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Fisiolologia da paratireoide • Pequenas glândulas que ficam na parte de trás da tireoide, na região cervical; • A glândula apresenta um sensor de cálcio que identifica as variações do cálcio iônico. Vale lembrar que a maior parte de cálcio na circulação está na forma de cálcio total ligado a albumina e pequena parte sob a forma de iônico; • A glândula também é responsável por identificar variações da vitamina D e vai aumentar a secreção do PTH para modular o Ca e a vitamina D; • O PTH age principalmente em 3 regiões do organismo: ossos, rins e intestino; Ação do PTH nos rins • Age no nefron, basicamente no túbulo contorcido distal, e absorve o cálcio para a circulação, procurando aumentar a calcemia, já que a paratireoide vai sentir o cálcio mais baixo; • Troca o Ca pelo fósforo, estimulando a hipofosfatemia (faz fosfatúria); • Também age na vitamina D da seguinte forma: vitamina D é relacionada com a exposição solar e a pele possui o 1,7 di- hidrocolesterol > que é convertida em colecalciferol (precursor da vitamina D. Através de alimentos e suplementos também é possível adquiri-lo, como em peixes de água mais fria) > ele passa pelo fígado e através da enzima 25 hidroxilase, ocorre a hidrxilação em 25- dihidroxi vitamina D3 (que ainda não é a Vitamina D ativada e não vai agir nos ossos nesse formato, mas, dosamos na prática clínica. Também conhecido como calcidiol) > nos rins novamente, o PTH ativa a enzima 1-alfa-hidroxilase para realizar a hidroxilação a 1,25- hidroxi vitamina D (que é a vitamina D ativada – calcitriol – e que vai ser responsável pelos processos relacionados ao cálcio no organismo) > age nos rins, absorvendo o cálcio e aumentando a calcemia > porém, diferente do PTH, também ocorre a absorção do fósforo, com aumento de ambos. Ação do PTH nos ossos: • Composição dos ossos: 99% Ca, 88% P, 66% Mg (relativas à quantidade desses íons no organismo e que estão armazenados nos ossos na forma de hidroxiapatita); • PTH age nos ossos absorvendo cálcio e fósforo através da ativação dos osteoblastos e consequentemente os osteoclastos (que vão decompor os ossos em minerais para a absorção) > ocorre a construção do osso novo no local pelos osteoblastos; • Lembrar que fatores que estimulam o aumento de PTH, como o déficit de vitamina D ou ingestão mais baixa de cálcio, fazem com que o osso seja desmineralizado (pelo aumento do PTH) > formando um osso mais fraco e para complicações, como o raquitismo em crianças ou osteomalácia em adultos, deformidade em face, déficit de crescimento; IMPORTANTE: PTH > Osteoblasto (Receptor RANKL) > Formação óssea > ativação de osteoclasto (osteoclasto não tem receptor de PTH) > osso velho tem mais cálcio que o novo. Ação do PTH nos intestinos: • Age absorvendo um pouco de cálcio, mas, a principal ação é da vitamina D ativa (é ativada pela ação do PTH), que absorverá quantidades maiores de cálcio e fósforo, elevando calcemia e fosfatemia. Cálcio: • 99% do cálcio está nos ossos; • Pool de cálcio total na cirurculação (CaT): o 50% na forma ionizada (Cai) > forma ativa; o 40% ligado à albumina; o 10% ligado a outros íons (citrato, fosfato etc.) e outras proteínas. • Hipoalbuminemia: corrigir o valor do cálcio através da fórmula: o CaT corrigido = CaT mensurado + 0,8 x (4 - albumina). • Mudanças no pH sérico também desviam o cálcio da albumina, mudando os valores de Cai: o Acidemia reduz a afinidade do cálcio pela albumina, aumentando o Cai (uma dica é pensar que a acidez está dissolvendo o cálcio que está ligado às proteínas); o Alcalose aumenta a afinidade do Ca pela albumina. Exacerbação das ações fisiológicas do PTH > que tem como função principal absorver o calcio do osso, modula absorção no intestino e estimula a reabsorção do cálcio nos rins. Então, nada mais esperado que gerar uma