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TCC - infanticidio

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52
Faculdades Integradas da União Pioneira de Integração Social
Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito
 INFANTICÍDIO NAS COMUNIDADES INDÍGENAS: CONFLITO ENTRE A TRADIÇÃO CULTURAL E O DIREITO CONSTITUCIONAL À VIDA
Brasília - DF
2020
	 INFANTICÍDIO NAS COMUNIDADES INDÍGENAS: CONFLITO ENTRE A TRADIÇÃO CULTURAL E O DIREITO CONSTITUCIONAL À VIDA
Monografia apresentada para obtenção de título de Bacharel em Direito pelo Programa de Graduação das Faculdades Integradas da União Pioneira de Integração Social - UPIS.
Orientadora: Profa. 
Brasília -DF
2020
 INFANTICÍDIO NAS COMUNIDADES INDÍGENAS: CONFLITO ENTRE A TRADIÇÃO CULTURAL E O DIREITO CONSTITUCIONAL À VIDA
Monografia apresentada para obtenção de título de Bacharel em Direito pelo Programa de Graduação das Faculdades Integradas da União Pioneira de Integração Social – UPIS. Orientadora: Profa. 
Brasília-DF, ____ de novembro de 2020.
Banca Examinadora
_______________________________________
Fabiana Figueiredo Felício dos Santos
Profa. Orientadora
_______________________________________
Prof. Examinador 
__________________________________________
Prof. 
Examinador´
AGRADECIMENTO
Ainda elaborar (espaço simples)
RESUMO
O presente trabalho de conclusão de curso tem como principal foco o infanticídio nas comunidades indígenas, no que se refere a tradição cultural e o direito constitucional à vida. O objetivo geral do trabalho é explicar a colisão existente entre o direito constitucional à vida e o direito à cultura, assim como buscar soluções que possam inibir tais práticas. Para tanto, conceitua-se infanticídio indígena, apresentam-se as situações que crianças são submetidas a essas práticas, e realiza-se uma análise mais profunda de tais atos, em decorrência ao direito constitucional à vida. Abordar sobre o infanticídio nas comunidades indígenas é de grande relevância, porque ainda que o assunto não seja tão abordado nas mídias, essas práticas ainda são fortes em algumas tribos. A Constituição assegura à vida, e tal prática, encontra-se em colisão com o artigo 5º da Constituição, que diz “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” (Brasil, 1988). O presente estudo consiste em pesquisa aplicada, de caráter descritivo, possuindo um caráter bibliográfico, com com um método comparativo, a partir da coleta de informações em fontes secundárias. E, a partir da condução do processo de pesquisa, foi possível concluir que o infanticídio nas tribos indígenas, está longe de ser erradicado, uma vez que até mesmo o projeto de lei apresentado, ainda encontra-se em apreciação no Congresso Nacional. O que resta é acreditar, que em algum momento o direito constitucional à vida, será verdadeiramente o auge para a proteção de bebês que sem escolha, tem suas vidas tiradas, seja por simplesmente serem gêmeos, ou até mesmo filho de mães solteiras, assim como em variadas situações a depender da tradição da tribo indígena. 
 
Palavras – Chaves: Infanticídio indígena. Direito Constitucional à vida. Relativismo Cultural. Direitos Humanos. 
ABSTRACT
(Ainda corrigir após alterações)
This course conclusion project focuses mainly on infanticide in indigenous communities, especially with regard to cultural tradition and the constitutional right’s to life. The general objective of the study is to identify potential ways to inhibit any practices in order to reduce the pain of families that have their children dead, due to culture, especially those who do not agree with this cultural acts, as well as explain the this frontal collision between the constitutional right to life and the right to culture. Therefore, indigenous infanticide is conceptualized, the situations that children are subjected to these practices are presented, and a deeper analysis of such acts is carried out, as a result of the constitutional right to life. Addressing infanticide in indigenous communities is of great relevance, because although the subject is not so addressed in the media, these practices are still strong in some tribes. The Constitution ensures life, and this practice is in collision with Article 5 of the Constitution, which says "Everyone is equal before the law, without distinction of any nature, guaranteeing Brazilians and foreigners residing in the country the inviolability of the right to life, freedom, equality, security and property" (Brazil, 1988). This study consists of applied research, of exploratory character, having a bibliographic character, with a comparative method, from the collection of information in secondary sources. And, from the conduct of the research process, it was possible to conclude that infanticide in indigenous tribes is far from eradicated, since even the bill presented has not yet been approved and sanctioned. What remains is to believe that at some point the constitutional right to life will truly be the pinnacle for the protection of babies who, without choice, have their lives taken, either because they just are simply twins, or even the child of single mothers, as well as in various situations depending on the tradition of the indigenous tribe.
Words - Keys: Indigenous infanticide. Constitutional right to life. Cultural Relativism. Human rights.
INTRODUÇÃO	8
1.	DIREITOS HUMANOS	11
1.1	Declaração Universal dos Direitos Humanos	12
1.2	Direitos Fundamentais	14
1.3	Direito à vida	16
2.	DIVERSIDADE CULTURAL	18
2.1	Cultura	19
2.2 Diversidade Cultural	20
2.3	Relativismo cultural	22
2.4	O Universalismo dos Direitos Humanos	24
3.	UMA VISÃO GERAL SOBRE INFANTICÍDIO INDÍGENA	26
3.1	Infanticídio indígena no Brasil	26
3.2	Motivos e os costumes que levam a essa prática	28
3.3	Menina Hakani	32
3.4	Índia Muwaji	35
3.5	O caso da recém-nascida enterrada viva em canarana	36
4.	INFANTICÍDIO INDIGENA À LUZ DA LEGISLAÇÃO	38
4.1	Projeto de Lei 1057/2007	39
4.2	Ponderação de direitos fundamentais	44
4.3	Meios interculturais de intervenção das práticas de infanticídio indígena	45
CONCLUSÃO	48
REFERÊNCIAS	50
INTRODUÇÃO
O presente artigo visa tratar referente ao infanticídio indígena no Brasil, e averiguar soluções que possam culminar na erradicação de tal prática. A prática do infanticídio indígena no Brasil, representa um desafio, pois assegurar o respeito à cultura e a proteção à vida, é desafiador. A comunidade indígena possui hábitos, costumes e leis próprias, e dentro disso, existe uma tradição de tirar a vida de crianças e adolescentes indígenas por variados motivos.
Tal prática, compreendida como expressão cultural, esbarra e fere os direitos fundamentais à vida dessas crianças, havendo, desta forma, um impasse entre os direitos humanos perante a diversidade cultural dos povos indígenas.
A Constituição em seu Art. 5º[footnoteRef:1] descreve que: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (Brasil, 1988). [1: Disponível em https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10730920/inciso-iv-do-artigo-5-da-constituicao-federal-de-1988 Acessado 23/10/2020. Acesso em 23 out. 2020] 
Contudo, a Constituição assegura também aos grupos indígenas o direito aos costumes por meio de suas tradições e culturas, em seu Art. 231[footnoteRef:2] dispõe: “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”. (Brasil, 1988). [2: Disponivel em https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10643688/artigo-231-da-constituicao-federal-de-1988. Acesso em 23 out. 2020] 
 O tema, portanto, pretende discutir acerca desse conflitode interesses que existe. Uma vez, estudando o infanticídio indígena, percebe-se a colisão entre o direito à prática cultural dos povos indígenas que são costumes, e tradições e o direito à vida do ser humano, sendo que ambos são previstos na Constituição Federal.
A cultura que decorre de uma tradição indígena com intuito de tirar a vida de crianças tem sido motivo de muitos estudos com relação a algumas práticas em suas culturas. Contudo, o problema é que, tirar a vida de outro ser humano pode ser um ato considerado contrário ao que é chamado de moral, assim como outros costumes e crenças de outros povos. 
As comunidades indígenas no Brasil são formadas por grupos autônomos, compostos de práticas, costumes e leis próprias, o que significa dizer que tais indivíduos possuem valores e visões de mundo diferenciados.
 A tradição indígena faz pais tirarem vidas de crianças com deficiência física, mentais, gêmeos, filhos de mães solteiras e por variados motivos a depender da tradição da tribo. Para os índios, essa prática é considerada um gesto de amor, no qual desejam proteger o recém-nascido. O infanticídio indígena é um ato sem testemunha. As mulheres vão sozinhas para a floresta, e lá, depois do parto, examinam a criança. Se ela tiver alguma deficiência, terá que ter a vida interditada.
Os motivos alegados para o sacrifício de crianças são os mais diversos, como o nascimento de bebês com deficiências físicas ou mentais, gêmeos, filhos de relacionamentos extraconjugais, a preferência pelo sexo masculino, a ocorrência de partos muito próximos um do outro, sonhos ou maus presságios.
Normalmente os recém-nascidos são abandonados no meio da mata, enterrados vivos (para que, segundo a tradição, possam ver a passagem para o "outro mundo"), asfixiados com folhas ou envenenados. Há também relatos de bebês flechados ou mortos a golpes de facão. (Santos, 2006).
