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CAPÍTULO X O SEGMENTO DE DISTRIBUIÇÃO DE CARNE BOVINA 10.1. Introdução O segmento de distribuição de carne bovina do Estado de Mato Grosso está voltado tanto para o atendimento do mercado interno como do externo. O diagnóstico do sistema permite identificar os vários entraves ou desacertos, comuns em economias dinâmicas e, ou, em desenvolvimento, e derivar ações corretivas para seu aperfeiçoamento e ampliação da sua competitividade. Os canais de comercialização físicos e não-físicos são úteis para retratar os sistemas de distribuição em uma determinada época ou a evolução destes através dos anos. Desse modo, é possível acompanhar as mudanças que ocorrem, por exemplo, em termos da permanência ou não de agentes tradicionais envolvidos na cadeia produtiva, verificar queda ou aumento da participação de cada agente e analisar as formas mais usuais de comando e, ou, organização que nela atuam. A identificação dos canais de comercialização também permite melhor visualização e determinação dos possíveis pontos críticos que estrangulam o funcionamento harmônico da cadeia, como: ausência de Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 325 concorrência, má logística distributiva, ausência de rastreabilidade, falta de organização e integração e coordenação entre os agentes. O processo de distribuição de carnes no Brasil difere de região para região, em decorrência de aspectos locacionais, culturais e econômicos. No entanto, se assemelham, genericamente, nos níveis tecnológico e profissionalizante, conforme identificados por Sabadin (2006) e IEL, CNA e SEBRAE (2000). De acordo com Soares (2007), excluindo os aspectos de origem-destino, apenas seguindo os fluxos institucionais, no Brasil, o processo de distribuição de carnes se apresenta como apresentado na Figura 10.1. Observa-se que 63% das carnes são vendidas através de redes supermercadistas. O varejo tradicional – açougues - representa 18,6%. A venda institucional, incluindo churrascarias, hotéis, restaurantes, butiques e outros, representa 8,1%, a realizada através do segmento atacadista representa 10,1%. A mesma pesquisa identificou que nas grandes redes de supermercado, a participação das carnes in natura é de 12,5% do total de vendas. Supermercados 63% Açougue 19% Institucional 8% Atacadista 10% Fonte: Decisão Consultoria, citado por Soares (2007). Figura 10.1 – Canais de distribuição institucional da indústria da alimentação, em volume. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 326 Comparativamente, em relação a outros produtos perecíveis vendidos nos supermercados, observa-se que a seção de açougues ou carnes ocupa o segundo lugar (8%) depois de frios e laticínios (14,7%), num total de 34,9% de perecíveis. De outro modo, carnes representam 23% do total de perecíveis (Tabela 10.1). Tabela 10.1 – Participação nas vendas na seção de perecíveis, em São Paulo – 2003 Seções Participação relativa (%) Frios e laticínios 14,7 Açougues 8,2 Hortifrutis 6,4 Padaria e confeitaria 3,2 Comida pronta 1,4 Peixaria 1,0 Total de perecíveis 34,9 Fonte: Fundação Abras/ACNielsen (2003), citado por Soares (2007). Nos açougues localizados dentro dos supermercados, a carne de boi destaca-se como a mais importante, tendo uma participação de 60% no valor total das vendas de carne, seguida pela carne de aves, 34%, carne de porco, 5%, e outras, 1%. Ainda de acordo com Abras (2003), citado por Soares (2007), a carne bovina é comprada em maior volume e com maior freqüência em todas as classes sociais. A carne bovina também responde por 45% do total de carnes compradas nos supermercados. A carne de frango vem em segundo lugar com 36% do total, a de porco, em terceiro, com 6% e a de peixe com 13%. Outro dado que mostra a importância da carne bovina para os supermercados é o que se refere à freqüência com que ela é requisitada, ou seja, a cada 2,4 dias. A carne de frango, a cada três Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 327 dias, a carne de peixe, a cada 7,8 dias, e a de porco, a cada 14 dias. Assim, constata-se a importância para o supermercado em utilizar a carne de boi como elemento forte na atração de clientes e na formulação de promoções diversas, de acordo com Abras (2003), citado por Soares (2007). Os dados dessa pesquisa referem-se a São Paulo. 10.2. Caracterização dos segmentos de distribuição da carne bovina no Mato Grosso Embora o conhecimento dos canais de comercialização seja de grande importância, são poucos os estudos e, ou, bases de dados atuais que identifiquem os fluxos de origem e destino na distribuição das carnes da pecuária de corte do Estado de Mato Grosso. Já com relação ao destino dos demais tipos de carne e, principalmente, para o mercado interno, as quantidades e percentuais carecem de maiores investigações. No entanto, quanto à distribuição institucional de carne para os mercados do estado, verificou-se que esta, de fato, se assemelha àquelas identificadas de acordo com IEL, CNA e SEBRAE (2000) para o Brasil conforme apresentada na Figura 10.1, com adaptações. As peculiaridades regionais e o caráter informal da atividade em algumas dessas regiões tornam difícil afirmar quanto do produto segue por cada um dos fluxos. No entanto, visitas locais e percepções dos pesquisadores, a partir de entrevistas com os principais agentes que atuam na cadeia durante esse diagnóstico, mostram que os formatos de distribuição no estado de fato se assemelham, em muito, aos padrões dos sistemas de distribuição observados em outros estados do país. Na análise a seguir, dos principais direcionadores de competitividade, são identificados aqueles que contribuem positivamente para seu desempenho e os que contribuem negativamente. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 328 10.2.1. Tecnologia Cadeia do frio e equipamentos de manuseio da carne No Mato Grosso, vencer longas distâncias é uma necessidade imperiosa, condicionada pela sua localização no interior do país, distante dos principais portos e mercados consumidores internos da carne produzida no estado. Há necessidade de uma infra-estrutura de caminhões, câmaras e balcões frigoríficos, automação, informação e mecanismos de controle capazes de manter a qualidade da carne nessa cadeia de frio até o seu destino final, dentro e fora do estado. De modo geral, o diagnóstico revela o segmento de distribuição e dispõe de uma cadeia de frio suficiente para o atendimento e, ou, abastecimento dos principais mercados, do estado e fora do estado, ocorrendo sua operacionalização praticamente sem reclamações, porém, atuando dentro de limites bem estreitos, carecendo de maiores investimentos se uma possível expansão de mercado e, ou, exportação vier a ocorrer no futuro próximo. Os frigoríficos e supermercados, especialmente no caso das grandes redes, dispõem geralmente de boa infra- estrutura distributiva. Na maioria deles, o setor de carne tornou-se um dos mais bem aparelhados e, ou, tecnologicamente equipados para sustentar a gestão de suprimentos e atendimento aos compradores. Tecnologia e sistemas de informações De acordo com as informações levantadas, não se conseguiu identificar um sistema de informação perfeitamente ajustado aos moldes apregoados pelos Supply Chain Management. Porém, é crescente o uso de informações em interesse e, ou, benefício próprio e, ou, para troca entre alguns segmentos da cadeia, em níveis variados. Alguns supermercadistas entrevistados afirmam já dispor de sistemas informatizados para troca de informações. Com isso, procuram fazer contatos com os fornecedores paraprogramar abastecimento de suas unidades, o mais rápido possível, a fim de evitar a formação de grandes Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 329 estoques, e garantir a disponibilidade da carne sem interrupções, num processo totalmente automatizado. O sistema de informação em termos de equipamentos para pesagem, embalagem, venda de carnes, informatização, como uso de código de barras, balanças eletrônicas, cortes especiais e outros equipamentos, apesar de não apresentar grandes inovações, mostrou-se satisfatório para o nível de atendimento atualmente praticado nos supermercados e, mais intensamente, na exportação. Quanto ao processamento das informações geradas por essas operações, por exemplo, para aferição da satisfação dos consumidores com os serviços e com a qualidade da carne adquirida, verificou-se que esse é ainda de uso restrito. Em adição, notou-se crescimento na utilização de sistemas de informação nos açougues evidenciado por maior profissionalização desses pontos de venda. Seria interessante que houvesse maior empenho de todos os segmentos da cadeia produtiva em ampliar o uso desses instrumentos. Uma experiência nesse sentido é relatada por Pitelli (2004) ao falar do Sistema de Informação da Carne (SIC), criado, em São Paulo, pela Associação Brasileira de Marketing Rural (ABMR), pela Associação de Criadores de Nelore do Brasil (ACNB) e pelo Fundo de Desenvolvimento da Pecuária do Estado de São Paulo (Fundepec). Tal sistema constituiu uma iniciativa importante para sinalizar melhorias no relacionamento entre os consumidores e os demais elos da cadeia produtiva da pecuária de corte. De acordo com Marques (2004), citado por Pitelli (2004), o SIC é muito importante para mostrar a segurança do produto e seu valor, apressar a rastreabilidade e reduzir a clandestinidade. A idéia de melhorar a integração na gestão da cadeia de gado de corte, através do ECR ou Efficient Consumer Response, ainda é pouco difundida e avançou muito pouco nos últimos anos, haja vista as poucas informações e estudos sobre essa prática. No entanto, a concretização de alianças mercadológicas entre os agentes da cadeia, no Mato Grosso, mostra que avanços têm ocorrido. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 330 Silva e Vasquez (2007) comentam sobre a necessidade da implantação de mecanismos de controle na cadeia produtiva, através de alianças mercadológicas na pecuária de corte do Pantanal como único meio facilitador e fiscalizador de qualidade e aporte tecnológico para aquela região. Isso é evidente para todas as cadeias e se constata maior interesse no uso desses mecanismos de controle e coordenação na pecuária de Mato Grosso. No entanto, são nítidas as dificuldades de se efetivarem esses mecanismos, em face das relações e inter- relações de mercado, pouco desenvolvidas, horizontal e verticalmente, verificadas nos diversos elos da cadeia produtiva no estado. Destinação de resíduos graxos/cárneos Os restos de carne, aparas, sebo e ossos precisam de destinação adequada, para evitar uma série de impactos ambientais e de problemas relacionados à saúde pública. Esses resíduos são gerados tanto em nível de abate e processamento como de distribuição e consumo. A maior parte desses dejetos é gerada no abate e processamento, e menor parte nos supermercados, açougues, hotéis e hospitais. Podem ter vários destinos, por exemplo, como lixo urbano, aterros, enterramento, compostagem, queima, incineração e reciclagem ou industrialização. Segundo Barros e Licco (2007), o problema da destinação de resíduos tem recebido pouca atenção das autoridades públicas, tanto nos aspectos de pesquisa, regulamentação sanitária e de meio ambiente, e de como tratar e dispor dos mesmos, evitando seus perigos e conseqüências. O mesmo autor conscientiza sobre a necessidade de se buscar uma gestão e destinação adequadas desses resíduos para que não se tornem num gargalo à produção e comercialização do produto nobre e, economicamente importante, que lhes dão origem – as carnes. Segundo entrevistados, nesse diagnóstico, a destinação de resíduos graxos e, ou, cárneos, em nível de distribuição no Estado de Mato Grosso, é relativamente pouco significativa, ficando mais afeita aos frigoríficos essa preocupação. Porém, pode-se constatar que, com relação a essa parcela de Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 331 resíduos, tida como pouco significante pelos agentes do segmento de distribuição, não há uma preocupação mais séria, levando a crer que essa tenha destino pouco recomendável constituindo, portanto, fator limitante ao desempenho do segmento nesse particular. 10.2.2. Insumos Disponibilidade de carne A disponibilidade e a diversidade de produtos é uma das características de economias desenvolvidas, provando que os sistemas produtivos são capazes de produzir e comercializar com eficiência esses produtos, atendendo aos desejos e às necessidades das populações por meio de um suprimento contínuo. Nas diversas praças e instituições visitadas nesse diagnóstico, no Estado de Mato Grosso, verificou-se que não há problemas quanto à disponibilidade dessas no fornecimento, não se constituindo, portanto, fator restritivo para o abastecimento e atendimento do consumo tanto para o mercado interno quanto para o externo. O estado é capaz de suprir todas as demandas atuais e futuras, na opinião de vários agentes do setor. Qualidade da carne No que diz respeito à qualidade da carne, que pode ser definida sobre vários aspectos, como uniformidade no abate (raça, sexo e idade de animais), rastreabilidade, tipos de corte, principalmente da carne vendida para o mercado interno, constatou-se que há muito a desejar. Mesmo, para a carne que segue para o exterior, considerada de boa qualidade, em face de seu regime de produção a pasto, ainda assim, segundo Oshiai (2007), comparada a de outros países como a carne da Irlanda, Escócia, Argentina e a do Brasil, particularmente, ainda é vendida como uma commodity, tendo, portanto, muito que melhorar ou diferenciar. Esta é uma opinião confirmada por outros agentes da pecuária de corte do Estado de Mato Grosso entrevistados neste diagnóstico. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 332 Preço da carne O preço da carne não representa um problema na distribuição, ou seja, não afeta negativamente o desempenho do sistema. Há, no entanto, opiniões divergentes no setor quanto ao que o preço possa representar para o consumidor de carne bovina. Alguns consideram que a carne tem um preço baixo e pouco afetaria no orçamento dos consumidores, e que os problemas surgidos no consumo, redução, por exemplo, derivam-se de hábitos culturais. Por outro lado, segundo outros, a carne é um produto nobre e caro para os padrões de renda de grande parte dos consumidores brasileiros, que reduzem o consumo sensivelmente, caso haja elevação de seu preço. Analisando os preços, identificaram-se taxas geométricas de crescimento de 0,08% semanais para o traseiro com osso (boi e vaca), e de 0,14% semanais para o traseiro sem osso (boi), no período de fevereiro de 2005 a maio de 2007, para as médias móveis quadrissemanais do preço real deflacionado pelo IGP-DI para o fim do período. Já o dianteiro, tanto com osso, como sem osso (boi e vaca), apresentou decréscimo da taxa geométrica da ordem de 0,20% semanais no mesmo período. Embalagens As mudanças no setor de embalagens ocorrem como conseqüência direta de avanços tecnológicos e de resposta às novas tendências de consumo e às exigências das novas formas de comercialização, tanto no atacado como no varejo, levando-seem conta mais do que nunca a preocupação com a segurança alimentar, principalmente do ponto de vista de sanidade e conveniência do produto, segundo IEL, CNA e SEBRAE (2000). A obrigatoriedade das Portarias Ministeriais n.o 304, de 22 de abril de 1996, e n.o 145, de 1.o de setembro de 1998, que exigem a comercialização de carnes já desossadas e embaladas para o setor varejista, tem se consolidado e transformado o processo de comercialização de carnes no estado e no país. Segundo IEL, CNA e SEBRAE (2000), as principais dificuldades enfrentadas por processadores e distribuidores estão relacionadas à mão-de-obra Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 333 não especializada, custo de implantação da desossa e equipamentos de embalagem, descarte de ossos, sebos e subprodutos e falta de informação e esclarecimento do consumidor final sobre aspectos de conservação e preparo das carnes embaladas. Alguns pontos de venda são receosos em comercializar produtos, como no caso dos embalados a vácuo, por temor à falta de informação do consumidor, que pode vir a correlacionar sua aparência a uma eventual má qualidade e, por sua vez, identificar negativamente a marca. De início pode-se afirmar que o processo de adoção de embalagens no varejo seria uma tendência irreversível e esse traria melhoria de competitividade para o setor, porém, isso parece não acontecer na velocidade desejada. Segundo entrevista com supermercadista de Mato Grosso, grande parte da carne que procede dos frigoríficos para os supermercados vem sendo entregue em caixas, já desossadas, embora também ocorra na forma de peças inteiras, porém, em menor proporção. No varejo, há aparente preferência por carne embalada em bandejas, geralmente com pouco volume de carne processada ou já em cortes específicos para atender a consumidores cujas famílias são cada vez menores e, ou, em que o número de pessoas vivendo sozinhas ou solteiras e, ou, separadas cresce, e que dispõem cada vez de menos tempo para cozinhar. Também, é crescente a preferência por carnes frescas, para consumo imediato, ou seja, que não sejam congeladas e, ou, estocadas. Há, ainda, a procura tradicional, com essas mesmas características, porém, para a carne preparada na presença do cliente e depois pesada e embalada. Essa procura por carne embalada e, ou, preparada no açougue ocorre simultaneamente dentro de um quadro de ‘conflito’ na mente do consumidor, em decorrência de dois fatores: o fator cultural e o fator renda. O fator cultural leva o cliente pela procura da carne a ser preparada no momento da compra ou na sua presença, já que gosta de carne limpa, sem gordura e sebo. Porém, não querem pagar pela limpeza, ou seja, querem que a carne escolhida seja pesada após a toalete, e só, então, embalada, já que Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 334 consideram que a carne é um produto caro para seu nível de renda. Por outro lado, o supermercado tenta oferecer a carne já limpa e embalada em bandejas tentando agradar outro tipo de consumidor. O consumidor olha o preço da carne embalada e tenta comparar com as vantagens que teria se ela fosse pedida no balcão. A decisão entre uma e outra quase sempre vai depender do preço final surgido dessa comparação. Como essa comparação, muitas vezes é difícil, pois o cliente quase sempre acaba preferindo o processo de preparação da carne sob sua vista. A não ser que outros fatores como pressa e, ou, aparência e, ou, experiência façam o consumidor optar pela carne embalada. Esse conflito, ao que parece, está longe de ser resolvido, devendo prevalecer, por enquanto, o pedido de preparo de carne na presença do consumidor. Energia A preocupação com o meio ambiente reflete cada vez mais sobre a questão do uso da energia que resulte numa maior preservação da natureza. Para tanto, há necessidade de se buscarem fontes alternativas energéticas que, além da preservação ambiental, dêem sustentabilidade à atividade econômica. Na distribuição de carne, o uso de energia é intenso, tanto no transporte como na armazenagem, ambos dependentes de energia para a locomoção em si e para refrigeração dos ambientes ou containers para conservação. O custo crescente da energia elétrica requer uma gestão do transporte e armazenagem cada vez mais eficiente. O Estado de Mato Grosso, por estar logisticamente distante de portos e dos mercados centrais, depende fortemente da disponibilidade e do uso racional de energia. Segundo se constatou nesse diagnóstico, o custo com esse importante insumo no estado preocupa os empresários do setor, já que afetam negativamente o desempenho e a competitividade do segmento, requerendo ações que resultem não somente na busca de tecnologias e processos poupadores de energia, mas de alternativas energéticas que priorizem o uso de energia renovável. