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COMPLICACOES AGUDAS E CRÔNICAS EM DM Introdução Ø Divisão das complicações do DM em agudas e crônicas: • Hiperglicemia: marcador das agudas; • Alterações vasculares (microvasculares e macrovasculares): inseridas no quadro das crônicas. Ex.: retinopatia diabética, neuropatia diabética e nefropatia. Ø As crises hiperglicêmicas englobam cetoacidose diabética e estado hiperglicêmico hiperosmolar- representando as duas complicações agudas mais graves. Cetoacidose diabética (CAD) X Estado hiperglicêmico hiperosmolar (EHH) CAD: Ø pode ser a manifestação inicial do DM1 em até 30% dos adultos e em 15-67% das crianças e adolescentes; Ø É a principal causa de mortalidade em crianças e adultos jovens com DM1; Ø Etiopatogenia: ausência completa de insulina -> glicose não entra nos receptores GLUT 4; Ø Neoglicogenese e lipólise + corpos corpos cetônicos que aumentam a acidose sanguinea, diminuindo o pH e podendo causar cetoacidose metabólica. Ø Glicose não entra no musculo e tecido adiposo leva a comsupcao dos tecidos, e consequente perda de peso e consumo de AA e lipídeos, levando ao acumulo de glicose fora do tecido periférico que leva a formação de corpos cetonicos + hiperglicemia. Ø Tríade Diagnóstica-laboratorial: hiperglicemia + corpos cetônicos + Ânion GAP aumentado Ø Clínica: • paciente jovem, com DM1, ausência de produção de insulina; • doença auto-imune, pode vir outras doenças auto- imunes; • dor abdominal intensa devido a produção de corpos cetônicos; • rebaixamento do nível de consciência (mais comum no EHH) • baixa perfusão periférica; • taquipneia; • hálito cetônico; • cetoacidose. Ø Exames complementares: • HGT; • glicemia capilar; • corpos cetônicos; • gasometria (acidose metabólica por ânion GAP aumentado); • função renal; • eletrólitos (calcular ânion GAP). Ø Tratamento: • Volume + insulina + potássio 1. Hidratar e observar sinais clínicos de desidratação 2. Administração de insulina – por bomba de infusão. • Cuidado com o baixo potássio - > hipocalemia -> arritmia e morte • Potássio <3,3 -> reposição antes da insulina. • >5,3 não necessita de adm de potássio. 3. Administração da insulina: 0,1 UI/kg/hora – colher a glicemia capilar através do dextro de hora em hora avaliando o decréscimo de glicose entre 50-70 mg/dl/h. • Parâmetros de correção da acidose: -ph >7,3; bicarbonato >18; após reverter a acidose- desliga a bomba de infusão e substitui pela insulina subcutânea. EHH: Ø É uma complicação metabólica do DM caracterizada por hiperglicemia grave, desidratação extrema, hiperosmolaridade do plasma e alteração do nível de consciência; Ø Mais frequente em pct com DM II; Ø Desenvolve-se, em geral, após um período de hiperglicemia sintomática; Ø Mortalidade > do que a da cetoacidose diabética; Ø Cetonas séricas não estão presentes; Ø Tolerância de um período significativamente mais prolongado de desidratação osmótica antes da apresentação; Ø Fatores principiantes incluem: infecções graves e outras condições médicas, uso de alguns fármacos, não adesão ao tratamento. Ø Glicose plasmática (>600 mg/dL) e osmolaridade (>320 mOsm/l) são, tipicamente, bem mais elevadas que a cetoacidose diabética (CAD). Ø Sintoma primário: alteração do nível de consciência com ou sem azotemia pré-renal, hiperglicemia e hiperosmolaridade; Ø Pode haver convulsões focais ou generalizadas e hemiplegia transitória. Ø Diagnóstico: hiperglicemia grave + hiperosmolaridade plasmática + ausência de cetoacidose