hipercalcemia como pr incipal manifestação clínica no hiperparatireoidismo primário. Manifestações clínicas • Confusão mental; • Demência (no idoso principalmente); • Depressão; • Ansiedade; • HAS (devido ao aumento da contratilidade cardíaca); • Alteração no intervalo QT (quanto mais aumenta o Ca, menor o intervalo QT, como um feedback). Lembrando: hipocalcemia aumenta muito o intervalo QT, podendo levar a arritmias e ao óbito); • Constipação; • Ativa algumas enzimas no TGI, podendo levar à úlcera péptica no estômago, pancreatite aguda no pâncreas; • Nefrolitíase e diabetes insipidus nefrogênica, já que fica mais resistente ao ADH; • Em relação aos músculos, o cálcio baixo aumenta a excitabilidade muscular, enquanto que o cálcio alto vai aumentar a fraqueza muscular; • Nos ossos, o PTH alto predispõe a fraturas, osteoporose (se acima dos 50 anos) e baixa massa óssea para a idade (se abaixo dos 50 anos); • Em relação à osteoporose, é importante lembrar a diferença entre o osso trabecular e o cortical. O trabecular é bem avaliado tanto no fêmur e principalmente colo do fêmur, assim como da coluna lombar > já que são ricos em ossos trabeculares, que são mais afetados em alterações hormonais, como na menopausa > no hiperparatireoidismo, há maior retirada do osso cortical, então não é possível uma boa avaliação nesses casos de osso trabecular, mas sim de osso cortical > solicita-se então densitometria de osso cortical > os mais pedidos são dos ossos do antebraço (rádio e úmero), mas, melhor avaliado pelo rádio. A cintilografia óssea também é uma boa opção para a avaliação do osso cortical no crânio. No Rx aparece um espessamento cortical. • Devido à remodelação intensa, por ser colocada muita massa osteoide e tirado muito cálcio do osso, podem começar a formar tumores e um deles é o osteoclastoma, mais comum e benigno, mas, predispõe o risco à fraturas (são conhecidos também como tumor marrom) > quando há uma grande quantidade desses tumores no osso, chamamos de osteíte fibrosa (ocorre em todo o corpo > não é focal > casos graves podem causar compressão medular e pancitopenia); • Osteoclastoma: grande reabsorção óssea > área desmineralizada > vasodilatação > chegada de células mesenquimais e sangue > formação de tecido fibroso > formação do tumor • Outro sinal de que o PTH age muito no osso é o sinal de Rugger Jersey: também conhecido como COLUNA de Rugger Jersey, em que é possível notar a grande diferença de intensidade entre o osso cortical e o trabecular nas vértebras. • Reabsorção óssea subperiosteal em falanges distais e crânio: na calota craniana e na região esternal existem duas lâminas de ossos corticais, que aparecem em hipercaptação na cintilografia com tecnécio. • Manifestações renais: hipofosfatemia. Pode ocorrer a nefrolitíase: mesmo com a excreção renal do cálcio, a hipercalcemia é muito grande e em composição com a hiperfosfatúria, transforma os rins em uma “pedreira”. Alterações laboratoriais • Fosfatemia baixa ou no limite inferior da normalidade; • Com fosfatúria normal ou discretamente aumentada; • Outros achados: o Marcadores de turnover ósseo elevados – fosfatase alcalina, P1NP e CTX; o Cálcio urinário de 24 horas alto; o Acidose tubular – efeito bicarbonatúrico do PTH; o Vitamina D baixa: ▪ PTH aumenta a excreção biliar de 25 vitamina D; ▪ Reduz a síntese cutânea de vitamina D. Diagnóstico Inicialmente, precisa-se definir se essa alteração vem da paratireoide ou não. Hipercalcemia • Primeiro exame depois de identificar o paciente com hipercalcemia: PTH > estando alto o PTH (acima de 30 pg/mL), sei que a responsabilidade é da paratireoide (hipercalcemia PTH dependente), com grande secreção de PTH. Se vir normal, sei que também é responsabilidade dela (devemos considerar que ela não está identificando a variação de cálcio e mantendo a hipercalcemia, algo tem de