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86 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Unidade II 3 COMANDANTE E CAPITÃO Os termos comandante e capitão, embora empregados indistintamente na prática do dia a dia, não são sinônimos. Enquanto o primeiro transmite ideia de cargo, função, o segundo se refere a profissional habilitado, integrante de categoria profissional. O comandante é aquele que dirige a embarcação e por ela responde. Desta feita, para fins legais, é considerado indistintamente comandante tanto o que conduz uma simples embarcação de recreio quanto o que responde pela administração de embarcação comercial de grande porte e de elevado grau de complexidade técnico-operacional. Capitão ou comandante do navio é a pessoa encarregada de comandar a embarcação nas viagens marítimas. Em caso de embarcações pequenas ou costeiras, algumas vezes o capitão não é um oficial da Marinha e, por isso, pode ser chamado de mestre, arrais ou patrão. O termo capitão, por sua vez, é usado também em algumas Marinhas de guerra para designar o posto de capitão de mar e guerra. Nos navios de longo curso, o capitão ou comandante é a pessoa encarregada do comando de um navio no mar. Considera-se ainda que o comandante é o representante legal do armador. Caso o transportador não seja o próprio armador, os poderes de representação comercial delegados ao comandante deverão estar definidos claramente no contrato de exploração do navio que as partes vierem a firmar entre si. O comandante é o responsável por estudar a viagem, preparar a rota a ser seguida e controlar as radiocomunicações visando ao seu bom funcionamento. Controla todas as ações que dizem respeito à exploração comercial do navio, mantendo contato com o armador, os carregadores, os agentes de navegação, os estivadores etc. Também é ele quem elabora os pareceres sobre a exploração do navio, as operações comerciais do armador etc. Além disso, cuida para que as normas aplicadas ao navio e à tripulação sejam cumpridas, pois deve cuidar da segurança, do ambiente e da salvaguarda da vida humana no mar. 3.1 Funções A utilização da água como meio de transporte vem desde os primórdios da civilização. Com ela, a profissão do comandante ou capitão do navio aparece. 87 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a DIREITO NA NAVEGAÇÃO O capitão ou comandante é a pessoa encarregada do comando de um navio no mar. Capitão do navio é “a pessoa a quem é confiado, por quem de direito, o comando da equipagem e a direção do navio” (LACERDA, 1969, p. 84). Saiba mais Para conhecer as atribuições do comandante, leia: BRASIL. Ministério da Defesa. Marinha do Brasil. Diretoria de Portos e Costas. Normam-13 – Normas da autoridade marítima para aquaviários. Item 0401. Brasília, 2003b. Disponível em: <http://www.dpc.mar.mil.br/ sites/default/files/normam13.pdf>. Acesso em: 26 out. 2017. Observação De acordo com a Normam-20, (BRASIL, 2014a), lastro é a água com suas partículas suspensas que é levada a bordo de uma embarcação nos seus tanques de lastro, para o controle de trim, banda, calado, estabilidade ou tensões da embarcação. De acordo com as Normas da Autoridade Marítima para Aquaviários (Normam-13/DPC), Item 0402: Ao comandante é vedado: 1) alterar os portos e escala da embarcação, sem causa justificada; 2) abandonar a embarcação, por maior perigo que se ofereça, a não ser em virtude de naufrágio e após certificar-se de que é o último a fazê-lo (BRASIL, 2003b). Cabe aqui salientar o poder do comandante previsto no Código Civil: Art. 1.888 Quem estiver em viagem, a bordo de navio nacional, de guerra ou mercante, pode testar perante o comandante, em presença de duas testemunhas, por forma que corresponda ao testamento público ou ao cerrado. Parágrafo único. O registro do testamento será feito no diário de bordo. Art. 1.889 Quem estiver em viagem, a bordo de aeronave militar ou comercial, pode testar perante pessoa designada pelo comandante, observado o disposto no artigo antecedente. 