significativa. Caso ainda não tenham sido obtidas, devem ser eletrólitos séricos, ureia, creatinina, glicose, cetonas e osmolaridade plasmática. Ø Tratamento: • Solução fisiológica a 0,9% IV • Correção de qualquer hipopotassemia • Insulina IV → se potássio → maior ou igual a 3,3mEq/L Glicemia alvo: 250- 300mg/dL. Doses ajustadas de insulina SC. DM no Brasil e no mundo: Ø DM + complicações = morte precoce Ø DM: • IDF (2019) 16,8 milhões de diabéticos no Brasil. Metade desses, sem diagnóstico. • IDF (2019): 464 milhoes de diabéticos no mundo – quase metade (46,5%) desconheciam o diagnóstico. Complicações micro e macrovasculares da DM Ø Micro: neuropatia diabética, doença renal do diabetes, retinopatia diabética. Ø Macro: AVC, doença arterial coronariana e doença vascular periférica. Ø MACRO: DAC- 75% das mortes; incidência aumenta em 2-3x; torna-se mais grave. AVC- risco aumenta em 2-3x; Doença cerebrovascular: demência vascular. DVP- risco 2-4x maior, a aterosclerose da artéria dos MMII contribui à má absorção das úlceras no pé diabético. Ø Patogênese das complicações macrovasculares: diversos fatores atuam aumentando o risco de complicações macrovasculares em pct diabéticos: • Hiperglicemia; • Dislipidemia; • Hipercoagulabilidade; • Hipertensão arterial. Ø Complicacões crônicas microvasculares: ● Retinopatia Diabética : Acomete 40% dos portadores de DM; Principal causa de cegueira irreversível em pessoas entre 25 e 75 anos; Há comprometimento visual importante em torno de 10% dos pacientes. ● Doença Renal do Diabetes (DRD), atinge 25-40% dos portadores de DM. ● Neuropatia diabética (ND): Forma mais prevalente é Polineuropatia Sensorimotora Crônica. Ø A doença microvascular atinge as células do endotélio da retina, o vasa nervorum e os glomérulos renais. As complicações microvasculares dependem da intensidade e da duração da hiperglicemia sistêmica, a qual se reflete nos valores de glicemia intracelular. Ø Patogênese das complicações microvasculares: • A lesão endotelial faz com que haja a perda da capacidade de síntese de oxido nítrico, que é um potente vasodilatador. • Então o vaso passa a ter: -vasoconstricções -estreitamento do lúmen capilar -espessamento da membrana basal -estresse oxidativo -oclusão capilar Além de um aumento da citocina inflamatória, via poliol (causa dano celular osmótico e aumenta o estresse oxidativo), AGE (compostos) e da atividade PKC (gera alterações vasculares). – tudo isso contribui para dano e lesão, além do estresse oxidativo celular. Avaliação, classificação, prevenção e tratamento da doença renal do DM (DRD): Ø A doença renal do diabetes (DRD) ou nefropatia diabética é uma das mais frequentes complicações microvasculares do diabetes melito (DM) Ø Avaliação: • História natural • DM1 – 5-10 anos após o diagnóstico. · • DM2 – atraso de alguns anos (já que a doença é mais silenciosa) → micro ou macroalbuminúria (menos frequente). • Manifestação laboratorial mais frequente: microalbuminúria ou albuminuria moderadamente elevada → DRD incipiente. • FATORES DE RISCO: Ambientais: controle glicêmico inadequado (principal fator); HAS (microalbuminuria); tabagismo; hipercolesterolemia; obesidade: pode estar relacionada em alguns povos; obstrução, infecção urinaria e medicamentos nefrotóxicos. Genéticos: TGF-B1 (DM1); PON-2 (paraxonase) e combinação de variantes da NADPH e RAGE (DM2); ECA (mais estudado). ● O desenvolvimento da microalbuminúria e a subsequente proteinúria devem-se a fatores como: - Alterações da filtração