errado). Ambos os casos definem como HIPERPARATIREOIDISMO PRIMÁRIO. • Se o PTH está suprimido (menor que 30 pg/mL), sei que é uma hipercalcemia PTH independente e uma das principais causasé a hipercalcemia da malignidade. • A maior parte dos pacientes são assintomáticos ou oligossintomáticos > dependendo dos níveis de cálcio ou velocidade de elevação, podemos observar alterações sistêmicas e graves. IMPORTANTE: achado no ECG característico de hipercalcemia: encurtamento do intervalo QTc. • Quadros mais graves: crise hipercalcêmica. Critérios: o Cálcio sérico total > 15 mg/dL; o Encefalopatia; o Desidratação com hipotensão; o IRA pré-renal. • Para a interpretação da DMO, usa-se o T-score para mulheres pós-menopausa e homens pós 50 anos: o Normal: T-score maior ou igual a -1; o Osteopenia: menor que -1; o Osteoporose: menor ou igual a – 2,5. • Indivíduos mais velhos são comparados com a população adulta, utilizamdo-se o T-score; • Adultos jovens, utiliza-se o Z-score, que compara com a população da mesma idade e sexo: o Massa óssea normal para a idade: Z-score maior que -2; o Massa óssea baixa para a idade: Z-score menor ou igual a -2. Avaliação da calcemia • Aumento do calcio total acima do limite superior da normalidade para o método, que geralmente é maior de 10,5 mg/dL (não esquecer de corrigir o cálcio em situações de hipoalbuminemia); • Classificação: o Leve: 10,6 a 12 mg/dL; o Moderada: 12 a 14 mg/dL; o Grave: maior que 14 mg/dL. PTH alto > hiperparatireoidismo • Posso começar a investigação pelo PTH: o Investigar o cálcio > se está alto: hiperparatireoidismo primário (lembrar que se o PTH estiver normal, também é primário); o Se o cálcio está baixo: hiperparatireoidismo secundário > exacerbação da fisiologia, então o cálcio está baixo, o PTH vai estar alto para tentar subir o cálcio e a vitamina D mais baixa, o PTH vai tentar subir para modular essa vitamina D. IMPORTANTE: hiperparatireoidismo primário é definido por aumento da calcemia, queda do fósforo e aumento da fração de excreção de cálcio, juntamente com o PTH alto. Diagnóstico topográfico • Para identificar com está a lesão, são dois principais: o US a paratireoide e diagnosticar a glândula paratireoide que está mais aumentada. Tomar cuidado, já que as vezes o radiologista identifica como “nódulo da tireoide”. É necessário que se entenda que pode ser da paratireoide e não da tireoide ; o Cintilografia com Sestamibi-99m Tc: a paratireoide é ávida por Sestamibi, então, se estiver hiperfuncionante, vai captar mais esse composto. Etiologias da Hipercalcemia PTH dependente: • A principal causa disparada é o adenoma de paratireoide. Existem alguns diferenciais importantes: o Hipercalcemia hipocalciurica familiar: os sensores da tireoide podem sofrer uma resistência, não compreendendo que o cálcio sérico está normal, continuando a secretar PTH. Nos rins o sensor não está sofrendo resistência, então o PTH atua nos rins, fazendo com que a absorção continue sendo alta nos nefrons. A fração de excreção de Ca está menor que 1%, enquanto que na hipercalcemia, como no hiperparatireoidismo primário comum, tenho uma fração de excreção de cálcio maior que 2% (é uma mutação autossômica dominante, então, considerar a história familiar aqui para diferenciar uma da outra). o Induzida por lítio; o Hiperpara terciário: paratireoide pode ficar tão estimulada devido às causas secundárias, que se torna autônoma. Então mesmo corrigindo a disfunção renal, continua produzindo PTH como se não estivesse nada impedindo. Nesses casos o cálcio também vai estar alto, diferenciando do secundário, em que o cálcio está normal ou baixo; o Carcinomas: metástases; o Hiperplasias da tireoide. IMPORTANTE: adenona, carcionoma e hiperplasia são muito semelhantes histologicamente. A diferença vai ser basicamente que na hiperplasia teremos mais de uma glândula