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 335 10.2.3. Relações de mercado Relações com frigoríficos, distribuidores e consumidores No segmento de distribuição, merece destaque o comportamento dos agentes e as relações de negócios que estabelecem entre si nos diferentes elos da cadeia produtiva. Nesse particular, constatou-se, no Estado de Mato Grosso, que as relações dos supermercados, principais distribuidores no varejo, com os frigoríficos e com os consumidores mostram um quadro geral de pouca amistosidade e, ou, interesse, não justificável, em face da grande importância comercial da carne bovina representa para todos esses agentes. Segundo IEL, CNA e SEBRAE (2007), Siffert Filho e Faveret Filho (1998) e Sabadin (2006), a cadeia bovina é a menos integrada se comparada com a de aves e suínos. Na cadeia de aves e suínos prevalecem sistemas de relações contratuais entre os agentes, o que lhes confere maior controle sobre custos, qualidade e quantidade da matéria-prima e produtos e rapidez na difusão de inovações, conferindo maior competitividade a essas em relação à de bovinos. Na cadeia de carne bovina prevalece relações de mercado entre fornecedores e processadores, com reduzida utilização de contrato, tornando mais lenta a introdução de progresso técnico e mais difícil a redução de custos e a diferenciação de produtos. O nível de integração contratual é baixíssimo comparado com o de outros países, segundo Jank (1996). Deve-se ressaltar, contudo, que os programas de melhoria de qualidade, integração e rastreabilidade têm efetivamente introduzido mudanças nas relações de mercado na cadeia produtiva da pecuária de corte no país com os incentivos do FUNDEPEC, e com as iniciativas das grandes redes de supermercados atuando em vários estados da federação, como do Grupo Pão de Açúcar e do Carrefour, principalmente nos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (PAIVA; GUIMARÃES, 2007). Outro programa que revela avanços nas relações de mercado e na organização da cadeia produtiva da pecuária de corte do Brasil e também de Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 336 Mato Grosso, com apoio da Tortuga e da Associação Brasileira de Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), é o programa de Qualidade Nelore Natural, surgido em 1999 e vigorando até os dias de hoje. Trata-se de um programa de aplicação simples e prática ao alcance de qualquer pecuarista, independentemente do tamanho de seu rebanho. A ACNB funciona como órgão gestor do processo e aglutinador da cadeia, em que cada elo tem a sua participação. Parcerias com empresas de insumos do setor são feitas com o intuito de levar informações e novas tecnologias ao pecuarista. Para informar e nortear o trabalho dentro das fazendas foram criados, em 1999, os julgamentos de carcaça,que, em 2003, culminou na criação de um campeonato nacional, anual, de qualidade, denominado Circuito Boi Verde de Julgamento de Carcaças, que passou a vigorar todos os anos, estimulando ainda mais a participação dos pecuaristas. Avaliaram-se, nesses quatro anos, 10.972 animais, do quais, 10.578 foram aprovados. Até 2005 ocorreram 58 abates, envolvendo 751 pecuaristas, 34.723 animais inscritos e 33.450 aprovados. Além dos objetivos de integração, o programa prevê a produção de carne diferenciada, partir de animais padronizados, e obtenção, da mesma forma, de um produto com marca e preços melhores. O programa também criou um selo de qualidade. De acordo com Bonfin (2007): o gado nelore é a primeira raça produzida no estado com garantia de origem reconhecida pelo Governo. A raça recebeu o selo Qualidade MT durante a premiação da 6.ª etapa do Campeonato do Circuito Boi Verde, promovido pela Associação de Criadores de Nelore do Brasil. A certificação do nelore com o selo Qualidade MT é uma das ações do Programa Mato-grossense de Melhoramento da Pecuária (Prommepe) da SEDER-MT. As Associações de Criadores de Nelore do Brasil e de Criadores de Nelore de Mato Grosso foram as primeiras instituições a serem beneficiadas com a certificação do gado nelore, em razão do convênio assinado com a Secretaria de Desenvolvimento Rural em agosto de 2002. Para a certificação do gado nelore produzido em Mato Grosso, o Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 337 Prommepe considerou o processo de criação do gado a pasto, também chamado boi de capim ou carne saudável. As relações de mercado com supermercados têm forçado a formação de alianças mercadológicas para fidelizar relação com supridores ou fornecedores. Mesmo com importadores isso acontece, ou seja, a relação de fidelização. Isso pode ser feito para se obter sempre o mesmo tipo de corte e, ou, tamanho de peças, ou seja, do tipo de um filé com mais ou menos gordura e outras ações semelhantes. A aliança ou a parceria é uma tendência forte por questões puramente mercadológicas e constitui uma condição essencial para o sucesso tanto dos frigoríficos quanto dos supermercados e dos importadores. Segundo dirigentes de supermercados entrevistados, até há pouco tempo estes compravam carne de qualquer frigorífico. Uma vez que atualmente os clientes começaram a reclamar da qualidade da carne, devolvendo-as, eles não tinham como repassar essa reclamação, já que não olhavam a origem daquela carne. Agora, viram que se fizerem um acordo ou fidelizarem ou prestigiarem um numero menor de frigoríficos, mais habilitados, eles sairão ganhando ou poderão repassar queixas e, ou, negociar melhores condições de preços, qualidade e espaço na gôndola. Agora compartilham os ganhos e os prejuízos mais de perto. O problema é dos dois, o que é muito importante. Outro aspecto que tem contribuído para melhor coordenação na cadeia é a necessidade que os frigoríficos têm de fazer lotes uniformes para exportação e, para isso, têm que premiar ou relacionar bem com aqueles pecuaristas que oferecem ou podem oferecer lotes uniformes e, ou, de animais mais bem acabados. A fidelização e, ou, as parcerias estão crescendo entre o frigorífico e os supermercados, por causa das novas exigências dos consumidores. Os supermercados estão cedendo mais e não impondo condições como sempre fizeram. As negociações estão ficando mais favoráveis a ambos. Siffert (2003), citado por Pitteli (2004), no entanto, enfatiza o problema da falta de coordenação nas relações entre os elos da cadeia e mostra que ela ocorre mais freqüentemente via preço que por qualquer outra forma. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 338 Com relação ao mercado externo, observa-se que o Brasil já possui várias marcas de carne, todas com um diferencial, que pode ser nos tipos de corte especiais para clientes especiais; pode ser preço, pode ser logística, rastreabilidade e muitas outras coisas. O setor importador faz exigências diferentes para cada frigorífico. Comparada, porém, às carnes de outros países, a carne brasileira exportada, segundo Oshiai (2007), ainda deixa a desejar. A carne da Irlanda, num supermercado, é vendida por 48 euros, a da Escócia, por 38 euros, a da Argentina, por 25 a 30 euros, enquanto a carne do Brasil é vendida por 20 euros. No entender do autor, o Brasil vende uma carne commodity, devendo, portanto, continuar o processo de diferenciação e melhoria de qualidade para conquistar melhores condições de negociação e venda. Formação de preços A formação de preços é um processo complexo que depende da estrutura de mercado, do poder de negociação das firmas, da oferta e da demanda, dos concorrentes, localização, condições climáticas e locacionais, dentre outras. Segundo entrevistados neste diagnóstico, a formação dos preços no segmento de distribuição no Estado de Mato Grosso não representa um entrave maior ao funcionamento da cadeia. No entanto, sabe-se que os supermercados realmente têm um poder maior de impor condições. Porém, constatou-se, a partir das entrevistas com lideranças do setor e supermercadistas, que a liderança dos supermercados não é tão absoluta e que novas formas de negociação entre as partes são crescentes, sendo cada caso um caso. As negociações entre as partes têm sido incrementadas. Não são mais somente os supermercados que comandam a negociação entre os elos, pois há situações em que ora os frigoríficos impõem condições de preço e quantidade, e outras em que são obrigados a aceitar condições. Mas, a negociação é crescente e não há contrato nem aliança, porque não há ainda uma continuidade no processo. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 339 Rastreabildade A rastreabilidade no segmento da distribuição é importante para dar continuidade a um processo que parte do consumidor vai até o produtor e volta na distribuição que deve concretizar ou fechar o círculo. No Estado de Mato Grosso, percebe-se que a rastreabilidade na distribuição é uma realidade mais voltada para a exportação e menos para o mercado interno. Nos supermercados, há uma preocupação com uma rastreabilidade parcial, voltada para atender alguns clientes mais exigentes que expressam alguma preocupação com a origem da carne. Essa preocupação também já se verifica em açougues, em menor proporção, e em casas de carne ou butiques que valorizam bastante esse quesito. No entanto, percebe-se que a rastreabilidade como pretendida ou proposta ainda tem um espaço muito grande para ser percorrido, para que o atendimento de todos os seus critérios seja plenamente satisfeito no estado. 10.2.4. Características da demanda As características da demanda foram, neste diagnóstico, levantadas na ótica do agente ofertante e não em consulta direta ao consumidor. Dessa forma, reflete o ponto de vista dos supermercadistas, butiques e casas de carne. O subfator imagem inclui qualidade; higiene e limpeza; saúde/nutrição; atendimento personalizado ou diferenciado; responsabilidade socioambiental. A imagem do produto cárneo foi detectada desfavorável para a competitividade da cadeia. Em geral, os consumidores mato-grossenses ainda preferem cortes e preparos no balcão do açougue ao invés de comprar os produtos disponibilizados no auto-atendimento (ou gôndolas). Existe algum descontentamento quanto ao formato disponibilizado, e as informações remetem sempre ao balcão enquanto produto de maior qualidade para o consumidor final. Existe a crença de que o consumidor mato-grossense ainda estaria num estagio inicial acerca da consciência e responsabilidade socioambiental, não remunerando estes atributos. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrialda Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 340 O atendimento personalizado confere vantagem ao consumidor que procura o balcão do açougue, prática mais presente em casas de carne ou butiques de carne. O atendimento e entrega em domicílio é uma prática que contribui para a competitividade do segmento, mas com pequeno peso, considerada uma prática de marketing do agente. Normalmente, existe um valor mínimo do cupom fiscal para que esta entrega seja realizada e, no caso dos supermercados, está associada à venda de outros produtos além dos cárneos. A diversidade de produtos cárneos e complementares ainda é vista como pequena, em geral, e padronizada entre os agentes, não se observando uma oferta relevante de produtos como carne orgânica ou com atributos que conferissem nichos de mercado. Práticas de venda de produtos como ‘espetinhos’ prontos foram mencionadas, mas com resultados pífios para os seus vendedores. Existe prática regular de promoção de produtos cárneos, principalmente nos supermercados da capital, com diferentes mídias. Em geral, as práticas promocionais e os descontos acontecem de modo coordenado com os frigoríficos, associando a disponibilidade de carne às necessidades previstas no período da promoção. Estas práticas conferem competitividade à cadeia via preços menores e ampliação do consumo. Existem também algumas práticas de degustação, normalmente associada aos embutidos com carnes bovinas associadas às carnes de outras espécies animais. O preço da carne teve resultado desfavorável na competitividade da cadeia. Em Cuiabá, os preços reais (deflacionados pelo IGP-DI para maio de 2007, médias móveis centradas quadrisemanais) de carne bovina tiveram elevações estatisticamente significativas no período de fevereiro de 2005 a maio de 2007, com exceção da costela. As carnes com maiores elevações de preços reais representadas pela taxa geométrica de crescimento semanal foram: picanha (0,27% semanais); patinho (0,20% semanais); filé (0,18% semanais); e alcatra (0,17% semanais). Um segundo grupo de carnes pode ser representado por coxão duro, coxão mole, contrafilé e maminha, com taxas de crescimento da ordem de Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 341 0,12% semanais. O terceiro grupo, representado por músculo, lagarto, acém e fraldinha, teve taxa de crescimento de 0,06% semanais. Em termos de informação ao consumidor, o resultado foi muito desfavorável à competitividade da cadeia. Em geral, não se sabe se a carne vem de animais machos ou de fêmeas, e não se tem identificação da origem e classificação de qualidade. Normalmente, as informações restringem-se àquelas obrigatórias pela Lei de Defesa do Consumidor, principalmente peso e validade. A rastreabilidade não é repassada aos agentes de distribuição, que alegaram não ser uma informação remunerada diferentemente pelo consumidor final. Assim, as encomendas são feitas no frigorífico, onde são conferidos a qualidade e estado geral da carne recebida sem, no entanto, exigir a rastreabilidade. Portanto, este item atua desfavoravelmente para a competitividade da cadeia. Em termos de crédito ao consumidor, as práticas nos supermercados estão associadas ao uso de cartões de fidelização, uso do cheque pré-datado para clientes previamente cadastrados, ou cartões de crédito de bandeiras nacionais. Já para as casas de carne, ainda são comuns cadernetas e cartões de crédito. O quesito renda do consumidor foi avaliado pelos supermercadistas e casa de carne como baixo e significativamente importante para o consumo de carne bovina, atuando desfavoravelmente para a competitividade da cadeia. O preço de outros produtos cárneos surge como concorrentes da carne bovina, como é o caso dos preços de carne suína, aves e peixes. Estes apresentam, em geral, preços menores que os de carne bovina, e, ante aumentos de seus preços, relativamente maiores que a renda, causam decréscimos na demanda por carne bovina. Além disso, estratégias agressivas de marketing, como degustação e propaganda, têm sido adotadas pelas cadeias produtivas de carne de suínos e de aves, aumentando o consumo dessas em detrimento da carne bovina. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 342 10.2.5. Estrutura de mercado Concentração, escala e barreira à entrada O processo de concentração na distribuição varejista já é uma realidade no Brasil, de acordo com Soares (2007), acontecendo o mesmo na pecuária de corte no Brasil (SABADIN, 2006). Segundo Gazeta Mercantil (1998), citado por IEL, CNA e SEBRAE (2000), estima-se que a distribuição do produto para o consumidor final seja: supermercado/hipermercados/restaurantes/hotéis/refeições industriais (65%); açougues (30%); butiques de carne (5%). Estes valores alteraram-se nos últimos anos, a favor dos setores de atacado e varejo, conforme Sabadin (2006) confirma. Aguiar e Silva (2002), citados por Pitelli (2004), reforçam o poder de concentração maior na cadeia dos supermercados, também pelo fato de terem o domínio da informação e por estarem mais perto dos consumidores. Uma mudança ainda pouco significativa, mas que vem ocorrendo nos canais de distribuição, é a formação de parcerias e alianças estratégicas entre indústria, atacadistas e varejistas. No Mato Grosso, essa mudança ainda acontece de forma mais incipiente ainda, pelo que se tem constado, porém de forma crescente entre vários segmentos da cadeia produtiva. A concentração e o crescimento dos supermercados permitem que se obtenham economias de escala na aquisição de carne bovina, o que lhes conferem maior poder de mercado. Logística De acordo com os levantamentos realizados durante a compilação deste diagnóstico, percebeu-se que é crescente a preocupação das redes de supermercados no que se refere à criação de um centro de distribuição atacadista de carnes no estado para desossa, preparação e obtenção de carnes padronizadas, de melhor qualidade para melhor atender a seus clientes. Outro objetivo seria obter menor custo e uma logística mais adequada de entrega a todas as lojas da rede. Isso, por um lado, além de alterar os formatos de distribuição, criando Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 343 novas alternativas de distribuição, pode significar maior eficiência distributiva e conferir maior agilidade e competitividade ao segmento, se de fato houver competição no setor. Essas alterações podem, contudo, acabar fortalecendo e, ou, criando barreiras à entrada e sustentando a tendência de concentração no segmento. Do mesmo modo, como verificado por IEL, CNA e SEBRAE (2000), também se comprovou, com este diagnóstico, a tendência de modernização e, ou, transformação dos açougues tradicionais no Mato Grosso, através de um processo de diferenciação de serviços e produtos, para evitar a concorrência excessiva na venda de carne bovina. É comum encontrar, portanto, açougues que vendem não somente carnes, mas também oferecendo produtos complementares à carne, como temperos, carvão, farinha/farofa, sal, espetos e outros utensílios para preparação e consumo de carne. Além da disponibilização desses produtos, podem-se verificar como instrumentos de diferenciação entre pontos de vendas questões relacionadas à atmosfera/ambiente do ponto de venda e higiene. Alguns pontos de venda diferenciam-se pelo oferecimento de produtos com marcas “fortes” e informações ao consumidor sobre os produtos e o modo correto de prepará-los. As churrascarias, segundo entrevistados neste diagnóstico, têm alterado, ainda que de forma incipiente, a estrutura de distribuição de carnes no país e no estado, ao constituir uma rede alternativa para comercialização institucional de carne, que crescesignificativamente. 