88 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Art. 1.890 O testamento marítimo ou aeronáutico ficará sob a guarda do comandante, que o entregará às autoridades administrativas do primeiro porto ou aeroporto nacional, contra recibo averbado no diário de bordo. Art. 1.891 Caducará o testamento marítimo, ou aeronáutico, se o testador não morrer na viagem, nem nos noventa dias subsequentes ao seu desembarque em terra, onde possa fazer, na forma ordinária, outro testamento. Art. 1.892 Não valerá o testamento marítimo, ainda que feito no curso de uma viagem, se, ao tempo em que se fez, o navio estava em porto onde o testador pudesse desembarcar e testar na forma ordinária (BRASIL, 2002). 3.2 Obrigações e responsabilidades do comandante O artigo 497 do Código Comercial (Lei n° 556/1850 ainda em vigor, depois de o artigo 2.045 do Código Civil de 2002 ter revogado a primeira parte do Código Comercial, consistente nos artigos 1° a 456), assim estipula: “O capitão é o comandante da embarcação; toda a tripulação lhe está sujeita, e é obrigada a obedecer e cumprir as suas ordens em tudo quanto for relativo ao serviço do navio” (BRASIL, 1950). Saiba mais Para conhecer o Código Comercial Brasileiro, instituído pela Lei n° 556/1850, consulte: BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei nº 556, de 25 de junho de 1850. Código Comercial. Rio de Janeiro, 1850. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L0556-1850.htm>. Acesso em: 26 out. 2017. O Código Comercial ainda estipula nos artigos 498 a 504: Art. 498 O capitão tem a faculdade de impor penas correcionais aos indivíduos da tripulação que perturbarem a ordem do navio, cometerem faltas de disciplina, ou deixarem de fazer o serviço que lhes competir; e até mesmo de proceder à prisão por motivo de insubordinação, ou de qualquer outro crime cometido a bordo, ainda mesmo que o delinquente seja passageiro; formando os necessários processos, os quais é obrigado a entregar com os presos às autoridades competentes no primeiro porto do Império aonde entrar. Art. 499 Pertence ao capitão escolher e ajustar a gente da equipagem, e despedi-la, nos casos em que a despedida possa ter lugar (artigo nº. 555), 89 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a DIREITO NA NAVEGAÇÃO obrando de conserto com o dono ou armador, caixa, ou consignatário do navio, nos lugares onde estes se acharem presentes. O capitão não pode ser obrigado a receber na equipagem indivíduo algum contra a sua vontade. Art. 500 O capitão que seduzir ou desencaminhar marinheiro matriculado em outra embarcação será punido com a multa de cem mil réis por cada indivíduo que desencaminhar, e obrigado a entregar o marinheiro seduzido, existindo a bordo do seu navio; e se a embarcação por esta falta deixar de fazer-se à vela, será responsável pelas estadias da demora. Art. 501 O capitão é obrigado a ter escrituração regular de tudo quanto diz respeito à administração do navio, e à sua navegação; tendo para este fim três livros distintos, encadernados e rubricados pela autoridade a cargo de quem estiver a matrícula dos navios; pena de responder por perdas e danos que resultarem da sua falta de escrituração regular. Art. 502 No primeiro, que se denominará Livro da Carga, assentará diariamente as entradas e saídas da carga, com declaração específica das marcas e números dosvolumes, nomes dos carregadores e consignatários, portos da carga e descarga, fretes ajustados, e quaisquer outras circunstâncias ocorrentes que possam servir para futuros esclarecimentos. No mesmo livro se lançarão também os nomes dos passageiros, com declaração do lugar do seu destino, preço e condições da passagem, e a relação da sua bagagem. Art. 503 O segundo livro será da Receita e Despesa da Embarcação; e nele, debaixo de competentes títulos, se lançará, em forma de contas-correntes, tudo quanto o capitão receber e despender respectivamente à embarcação; abrindo-se assento a cada um dos indivíduos da tripulação, com declaração de seus vencimentos, e de qualquer ônus a que se achem obrigados, e a cargo do que receberem por conta de suas soldadas. Art. 504 No terceiro livro, que será denominado Diário da Navegação, se assentarão diariamente, enquanto o navio se achar em algum porto, os trabalhos que tiverem lugar a bordo, e os consertos ou reparos do navio. No mesmo livro se assentará também toda a derrota da viagem, notando- se diariamente as observações que os capitães e os pilotos são obrigados a fazer, todas as ocorrências interessantes à navegação, acontecimentos extraordinários que possam ter lugar a bordo, e com especialidade os temporais, e os danos ou avarias que o navio ou a carga possam sofrer, as deliberações que se tomarem por acordo dos oficiais da embarcação, e os competentes protestos (BRASIL, 1850). 