Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1) A cidade e as serras – Eça de Queiroz (168 páginas) Romance da última fase de Eça de Queirós, publicado em 1901, um ano após a morte do escritor. Nele são narradas as diferenças entre a vida rural e a urbana por meio da figura de Jacinto, fidalgo português que mora em Paris em meio a um aparato técnico e moderno que, segundo ele, traduz o homem civilizado, mas que não lhe dá satisfação e felicidade, as quais, para espanto de Jacinto, serão encontradas durante uma viagem à província natal, em meio à vida simples e campesina das serras portuguesas. 2) A falência (domínio público) - Júlia Lopes de Almeida (192 páginas) Bem recebido pela crítica em seu lançamento (em 1901), A Falência destaca-se da produção de obras dessa época. Em um cenário de romances amorosos, Júlia Lopes de Almeida narra com crueza o enredo de uma mulher adúltera em busca de realização, entremeado à derrocada de um exportador de café. Camila, de origem pobre e casada com Francisco Theodoro em virtude da comodidade que a riqueza do marido lhe traz, descobre a paixão tardiamente nos braços do doutor Gervásio. Francisco de nada desconfia, mas terá seu ideal de família perfeita abalado após um mau negócio que o leva à falência. A Falência, segundo biografia ainda não publicada pela filha da autora, levou mais de quinze anos para ser produzido, tornando-se a obra-prima de Júlia Lopes de Almeida, uma das maiores escritoras da literatura brasileira. 3) A hora da Estrela – Clarice Linspector (224 páginas) Concebida para celebrar o quadragésimo aniversário de sua publicação, esta edição especial de A hora da estrela reproduz pela primeira vez diversos manuscritos originais de Clarice Lispector. Traz, ainda, uma série de textos de referência, de estudiosos e ensaístas brasileiros e estrangeiros. Paloma Vidal se debruçou sobre os manuscritos propriamente ditos, ao passo que Hélène Cixous, Colm Tóibín, Florencia Garramuño, Nádia Battella Gotlib, Clarisse Fukelman e Eduardo Portella focalizaram todos os diferentes aspectos deste que foi o último livro escrito por Clarice. Uma obra de perfil único e original, conciliando habilmente a inovação estilística com os problemas sociais vividos por aqueles que, como a desventurada Macabéa, são obrigados a abandonar o Nordeste natal em busca de melhores condições de vida em outras paragens, nem sempre hospitaleiras. Clarice Lispector dispensa apresentação, já foi consagrada, há muito, como uma das melhores escritoras de língua portuguesa de todos os tempos. Seu talento invulgar se manifestou nos mais diversos campos literários, do romance ao conto, da crônica ao livro infantil, do ensaio à tradução, sempre com um toque distintivo e único, inimitável e difícil de classificar. Clarice é tão única que pode ser descrita apenas como Clarice, assim como Machado de Assis é apenas Machado, prescindindo de sobrenome, apêndices acadêmicos e filiação a escolas e grupos literários. Clarice é, claro, um enigma. Um mistério que amamos decifrar, mesmo sabendo que toda conclusão é apenas provisória e forçosamente parcial, diante de seu talento poliédrico e original. 4) A hora e a vez de Augusto Matraga – Guimarães Rosa (56 páginas) Novela primorosa, extraída do livro Sagarana, que expressa a força e o espírito das terras remotas de Minas Gerais e conta a história da queda de “Nhô” Augusto, um homem poderoso em busca de sua redenção a qualquer custo: “Para o céu vou, nem que seja a porrete.” 5) A legião estrangeira - Clarice Lispector (112 páginas) Os 13 contos de A legião estrangeira abordam o cotidiano familiar, a perversidade infantil e a solidão. Como apontou o escritor Affonso Romano de Sant’Anna na introdução de uma antiga edição do livro, para Clarice Lispector importa mais a geografia interior. "Em vez de tipos épicos e dramáticos, temos figuras situadas numa aura de mistério, vivendo relações profundas dentro do mais ordinário cotidiano", escreveu. "Mais do que as aventuras, interessa-se por descrever a solidão dos homens diante dos animais e objetos." Entre os contos destaca-se "Viagem a Petrópolis", escrito quando Clarice tinha apenas 14 anos. Neste, a precoce escritora narra a absurda solidão de uma velhinha que, sem lugar para morar, é empurrada de uma casa para outra. E o leitor perceberá em "Os desastres de Sofia" uma história de transparente sensibilidade, em que a autora aborda a perversidade infantil por meio do relacionamento de uma aluna com seu professor. A vulnerabilidade dos animais diante dos homens, e vice-versa, está presente em "A quinta história", "Macacos" e ainda em "A legião estrangeira". Como também apontou Affonso Romano de Sant’Anna, a tensão nos contos de Clarice surge da oposição Eu x Outro, que pode ser um animal, uma criança ou uma coisa. "Dessa tensão é que surge a epifania, a revelação de uma certa verdade." A legião estrangeira, como os demais títulos de Clarice Lispector relançados pela Rocco, recebeu novo tratamento gráfico e passou por rigorosa revisão de texto, feita pela especialista em crítica textual Marlene Gomes Mendes, baseada em sua primeira edição. 6) A moratória - Jorge Andrade (188 páginas) O texto teatral A Moratória, de Jorge Andrade, aborda a ruína de uma família proprietária de cafezais no interior do estado de São Paulo, em decorrência da crise financeira e da produção cafeeira, por volta dos anos de trânsito da década de 1920 para a 1930. Escrita em 1954, encenada pela primeira vez no ano seguinte, a peça emerge como um dos “fantasmas” da infância do autor. A obra constitui um ato de reflexão sobre a realidade paulista em seus aspectos sociais, morais e psicológicos. O tema da decadência dos latifúndios cafeeiros representa o fim de toda uma classe patriarcal e semifeudal de aristocratas sucumbidos à crise econômica de 1929 e a nova ordem social imposta por Vargas em 1930. Ao mesmo tempo, focaliza em seu interior o conflito de gerações, o conflito de valores tradicionais em uma sociedade que vive a rápida mudança provocada pelo êxodo rural, pelo dilatamento das cidades e pelas mudanças das elites. 7) A Relíquia - Eça de Queirós (224) A relíquia é um romance realista, publicado pela primeira vez em 1887. Nesta obra, Eça de Queirós coloca em questão a religiosidade de um país profundamente católico, como lhe parecia Portugal. O bacharel Teodorico Raposo, para cair nas graças de sua rica tia Maria do Patrocínio, passa a fingir uma grande devoção religiosa que encobre sua vida libertina. Dessa forma, pretende satisfazer às carolices da tia e obter sua herança. Uma inesperada viagem à terra santa de Jerusalém, entretanto, trará uma reviravolta aos planos de Teodorico. Autor de Os maias, O primo Basílio e O crime do padre Amaro, entre outros clássicos da literatura portuguesa, Eça compôs em A relíquia uma obra polêmica, de forte crítica social, e ainda assim recheada de humor. 8) A Rosa do Povo - Carlos Drummond de Andrade (200 páginas) Publicado em 1945, A rosa do povo é o livro politicamente mais explícito de Drummond. É um poderoso olhar sobre a Segunda Guerra, a cisão ideológica, a vida nas cidades, o amor e a morte. Tudo isso é observado a partir daquela que então era a capital do país. O Rio de Janeiro, nossa primeira grande cidade cosmopolita, ocupa uma posição privilegiada nos poemas, a ponto de muitos críticos compararem a visão de cidade expressa pelo autor mineiro àquela de Charles Baudelaire (1821-1867), o poeta francês que foi o primeiro grande cantor da experiência urbana. Pois é escrevendo a partir desse Rio de Janeiro que se urbanizava freneticamente, dando as costas ao passado, que Drummond fala da guerra e de seus desdobramentos no continente europeu e presta seu tributo aos milhões de civis que pereceram no conflito, além de refletir sobre a própria possibilidade de expressar todos esses acontecimentos em verso. Formalmente falando, A rosa do povo é um livro que pertence ao alto modernismo, em que Drummond experimenta o verso espraiadoà maneira de Walt Whitman, ironiza o passado literário brasileiro e exercita as mais diversas formas e dicções nos cinquenta e cinco poemas reunidos no volume. Com sua beleza e profundidade, A rosa do povo traz um Drummond de vasto escopo temático. A personalidade do poeta, a família, o cotidiano e a História comparecem com inaudita força neste livro. Trata-se de um testemunho de suas ideias e afetos num momento da vida em que experimentava a maturidade e já começava a olhar para o passado enquanto captava, como poucos autores, os sinais confusos de seu próprio tempo. 9) Álbum de família – Nelson Rodrigues (160 páginas) Terceira peça de Nelson Rodrigues, "Álbum de família" foi a que passou mais tempo embargada pela censura. A obra, baseada numa tragédia familiar, com elementos polêmicos como traição, ciúme, morte e, sobretudo, incesto, foi escrita em 1945, censurada em 1946, e só estreou em 1967. Nela, Nelson Rodrigues desmistifica a imagem aparentemente normal da instituição familiar, o que lhe rendeu muitas críticas e a posição de autor maldito no cenário dramático nacional da época. Esta nova edição conta posfácio do crítico literário André Seffrin e orelha assinada pelo ator Eduardo Moreira, que interpretou o personagem Guilherme na famosa montagem que o Grupo Galpão levou aos palcos na década de 1990. 