10.2.6. Gestão Formato de ponto de venda O atual diagnóstico confirma a participação dos agentes identificados por outros estudos na distribuição da carne na cadeia da bovinocultura de corte de Mato Grosso e traz informações que apenas redefinem ou reforçam os papéis dos agentes e, ou, fluxos já identificados e apresentados na Figura 10.2. Os Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 344 supermercados representam, de fato, o principal agente do segmento de distribuição de carne bovina no estado. Sua participação pode chegar a cerca de 80% do total de carne comercializada, segundo um dos supermercadistas entrevistados, e com tendência a ocupar um espaço cada vez maior. As setas em vermelho, na Figura 10.2, indicam o principal caminho percorrido na distribuição de carnes no estado, ou seja, aquele que se origina nos frigoríficos e segue para os supermercados, e desses para os consumidores. Os açougues ocupam, em ordem de importância, o segundo lugar como agente distribuidor de carne no estado. Por último, sem se poder especificar percentuais, vêm butiques de carnes e, ou, casas especializadas e distribuidores institucionais, quais sejam: as churrascarias, os hotéis e os hospitais. Constatou-se ser crescente o papel das churrascarias que tendem a tornarem-se cada vez mais importantes no processo distributivo de carne bovina no estado e no país. Já com relação às butiques, que procuram atender nichos de mercado, segundo alguns entrevistados, representam menos de 1% na distribuição de carnes no estado. Tanto os supermercados como os hipermercados possuem parte da comercialização de carne como um auto-serviço, e parte ainda no formato de varejo tradicional ou como açougue, para agradar a todos os tipos de cliente. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 345 Fonte: IEL, CNA e SEBRAE (2007), adaptado para o Estado de Mato Grosso e para o ano de 2007. Figura 10.2 – Canais de distribuição institucional de carne bovina no Estado de Mato Grosso. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 346 Gestão de pessoas do setor cárneo A análise da gestão interna das empresas de distribuição revela os recursos e, ou, equipamentos que estas dispõem e o modo como os usam para operarem e atingir seus objetivos, conferindo-as maior ou menor competência e, ou, eficiência como elo da cadeia produtiva. Nessa busca pela gestão perfeita, é interessante observar os aspectos considerados relevantes por algumas empresas nessa direção. Assim, é importante salientar a preocupação recente de supermercados quanto às exigências para gestão e qualificação de fornecedores e, ou, pessoas do setor cárneo, de acordo com Elanco (2007), citados por Soares (2007): 1) possuir uma empresa regularmente constituída de acordo com a legislação específica ao seu ramo de atividade; habilitada a emitir nota fiscal de venda, e que também recolha os impostos e encargos cabíveis; 2) capacidade do produtor de manter o fornecimento de maneira consistente e, ou, constante; 3) confiabilidade do produtor em relação ao cumprimento dos contratos; 4) possibilidade de incrementar a capacidade produtiva sem detrimento dos demais aspectos da sustentabilidade; 5) capacidade de cumprimento do prazo de entrega; 6) vulnerabilidade da produção aos fatores naturais e de mercado; 7) obedecer a todas as leis nacionais, estaduais e municipais, às exigências administrativas e aos tratados e acordos internacionais entre os quais o Brasil é signatário; 8) estar a empresa em dia com a situação tributária, fiscal e social (impostos federais, estaduais, municipais, INSS e FGTS); 9) respeito às normas relacionadas à saúde e à segurança dos trabalhadores; 10) não possuir títulos desabonados na praça; 11) ter os produtos registrados nos órgãos competentes, atendendo às normas técnicas em vigor e ter definida uma política da qualidade, com base nas Boas Práticas de Produção (BPP); Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 347 12) ser uma empresa comprometida com ações de responsabilidade social; 13) possuir método produtivo moderno e eficaz; 14) certificação e segurança dos alimentos são essenciais; 15) adequação às regras determinadas pelo varejista na produção e processamento; 16) produto de qualidade, de acordo com os critérios avaliados pelo comprador; 17) possuir preço competitivo; 17) entrega e logística desenvolvidas (no prazo e qualidade estipulados); 18) escala de acordo com as necessidades do cliente (frigoríficos); 19) respeito a contratos; 20) os produtos orgânicos devem continuar crescendo, mas permanecerão com uma parcela reduzida do mercado; 21) as redes de varejo procuram formas de diferenciar-se e atender às necessidades do consumidor. A tendência é aumentar a busca por diferenciação, seja em produtos, serviços ou custos; e, 22) inovar em parcerias pode ser uma solução (novos produtos, promoções, marcas diferenciadas). De acordo com visitas e entrevistas realizadas, com representantes de algumas redes de supermercados no Estado de Mato Grosso, constatou-se que essas medidas vêm sendo, de forma mais ou menos precisa, incorporadas e, ou, requeridas por alguns supermercados no estado. Alguns desses têm avançado, fortemente, na busca desses critérios, principalmente nos aspectos de marketing e, ou, estratégias de venda e na gestão da cadeia de suprimentos. Segundo Sabadin (2006) e IEL, CNA e SEBRAE (2000), quanto à gestão de pessoas do setor cárneo, empregadas nos segmentos de distribuição, o fator que mais preocupa é o nível de profissionalização dos agentes que trabalham no preparo das carnes e no contato direto com os consumidores. Os supermercados, em geral, são os que têm mais investido em recursos humanos, oferecendo treinamento técnico, e em gestão de compra e venda. Os açougues têm também procurado evoluir, investindo em treinamento de pessoal e marketing. No Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 348 entanto, segundo visitas aos supermercados e aos açougues no desenvolvimento deste diagnóstico, no Mato Grosso, particularmente no que se refere à gestão de pessoas, pode se constatar que esses atuam ainda de forma deficiente, com bastante espaço para melhorias. Marketing de venda de carne bovina Segundo Faveret Filho e Paula (1997), citados por Pitelli (2004), os frigoríficos não trabalham com marcas, e os produtores não entregam animais diferenciados (idade, sexo, gordura etc.). Tal fato cria dificuldades para tornar a carne um produto diferenciado na distribuição, ficando a diferenciação mais na mão do varejista no momento de atender à solicitação dos clientes no balcão dos açougues. Barcellos e Ferreira (2003), citados por Pitelli (2004), enfatizam o caráter commodity da carne distribuída no mercado interno, em relação às demais carnes, um produto sem diferenciação, e, portanto sem muito valor agregado. No contexto atual, no entanto, ocorrem mudanças, porém, ainda, tímidas e, ou, capazes de sustentar iniciativas mais ousadas na elaboração de um marketing consistente e permanente. Os supermercados e as casas de carnes especializadas se enquadram nessa categoria, pois procuram ser cuidadosos na busca de locais mais apropriados para instalar pontos de vendas, obviamente, onde existe um mercado consumidor ainda não completamente ou corretamente atendido por outros pontos de venda. Procuram oferecer o produto de acordo com o tipo de cliente que freqüenta a loja. Em alguns casos, existe uma preocupação constante com o desenvolvimento ou a aquisiçãode produtos de marca ou com selo de qualidade. É o caso, por exemplo, descrito por Martinho (2002) que diz o seguinte: O setor pecuarista do Estado de Mato Grosso começou a se envolver numa primeira experiência de venda de carne com o Selo de Qualidade Nelore Natural de Mato Grosso para a rede de supermercado Bom Marché do Rio de Janeiro. Ao todo serão comercializadas 30 toneladas de carne por semana do frigorífico Friboi. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 349 Visitas recentes feitas a diversos supermercados no Mato Grosso, durante este diagnóstico, confirmam investimentos crescentes em ações de marketing por parte do setor como elemento de atração e fidelização de clientes. Constatou-se, pela pesquisa, que os supermercados cada dia se preocupam mais em atender clientes ou consumidores de carne que desejam saber a marca da carne, a origem, a qualidade, o modo de preparo, a higiene, a limpeza e outros atributos. Na opinião dos varejistas, estas mudanças têm ocorrido com bastante freqüência e rapidez. Muitos consumidores já consideram a origem ou procedência da carne como um fator indispensável. Segundo este diagnóstico, os frigoríficos estão investindo cada vez mais em marketing direcionado, principalmente para os supermercados. O que os frigoríficos fazem é tentar criar um diferencial que pode estar na marca, no nome do frigorífico, no preço, na qualidade, na fidelidade etc., acirrando a competição entre eles. Com relação a preço, por exemplo, obviamente as butiques cobram um preço maior, uma vez que oferecem produtos especiais para um público especial. No caso dos supermercados, o que se observou é que esses têm procurado oferecer um mix de produtos, que atendam a uma gama maior de consumidores de vários níveis e, ou, classes sociais, através de cortes especiais, marcas e atendimento pessoal ou sob encomenda, entrega em domicílio e crédito. Conforme se constatou, os açougues no Estado de Mato Grosso têm investido, ainda que de forma limitada, em algumas estratégias de venda e, ou, marketing, principalmente no design externo e interno das lojas, e na modernização dos equipamentos para operacionalizar o processamento e a venda da carne. Além disso, procuram dar atendimento mais personalizado aos clientes, bem como estabelecer estratégias promocionais. Porém, há ainda um longo caminho a percorrer para se alcançarem níveis mais satisfatórios de marketing efetivo em termos de mais conveniências, qualidade e atendimento. Com relação às feiras-livres, o marketing decorre das características próprias que cercam essa forma de comércio como a sua localização, Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 350 normalmente em bairros importantes, pelo atendimento cordial e pelo papel, até certo ponto folclórico, que exerce sobre os consumidores. O grande diferencial das feiras costumava ser o preço, geralmente bem mais baixo que os praticados noutros pontos de venda, o que nem sempre se verifica mais, principalmente comparada com as carnes vendidas em supermercados em maior volume e melhor qualidade. Gestão da cadeia de suprimentos de carne bovina Algumas grandes redes afirmam dispor de frigoríficos cadastrados para fornecimento de carnes dentro dos critérios que consideram importantes, e esses critérios, ao que parece, começam a predominar nas relações entre frigorífico e supermercados, haja vista a necessidade de maior compromisso e, ou, controle da qualidade da carne fornecida. A facilidade de entrega, em face da maior e melhor disponibilidade de infra-estrutura de distribuição e o aumento no número de frigoríficos e, ou, fornecedores fazem com que alguma forma de fidelização se torne necessária. Acordo sobre preços e formas de pagamento também não são bem conhecidos. O que ocorre é uma parceria implícita, em que os varejistas procuram oferecer um padrão específico de produtos e tentam obter dos fornecedores as condições que melhor atendam às suas necessidades na aquisição desses produtos. Neste diagnóstico observou-se que comumente se trocam informações com os fornecedores e se discutem preço e qualidade, e se elege um ou dois parceiros especializados em determinados tipos de carne. Na opinião de alguns, em um futuro próximo, as grandes redes vão ter contratos claros sobre as quantidades que compram e sobre prazos. No Mato Grosso, foram constatados casos em que o frigorífico dispõe de pontos de venda de carne próprios em rede de lojas, e, ou, casas de carne e, ou, redes de açougues espalhados pela cidade. Esses pontos distribuem não somente a carne do frigorífico, mas de outros frigoríficos e de outras marcas. Alguns açougues se tornaram pontos de venda de carne, através de forte esquema publicitário, por exemplo, atraindo os clientes com cartazes que promovem tipos e, ou, cortes de Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 351 carnes com preços reduzidos. Nesses pontos de venda (açougue) é possível encontrar carne de vários outros frigoríficos, e, ou, marcas, além de produtos complementares e, ou, de suporte a festas e, ou, a churrascos. Esses oferecem serviços de orientação ao consumidor como forma de fidelização dos mesmos. No Estado de Mato Grosso conseguiu-se identificar que, embora não muito comum, existem redes de casas especializadas e, ou, butiques que operam com um custo operacional muito elevado, ao contrário do acontece com os supermercados que têm esse custo diminuído. Essas butiques procuram trabalhar ao máximo na diferenciação do produto, especialmente por meio de carnes especiais ou de melhor qualidade, e através de cortes especiais. Para atingir um público restrito e especial, priorizam a aquisição de alguns poucos fornecedores que, normalmente, têm uma marca forte e, ou, podem oferecer carnes segundo critérios por elas estabelecidos. Há preocupação, por exemplo, com origem, sexo e idade de abate dos animais. Algumas butiques adquirem carnes já desossadas e, ou, manipuladas dos frigoríficos, mas outras adquirem carne para manipulação e, ou, desossa, para produzirem cortes sofisticados. Embora adquiram carne de marcas conhecidas, ao que parece, a maior parte das butiques e, ou, casas de carnes, preferem trabalhar com marca própria, já que dispõem de equipamentos mais elaborados de manipulação e desossa e processamento. De modo geral, adquirem carnes na medida da necessidade sem nenhum acordo prévio e por preços negociados. Nas feiras livres, tanto nas cidades maiores como nas menores e do interior, os vendedores de carne fazem sua aquisição a partir de abatedouros e, ou, matadouros, onde os cuidados sanitários deixam muito a desejar, e a origem quase sempre é desconhecida. Não há preocupação com cortes e, ou, padrões de qualidade. Geralmente, nessas os preços são menores, mas também os volumes comercializados tendem a cair cada vez mais. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 352 10.2.7. Ambiente institucional Legislação sanitária As Portarias n.° 304 e 145 continuam impactando a cadeia produtiva da pecuária de corte no país, conforme previsto e, ou, esperado que acontecesse. Estudos recentes mostram tendência de mudanças em todos os elos da cadeia, embora não ainda na intensidade desejada. As limitações para que os impactos sejam maiores decorrem tanto de restrições dos segmentos de processamento quanto dos próprios consumidores, muitos deles arraigados nos hábitos de consumo. Os impactos são mais evidentes nos frigoríficos, supermercados e butiques de carnes e menos nos açougues, embora alguns venham fazendo ajustes para melhorarem o visual, higiene e layout dos pontos de venda. Sabadin (2006) e IEL,CNA e SEBRAE (2000). No Estado de Mato Grosso, os efeitos das Portarias 304 e 145 já se consolidaram, com resultados bastante positivos para a competitividade da cadeia. Fiscalização sanitária Praticamente não se constataram problemas de fiscalização no segmento de distribuição, principalmente no que diz respeito aos pontos de vendas de carne no Estado de Mato Grosso, que possa representar alguma ameaça ao desempenho do setor. Segundo entrevistados neste diagnóstico, no Brasil, os frigoríficos estão cada dia mais ajustados com relação às exigências institucionais, legais e tributárias. Abate clandestino é uma prática cultural dentre outras causas, como tributária. Mesmo em áreas desenvolvidas é difícil achar carne sifada. Exigências de rastreabilidade Entrevistas com supermercados revelam que estes têm se preocupados com a rastreabilidade, em razão da qualidade e segurança requeridas pelos novos clientes. Estes dizem que procuram trabalhar com poucos frigoríficos, justamente para atender a esse quesito. No entanto, verificou-se que, de modo mais geral, Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 353 nos supermercados e açougues, apesar dos avanços obtidos, a prática da rastreabilidade ainda deixa a desejar, sendo, portanto, necessárias ações mais incisivas para que seu uso seja mais efetivo. Nas regiões mais tradicionalmente exportadoras, a rastreabilidade é uma preocupação mais visível e praticada. Paiva e Guimarães (2007), informando sobre programas de grandes redes de supermercados que atuam na produção e comercialização através de alianças mercadológicas no Estado de Mato Grosso, afirmam que trabalham com rebanhos rastreados, porém, ainda numa forma resumida. A expectativa é, no entanto, de se fazer investimentos crescentes por parte das empresas envolvidas para atender mais plenamente à demanda, com selo de garantia, tanto para o mercado interno quanto externo. 10.3. Consumo As alterações na dieta alimentar nos grandes países consumidores de carne tem proporcionado uma transição do consumo de carne bovina para outras carnes consideradas, pelo mercado consumidor, como mais saudáveis, as chamadas carnes brancas, entre elas o frango e o peixe. Ademais, problemas sanitários como a crise do “mal da vaca louca”, ocorrida em 1990 e 2000, além das mudanças nos preços relativos das carnes concorrentes, alterações na renda e na preferência do consumidor, têm intensificado essa alteração no consumo mundial de carnes. Comportamento similar é observado no Brasil. Desde a década de 1950, principalmente, dois fenômenos têm sido responsáveis pelas alterações nos hábitos alimentares dos brasileiros: a urbanização, que faz com que as pessoas passem a fazer suas refeições predominantemente fora de casa; e a globalização, que introduziu diferentes produtos e formas de aproveitamento destes. A necessidade de introduzir novas tecnologias, à busca de mais eficiência na produção, exigiu o desenvolvimento de ensaios para aprimoramento de raças e manejos, assim como a introdução de rações e insumos. Nesse aspecto, Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 354 a adição de resíduos animais em rações bovinas, na Europa, foi responsável pelo chamado “mal da vaca louca”. A conseqüência foi a estigmatização da carne bovina em diversas regiões do mundo, por algum tempo. No Brasil, tem havido, nos últimos 40 anos, mudanças no foco das questões relativas à alimentação das populações, não apenas pelas