Qual o significado do conteúdo para a realidade do aprendiz? Qual é o objetivo desse conhecimento para o futuro do aluno? E são justamente essas duas questões que vão sustentar e contextualizar a concepção da transposição didática. CONTEXTUALIZANDO A TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA O processo de contextualização da transposição didática permite que tornemos o conhecimento científico ou de referências mais próximo à realidade e às experiências dos alunos. Assim, o conhecimento se torna mais concreto e menos abstrato. Esse processo permite a diversificação da metodologia, possibilitando o aprimoramento da aula com conhecimentos vinculados aos cotidianos dos alunos. Sob essa perspectiva, elaborar o conhecimento com a transposição didática faz com que possamos construir um saber com significado e sentido, refletindo sempre sobre as questões apresentadas dentro da escola. O processo de troca de conhecimentos é interligado pela transposição em três momentos: Saber Sábio É utilizado pelos autores, livros didáticos e pela ciência. Saber Ensinar É usado para atingir os objetivos em sala, ou seja, o planejamento escolar. Saber Ensinado É produzido efetivamente em sala de aula com os alunos. 1. O saber sábio vem do meio acadêmico para a escola através dos livros e do conhecimento do professor. 2. Através do planejamento, o saber sábio se transforma em saber ensinar, pensando e refletindo sobre as ações que ocorrerão dentro da sala de aula. 3. No saber ensinado, a ciência e o planejamento são colocados em prática e o conhecimento é construído conjuntamente com o aluno, aquele para quem é pensado todo esse processo. UM ESTUDIOSO DA FÍSICA APRESENTA UM CONHECIMENTO “DURO”, ISTO É, COM LINGUAGEM E CÓDIGO ESPECÍFICOS DA FÍSICA (SABER SÁBIO). QUANDO PASSAMOS ESSE CONHECIMENTO PARA A ESCOLA, ELE DEVE RECEBER UMA OUTRA LINGUAGEM E UMA NOVA FORMA DE SER ENSINADO. O SABER ENSINAR É O MOMENTO EM QUE O PROFESSOR ORGANIZA OS CONTEÚDOS E CONHECIMENTOS PARA DIALOGAR COM OS ALUNOS E REFLETIR SOBRE A MELHOR FORMA DE ABORDAGEM E ENTENDIMENTO. O SABER ENSINADO BUSCA PRODUZIR UMA NOVA LINGUAGEM PARA O EDUCANDO, OU SEJA, O DOCENTE DESENVOLVE SUA AULA E A APLICA DE UMA MANEIRA QUE O ALUNO DESENVOLVA O PROCESSO DE ENSINO- APRENDIZAGEM. A intenção não é simplificar ou exemplificar os conteúdos, mas demonstrar como podemos transformá-los para que o conhecimento seja mais acessível para quem está aprendendo. É preciso trazer o conhecimento para uma linguagem cotidiana, que afete o aluno, fazendo com que ele possa estabelecer o conhecimento. O conceito de transposição didática é fundamental para se pensar sobre a produção do conhecimento escolar. Sendo assim, quando nos debruçamos sobre o conceito, podemos perceber que alguns professores estão acostumados a pegar o conhecimento de forma bruta e transmiti-lo da mesma forma ao aluno e, por isso, algumas matérias podem ser consideradas incompreensíveis e até desestimulantes. Quando pegamos o conhecimento científico, planejamos levando em consideração a realidade e as experiências empíricas e escolares dos alunos; respeitando os seus saberes e seu cotidiano, o processo de ensino-aprendizado se torna prazeroso, relevante e dotado de sentido. Mas não se engane, adaptar o conhecimento acadêmico para fins didáticos não é um processo simples. Dois movimentos são centrais para essa transposição didática: Vamos entender melhor esses conceitos por meio de um exemplo: Juliana vai dar a sua primeira aula. Empolgada, ao ver que a primeiro tema da aula era sobre Botânica, caprichou, levou os manuais clássicos que tinha, pois imaginou que os alunos iam querer saber sobre aquilo. Além disso, preparou uma apresentação virtual, na qual os alunos veriam todos os nomes e formas do bioma da Mata Atlântica. Seria a melhor aula da sua vida. Chegando à sala de aula, a turma estava uma confusão. A professora Juliana tentou acalmar a turma, mas, quando começou a aula, três alunos dormiam, doze brincavam e quatro, desesperados, tentando prestar atenção, faziam perguntas que iam irritando a professora iniciante. Eles também foram perdendo o interesse, mas o professor não conseguia entender, afinal, tinha feito tudo tão certinho! A professora Juliana teve dificuldades com a sua turma por realizar apenas a transposição externa, ou seja, pensou apenas nos materiais que permitam que o aluno aprenda. O problema ocorre quando a transposição externa é confrontada com o cotidiano e, por isso, é fundamental que estejamos atentos aos movimentos que ocorrem na transposição interna, ou seja, na instituição escolar, mais especificamente na sala de aula. Essas questões contextuais postas por Chevallard como esfera marcada pelas lutas, disputas e negociações de grupos políticos, sociais e didáticos na escolha, seleção e transposição dos saberes, são denominados de noosfera. Ela correspondente à dimensão social que conduz, permite e indica como a transposição didática ocorre. Por isso, os