10) Alguma poesia – Carlos Drummond de Andrade (120 páginas) Publicado em 1930, numa pequena tiragem não comercial de apenas quinhentos exemplares - sob os auspícios de uma certa edição Pindorama, pura ficção jocosa -, Alguma poesia assinala a estreia de um autor que, então com 28 anos, iria revolucionar a poesia de língua portuguesa no século XX. Não é para menos. Com peças como “Poema de sete faces”, “Infância”, “No meio do caminho”, “O sobrevivente”, entre tantos outros textos decisivos, o livro demonstra já a enorme maturidade do jovem Drummond, ainda estabelecido em Belo Horizonte. Dois anos antes, Drummond havia causado escândalo entre as hostes literárias ao publicar, na Revista de Antropofagia, o poema “No meio do caminho”. Era o início da carreira de escândalo do poema, reconstruída na década de 1960 pelo próprio autor em um livro que reuniria os ataques, as paródias e as contendas relacionadas ao poema. Mas para além da polêmica, Alguma poesia já apresenta aquilo de melhor que Carlos Drummond de Andrade iria oferecer ao longo de quase 60 anos de uma das carreiras mais fecundas da literatura moderna: o lirismo, o humor, o tom meditativo e irônico, a observação desencantada dos fatos, o sensualismo, a reflexão aguda sobre o amor e a morte. Contando com um posfácio do poeta e crítico Eucanaã Ferraz, um dos grandes intérpretes da obra drummondiana nos tempos atuais, esta edição de Alguma poesia, com texto estabelecido e caderno de imagens, é uma nova - e extraordinária - oportunidade para o leitor brasileiro entrar em contato com um de seus grandes autores. E é uma promessa de reencontro para todos aqueles que desejam ler alguns dos mais emblemáticos poetas da nossa literatura. 11) Amor de perdição – Camilo Castelo Branco (240 páginas) "Daqui o êxito do Amor de perdição: a grandeza trágica da história, a maneira comovida de a contar, a identificação sentimental de Camilo com o seu herói, a convergência de todos os efeitos para os lances culminantes da ação, o valor cênico de alguns passos, a força realista de outros, o portuguesismo dos sentimentos, o lirismo das cartas amorosas e dos comentários marginais do autor, o dinamismo e a pureza da linguagem – tudo isso torna o Amor de perdição uma obra-prima do gênero, com alguma coisa do sublime de Romeu e Julieta e o trágico de Manon Lescaut; talvez a novela de paixão amorosa mais intensa e mais profunda que se tenha escrito na Península (...)." 12) Antologia Poética – Vinicius de Moraes (328 páginas) Antes de se tornar um dos maiores compositores da música popular brasileira, Vinicius já se consagrara como poeta da mais alta qualidade literária - seus versos marcam mais de cinquenta anos da literatura brasileira. A presente antologia é mostra da habilidade poética de Vinicius de Moraes, que soube, entre outras coisas, atualizar o erudito e conceder tratamento culto a temas populares. Com isso, tornou-se um mestre no manejo inteligente e inventivo dos metros e das formas do poema, conquistando a simpatia dos leitores e muitos elogios dos críticos. SONETO DO AMOR TOTAL Amo-te tanto, meu amor... não cante O humano coração com mais verdade... Amo-te como amigo e como amante Numa sempre diversa realidade. Amo- te afim, de um calmo amor prestante, E te amo além, presente na saudade Amo-te, enfim, com grande liberdade Dentro da eternidade e a cada instante. Amo-te como um bicho, simplesmente De um amor sem mistério e sem virtude Com um desejo maciço e permanente. E de te amar assim, muito e amiúde É que um dia em teu corpo de repente Hei de morrer de amar mais do que pude. 13) A Moreninha – Joaquim Manuel de Macedo (216 páginas) A Moreninha é considerado o marco inicial do romance brasileiro; até então, a literatura de qualidade era basicamente poesia. Publicado em 1844, o romance fez grande sucesso, dando notoriedade a Joaquim Manuel de Macedo, que também foi poeta, dramaturgo e historiógrafo. Ele foi um dos iniciadores do Romantismo na prosa de ficção. Empenhados no mesmo projeto nacionalista da poesia romântica, os romances desse período tinham como temas histórias de amor, a vida na Corte, os ambientes típicos regionais, o escravo, o índio, a natureza tropical. No livro de Macedo, o estudante Augusto, conhecido por sua inconstância amorosa, acompanha o amigo Filipe à casa de sua avó para comemorar um feriado. Lá, conhece Carolina, irmã de Filipe a quem, carinhosamente, chamam de Moreninha. A partir desse encontro e devido à personalidade esfuziante de Carolina, Augusto começa a mudar. 14) Angústia - Graciliano Ramos (368 páginas) Angústia tem como protagonista Luís Silva, funcionário público de Maceió que leva uma vida medíocre e sem grandes emoções até o dia em que se apaixona por Marina. De início, a jovem demonstra certo interesse no relacionamento e no conforto material que o casamento poderia lhe proporcionar, mas logo acaba trocando o noivo por Julião Tavares, mais rico e poderoso. Tomado por ciúmes e rancor, Silva fica perturbado com os acontecimentos que se desenrolam e passa a acompanhar a vida de Marina enquanto sonha em matar Julião. Escrito em primeira pessoa, o romance tem estrutura temporal não linear, seguindo o fluxo de consciência do narrador- personagem e aproximando o leitor dos sentimentos despertados pelos conflitos vividos por Luís Silva. 15) Ânsia eterna - Júlia Lopes de Almeida (148 páginas) Publicado em 1903 e diferente de todas as obras anteriores da autora, neste livro o leitor vai encontrar algumas das histórias mais insólitas e fantásticas de Júlia Lopes de Almeida. Esta edição completa apresenta todos os contos que irão surpreender o leitor tradicional da autora, com histórias tristes, inusitadas, chocantes e diferentes do estilo tradicional da autora, marcando seu espírito à frente do seu tempo. Júlia, entre tantas atividades, se destacou por ser abolicionista, feminista e uma das idealizadoras da Academia Brasileira de Letras. E com esse livro entrará na lista dos apreciadores de literatura fantástica. 16) Antologia - Gregório de Matos (224 páginas) Gregório de Matos e Guerra (1636-1695), temido e reverenciado na Bahia setecentista, conhecido como 'O Boca do Inferno', é o autor de uma poesia ferina e virulenta, sempre pronta a atacar os poderosos, os moralistas, os dogmas e os 'bons costumes'. É também o melhor exemplo do estilo barroco na literatura brasileira, e atingiu uma importância estética que supera a mera curiosidade sobre a vida da sua época. Por isso, até hoje sua obra permanece como uma das mais malditas e rebeldes da história da literatura brasileira. É o que comprova esta antologiapoética cuidadosamente organizada e anotada por Higino Barros.Gregório de Matos nasceu em Portugal e formou-se pela Universidade de Coimbra. Reveses da vida trouxeram- no para a Bahia, quando já beirava os cinqüenta anos. Suas invectivas sobre desafetos pessoais e políticos valeram-lhe uma deportação para Angola, de onde voltou para um ano após, morrer, em Recife. 17) Antologia poética - Carlos Drummond de Andrade (344 páginas) Poucos autores brasileiros foram tão conscientes no exame da própria obra como Carlos Drummond de Andrade. O poeta mineiro era organizado, cioso do seu ofício e sabia exatamente o seu tamanho na trajetória da poesia brasileira do século XX. Prova disso é a Antologia poética, reunida e organizada pelo próprio Drummond em 1962 - quando o poeta completava 60 anos de idade e 30 de intensa atividade literária -, e uma das melhores portas de acesso para quem deseja conhecer a imensa obra do itabirano. E ninguém melhor que o próprio Drummond para reunir desde poemas clássicos de seu percurso até outras peças menos conhecidas. O amor, a morte, a memória, a família e o passado brasileiro comparecem neste alentadíssimo conjunto de poemas, organizados em nove seções. Completa o volume um esclarecedor ensaio do poeta Antônio Cicero. 18) As meninas, de Lygia Fagundes Telles (304 páginas) Num pensionato de freiras paulistano, em 1973, três jovens universitárias começam sua vida adulta de maneiras bem diversas. A burguesa Lorena, filha de família quatrocentona, nutre veleidades artísticas e literárias. Namora um homem casado, mas permanece virgem. A drogada Ana Clara, linda como uma modelo, divide-se entre o noivo rico e o amante traficante. Lia, por fim, milita num grupo da esquerda armada e sofre pelo namorado preso. As meninas colhe essas três criaturas em pleno movimento, num momento de impasse em suas vidas. Transitando com notável desenvoltura da primeira pessoa narrativa para a terceira, assumindo ora o ponto de vista de uma ora de outra das protagonistas, Lygia Fagundes Telles constrói um romance pulsante e polifônico, que capta como poucos o espírito daquela época conturbada e de vertiginosas transformações, sobretudo comportamentais. Obra de grande coragem na época de seu lançamento (1973), por descrever uma sessão de tortura numa época em que o assunto era rigorosamente proibido, As meninas acabou por se tornar, ao longo do tempo, um dos livros mais aplaudidos pela crítica e também um dos mais populares entre os leitores da autora. "Que beleza, que força, que matéria viva e lancinante em As meninas." - Carlos Drummond de Andrade "Lygia Fagundes Telles tem realmente algo da delicadeza atmosférica de uma Katherine Mansfield. A diferença é apenas a seguinte: ela também sabe escrever romance e As meninas é mesmo um romance de alta categoria." - Otto Maria Carpeaux Leitura obrigatória do vestibular da UFRGS. 19) Assim na terra como embaixo da terra - Ana Paula Maia (144 páginas) Com uma linguagem direta e sem rodeios, Assim na terra como embaixo da terra prende a atenção do leitor logo nas primeiras páginas. Este eletrizante e premiado romance de Ana Paula Maia narra o cotidiano de uma colônia penal isolada em vias de desativação. Construída em um terreno com histórico tenebroso de tortura de escravos e assassinato, a instituição foi criada para ser um modelo de detenção do qual preso algum jamais fugiria. Com o tempo, o objetivo inicial de socializar os detentos para reinserção na vida em comunidade foi sendo deturpado. Na prática, a colônia se transformou em algo muito diferente: uma espécie de campo de extermínio. Nos últimos dias de funcionamento, o clima no local, que conta então com poucos apenados, é de aparente calma. No entanto, pouco a pouco os horrores vividos ali vão sendo revelados. O agente superior Melquíades é a maior autoridade por trás daqueles muros, e também o algoz dos presos. Nas noites de lua cheia, o chefe libera alguns condenados da tornozeleira e ordena que corram. Ele, então, inicia um sinistro jogo, caçando os homens com seu rifle como se fossem animais selvagens, apenas por satisfação pessoal. Os presos, cada qual com sua história, estão sempre planejando a própria fuga, sem saber se vão acabar mortos pelos guardas ou pelo que os espera do lado de fora da Colônia. Fruto da sensibilidade e do talento de Ana Paula Maia, Assim na terra como embaixo da terra surge em um momento de discussão sobre a situação do sistema penitenciário no Brasil, com a ascensão de um discurso extremista e violento oposto às políticas de defesa dos direitos humanos. Um livro impactante e necessário, que nos leva a olhar para aqueles indivíduos a quem restam somente o trabalho que ninguém quer fazer e o desprezo da sociedade. 