glomerular de proteínas. - Aumento persistente da pressão intraglomerular. - Causas adicionais, como o fator de permeabilidade das célulasendoteliais. Ø Classificação: ● Estágio I: Fase inicial → Hipertrofia renal e hiperfiltração glomerular (presente ao diagnóstico) ● Estágio II: Fase silenciosa → Microalbuminúria apenas após os exercícios (2-3 anos) ● Estágio III: Fase da nefropatia clínica → Microalbuminúria persistente Estágio IV: Fase de nefropatia urêmica → Proteinúria no sumário de urina (albuminúria); Hipertensão Arterial. TFG 15-29 (mL/min/1,73m2). ● Estágio V: Fase de doença renal em estágio terminal → Proteinúria + hipertensão. TFG < 15 (mL/min/1,73m2) ou diálise. Ø Rastreamento: ● Dosagem da EUA: importante preditor de prognóstico ● Análise simultânea da TFG e de albuminúria → 50% dos pacientes que têm essa taxa reduzida apresentam níveis de albuminúria dentro da normalidade. ● Não é indicada a biópsia renal, salvos os casos de suspeita de outra etiologia para o dano renal (infecções, doenças autoimunes, etc). Ø DRD: Gira em torno do aumento da albuminuria e perda progressiva da função renal. Ø Prevenção: ● Estágios I e II: ○ Controle Glicêmico adequado ○ Não fumar ○ Controle da hipertensão ○ Tratamento da obesidade e dislipidemia ○ Evitar dieta hiperproteica (até 1g/kg de peso) ○ Uso de inibidores de ECA ● Estágios III e IV: ○ Controle glicêmico adequado ○ Não fumar ○ Tratamento de hipertensão ○ Uso de inibidores da ECA ou BRA ( mesmo em normotensos) ○ Ingestão proteica diária de 0,6 a 0,8 g/kg de peso. ○ Correção da hiperlipidemia ● Estágio V: ○ Diálise peritoneal, hemodiálise ou transplante Ø Diagnostico: • Avaliação dos níveis de albuminúria e da queda da TFG → marcadores de dano renal. • Avaliação anual da EUA (Excreção urinária de Albumina) e da TFG para rastreamento da DRD. ● Acompanhamento do comprometimento renal: após 5 anos no DM1 e no ato do diagnóstico no DM2. ● Cistatina C sérica. Ø Tratamento: ● Objetivos: ○ Reduzir a EUA → obtenção de valores normais (normoalbuminúria). ○ Desacelerar o declínio de TFG. ○ Prevenir a ocorrência de eventos cardiovasculares. ● Intervenção dietética: ○ Restrição de proteínas (0,8 g/kg de peso/dia) apenas nos pacientes com EUA elevada (> 300 mg/24 h) e redução progressiva da TFG (< 60 mL/min/1,73 m²). ○ Dietas tipo DASH + restrição de sal (contraindicada em pacientes em diálise pelo elevado nível de potássio) ○ São necessários mais estudos para comprovar a real eficácia de dietas à base de carne de galinha e soja, além do uso de suplementos no tratamento da DRD. ● Tratamento da HAS: Inibidores do Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona, como IECA E BRA → efeito nefroprotetor e de forma mais efetiva diminuem a EUA, assim como a progressão para estágios mais avançados da DRD. ● Agentes hipoglicemiantes: ○ Biguanidas - Metformina ○ Sulfonilureias - Glipizida - Gliclazida MR - Glimepirida - Glibenclamida (CI na DRC) ● Agentes hipoglicemiantes ○ Glitazonas - Pioglitazona - Baixo risco de hipoglicemia, não necessita de ajuste de dose em caso de DR; segura no ponto de vista CV. Efeitos colaterais: anemia, retenção hídrica, ganho de peso, IC. ○ Inibidores de DPP-4 (“gliptinas”): aumentam a insulina e reduzem o glucagon. ○ Análogos de GLP-1 ○ Inibidores de SGLT-2: não devem ser utilizados em pacientes com TFG < 45 ml/min. Ø ● Tratamento da dislipidemia ● Reposição da Vitamina D ● Avaliação da anemia Neuropatia diabética Ø As neuropatias diabéticas são as complicações