aumentada na maior parte das vezes, no carcinoma teremos metástases e no adenoma normalmente atinge apenas uma das glândulas paratireoides. Em relação especificamente às hiperplasias, normalmente estão associadas a doenças genéticas. Neoplasias endócrinas múltiplas: • Especificamente, as hiperplasias estão associadas a doenças genéticas. A principal é a neoplasia endócrina múltipla do tipo 1 (NEM1), que vai ter as hiperplasias da paratireoide (hiperpara primário, secundário à hiperplasia), tumor de hipófise (produtor ou não) e tumores pancreáticos (o mais comum é o insulinoma, produtor e funcionanete mais comum. Mas, é importante lembrar que os tumores pancreáticos mais comuns no NEM1 são os não funcionantes, inclusive é o principal motivo de óbitos dessa patologia). Outro tumor comum são os gastrinomas, que está no triângulo dos gastrinomas, limitado pelo pâncreas, duodeno e pela confluência do ducto cístico com o hepático comum. • NEM 2A: nesse caso, entra a adrenal e o carcinome medular de tireoide no lugar do pâncreas e hipófise; • NEM 2B: nesse caso não tem a paratireoide, mas, o hábito marfanoide, que é um fenótipo com hábitos mais alongados, tumor de adrenal e tumor medular de tireoide. Hipercalcemia PTH independentes • Hipercalcemia da malignidade, a principal causa de hipercalcemia de pacientes internados. Aqui podemos ter 4 mecanismos para levar à hipercalcemia: humoral (pela produção de PTHrp, que é um PTH um pouco diferente do normal, é necessário dosar especificamente esse, não o comum); osteolítico (em que o próprio tumor destrói o osso, liberando cálcio e fósforo); produção de PTH ectópico (muito raro, mais fácil o paciente ter um hiperpara primário e um câncer e esse secretando PTH em excesso) e a expressão da 1-alfa-hidroxilase (principalmente nos linfomas e granulomas, que aumenta a tivação da vitamina D e essa absorver muito cálcio e muito fósforo, causando hipercalcemia). Tratamento clínico São basicamente 3 frentes de tratamentos clínicos: • Frente de abordagem óssea, bloqueando a absorção de cálcio do osso; o Bifosfonatos: segunda principal conduta após o paciente hidratado. A administração é EV (principais: Pamidronato e Ac. Zoledrônico). Dose única e não repetir nos próximos 7 dias. o Calcitonina de salmão: deve ser feita em no máximo 48h, já que ela entra em tafilaxia (organismo começa a se acostumar com o efeito da droga e diminui a sua atuação); o Calcimiméticos: bloqueiam a liberação de cálcio ao atuarem sobre o sensor de cálcio nas paratireoides; o Denosumabe: nos casos de calcemia refratária aos bifosfonato. • Frente de abordagem intestinal, bloqueando a reabsorção intestinal de cálcio; o Lembrar: quem realmente absorve o cálcio no intestino é a vitamina D. Então, a conduta é pensando no bloqueio da vitamina D ativa > por isso que a principal conduta é o corticoide. É importante para as doenças que produzem a vitamina D ativa, que são as doenças granulomatosas (linfoma, mieloma e sarcoidose); o Sobre o intestino, em vigência de hipercalcemia importante, evita-se alimentos muito ricos em cálcio ou suplementos com cálcio e vitamina D. • Frente renal: estimulando o cálcio a sair pelos rins. o Aumentar hidratação do paciente, seja qual for o nível de hipercalcemia > fazer uma hiper-hidratação, com o objetivo de 300 ml de SF por hora e diurese de 100 a 150 ml por hora > para o paciente espoliar o excesso de cálcio sérico; o Furosemida, para estimular a diurese (lembrar que é indispensável realizar primeiro a hidratação, depois o diurético. O contrário poderia precipitar uma insuficiência renal no paciente); o Evitar a hidroclorotiazida, já que ela absorve cálcio, podendo piorar a hipercalcemia. o Em virtude de um paciente com disfunção renal, não adianta fazer o excesso de hidratação. Tem-se que lançar mão da diálise para tirar esse excesso de cálcio no