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r 154 , . Hern1as Abdominais* INTRODUÇÃO A hérnia abdominal é uma protrusão de um órgão víscera através de um orifício ou defeito na parede :iominal, por causa congênita ou adquirida. A hérnia geralmente epodstá con?d~ ~m um ~dacodperitoneal, porém uma hérnia e ex.tst1r esproVI a e saco peritoneal, 0 que se denomina prolapso. As hérnias da parede ab- dominal são hérnias externas, uma vez que fazem pro- irusão para o exterior do abdômen. As hérnias internas são as que ocorrem no interior da cavidade abdominal, sem haver exteriorização. A hérnia e seu reparo cirúrgico são um capítulo extensamente estudado e de profundo interesse por parte dos cirurgiões. Uma contribuição moderna de grande importância foi o estudo da anatomia cirúrgica da região inguinal por Robert E. Condon31 ,32, estudo que esclareceu o entendimento da morfologia das hér- nias e racionalizou sua técnica operatória. As recentes revisões de Skandalakis et al. 131·132 sobre a embriologia e as bases anatômicas da herniorrafia inguinal são de notável valor prático e devem ser consultadas pelos ci- rurgiões que realizam herniorrafias. . . Segundo Read113,115, o conceito de "ruptura" para md,car herniação se atribui a Galeno (129-200 d.C), que estabe~eceu que a hérnia se deve à ruptura do peritônio ~m distensão da fáscia e dos músculos da parede abdo- ~inal. São importantes as contribuições de Guy de Chau-t (_1 300-1368 d.C.), Caspar Stromayer (séc. XVI) e dt~rro Franco (1500-1561 d.C.), revisadas por Andra- tre ~m um artigo que reproduz algumas das belas ilus- li:~s da operação de Stromayer em 1959. O magnífico 19~ e , 8t~~mayer, cujo manuscrito foi descoberto em ' so vtrta a ser publicado em 1929113. ~ ap/tulo trad 'd Karo/ine G huz, 0 pelas Dras. Carolina Gomes Gonçalves e A1111e rot . José Félix Patino Restrepo ·-a.. <( u Ambroise Paré ( 1510-1590), considerado como o fundador da cirurgia moderna, descreve o uso de fun- das e a operação de dissecção do saco herniário e a "ligadura áurea" (com fio de ouro) . São clássicas as contribuições de Bassini ( 1844- 1924), Marcy (1837-1924), discípulo norte-america- no de Lister, Halsted (1852-1922), McVay (1911-1987) e outros cirurgiões do final do século XIX e começo do século XX, que definiram a anatomia patológica e as principais técnicas operatórias que estão em voga na atualidade. Eduardo Bassini é considerado o "pai da herniorrafia inguinal". Quando seu trabalho clássico apareceu na Itália em 188 7 e em 1888 já havia mais de 100 casos operados por sua técnica original143. A técnica cirúrgica que mereceu ·mais ampla aco- lhida para o tratamento da hérnia inguinal no adulto foi a _reparo utilizando o ligamento de Astley Cooper (téc- nica de McVay), descrita pela primeira vez em 1898, segundo Nyhus92, pelo cirurgião Georg Lotheissen (1868-1935) 74 de Viena. Mas foi Chester B. McVay quem a popularizou, depois de seu clássico artigo com J. Anson, de 1949. Anson foi professor de anatomia na Northwestern University, e realizou com McVay estu- dos detalhados sobre a anatomia da região inguinofe- moral. Em 1958, McVay fez a avaliação do conceito básico de reparação da parede posterior utilizando o ligamento de Cooper82·83·85. Esse procedimento se co- nhece universalmente hoje como a técnica de McVay, segundo o epônimo proposto por H . Harkins92, Outra técnica de grande lógica anatômica é a repa- ração anterior utilizando o trato iliopúbico, bem descri- ta por Condon3º·32. A técnica de Shouldice é, na verdade, um ressurgi- mento, aperfeiçoado do procedimento original de Bas- sini15. De fato, a operação de Bassini se realiza em um só plano, enquanto a de Shouldice se realiza de forma estratificada em vários planos. 1951 APARELHO DIGESTIVO. CLINICA E CIRURGIA Mais recentemente se popularizou a abordagem posterior pré-peritoneal, a qual havia sido revivida e preconizada por Nyhus, pelo que foi proposto o cor- respondente epônimo para designá-la: operação de Nyhus101.102. Foi na década de 1990 que houve modificações re- volucionárias no tratamento das hérnias inguinais. A in- tTodução do conceito da herniorrafia com livre-tensão deixou em um segundo plano os antigos métodos tradi- ocionais baseados em sutura simples (p. ex.: Bassini, Halsted, McVay, Shouldice) e deu espaço para os repa- ros baseados na colocação de telas (Lichtenstein, mesh plug, Nyhus e reparo laparoscópico). O último avanço na reparação herniária está repre- sentado pela hernioplastia laparoscópica, procedimen- to que se encontra atualmente estabelecido e em pleno desenvolvimento. Fatores socioeconômicos poderosos levaram à revisão das condutas ortodoxas e dos antigos paradigmas. Está aumentando a tendência a se realiza- rem procedimentos que sejam mais seguros, menos onerosos e que permitam retorno ao trabalho mais ra- pidamente73, com substituição das herniorrafias tradi- cionais pelas técnicas de hernioplastia com próteses34• TIPOS E CLASSIFICAÇÃO DAS HÉRNIAS ABDOMINAIS Classificação anatômica A. Parede abdominal 1 . Epigástrica 2. Umbilical 3. Incisional ou ventral 3. De Spigel 5. De Littre 6. Lombar ou dorsal 7. Obturadora 8. Ciática 8 . Perineais C. lnguinocrurais J. Inguinal (direta, indireta, mista e deslizante) 2. Femoral ou crural Nyhus propôs uma classificação muito racional das hérnias inguinais, a qual será discutida mais adiante. DEFINIÇÕES Primária. Hérnia que se apresenta pela primeira vez de novo, que não sofreu intervenção previamente. Recidivante ou Reco"ente. É aquela que sofreu in- tervenção previamente e que se reproduz fazendo pro- trusão no mesmo lugar da anterior. 1952 Hé . d t(vel. É a hérnia cujo conteúdo regride mia re u . 1 _ . te Ou mediante mampu açao para a caV1-espontaneamen dade abdominal. Hérnia irredut(vel ou encar;e~ada. É a que se ma~- , t do de protrusão cronica, ou aquela que nao tem em es a . _ pode ser reduzida mediante mampulaçao. Hérnia estrangulada. É 8 hérnia en~arcerada que evo- 1 • grena devido a comprometimento vascular. u1 para gan u -< • de Richter. Apenas uma parede do intestino nem1a d . , . ) á erada (geralmente a bor a ant1mesenter1ca est encare . . (Fig. 154_ 1). Essa hérnia é es~c1al~ente perigosa por- -0 encarcerada do mtestmo pode necrosar e que a porça . . f ause"ncia de sintomas obstrut1vos. As mam-per urar na , . . , - !'nicas podem ser de f1stula mtestmal ou de 1estaçoes c 1 • . dº d I rosa associada a náuseas, vom1tos e 1sten-massa o o 1 . d h, _ bd . ai Pode ocorrer com qua quer tipo e er-sao a omm . nia, mas é mais comum na femoral. Hérnia de Richter Canal femoral Cordão 'Ht--+-- espermótico CH---'..-- Veia femoral Fig. 154. 