O direito à vida é um bem jurídico inviolável, pois todos devem ter o direito de viver, os infanticídios decorrentes das populações indígenas abrem grandes debates em relação ao direito à vida e à dignidade da pessoa humana que a Constituição protege, é um assunto de grande relevância social, pois através do sacrifício, traz o sofrimento e a dor não só de muitas mães de aldeias, como da população que luta para adotar medidas que venham erradicar tais atos.
Discutir sobre o infanticídio indígena no Brasil, se faz necessário, uma vez que o direito à vida é descumprido, uma vez que se assegura os usos e costumes de determinados grupos. Se por um lado a cultura é de grande importância e possui um fator marcante na edificação da personalidade humana, assim como valores aprendidos durante a vida, o direito à vida também possui grande relevância, é um princípio fundamental inviolável, e deve ser protegido
O objetivo do artigo está relacionado a uma análise da prática de infanticídio em algumas tribos no Brasil, compreendendo os motivos e os costumes que trazem como consequência a morte de crianças, em especial, abordando casos ocorridos na tribo dos Suruwahás, o da índia Muwaji e menina Hakani. 
E com isso, pretende-se trazer o Projeto de Lei 1057/2007, também chamado de Projeto Lei Muwaji, que até o presente momento aguarda apreciação pelo Senado Federal. Aprovado o Projeto de Lei será possível, garantir às crianças indígenas a proteção necessária, assegurando-lhes os direitos básicos, como o direito à vida, que de fato já são assegurados por Leis, Decretos e Convenções Internacionais, contudo não alcançam crianças indígenas.
Sendo assim, o presente trabalho monográfico estabeleceu como problema de pesquisa abordar o conflito de dois direitos fundamentais previstos na Constituição Federal, o direito à vida e o direito de autodeterminação dos povos indígenas, investigando o seguinte: Como o Direito Constitucional à vida pode impedir o crescimento do infanticídio nas comunidades indígenas?
Para alcançar o objetivo geral, os objetivos específicos serão: conceituar infanticídio Indígena; conceituar direito constitucional à vida; analisar: o conflito entre a tradição cultural e direito constitucional à vida. Relatar: sobre o conflito entre o Relativismo e o Universalismo dos Direitos Humanos.
O presente estudo consiste em pesquisa aplicada de caráter exploratório estudando todos os aspectos relacionados ao infanticídio indígena, fazendo uma abordagem sobre a autodeterminação dos povos indígenas e a proteção ao direito à vida protegido pela Constituição Federal. Possuindo um caráter bibliográfico, no qual foi feita pesquisa em artigos, projetos de lei, doutrinas, documentários de mídia eletrônica, com um método comparativo em que serão abordados os direitos que as tribos possuem garantidos por lei sobre seus costumes, tradições e cultura, ao direito à vida garantida às pessoas pela Constituição Federal de 1988; e com método histórico, no qual será estudado o assunto desde o momento em que se originou o debate sobre infanticídio indígena no Brasil. 
1. DIREITOS HUMANOS
O presente tópico tem como foco discorrer sobre os Direitos Humanos. Tal abordagem se faz necessária, para que possa ser compreendido quão fundamental é o direito à vida. De tal modo, pode se afirmar que direitos humanos é um sistema regulamentar que integra tratados e normas internacionais, de tamanha relevância, de modo tal a resguardar o direito a dignidade da pessoa humana, sem que haja acepção por conta de sexo, cor, etnia, ou qualquer tipo de exceção que possa causar exclusão. 
Nos dias atuais, discussões acerca dos direitos humanos são relevantes dentro do ponto de vista jurídico e dito como prioridade dos Estados atingindo o âmbito internacional, assim como preceitua Paulo Henrique Gonçalves Portela (2010, p. 615):
Em todo caso, é evidente que a proteção e a promoção dos direitos humanos estão elencadas entre os principais temas das relações internacionais na atualidade e se encontram entre as prioridades dos Estados, da sociedade Internacional e do Direito Internacional.
Segundo o autor, "o fundamento dos direitos humanos refere-se ao motivo pelo qual todas as pessoas, sem distinção de qualquer espécie, são titulares do mesmo rol de direitos" (PORTELA, 2010, p. 616)
Essa proteção internacional possibilita que os Estados sejam responsabilizados internacionalmente caso violem tais direitos com relação aos indivíduos que estão sob a sua jurisdição. 
Acerca da história dos Direitos Humanos e a respeito dos direitos fundamentais, Bonavides (2010, p. 574) afirma que:
A história dos direitos humanos – direitos fundamentais de três gerações sucessivas e cumulativas, a saber, direitos individuais, direitos sociais e direitos difusos – é a história mesma da liberdade moderna, da separação e limitação dos poderes, da criação de mecanismos que auxiliam o homem a concretizar valores cuja identidade jaz, primeiro na Sociedade, e não nas esferas do poder estatal.
Segundo Barzotto (2005 p. 1) direitos humanos “são os direitos subjetivos que cabem a todo ser humano em virtude de sua humanidade”.
Fica claro portanto, que todos tem seus direitos básico assistidos e assegurados não somente na legislação como sob vigilância dos Direitos Humanos. 
SAMPAIO (2002, p. 670) aponta, as seguintes características funcionais dos direitos humanos fundamentais:
a) Desempenham um papel central de legitimidade da ordem constitucional, e embora constituam a estrutura orgânica e funcional do sistema, não podem ser considerados um “conjunto fechado” de valores;
b) Limitam o poder estatal ou demandam uma política estatal de intervenção;
c) Têm base antropocêntrica, ainda que não necessariamente individualista;
d) Apresentam um conteúdo aberto à ampliação e projetado para o futuro;
e) Não admitem retrocessos, revelando-se como um marco de evolução intangível;
f) Projetam-se não apenas nas relações entre os cidadãos e os poderes públicos, mas também na relação entre particulares;
g) São fatores decisivos de integração social, pontos de partida nos processos políticos, econômicos e culturais de uma comunidade.Importante ressaltar que foram através dos Direitos Humanos que surgiu o Universalismo dos Direitos Humanos, por meio de tratados, convenções assim como a criação de órgãos competentes para a fiscalização do cumprimento desses direitos.
Esteves (2012) afirma que os instrumentos internacionais que adotam os direitos humanos são visivelmente universalistas, pois buscam garantir a proteção universal dos direitos e liberdades fundamentais que qualquer pessoa, independentemente do local onde esteja.
Com base na argumentação apresentada ao longo deste tópico, fica claro afirmar que os Direitos Humanos, garante a segurança dos direitos básicos a todos e qualquer ser humano, sem distinção e exclusão, independente de anomalias, e características entendidas como anormais a qualquer individuo. 	
Declaração Universal dos Direitos Humanos
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) foi ratificada em 10 de dezembro de 1948, perante a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), mediante Resolução 217 A (III). A referida declaração é fruto da violenta fatalidade que devastou a humanidade no século XX. O documento é o embasamento do combate absoluto contra a violência e o florescer do discernimento, que busca proteger a igualdade e a dignidade da pessoa humana, e a compreensão de que os direitos humanos e as liberdades fundamentais devem ser aplicados a qualquer ser humano.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos não possui forma de tratado, mas possui uma força jurídica obrigatória viculante, quando traz a ideia da expressão Direitos Humanos, explicado de uma forma mais sucinta por Flávia Piovesan (2013, p. 480): 
A Declaração Universal de 1948, ainda que não assuma a forma de tratado internacional, apresenta força jurídica obrigatória e vinculante, na medida em que constitui a interpretação autorizada da expressão “direitos humanos”, constante dos arts. 1º (3) e 55 da Carta das Nações Unidas.
Deste modo cabe é possível dizer que todos os países membros das Nações Unidas possuem o dever de fomental o respeito e a obsevância universal dos Direitos Humanos descritos na Declaração.
A Declaração Universal possui uma grande importância, visto que, ajudou a consolidar os direitos humanos, pois a mesma foi elaborada durante épocas difíceis em que o mundo sentia os efeitos da Segunda Guerra Mundial.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos teve a aptidão de agregar de forma harmoniosa, dois princípios de grande relevância aos bens fundamentais da vida humana: a liberdade e a igualdade que estão elecandos no art. 5º da Constituição Federal. 
A liberdade pode ser classificada como civil ou política, tais como o direito à vida, à igualdade diante da lei e à liberdade de expressão. A igualdade possui uma classificação econômica, social e cultural, tais como o direito ao trabalho, à educação e coletivos, como o direito ao desenvolvimento. 
Capez (2008, p 197) cita Noberto Bobbio, que preceitua, “a liberdade e a igualdade dos homens não são um dado de fato, mas um ideal a perseguir, não é uma existência, mas um valor; não é um ser, mas um dever ser.”
Isto reflete os direitos básicos e as liberdades fundamentais que são inerentes a todo ser humano, declarando como único quesito exigido, que seja uma pessoa humana, abrangendo direitos civis e políticos.
Preceitua Piovesan (2013, p. 207) “Duas são as inovações introduzidas pela Declaração: a) parificar, em igualdade de importância, os direitos civis e políticos e os direitos econômicos, sociais e culturais; e b) afirmar a inter-relação, indivisibilidade e interdependência de tais direitos”.