organismo. IMPORTANTE: considerar esse tratamento para compensação clínica antes da cirurgia, pacientes que se recusam a fazer a cirurgia ou que não podem ser operados. Tratamento cirúrgico • Abordagem cirúrgica no hiperparatireoidismo primário; • Todos tem indicação da cirurgia?A resposta é NÃO. • Indicações: o Sintomático: ▪ Com crise hipercalcêmica e sintomas de rebaixamento de nível de consciência; ▪ Nefrolitíase sintomática; ▪ Tumores ósseos: osteoclastoma ou osteíte fibrosa; o Assintomático: ▪ CINCO (para lembrar das iniciais) > paciente precisa ter um desses achados: • Clearence de creatinina < 60 mL/min: está com disfunção e precisa ser realizada a correção cirúrgica; • Idade < 50 anos: é muito jovem e se não for feita a cirurgia, o paciente vai passar ainda muito tempo de vida sob estímulo desse PTH alto; • Nefrolitíase assintomática encontrada por algum exame, ou nefrocalcinose; • Cálcio total acima de 1 mg/dL; • Osteoporose ou fratura de fragilidade. • Técnica cirúrgica: o Depende muito dos exames do pré-operatório; o Se a cintilografia mostra bem a glândula paratireoide alterada, coincidindo com o US, é mais fácil fazer uma paratireoidectomia minimamente invasiva; o Problema maior: quando a cintilografia não evidencia a paratireoide alterada. Nesse caso o paciente continua com indicação cirúrgica, já que o hiperparatireoidismo primário permanece. É feita a exploração cirúrgica das paratireoides através da incisão cervical, avaliando cada glândula. A avaliação é feita pelo PTH intraoperatório. Se o PTH cair mai de 50% após a retirada, provavelmente era aquela a alterada. Se não for na primeira, fazer o mesmo processo com as outras até encontrar a correta. o Os casos acima consideraram um adenoma de paratireoide, agora, considerando as hiperplasias das 4 paratireoides, não podemos fazer a excisão de todas as glândulas. Sendo assim, pode-se utilizar a técnica de tirar até 3 glândulas e a 4ª deixar metade ou até 1/3 dela, suficiente para produzir o PTH necessário para manter a fisiologia do organismo. A técnica é conhecia como paratireoidectomia subtotal, com preservação de ½ a 1/3 de uma das glândulas. É uma técnica mais nova e bastante utilizada atualmente. o Outra técnica para o caso da hiperplasia é a mais antiga e tradicional paratireoidectomia total com reimplante em antebraço (ou esternocleidomastoideo). Nesse caso todas as 4 são retiradas o fragmento de uma delas é inserido no antebraço do paciente e após semanas a meses o PTH começa a ser produzido. IMPORTANTE: principais complicações da cirurgia de paratireoidectomia: a hipocalcemia é a principal. A mais fácil de lembrar é pelo hipoparatireoidismo. As glândulas são um pouco sensíveis e mesmo não sendo retiradas, após o processo cirúrgico começam a não secretar mais PTH tão bem nos primeiros dias. Ocorre também a hiperfostatemia devido à queda da excreção do íon fosfato. Outra complicação é a “fome óssea”: o osso passou muito tempo sob o estímulo do PTH e então está com pouco cálcio, fósforo e magnésio, hidroxiapatita frágil. Depois que esse estímulo do PTH é retirado, está com muita “fome de osso” nesse sentido, muito cálcio, fósforo e magnésio são absorvidos pelo osso, levando a uma hipofosfatemia, hipocalcemia e hipomagnesemia. Diferença entre a fome óssea e o hipoparatireoidismo: no caso da fome óssea, tudo estará baixo, no hipopara apenas o cálcio estará baixo (fósforo alto). Pode ocorrer a falha do tratamento se o PTH e cálcio não normalizarem no período de 6 meses. Caso volte a apresentar hipercalcemia, deninimos como recorrência (procurar melhor a glândula, fazer nova cintilografia e US cervical e avaliar se não há paratireoide intratorácica). Porque 6 meses? Por que nesse período o paciente pode apresentar hipopara transitório e mascarar o hiperpara não curado. Secreção inapropriadamente baixa de