1 - Hérnia de Richter. Apenas a borda antime- senlérica do intestino delgado encontra-se encarcerada no canal femoral. Hérnia deslizante. O saco herniário é parcialmente formado pela parede de uma víscera. Ocorre mais fre- qüentemente nas hérnias inguinais indiretas grandes e de longa duração, principalmente nas inguinoescrotais. O ceco é mais freqüentemente envolvido no lado direi- to, e o cólon sigmóide, no esquerdo. A maior importân- cia em reconhecer esse tipo de hérnia é o cuidado que se deve ter no reparo para evitar lesão (perfuração) do intestino grosso ou da bexiga urinária. Hérnia de Littre. Hérnia envolvendo um divertí- culo de Meckel. O diagnóstico pré-operatório é mui- to difícil porque o paciente não apresenta sintomas de obstrução intestinal. Se ocorrer estrangulamento, os sintomas de apresentação são de abscesso e fístu- la intestinal. é Il ia de Spiegel. É também conhecida co h, f/ r I tâ Ah, . mo er-al latera espon nea. ern,a se dá at é . ventr d b d 1 1 rav s da 11111 ilunar e a or a atera do músculo ha se!TI .1 , reto ab- lifl . 1 A tinha semi unar e a transição entre , dorn•na ~sverso e a sua aponeurose que se O muds- lo tra 'b" N ' esten e cu telas ao osso pu 1co. a porção superio d 5 cos , d , 1 r, essa a . _ ocorreatras o museu o retoabdom • 1 0 ns1çao , b . d . ma . 1ra mais comum e a atxo a linha semicircula d 1 gar , 1 1 . d . r e u I que e oca ,za a a cerca da metade d d" D0ug as, . , fi a is- . ntre O umbigo e a sm tse púbica. A linha . •nc1a e .. à d" . _ . sem1- 1a1 é consequente 1spos1çao da aponeuro d •rcu ar . S . se o ci lo oblíquo interno upenormente à linha rnúscu . 'd d , essa rose se d1v1 e em uas para envolve r O m , P0 neu . . us- a I eto abdominal, enquanto inferiormente à linh cu o r d , 1 bl' a ioda a apon_eurose o musc~ o o iquo interno locali- antenormente ao musculo reto abdominal 0 za-se h, . d S . 1 , . , . diagnóstico da, erma ; . p~egde e d1f1cil, e a precisão diagnóstica pre-operator,a e e somente 50%. A ul- -sonografia e a tomografia computadorizada podem tra d" , . auxiliar no ,agnost,co. Hérnia obturadora. Hérnia através do canal obtu- rador. Normal~ente, a membr~na que reveste O canal bturador permite a passagem Justa dos vasos e nervo ~wradores. A dilatação dessa abertura (forâmen) pode per!Tlitir a passagem de uma alça intestinal e seu encar- ceramento e estrangulamento. Quando ocorre compres- são do nervo obturador, o paciente refere dor na face medial da coxa. O canal obtur~dor é formado pela união do osso púbico e do ísquio. E fechado pelo periósteo, fáscia endoabdominal e peritônio, exceto pelo estreito canal obturador, pelo qual passam a veia, artéria e ner- vo obturador da pelve para a face medial da coxa. Hérnia ciática. Hérnia através do forâmen do gran- de ciático. O paciente pode apresentar-se com aumen- to de volume ou massa na região glútea ou infraglútea, que causa desconforto quando fica em pé. Hérnia perineal. Hérnia na região perineal. São raras e podem ser congênitas ou ocorrer após ressec- ção abdominoperineal do reto (operação de Miles), pros- tatectomia ou remoção de outros órgãos pélvicos. Hérnia de Grynfeltt. Hérnia através do triângulo lombar superior ou de Grynfeltt-Lesshaft, que é limita- do superiormente pela 12• costela e pelo ligamento lom- bocostal, mediaimente pelo grupo muscular paraespinhal e lateralmente pelo músculo oblíquo interno. Hérnia de Petit. Hérnia através do triângulo de Pe- tit ou lombar inferior, que é limitado inferiormente pela crista ilíaca, posteriormente pela borda livre do múscu- lo Iatíssimo dorsal e anteriormente pela borda do mús- culo oblíquo externo. Hérnia em Pantaleão. O saco herniário é compos- to por hérnia direta e indireta, "cavalgando" sobre os vasos epigástricos inferiores. Hérnia de Cooper. Hérnia envolvendo o canal fe- ;oral cujo trajeto continua até o saco escrotal ou lá- tos maiores. EPIDEMIOLOGIA E PREVALÊNCIA A hé · · vai" . mia abdominal é uma entidade de elevada pre- enc,a na popula - d 1 . ·1 S gund A çao, tanto a u ta como mfantt . e- n ° yala et ai. 10, a incidência de hérnia abdominal a Popula - , çao e entre 3% a 8% sendo que é de 5 a 6 vezes mais e ' . d toei omum no sexo masculino .. Cerca de 75% / as as hérnias ocorrem na região inguinal, e apro- h'!11ª_da~ent~ 50% são hérnias inguinais indiretas e 24% e~mas mgumais diretas37. As hérnias incisionais e ven- r~•s. representam aproximadamente 1096 de todas as :rmas, e as femorais, apenas 396. As hérnias incomuns sao_ r~sponsáveis pelos 596 a 1096 restantes. A grande maioria das hérnias ocorre em homens. A hérnia mais ~om~m tanto em homens como em mulheres é a hérnia mgumal indireta. As hérnias femorais são mais comuns em mulheres, mas, como já foi mencionado anterior- mente, a hérnia inguinal indireta é muito mais comum do que as femorais, tanto nas mulheres como nos ho- mens. Ao longo de suas vidas, 25% dos homens e ape- nas 2% das mulheres desenvolverão hérnias inguinais. As hérnias são mais comuns no lado direito37• Deveney37 cita as seguintes cifras relativas à preva- lência dos diferentes tipos de hérnias: • Inguinocrurais, 75% • Incisionais e ventrais, 10% • Umbilicais, 3% • Outras, 396 As hérnias podem ser congênitas, adquiridas ou mesmo congênito-adquiridas. ETIOPATOGENIA Os fatores responsáveis pelo desenvolvimento das hérnias são divididos em duas categorias: os de origem congênita e os defeitos adquiridos. Os fatores congêni- tos são responsáveis pela maioria das hérnias inguinais. Congênitas • Defeitos da estrutura muscu/oaponeurótica. Anorma- lidades no desenvolvimento da parede abdominal po- dem dar lugar ao aparecimento de áreas débeis através das quais se originam as protrusões herniárias. O exemplo mais claro é o processo vaginal permeável, dando origem às hérnias inguinais indiretas. • Alterações na ultra-estrutura dos tecidos. Vários fato- res biológicos e intracelulares estão intimamente re- lacionados com a formação das hérnias. Foi observada diminuição na concentração de hidroxiprolina, com- ponente do colágeno, nas aponeuroses de pacientes com hérnias inguinais. Há descrições de proliferação anormal de fibroblastos em culturas de bainha ante- rior de reto em pacientes com hérnia. Além disso, na ultra-estrutura do colágeno há observação da distri- buição irregular das miofibrilas1º 7• 1º8-112- 116. 