A Declaração trata-se de uma norma que compõe o chamado jus cogens[footnoteRef:3] e da qual nenhuma derrogação é possível (Vide artigo 53. Convenção de Viena[footnoteRef:4] sobre Direito dos Tratados). Todos os países membros das nações Unidas têm o dever de fomentar o respeito e a observância universal dos direitos humanos compreendidos na declaração. [3: Jus Cogens compreende o conjunto de normas aceitas e reconhecidas pela comunidade internacional, que não podem ser objeto de derrogação pela vontade individual dos Estados, de forma que essas regras gerais só podem ser modificadas por outras de mesma natureza. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-166/jus-cogens/ Acesso em: 23 out. 2020] [4: Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d7030.htm Acesso em 23 out. 2020] 
Sendo assim explica Piovesan (2013, p. 210)
A Declaração Universal de 1948, ainda que não assuma a forma de tratado internacional, apresenta força jurídica obrigatória e vinculante, na medida em que constitui a interpretação autorizada da expressão “direitos humanos” constante dos arts. 1º (3) e 55 da Carta das Nações Unidas.
Portanto, a partir do momento em que a ONU publicou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, toda a humanidade passou a ser possuidora a direitos comuns, trazendo ao Estado a atibuição de facilitar e trazer meios para que esses direitos cheguem a todas as pessoas, com o principal objetivo de trazer a dignidade da pessoa humana, juntamente com a paz, justiça, liberdade, etc. 
A Declaração Universal de Direitos humanos estabelece em seu art. 1º, caput, que “Todas as pessoas nascem livres e iguais em direitos e obrigações”, sendo visto assim pelo Universalismo, posto que somente é necessário ter a característica de humano para ter os direitos assistidos e indispensáveis, como direito à vida, educação, liberdade, igualdade, moradia, e demais necessidades básicas inerente ao ser humano. 
Outro artigo de grande pertinência a este presente trabalho é aquele que dispõe sobre o direito à vida, consagrado no Art III, da Declaração Universal dos Direitos Humanos o direito à vida a todas as pessoas. De acordo com o entendimento de Almeida (1996, p, 54) “o direito à vida é um dos mais importantes ou talvez o mais importante dos Direitos Humanos, e o que recebe dos governantes mais proteção de paz pelo menos para as elites, e mais desprezo pela guerra.”
Portanto, a partir do instante em que a ONU publicou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, toda a humanidade passa a ser possuidora dos direitos comuns, dando ao Estado a competência de propiciar meios para que estes direitos cheguem a todas a pessoas, objetivando a dignidade da pessoa humana, a liberdade, a justiça e a paz no mundo.
1.2 Direitos Fundamentais
O presente tópico tem como objetivo discorrer referente a Direitos Fundamentais de todo e qualquer ser humano. Tal abordagem se faz necessária para que se possa compreender os direitos inerentes ao ser humano, e indispensáveis e apropriado a vida humana. Contudo, pode-se ressaltar que é dever do Estado, proteger esses direitos, mesmo tais direitos tendo suas características próprias.
Os direitos fundamentais são os direitos mais básicos de todo e qualquer cidadão, que são direitos representativos das liberdades públicas, formando valores eternos e universais, tais valores são verdadeiras imposições ao Estado, que tem o dever de resguardar esses direitos.
Os Direitos Fundamentais estão previstos na Constituição Federal, especificadamente entre os art. 5º ao 17º,[footnoteRef:5] são um conjunto de direitos, prerrogativas e garantias que os indivíduos conquistaram ao longo de sua jornada e que tem como objetivo principal inicial limitar o poder estatal. [5: Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm Acesso 26 out. 2020] 
 Há o conceito de que os Direitos Fundamentais são os Direitos Humanos internalizados dentro de uma cultura/sociedade, seguindo as regras daquela sociedade, mas com o mesmo objetivo que era limitar o poder do Estado. 
Dentro dos direitos fundamentais, é de que grande relevância abordar sobre suas dimensões, pois esses direitos são impermanentes, e foram sendo modificados no decorrer do tempo, de acordo com as necessidades e interesse do ser humano.
Segundo Ferreira (2005, p. 100): “A Constituição Federal de 1988 consagrou os direitos de primeira e segundageração e um único direito de terceira geração: o direito ao meio ambiente”.
O direitos fundamentais de primeira dimensão surgiram entre os séculos XVII e XVIII, a Revolução francesa foi um marco para o início da primeira dimensão dos direitos fundamentais, em que foram os primeiros a serem reconhecidos pelos textos constitucionais, em relação a isso Bonavides (2010, p. 563) diz que:
Os direitos de primeira geração são os direitos da liberdade, os primeiros a constarem do instrumento normativo constitucional, a saber, os direitos civis e políticos, que em grande parte correspondem, por um prisma histórico, àquela fase inaugural do constitucionalismo do Ocidente.
Esses direitos de primeira dimensão são os de liberdade, abrangendo direitos políticos e civis, que são característicos ao ser humano e adverso ao Estado, pois na referida época o mesmo era grande opressor das liberdades individuais. Entra nessa dimensão o direito à vida, segurança, à justiça, à propriedade privada, à liberdade de pensamento, ao voto, à liberdade de expressão, às crenças entre outros.
Bonavides (2010, p. 565 ), explica que:
Os direitos da primeira geração ou direitos da liberdade têm por titular o indivíduo, são oponíveis ao a Estado, traduzem – se como faculdades ou atributos da pessoa e ostentam uma subjetividade que é seu traço mais característico; enfim, são direitos de resistência ou de oposição perante o Estado.
A segunda dimensão, surgiu após à 2ª guerra mundial, com instituição do Estado Social. Os direitos de segunda dimensão estão relacionados aos direitos sociais, econômicos e culturais, devendo eles serem prestados pelo Estado, através de políticas de justiça distributiva. 
Entram nessa dimensão também o direito à saúde, ao trabalho, à educação, ao lazer, ao repouso, à habitação, ao saneamento básico, à greve, à livre associação sindical, entre outros.
Segundo Bonavides (2000, p. 528):
Os direitos fundamentais de segunda geração “são os direitos sociais, culturais, e econômicos, bem como os direitos coletivos ou de coletividades, introduzidos no constitucionalismo das distintas formas do Estado social [...]”. E estão intrinsecamente ligados aos direitos prestacionais sociais do Estado perante o indivíduo, bem como assistência social, educação, saúde, cultura, trabalho, passando estes direitos a exercer uma liberdade social.
Portanto, são os direitos de segunda dimensão que tiveram um marco perante intervenção estatal, sobre atividade econômica e entre vínculos sociais. Mas tanto os direitos fundamentais da primeira dimensão como o da segunda dimensão são importantes, pela universalidade e eficácia dos mesmos.
Os direitos fundamentais de terceira dimensão são direitos de fraternidade ou solidariedade. Ex.: autodeterminação dos povos, paz, meio ambiente.
Aduz Bonavides (2010, p. 569): “[...] direitos que não se destinam especificadamente à proteção dos interesses de um indivíduos, de um grupo ou de um determinado Estado”.
Com isso, pode-se afirmar que “fazem parte desses direitos como ao desenvolvimento, ao meio ambiente, à comunicação, à paz, o direito de propriedades sobre patrimônio comum, dentre outros”. (SAMPAIO 2012, p. 100). 
Importante destacar que não há hierarquia ou sucessão entre os direitos fundamentais, devem ser tratados pelos seus valores autônomos e indivisíveis, pois o desenvolvimento dos direitos, tais como os de liberdade, igualdade, fraternidade, não possuem uma ordem cronológica entre si. E por conta disso a doutrina majoritária moderna vem conservando a ideia de acumulação de direitos, usando, portanto, o vocábulo dimensões de direitos fundamentais.
1.3 Direito à vida 
A vida é considerada um bem elementar inerente ao ser humano, sem vida, não haveria motivo para existir direitos. A todo indivíduo é assegurado direito à vida como cláusula pétrea[footnoteRef:6], sendo o direito de viver o mais importante direito do ser humano, onde é garantido por lei e assegurado por tratados internacionais do homem. Segundo Szaniawski: [6: Disponível em https://www12.senado.leg.br/noticias/glossario-legislativo/clausula-petrea. Acesso em: 26 out. 2020
] 
A vida é quase impossível de ser formulado adequadamente por estar muito além da compreensão humana. As ciências conseguem apontar vagas ideias sobre seus aspectos e partes, mas nunca sobre o seu todo. (SZANIAWSKI, p. 12 2005).
O direito à vida é o mais importante, e discutido em todas as esferas dentro do direito, pelo código civil e pela constituição Brasileira. Todo pensamento, usos e costumes que ferem o direito à vida, provoca reflexão e discussão sobre o assunto. Garantida constitucionalmente, impede diretamente, qualquer ser humano a impedir a vida do outro. 
A Constituição da República Federativa do Brasil dispõe: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. 
O direito à vida previsto no art. 5º, da Constituição da República Federativa do Brasil, no título II, que trata os direitos e garantias fundamentais como direito intocável. Muitas doutrinas classificam esse direito se estendendo à dignidade da pessoa humana, assim como o direito à existência, que é o direito de permanecer vivo e lutar pela própria vida, de acordo com José Afonso da Silva (2014, p. 200):
Consiste o direito de estar vivo, de lutar pelo viver, de defender a própria vida, de permanecer vivo. É o direito de não ter interrompido o processo vital senão pela morte espontânea ou inevitável. Existir é o movimento espontâneo contrário ao estado de morte. Porque se assegura o direito à vida e que a legislação penal pune todas as formas de interrupção violenta do processo vital.