PTH, levando à hipocalcemia e hiperfosfatemia. Manifestações clínicas • Diminuição da absorção de cálcio renal, intestinal e dos ossos e redução da excreta de fósforo pelos rins > espera-se então uma hiperfosfatemia e uma uma hipocalcemia; • No SNC: tetania, convulsões, um sinal radiológico muito comum: sinal de Fahr (calcificações dos gânglios da base > geralmente não leva a muitos sintomas, talvez parkinsonismo, mas, não é tão comum. A calcificação não ocorre devido ao íon livre, mas sim devido ao produto cálcio + fósforo, que predispõe a calcificações não só em gânglios da base, mas também no coração, artérias e maiores riscos de doenças aterotrombóticas); • Olhos: catarata subcapsular precoce pode levar à calcificação; • No sistema circulatório: QT alargado podendo levar às arritmias; • No sistema muscular: principais manifestações clínicas, principalmente levando à hiperexcitabilidade muscular (músculo com muitas paresterias, espasmos e câimbras). Geralmente esses sinais e sintomas são gerados quando o cálcio está muito baixo, quando está intermediário ou no limite, pode dar sintomas musculares não espontâneos, mas preciptados por dois sinais semiológicos importantes: sinal de Chevstek (percussão do tronco do nervo facial e devido à hiperexcitação do sistema neurológico e muscular, quando percute ocorre uma contração ipsilateral da face. Mnemônico para lembrar desse sinal: “TEK, TEK, TEK, sinal de Chevstek) e sinal de Trousseau (insuflar o esfigmo em 20 mmHg acima da pressão sistólica no braço do paciente. Quem tem hipocalcemia vai apresentar contratura dos músculos do antebraço e da mão, com dois minutos ou mais desse sinal. Lembrar da mão de trucô para lembrar do sinal de Trousseau). • Manifestações renais: lembrar que se eu tenho hiperfosfatemia, a fração de excreção do fósforo também vai estar alta, e junto com a falta da ação do PTH nos rins, terei um hipercalciúria. O produto cálcio + fósforo vai estar muito alto, e os rins fazem nefrocalcinose, nefrolitíase e aumenta muito o risco de disfunção renal. • Outras manifestações possíveis: laringoespasmo, broncoespasmo, pele seca, cabelos grossos, unhas quebradiças, hipoplasia dentária (instalação na infância), papiledema, hipertensão intracraniana, alterações de marcha/parkinsonismo. • Aumento da densidade mineral óssea: ossos com baixo metabolismo. Hipocalcemia • Diante de um quadro de hipocalcemia: dosar PTH > baixo eu sei que o cálcio baixo (menor que 8,5 mg/dL), é culpa do PTH (hipocalcemia por hipoparatireoidismo). Lembrar de corrigir o cálcio (CaT) em caso de hipoalbuminemia. • Se o PTH está normal ou alto, a responsabilidade não é do PTH propriamente dito, ele está sofrendo uma resistência provável, que pode ser pelos motivos abaixo: o Deficiência de Mg2+; o Pseudohipoparatireoidismo: resistência genética (PTH fica maior para tentar vencer essa resistência); o Vitamina D mais baixa: pelo feedback, aumenta o PTH para tentar compensar; o Insuficiência renal: baixa o cálcio e aumenta o PTH. IMPORTANTE: diagnóstico de PTH então é feito basicamente com os seguintes sinais: PTH baixo, Cálcio baixo e fósforo alto. Paratireoide normal: hipocalcemia com PTH alto e fósforo normal ou baixo. Etiologias da hipocalcemia Conduta perante uma hipocalcemia • Cálcio EV em casos de emergência ou se for muito baixo (cutoff menor que 8): tetania, convulsões laringoespasmo; • Depois da recuperação do paciente ou em casos de hipocalcemia não muito grave: cálcio VO até 1g na refeição ou colecalciferol (vitamina D); • Lembrar: se eu tenho um hipoparatireoidismo, não adianta fazer colecalciferol, já que não tenho o PTH para ativar a vitamina D. Preciso fazer a vitamina D já ativa. Nesse caso vou fazer o calcitriol. Outra conduta é fazer a hidroclorotiazida, absorvendo o cálcio dos rins e diminuindo a hipocalcemia. Sìndrome poliglandular