1953 APARELHO DIGESTIVO. CLÍNICA E CIRURGIA • ~normalidad~ congênitas. Extrofia da bexiga uriná- na e anormahdad 'I · d d es pe Vlcas podem causar anormali- . ~ ~ d? c_an~I inguinal, levando à formação de hérnias mguma1s indiretas. Defeitos Adquiridos Condições físicas "herniogênicas" ou seja que fa. vorecem a aparição de hérnias no ad~lto. , • Idade e_ sexo. As hérnias são mais freqüentes em ida- des ~ais pre~°<:es, principalmente pela presença de ~efeitos anatom1cos de origem congênita que persis- tt~am e também devido ao fato de os tecidos ainda ~ao terem alcançado seu pleno desenvolvimento. Na 1~ade avançad~ há maior freqüência de hérnias, prin- cipalmente deVJdo à deterioração dos tecidos pelo pro- cesso de envelhecimento. Nesses casos há maior f~eqüênci_a de hérnias diretas. As hérnia~ inguinais sao not?n~mente mais freqüentes no homem, enquan- to as hermas crurais (femorais) e umbilicais ocorrem com maior freqüência na mulher. • Obesida_de. Aumenta a incidência de hérnias pelo en- fraque:1mento dos tecidos devido à adiposidade, pela elevaçao da pressão abdominal, pelo relaxamento da par~e abdominal e de seus orifícios e pela formação de hpomas que arrastam a serosa e facilitam a forma- ção de sacos herniários. Tipicamente, o fator da obe- sidade se associa às hérnias umbilicais e incisionais. • Enfermidade cardíaca. Insuficiência cardíaca conges- tiva, ascite e dispnéia são fatores importantes. • Enfermidade pulmonar crônica. A doença pulmonar obstrutiva crônica, que causa considerável aumento da pressão intra-abdominal, é um importante fator na etiopatogenia das hérnias adquiridas, assim como a tosse crônica. • Tabagismo. Foi demonstrada relação entre tabagismo e hérnias inguinais 116• Através do uso de produtos de clivagem do fibrinogênio, foi observada atividade de elastases de neutrófilos no plasma de fumantes 145• Os níveis de atividade elastolítica circulante são signifi- cativamente maiores que o normal em pacientes fu. mantes com hérnia inguinal direta21 ,112-116. • Hipertrofia prostática. A obstrução vesical resulta em aumento da pressão intra-abdominal, um importante fator herniogênico. • Enfermidades genitourinárias femininas. A cistocele e a retocele podem interferir na micção e produzir efeitos similares aos da hiperplasia prostática. • Hipertensão portal. Favorece a formação de hérnais umbilicais e inguinais, pelo aumento da pressão in- tra-abdominal causado pela ascite. As hérnias umbi- licais nesses pacientes apresentam maior risco de perfuração. • Gestação. Tem relação com hérnia umbilical. Tam- bém se associa à maior incidência de hérnias crurais. 1954 • Hérnia bilateral. A detecção de uma hérnia inguinal exige o exame clínico rigoroso do lado contralateral . A hérnia contralateralpode ser sincrônica mas muito pequena, o que pode dificultar a detecção num pri- meiro momento, ou metacrônica, de aparecimento posterior. • Enfennidades colônicas. Entidades que produzem au- mento da pressão intra-abdominal de forma direta ou indireta, pelo esforço de evacuar, também predis- põem à formação de hérnias. Nesse grupo se encon- tram obstipação crônica, cólon redundante, doença diverticular dos cólons e câncer de cólon. DIAGNÓSTICO O quadro clínico de um paciente com hérnia abdo- minal geralmente é referido como um abaulamento na parede, associado a aumento de volume e dor aos es- forços. Às vezes os pacientes queixam-se de pareste- sias relacionadas à irritação ou compressão de nervos inguinais pela hérnia. As manifestações clínicas podem ser secundárias a complicações do estrangulamento da hérnia: oclusão intestinal, perfuração e fístula intestinal e abscesso. Na maioria dos casos as hérnias são diagnostica- das apenas pelo exame clínico. Entretanto, hérnias mais complexas ou hérnias internas eventualmente requerem exames de imagem ou mesmo o exame de herniografia para sua confirmação61 ·62•104• HÉRNIAS DA REGIÃO INGUINAL Introdução A hérnia inguinal resulta da falha das estruturas musculoaponeuróticas profundas. Fundamentalmente, é ocasionada pela anormalidade do músculo transverso e da fáscia transversal (hérnias diretas) ou pela persis- tência do conduto peritoneovaginal (hérnias indiretas) . O reparo das hérnias inguinais permanece como um dos procedimentos mais realizados pelo cirurgião ge- ral. A região inguinal vem sendo extensamente estuda- da pelos anatomistas e cirurgiões, e ainda existem divergências quanto à existência de certas estruturas. Vários autores ressaltam a necessidade da restituição da integridade anatômica da fáscia transversal para a cura da hérnia, não importando a técnica utilizada para seu reparo9l ·94• Anatomia da Região Inguinal O conhecimento da anatomia da região inguinal é fundamental para a compreensão das hérnias dessa região. Serão apresentados neste capítulo os pontos anatômicos mais importantes, essenciais para o enten- dimento da classificação e das várias formas de trata- mento cirúrgico propostas para essa patologian,◄s. i 09 , ► . 11 ,;11aJ. Os limites do canal inguinal são for- 01110/ 1 _g, mente pela aponeurose do músculo oblí 1er1or 1 • sdos 1111 pasterionnente pe a aponeurosc do músculo 111 0 c~terf'l0 , fáscia transversal. A borda superior é for- qll ~5vers0 e 8 ' sculo oblfquo interno e a inferior pelo ,rs•· lo mu , sdB pC . guinai e lacunar. A parede posterior ou 111 1110 in . • 1 é l·gsn1 e ., d canal ,ngurna a estrutura mais impor- 1 lhO o ô . . , . , 85soS to de vista anat mico e c1rurg1co (Figs. 154_2 1801edoPo;0 "assoalho"d~ canal inguinal ~e ser def i- 8 154,4) . . paço anatômico chamado de triângulo de ul'll es · · - d ti 'd 1 oidº h cujos hm1tes sao e m1 os pe os vasos epi- t1sss~lba~ f eriores, pela parede lateral do músculo reto pstr1C~ 'i" e pelo ligamento inguinal. Esse triângulo é abd01111118 1 para a classificar as hérnias dessa região. pOrtan e d d 1· . d ii!l . ue ocorrem entro os tm1tes esse triângulo tlérl1'85 ·deradas hémias diretas, enquanto as hérnias que -~co11s1 1 - 1· . ,.- lateralmente em re açao aos 1m1tes do triângu- ..rof'fCl'll h - 'd d hé · · · .,., Hasselbac sao cons1 era as rn1as mdire- lo de l J 48,109, ias · Hérnia inguinal indireto Fóscia e aponeurose transverso/ Troto iliopúbico Vasos ilíacos externos jíij. Jfl,1-Hérnia inguino'.'..l '.::in~d1~·re~to~.~~~OO~~ Aponeurose do músculo oblíquo externo. Constitui a porção mais superficial da região inguinal, e sua apo- neurose dá origem ao ligamento inguinal. . Ligamento inguinal. É constituído pela porção ter- mm 1 • ' • ª m,er1or e espessada da aponeurose do músculo ?blí~uo externo. Constitui o limite inferior do canal inguinal. fi Ligamento lacunar. É constituído pela porção mais 1118 • lateral e inferior da inserção do ligamento inguinal. rior ~úsculo ob[{quo interno, Constitui a porção supe- se . 0 canal inguinal. A face medial de sua aponeuro- tr~n~untamente com fibras da borda do músculo verso con ft . tubérculo • . s I u1 o tendão conjunto, próximo ao 10% d púbico (o tendão conjunto está presente em os casos) . Hérnia inguinal direto Hérnia femoral oponeurose transverso/ Troto olD:..J:o-- iliopúbico ffl---- Canal femoral Ligamento de Cooper Músculo transverso e fáscia transversal. Formam o assoalho do canal inguinal. Juntos, são as estruturas mais importantes na patologia das hérnias inguinais. A fáscia transversal é considerada a continuação descen- dente do músculo transverso e de sua aponeurose. A re- constituição dessas estruturas, seja através de telas ou suturas, é essencial para a correção dos defeitos herniá- rios117. Ligamento de Cooper. Tem forma e extensão cons- tantes e representa o peri6steo reforçado do ramo su- perior da pube, na sua face posterior. Tem importância no reparo cirúrgico das hérnias femorais e das ingui- nais diretas extensas 109• Trato iliopúbico. É uma condensação fibrosa da fás- cia endoabdominal que se estende do arco iliopectíneo 1955 APARELHO DIGESTIVO. CLÍNICA E CIRURGIA até a espinha ilíaca ântero-superior e lábio