Todas as pessoas devem de fato ter suas vidas tuteladas pelo Estado, pois o mesmo traz especificadamente como norma fundamental que todos tenham direito à vida, protegendo esse direito, e esse mesmo direito devem ser estendidos às tribos que praticam a cultura do infanticídio.
DIVERSIDADE CULTURAL
O presente capítulo versa contextualizar a respeito da diversidade cultural e outros aspectos relacionados ao instituto em estudo. A diversidade cultural está interligada a variadas culturas e etnias existentes.
 Cultura
Nessa seção será conceituada a cultura de acordo com o pensamento de alguns autores, que veem cultura de pontos de vista diferentes.
 O termo cultura já possuiu várias concepções diferentes ao longo dos séculos, mas com o surgimento da antropologia como ciência o entendimento sobre cultura passou a ser modificado e ganhar noções antropológicas. 
A cultura é entendida como tudo que é produção humana, sendo a maneira que cada indivíduo possui de se vestir, comer, falar falar e até mesmo manifestar-se. Tem um contexto ativo importante na vida do ser humano e está presente nos atos mais corriqueiros da conduta do indivíduo e não há indivíduo que não possua cultura, pelo contrário cada um é criador e propagador de cultura.
Para a sociedade, cultura está interligada a valores, tradições e crenças passadas por indivíduos em gerações, apreendidos ao decorrer da vida. Alguns antropólogos abordam sobre o assunto trazendo a ideia de que de fato a cultura está interligada a comportamentos transmitidos entre gerações.
Os antropologos entendem que a cultura possui um sentido que interliga os modos mais comuns e aprendidos durante a vida, e que são repassados pelos grupos e indivíduos, dentro da sociedade.
Dessa forma, a cultura representa o patrimônio social de um grupo sendo a soma de padrões dos comportamentos humanos e que envolve: conhecimentos, experiências, atitudes, valores, crenças, religião, língua, hierarquia, relações espaciais, noção de tempo, conceitos de universo.[footnoteRef:7] [7: Disponível em: https://www.todamateria.com.br/o-que-e-cultura/. Acesso em:18 set. 2020.] 
Em sua obra Laraia (2009, p. 68, apud Carneiro 2019) apresenta o conceito de cultura como sendo:“O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural, ou seja, o resultado da operação de uma determinada cultura.”
Destarte, por mais que a cultura não possua um entendimento estável, ou seja, não há um conceito igual para todos os autores, entende-se que há uma compreensão coletiva de que existe uma grande diversidade cultural, com valores, comportamento, crenças, atitudes diferentes entre os indivíduos passados entre gerações.
2.2 Diversidade Cultural
A diversidade cultural pode ser definida dentro de um contexto antropológico, como sendo as diferenças culturais que existem entre os seres humanos. Deste modo, a antropologia não é apenas o estudo de tudo que compõe a sociedade. De acordo com Laplantine (2009, p. 20), “[...] é o estudo de todas as sociedades humanas, ou seja, das culturas da humanidade como um todo em suas diversidades históricas e geográficas”.
O Brasil apresenta dimensões continentais e, por isso possuem uma grande diversidade cultural. Na época em que ocorreu a colonização pelos portugueses e a chegada dos escravos africanos, o Brasil foi destino de muitos imigrantes. E com isso, as colônias japonesas, alemãs, italianas e povos de outras nacionalidades são responsáveis diretos pela mistura presente na formação da cultura brasileira.
O Brasil é caracterizado pela sua grande miscigenação, ou seja, mistura racial, assim afirma Cotrim (1995), segundo ele, o Brasil sempre foi um país heterogêneo, no qual sua principal marca cultural é a miscigenação, e desde o início de sua história o país foi marcado pela diversidade cultural.
Quando os portugueses chegaram ao território nacional brasileiro encontraram populações nativas formadas por grupos indígenas, ou seja, antes mesmo dos colonizadores chegarem ao Brasil em 1500, povos indígenas já viviam em tribos guerreiras.
Cotrim (1995) afirma que no ano de 1530, iniciou-se a exploração econômica, onde vieram explorar as riquezas no Brasil e trouxeram com eles a cultura Europeia. De início exploraram a mão de obra dos indígenas, e, posteriormente com a colonização e a necessidade por trabalho, buscaram africanos negros à base de força, que de fato foram sequestrados de suas terras de origem, e partir disso já se deu início a uma intensa diversificação na cultura brasileira. Importante destacar que, o uso de negros vindos da África para escravatura, fez surgir novas crenças, línguas e costumes, que aos poucos foram se inserindo na cultura local, Brasil.
Portanto, os colonizadores europeus, a população indígena e os escravos africanos são os principais povos que contribuíram para a miscigenação da cultura brasileira, posteriormente, vieram para o Brasil diversos imigrantes, dentre eles, japoneses, alemães, italianos, árabes, poloneses dentre outros, que contribuíram para essa grande diversidade cultural no Brasil.
Dentro das populações indígenas também existe uma diversidade cultural, cada um com sua tradição, forma de cultura, crenças, costumes, modos de viver e línguas, muitos possuem nomes de tribos diferentes, há também tribos isoladas que pouco se sabe sobre elas. O povo indígena tem suas leis próprias, as quais são redigidas a partir de conceitos particulares sobre a vida e sobre a condição humana, com grande apego à coletividade e à necessidade de sua proteção.
De acordo com Site Agencia Brasil[footnoteRef:8] , o Brasil tem cinco línguas indígenas, com mais de de 10 mil falantes em relação à linguística. [8: Disponível em https://agenciabrasil.ebc.com.br/cultura/noticia/2014-12/brasil-tem-cinco-linguas-indigenas-com-mais-de-10-mil-falantes. Acesso em 23 out. 2020] 
Sobre o direito à diversidade cultural, afirma Bonavides (1999, p.488):
“O direito à diversidade cultural é uma garantia concedida a determinados grupos culturalmente diferenciados de que suas tradições, crenças, e costumes possam ser preservados e protegidos frente a movimentos de interculturalidade, ou seja, ninguém pode ser obrigado a abster-se de possuir suas próprias tradições, crenças e costumes, ou mesmo de ser obrigado a aderir às tradições, crenças e costumes de outros grupos”.
A diversidade cultural pode ser observada, por vários aspectos que representam as particularidades das diferentes culturas, inclusas na linguagem, culinária, religião, costumes, família e política. . A palavra diversidade está interligada à ideia de multiplicidade e harmonia de ideias, características ou fundamentos diferentes entre si, sobre determinado assunto, situação ou ambiente dentro de um espaço delimitado. É o meio que se estende à boa parte das pessoas, de forma a oferecer o direito de expressarem através de suas culturas.
A diversidade está presente em toda e qualquer sociedade humana, uma vez que é mundialmente reconhecida a capacidade do indivíduo de se inventar, reinventar e de construir a própria identidade diariamente, em um processo que demanda influências mútuas com outros membros da sociedade ou de grupos distintos, que sejam adeptos a outras culturas.[footnoteRef:9] [9: Disponível em: https://www.stoodi.com.br/blog/geografia/diversidade-cultural/. Acesso em: 23 out. 2020] 
Desse modo entende-se por diversidade cultural os vários aspectos que representam particularmente as diferentes culturas, como a linguagem, as tradições, a culinária, a religião, os costumes, o modelo de organização familiar, a política, entre outras características próprias de um grupo de seres humanos que habitam um determinado território. É um conceito criado para compreender os processos de diferenciação entre as várias culturas existentes ao redor do mundo.
0. Relativismo cultural
Percorrendo o caminho da historicidade e formação dos direitos, a teoria do relativismo possui como tese o necessário respeito à diversidade, à diferença e identidades culturais.
O relativismo cultural é o estudo dos métodos que visam a realização de pesquisas, que absorvem a percepção dos antropólogos de que as marcas culturais compreendem um valor para a sociedade. Para a tese relativista, não é aceito que um indivíduo suponha modificação no seu ambiente cultural, pois para essa corrente, a cultura é imutável.
Relativismo cultural significa que cada cultura é relativa a si mesma. Essa é uma teoria que implica a ideia de que é preciso compreender a diversidade cultural e respeitá-la, reconhecendo que todo sistema cultural tem uma coerência interna própria.
Segundo Marconi e Presotto: (2010, p. 31):
A posição cultural relativista tem como fundamento a ideia de que os indivíduos são condicionados a um modo de vida específico e particular, por meio do processo de endoculturação. Adquirem, assim, seus próprios sistemas de valores e sua própria intergridade cultural.
O relativismo cultural é importante na prática do “olhar o outro” sem, contudo, olhar a partir de “onde estamos”. Os usos e costumes de cada povo só tem sentido a partir do próprio povo e não é possível compreende-los a partir de nosso lugar, sob os julgamentos de nossos valores.