autoimune Tratamento Vai depender da gravidade dos sintomas. Pacientes estáveis: • Quadros leves e assintomáticos: ambulatoriamente; • Reposição de cálcio pela dieta ou suplementação VO; • Cálcio elementar: 1 a 4 g/dia. Principais formas de reposição: o Carbonato de cálcio: precisa de acidez gástrica para ser absorvido; o Lactogliconato de cálcio +carbonato (cálcium Sandoz): depende menos de acidez gástrica; o Citrato de cálcio (Miocalven): independe da acidez gástrica. • Casos de hipoparatireoidismo: o PTH recombinante: ainda é limitado pela falta de estudos > mais estudado para osteoporose grave; o Vitamina D 1 alfa-hidroxilada (já que não temos o PTH para ativar a vitamina D não hidroxilada); ▪ 0,25 a 2 mcg/dia de calcitriol, VO vitamina D ativa, com duas hidroxilações: 1-alfa e 25 hidroxilase; ▪ 0,5 a 5 mcg/dia de alfacalcitriol (1 alfa hidroxivitamina D3) VO > vitamina D com 1 alfa hidroxilação, só faltando a ativação da 25 hidroxilase hepática, que não é mediada pelo PTH. Pacientes com manifestações renais: • Cálculos ou nefrocalcinose; • Utilizar hidroclorotiazida para estimular a reabsorção de cálcio > reduz a calciúria e auxilia no aumento do Ca sérico. Pacientes graves: • Hipocalcemia aguda e sintomática; • Emergência médica > principalmente Cat menor que 7,5 mg/dL > associada a sintomas de irritabilidade neuromuscular (paresterias e contraturas) ou em casos de crise hipocalcêmica (tetania, convulsões, laringoespasmo, QT prolongado); • Reposição endovenosa de cálcio e associação com calcitriol. • Conduta de emergência: o Gluconato de cálcio 10% (IV): 10 a 20 ml em 10 minutos; o Monitorizar intervalo QT no ECG. • Fome óssea: repor também magnésio e fósforo. • Cessada a crise, reposição: o Gluconato de cálcio 10% (IV): 10 ampolas + 900 mL SF 0,9% (a solução terá 0,93 mg/mL); infusão de 25 a 50 mL/h (0,3 a 1,0 mg/kg/h); suspender quando Ca for maior que 7,5 mg/dL e otimizar o tratamento oral. Anotações da aula Metabolismo do Ca e P: • PTH > sem ela, evolui para hipocalcemia; • Sem vit D > não evolui para para hipocalcemia, apenas diminui a proporção de cálcio; Cálcio: contração muscular, cardio, SNC • Cálcio total: cálcio iônico ligado a proteínas > principalmente albumina • Cálcio livre > não ligado a proteínas; • Ingestão reduzida de cálcio > aumenta o PTH > retira do osso; • Dividido em compartimentos diferentes > solúvel e insolúvel > dentro e fora da célula; • Necessidade de ingestão aumenta após 50 anos, principalmente em mulheres; • Vitamina D > aumentar a absorção de cálcio intestinal; • Absorção do cálcio no néfron > todos os diuréticos tem influência na absorção do cálcio sérico (furosemida e hidroclorotiazida); • Estudar o problema de cálcio do renal crônico; • PTH muito alto > nefrocalcinose > ação permissiva da entrada de cálcio no túbulo distal (normalmente ocorre no túbulo proximal) ; • Saber muito bem ação dos tiazídicos e furosemida > mecanismo dos dois diuréticos; • Fósforo está relacionado com o cálcio > não é primário, é sempre junto com outro distúrbio do cálcio; • A absorção do fósforo acontece na maior parte no túbulo proximal; • Calcitonina tem meia vida de minutos, então não tem tanta reação sobre o cálcio sérico. É produzida pelas células C da tireoide (origem neuroendócrina); • Carcinoma medular de tireoide NEM 2; • Age no osso e rim com a finalidade de aumentar o cálcio sérico; • Hipervitaminose D: elevação do cálcio e do fósfoto; • Hiperparatireoidismo: elevação do cálcio e queda do fósforo (ação do PTH inversamente proporcional) • Primário: PTH; • Secundário: IRC > hipovitaminose D > discreta elevação do Ca sérico > não consegue mais excretar fósforo: retém, portanto. > coceira na pele secundário ao depósito de fósforo na pele > hipertrofia das paratireoides; • Terciário: quando o muito grave é crônico e a célula não consegue voltar a funcionar