20) Auto da Barca do Inferno – Gil Vicente (96 páginas) O Auto da barca do Inferno é uma das peças mais famosas de Gil Vicente. Faz parte da Trilogia das barcas, ao lado de Auto da barca do Purgatório e Auto da barca da Glória. O autor imagina um rio em cujas margens há duas barcas: uma que leva ao inferno, conduzida pelo diabo, e outra que leva ao paraíso, conduzida por um anjo. À medida que vão chegando, as almas conversam com os barqueiros e tomam conhecimento do destino que as aguarda. As almas representam tipos sociais. Os condenados ao inferno são: o Fidalgo (que representa a aristocracia perversa e arrogante); o Onzeneiro (que representa o pecado da agiotagem, condenada pela Igreja); o Sapateiro (que representa os comerciantes ladrões); o Frade, que vem com sua amante (representando a par te corrupta do clero); a Alcoviteira (representando aqueles que viviam da prostituição de moças); o Judeu (que, na época, era marginalizado porque contra ele pesava o preconceito religioso de ser o assassino de Jesus); o Corregedor e o Procurador (representando a corrupção da justiça); o Enforcado (um ladrão que se julgava salvo por achar que a forma de sua morte já lhe garantia um lugar no céu). São salvos apenas o Parvo (camponês idiota e explorado que é aceito na barca do paraíso por sua falta de malícia) e os quatro Cavaleiros, que morreram em defesa da fé católica nas cruzadas. 21) Auto de São Lourenço – Padre José de Anchieta (94 páginas) Este texto teatral foi concebido conforme os preceitos da Contrarreforma, isto é, de popularizar as artes para a difusão da fé católica, em um compromisso de fins puramente catequéticos. São representados temas bíblicos e o conflito entre o bem e o mal, ou seja, a queda e a redenção da humanidade, tidos como princípios universais. 22) Bagagem, de Adélia Prado (144 páginas) Primeiro livro de Adélia Prado, Bagagem mostra o talento que faria da escritora uma das mais aclamadas poetas da literatura brasileira. Publicado originalmente em 1976, Bagagem foi lido e recebido com empolgação por Carlos Drummond de Andrade, que, entusiasta da obra de Adélia, indicou sua publicação. O livro traz textos repletos de emoções que, para a autora, são inseparáveis da criação, ainda que nascidas, muitas vezes, do sofrimento. O sentido de religiosidade também está presente em grande parte dos poemas, retratando parte da realidade da vida no interior do Brasil. Muitas vezes, Adélia opta por expor conflitos entre o sagrado e o profano, observados a partir de coisas simples da natureza ou até mesmo da leitura de um texto religioso. O estilo inconfundível dos poemas não traduz somente a lenta maturação de uma obra sendo idealizada por quatro décadas (Adélia tinha 41 anos na publicação deste que é seu livro de estreia); revela uma poeta dotada de autocrítica, cultivada lentamente e disposta a correr riscos. A estreia tardia expõe um equilíbrio raro: frescor e maturidade, provocação e respeito, despudor e humildade. Os poemas de Bagagem nasceram de um período em que Adélia escrevia incessantemente. “Os poemas praticamente irromperam, apareceram cargas e sobrecargas de poemas. Eu escrevia muito nesse período”, confessa a autora. Apesar de muitose variados, abordando temas tão diversos quanto o amor carnal, o amor divino, a vocação do poeta, as cores e as dores da vida, os textos possuem uma unidade, uma fala peculiar. “Entre outros títulos que me ocorreram, Bagagem era o que resumia, para mim, aquilo que não posso deixar ou esquecer em casa. A própria poesia”, sintetiza Adélia. “Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: está à lei, não dos homens, mas de Deus.” Carlos Drummond de Andrade“ Adélia é uma poeta da linguagem escrita. Mas escrita ditada pelos ritmos da voz, longamente cultivada na liturgia, na conversa da cidade de interior, na memória familiar, nas canções populares e na declamação dos poemas. A sua concepção poética converge para o verbo.” Augusto Massi 23) Boca do Inferno - Ana Miranda (336 páginas) Salvador, final do século XVII. Nessa cidade de desmandos e devassidão desenrola- se a trama de Boca do Inferno, recriação de uma época turbulenta centrada na feroz luta pelo poder que opôs o governador Antonio de Souza Menezes, o temível Braço de Prata, à facção liderada por Bernardo Vieira Ravasco, da qual faziam parte o padre Antonio Vieira e o poeta Gregório de Matos.Com uma linguagem rica e precisa, e uma narrativa de extraordinária agilidade, Ana Miranda trabalha em filigrana os pontos de contato entre ficção e história, mostrando em todo o seu vigor a vida de homens e mulheres dilacerados entre o prazer e o pecado, o céu e o inferno. Prêmio Jabuti 1990 de Melhor Autora Revelação. 24) Bom Crioulo - Adolfo Caminha (144 páginas) Exemplo do naturalismo na literatura brasileira, este romance aborda o tema da homossexualidade, na figura de dois marinheiros. A obra conta a história de Amaro, apelidado de Bom-Crioulo por seus modos ingênuos. Além de desmascarar preconceitos, a obra retrata a dura vida dos marinheiros, submetidos a castigos como a chibata. 25) Campo Geral - Guimarães Rosa (136 páginas) A infância é o tempo de descobertas. É a fase da vida em que o ser humano recebe e retribui os sentimentos à sua volta com maior vigor e integridade. Com Miguilim, menino que protagoniza esta novela de João Guimarães Rosa, não é diferente. Contudo, a visão de mundo repleta de sensibilidade que vinca a personalidade da criança transforma o conjunto de situações que ela experimenta num redemoinho sem precedentes de sensações. Neste livro, tem-se o privilégio de captar o âmago da vida no sertão através do olhar de uma criança, uma escolha que revela a grandeza literária de Guimarães Rosa. 26) Capitães de Areia – Jorge Amado (280 páginas) Desde o seu lançamento, em 1937, Capitães da Areia causou escândalo: inúmeros exemplares do livro foram queimados em praça pública, por determinação do Estado Novo. Ao longo de sete décadas a narrativa não perdeu viço nem atualidade, pelo contrário: a vida urbana dos meninos pobres e infratores ganhou contornos trágicos e urgentes. Várias gerações de brasileiros sofreram o impacto e a sedução desses meninos que moram num trapiche abandonado no areal do cais de Salvador, vivendo à margem das convenções sociais. Verdadeiro romance de formação, o livro nos torna íntimos de suas pequenas criaturas, cada uma delas com suas carências e suas ambições: do líder Pedro Bala ao religioso Pirulito, do ressentido e cruel Sem-Pernas ao aprendiz de cafetão Gato, do sensato Professor ao rústico sertanejo Volta Seca. Com a força envolvente da sua prosa, Jorge Amado nos aproxima desses garotos e nos contagia com seu intenso desejo de liberdade. 27) Casa de pensão – Aluísio Azevedo (440 páginas) Primoroso na elaboração estilística, magistral na composição dos tipos sociais, sólido na arquitetura do enredo, Casa de Pensão descortina um cenário urbano, o da corte carioca, afinando com argúcia o olhar que capta um espaço miúdo e entulhado de conflitos humanos, a degradante habitação coletiva, em que se apresentam os mais diversos – e inesquecíveis – personagens, tomados quase todos pela mediocridade e mesquinharia. Casa de Pensão se firma como notável realização literária. E, como tal, é obra para todos os tempos. 28) Cemitério dos vivos – Lima Barreto (240 páginas) 'O Cemitério dos Vivos' nasceu da experiência extrema de Lima Barreto no Hospital Nacional de Alienados, o velho hospício da Praia Vermelha onde esteve internado por duas vezes. Dividido em uma parte de memórias ('O Diário do Hospício') e uma tentativa de ficcionalizar essa vivência (no romance 'O Cemitério dos Vivos', que não chegou a concluir), o livro traz os relatos de seu segundo período de confinamento, iniciado no Natal de 1919, após uma noite vagando em delírio pelos subúrbios do Rio de Janeiro. 29) Cinzas do Norte - Milton Hatoum (240 páginas) Cinzas do Norte, terceiro romance de Milton Hatoum, é o relato de uma longa revolta e do esforço de compreendê-la. Na Manaus dos anos 1950 e 1960, dois meninos travam uma amizade que atravessará toda a vida. De um lado, Olavo, de apelido Lavo, o narrador, menino órfão, criado por dois tios mal-e-mal remediados, que cresce à sombra da família Mattoso; de outro, Raimundo Mattoso, ou Mundo, filho de Alícia, mãe jovem e mercurial, e do aristocrático Trajano. No centro das ambições de Trajano está a Vila Amazônia, palacete junto a Parintins, sede de uma plantação de juta e pesadelo máximo de Mundo. A fim de realizar suas inclinações artísticas, ou quem sabe para investigar suas angústias mais profundas, o jovem engalfinha-se numa luta contra o pai, a província, a moral dominante e, para culminar, os militares que tomam o poder em 1964 e dão início à vertiginosa destruição de Manaus. Nessa luta que se transforma em fuga rebelde, o rapaz amplia o universo romanesco, que alcança a Berlim e a Londres irrequietas da década de 1970, de onde manda sinais de vida para o amigo Lavo, agora advogado, mas ainda preso à cidade natal. Outros fios completam o tecido ficcional de Cinzas do Norte: uma carta que o tio Ranulfo envia a Mundo, uma outra que este deixa como legado para o amigo de infância. São versões e revelações que se cruzam ou desencontram, sem jamais chegar a esgotar o enigma de uma vida singular ou a diminuir a dor da derrota final, às mãos da doença, da solidão e da violência. Neste livro, Hatoum escreve uma "história moral" de sua geração. 