Dentre as diferentes concepções de relativismo cultural, há ainda a de que ele seria um princípio ético que, por sua vez, “preconiza a neutralidade em relação às diferentes culturas”. Sobre essa concepção, as palavras de Cuche (2002, p.240) são esclarecedoras:
O relativismo ético pode corresponder às vezes à atitude reivindicadora dos defensores das culturas minoritárias que, contestando as hierarquias de fato, defendem a igualdade de valor das culturas minoritárias e da cultura dominante. Mas, geralmente, ele aparece como a atitude elegante do forte em relação ao fraco. Atitude daquele que, assegurado da legitimidade da sua própria cultura, pode se dar ao luxo de uma certa abertura condescendente para a alteridade.
O relativismo entende que não há nenhuma verdade absoluta, nem no âmbito moral e no campo cultural. Por isso, propõe uma abordagem cultural e moral sem julgamentos pré-concebidos, e com isso dá abertura ao infanticídio indígena, trazendovários debates acerca do assunto. O infanticídio indígena, é algo que nem todos sabem, e pouco se fala, é decorrente de uma tradição cultural que ainda acontece e sem haver nenhuma criminalização, como um meio à chegar a uma interpretação sobre o assunto surge duas teorias, sendo o Relativismo e Universalismo Jurídico, dos Direitos Humanos.
Na busca pelo processo de universalização de mecanismos que garantissem direitos, principalmente o da dignidade humana, delinearam-se várias discussões entre a universalidade dos direitos humanos e diversas questões relacionadas às diferenças culturais, religiosas e éticas existentes no mundo.
O estudo do relativismo é muito defendido pelos antropólogos quando o assunto se trata de cultura indígena, para eles a cultura, costume e tradições independentemente de como são feitas, possuem suma importância para a tradição e não devem ser interrompidos. É entendido que tudo pode ser culturalmente relativo sem necessitar de normas universais para sobrepor algo. As teorias relativistas entendem que cada sociedade possui sua cultura, e através dela são estabelecidos seus valores e normas a serem seguidas, não permitindo mudanças em seu ambiente cultural.
Na medida em que há culturas e sistemas morais distintos, é impossível o estabelecimento de “princípios morais de validade universal que comprometam todas as pessoas de uma mesma forma”. (PIOVESAN, 2006,p. 45). 
Sobre as divergências entre o universalismo dos direitos humanos e o relativismo cultural, expõe Esteves (2012, p. 38):
O infanticídio indígena no Brasil é um dos casos onde se pode encontrar o confronto entre o relativismo cultural e o universalismo dos direitos humanos. Os motivos que levam a essa prática por alguns povos indígenas brasileiros são variados, mas estão associados à questão das crenças e do poder que os mitos exercem nessas tribos, que possuem suas próprias leis que são regidas a partir de conceitos particulares e que priorizam a coletividade, não o indivíduo.
Mortes de crianças indígenas, esbarra no relativismo frente à Constituição Federal, diante de sua previsão a dignidade a pessoa humana como fundamento da República. Certo é que esse princípio tem como base a proteção à condição humana e, em relação às garantias constitucionais, constitui o principal e mais importante fundamento. 
0. O Universalismo dos Direitos Humanos 
A doutrina universalista usa como essência dos seus fundamentos as concepções advindas do direito natural. Segundo este, as leis naturais estabeleceriam alguns direitos inerentes a todos os seres humanos e conceberiam, em consequência, uma lei superior, que seria considerada o parâmetro supremo a ser adotado na elaboração das normas humanísticas nacionais e internacionais.[footnoteRef:10] [10: Disponível em: https://jus.com.br/artigos/2041/relativismo-ou-universalismo-das-leis-sobre-direitos-humanos. Acesso em 23 out. 2020] 
Para autores que defendem o relativismo cultural, cada cultura possui sua própria concepção quanto a seus direitos fundamentais, atrelada a seus princípios e valores, não havendo uma ponto de moral universal. Em contrapartida a esse pensamento, o pensamento universalista defende que o pluralismo cultural, não deve servir para omitir, qualquer violação do direito à vida. Sengundo Fachin (2008, p. 212): 
Os direitos fundamentais caracterizam-se pela universalidade, ou seja, são direitos que valem em todos os lugares, em todos os tempos e são aplicáveis a todas as pessoas. Tal característica passou a ser destacada a partir da Segunda Guerra Mundial, tendo sido prevista de modo expresso na Declaração Universal dos Direitos Humanos, na Proclamação de Teerã (1986) e na Declaração e Programação de Ação de Viena (1993).
O Universalismo propõe o estabelecimento de um padrão universal de direitos humanos, como decorrência primeira da globalização social e do projeto de internacionalização desses direitos, que atinja a todos igualmente, dada a condição humana da pessoa, o que se repete em qualquer parte do mundo, independentemente de circunstâncias outras, como crenças religiosas, hábitos e costumes ou cultura.
A proposta universalista é eminentemente trazida pela Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, que prega direitos universais e indivisíveis. Universais porque “clama pela extensão universal dos direitos humanos, sob a crença de que a condição de pessoa é o requisito único para a titularidade de direitos” (PIOVESAN, 2013, p. 205) e indivisíveis por garantir que os direitos civis e políticos são condição para a observância dos direitos sociais, econômicos e culturais.
Na medida em que o ponto de vista da teoria relativista se encontra a favor da sociedade, no qual o indivíduo é compreendido como sua parte complementar, para o ponto de vista universalista esta parte dá prioridade ao individualismo, à liberdade e à soberania, para que esse indivíduo possa ser visto e incorporado aos grupos. Os universalistas criticam sobremaneira a ideia da teoria relativista, de que tudo deve ser seguido de acordo com a cultura, e a mesma independente do que é feito dentro dela tenha o dever de ser respeitada. 
Percebe-se que a discussão acerca do universalismo versus relativismo se encontra umbilicalmente ligada à problemática do fundamento dos direitos. Seria, então, a cultura, a moral, ou próprio homem o fundamento do direito? Para os estudiosos da teoria universalista, o relativismo nada mais é do que uma tese literalmente negligente, uma vez que a ausência de métodos morais independentes determina que ocorra uma lacuna ética e, consequentemente, desvalorização. A unidade do gênero humano impera, assim, sobre a variedade de culturas existentes, pois existe uma identidade humana universal. O fato de os Direitos Humanos terem sido fruto do Ocidente nada impede à sua aplicação, pois foi a melhor forma de tutela encontrada para a pessoa humana.
Com o universalismo, portanto, buscou-se proteger o indivíduo simplesmente por ser um ser humano, independente de seu país, de sua cultura. Apenas a condição de ser humano é que interessa ao universalismo cultural, já que tais direitos decorrem inescusavelmente da própria dignidade humana, entendida como valor indissociável da condição de ser humano.
 
UMA VISÃO GERAL SOBRE INFANTICÍDIO INDÍGENA
O presente capítulo versa contextualizar a respeito do infanticídio indígena no Brasil e outros aspectos relacionados ao instituo em estudo.
1. Infanticídio indígena no Brasil
O presente tópico tem como foco principal discorrer sobre o infanticídio indígena no Brasil. O infanticídio indígena é uma terminologia usada para designar os costumes vindos de algumas tribos, onde se tem uma vasta diversidade cultural. Cada uma das comunidades formadas por índios possui civilizações autônomas com culturas diversificadas e modo de pensar diferentes, gerando essa diversidade na cultura brasileira.
É importante abordar a prática do infanticídio indígena no Brasil, principal referencial deste estudo, pois o mesmo é uma tradição milenar, onde se faz necessário estudar os motivos que levam acontecer tais práticas. A palavra infanticídio indígena é apenas uma nomenclatura utilizada para relacionar com os esses costumes de determinadas tribos, até porque a doutrina e jurisprudência brasileira entendem como infanticídio aqueles crimes ocorridos após o parto, e isso não é o que acontece dentro das culturas indígenas. 
É importante ressaltar que não são apenas recém-nascidos as vítimas de infanticídio. Segundo a Atini há registros de crianças de 3, 4, 11 e até 15 anos mortas pelas mais diversas causas.[footnoteRef:11] [11: Disponível em: http://www.atini.org.br/wp-content/uploads/2015/05/Quebrando-o-Sil%C3%AAncio.pdf. Acesso em: 27 out. 2020] 
Primeiramente, é importante destacar que não há estudos ou dados oficiais que estejam relacionados com a prática do infanticídio indígena pelos povos indígenas do Brasil, apesar de haver estudos isolados referentes ao tema, não tratam sobre todo o povo indígena existentes no territóriobrasileiro.
Não existem números precisos. De acordo com a assessoria de imprensa da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), cabe à Fundação Nacional do Índio (Funai) identificar esses casos, uma vez que se trata de um traço cultural. Já a Funai alega que os dados devem ser obtidos na Funasa, que gerencia as atividades dos distritos sanitários nas aldeias. O pouco que se sabe sobre o assunto provém de fontes como missões religiosas, estudos antropológicos ou algum coordenador de posto de Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) que repasse as informações para a imprensa, antes que elas sejam enviadas ao Ministério da Saúde e lá se transformem em "mortes por causas mal definidas" ou "externas". (Santos 2006)[footnoteRef:12] [12: Disponível em: https://www.atini.org.br/bebes-indigenas-marcados-para-morrer/. Acesso em: 27 out. 2020] 
Apesar da ausência de números confiáveis, a prática do infanticídio é algo comum entre as comunidades indígenas e já foi documentada em diversos estudos antropológicos (Santos 2006). Portanto, é importante o estudo avaliar abordar sobre estudos autônomos, assim como referências dadas por antropólogos, médicos, assim como missionários que trabalham nas tribos indígenas no Brasil.