razões apontadas, como também decorrente da compreensão da disponibilidade e preços caracterizada na quantificação e na relação com a qualidade, considerando os aspectos nutricionais dos alimentos, valor protéico e aparência. Estrategicamente, alguns desses valores têm sido enfatizados por campanhas de marketing da carne suína e de aves, especialmente frangos, em face de problemas sanitários ou de outra natureza. Na Tabela 10.2 mostrada a evolução do consumo per capita de carne bovina, suína e de frango nos últimos anos. Observa-se que apesar de algumas oscilações, o consumo de carne bovina vem se mantendo a patamares semelhantes ao ano de 1996, chegando a apresentar redução em determinados períodos. Todavia, o consumo per capita de carne de frango aumentou consideravelmente nos últimos 10 anos. Esse aumento do consumo de carne de frango pelos brasileiros esta diretamente relacionada à manutenção do preço desse bem, além do aumento do poder de compra pelos consumidores diante do controle inflacionário possibilitado pelo Real a partir de 1994. Não restam dúvidas de que o mercado de frango no Brasil está consolidado, mas não-saturado. Uma questão importante nesse caso é o “efeito graduação”, caracterizado por um movimento de ascensão dos consumidores de uma classe de renda para outra, o que gera a adoção de padrões de consumo mais sofisticados, além do efeito derivado de uma renda disponível superior. Isso pode ocorrer em função do crescimento da taxa do emprego e da renda, gerando substituição de uma carne por outra (CARVALHO, 2007). Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 355 Tabela 10.2 – Consumo per capita de carne bovina, frango e suínos no Brasil (kg/pessoa/ano) Ano Bovina Suína Frango 1996 38,0 9,56 22,05 1997 35,8 9,26 23,83 1998 35,8 9,98 26,31 1999 35,3 10,7 29,14 2000 36,3 14,3 29,91 2001 35,3 14,3 31,82 2002 36,6 13,7 33,81 2003 36,4 12,4 33,34 2004 36,4 11,8 33,89 2005 36,5 11,5 35,48 2006 37,0 12,7 35,48 Fonte: ABEF (2007), ABIEC (2007) e ABIPECS (2007). A partir de 1999, houve importante crescimento no consumo da carne suína, em decorrência de investimentos e de marketing. Também a adoção de um sistema de produção intensiva permitiu um preço mais competitivo no mercado. Certamente, os investimentos em controle sanitário e bem-estar animal auxiliaram no processo de divulgação da melhoria, o que possibilitou aumento de modo significativo do consumo até 2001. Entretanto, apesar de todo o esforço na produção, visando estimular o aumento do consumo desse tipo de carne, o hábito alimentar dos brasileiros continua retraído em relação ao consumo de carne suína. Além disso, o preço similar ao da carne bovina e o superior ao da carne de frango continuam sendo fatores de retração do consumo de carne suína no Brasil. Verifica-se na Tabela 10.2 que há um crescimento positivo no consumo de carne de frango, estável na carne bovina e oscilante na carne suína. Nota-se, portanto, uma linha ascendente do consumo de carnes no Brasil, conforme pode ser visualizado na Figura 10.3. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 356 30 40 50 60 70 80 90 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 ano kg /h ab /a no Fonte: ABEF (2007), ABIEC (2007) e ABIPECS (2007). Figura 10.3 – Consumo per capita de carnes – Brasil – 1994 a 2006. O consumo de carnes no Brasil pode ser caracterizado pelo seguinte pressuposto: a população de baixa renda, cujo determinante é preço, está preocupada com quantidade de carne que poderá adquirir, ao passo que para a população de alta renda, a preocupação é visivelmente com a qualidade do produto adquirido, e o preço não interfere na decisão. Essa pressuposição é parcialmente validada pelo levantamento realizado pela empresa de Consultoria Decisão (SOARES, 2007), como pode ser observado na Tabela 10.3. De acordo com esse levantamento, realizado com uma amostra de 500 consumidores na cidade de São Paulo, o preço é citado pelos consumidores de classe A e B em 42% dos entrevistados, ao passo que para consumidores de menor renda (classes C, D e E), o preço é citadopor 58% dos entrevistados como atributo importante na escolha da carne. O item qualidade do produto, no entanto, tem importância similar para todas as faixas de renda. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 357 Tabela 10.3 – Atributos considerados pelos consumidores na escolha da carne AB CDE 1 Aparência geral: cor e frescor da carne 74% 73% 2 Higiene e limpeza do estabelecimento 65% 60% 3 Qualidade 59% 58% 4 Data de validade dos produtos 44% 62% 5 Preço 42% 58% ... 7 Ter o carimbo do SIF 32% 18% ... 9 Origem e procedência 27% 13% Fonte: Decisão Consultoria, citado em Soares (2007). Outra informação importante retirada desse levantamento é o que o item mais lembrado pelos consumidores refere-se à aparência geral da carne (cor e frescor), sendo salientado por 74% nas classes A e B e 73% nas classes C, D e E. Outro aspecto importante a ser considerado quando se analisa o consumo de carnes no Brasil é a relação entre os preços desses produtos no atacado e varejo, e da arroba do boi gordo. No Estado de Mato Grosso, essa comparação pode ser feita mediante dados de evolução da arroba do boi gordo e cortes no atacado, fornecidos pelo IMEA (Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola) e de cortes de carne no varejo, disponibilizados pela APR (Associação de Produtores Rurais). Todos os dados foram deflacionados pelo IGP-DI, base agosto de 2004, da FGV (Figura 10.4). Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 358 0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 23 -fe v-0 5 6-a br- 05 20 -m ai- 05 1-j ul- 05 11 -ag o-0 5 22 -se t-0 5 4-n ov -05 16 -de z-0 5 26 -ja n-0 6 10 -m ar- 06 20 -ab r-0 6 1-j un -06 13 -ju l-0 6 24 -ag o-0 6 5-o ut- 06 16 -no v-0 6 28 -de z-0 6 8-f ev -07 22 -m ar- 07 3-m ai- 07 0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 Indice boi/tcs Indice boi/picanha Linear (Indice boi/tcs) Linear (Indice boi/picanha) Fonte: IMEA e APR, dados trabalhados pelos autores. Figura 10.4 – Índices de variação de preços da arroba do boi gordo e traseiro com osso e arroba do boi gordo e picanha. A linha de tendência indica que a relação entre a evolução da arroba do boi gordo em Cuiabá é acompanhada pela evolução do preço da carne no atacado (relação boi/traseiro com osso – TCS), ao passo que a relação do mercado de boi gordo com o preço no varejo não apresenta tendência linear, essa é decrescente, ou seja, a variação do preço da carne no varejo (picanha) é superior à da arroba do boi gordo ao longo de dois anos. Esses dados justificam a queda no consumo per capita de carne bovina no Brasil. Apesar da ausência de série de preço do frango no atacado e varejo em Mato Grosso para comparar com a evolução do preço da carne bovina, empiricamente esse foi um dos principais fatores de alteração no consumo. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 359 10.3.1. Local de aquisição da carne Como citado anteriormente, supermercados/hipermercados/restaurantes/ hotéis/refeições industriais, açougues e boutiques de carnes são os principais locais de aquisição de carne bovina, com tendência para concentração na primeira classe de estabelecimentos (IEL, CNA e SEBRAE, 2000; CARVALHO, 2007), fazendo com que os frigoríficos prefiram fornecer para as redes de super/hipermercados. Alguns frigoríficos, contudo, têm percebido que essa sistemática de venda tem feito com que eles se tornem vulneráveis, já que grande parte de suas produções tem como destino um só cliente. Quanto aos atributos que definem a qualidade da carne bovina, esses foram pesquisados pela Consultoria Decisão em Soares (2007) em uma amostra constituída de 50 locais de venda, em que 30 eram formados por supermercados de grande/médio porte, 14 compreendiam aqueles de pequeno porte, além de seis açougues e três maiores redes em São Paulo, de acordo com a Tabela 10.4. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 360 Tabela 10.4 – Ranking dos atributos que definem a qualidade da carne bovina Ranking Atributos 1 Cor 2 Procedência 3 Frescor 4 Tipo de criação 5 Teor de gordura 6 Maciez 7 Consistência 8 Temperatura do caminhão que faz o transporte 9 Data de validade 10 Aparência 11 Segurança alimentar da carne que consome 12 Brilho 13 Sabor 14 Odor/cheiro Fonte: Decisão Consultoria em Soares (2007). Assim, para os consumidores finais, o atributo xor (que na pesquisa com os consumidores entra no item aparência) é o principal item que define a qualidade da carne bovina vendida nos supermercados, açougues e boutiques de carne, na seqüência estão a procedência e o frescor da carne. Os itens sabor, odor e cheiro foram considerados, pelos entrevistados, pouco importantes na definição da qualidade da carne. 