30) Clara dos Anjos – Lima Barreto (304 páginas) No início de 1922, Lima Barreto anunciava na imprensa do Rio de Janeiro que seu novo romance, intitulado Clara dos Anjos, já estava “bem adiantado”, e que em breve ele seria publicado. Naquele ano, porém, o público carioca apenas conheceu um dos capítulos iniciais do livro, saído na edição de maio da revista Mundo Literário. Em 1o. de novembro, vitimado por um ataque cardíaco, Lima Barreto morreu sem concluir um de seus últimos e mais ambiciosos projetos literários. O escritor retrabalhava o texto desde 1904, animado pelo desejo de convertê-lo numa espécie de epopeia suburbana a partir da malfadada trajetória de Clara dos Anjos. A história foi publicada em folhetim entre 1923 e 1924, e somente apareceria em volume mais de duas décadas depois, em 1948. Desde então, Clara dos Anjos, que narra as desventuras de uma adolescente pobre e mulata seduzida por um malandro branco, tem sido avaliado por diversos críticos como um romance que não está à altura da melhor produção de Lima Barreto. Entretanto, esta reedição - com textos críticos de Sergio Buarque de Holanda, Lúcia Miguel Pereira e Beatriz Resende, bem como um amplo aparato de notas explicativas a cargo de Lilia Moritz Schwarcz e Pedro Galdino - é uma boa oportunidade para reavaliar esse conceito, permitindo situá-la entre os textos-chave do criador de Triste fim de Policarpo Quaresma. Numerosas conexões biográficas com personagens da história de Clara e Cassi Jones, um dos protótipos literários da malandragem suburbana, revelam as opiniões de Lima Barreto acerca de si mesmo e da sociedade brasileira, ainda hoje marcada pelo racismo quesubjaz às tragédias pessoais do autor e de sua protagonista. 31) Claro enigma - Carlos Drummond de Andrade (144 páginas) Publicado em 1951, Claro enigma representa um momento especial na obra de Drummond. Com uma dicção mais clássica, o poeta revisita formas que haviam sido abandonadas pelo Modernismo (como o soneto, modalidade que fora motivo de chacota entre as novas gerações literárias), afirma seu amor pela poesia de Dante e Camões e busca uma forma mais difícil, mas sem jamais abandonar o lirismo e a agudeza de sua melhor poesia. O livro abre com a epígrafe do francês Paul Valéry, “Les evenements m’ennuient” (Os acontecimentos me entediam). Embora eloquente, a citação não corresponde perfeitamente à realidade, pois Drummond não vira completamente as costas para a vida mais pulsante. Pelo contrário: a experiência aparece em cada verso do livro, ainda que escamoteada por uma lírica que não se entrega ao fácil graças a uma visão algo desiludida do tempo e dos homens. Mas há, claro, espaço para o lirismo do amor, como no célebre poema “Amar”, que começa com os versos: “Que pode uma criatura senão, / entre criaturas, amar?”. A lira romântica de Drummond está bem afinada neste livro, como pode ser comprovado pela leitura de poemas como “Rapto” e “Tarde de maio”. A mineiridade também é lembrada no livro, em poemas vazados pela nostalgia ou que recontam episódios antigos da terra natal do autor. Claro enigma também conta com “A máquina do mundo” - eleito o melhor poema brasileiro do século XX por um grupo de críticos e especialistas consultados pelo jornal Folha de S.Paulo. Escrito em tercetos, é simultaneamente uma meditação profunda e uma espécie de épica íntima sobre a passagem do tempo e o conhecimento da vida como acontecimento breve e muitas vezes fortuito. Um clássico. 32) Contos negreiros - Marcelino Freire (126 páginas) Em novo formato, Contos negreiros apresenta uma releitura moderna do preconceito, dando um novo olhar aos marginalizados da sociedade. Um dos expoentes de sua geração, Marcelino Freire apresenta 16 narrativas de brasileiros miseráveis que vendem de tudo para sobreviver: drogas, o corpo e até os órgãos. Abordando temas delicados como a prostituição infantil e indígena em “Yamani”, o preconceito racial e conflito de classes em “Solar dos príncipes” e a homossexualidade em “Coração”, o livro chega ao seu ponto alto em “Nação Zumbi”, história de um personagem sem nome que recorre ao tráfico de órgãos para sobreviver. Inspirado em clássicos brasileiros como Cruz e Sousa, Lima Barreto e Jorge de Lima, Contos negreiros esquadrinha, com ironia e bom humor, questões relevantes da atualidade e do cenário político atual, resgatando a memória cultural manchada do Brasil. 33) Contos novos - Mário de Andrade (158 páginas) A maturidade artística de Mário de Andrade no campo da ficção literária culmina com os "Contos novos" (1947), obra póstuma publicada dois anos após a morte do autor. O livro é fruto de um processo artesanal que compreende várias versões de um mesmo texto e se estende por períodos de elaboração que vão de quatro a 18 anos. Contos novos atestam um avanço em direção a um realismo mais denso e crítico, cuja chave artística parece ser a contenção: estilo, enredo, paisagem, tudo agora é mais contido, mais acabado; o resultado é um profundo mergulho na realidade social e psíquica do homem brasileiro 34) Dois irmãos - Milton Hatoum (200 páginas) Onze anos depois da publicação de Relato de um certo Oriente, Milton Hatoum retoma os temas do drama familiar e da casa que se desfaz. Dois irmãos é a história de como se constroem as relações de identidade e diferença numa família em crise. O enredo desta vez tem como centro a história de dois irmãos gêmeos - Yaqub e Omar - e suas relações com a mãe, o pai e a irmã. Moram na mesma casa Domingas, empregada da família, e seu filho. Esse menino - o filho da empregada - narra, trinta anos depois, os dramas que testemunhou calado. Buscando a identidade de seu pai entre os homens da casa, ele tenta reconstruir os cacos do passado, ora como testemunha, ora como quem ouviu e guardou, mudo, as histórias dos outros. Do seu canto, ele vê personagens que se entregam ao incesto, à vingança, à paixão desmesurada. O lugar da família se estende ao espaço de Manaus, o porto à margem do rio Negro: a cidade e o rio, metáforas das ruínas e da passagem do tempo, acompanham o andamento do drama familiar. 35) Dom Casmurro - Machado de Assis (208 páginas) Em Dom Casmurro, o narrador Bento Santiago retoma a infância que passou na Rua de Matacavalos e conta a história do amor e das desventuras que viveu com Capitu, uma das personagens mais enigmáticas e intrigantes da literatura brasileira. Nas páginas deste romance, encontra-se a versão de um homem perturbado pelo ciúme, que revela aos poucos sua psicologia complexa e enreda o leitor em sua narrativa ambígua acerca do acontecimento ou não do adultério da mulher com olhos de ressaca, uma das maiores polêmicas da literatura brasileira. 36) Entre as mãos - Juliana Leite (256 páginas) Vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2018 na categoria Romance. Conduzido com precisão e movido por uma poderosa força que impulsiona todo o relato, Entre as mãos gira em torno de Magdalena, uma tecelã que, depois de um grave acidente, precisa retomar seus dias, reaprender a falar e levar consigo dolorosas cicatrizes ― não apenas no corpo. Com personagens e tempos narrativos que se atravessam como fios trançados, este romance tem a marca de peça única, debruçando-se sobre questões como sobrevivência e ancestralidade, mas também amor e mistério a partir do corpo, do trabalho e dos gestos da protagonista, em duas fases de sua vida. 37) Esaú e Jacó - Machado de Assis (296 páginas) Originalmente publicado em 1904, Esaú e Jacó trata de uma “história simples, acontecida e por acontecer”: dois jovens bem-nascidos, os gêmeos Pedro e Paulo, digladiam-se em intermináveis conflitos e reconciliações desde o útero da mãe até o começo da idade adulta. Os irmãos lutam pelo amor da jovem Flora Batista, cujo enredo é narrado em terceira pessoa pelo conselheiro Aires - alter-ego de Machado de Assis, que usa o personagem para as suas reflexões autorais. O narrador-personagem compartilha com o leitor suas indagações sobre a arte do romance e, por isso, o crítico e professor Hélio Guimarães, que assina a introdução e as notas do volume, considera essa obra uma verdadeira “teoria da composição ficcional”. Ambientado no Rio de Janeiro durante os anos finais do Império e o início da República, o livro ecoa diversos acontecimentos da história do Brasil - incluindo a Abolição, a Proclamação da República e as revoltas contra o governo Floriano Peixoto -, além de passagens da Bíblia, da Divina comédia e do Fausto de Goethe. 38) Esconderijos do tempo - Mário Quintana (88 páginas) Esconderijos do tempo ocupa lugar de destaque na obra poética de Mario Quintana. Tudo levava a crer que, após o premiado Apontamentos de história sobrenatural, de 1976, o poeta septuagenário não tinha mais para onde ir, a não ser repetir-se. No entanto, passaram-se apenas quatro anos, e Quintana lançava este que pode ser considerado um dos melhores livros de poesia brasileira do último quarto do século passado. Alguns dos mais belos poemas escritos pelo autor podem ser encontrados neste volume. À época de seu lançamento original, em 1980, o poeta parecia liberar- se definitivamente de todas as amarras, influências, compromissos, entregando-se por inteiro ao triunfo da imaginação como forma de questionar e enriquecer o real. Neste livro, é marcante a total dissociação de Quintana em relação a qualquer influência exercida sobre ele por outros mestres de sua geração modernista. Se nos livros dos anos 70, através da noção de “sobrenatural”, ele fizera questão de contrastar sua poética ao ceticismo materialista de Drummond, aqui o poeta assume de peito aberto sua personalidadesingular. Em Mario Quintana, o poeta, não existiu envelhecimento. Esconderijos do tempo é um livro de maturidade plena. Nele estão poemas que tematizam a passagem do tempo e o caráter fugaz dos sentimentos e das sensações, mas sem ceder à nostalgia ou à melancolia. A palavra poética afirma-se aqui como celebração e concretização daquilo que perdura. 