Com base no Censo Demográfico de 2000, pesquisadores do IBGE constataram que para cada mil crianças indígenas nascidas vivas, 51,4 morreram antes de completar um ano de vida, enquanto no mesmo período, a população não-indígena apresentou taxa de mortalidade de 22,9 crianças por cada mil. A taxa de mortalidade infantil entre índios e não-índios registrou diferença de 124%. O Ministério da Saúde informou, também em 2000, que a mortalidade infantil indígena chegou a 74,6 mortes nos primeiros 12 meses de vida. Curiosamente, nas notícias do IBGE e do Ministério da Saúde não há qualquer explicação da causa mortis.[footnoteRef:13] [13: Disponível em: http://www.atini.org.br/wp-content/uploads/2015/05/Quebrando-o-Sil%C3%AAncio.pdf. Acesso em 27 out. 2020] 
Apesar da cultura indígena de infanticídio ser uma prática milenar, não reside em um passado tão distante assim, portanto, é uma prática milenar que ainda vigora.
Segundo o portal da Funai[footnoteRef:14] a atual população indígena brasileira, segundo resultados preliminares do Censo Demográfico realizado pelo IBGE[footnoteRef:15] em 2010, é de 817.963 indígenas, dos quais 502.783 vivem na zona rural e 315.180 habitam as zonas urbanas brasileiras. Este Censo revelou que em todos os Estados da Federação, inclusive do Distrito Federal, há populações indígenas. A Funai também registra 69 referências de índios ainda não contatados, além de existirem grupos que estão requerendo o reconhecimento de sua condição indígena junto ao órgão federal indigenista. [14: Fundação Nacional do Índio.] [15: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica - IBGE] 
Essa prática de infanticídio acometido por cultura não ocorre em todas as tribos brasileiras, muitas delas já não exercem tal prática. Segundo Suzuqui (2007, p. 7): 
A prática do infanticídio tem sido registrada em diversas etnias, entre elas estão os uaiuais, bororo, mehinaco, tapirapé, ticuna, amondaua, uru-eu-uauuau, suruwaha, deni, jarawara, jaminawa, waurá, kuikuro, kamayurá, parintintin, yanomami, paracanã e kajabi.
Por fim, quando abordamos sobre o infanticídio indígena é de fundamental importância destacar sobre as razões e motivos que levam os povos indígenas a cometerem tais práticas, observando a visão e o conceito que os indígenas possuem quando se trata de valores relacionados à vida e a dignidade da pessoa humana.
1.5 Motivos e os costumes que levam a essa prática	
As comunidades indígenas no Brasil se constituem em grupos sociais independentes, possuindo seus costumes e leis próprios, e por isso, possuem uma concepção diferente quando se trata de nascimento, vida, morte.
Os motivos que causam essa prática modificam-se de acordo com a cultura de cada povo, variando de tribo para tribo, pois cada tribo possui sua civilização, particularidades culturais, sociais e políticas, sendo elas diversificadas e autônomas. 
Contudo Feitosa (2010, p. 854) apresenta a classificação de três critérios principais para causar a prática do infanticídio indígena no Brasil: 
1) a impossibilidade da mãe dedicar total atenção ao filho recém-nascido; 2) incapacidade do bebê, em razão das suas condições físicas ou mentais, sobreviver naquele ambiente físico e sociocultural; 3) a preferência por um determinado sexo.
Crianças são mortas todos os dias em aldeias em decorrência dessa cultura, contudo muitos pais, por não saberem lidar muito bem com esse fator cultural, e sofrendo pressões emocionais, até se suicidam por não aceitarem psicologicamente esse fato, contudo para muitos dentro das comunidades é um ritual comum, e que precisa ser seguido. Portanto, são condenadas à morte: os/as portadores de deficiência física ou mental, gêmeos, filhos/as de mães solteiras, crianças advindas de relações extraconjugais, etc.
Em certas comunidades a mãe pode matar o bebê caso ela ainda esteja amamentando outro, ou se o sexo do bebê não for o esperado. Até pelos motivos mais fúteis tais como: os considerados portadores de má sorte para a tribo, ou nascidos com manchas na pele a vida do bebê é ceifada. 
Os meios utilizados para interditar a vida das crianças são cruéis, sendo eles os mais diversos, como: soterrar, flechar, afogar, envenenar, causar desnutrição intencional, quebrar a coluna vertebral ao meio, abandonar no mato logo após seu nascimento.
Normalmente os recém-nascidos são abandonados no meio da mata, enterrados vivos (para que, segundo a tradição, possam ver a passagem para o "outro mundo"), asfixiados com folhas ou envenenados. Há também relatos de bebês flechados ou mortos a golpes de facão. (Santos, 2006).
Segundo (Suzuqui (2007, p. 7): 
Muitas das mortes por infanticídio vêm mascaradas nos dados oficiais como morte por desnutrição ou por outras causas misteriosas (causas mal definidas - 12,5%, causas externas - 2,3%, outras causas - 2,3%).
Em algumas tribos, como exemplo dos Yanomami,[footnoteRef:16] possuem um rito no pós parto que diz que a mãe não deve se separar do bebê, muitas vezes ficando com ele colado ao corpo o dia todo, até que a criança consiga com autonomia própria: comer, andar e falar, e é por esse motivo que o nascimento múltiplo não permite que a mulher retome suas atividades o mais rápido possível, o que por consequência eles acabam eliminando o que se desenvolve mais devagar, sendo o mais frágil. [16: O etnônimo "Yanomami" foi produzido pelos antropólogos a partir da palavra yanõmami que, na expressão yanõmami thëpë, significa "seres humanos". Essa expressão se opõe às categorias yaro (animais de caça) e yai (seres invisíveis ou sem nome), mas também a napë (inimigo, estrangeiro, "branco"). Os Yanomami remetem sua origem à copulação do demiurgo Omama com a filha do monstro aquático Tëpërësiki, dono das plantas cultivadas. ] 
A decisão em alguns desses casos de ter que tirar a vida de um bebê que seja mais frágil, não cabe somente à mãe ou somente aos membros da família, mas sim a todos, ou seja, a coletividade.
 A exemplo de Paltu Kamayurá, índio da etnia Kamayurá, pai de meninos gêmeos, relata a sua tristeza e da sua esposa em razão da interdição da vida de uma de suas crianças:
Esse meu filho era gêmeo, tinha dois. Eles enterraram o outro. A enfermeira não me avisou que ela tinha gêmeos. Só na hora que nasceram as crianças, às duas horas da madrugada. Eu estava na minha casa e a minha esposa estava na casa da mãe dela. Aí, depois que nasceu, a pessoa veio falar pra mim que eram duas crianças. Eu levei um susto, né? Eles me avisaram que iam enterrar as duas. Aí eu falei que não, que eu precisava pegar pelo menos uma delas. Mas a família não queria que eu pegasse nem uma das crianças. Eu insisti e aí meu pai foi lá para segurar uma das crianças. Eles pegaram uma e enterraram a outra. (Suzuqui, 2007, p. 12).
Adinolfi (2008, p. 17-18) aponta que entre os Suruwahá e Yanomani avida tem um significado diferente e é construída ao longo dos tempos, e para quem nasce com algum tipo de deficiência, seja física ou mental, ou sem ter um pai para proteger, nos casos de mães que tem filhos solteira ou que seja viúva, essas crianças não teriam condição de viver de acordo com as tribos, não teriam capacidade de caçar, plantar, pescar assim como para se locomover com os demais grupos, se tornando um peso para àquela sociedade.
Os povos do Xingu acreditam que ninguém deve depender do outro para viver, de qualquer forma a decisão de matar a criança não é da mãe, mas do grupo social e cultural ao qual ela pertence. (FEITOSA, 2006, p. 15).
Contudo, pode –se afirmar que existe uma preferência referente ao sexo do bebê, visto para eles criar uma bebê do sexo feminino, traz insegurança no casamento. Segundo Holanda (2008, p. 62): 
[...] os homens desejam ter filhos varões, para que o grupo residencial possa contar no futuro com muitos caçadores e guerreiros. Eles não consideram que a subsistência da comunidade dependa em grande parte dos trabalhos das mulheres (Holanda, 2008 p. 62).
Em relação às crianças que são filhos de mães solteiras ou vindas de relações ilegítimas, existe um grupo indígena Wari[footnoteRef:17] que segundo eles o bebê que é desenvolvido através de várias relações sexuais praticadas enquanto a mãe está gestante, eles compreendem que se não houver um pai a criança irá desenvolver problemas e nascerá doente, uma vez que possuía sêmen precípuo para sua formação. (Holanda, 2008, p. 61). [17: Os Wari' são muitas vezes designados como Pakaa Nova, por terem sido avistados pela primeira vez no rio homônimo, afluente da margem direita do Mamoré, no estado de Rondônia. Mas é como Wari', palavra que em sua língua significa "gente", "nós", que gostam de ser chamados, e é dessa forma que são conhecidos pelos não-indígenas que mantêm com eles um convívio mais estreito. Vivem hoje aldeados em torno de sete Postos da Funai administrados pela Ajudância de Guajará-Mirim, Rondônia, e na Terra Indígena Sagarana, na confluência dos rios Mamoré e Guaporé, administrada pela Diocese de Guajará-Mirim.] 