interno da asa do ílio. Passa por cima dos vasos femorais. Essa estrutu- ra constitui uma porção da bainha femoral. É a estrutura mais inferior da lâmina musculoaponeurótica profunda e marca a borda inferior do músculo transverso abdomi- nal. O trato iliopúbico é uma estrutura importante no reparo de hérnias femorais e no reparo pré-peritoneal de hérnias inguinais. Espaço pré-peritoneal. É o espaço cujo limite interno é o peritônio, e o externo, a fáscia transversal. Suas bor- das laterais e inferiores são indefinidas, uma vez que se continua com os outros tecidos extraperitoneais e retro- peritoneais. Contém tecido adiposo, vasos linfáticos, va- sos sangüíneos e nervos. O dueto deferente atravessa esse espaço, seguindo em uma direção medial e caudaF. Hérnia Inguinal Indireta ( ou Oblíqua Externa) É a hérnia mais freqüente. É formada por um saco peritoneal que se exterioriza pelo ânulo inguinal pro- fundo lateralmente aos vasos epigástricos (Fig. 154.2). Na maioria dos casos o saco herniário encontra-se den- tro do cordão espermático, na posição ântero-medial (correspondendo à persistência do canal peritoniovagi- naJ) . A extensão do saco herniário é variável, geralmen- te vai até o cordão espermático, porém pode ultrapassar o ânulo inguinal superficial e estender-se até o saco escrotal (hérnia inguinoescrotal). Nos idosos, pode es- tar acompanhada de debilidade e dilatação do ânulo in- guinal profundo e de destruição da parede posterior do canal inguinal, no triângulo de Hasselbach, onde tal pa- rede está representada apenas pela fáscia transversal e por escassas fibras do músculo tra~sverso ?º abdômen. A incidência é de 3% a 5% em recem-nasc1dos masculi- nos. A freqüência de complicações em crianças e adultos jovens é baixa, uma v~z que a única anormali~ade é o saco herniário congênito, de modo que em crianças o reparo consiste apenas e~ ligadu~a ~lta do saco. Nos adultos, devido às alteraçoes anatom1cas da parede do canal inguinal, o reparo da hérnia exige também a res- tauração da parede posterior do can_al inguinal, funda- mentalmente a fáscia transversal (Fig. 154.2)28-33. Hérnia Inguinal Direta Ocorre comumente em homens de idade avança- da. Exterioriza-se no triângulo de Hasselba,ch, medial- mente aos vasos epigástricos (Fig. 154.3); E rara antes dos 40 anos e é excepcional na mulher. E de evolução lenta e em geral não produz complicações de encarce- ramento e estrangulamento, que são mais comuns na hérnia indireta. Aparece como uma protrusão através de uma fáscia transversal debilitada, no triângulo de Hasselbach, medial aos vasos epigástricos inferiores. A debilidade (adquirida) da fáscia trasversal é a causaprimária desse tipo de hérnia28. Músculo reto obdominol 1..--- Aponevrose do músculo oblíquo externo F6scio transverso/ Gordura pré-peritoneal Músculo obliquo interno ~ -..Jl'.'F--- Músculo obliquo externo Fig, 154.5 - Ilustração do técnica de acesso posterior para correção das Mrnios inguinal e femoral. 1956 - Hérnia Femoral (Hérnia Crural) E, mais comum em mulheres com mais de 30 , . anos. No homem, se ac~m 0 panha de her,ma indireta em quase etade dos casos . corre a traves de um espaço li . _ rn 1 . . - • m1 tado cujos 1m1tes sa~: superiormente o trato iliopúbi- 0 inferiormente o ligamento de Cooper, lateralment c ' ai d.ai · e 8 veia femor e me I mente a inserção do trato iliopú- bico no ligamento de Cooper (Fig. 154.4). Durante a correção cirúrgica desse tipo de hérnia é imprescindí- vel O uso de uma técnica que inclua o fechamento do espaço femoral , seja através de técnicas abertas (McVay), _ ou da a~~dage~ pré_-peri~oneal ou laparos- cópica. Sao esse~~•~1s a d1ssecçao cuidadosa e a retira- da do saco herniano, e a correção do espaço femoral seja atrav~s de telas ou da aproximação do trato iliopú~ bico ao ligamento de Cooper. O uso de próteses de marlex ou prolene vem sendo cada vez mais utilizado no reparo das hérnias femorais. Classificação das Hérnias da Região Inguinal Existem muitas classificações para as hérnias in- guinais; entre elas, as mais difundidas são as de Gil- bert (modificada por Rutkow e Robins) , Nyhus, Bendavid e Stoppa53•54•121 ·139• O propósito dessas clas- sificações é proporcionar uma linguagem comum de comunicação entre os cirurgiões, assim como permi- tir um meio de comparação entre os diversos procedi- mentos cirúrgicos. Em 1991, Nyhus, Klein e Rogers propuseram uma classificação nova e muito útil das hérnias da região inguinal, fundamentada nas altera- ções anatômicas que dão lugar aos diferentes tipos de herniação89 (Tabela 1 54 .1). Essa classificação, por sua simplicidade, é atualmente a mais difundida. Muito já foi escrito a respeito da classificação das hérnias e so- bre o conceito da "individualização do reparo herniá, rio", porém a tendência atual é poder avaliar os diferentes procedimentos cirúrgicos através da com- paração de seus resultados em um grupo homogêneo de pacientes (com tipos de hérnias semelhantes)88·89·95• Avaliação Pré-Operatória Hemiografia. Está indicada nos casos de hérnias complicadas, indiretas ou diretas, recidivantes; c~m encarceramento crônico, ou nos casos de hernias femorais em homens. É um procedimento bastante inócuo e de alta retribuição diagnóstica61 •62•1a.,n~. A her- niografia é também valiosa em pacientes com sintoma- tologia de dor e moléstias inguinais nos quais não ~e detecta clinicamente uma hérnia. Nem todos os paci- entes requerem herniografia, e o procedimento se re- serva para os casos complexos, para os pacientes com hérnias recidivantes ou com diagnóstico incerto. Profilaxia de infecção. A cirurgia para hérnia in~u!- na) é classificada como uma cirurgia limpa, portanto •01• Tabelo 154. 1 Classificação dos Hérnias do Região lnguinocrurol Segundo L. M. Nihus e cols. Tipo 1 - H6rnio inguinal indireto Ãnulo inguinal interno normal (~mias pediótricos) ripo li - Hclmta lnguJnol indlrelo Ãnulo inguinal ltemo dilatado, mos P-Gred• ingulnal jlJ!l!dq; vasos epiQ6.ltricos inferjoreJ n6o deslocodos Tipo Ili - Defeitos do porede posterior A. H6rnio inguinal direto 8. H6mio inguinal indireto Ânulo inguinal interno dilatado, com destruiçõo ou otenuoçõo da fóscio transversal no triõngulo de Hesselboch (hérnias escrotois, deslizantes) C. Hérnia femoral [ Tipo IV- H6mias'nlcomintei cialmente não havia indicação de antibioticoprofilaxia. Entretanto, com a introdução dos reparos em que se utili- zam próteses, o uso de profilaxia está indicado. A preven- ção deve utilizar antibióticos de amplo espectro. Geralmente é utilizada uma cefalosporina de l I ou 2• ge- ração em dose única ou no máximo por 24 horas36 • Escolha do Procedimento Cirúrgico Persiste a controvérsia sobre o procedimento ci- rúrgico ideal para corrigir a hérnia inguinaP 03-106• Da mesma forma, a inda não há um consenso quanto à melhor anestesia para o procedimento. A escolha do procedimento ainda é baseada no tipo da hérnia. A falta de resistência dos tecidos e a precarie- dade das suturas sob