Prévia do material em texto
Posição taxonômica • Filo: Nematelmintos • Classe: Nematoda • Família: Trichuridae • Gênero: Trichuris • Espécie: Trichuris trichiura • Não é exclusivamente humano Epidemiologia • É uma parasitose comum em países subdesenvolvidos, onde as condições de saneamento básico são precárias • Geohelmintíase; não se adapta bem a locais áridos ou muito frios, por isso as regiões tropicais, onde o clima é úmido e quente, são as que apresentam maior número de casos desta verminose • Prevalência de até 40% no Brasil, principalmente no Pará e em Alagoas Morfologia • É morfologicamente parecido com o Ascaris lumbricoides, porém é menor, medindo em média 4cm • Possuem cor esbranquiçada ou rósea • As fêmeas possuem cauda reta e capacidade de ovoposição (liberação de ovos) • Os machos são menores (3 – 4,5cm) que as fêmeas (3 – 5cm), possuem cauda curvada para que ocorra o acasalamento, além de possuírem uma espícula para a fixação do corpo da fêmea, protegido por uma bainha • A boca encontra-se na parte fina (esôfago); Trichocephalus: ‘’cabeça em forma de cabelo’’; a parte mais grossa é a cauda Ovos • Apresenta formato de barril • Casca resistente – possuem membrana tripla 1. Externa: constituída de lipídeos, com capacidade adesiva e consistência mole 2. Intermediária: constituída de quitina, protegendo contra condições externas 3. Interna: vitelínica • Presença de massa embrionária única quando é recém eliminado; no interior do ovo, tende a evoluir formando uma mórula e posteriormente uma larva • Presença de tampões de muco • O ovo não é liberado embrionado, ou seja, ainda não existe larva dentro dele – é formada no meio ambiente, a 34°C e durante +/- 2 semanas o L1 – L2: +/- 10 dias o L2 – L3: +/- 17dias o L3 – L4: +/- 22 dias o L4 – L5: +/- 32 dias • As moscas são veiculadoras de ovos e larvas de Trichuris trichiuris, depositando os ovos em alimentos Transmissão • É uma doença de transmissão fecal-oral • Um indivíduo se contamina quando ingere, acidentalmente, ovos do parasita contidos em alimentos plantados em terra adubada com fezes humana, água e/ou através do contato das mãos com a boca que manipularam solo infectado Ciclo biológico Fonte: CDC - https://www.cdc.gov/parasites / adaptado. Em 30 de outubro de 2019. • É um ciclo monoxênico (precisa apenas de um hospedeiro) I. Um indivíduo infectado libera milhares de ovos do parasita a cada evacuação II. Se as fezes entram em contato com o solo, os ovos encontram um local propício para amadurecer III. Após 2 – 3 semanas de amadurecimento no solo para completar o seu ciclo, os ovos passam a conter um embrião do verme capaz de infectar quem o consumir • Em ambientes úmidos e com pouca exposição solar direta, os ovos podem permanecer viáveis por meses; em locais secos, muito quentes ou com exposição solar direta, o ovo sofre desidratação e o embrião em seu interior morre rapidamente • Se houver ingestão antes do tempo de desenvolvimento, não ocorrerá infecção • A forma evolutiva infectante é a L1 (larva rabtoide) IV. Uma vez ingeridos, os ovos do parasito conseguem atravessar incólumes (sem lesão/ferimento) o estômago e eclodem ao chegar ao intestino delgado, liberando as larvas do verme pela ação do suco gástrico e pancreático V. Após 3 meses, as larvas, que antes estavam se desenvolvendo no intestino delgado (especificamente nas criptas cecais), tornam-se vermes adultos (L3 – L4) e migram para o intestino grosso, onde irão habitar definitivamente VI. No intestino grosso, o Trichuris trichiura está mergulhado na mucosa duodenal; a porção mergulhada é a fina, e pode viver por até 5 anos • A parte da cauda (porção posterior) fica no lúmen para sinalizar o acasalamento • Na mucosa, gera ação mecânica traumática, enzimática e, principalmente, tóxica – pode causar úlceras, abscessos, permitindo invasão bacteriana Ação • Ação mecânica: perfuração das células epiteliais para exposição da porção posterior (cauda) • Ação irritativa: penetração na mucosa e permanência para ação espoliativa (colabora para a inflamação) • Ação espoliativa: alimenta-se de sangue, podendo levar o hospedeiro à uma anemia (depende da carga parasitária) • Ação tóxica: causa alterações nas terminações nervosas