90 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II 4 COPROPRIEDADE A copropriedade é um direito em que dois ou mais coproprietários têm de partilhar a posse de uma propriedade privada. 4.1 Parceria marítima e suas regras peculiares As empresas de navegação são as pessoas jurídicas que prestam ao público os serviços de transporte de cargas e/ou passageiros pela via marítima. Tal serviço costuma ser denominado de common carrier, o que significa “transportador público”. Os armadores podem ser de linha (conhecidos como traders ou liners), de disponibilidade imediata (chamados de tramps) ou ainda especializados. Lembrete Empresas de navegação são as pessoas jurídicas que prestam ao público os serviços de transporte de cargas e/ou passageiros pela via marítima. Os armadores podem ser considerados: • Linha regular (liners): estabelecem uma linha regular de navegação em que um navio faz sempre uma mesma rota. Os navios possuem uma rota fixa, em que têm determinados portos estabelecidos para escala, carregando e descarregando cargas, e têm datas de chegada e saída. Com isso, todos os embarcadores e recebedores de mercadorias podem ter confiabilidade na empresa e na linha, sabendo que a programação será cumprida, a menos que motivos de força maior impeçam. As linhas são estabelecidas pelos armadores, cujos navios fazem sempre a mesma rota. É comum, entre as empresas de navegação, o estabelecimento de joint services. • Outsiders: são os armadores que não têm vínculo com as conferências e que prestam serviços em linhas fixas. Proporcionam um preço mais competitivo, porém nem sempre com a mesma frequência nem as mesmas garantias oferecidas pelas conferências. • Linhas irregulares: são operadas por armadores que atuam por conta própria. O itinerário não é fixo, mas determinado pelas oportunidades geradas em cada porto. Os navios que operam nessa situação são chamados de tramps (“vagabundos”, em tradução literal). Esse serviço é muito utilizado para o transporte de granéis, em que um mesmo navio tem variações dos portos de origem e destino. O navio poderá fazer rotas diferentes em cada navegação, sem uma rota regular definida. Sua rota é estabelecida conforme a conveniência de armadores e/ou embarcadores, podendo ser diferente a cada viagem, e os navios podem ser afretados. Ocorrem casos de parcerias marítimas em que o navio pertence a várias pessoas. Neles há a figura do armador-gerente ou caixa. Se os coproprietários quiserem explorar conjuntamente o navio, deverão escolher, pelo voto da maioria, um dos compartes para administrar a parceria. Caso contrário, poderão, com o consentimento unânime, nomear uma pessoa estranha à parceria para desempenhar a função, 91 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a DIREITO NA NAVEGAÇÃO e o administrador receberá o nome de armador, gerente ou caixa. O Código Comercial estabelece, nos artigos 484 a 495: Art. 484 Todos os cidadãos brasileiros podem adquirir e possuir embarcações brasileiras; mas a sua armação e expedição só pode girar debaixo do nome e responsabilidade de um proprietário ou comparte, armador ou caixa, que tenha as qualidades requeridas para ser comerciante (artigo nos 1 e 4). Art. 485 Quando os compartes de um navio fazem dele uso comum, esta sociedade ou parceria marítima regula-se pelas disposições das sociedades comerciais (Parte I, Título XV); salvo as determinações contidas no presente Título. Art. 486 Nas parcerias ou sociedades de navios, o parecer da maioria no valor dos interesses prevalece contra o da minoria nos mesmos interesses, ainda que esta seja representada pelo maior número de sócios e aquela por um só. Os votos computam-se na proporção dos quinhões; o menor quinhão