tensão falam a favor da colocação de próteses nas hérnias que apresentam enfraquecimen- to da parede posterior do canal inguinal (Nyhus III e IV) . Com a utilização de próteses, o índice de recidiva nesses tipos de hérnia é extremamente baixo, sendo 1,5% para a técnica de Stoppa8 1· 137 e de menos de 1% para a técnica de Lichtenstein e a técnica de "rolha de tela" (mesh plug) 5•68· 125• Além disso, a colocação da prótese é um reparo com ausência de tensão, que contribui para a diminuição da dor pós-operatória. A colocação da prótese no espaço pré-peritoneal, na face profunda do plano musculoaponeurótico, pro - posta por Stoppa e Rives, é a técnica mais lógica. Nes- sa situação, a prótese é aplicada contra a parede pela pressão intra-abdominal. A prótese fica protegida das complicações infecciosas superficiais. Entretanto, essa técnica tem o inconveniente de se apresentar sobre os vasos ilíacos e a bexiga, o que pode dificultar se hou- ver necessidade de acesso a essas estruturas. Atualmente essa técnica está reservada aos casos de hérnias com 1957 APARELHO DIGESTIVO. altos índices de recidivas, com exclusão dos pacientes com patologias prostát icas, vcsicais ou dos vasos ilia- cofcmorais I JS, 1 l 6. A colocação da prótese sobre o músculo oblíquo in- terno e a fáscia transversal proposta por Lichtcnstein é um método amplamente utilizado atualmente, tendo a vantagem de ser realizada sob anestesia loca172. A cirurgia laparoscópica tem uma série de vanta- gens, como menor dor pós-operatória e o retorno mais rápido às atividades habituais25. Entretanto, o uso da videocirurgia necessita, na maioria dos casos, de anes- tesia geral, apresentando um custo acentuadamente maior13·73·97-146. Vários estudos, incluindo metaanálises atuais, têm comparado a cirurgia aberta e a cirurgia laparoscópica para hérnia, e a conclusão na maioria deles é que os resultados da cirurgia laparoscópica são seme- lhantes aos da cirurgia aberta quando há a utilização de prótese, e os benefícios dessa técnica estão intimamen- te relacionados à capacidade técnica do cirurgião com esse novo método61.126.1•1. Para as hérnias do tipo I de Nyhus em pacientes jovens, a simples ressecção do saco herniário é geral- mente suficiente. Nos adultos com hérnias do tipo II, a tendência atual é para a colocação de tela pré-peri- toneal. Entretanto, nesses casos, ao se comprovar que o ânulo evidentemente está dilatado mas a parede pos- terior é de boa qualidade e intacta, a colocação da tela não é imprescindível, podendo ser utilizadas téc- nicas de reparo convencionais, como Bassini, McVay, entre outras. Nas hérnias do tipo 111, que apresentam um com- ponente variável de fraqueza da parede posterior do canal inguinal, o procedimento de escolha durante muitos anos foi a técnica de Shouldice ou de McVay; entretanto, essas técnicas vêm sendo completamente substituídas pela colocação de próteses. O procedimento utilizado para a colocação da prótese pode ser por via aberta, através das técnicas de Lichtenstein ou de Rives pela via inguinal, ou pela via retroperitoneal, pela via de Nyhus, ou através da videocirurgia. Para as hérnias recidivadas, invariavelmente a conduta atual é a colocação de prótese, sendo que a técnica utilizada geralmente depende da preferência do cirurgião. Anestesia Nos procedimentos de reparo da hérnia inguinal pode ser utilizada anestesia geral, locorregional ou lo- cal. Há um grande número de cirurgiões que preferem a anestesia local, especialmente quando se utiliza a téc- nica canadense de Shouldice. A anestesia local ocasio- na menos complicações,como náuseas, vômitos e cefaléia, do que a anestesia geral66•144. A anestesia lo- corregional, por outro lado, ocasiona com maior frc- /958 CLÍNICA E CIRURGIA .. • • t ção urináriab6,71 • A anestesia local tem as qucncm re en d h . 1. • d duça-0 do tempo e osplla 1zaçao, com-vantagens e re . . d pós-operatóna•6.10,s1.s9_ Ci- plicaçõcs anestés1cas e or • . . . · - 1 1· 0 americanos também tem sido partidários rurg10es a m • _ • loca1•2.•1.119 Ainda nao há um consenso da anestesia · .. b I melhor técnica ut1hzada; entretanto, a que so re qua a . d ºf dºd é é . ª·inda como a mais I un I a a t cmca permanece , . · ai A tendência atual e pelo procedimento locorrcg1on • . d enos l ·nvasivo de forma que a anestesia local caavezm - ' pode ocupar um espaço importante no futuro. TÉCNICAS DE REPARO CIRÚRGICO DAS HÉRNIAS INGUINAIS operação de Marcy H o. Marcy (1837-1924), cirurgião de Bos-enry . , . • - ton e de Harvard, discípulo de L1s_ter, _,01 _quem pn_me1- ro descreveu a cura da hérnia inguinal indireta mediante 0 fechamento do ânulo inguinal interno (ou pr_ofundo) utilizando a fáscia transversal e apenas esta, d1_f~rente- ente das técnicas de Bassini e Halsted, que utilizavam ~ fáscia transversal mas suturada ao ligamento ingui- nal. As primeiras publicações de Marcy antecederam as de Bassini e Halsted60 - Esse procedimento é utilizado apenas em hérnias simples, em que o único defeito é um anel interno dila- tado {Nyhus do tipo 1). Reparo Utilizando o Ligamento de Cooper (Técnica de McVay) Consiste basicamente na aproximação do tendão conjunto (quando este está presente) ou da borda do músculo transverso abdominal ao ligamento de Coo- per, a partir do tubérculo púbico lateralmente ao canal femoral (Fig. 154.4)24,123-124• O canal femoral precisa ser estreitado nos casos em que essa técnica é utilizada para a correção de hérnias femorais. O reparo que utiliza o ligamento de Coopcr tem baixos índices de recidiva, cerca de 1,5% para opera- ções primárias, 3,5% para reparos de hérnias diretas e 2,4% para operações de hérnias recorrentes, segundo Rutledge. Contudo, Cavanaugh afirma que a taxa geral de recidiva para as hérnias inguinais e femorais é de aproximadamente 10%24-38; essa cifra, que parece ex- cessiva, talvez seja correta em seguimentos a longo pra- zo, de mais de 15 anos. A taxa de recidiva para hérnias diretas, hérnias in- diretas volumosas e hérnias recidivantes é considerável com as operações tradicionais, assim como a taxa de complicações testiculares, de tal forma que a tendência crescente é a progressiva substituição das técnicas con- vencionais pelas técnicas com introdução de próteses, principalmente a hernioplastia pré-peritoneal ou as téc- nicas de livre tensãoB8,89, r p,oced/mento de Bass/n/ Consiste na aproximação do tendão coni'unto d • 1 • e o , ulo oblíquo interno ao 1gamento inguinal (de p musc ou-rt) 143 _ Esse reparo vem s~ndo cada vez menos usado revido aos resultados superiores das técnicas que utili- zam próteses. Reparo Anterior ao Trato 1/iopectíneo (Operação de Condon) Condon preconizou o reparo anterior ao trato iliopúbico (Figs. 154.2 e _154.3). O trato iliopúbico é uma estrutura aponeurót,ca que marca a borda infe- rior do múscu_lo transverso abdominal, borda que é de natureza mista muscular e aponeurótica. o defei- to herniário, tanto nas hérnias diretas como nas indi- retas, localiza-se na substância