da mucosa intestinal – pode levar a necroses fecais • Ação mecânica/irritativa/espoliativa gera processo inflamatório que causa edema de submucosa e sangramento da mucosa retal, causando inchaço Sintomatologia • Em geral, somente os indivíduos com os intestinos infestados com centenas de parasitos é que desenvolvem os sintomas da tricuríase – quanto maior a carga parasitária, maior a gravidade do quadro • Período pré-patente (período entre a penetração do agente etiológico e o aparecimento das formas detectáveis): 5 – 7 semanas • Baixa carga parasitária: menos que 1000 ovos/g de fezes: infecções leves; assintomático ou sintomatologia intestinal discreta o O indivíduo pode apresentar desconforto e distensão abdominal, náusea, flatulência e diarreia • Infecção moderada: entre1000 – 9999 ovos/g de fezes o Vermes restritos a região do ceco e cólon ascendente o Inflamação discreta e localizada, induzida pelo parasito devido a suas ações patogênicas o Dor de cabeça, dor epigástrica e abaixo do abdômen, flatulência, distensão abdominal, diarreia, náuseas e vômitos, perda de apetite (alteração sistêmica; pró-inflamatória – ação do TNF-alfa), anorexia, perda de peso • Infecção intensa: mais que 10.000 ovos/g de fezes; carga parasitária grande o Vermes restritos ao intestino grosso, reto e íleo distal o Tenesmo (sensação de presença de fezes no intestino), anorexia, perda de peso, dor epigástrica, cólicas, vômito, flatulência o Reação inflamatória aumentada o Ulcerações e sangramento na mucosa intestinal ▪ Deve-se incluir a tricuríase no diagnóstico diferencial de colite ulcerativa o Anemia (devido a ação espoliativa, mecânica e irritativa; perda de sangue excessiva) o Desnutrição grave; consequentemente pode causar retardo no desenvolvimento físico ▪ Alteração da permeabilidade da mucosa (acontece pois os enterócitos, células que realizam absorção intestinal, estão sendo destruídos pelos parasitos – que se alimentam deles; os enterócitos jovens não possuem a mesma capacidade absortiva, comprometendo a absorção nutritiva); encontrada apenas no local de aderência do parasita ▪ Outras alterações na mucosa consistem de petéquias ou hemorragia subepitelial, destruição celular e infiltração com eosinófilos, linfócitos e células plasmáticas, provocando reações de hipersensibilidade imediata, possivelmente envolvida na síndrome disentérica o Os sintomas mais avançados incluem a diarreia intermitente crônica, profusa, sanguinolenta, com presença abundante de muco e pus, e o prolapso retal (extravasamento de parte do reto através do ânus), principalmente em crianças com contaminação maciça – é comum conseguir observar vermes aderidos à mucosa do reto, que está exteriorizado ▪ As crianças geralmente tem baixo peso, são anêmicas e malnutridas Diagnóstico • Baseia-se no exame parasitológico de fezes através do método de sedimentação espontânea/ gravitacional (HPJ), com pesquisa de ovos do parasito • Os vermes adultos podem ser encontrados ao exame macroscópico das fezes • Não deve ser feito o uso de fezes diarreicas ou conservadas • Em alguns casos, podem ser feitos os exames de retossigmoidoscopia ou colonoscopia, demonstrando, em casos de tricuríase, uma mucosa friável, hiperemiada, percebendo-se os locais de aderência ou opróprio parasita adulto pendendo no lúmen intestinal • Em casos de prolapso retal, pode ser feito o exame da mucosa retal através da coproscopia parasitária Método de Kato-Katz • Quantitativo e discreto • Não pode usar fezes diarreicas ou conservadas Tratamento • Mebendazol (principal), Albenzadol (alternativa) – pacientes com infecção maciça; tratamento prolongado com taxa de cura, geralmente, acima de 90% – paralisia e morte do verme o Deve-se evitar o uso desses dois fármacos em gestantes e crianças menores de 2 anos; em gestantes infectadas, o tratamento é adiado até o pós-parto, para diminuir o risco de toxicidade o Outras drogas: Pamoato de Oxipirantel, Albenzadol, Nitazoxanida • Dietas leves, com pouca ingestão de fibras Profilaxia e prevenção • Tratamento da população parasitada • Educação sanitária e com relação aos alimentos • Saneamento básico Não consumo de água contaminada Prolapso retal com vermes de Trichuris trichiura