39) Espumas Flutuantes – Castro Alves (296 páginas) Embora tenha vivido apenas 24 anos, Castro Alves tornou-se célebre por seus poemas de temática social, principalmente em defesa do abolicionismo. Publicado originalmente em 1870, um ano antes da morte do poeta, Espumas Flutuantes representa o momento final do romantismo no Brasil. Os valores da monarquia davam, então, lugar às transformações que conduziriam ao sistema republicano. Esta edição conta com notas explicativas e estudo de José De Paula Ramos Jr., professor da Universidade de São Paulo. Prefácio e Notas José De Paula Ramos Jr. (USP) Ilustrações Moa Simplício 40) Eu e outras poesias - Augusto dos Anjos (215 páginas) Publicada em 1912, “Eu e outras poesias” foi a única obra de Augusto dos Anjos, poeta que, vitimado pela pneumonia, viveu apenas até os 30 anos. Surgindo em um momento de transição, pouco antes da virada modernista de 1922, a obra de Augusto dos Anjos é classificada por alguns como simbolista – pela construção de imagens sequenciais –, por outros como parnasiana – pela escrita formal – e por outros, ainda, como pré-modernista – pela época e pelo estilo inovador. De qualquer modo, independentemente do rótulo, Augusto dos Anjos marcou a literatura brasileira e até hoje é lido e admirado por leitores de todos os tipos. “Eu e outras poesias” é um livro de sofrimento, verdade e protesto, em que, demonstrando uma visão de mundo parecida com a de Machado de Assis, Augusto dos Anjos trata da angústia moral, numa linguagem que mistura poesia, medicina e ciência. 41) Fazenda Modelo (novela) – Chico Buarque (128 páginas) Este livro é a primeira experiência literária do compositor Chico Buarque. que posteriormente recebeu dois prêmios Jabuti de Melhor Romance por "Estorvo" (Companhia das Letras. 1991) e "Budapeste" (Companhia das Letras. 2003). Aqui. Chico medita. através do alegórico e do grotesco. sobre o dia a dia dos anos 1970. 42) Feliz ano velho, de Marcelo Rubens Paiva (272 páginas) Feliz ano velho é o primeiro livro de Marcelo Rubens Paiva. Aos vinte anos, ele sobe em uma pedra e mergulha numa lagoa imitando o Tio Patinhas. A lagoa é rasa, ele esmigalha uma vértebra e perde os movimentos do corpo. Escrito com sentido de urgência, o livro relata as mudanças irreversíveis na vida do garoto a partir do acidente. Ele é transferido de um hospital a outro, enfrenta médicos reticentes, luta para conquistar pequenas reações do corpo. Aos poucos, se dá conta de sua nova realidade, irreversível. E entende que é preciso lutar. O texto expressa a irreverência e a determinação da juventude, mesmo na adversidade, e a compreensão precoce "de que o futuro é uma quantidade infinita de incertezas". Leitura obrigatória do vestibular da UFRGS. 43) Grande Sertão: Veredas – João Guimarães Rosa (608 páginas) Nesta obra, o autor utiliza da linguagem própria do sertão para que Riobaldo conte sua história. Rosa busca apresentar a vida dos personagens de seu próprio ponto de vista, narrando a vida de jagunço com suas características - o amor, a morte, o sofrimento, o ódio e a alegria. 44) Histórias que os jornais não contam – Moacyr Scliar (160 páginas) Para além das notícias de jornal Casal se divorcia após descobrir que marido e mulher flertavam pela internet (um com o outro); cartão de Natal postado em 1914 chega a seu destino 93 anos depois; British Airways se desculpa por colocar cadáver na primeira classe; Polícia Federal apreende 250 kg de cabelos que entraram ilegalmente no Brasil; Britânico descobre que a namorada tinha um amante graças às indiscrições de um papagaio. Você acha que essas manchetes são falsas ou verdadeiras? Totalmente verdadeiras. Nada mais impactante do que a própria realidade. Moacyr Scliar, de posse desse material extraído da Folha de S.Paulo, manteve uma coluna por quase duas décadas no próprio jornal, onde exercitou o ofício de escritor: seus relatos começavam onde a notícia terminava. Ao desafiar a fronteira entre realidade e ficção, encontrou histórias esperando para serem contadas. Esta seleção reúne 54 crônicas, fruto da combinação do inusitado da vida com o encantamento da literatura. 45) Iracema – José de Alencar (148 páginas) Clássico do romantismo brasileiro que consagrou José de Alencar como um dos maiores escritores do país. O livro narra a história da índia Iracema, a virgem dos lábios de mel, que apaixona-se pelo português Martim, inimigo de seu povo. Na trama passada no início do século XVII, o amor proibido de Iracema é uma alegoria do processo de colonização do Brasil pelos europeus. Sem tentar imitar o estilo português ao tratar de temas nacionais, José de Alencar desenvolve sua própria linguagem, extremamente lírica e original. 46) Caderno de memórias coloniais, de Isabela Figueiredo (184 páginas) Obra-prima da literatura portuguesa de hoje, o livro de Isabela Figueiredo é um devastador ajuste de contas com a situação colonial. Caderno de memórias coloniais foi publicado em 2009 em Portugal. Sucesso de público, foi saudado como uma obra- prima. E é de fato um genial acerto de contas da autora com o passado colonial de Portugal e com seu pai, um eletricista português radicado em Moçambique. O pai parece personificar Portugal: despreza e explora os nativos. O “melhor” de Moçambique ficava com os brancos: as boas praias, os bares, a vida cultural e social, as melhores oportunidades. Tudo isso é visto pelos olhos de Isabela, que lá nasceu em 1963 e teve que se mudar para Portugal nos anos 1970, durante o contexto da descolonização. O livro é uma espécie de Carta ao pai (de Kafka), um acerto de contas num texto que mescla memória, ensaio, observação pessoal e ficção. O livro tem origem num blog da autora, canal pioneiro para tentar trazer mais realidade à narrativa edulcorada do Portugal africano. Até então, havia uma enxurrada de memórias cor de rosa e piedosas de brancos que nasceram e cresceram nas colônias portuguesas e que nunca tratavam das questões reais e duras do passado: a exclusão da população local (negra), os trabalhos subalternos e mal-remunerados destinados aos locais, o racismo. Autora da FLIP 2018. 47) Lucíola - José de Alencar (152 páginas) Numa festa da Corte, Paulo, um jovem romântico, recém-chegado ao Rio de Janeiro, defronta-se com a irradiante beleza de uma jovem dama. Ao cortejar essa “senhora”, no entanto, é zombado pelo amigo, pois ela é Lúcia, a mais bela e requisitada cortesã da cidade. Ainda que envergonhado por sua ingenuidade, Paulo não consegue tirar a imagem de Lúcia de sua mente. Certamente fora seduzido. Entretanto, para um sonhador como ele, envolver-se com uma mulher como Lúcia poderia ser perigoso... Saberia Paulo se envolver sem se apaixonar? Repleto de ardilosas tramas amorosas, o romance de José de Alencar, inspirado em “A dama das camélias”, de Alexandre Dumas, traça um esboço da frivolidade da sociedade carioca do Segundo Reinado, marcada pela hipocrisia e pela promiscuidade. 48) Macunaíma - Mário de Andrade (240 páginas) Mário de Andrade publicou Macunaíma em 1928. O livro foi um acontecimento. Debochado e intensamente brasileiro - ainda que muito pouco ou nada nacionalista -, este romance é ainda hoje um dos textos fundamentais do nosso Modernismo. E continua a influenciar as mais diversas manifestações artísticas. Nascido nas profundezas da Amazônia, o herói de Mário de Andrade é cheio de contradições - assim como o país que lhe serve de berço. É adoravelmente mentiroso, safado, preguiçoso e boca-suja. Suas peripécias vêm embaladas numa linguagem rapsódica e inventiva, um marco das pesquisas de seu autorem torno de uma identidade linguística brasileira. 49) Marília de Dirceu - Tomás Antonio Gonzaga (256 páginas) Sob o pseudônimo de Dirceu, Tomás Antônio Gonzaga declara em suas liras o amor pela adolescente Maria Joaquina Doroteia de Seixas, chamada, nos poemas, de Marília. De caráter autobiográfico, Marília de Dirceu carrega um tom de confissão amorosa no qual a musa convive com a presença marcante da exaltação da natureza e da vida pastoril. Escrita, em sua maior parte, durante o exílio do autor, por seu envolvimento na Inconfidência Mineira, a obra apresenta também traços pré- românticos, como o pessimismo, a solidão, a saudade e a amargura. Com lindas ilustrações, o livro apresenta também uma parte complementar chamada de “Bagagem de informações”, que auxiliarão no entendimento sobre o período literário e histórico em que a obra foi produzida. 50) Mayombe – Pepetela (248 páginas) Escrito no período em que Pepetela participou da guerra pela libertação de seu país, Mayombe é uma narrativa que mergulha fundo na organização dos combatentes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), trazendo à tona seus questionamentos, contradições, medos e convicções. Os bravos guerrilheiros que lutam no interior da densa floresta tropical confrontam-se não somente com as tropas portuguesas, mas também com as diferenças culturais e sociais que buscam superar em direção a uma Angola unificada e livre. 