do músculo transverso, e é precisamente sobre essa capa que se realiza 0 reparo. o reparo de Condon se faz mediante suturas sepa- radas, a 5-7 mm de distância uma da outra, que unem a borda do transverso abdominal (que muitos denomi- nam "tendão conjunto") ao trato iliopúbico. As suturas mais laterais ligam até o ânulo inguinal interno e lo- gram seu fechamento medial; mas, além disso, o reparo total do ânulo se efetua mediante a colocação de outras suturas laterais ao cordão espermático. Como em ou- tros reparos, o ajuste do fechamento do ânulo se deter- mina pela ponta de uma pinça hemostática grande. Condon aconselha uma incisão de relaxamento no re- paro das hérnias diretas30,32• Técnica de Shouldice A técnica de Earl Shouldice foi preconizada pelos cirurgiões do Hospital Shouldice de Toronto e por ou- tros grupos. A operação consiste na imbricação, em três ou quatro camadas, da fáscia transversal e das fibras do transverso e do oblíquo interno, que se suturam ao tra- to iliopúbico e ao ligamento inguinal (ou de Poupart), procedimento que se realiza sob anestesia local e para todo tipo de hérnia. Com essa técnica, o índice de recorrência reporta- do pelos cirurgiões do Hospital Shouldice é de menos de 1%55..56,96• Resultados igualmente satisfatórios foram informados em outros centros•o.11.12.19,20.•1. ProcetJ/mento de Rives É a colocação de prótese no espaço pré-peritoneal através da via inguinal (anterior), de forma que a pró- tese ultrapasse os limites da zona de fraqueza inguinal :~a ~plicada à face profunda da parede pela pressão 0mmal, abaixo do plano muscular. Procedimento de Alexandre É uma variante da técnica de Rives que realiza uma dissecção mais ampla do espaço pré-peritoneal, com sec- ção dos vasos epigástricos. A tela grande de 18 X 1 5 cm é deixada no espaço pré-peritoneal sem fixação. Um reparo de McVay é realizado anteriormente à prótese3. Hernloplastla Livre de Tensão (Técnica de L/chtensteln) Lichtenstein, de Los Angeles, preconizou a hernior- rafia livre de tensão (tension-free hemioplasty) como o procedimento lógico para o reparo das hérnias inguinais. O autor sustenta que desde a primeira verdadeira herni- orrafia por Bassini, há mais de 100 anos, todas as opera- ções têm um fator negativo comum: a tensão sobre as suturas, resultante da aproximação de estruturas distan- tes, fator que Lichtenstein considera uma das principais causas da recidiva da hérnia inguinal72. Lichtenstein realiza uma técnica de abordagem an - terior, realizada sob anestesia local, que consiste no im- plante de uma prótese que é fixada à bainha do reto anterior e ao chamado "tendão conjunto", ao ligamento inguinal e ao ânulo interno. O local da inserção da pró- tese é acima do plano muscular (músculo oblíquo inter- no e transverso), o que contraria o conceito de Rives e Stoppa136. Na descrição original, a fixação da tela é re- alizada através de suturas contínua frouxa 5-1«. Ele res- salta a importância da borda ínfero-medial da tela, a qual deve ultrapassar o tubérculo púbico. O material de sua preferência é o Marlex 72. Outra técnica de reparo com prótese colocada sem tensão e sem suturas (sutureless repair ou mesh plug), por abordagem anterior, mas com um segunda prótese reforçando a parede posterior, foi descrita por Gilbert, de South Miami. Esse autor também utiliza polipropile- no, porém prefere prolene, que é uma malha menos den- sa que o marlex. Ele afirma que a técnica pode ser utilizada em 40% dos pacientes com hérnia primária e recorrente e em 75% dos pacientes com hérnia indire- ta52·54. Outra técnica semelhante é a de Rutkow e Rob- bins 122, descrita em 1993. Difere da técnica de Gilbert pelo formato do tampão da tela (plug) , que invariavel- mente é de forma cônica e pode ser utilizado tanto em hérnias indiretas como nas diretas. Abordagem Pré-Peritoneal Há dois tipos de procedimentos que podem ser rea- lizados pela via pré-peritoneal: ( 1) a simples herniorra- fia reparativa, mediante o fechamento do ânulo inguinal interno e a sutura do tendão aponeurótico do transverso ("tendão conjunto") ao trato iliopectíneo ou a ligamen- to de Cooper93 (técnica de Nyhus); e (2) reparo da parede posterior mediante implante de prótese de da- cron (marlex ou prolene), preconizada principalmen- te pelos autores franceses' 18·136·138·140 e recentemente 1959 1 APARELHO DIGESTIVO. CLÍNICA E CIRURGIA também utilizada por Nyhus 101. A operação é fácil de se executar e tem uma evidente lógica anatômica e me- dlnica. além de ser bemtolerada pelo paciente. Não está indicada nas crianças e nos adultos jovens com hérnias do tipo I de Nyhus, casos em que a operação de Marcy ou outras técnicas de reparo anterior são mais preconizadas. Nas hérnias inguinais femorais da mulher, a abor- dagem pré-peritoneal provou ser efetiva. e nesses ca- sos geralmente não requer implante de prótese (técnica de Nyhus)9l.94.101_ Vários autores destacaram as vantagens do prole- ne sobre outros materiais, tais como marlex ou goretex, no reparo das hérnias inguinais21 e de grandes defeitos da parede abdominal' 14• Segundo Nyhus93, Thomas Annandale, de Edinbur- go, foi quem primeiro apresentou o conceito da abor- dagem peritoneal em 1876. Em estudo de Nyhus et ai. 90, a taxa de recidiva ªP?S repar~ de hérnias recidivantes com implante de proteses fo1 nula, e outras séries registraram índices muito baixos de recidiva, variando de 1 %136 a 1,2%' 'ª· O implante da prótese pela via inguinal anterior :ambém tem sido um procedimento satisfatório em ~u_itos centros21·69 . Porém, Nyhus93 ilustra pelo prin- •-lp~o de Pascal que o implante pré-peritoneal é mais lógico do ponto de vista biofísica e oferece maior se- g~rança. Na técnica de Riganault, a prótese não pre- cisa ser suturada , pois a distribuição da pressão intra-abdominal de forma parelha sobre a malha da prótese a mantém fixa. Técnica cirúrgica (Nyhus). A incisão cutânea é ho- rizontal, à direita e acima da sínfise pubiana (Fig. 154.5) . A dissecção é feita até o espaço pré-peritoneal, após divulsã9 das fibras do músculo oblíquo interno e trans- verso. E realizada secção do espaço pré-peritoneal, com prolongamento da incisão medial, lateral e inferiormente. Dessa forma, os sacos herniários podem ser visualiza- dos como divertículos peritoneais, os quais (sacos dire- tos ou indiretos) são separados dos elementos do cordão e reduzidos, e o reparo da hérnia é realizado através de suturas com fio monofilamentar aproximando o tendão conjunto ao trato iliopúbico. Atualmente, como já men- cionado, Nyhus prega a utilização de prótese, além das suturas, para correção das hérnias inguinais, principal- mente as diretas. Procedimento de Stoppa. É um procedimento livre de tensão, mas r~alizado por via pré-peritoneal, e não por via inguinal. E também chamada de reforço perito- neal com prótese gigante (giant prosthetic reinforcement of the visceral sac) . O procedimento pode ser utilizado para o reparo de todas as hérnias inguinais, porém