será contado por um voto; no caso de empate decidirá a sorte, se os sócios não preferirem cometer a decisão a um terceiro. Art. 487 Achando-se um navio necessitado de conserto, e convindo neste a maioria, os sócios dissidentes, se não quiserem anuir, serão obrigados a vender os seus quinhões aos outros compartes, estimando-se o preço antes de principiar-se o conserto; se estes não quiserem comprar, proceder-se-á à venda em hasta pública. Art. 488 Se o menor número entender que a embarcação necessita de conserto e a maioria se opuser, a minoria tem direito para requerer que se proceda à vistoria judicial; decidindo-se que o conserto é necessário, todos os compartes são obrigados a contribuir para ele. Art. 489 Se algum comparte na embarcação quiser vender o seu quinhão, será obrigado a afrontar os outros parceiros; estes têm direito a preferir na compra em igualdade de condições, contanto que efetuem a entrega do preço à vista, ou o consignem em juízo no caso de contestação. Resolvendo- se a venda do navio por deliberação da maioria, a minoria pode exigir que se faça em hasta pública. Art. 490 Todos os compartes têm direito de preferir no fretamento a qualquer terceiro, em igualdade de condições; concorrendo na preferência para a mesma viagem dois ou mais compartes, preferirá o que tiver maior parte de interesses na embarcação; no caso de igualdade de interesses decidirá a sorte; todavia, esta preferência não dá direito para exigir que se varie o destino da viagem acordada pela maioria. 92 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Art. 491 Toda a parceria ou sociedade de navio é administrada por um ou mais caixas, que representa em juízo e fora dele a todos os interessados, e os responsabiliza; salvo as restrições contidas no instrumento social, ou nos poderes do seu mandato, competentemente registrados (artigo nº 10, nº 2). Art. 492 O caixa deve ser nomeado dentre os compartes, salvo se todos convierem na nomeação de pessoa estranha à parceria; em todos os casos é necessário que o caixa tenha as qualidades exigidas no artigo nº 484. Art. 493 Ao caixa, não havendo estipulação em contrário, pertence nomear, ajustar e despedir o capitão e mais oficiais do navio, dar todas as ordens, e fazer todos os contratos relativos à administração, fretamentoe viagens da embarcação; obrando sempre em conformidade do acordo da maioria e do seu mandato, debaixo de sua responsabilidade pessoal para com os compartes pelo que obrar contra o mesmo acordo, ou mandato. Art. 494 Todos os proprietários e compartes são solidariamente responsáveis pelas dívidas que o capitão contrair para consertar, habilitar e aprovisionar o navio; sem que esta responsabilidade possa ser ilidida, alegando-se que o capitão excedeu os limites das suas faculdades, ou instruções, se os credores provarem que a quantia pedida foi empregada a benefício do navio (artigo nº 517). Os mesmos proprietários e compartes são solidariamente responsáveis pelos prejuízos que o capitão causar a terceiro por falta da diligência que é obrigado a empregar para boa guarda, acondicionamento e conservação dos efeitos recebidos a bordo (artigo nº 519). Esta responsabilidade cessa, fazendo aqueles abandono do navio e fretes vencidos e a vencer na respectiva viagem. Não é permitido o abandono ao proprietário ou comparte que for ao mesmo tempo capitão do navio. Art. 495 O caixa é obrigado a dar aos proprietários ou compartes, no fim de cada viagem, uma conta da sua gestão, tanto relativa ao estado do navio e parceria, como da viagem finda, acompanhada dos documentos competentes, e a pagar sem demora o saldo líquido que a cada um couber; os proprietários ou compartes são obrigados a examinar a conta do caixa logo que lhes for apresentada, e a pagar sem demora a quota respectiva aos seus quinhões. A aprovação das contas do caixa dada pela maioria dos compartes do navio não obsta a que a minoria dos sócios intente contra eles as ações que julgar competentes (BRASIL, 1850). Lembrete Os armadores podem ser considerados como de linha regular, outsiders e de linha irregular. 