crônicas mais prevalentes do diabetes mellitus (DM). Ø Ocorre em 30% da população diabética atendida em hospitais. Ø Sua origem se dá por comprometimento insidioso de fibras sensoriais finas e grossas Ø É um diagnóstico de exclusão, podendo ser assintomática em até 50% dos casos. Ø Classificação de Toronto: • Neuropatias focais e multifocais: mononeuropatia, radiculopatia (amiotrofia proximal), múltiplas lesões, PNDIC (superposta) e compressivas. • Polineuropatias generalizadas simétricas: atípica (intercorrentes, surge em qualquer época do curso do DM. Evolucao monofásica ou flutuante com dor neuropática aguda ou subaguda; autonômicas; e típicas (mais prevalente, evolução crônica e relacionada com a longa exposição glicêmica, retinopatia e nefropatia diabética). Ø Diagnostico: • Vibração, dor, temperatura, reflexos. Ø Rastreamento anual: >5 anos de duração do DM I e na ocasião do diagnostico de DM 2. PND POSSIVEL, PROVAVEL E CONFIRMADA. Ø Prevenção: A prevenção das neuropatias diabéticas foca numa intervenção multifatorial, que inclui: 1. Modificações do estilo de vida, 2. Controle glicêmico 3. Fatores de risco para doença vascular. Ø Tratamento: • Otimização do controle do DM - dieta, antidiabéticos orais, insulina, análogos de GLP; • Tratamento dirigido para a patogênese da ND – acido alfa lipoico • Antidepressivos tricíclicos – amitriplina, imipramina • ISRSN • Anticonvulsionantes • Tratamento sintomático de 2ª linha • Opioides • Tratamento local • Gel Pé Diabético Ø É uma das complicações mais impactantes do DM Ø Incidência tende a aumentar à medida que a epidemia global do DM ascende Ø Ulcerações em pés de pacientes diabéticos (UPD) precedem > 80% das amputações. Ø A história clínica e o exame clínico são cruciais para o diagnóstico Ø A classificação do risco envolve testes neurológicos e vasculares simples Ø Sintomas, isoladamente, não são critérios importantes para confirmar PND ou DAOP, pois podem estar ausentes. Ø Fatores de risco para úlceras: ● Polineuropatia periférica (PND) ● Deformidades ● PND motora, biomecânica, imitação da mobilidade articular ● Traumatismo ● Doença arterial obstrutiva periférica (DAOP) ● Histórico de úlcera e amputação Pé de Charcot Ø Uma complicação grave e incomum Ø Atualmente considerada uma síndrome inflamatória Ø Surge após lesão ou traumatismo leve despercebido, úlcera prévia, infecção ou cirurgia, amputação menor prévia, que mantém um ciclo contínuo de inflamação. Retinopatia Diabética Ø Conceito: ● Complicação crônica microvascular mais comum e a que mais cega; ● Afeta 40% dos diabéticos; ● Nos estágios iniciais os pacientes são assintomáticos; ● No estágio mais avançado da doença aparecem: Manchas no campo visual; Distorção da imagem; Redução da acuidade visual. Ø Classificação: Ø Avaliação: ● Medida da glicemia de jejum e hemoglobina glicada; ● Sem retinopatia presente: Realizado apenas acompanhamento anual; ● Retinopatia não proliferativa leve: Avaliar a cada 6 meses; ● RD não proliferativa grave: Consulta a cada 3 meses; ● RDP de baixo risco: Consulta no período desejável a cada 2 meses; ● RDP de alto risco: Consulta no período de 2 semanas e mensalmente. Ø Prevenção: ● Controle glicêmico; ● Controle da pressão arterial; ● Rastreamento anual; ● Evitar fatores de risco. Ø Tratamento: ● Educação do paciente; ● Acompanhamento multiprofissional; ● Tratamento oftalmológico específico: Fotocoagulação, vitrectomia; ● Medicamentoso: inibidores da proteína C, inibidores da aldolase, inibidores do VEGF.