Na cultura dos povos de etnia Kamayurá, também possuem o entendimento que as mulheres solteiras não podem ter filhos, se ocorrer, a criança deverá ser eliminada. Há um relato de uma índia chamada Kamirú Kmayurá, que chegou a salvar um menino, como nome Amalé, que foi enterrado vivo, e após ser salvo foi adotado pela índia que o salvou.
Às vezes a mãe quer a criança, mas a família dela não deixa. É muito difícil. Até hoje eu só consegui desenterrar um com vida, o Amalé. A mãe dele era solteira, ela chorou muito, mas o pai dela enterrou ele. Ele estava chorando dentro do buraco, aí minhas parentes foram me chamar. Eu entrei na casa, perguntei onde ele estava enterrado e tirei ele do buraco. Saiu sangue da boca e do nariz dele, mas ele viveu. Ele está doente, mas eu decidi criá-lo. Agora ele é meu filho. É um menino bonito, não é cachorro. É errado enterrar.Teve três crianças que eu tentei salvar, mas não deu tempo. Uma nasceu de noite e eu não vi. A minha tia também queria essa criança, gostava dela, mas quando chegou lá a mãe dela já tinha quebrado o pescoço do bebê. Quebraram o pescoço depois enterraram. A outra eu ia tirar do buraco, não deu tempo porque eu estava do outro lado, tirando mandioca. Eu estava trabalhando e não vi. Disseram que ele também estava chorando dentro do buraco. Minha outra prima, a mãe do Mahuri, enterrou as cinco crianças que nasceram antes dele. Ela era solteira, por isso tinha que enterrar. O funcionário salvou o Mahuri porque ficou com pena, é um menino muito bonito, já está grande. A mãe dele viu ele em dezembro e achou ele bonito. (Suziqui, 2007, p 02).
As ocorrências das práticas de infanticídio nas tribos indígenas começaram a repercutir quando algumas mulheres se rebelaram contra as tribos, e por não concordarem com as práticas culturais que envolvem a vida de seus filhos, chegaram a missionários da Jocum[footnoteRef:18] e membros do governo e disseram que realmente acontecia dentro das tribos indígenas, entendido como o pedido de amparo e proteção de todos aqueles indígenas que não aceitam tal prática e sofrem calados pelas condutas advindas de tradições e culturas. [18: Jovens com uma missão.] 
Destarte, com esses depoimentos dados pelas mulheres e também por índios que sobreviveram às práticas, com a ajuda dos missionários, iniciaram uma luta contra a prática de infanticídio e ao pedido de amparo de proteção à vida. Após o reconhecimento da mídia pelo assunto foi criado o projeto de lei, que hoje tramita no Congresso Nacional, chamado de Lei Muwaji, que encontra-se aguardando apreciação pelo Senado Federal.
1.6 Menina Hakani
A história da menina Hakani foi um dos acontecimentos mais marcantes e de grande repercussão, pois ela é filha de uma índia integrante do povo Suruwahá. Hakani nasceu com alguns problemas e não conseguiu se desenvolver normalmente como as outras crianças, mostrando com o tempo dificuldades no seu desenvolvimento. A pressão que tomou conta dos pais quando se viram obrigados a tirar a vida da criança, os levaram a tomar a terrível decisão de cometerem suicídio, tomaram essa decisão para não ter que tirar a vida da filha.
Hakani nasceu em 1995, filha de uma índia suruwaha. Seu nome significa sorriso e seu rosto estava sempre iluminado por um sorriso radiante e contagioso. Nos primeiros dois anos de sua vida ela não se desenvolveu como as outras crianças – não aprendeu a andar nem a falar. Seu povo percebeu e começou a pressionar seus pais para matá-la. Seus pais, incapazes de sacrificá-la, preferiram se suicidar, deixando Hakani e seus 4 irmãos órfãos.[footnoteRef:19] [19: Disponível em: https://www.atini.org.br/hakani-uma-menina-chamada-sorriso/. Acesso em: 27 out. 2020] 
Como os pais de Hakani cometeram suicídio, a responsabilidade de interditar a vida da criança, restou ao seu irmão mais velho, que enterrou a menina ainda com vida.
[...] Ele levou-a até a capoeira ao redor da maloca e a enterrou, ainda viva, numa cova rasa. O choro abafado de Hakani podia ser ouvido enquanto ela estava sufocada debaixo da terra.
Em grande parte dos casos, o choro sufocado da criança abaixo da terra perdura por horas até chegar em um silêncio profundo. Mas o silêncio da morte não chegou a Hakani. Alguma pessoa comovida com seu choro, a desenterrou e levou para os cuidados de seu avô, que entendia que deveria sacrificar menina de acordo com sua tradição, e fazer o que a tribo de fato esperasse que ele fizesse, com a menina Hakani. O avô de Hakani tentou mata-la com uma fecha no coração, mas acabou acertando seu ombro, após se arrepender do que fizera, o mesmo tentou suicídio, tomando veneno.
O avô de Hakani tomou seu arco e flecha e apontou para ela. A flechada errou o coração, mas perfurou seu ombro. Logo em seguida, tomado por culpa e remorso, ele atentou contra a própria vida, ingerindo uma porção do venenoso timbó. Para Hakani, ainda não era a hora de cair o profundo silêncio; mais uma vez ela sobreviveu.[footnoteRef:20] [20: Idem.] 
Hakani na época tinha apenas dois anos e meio de vida, passou a viver isolada do grupo, em grande sofrimento, porque era vista como uma criança amaldiçoada. Além de ter sido abandonada, Hakani era agredida fisicamente e emocionalmente pelos outros integrantes do grupo indígena, ela tinha apenas apoio do irmão do meio chamado Bibi, que a cuidou durante alguns anos e com o passar do tempo a entregou para um grupo de missionários que estavam à trabalho na tribo Suruwahá.
Por três anos ela sobreviveu bebendo água de chuva, cascas de árvore, folhas, insetos, a ocasionalmente algum resto de comida que seu irmão conseguia para ela. Além do abandono, ela era física e emocionalmente agredida. Com o passar do tempo Hakani foi perdendo seu sorrido radiante e toda sua expressão facial. Mesmo assim o profundo silêncio não caiu sobre ela. Finalmente foi resgatada por um de seus irmãos, que a levou até a casade um casal de missionários que por mais de 20 anos trabalhava com povo suruwahá.[footnoteRef:21] [21: Disponível em: https://www.atini.org.br/hakani-uma-menina-chamada-sorriso/. Acesso em: 27 out. 2020] 
Na época em que Hakani foi amparada pelos missionários, já se encontrava com a saúde em estado crítico, a menina estava doente e muito desnutrida, vendo a situação da criança, os missionários pediram autorização para retira-la da tribo indígena.
Com cinco anos de idade ela pesava 7 quilos e media apenas 69 centímetros. Eles começaram a cuidar de Hakani como se ela fosse sua própria filha. Eles cuidaram dela por um tempo na floresta, mas sabiam que sem tratamento médico ela morreria. Para salvar sua vida, eles pediram ao governo permissão para levá-la para a cidade.[footnoteRef:22] [22: Idem.] 
Estando na cidade, Hakani recebeu cuidados médicos e amparo familiar que precisava, se tornando uma criança saudável. E foi através da história marcante da menina sorriso que se originou o projeto Hakani, que fortalece a campanha da ONG ATINI, uma voz pela vida. O objetivo da ATINI é mostrar à sociedade a ocorrência da prática de infanticídio indígena nas tribos brasileiras, através de suas culturas e tradições.
Em apenas seis meses recebendo amor, cuidados e tratamento médico, Hakani começou a andar e falar. Aquele sorriso radiante voltou a iluminar seu rosto. Em um ano seu peso e sua altura simplesmente dobraram. Hoje Hakani tem 20 anos, adora dançar e desenhar. Sua voz, antes abafada e quase silenciada, hoje canta bem alto – uma voz pela vida.[footnoteRef:23] [23: Disponível em: https://www.atini.org.br/hakani-uma-menina-chamada-sorriso/. Acesso em: 27 out. 2020] 
Destarte, essa é a história na menina Hakani, sendo ela apenas uma das centenas crianças com o destino traçado para a morte.
A cada ano, centenas de crianças indígenas são enterradas vivas, sufocadas com folhas, envenenadas ou abandonadas para morrer na floresta. Mães dedicadas são muitas vezes forçadas pela tradição cultural a desistir de suas crianças. Algumas preferem o suicídio a isso.[footnoteRef:24] [24: Idem.] 