93 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a DIREITO NA NAVEGAÇÃO Os armadores também podem operar sob as seguintes condições: • Joint service: acordo de cooperação entre armadores para a exploração de uma rota específica. Não é uma entidade formal, diferentemente das conferências. Proporciona ao embarcador a possibilidade de utilizar qualquer navio de uma mesma rota e destino independentemente do armador. Por exemplo, os armadores MSC e CMA/CGM – respectivamente, segundo e terceiro maiores transportadores de containers do mundo – surpreenderam o mercado ao anunciarem em 2011 um acordo de cooperação em nível mundial. A parceria será uma forma de enfrentar o excesso de capacidade nos tráfegos entre a Ásia e o Norte da Europa, a Ásia e a África do Sul e nas rotas que envolvem a América do Sul. Por conta da crise mundial, as trocas comerciais estão declinando, pressionando os fretes marítimos para baixo. Para atuar como armador, em caso de pessoa jurídica, esta deve estar estabelecida e registrada com a finalidade de realizar transporte marítimo local ou internacional, através da operação de navios, explorando determinadas rotas e se oferecendo para transportar cargas de todos os tipos de um porto a outro. O armador não precisa necessariamente ser proprietário de algum ou de todos os navios que está operando, podendo utilizar navios afretados de terceiros para compor sua frota. O importante é operar navios. Responde juridicamente por todos os problemas ou efeitos sobre a carga que está transportando, a partir do momento que a recebe para embarque, devendo fornecer ao embarcador, dentro de 24 horas, conforme determina o Código Comercial, um conhecimento de embarque (bill of lading – BL), que é o documento representativo da carga. Todo armador tem uma nacionalidade, portanto uma bandeira, que depende do país onde estiver sediado. Esta é importante quando os países exigem transporte por bandeiras (nacionalidade dos armadores) específicas para determinadas situações. O Brasil estabelece prerrogativas de bandeira para cargas de estatais, por exemplo. O registro do navio pode ser diferente daquele do armador, que poderá estar registrado em outro país, por algumas razões, entre as quais a de conveniência, para efeito de pagamentos de impostos sobre a sua propriedade. • Fusão: de modo simplificado, fusão de empresas significa uma completa transformação para todas as envolvidas no processo. Geralmente realizado entre duas organizações/sociedades diferentes, esse processo faz as participantes se juntarem e formarem uma única empresa. Isso significa que se a empresa X e a empresa Y passarem por um processo de fusão, elas vão resultar na empresa Z, que é uma terceira componente, distinta das outras duas. A fusão de empresas permite uma união de esforços; a nova empresa se torna muito mais robusta às diversas modificações do mercado e passa a ser mais forte do que as duas, separadamente e antes da fusão. É exatamente isso que diferencia esse processo de uma incorporação, em que uma empresa deixa de existir, mas a outra se mantém, de forma expandida. 94 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II A indústria da navegação mundial de containers vem passando por novas consolidações. Ao final de 2014 a fusão das atividades em containers entre Hapag Lloyd e CSAV foi concluída, tornando a empresa resultante, a Hapag Lloyd, na ocasião, a quarta maior companhia de navegação. O nome CSAV deixou de existir como operador de transporte em containers e passou a ser o maior acionista individual da Hapag Lloyd. No final de 2015, a armadora francesa CMA-CGM confirmou a aquisição da APL (ou NOL, Neptune Orient Lines). Essa aquisição, no entanto, ainda está sujeita à aprovação das autoridades concorrenciais. A empresa resultante terá a terceira frota mundial e a segunda posição em volume transportado. A CMA CGM anunciou, em junho de 2017, o fechamento de um acordo para a aquisição da Mercosul Line, unidade brasileira de sua concorrente dinamarquesa Maersk Line, líder mundial no setor. O valor da transação, contudo, não foi revelado. A terceira grande alteração foi a aprovação, em 2015, pela autoridade chinesa, da fusão das gigantes Cosco e China Shipping. Com essas mudanças, o ranking