é reservado para os casos de hérnias complexas, com alto risco de recidiva e hérnias recidivantes. A característica essencial da técnica de Stoppa é a colocação de uma grande tela substituindo a fáscia transversal na região inguinal, a qual se estende além do orifício miopectí- 1960 neo. A prótese é mantida no lugar de~ido à p_ress_ão in- traluminal e pelo crescimento de tecido con1unt1vo ao redor e dentro da prótese. A tela adere ao peritônio e o deixa inflexível, de forma que ele não pode fazer protru- são através de defeitos parietais. Não há necessidade de corrigir o defeito parietal (parede a~d~minal) . Essa téc- nica difere das outras porque seu ob1et1vo é conter o pe- ritônio e não reparar o defeito abdominal' 40. Hernloplastla Laparosc6pica O interesse no reparo intra-abdominal das hérnias da região inguinal por via laparoscópica se iniciou em 1977 por Ger, que aplicou clipes metálicos para fechar o colo do saco herniário no decorrer de laparoscopias realizadas com propósitos diferentes de herniorrafias 49-51 . Apesar de não ser minimamente invasiva, a aborda- gem laparoscópica das hérnias possui várias vantagens em relação à abordagem aberta. Primeiramente, a dimi- nuição acentuada da dor e da disfunção pós-operatória. Além disso, as regiões inguinal e femoral podem ser ins- pecionadas bilateralmente, de forma que hérnias bilate- rais podem ser corrigidas de uma só vez e hérnias contralaterais não diagnosticadas previamente (segun- do relatos ocorrem em 25% a 50% dos pacientes) po- dem ser reparadas concomitantemente35·98. Por outro lado, a herniorrafia laparoscópica evita o local de cirur- gia prévia em hérnias recorrentes, diminuindo os riscos de lesão de nervos ou orquite isquêmica. As desvantagens da herniorrafia laparoscópica in- cluem a violação da cavidade peritoneal, a necessidade de tela, a necessidade de cirurgia geral e o elevado cus- to do procedimento. 1. Cirurgia laparoscópica transabdominal pré-peritoneal (TAPP). Em 1991 , Arregui9 relatou técnica de repa- ro pré-peritoneal que tornou técnica laparoscópica muito utilizada. O peritônio é incisado superiormente ao assoalho inguinal, e o defeito herniário é dissecado. Sacos her- niários indiretos de volume moderado são dissecados e reduzidos. Sacos herniários volumosos são ocasio- nalmente seccionados, e o saco distal é deixado in situ l~vand_o ~ p~ssibilid~de de formação de hidrocele, po~ r~~ d1mmumdo os mdices de hematoma. A tela é po- ~1c10nada e fixada no ligamento de Cooper e ao lado mterno do tendão conjunto, não colocando suturas la- teral~e~te aos _vasos epigástricos. Existem variações da 1:cmca que mcluem mobilização do cordão esper- mát'.co, colocação da tela envolvendo o cordão esper- máti~o no espaço pré-peritoneal, entre outras. Relatos atuais _d~monStram bons resultados com baixos níveis de rec1d1va64.&1 _ 2. Ciruruia laparosco'p,·ca , . d . º. com tecmca e colocação ,n- tr_aperrtoneal de prótese. Foi preconizada por Fitz- ~,~~o_ns ~t ai. e Franklin44.45. Desde seus relatos miciais, Fitzgibbons abandonou essa técnica devido licações relacionadas à possível erosão intesti- 8 cornia tela«:◄ 5. De acordo c_om essa _técnica, uma nsl pe é utihzada para cobrir o defetto da parede pr6tes~ ai A prótese fica exposta no interior da ca ,_,iorntn . -a1JU eritoneal, com os correspondentes riscos vidade ~ is Além disso, trabalhos como O de tenc1a . po h 43 demonstraram que o reparo de hérnias orna 8 t:ve como complicação a recidiva por her- d!ret!s da prótese e do peritônio através do defeito 111açao de abdominal. Franklin continua a utilizar da pareriação dessa técnica. Entretanto, essa técni- uma va sendo cada vez menos utilizada, estando pra-ca vem . ente em desuso. 11cam . gia laparoscópica totalmente extraperitoneal 3 c,,ur 1 , . · (TEP). Desde sua nomenc atura, essa tecmca pare- m contra-senso, uma vez que a definição de la-ce u · 1· t d d 'd d · scopia 1mp 1ca a en ra a a cavt a e peritoneal· paro real' . • Como se 1za com instrumentos de laparosco-inas, od d' . apesar de t o o proce 1mento ser realizado fora :•cavidade abdominal, recebeu tal denominação. Os autores desenvolveram essa técnica com O ob- . . de evitar as complicações associadas à incisão 1et1VO ' 1 - • . d peritônio ou a co ocaçao mtrapentoneal da próte-o , . 1 Dessa forma, o reparo pre-pentonea com o uso sde. prótese preconizado por Stoppa foi realizado pela e · 110 via laparoscóp1ca • A tela de polipropileno é colocada entre o lado in- terno da parede abdominal e o peritônio, fixando a tela 00 ligamento de Cooper e no anel aponeurótico. Após a conclusão do reparo, pode ser realizada uma inspeção intraperitoneal para confirmar a colocação adequada da prótese. Entretanto, alguns autores76 realizam essa téc- nica sem a peritoneoscopia, evitando, dessa forma, to- talmente a cavidade peritoneal. Para a disseção do espaço pré-peritoneal, pode ser utilizado tanto um balão de dissecção como o próprio laparoscópio. Esse tipo de reparo é tecnicamente mais difícil, mas está associado a menos complicações e índices de recor- rência do que a técnica transabdominal pré-peritoneal. A introdução e o posicionamento da prótese são realizados graças ao laparoscópio, após a criação de um pré e retropneumoperitônio. Na França, os traba- lhos de Stoppa e de Rives l36,1J8 já demonstraram a efi- cácia do reforço com próteses pré e retroperitoneais, assim comoa excelente tolerância a essas próteses. Inicialmente, o método era reservado às hérnias inguinais indiretas de médio volume nos homens. Atu- almente, podem ser tratadas hérnias inguinais indiretas co?1 ~mponente direto, hérnias diretas, hérnias ingui- ~•s bilaterais, hérnias inguino-escrotais, hérnias reci - tª~as e hérnias femorais. Relatos atuais mostram que ec~ica totalmente extraperitoneal pode, inclusive ser rea •zada com anestesia local, com bons resultados39·46, real' Nos últimos 15 anos, a herniorrafia laparoscópica téc ~ou ª transição de procedimento experimental para técnn~ca estabelecida. Com o aumento das capacidades •cas !aparo ó . . , . . se picas na comunidade cirurg1ca, mm- tos cirurgiões se questionam sobre quando indicarº. pr~- cedimento laparoscópico para a correção da hérnia e seus pacientes. A técnica totalmente extraperitoneal é a preferid;, devido aos seus menores índices de complicação e e recorrência 111 . Pacientes que não podem tolerar a an~s- tesia geral ou que apresentam várias cirurgias préV1as em abdômen inferior não devem ser submetidos à her- niorrafia laparoscópica. Os índices de complicação e recorrência, apesar de inicialmente terem se apresentado maiores do que nas técnicas tradicionais, atualmente são equivalentes ou menores em centros com experiência em laparosco- pia. Trabalhos prospectivos randomizados relatam que, quando os pacientes são selecionados adequa- damente e os cirurgiões são treinados, a herniorrafia laparoscópica pode ser realizada com índices de recor- rência e complicações aceitáveis11º·147. Complicações