51) Memorial do Convento - José Saramago (408 páginas) No epicentro desta história está a construção do Palácio Nacional de Mafra, também conhecido como Convento. O monarca absolutista D. João V, cumprindo uma promessa, ordenou que o edifício fosse erguido no início do século XVIII, em pleno processo colonial, à custa de uma imensa quantidade de ouro e diamantes vindos do Brasil, além do sangue de milhares de operários. Dentre eles, havia um certo Baltasar, da estirpe de Sete-Sóis, inválido da mão esquerda depois de uma guerra, apaixonado por Blimunda, uma jovem dotada de poderes extraordinários. Indivíduos habitualmente não observados pela dita história oficial, mas que no entanto constituem seu tecido mais delicado e essencial. Memorial do Convento - publicado pela primeira vez em 1982 - tornou o português José Saramago um nome internacionalmente aclamado da literatura contemporânea, graças à mistura entre narrativa histórica e história individual. Embora esteja firmemente assentado na tradição da melhor ficção de seu país, a obra cativaria leitores das mais diversas culturas. Como em História do cerco de Lisboa e A jangada de pedra, para citar apenas alguns dos celebrados romances do autor, a finíssima ironia na observação de fatos históricos e o elegante tecido ficcional estão a serviço de uma fabulação sempre brilhante, moderna e criticamente devastadora do ponto de vista social. O resultado é um romance sobre o embate entre a dureza do individualismo e a delicadeza dos sonhos coletivos. Com sua abordagem absolutamente inovadora do romance histórico - um gênero que já esteve a serviço dos heróis nacionais e suas poses engessadas -, este Memorial do Convento recupera as ilusões, fantasias e aspirações de um Portugal que se quis grande e eterno, ainda que frágil e delicado. 52) Memórias de um sargento de milícias - Manuel Antônio de Almeida (192 páginas) Em Memórias de um sargento de milícias, figura como protagonista não o típico herói romântico, mas, como bem indicou Antonio Candido, em seu livro Dialética da malandragem, “o primeiro grande malandro da novelística brasileira”. O romance de Manuel Antônio de Almeida narra as peripécias de Leonardo, filho de Leonardo-Pataca e Maria-da-Hortaliça, e por meio delas retrata com cinismo e comicidade a sociedade carioca da primeira metade do século XIX. 53) Memórias póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis (368 páginas) Em 1881, Machado de Assis lançou aquele que seria um divisor de águas não só em sua obra, mas na literatura brasileira: Memórias póstumas de Brás Cubas. Ao mesmo tempo em que marca a fase mais madura do autor, o livro é considerado a transição do romantismo para o realismo. Num primeiro momento, a prosa fragmentária e livre de Memórias póstumas, misturando elegância e abuso, refinamento e humor negro, causou estranheza, inclusive entre a crítica. Com o tempo, no entanto, o defunto autor que dedica sua obra ao verme que primeiro roeu as frias carnes de seu cadáver tornou-se um dos personagens mais populares da nossa literatura. Sua história, uma celebração do nada que foi sua vida, foi transformada em filmes, peças e HQs, e teve incontáveis edições no Brasil e no mundo, conquistando admiradores que vão de Susan Sontag a Woody Allen. Esta edição reproduz o prólogo do próprio autor à terceira edição do livro, em que ele responde às dúvidas dos primeiros leitores. Traz ainda prefácio de Hélio de Seixas Guimarães, professor livre-docente na USP e pesquisador do CNPq, e estabelecimento de texto e notas de Marta de Senna, cocriadora e editora da revista eletrônica Machado de Assis em Linha, e Marcelo Diego, pesquisador da obra de Machado na Universidade Princeton. 54) Morte e Vida Severina - João Cabral de Melo Neto (176 páginas) Os poemas escolhidos para integrar esta coletânea desnudam os elementos fundamentais da obra de João Cabral de Melo Neto. Morte e Vida Severina (1954-55), poema que dá nome ao livro, é a obra mais popular de João Cabral e aborda o tema da seca nordestina, dando voz aos retirantes que fazem o duro percurso entre o rio Capibaribe e Recife. O poema O rio também retrata o universo árido às margens do rio Capibaribe, mas dá voz a ele próprio como condutor da narrativa. Engenhos de cana- de-açúcar, usinas, retirantes e trabalhadores são retratados na velocidade do correr das águas. Em Paisagens com figuras (1955), João Cabral sintetiza em palavras uma de suas principais características, que é o hibridismo de linguagens. Mesclando descrições de imagens de Pernambuco, com paisagens da Espanha, o poeta desfila toda sua expressividade onírica. Por fim, Uma faca sem lâmina (1955), trata do desafio da composição poética, que ele ilustra numa faca sem bainha, que corta o poeta por dentro. 55) Negrinha - Monteiro Lobato (216 páginas) Publicado em 1923, após o sucesso de Urupês, o livro de contos Negrinha, através de seus personagens, forma um retrato da população brasileira do início do século XX, com os quais Lobato denuncia os bastidores de uma sociedade patriarcal. É uma forte crítica que deixa transparecer os vestígios de uma persistente mentalidade escravocrata da sociedade, mesmo décadas após a abolição. 56) Nove Noites - Bernardo Carvalho (152 páginas) Na noite de 2 de agosto de 1939, um jovem e promissor antropólogo americano, Buell Quain, se matou, aos 27 anos, de forma violenta, enquanto tentava voltar para a civilização, vindo de uma aldeia indígena no interior do Brasil. O caso se tornou um tabu para a antropologia brasileira, foi logo esquecido e permaneceu em grande parte desconhecido do público. Sessenta e dois anos depois, ao tomar conhecimento da história por acaso, num artigo de jornal, o narrador deste livro é levado a investigar de maneira obsessiva e inexplicada as razões do suicídio do antropólogo. Em sua busca obstinada pelas cartas do morto ou pelo testamento de um engenheiro que ficara amigo do antropólogo nos seus últimos meses de vida, o narrador é guiado por razões pessoais que não serão reveladas até o final do romance, mas que dizem respeito à sua experiência de criança na selva, à história e à morte de seu próprio pai. Nove noites narra a descida ao coração das trevas empreendida pelo jovem expoente da antropologia americana, colega de Lévi-Strauss e aluno dileto de Ruth Benedict, às vésperas da Segunda Guerra. A história é contada em dois tempos, na tribo dos índios krahô (interior do sertão brasileiro) e na combinação progressiva entre a busca pelo testamento do engenheiro e a pesquisaque o narrador vai fazendo em arquivos, atrás das cartas do antropólogo e dos que o conheceram na época. Para escrever o livro, Bernardo Carvalho travou contato com os Krahô, no estado do Tocantins, e foi aos Estados Unidos em busca de documentos e pessoas que pudessem saber algo sobre o antropólogo. A história de Buell Quain revela as contradições e os desejos de um homem sozinho numa terra estranha, confrontado com os seus próprios limites e com a alteridade mais absoluta, numa narrativa que faz referências aos romances de Joseph Conrad e aos relatos do escritor inglês Bruce Chatwin. 57) O Ateneu - Raul Pompéia (312 páginas) Publicado originalmente como folhetim na Gazeta de Notícias, na época um importante jornal do Rio de Janeiro, O Ateneu foi muito bem recebido pela crítica. E perduraria, como uma verdadeira joia do romance brasileiro, ao tratar dos anos decisivos de um garoto e da vida escolar. Em 1888, Raul Pompeia era um jovem advogado e escritor fluminense bastante conhecido no meio jornalístico e literário da Corte, sobretudo por suas crônicas, reportagens, contos e poemas em prosa publicados em periódicos do Rio de Janeiro e de São Paulo. O romance, que mistura ficção e autobiografia, narra as experiências de Sérgio, um tímido pré-adolescente de onze anos como aluno interno no Colégio Ateneu, conhecido como a melhor instituição de ensino do Império. Os cenários do colégio e sua memorável galeria de alunos, professores e funcionários são um autêntico microcosmo da vida social da época. Esta edição conta com texto introdutório de Pedro Meira Monteiro, doutor em História da Literatura pela Unicamp e professor da Universidade Princeton. 58) O Cortiço - Aluísio Azevedo (296 páginas) Publicado em 1890, O cortiço é um marco da aclimatação do naturalismo em nossas letras. É também uma denúncia — ainda muito atual e aguda — das condições de vida das classes populares, espremidas em lugares insalubres e exploradas por patrões gananciosos. A ascensão social do português João Romão é contada com objetividade científica. Outros personagens também são examinados no microscópio de Aluísio Azevedo: Miranda, Zulmira, Bertoleza, Jerônimo. O choque da mentalidade do Velho Mundo com a exuberância do Brasil é representado pela relação entre os personagens e o meio (físico, social e geográfico) em que vivem. Um romance forte e absolutamente indispensável para qualquer leitor brasileiro. 59) O encontro marcado - Fernando Sabino (296 páginas) Esta é a história de um jovem em desesperada procura de si mesmo e da verdadeira razão de sua vida. Quase absorvido por uma brilhante boêmia intelectual, seu drama interior evolui subterraneamente, expondo os equívocos fundamentais que vinham frustrando sua existência e sufocando sua vocação. O encontro marcado é a história de Fernando Sabino? Sim, mas não se trata de uma autobiografia. É a história atormentada de toda uma geração, naquilo que ela tem de essencialmente dramático. Em meio às confusões da vida, procura-se um valor que dê sentido à desconcertante experiência pessoal de quem trava um duelo de morte com a vocação furtiva. História de adolescência e juventude, de prazeres fugidios, desespero, cinismo, desencanto, melancolia, tédio, que se acumulam no espírito do jovem escritor Eduardo Marciano, um homem que amadurece num mundo desorientado. Ele vê seu matrimônio quebrar- se quando já não pode abdicar; por força de sua própria experiência, o suicídio deixa de ser uma solução. Nessa paisagem atormentada, ele deve renunciar a si mesmo, para comparecer ao encontro com uma antiga verdade. 60) O espelho - Machado de Assis (40 páginas) A riqueza da obra de Machado de Assis é algo inestimável, expondo como poucas os infindáveis segredos da alma humana. Em homenagem a esse nosso grande autor, esta coleção traz alguns de seus contos clássicos, ilustrados pelo premiado artista plástico Fernando Vilela. 