10.3.2. Caracterização do consumo Dados da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) mostram que o Brasil exporta atualmente em torno de 20% da produção nacional de carne bovina, e que a quase totalidade (80%) é destinada ao consumo interno. Tais Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 361 percentuais refletem a importância do consumidor interno na cadeia produtiva desse produto. Assim, maior conhecimento acerca do segmento de consumo de carne bovina nos estados brasileiros é extremamente relevante quando se objetiva ampliar a competitividade dessa cadeia. Almeida (2006) afirma, ainda, que, do ponto de vista das políticas públicas, o conhecimento da demanda por alimentos permite não somente fazer inferência sobre a qualidade de vida das famílias, mas também auxilia a indústria ofertante a direcionar suas estratégicas e políticas de investimentos. Na Tabela 10.5 é apresentado o consumo per capita de carnes na área urbana e rural nas regiões brasileiras, segundo dados estimados pela POF 2002/03 (IBGE). A diferença em relação às estimativas da ABEF, ABIEC e ABIPEC está relacionada ao fato de as estimativas do IBGE serem feitas somente com o consumo domiciliar, através da POF (Pesquisa de Orçamento Familiar), ao passo que as estimativas das associações levam em consideração também o consumo institucional (restaurantes etc.). Tabela 10.5 – Aquisição domiciliar per capita anual em quilogramas de carnes no Brasil com base nos dados da POF de 2002/03 Regiões Bovina de primeira Bovina de segunda Suína Frango Centro-Oeste 7,006 7,398 2,542 11,829 Nordeste 5,128 5,944 0,892 13,741 Norte 9,995 10,944 1,073 17,524 Sudeste 6,485 6,271 2,477 13,483 Urbana Sul 6,332 9,48 4,816 14,806 Centro-Oeste 5,917 7,544 5,669 15,765 Nordeste 3,375 7,013 2,782 9,621 Norte 4,268 8,787 6,521 15,095 Sudeste 3,847 4,426 4,556 13,37 Rural Sul 5,567 12,506 16,138 25,047 Fonte: IBGE – Pesquisa de Orçamento Familiar (2003). Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 362 Os dados mostram que a região Centro-Oeste apresenta o maior consumo per capita de carne bovina de primeira, tanto na área urbana como na rural. As regiões Sul e Sudeste mostram similaridades no consumo de carne bovina de primeira na área urbana, mas o mesmo não ocorre na área rural. Outra característica interessante é que o consumo per capita de carne bovina de segunda na região Sul do Brasil é consideravelmente superior ao consumo da carne de primeira em ambas as áreas. Não foi possível a coleta de dados oficiais a respeito dos estados de destino da carne produzida no Estado de Mato Grosso,mas, empiricamente, o principal estado comprador da carne mato-grossense é São Paulo, seguido por Minas Gerais e Rio de Janeiro, todos pertencentes à região Sudeste do Brasil. Diante da importância do consumo nessas regiões, apresentou-se na Tabela 10.6 o consumo per capita de carne bovina de primeira e segunda nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e também de Mato Grosso. De acordo com os resultados, Mato Grosso lidera com maior consumo per capita de carne bovina, ainda que o consumo de carne bovina de segunda seja ligeiramente superior ao consumo de carne bovina de primeira. Tabela 10.6 – Aquisição alimentar domiciliar per capita anual, em quilograma, com base nos dados da POF 2002/03 Item da POF São Paulo Minas Gerais Rio de Janeiro Mato Grosso Total de carne bovina 16,475 11,414 15,879 19,601 Carne bovina de primeira 6,841 4,531 7,427 7,292 Carne bovina de segunda 7,518 4,306 4,673 8,583 Outras carnes bovinas 1,586 2,187 2,807 3,300 Vísceras bovinas 0,530 0,396 0,972 0,426 Fonte: IBGE – Pesquisa de Orçamento Familiar (2003). Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 363 Através dessas estimativas de consumo per capita de carne bovina é possível fazer inferências sobre a elasticidade-renda do consumo de carnes. De acordo com Bertasso (2000), o conhecimento do impacto das variações da renda sobre a demanda por carnes, expresso pelas elasticidades, é de suma importância para a formulação de estratégias de oferta do produto a médio e longo prazos, bem como para o planejamento de políticas sociais voltadas a suprir carências nutricionais, sempre necessárias em países com grande contingente de pobres. Martins (2003) afirma que a representatividade da carne bovina no contexto econômico nacional e na dieta do consumidor brasileiro faz com que a implementação de análises sobre o consumo desse alimento seja de grande importância, podendo auxiliar os agentes do setor na tomada de decisão quanto à produção e comercialização. O conhecimento das elasticidades-renda de carne bovina possibilita que sejam feitas análises sobre o seu consumo interno, o que permite a identificação de sobejos exportáveis. Ainda assim, estudos dessa natureza podem sustentar a formulação de políticas setoriais. 10.3.3. Elasticidade-renda A estimativa da elasticidade-renda do consumo mostra a variação percentual do consumo em relação à variação percentual da renda, mantidas demais influências constantes. Sintetizando, mostra o quão sensível é o consumo em face das variações na renda. Hoffmann (2007) estimou a elasticidade-renda do consumo de carne bovina no Brasil no ano de 2003. Moraes (2007) estimou a elasticidade-renda do consumo de carne bovina para Mato Grosso, região Centro- Oeste e para o Brasil, também com dados da POF de 2002/03. Apesar de os resultados dos autores apresentarem pequena diferença na elasticidade para o Brasil, os dados para a carne bovina de primeira mostram que a elasticidade do consumo de carne bovina é positiva e que, de acordo com Hoffmann, o aumento de 10% na renda da população em geral provoca um Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 364 acréscimo de 5,2 % no consumo de carne de primeira e apenas 1,1% no consumo de carne de segunda. Moraes (2007) estima um aumento de 5% no consumo de carne bovina de primeira e 0,6% na carne segunda, em face do aumento de 10% na renda da população do Estado de Mato Grosso (Tabela 10.7). Tabela 10.7 – Coeficientes de elasticidade-renda do consumo físico de carne bovina – 2002 a 2003 Pesquisadores Regiões Bovina de primeira Bovina de segunda Hoffmann Brasil 0,520 0,110 Brasil 0,630 0,250 Centro-Oeste 0,630 0,170 Moraes Mato Grosso 0,509 0,068 Fonte: Elaborado a partir de Hoffman (2007) e Moraes (2007). 10.3.4. Projeções de consumo Através das estimativas de elasticidade-renda é possível fazer projeções de consumo futuro de carne bovina através de simulações com vários cenários de crescimento da economia Brasileira. IEL, CNA e SEBRAE (2000) afirmam que a maneira mais comum de projeção de demanda alimentar envolve a taxa de crescimento populacional, a taxa de crescimento da renda e a elasticidade-renda, conforme a fórmula: ( ) + + − ⋅+=+⋅+= rr rr r j r j rrr j r j r jt pp pPIBCpCC 1 11 ,0,0, ηγη Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 365 em que r jtC , é quantidade consumida do produto j projetada para o ano t, na região r; r jC ,0 , quantidade efetivamente consumida no ano-base selecionado; rjη , elasticidade-renda da demanda do produto j, na região r; rγ , taxa esperada de crescimento da renda per capita, na região r, entre o ano-base e o ano t; rp , taxa de crescimento da população na região r, entre o ano base e o ano t; e rPIB , taxa de crescimento do produto interno bruto da região r (País), entre o ano base e o ano t. Para o cálculo das projeções de consumo foram considerados três cenários para o crescimento da economia através das estimativas do PIB (Produto Interno Bruto). Para o cenário pessimista, considerou-se o crescimento do PIB de 3%, cenário moderado com crescimento de 5% e cenário otimista crescimento de 7%. Na quantidade consumida, considerou-se a estimativa de consumo nacional obtido no Anualpec 2007, ou seja, de 6.507 toneladas equivalente-carcaça. No caso da elasticidade-renda, uma vez que ela é variável para diferentes tipos de carne, considerou-se o índice de 0,5. De acordo com IEL, CNA E SEBRAE, esse valor pode ser baixo para alguns tipos de carne mais preferidas e também para consumidores de menor renda, mas é uma boa variável para o agregado de corte de carnes e para um suposto consumidor representativo. Para a estimativa de crescimento populacional também utilizou-se a mesma estimativa empregada por IEL, CNA E SEBRAE, de 1,2% ao ano. De posse desses números, foram realizados os cálculos e as projeções, que são apresentados na Tabela 10.8. Considerando um cenário pessimista de crescimento da economia em torno de 3% ao ano, chega-se em 2010 com um consumo estimado em torno de 7,2 milhões de toneladas equivalente-carcaça e, em 2017, o consumo ultrapassará 8,722 milhões de toneladas. Para um cenário de crescimento da economia moderado (em torno de 5%), as estimativas de aumento de consumo aproximam- se de 43%, de 6,747 em 2007 para 9,703 milhões em 2017. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 366 Tabela 10.8 – Projeções de consumo de carne bovina no Brasil, considerando-se três cenários de crescimento da economia (mil toneladas equiva- lente-carcaça) Cenários Ano Pessimista Moderado Otimista 2007 6.682,6890 6.747,7590 6.812,8290 2008 6.863,1216 6.997,4261 7.133,0320 2009 7.048,4259 7.256,3308 7.468,2845 2010 7.238,7334 7.524,8151 7.819,2938 2011 7.434,1792 7.803,2332 8.186,8006 2012 7.634,9020 8.091,9529 8.571,5803 2013 7.841,0444 8.391,3551 8.974,4445 2014 8.052,7526 8.701,8353 9.396,2434 2015 8.270,1769 9.023,8032 9.837,8669 2016 8.493,4717 9.357,6839 10.300,2466 2017 8.722,7954 9.703,9182 10.784,3582 Fonte: Resultados da pesquisa. * Cenário pessimista: crescimento médio de 3% ao ano; Cenário moderado: crescimento médio de 5% ao ano; Cenário otimista: crescimento médio de 7% ao ano. As estimativas mostram que mesmo com crescimento pessimista ou moderado, a produção de carne bovina deverá aumentar consideravelmente, para acompanhar o aumento na renda da população brasileira. No cenário otimista, a variação no consumo durante esse período poderá chegar a 58%. Para uma análise mais prática, ao transformar esses números
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