das Cirurgias para Correção das Hérnias Inguinais Testículos. Orquite isquêmica e atrofia testicular são as duas possíveis complicações que acometem o testí- culo após herniorrafias inguinais. Apresentam-se como dor, edema e endurecimento do testículo associado à febre baixa. Essa condição pode progredir para atrofia testicular. A fisiopatologia da orquite isquêmica provavelmente tem início com a congestão venosa intensa dentro do testículo secundária a trombose das veias do cordão espermático 142. Vaso deferente. Trauma no vaso deferente pode ser por transecção ou obstrução. A transecção geralmente ocorre em reparos abertos, principalmente nas hérnias recidivadas. A obstrução pode ocorrer através do pin- çamento excessivo, causando fibrose de intensidade variada na luz do vaso. Hidrocele. É uma complicação pouco comum das cirurgias para correção de hérnias inguinais. Provavel- mente está relacionada à esqueletização do cordão es- permático e à dissecção excessiva do saco herniário e do ânulo inguinal interno. Além disso, a persistência da parte proximal do saco herniário indireto pode ser um fator predisponente. Seromas. Na região inguinal são raramente de re- levância clínica. Entretanto, com a introdução das pró- teses, há uma tendência maior à formação de seromas. Vasculares. Lesões da veia femoral podem ser cau- sadas por suturas próximas à parede anterior da veia, ou por compressão da veia femoral por uma sutura co- locada muito lateralmente, próxima ao ligamento de Cooper. Lesão da artéria femoral pode acontecer du- rante a reconstrução da parede posterior próximo ao anel inguinal profundo; nesse local, a artéria femoral se situa t a 1,5 cm abaixo da fáscia transversal22. 1961 , APARELHO DIGESTIVO. Bexiga urinária. A bexiga é posterior e medial à pa- rede inguinal posterior e pode estar aderida ou "desli- zar" numa hérnia direta ou femoral. Além disso, retenção urinária, principalmente após anestesias locorreginonais, é uma complicação comum das herni- orrafias inguinais. Intestinos. Nos casos de encarceramento ou estran- gulamento da hérnia há envolvimento direto do intesti- no, necessitando de inspeção rigorosa e, até mesmo, em alguns casos de resseção de alças. Indiretamente, pode haver laceração ou até mesmo ruptura de uma alça na presença de hérnia deslizante. Infecção. Pode complicar todos os tipos de cirurgia. Mulheres têm maior índice de infecção que homens. Hérnias encarceradas, recorrentes, umbilicais e femo- rais também apresentam maiores taxas de infecção, res- pectivamente, 7,8%, 10,8%, 5,3% e 7,7%. A presença de prótese também aumenta os índices de infecção130• A presença de infecção não exige necessariamente a retirada da prótese, a não ser que esta se encontre mergulhada em um abscesso ou banhada por secreção purulenta. Infecções tardias também podem acontecer na presença de próteses, até mesmo meses ou anos após o implante. Recidiva. Permanece como a complicação mais co- mum da cirurgia para hérnias inguinais. Varia de 2,3% a 20,0% para hérnias inguinais e de 11,8% a 75% para hérnias femorais. Uma revisão recente da literatura revela as seguin- tes taxas de recidiva para os diferentes procedimentos cirúrgicos realizados para correção da hérnia inguinal•s. • Bassini: recidiva, 2,9% a 25,0%; re-recidiva, 6,5% a 13,4%. • Shouldice: recidiva, 0,2% a 2, 7%; re-recidiva, 2,9% a 6,36%. • McVay: recidiva, 1,5% a 15,5%; re-recidiva, 2,4% a 5,5%. • Nyhus: recidiva, 3,2% a 21,0%; re-recidiva, 9,5% a 27,0%. Para cirurgia que usam prótese (tela), as taxas de recidiva são as seguintes: • Nyhus: recidiva, 0% a 1,7%; re-recidiva, 0% a 1,7%. • Rives: recidiva, 0% a 9,9%; re-recidiva, 1,7% a 3,2%. • Stoppa: recidiva 0% a 7%; re-recidiva, 0% a 8%. • Técnicas com livre tensão: recidiva, 0% a 1,7%; re- recidiva, 0% a 3,4% Mesh Plug: recidiva, 0% a 1,6%; re-recidiva, 0,5% a 1,6%. Antibióticos sistêmicos devem ser utilizados como profilaxia na herniorrafia inguinal quando há uso de próteses. Se o paciente não for alérgico a penicilina, pode ser usada uma dose única na indução anestésica, ou, 30 a 60 minutos antes da indução, de uma cefalos- porina de 1 • ou 21 geração27• 1962 CLÍNICA E CIRURGIA OUTRAS HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL HÉRNIA UMBILICAL. A grande maioria tem ori- gem congênita. É mais comum em afro-americanos, mas geralmente tem fechamento espontâneo até os 2 anos de idade. Se não houver fechamento até os 5 anos, usual- mente há necessidade de tratamento cirúrgico. Em adultos geralmente é adquirida, tendo como fatores predisponentes: ascite, gestação, distensão ab- dominal. A correção cirúrgica é simples, raramente há necessidade do uso de tela (prótese). Recidiva é incomum. HÉRNIA EPIGÁSTRICA. São hérnias da linha alba. São de difícil diagnóstico em pacientes obesos. O paciente geralmente apresenta queixas de dor ou tu- mefação em região epigástrica. Pode facilmente ser con- fundida com Iipomas. Deve ser diferenciada de diátese do reto abdominal, condição que não requer cirurgia. A correção cirúrgica da hérnia epigástrica usualmente é realizada apenas com sutura simples, não havendo ne- cessidade de implante de tela. Deve-se ressaltar que as hérnias epigástricas são freqüentemente múltiplas, de- vendo ser realizada uma inspeção rigorosa da aponeu- rose adjacente à hérnia durante a cirurgia. HÉRNIA INCISIONAL (VENTRAL). Ocorre de- vido à cicatrização inadequada de uma incisão prévia. Está relacionada a fatores locais, sistêmicos e imunoló- gicos responsáveis pela cicatrização. Entre os princi- pais fatores de risco para hérnia incisional podemos citar: obesidade, desnutrição, ascite, uso de corticosteróides, hematoma pós-operatório, infecção de parede, gesta- ção, diálise e qualquer situação que aumente a pressão intra-abdominal. O fator mais importante é a infecção da parede abdominal. Na grande maioria dos casos há necessidade de implante de prótese. Em alguns raros casos, quando o defeito na aponeurose é pequeno, pode-se realizar a ráfia primária. A cirurgia laparoscópica vem sendo empregada com sucesso nas correções de hérnias incisionais. Trabalhos recentes têm demonstrado bons resultados, com me- ~ores Íl~dices de complicação e pequeno tempo de mternaçao; entretanto, há necessidade de estudos ran- domizados e controlados com maior tempo de segui- mento, para avaliaros índices de recorrência40.s1,100. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Aegineta P. ln: Surgcry. Books VI e VII. Toe Classic of Sur• gery Library. Binningham, 1985. 2. Albucasis. On surgery and instruments, Toe Welcome lnsti• lute of the History of Medicine. London, 1973, 3. Alexand:e J~. Bouillot JL. Recurrent inguinal hernia: Surgi• cal rcpa1r w1th a sheet of DacronÔ mesh by the inguinal rou• te. Eur I Surg 162:29-33, 1996. 4. Amid PK, Lichtenstein IL. Long-term results and current s18· tus ofthe Lichtenstein open tension-frce hcrnioplasty. Hemia 2:89-94, 1998,
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