61) O escaravelho do diabo – Lucia Machado (192 páginas) A única pista que Alberto tem sobre a série de assassinatos que está acontecendo é que vítimas ruivas recebem um escaravelho pelo correio antes de morrer. Ele precisa descobrir o que está por trás desses crimes misteriosos antes que outras mortes ocorram na cidade. 62) O guarani – José de Alencar (380 páginas) O guarani – um dos romances mais importantes de José de Alencar – foi uma das primeiras obras criadas com o objetivo de fundar uma literatura brasileira autônoma em relação à tradição portuguesa. Foi inicialmente publicada em forma de folhetim, em meados de 1857, concedendo grande popularidade a Alencar. Quando, no final do mesmo ano, foi transformado em livro, sofreu pequenas modificações. Em meio à história de amor entre o índio Peri e a moça branca Ceci, José de Alencar cria uma narrativa épica, cheia de amor, aventura, traição, lutas e vingança, prendendo a atenção do leitor a cada nova página. O romance proclama a brasilidade, focando importantes aspectos da realidade brasileira do século XVII: o índio e o branco; a cidade e o campo; o sertão e o litoral. 63) O marinheiro - Fernando Pessoa (80 páginas) Peça teatral escrita em 1915 pelo poeta português Fernando Pessoa, O marinheiro é leitura obrigatória para o Vestibular da Unicamp. E interessa também a todos os apreciadores da boa literatura. Esta edição, com introdução, comentários e notas de Marcos Lopes e Ana Maria Ferreira Côrtes, traz ao leitor dicas importantes para a compreensão do texto. Fernando Pessoa (1888-1935) é um dos maiores poetas da língua portuguesa. Sua poesia foi publicada sob vários heterônimos, dos quais se destacam Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro. Escreveu também contos, crônicas, ensaios e dramaturgia, entre outros gêneros literários. 64) O Tempo e o Vento – Erico Verissimo (2832 páginas) Os sete volumes da trilogia O tempo e o vento agora reunidos numa caixa. A trilogia O tempo e o vento é a saga mais famosa da literatura brasileira. São 150 anos da história do Rio Grande do Sul e do Brasil que Erico Verissimo compôs em três partes - O continente, O retrato e O arquipélago -, publicadas entre 1949 e 1962. Ana Terra e o capitão Rodrigo Cambará são apenas alguns dos personagens inesquecíveis que habitam o mundo de Verissimo. As disputas entre famílias pelo poder, as guerras, a bravura dos homens e a tenacidade das mulheres são alguns dos temas do romance. Todos os volumes têm projeto gráfico de Raul Loureiro e ilustrações do artista plástico Paulo von Poser, além de uma cronologia que relaciona fatos históricos a acontecimentos ficcionais e a dados biográficos de Erico Verissimo. "Um dos grandes romances da literatura brasileira." - Antonio Candido A caixa contém: O continente, vols. 1 e 2 O retrato, vols. 1 e 2 O arquipélago, vols. 1, 2 e 3 Os volumes não podem ser vendidos separadamente 65) O Rei da Vela - Oswald de Andrade (102 páginas) Escrita em 1933, publicada em 1937 e encenada pela primeira vez trinta anos mais tarde pelo Teatro Oficina, esta é a peça fundamental de Oswald de Andrade. Ao retratar um país mergulhado na crise financeira de 1929, às vésperas do Estado Novo, O rei da vela aponta a utopia de um projeto político que não viria a se concretizar. Oswald apresenta uma peça de teatro profundamente anarquista, que explora a força soberana do imperialismo americano em toda sua dimensão caricata e grotesca. No centro do palco está o escritório de agiotagem Abelardo & Abelardo, em um enredo que tem como pano de fundo a ambição tacanha e desenfreada de um país subdesenvolvido, as falcatruas, a decadência, o desprezo pela moralidade e o sexo estapafúrdio. O volume inclui textos inéditos de Décio de Almeida Prado e de Renato Borghi, além de um manifesto de 1967 de José Celso Martinez Corrêa, que assina também um pós-escrito para esta edição. 66) O Uraguai - Basílio da Gama (144 páginas) Em um poema de cinco cantos e 1377 versos, Basílio da Gama registrou a luta contra os índios promovida porportugueses e espanhóis na conquista dos Sete Povos das Missões. Estes versos, escritos em 1769, estão agora acessíveis acrescidos de uma versão em prosa. 67) O vendedor de passados – José Eduardo Agualusa (208 páginas) Do vencedor do prêmio IMPAC de Dublin em 2017, uma das maiores vozes da literatura em língua portuguesa. Após a conquista da independência e os martírios de uma longa guerra civil, a emergente burguesia angolana pensa ter o futuro assegurado. Falta a ela, porém, um passado mais adequado a sua nova condição social. O negro albino Félix Ventura sabe aproveitar as oportunidades. A cada um de seus clientes – empresários bem-sucedidos, militares de mais alta patente, figurões da nova ordem política do país –, ele vende uma árvore genealógica digna de orgulho, memórias luxuosas, ancestrais ilustres. E Félix segue muito bem nessa empreitada, até chegar a ele um homem repleto de mistérios, em busca de um passado e de uma identidade angolana. De uma hora para a outra, os passados e os presentes se entrecruzam, e o impossível se confunde com o real. A narrativa de José Eduardo Agualusa, um dos principais nomes da literatura de língua portuguesa contemporânea, vibra entre o passado atormentado que boa parte do povo angolano gostaria de esquecer e o presente cheio de possibilidades de um país em reconstrução. O vendedor de passados é uma história sobre raça, a natureza da verdade e o poder transformador da criatividade. 68) Obra Completa – Murilo Rubião (288 páginas) Murilo Rubião se aventurou no universo do fantástico antes que o gênero ficasse em voga entre os escritores latino-americanos. Além de precursor ― seus contos foram escritos, em sua maioria, entre os anos 1940 e 1960 ―, Rubião é mestre em fazer o absurdo penetrar na realidade cotidiana, subvertendo-a e lançando novos olhares sobre temas consagrados da literatura, como o desejo, a morte, o amor e a falta de sentido do mundo moderno. Este volume celebra o centenário do nascimento de Rubião com todos os 33 contos que o autor mineiro lapidou à exaustão. Completam a edição um delicioso artigo de época do crítico Jorge Schwartz e um alentado ensaio inédito do jovem escritor Carlos de Brito e Mello. 69) Olhos D’água - Conceição Evaristo (116 páginas) Em Olhos d’água Conceição Evaristo ajusta o foco de seu interesse na população afro-brasileira abordando, sem meias palavras, a pobreza e a violência urbana que a acometem. Sem sentimentalismos, mas sempre incorporando a tessitura poética à ficção, seus contos apresentam uma significativa galeria de mulheres: Ana Davenga, a mendiga Duzu-Querença, Natalina, Luamanda, Cida, a menina Zaíta. Ou serão todas a mesma mulher, captada e recriada no caleidoscópio da literatura em variados instantâneos da vida?Elas diferem em idade e em conjunturas de experiências, mas compartilham da mesma vida de ferro, equilibrando-se na “frágil vara” que, lemos no conto “O Cooper de Cida”, é a “corda bamba do tempo”. Em Olhos d’água estão presentes mães, muitas mães. E também filhas, avós, amantes, homens e mulheres – todos evocados em seus vínculos e dilemas sociais, sexuais, existenciais, numa pluralidade e vulnerabilidade que constituem a humana condição. Sem quaisquer idealizações, são aqui recriadas com firmeza e talento as duras condições enfrentadas pela comunidade afro-brasileira. 70) O primo Basílio – Eça de Queiroz (480 páginas) Durante uma viagem prolongada de seu marido, Luísa se deixa seduzir por Basílio, um primo seu que voltava a Portugal depois de uma temporada no Brasil. Imprudentes e indiscretos, os amantes acabam flagrados por Juliana, a empregada da casa, que passa a chantagear a patroa. Com o anúncio da iminente volta do marido, está armado o cenário para um caso exemplar de decadência do estilo de vida pequeno- burguês, com seus preconceitos e moralismos, seus tipos parasitários, suas relações amesquinhadas e seu frágil equilíbrio. Esta edição de O primo Basílio traz textos introdutórios inéditos de Lilian Jacoto, professora de literatura portuguesa da Universidade de São Paulo, e do escritor e crítico literário Silviano Santiago. 71) Os milagres do cão Jerônimo – Péricles Prade (85 páginas) Um livro espicaçante. Os contos que o constituem situam-se, a meu ver, num ponto arbitrário do espaço-tempo, descrevendo elipses perturbadoras que põem em xeque a atenção normal do leitor, desafiando-o. [...] Péricles Prade, acredito, entre os contistas atuais, cria o seu modern fairy tales e o faz invejavelmente, com alta dose de originalidade. (Cassiano Ricardo) Péricles Prade é um escritor singular na literatura brasileira, sem que ninguém se lhe assemelhe quanto à elaboração de seus escritos, em prosa ou em verso. Que seus textos são fantásticos, não há nenhuma dúvida, mas inteiramente diferentes de outros transgressores do real em nossas letras. (Almeida Fischer) SOBRE ALÇAPÃO PARA GIGANTES Temos que Alçapão para gigantes, refletindo uma atração sistemática do A. pela introdução do sobrenatural na articulação temática, cede à tentação de explorar os limites naturais, carregados de paixões, fraquezas e finitude, que presidem o discurso humano. 72) Os sertões – Euclides (664 páginas) Publicado pela primeira vez em 1902, "Os sertões" de Euclides da Cunha é um retrato do Brasil da época. A obra trata da Guerra de Canudos que aconteceu no interior da Bahia. O autor, que era correspondente do jornal O Estado de São Paulo, presenciou parte dos acontecimentos na região e os descreveu de forma fiel. Além de desenvolver um romance histórico que mistura uma narrativa literária, sociológica e geográfica. Euclides da Cunha nos deixa uma obra que se baseia em três pilares: a terra, o homem e a luta. Um livro telúrico. 