professores devem estar atentos aos caminhos tomados na construção da noosfera, às escolhas curriculares feitas e como entram neste jogo. Como Chevallard nos aponta: Quando consideramos as mudanças didáticas com mais cuidado, percebemos que muitas vezes elas ocorrem apenas em nível superficial, alterando pouco as estruturas mais profundas do fazer docente. Por isso, o ato de refletir nossas práticas, dialogando com a realidade, o cotidiano do aluno, é fundamental no compartilhamento e na troca do conhecimento. Como podemos ver na situação do professor, quando utilizamos o saber da transposição externa com a realidade da transposição interna, os alunos demonstram não só o aprendizado pontual, mas toda a bagagem de conhecimento que os formam. TRANSPOSIÇÃO DIGITAL A transposição didática pode ocorrer não só no ambiente presencial, mas também à distância. Quando falamos na adequação do conhecimento em meios digitais, temos a transposição didática digital. Esse tipo de abordagem busca dialogar sempre com quem está do outro lado da tela, seja através de computadores, tablets ou até celulares, valendo-se de recursos e técnicas que estimulam o aluno a interagir com diversos objetos de aprendizagem. Além disso, na transposição digital, devemos ter atenção em relação à linguagem utilizada para que ela seja acessível a diferentes públicos. Este tipo de linguagem é chamada de hipermidiática. LINGUAGEM HIPERMIDIÁTICA A linguagem hipermidiática na transposição digital exige a integração de diferentes linguagens (verbais e não verbais) em busca de um sentido ou objetivo. No nosso caso, fazer com que o aluno adquira conhecimento de forma autônoma. Essa integração entre várias linguagens tem como objetivo promover o interesse pelo assunto e oportunizar o melhor entendimento do conteúdo. Assim, a linguagem hipermidiática realiza a combinação de diversos recursos e objetos de aprendizagem em prol do aprendizado. Vamos entender isso na prática: Pense que você é um professor tutor de um curso EAD. O que vocêvai escrever será lido por um aluno que deseja aprender. Seu conteúdo é extenso e com termos específicos do conteúdo. Você precisa de uma ponte para transpor esse conhecimento, que em um primeiro momento é inacessível a ele. Mas como fazer isso? Este é o nosso principal desafio como professor: Transformar o conteúdo considerado puramente acadêmico de modo que ele se torne acessível e agradável ao entendimento do aluno. Quando um professor consegue fazer a transposição didática de um conteúdo é porque ele trouxe aquele assunto complexo para um nível de fácil compreensão, ou seja, para o inteligível, de modo a democratizar o conhecimento. E é através da linguagem hipermidiática que será possível realizar uma transposição didática digital eficaz, recursos esses que ilustrarão ou simplificarão os conceitos sem reduzi-los. CONSIDERAÇÕES FINAIS A ação pedagógica não deve ser confundida com a prática docente. Embora ambas estejam intimamente ligadas ao cotidiano do professor, a prática docente está conectada diretamente a uma preocupação metodológica (portanto, didática), já a ação pedagógica parte de pressupostos políticos de que toda ação é atravessada por escolhas que podem ou não ser explícitas e conscientes. E é nesse âmbito que entra a transposição didática, como ação de transformar o conhecimento científico em um conteúdo adequado às necessidades e à potencialidade dos alunos. Essa transposição didática pode ocorrer não só no ambiente presencial, mas também à distância, através de elementos hipermidiáticos que minimizam a distância entre quem ensina e quem aprende. PODCAST Agora, com a palavra os professores Luiz Rafael Silva e Rodrigo Rainha, no podcast. CONQUISTAS ADQUIRIDAS Reunimos as suas conquistas. Olha o que conseguiu fazer: • Identificou o conceito de ação pedagógica. • Definiu o conceito de transposição didática. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARTOLOMÉ MARTÍNEZ, B. La Educación en la Hispania antigua y medieval. Madrid: Morata, 1992. CHEVALLARD, Y. La Transposition Didactique: Du Savoir Savant au Savoir Ensigné. Grenoble: La pensée Sauvage, 1991. CHEVALLARD, Y. Sobre a teoria da transposição didática: algumas considerações introdutórias. Revista de Educação, Ciências e Matemática, v.3, n.2, mai-ago 2013, p. 1 – 14. MOURA, E.; ZUCCHETTI, D. Educação além da escola: acolhida a outros saberes. Cadernos de Pesquisa, v.40, n.140, p. 629-648, maio/ago. 2010. POLIDORO, L.; STIGAR, R. A Transposição Didática: a passagem do saber científico para o saber escolar. Ciberteologia. Ano VI, n. 27, 2010, p. 1 – 7. ZASLAVSKY, A. Ação pedagógica, ação comunicativa e didática. Conjectura: Filos. Educ., v. 22, n. 1, p. 69-81, Caxias do Sul, jan./abr. 2017. p. 69-81. EXPLORE + • Transposição didática sobre o ensino de produção textual na BNCC; • Symposium - Yves Chevallard; • Rubem Alves - A Escola Ideal; • A Transposição Didática: a passagem do saber científico para o saber escolar.
Compartilhar