global mudou. Os cinco maiores armadores agora são: Maersk, MSC, CMACGM/APL, Cosco/CSCL e Evergreen. A Hapag Lloyd está na sexta posição. Nos Estados Unidos, para que se inicie um novo acordo de cooperação (ou consórcio) entre armadores, a Federal Maritime Commission (FMC), órgão regulador norte-americano, precisa dar a sua autorização, pois, no país mais capitalista do mundo, proteger os interesses dos usuários dos serviços, bem como os da sociedade, não é burocrático, tampouco provoca aumento de fretes. O que os armadores estrangeiros precisam fazer para aprovar um novo acordo de cooperação/consórcio para operar na navegação de longo curso no Brasil, junto ao órgão regulador? A resposta é: nada, basta que eles tenham vontade de fazer, pois a regulação da navegação de longo curso em linhas regulares, no segmento de containers, principalmente, é feita pela própria armação estrangeira. No Brasil, não temos um Regulamento Marítimo capaz de fiscalizar, supervisionar e muito menos punir armadores estrangeiros, que operam no Brasil sem outorgas de autorização, através de estabelecimentos subordinados, sem a instalação de filiais, conforme preceitua o Código Civil. Para piorar, muitas dessas empresas e suas embarcações não estão sediadas nem pertencem a países que tenham celebrado acordos bilaterais com o Brasil, ignorando o princípio de reciprocidade. 95 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or -d at a DIREITO NA NAVEGAÇÃO Lembrete Na fusão, a nova empresa se torna mais forte do que as duas atuando separadamente e antes da fusão. Na incorporação, uma empresa deixa de existir, mas a outra se mantém, de forma isolada. Resumo Esta unidade se iniciou com a definição dos termos comandante e capitão, que embora empregados indistintamente na prática do dia a dia, não são sinônimos. Enquanto o primeiro transmite ideia de cargo, função, o segundo se refere a profissional habilitado, integrante de categoria profissional. Também foram abordadas as funções do comandante, de acordo com as Normas da Autoridade Marítima para Aquaviários (Normam-13/DPC). Sobre os armadores, foi visto que podem ser de linha regular, outsiders e de linha irregular, e as particularidades de operação de cada um. Também podem operar sob as condições de joint service ou por fusão, e que a indústria da navegação mundial de containers vem passando por novas consolidações. Exercícios Questão 1. Leia atentamente a notícia a seguir. Capitão do Costa Concordia é condenado a 16 anos de prisão Capitão Schettino embarca em balsa dois anos após naufrágio do Costa ROMA — A Justiça italiana condenou Francesco Schettino, o capitão do navio Costa Concordia que naufragou em 2012, a 16 anos de prisão nesta sexta-feira. Chamado de “capitão covarde” depois do incidente, o homem de 56 anos não assistiu à audiência e se apresentou imediatamente para cumprir a pena. Ele foi considerado responsável pela morte de 32 pessoas na ilha de Giglio. Schettino foi condenado em primeira instância em fevereiro de 2015 por homicídio, naufrágio e abandono da embarcação, em um julgamento iniciado em julho de 2013 no tribunal de Grosseto, na Toscana. O capitão permaneceu em liberdade durante todo o processo de apelação, que foi finalizado nesta sexta-feira. 96 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II — Há um certo armagor, porque ele é o único a pagar. Como sempre na Itália, há bodes expiatórios que pagam. Mas ele disse ‘acredito na justiça, as decisões devem ser respeitadas, vou me apresentar como prisioneiro’ — declarou o advogado de Schettino, Saverio Senese. O capitão foi alvo de críticas na época do naufrágio, que aconteceu quando o navio se aproximou da costa para que os passageiros pudessem ver a ilha de Giglio e se chocou contra uma pedra de granito. A batida provocou um rombo de 70 metros no casco do navio, que começou a afundar. No entanto, demorou uma hora e 13 minutos até que Schettino ordenasse o esvaziamento da embarcação. Além disso, Schettino não cumpriu com a norma que exige que o capitão seja o último a abandonar o barco em caso de emergência. Ele deixou o navio apenas três horas após o naufrágio, quando várias pessoas ainda tentavam desesperadamente chegar a terra firme. Em sua defesa, afirmou que ajudou a coordenar a evacuação do cruzeiro depois de chegar em solo, mesmo tendo sido ordenado a voltar ao navio por telefonema em uma frase que virou famosa “Vada a bordo, cazzo” — em que recebia ordens de autoridades, em linguagem vulgar e irritada, para voltar imediatamente a bordo. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/mundo/capitao-do-costa-concordia-condenado-16-anos-de-prisao- 21331605#ixzz5DPuf6e1n>. Acesso em: 20 abr. 2018. Leia as afirmativas a seguir: I – No Brasil, o comandante do navio que agisse da forma como Schettino seria igualmente punido, porque a Norma da Autoridade Marítima para Aquaviários (NORMAM – 13/DPC), item 0402, proíbe que o comandante abandone o navio por maior que seja o perigo que se ofereça. II – O comandante Schettino não seria punido no Brasil por haver abandonado o navio porque aqui prevalece a norma de que todos são iguais perante a lei. III – No Brasil, o comandante seria julgado em conformidade com as regras do Direito Civil, porque o navio era de turismo e, nesse caso, ele não estaria obrigado a ser o último a abandonar o navio. IV – As regras que determinam que o comandante seja o último a deixar o navio em caso de naufrágio deixaram de vigorar após o naufrágio do Titanic. Só na Itália é que elas ainda são aplicadas. V – O comandante do navio é inteiramente responsável por todos que ali se encontram, passageiros e tripulação e deve coordenar os esforços para que o salvamento beneficie a maior quantidade possível de pessoas a bordo, o que o obrigará a estar no navio até o último momento. É(São) correta(s) a(s) afirmativa(s): a) II e III. b) II e IV. 97 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a DIREITO NA NAVEGAÇÃO c) III e IV. d) I e V. e) II, apenas. Resposta correta: alternativa D. Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: a Norma da Autoridade Marítima para Aquaviários (Normam – 13/DPC), item 0402, proíbe que o comandante abandone o navio por maior que seja o perigo que se ofereça. II – Afirmativa incorreta. Justificativa: a Constituição Federal determina que todos são iguais perante a lei, sujeitos aos mesmos deveres e direitos, porém, no caso específico do comandante do navio sua responsabilidade decorre da profissão que ele exerce, o que o diferencia das demais pessoas, assim como médicos, engenheiros e advogados, por exemplo, possuem deveres próprios, inerentes às profissões que exercem. III – Afirmativa incorreta. Justificativa: o fato de o navio ser de turismo não desobriga o comandante de cumprir a Norma da Autoridade Marítima para Aquaviários. IV – Afirmativa incorreta. Justificativa: as regras que obriga o comandante a permanecer a bordo até que o último passageiro ou tripulante seja salvo é aplicada em grande parte dos países do mundo, é uma verdadeira tradição histórica tornada lei em várias diferentes partes. V – Afirmativa correta. Justificativa: o comandante é a autoridade máxima do navio e, por isso, possui direitos e deveres que o diferenciam do resto da tripulação e dos passageiros. Assim, a responsabilidade pelo bem-estar de todos é um de seus maiores deveres, razão pela qual só lhe é dado pensar em seu próprio bem-estar após haver garantido a segurança de todos os demais. Questão 2. São denominadas linhas irregulares na navegação: a) Aquelas que são realizadas sem que a mercadoria tenha a documentação legal exigida e, por isso, a qualquer momento poderão ser fiscalizadas e punidas pelas autoridades. 98 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II b) As linhas operadas por empresas irregulares que não possuem autorização legal para atuar na navegação. c) As linhas cujas embarcações são comandadas por pessoas que não concluíram os cursos necessários para navegar em mares e oceanos internacionais. d) As linhas operadas por armadores que atuam por conta própria e não têm roteiro fixo, como acontece, muitas vezes, com o transporte de granel. e) As linhas em que as embarcações não realizam manutenção anual como determina a lei. Resolução desta questão na plataforma.
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