73) Os Sonetos - Luiz de Camões (224 páginas) O desejo de plenitude amorosa, as dificuldades existenciais e a injustiça dos homens estão entre os grandes temas do Renascimento presentes na lírica de Camões. Ricos em antíteses e metáforas, seus sonetos estão entre as mais belas expressões literárias da língua portuguesa. A voz reflexiva que se ergue desses versos produz a elevação do espírito e o entusiasmo verbal. Esta edição traz os poemas mais representativos do acervo camoniano, comentados por dois experientes professores de Literatura. Prefácio e Notas Izeti F. Torralvo e Carlos C. Minchillo (Col. Bandeirantes) Ilustrações Hélio Cabral 74) Os Timbiras - Gonçalves Dias (62 páginas) Os Timbiras é um poema épico escrito por Gonçalves Dias. Publicado em 1857 em Leipzig, na Alemanha através da editora Brockhaus. 75) Papéis avulsos, de Machado de Assis (272 páginas) Papéis avulsos, primeiro livro de contos publicado por Machado de Assis (1839-1908) após o lançamento de Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), é integralmente composto por momentos antológicos da ficção curta brasileira. De “O alienista”, um dos mais famosos contos do autor, a “O espelho”, cujo enredo psicológico tem fascinado sucessivas gerações de leitores e escritores (inclusive Guimarães Rosa, que escreveu um conto homônimo como “resposta”), este livro concentra alguns dos melhores personagens e situações do criador de Dom Casmurro. Com introdução de John Gledson e notas de Hélio Guimarães, esta edição foi baseada na primeira edição do livro, única em vida do autor, e traz um pequeno texto introdutório de “Na arca”, que Machado cortou quando publicou o conto em livro. 76) Primeiras Estórias - Guimarães Rosa (184 páginas) Em "Primeiras estórias", João Guimarães Rosa constrói narrativas curtas que tratam de matérias diversas da experiência humana, como a busca da felicidade, a necessidade do autoconhecimento e as maneiras de se conviver com a inevitável finitude da vida. Composto por 21 contos, “As margens da alegria”, “Sorôco, sua mãe, sua filha”, “Famigerado” e “A terceira margem do rio” são alguns dos feitos sublimes desse escritor, que levou a artesania da palavra a patamares jamais experimentados na literatura delíngua portuguesa. 77) Quarenta Dias - Maria Valéria Rezende (248 páginas) "Quarenta dias no deserto, quarenta anos." É o que escreve Alice, a narradora de Quarenta dias, ao anotar num caderno escolar pautado seu mergulho gradual em dias de desespero, perdida numa periferia empobrecida que ela não conhece, à procura de um rapaz que ela não sabe ao certo se existe. Alice é uma professora aposentada, que mantinha uma vida pacata em João Pessoa até ser obrigada pela filha a deixar tudo para trás e se mudar para Porto Alegre. Mas uma reviravolta familiar a deixa abandonada à própria sorte, numa cidade que lhe é estranha, e impossibilitada de voltar ao antigo lar. Ao saber que Cícero Araújo, filho de uma conhecida da Paraíba, desapareceu em algum lugar dali, ela se lança numa busca frenética, que a levará às raias da insanidade. "Eu não contava mais horas nem dias", escreve Alice. "Guiavam- me o amanhecer e o entardecer, a chuva, o frio, o sol, a fome que se resolvia com qualquer coisa, não mais de dez reais por dia." 78) Quarto de Despejo - Carolina Maria de Jesus (200 páginas) O diário da catadora de papel Carolina Maria de Jesus deu origem à este livro, que relata o cotidiano triste e cruel da vida na favela. A linguagem simples, mas contundente, comove o leitor pelo realismo e pelo olhar sensível na hora de contar o que viu, viveu e sentiu nos anos em que morou na comunidade do Canindé, em São Paulo, com três filhos. 79) Quarup – Antonio Callado (574 páginas) Publicado pela primeira vez em 1967, Quarup é o romance mais famoso de Callado. Conta a história de Nando, um jovem padre que, perdido em conflitos existenciais ao ver-se diante dos pequenos prazeres da vida, ganha uma nova percepção do mundo, de seus semelhantes e de si mesmo numa tribo no Xingu. • O romance mostra, sob a ótica de seu protagonista, o período entre o suicídio de Vargas e o Golpe Militar de 1964, data em voga em 2014. • O livro apresenta informações biográficas do autor, ensaio sobre a obra assinado por Ligia Chiappini e trechos da última entrevista do autor. 80) Quincas Borba - Machado de Assis (360 páginas) Publicado pela primeira vez em livro em 1891, depois portanto de Memórias póstumas de Brás Cubas (1881) e antes de Dom Casmurro (1899), Quincas Borba é uma das obras mais marcantes da fase realista de Machado de Assis. Talvez por se situar justamente entre esses dois monumentos da obra machadiana, o romance muitas vezes foi considerado uma realização menor, uma espécie de mera continuação das Memórias póstumas - para irritação de seu autor, que em um raro comentário sobre a própria ficção afirmou que a presença do personagem Quincas Borba era “o único vínculo” entre os dois livros. Mais do que ao marco inaugural do Realismo no Brasil, porém, Quincas Borba remete ao Machado contista que começava a abordar temas historicamente mais próximos de sua época e a explorar os conflitos psicológicos de seus personagens com sua sofisticada e irônica narrativa em terceira pessoa presente em contos clássicos como “A cartomante” e “A causa secreta”. Neste romance da maturidade do autor, a história do provinciano Rubião - herdeiro da fortuna do idiossincrático filósofo Quincas Borba - e dos tipos urbanos da corte que o levam à ruína é narrada com o distanciamento, o ceticismo e o senso de humor implacável de que só Machado de Assis era capaz. Esta edição de Quincas Borba, além de mais uma centena de notas explicativas, traz uma extensa e abrangente introdução do britânico John Gledson, estudioso da obra machadiana e tradutor de Dom Casmurro para o inglês. 81) Relato de um certo oriente - Miltom Hatoum (152 páginas) Após um longo período de ausência, uma mulher regressa a Manaus, cidade de sua infância. Deseja encontrar Emilie, a extraordinária matriarca de uma família libanesa há muito radicada ali. Encontra a casa desfeita - como desfeitas para sempre estão as casas da infância. Situado entre o Oriente e o Amazonas, este relato é a busca de um mundo perdido, que se reconstrói nas falas alternadas das personagens, longínquos ecos da tradição oral dos narradores orientais. Com o sopro das obras que vieram para ficar, Relato de um certo Oriente apresenta ao público o talento de um escritor, a força de seu texto envolvente e, sobretudo, lírico. Recebeu em 1990 o Prêmio Jabuti de Melhor Romance e já foi publicado em vários países da Europa. 82) Retratos de Carolina - Lygia Bojunga Nunes (232 páginas) Retratos de Carolina é um romance com a trajetória bem desenhada e dolorosamente humana da personagem Carolina, com suas conquistas, seus desejos, suas perdas, seus amores, e a força mágica de seus sonhos fluindo em um texto ritmado. Dividido em duas partes, a primeira mostra o crescimento e a maturidade de Carolina, de menina um tanto insegura à jovem determinada a escrever seu destino com as próprias mãos. A segunda parte é um corte: é o encontro de Carolina com Lygia. Algo que, a princípio, causa estranhamento, e o resultado não poderia ser outro: o duelo entre duas mulheres fortes e determinadas. De um lado, Carolina, que insiste em se mostrar incomodamente presente depois do ponto final da narrativa, e se mantém firme na decisão de faz er sua criadora reescrever a história. De outro, a própria Lygia, que vira personagem do livro e tenta manter sua criatura sob controle. Aos poucos, porém, a mistura de Carolina e Lygia numa mesma casa, num mesmo espaço, mostra- se absolutamente natural. E no embate entre o desejo de Carolina de ganhar uma nova história, e o poder de vida e morte concentrado na pena de Lygia, revela-se esse momento único de criação, desfecho de um processo que jamais deixaria a escritora tranquila enquanto ela não o vivenciasse naquilo que é a essência de sua vida. 83) Romanceiro da Inconfidência - Cecília Meireles (360 páginas) Os poemas aqui reunidos – cada qual com vida própria – formam um longo e único poema, lírico e épico ao mesmo tempo em que conta a história de Tiradentes, o mártir da Inconfidência Mineira. Elaborado por meio de uma profunda pesquisa, a conspiração revolucionária de poetas é recriada com maestria pela imensa maior referência da poesia, Cecília Meireles. 84) Sagarana - Guimarães Rosa (336 páginas) "Sagarana" traz cenários e personagens típicos do interior do país, mais especificamente do sertão de Minas Gerais. A linguagem inventiva do livro é outro aspecto que distinguiria para sempre o autor no campo da literatura brasileira. Ao mesmo tempo em que incorpora fragmentos essenciais da oralidade sertaneja, pescando regionalismos e recuperando antigas expressões de linguagem do sertão, Rosa inova com a criação de neologismos cuidadosamente lapidados. Dentre os nove contos que fazem parte do livro, destacam-se os célebres “A hora e vez de Augusto Matraga”, “Conversa de bois” e “O burrinho pedrês” 85) São Bernardo, de Graciliano Ramos (288 páginas) No declínio de um atribulado percurso de vida, um poderoso fazendeiro do sertão alagoano conta a sua história. Em S.Bernardo somos apresentados a Paulo Honório, menino órfão que trabalhava como guia de um cego e vendia cocadas durante a infância para conseguir algum dinheiro. Mais tarde, ele passou a labutar na roça – tarefa a que se dedicou até os 18 anos, quando acabou preso após cometer um crime de honra. Ao ser solto, o principal foco de sua vida passa a ser amealhar bens e dinheiro. Para isso, toma um empréstimo de um agiota e começa a negociar gado, redes, rosários e diversas miudezas pelo sertão. Enfrentando uma série de percalços, Paulo Honório reage a tudo com frieza, e chega a empregar meios antiéticos para atingir seus objetivos. Após conseguir juntar algumas economias, retorna a sua terra natal, Viçosa, decidido a comprar a fazenda São Bernardo, onde havia trabalhado na juventude. Já mais velho, amargurado pela vida que levou, o narrador revisita dramas de seu passado e conflitos internos que permanecem inexplicáveis até o momento em
Compartilhar