Nos dias atuais, vários são os índios que estão manifestando com o objetivo de acabar com essa prática de intervir com a vida das crianças indígenas, até procuram a ajuda de autoridades brasileiras, mas acabam obtendo como reposta que as leis nacionais não são cabíveis às suas crianças, e que defender suas culturas é o mais importante, atitudes essas que contrariam a Constituição Federal assim como há discordância com a legislação internacional, pois a mesma deixa claro que os direitos da criança em momento algum podem ser sacrificados em favor do grupo indígena. Assim como descrito por Suzuqui (2007, p 16) “Qualquer tentativa de justificar a tolerância ao infanticídio com base em direito à diversidade cultural não tem validade nem respaldo na legislação internacional.”
1.7 Índia Muwaji
Muwaji é uma índia que faz parte da tribo Suruwahá, a mesma abandonou sua cultura para salvar a vida de sua filha chamada Lagarani. A criança nasceu com paralisia cerebral, e sua mãe já conhecendo as tradições de sua tribo, decidiu salvar a vida da filha. Com consentimento da tribo, foi em Manaus procurar meios que ajudassem na saúde da menina.
A índia também é mãe de um menino chamado Ahuhari e cuida de uma sobrinha órfã chamada Inikiru, que perdeu os pais vítimas de suicídio por não suportarem ter que enterrar filhos. A criança Inikiru é a única sobrevivente, dentre quatro irmãos vítimas da prática do infanticídio.
Muwaji foi amparada pela ONG Atini, sendo paciente do hospital Sarah em Brasília, a família dela intercala entre períodos em que Igarani precisa dos cuidados médicos, mantendo os laços familiares e culturais. Foi através da luta de sua filha que surgiu o Projeto de Lei nº 1057/2007, que dispõe em relação ao combate às práticas tradicionais ao infanticídio indígena, e traz a proteção dos direitos fundamentais a crianças indígenas, conhecido popularmente como Projeto de Lei Muwaji.
O projeto de lei é conhecido como LEI MUWAJI, em homenagem a Muwaji, uma mulher da etnia suruwahá que decidiu abandonar seu povo para poder manter viva sua filha que sofre de paralisia cerebral. Hoje Muwaji vive na “Casa das Nações”, uma comunidade indígena multicultural mantida pela ATINI no Distrito Federal. O primeiro rascunho do texto da Lei Muwaji foi feito pelo líder indígena Eli Ticuna, que é também o diretor-adjunto da ATINI.[footnoteRef:25] [25: Disponível em: https://www.atini.org.br/lei-muwaji-aprovada-na-camara-dos-deputados/. Acesso em: 27 out. 2020] 
Importante destacar que, foi através desse caso que se originou o projeto ATINI – uma voz pela vida que é uma associação sem fins lucrativos, com sede em Brasília – DF, tendo como principal objetivo a defesa do direito das crianças indígenas. A Atini é formada por líderes indígenas, antropólogos, linguistas, advogados, religiosos, políticos e educadores, e nutre profundo respeito pelas culturas indígenas.[footnoteRef:26] Surgiu por meio da inspiração que Muwaji transmitiu com a luta e sofrimento que passou a favor de salvar a vida de sua filha Igarani. [26: Disponível em: https://www.atini.org.br/quemsomos/. Acesso em: 27 out. 2020] 
Atini significa “voz” na língua suruwahá. Nosso movimento se inspirou na luta de uma mulher indígena, Muwaji Suruwahá, que levantou sua voz com coragem a favor de sua filha Iganani. A menina tem paralisia cerebral, e por isso estava condenada à morte por envenenamento em sua própria comunidade. Muwaji desafiou a tradição de seu povo e ainda a burocracia do mundo de fora para manter sua filha viva e garantir seu tratamento médico.[footnoteRef:27] [27: Idem] 
Sendo assim, pode se afirmar que a Muwaji foi contra as tradições de sua tribo, enfrentou com muita garra a burocracia do mundo não tradicional, ou seja, mesmo não gostando de estar na cidade, que de fato é tudo muito deferente daquilo vivenciado em sua tribo, e longe do seu povo, ela fez tudo para assegurar o tratamento médico e salvar a vida de sua filha.
1.8 O caso da recém-nascida enterrada viva em canarana
Esse caso teve grande repercussão e chocou a sociedade brasileira, trata-se de uma bebê recém-nascida que foi enterrada viva e permaneceu por 6 (seis) em baixo da terra, isso ocorreu no dia 05 (cinco) de Junho de 2018 (dois mil e dezoito),[footnoteRef:28] ela foi resgatada com vida, mas por essa prática ser comum entre as tribos indígenas, a sociedade ficou em choque por não ter conhecimento do que realmente ocorre dentro das tribos em relação a essas práticas, que vem acontecendo até mesmo nos dias atuais. [28: Disponível em: https://www.atini.org.br/india-recem-nascida-e-resgatada-apos-ser-enterrada-viva-em-mt/. Acesso em 27 out. 2020] 
O fato ocorreu na cidade de Canarara, Mato Grosso, cidade localizada a 838 quilômetros de Cuiabá. Pelas informações adquiridas, a avó e a bisavó da criança não aceitavam a criança pelo fato dela ser filha de mãe solteira e o pai ser de outra etnia. A mãe da criança é uma adolescente de 15 anos. Segundo relatos o parto ocorreu no banheiro da casa, ao meio dia do dia 05 (cinco) de Junho de 2018 (dois mil e dezoito).[footnoteRef:29] [29: Disponível em: https://www.atini.org.br/bebe-indigena-enterrada-viva-faz-8-meses-sem-nenhuma-sequela-e-ainda-abrigada/. Acesso em 27 out. 2020] 
Comentário de uma policial: 
“A criança caiu no chão do banheiro e bateu a cabeça. Eles [a família] ficaram observando e, como o bebê não chorou, nem esboçou reação, entenderam que estava morto. Um dos anciãos pegou essa criança, sem a mãe e a avó perceberem, e a enterrou”, comentou a policial.
A polícia disse ter recebido uma denúncia que dizia que um bebê havia ido a óbito logo após o parto e que a criança teria sido enterrada no quintal de uma casa, sem laudo do Instituto Médico Legal (IML), passando para a Polícia Civil investigar e analisar o caso em questão.
Os policiais foram ao local para pegar informações, e retirar o corpo da criança para levar ao IML, a famíliachegou a relatar que haviam enrolado o corpo da criança em um pano e enterrado em uma cova, indicando o local onde estaria o corpo. 
De acordo com uma policial:
Um dos policiais começou a cavar com uma enxada, com muito cuidado e devagar, até que puxou um pano. Nisso, ele ouviu um gemido, quase um choro, como se a criança estivesse resmungando. Ele gritou ‘a criança está viva! 
Sendo a criança socorrida e levada imediatamente por uma ambulância para o hospital mais próximo, onde recebeu os primeiros atendimentos, foi transferida para o Hospital Regional de Água boa localizado a 736 km de Cuiabá.[footnoteRef:30] [30: Disponível em: https://www.atini.org.br/india-recem-nascida-e-resgatada-apos-ser-enterrada-viva-em-mt/. Acesso em: 27 out. 2020] 
Os médicos afirmaram através de laudos que a criança havia sofrido uma lesão no crânio e que poderia ter sequelas motoras ou intelectuais. Mas atualmente a criança encontra-se em ótimo estado aos 8 meses de vida e sem nenhuma sequela.
Bebê indígena da etnia Trumai, chega aos 8 meses de vida, se desenvolve sem nenhuma sequela, conforme o esperado para a idade, e tem recebido a visita da mãe e do pai, que é de uma outra etnia. Ambos são menores de idade.
Por fim, o caso de fato gerou grande repercussão, chegando até mesmo a mídias internacionais. Fato é que esse assunto abordado choca qualquer pessoa que toma conhecimento, devido tamanha crueldade. Inacreditável é que esse tipo de coisa ocorra ainda nó século XXI. Esse caso em questão, pode ter sido o último caso da prática de infanticídio noticiada, mas e outros tantos casos que continuam a acontecer sem que sejamos noticiados? Até que momento essas crianças sofrerão em nome de culturas e tradições existentes nas tribos brasileiras?
INFANTICÍDIO INDIGENA À LUZ DA LEGISLAÇÃO
O presente capítulo versa trazer formas dentro da legislação brasileira que buscam soluções para erradicar a prática de infanticídio que ocorre dentro das tribos indígenas através de suas culturas e tradições. Muitos Indígenas já não aceitam e nem aguentam mais ter que matar seus filhos por variados motivos previstos pelas tribos, são muitos os casos em que se vendo nessa situação de ter que interditar vidas, os índios saem de suas tribos para procurar ajuda junto ao governo, são eles que estão adquirindo consciência de que a cultura sobre mutações com o passar do tempo, assim como descrito nas palavras de Mácia Suzuqui (2002, p. 10):
Os líderes indígenas de hoje têm consciência do caráter dinâmico das culturas. Eles não estão interessados em ficar parados no tempo nem confundem respeito à diversidade com tolerância universal. Eles estão preocupados em garantir a sobrevivência física e cultural de suas comunidades, enquanto querem, ao mesmo tempo, o diálogo inter-étnico. Estão abertos para implementar mudanças em suas comunidades, sempre que essas signifiquem melhorias na qualidade de vida e na dignidade dos povos indígenas. Muitos estão cansados de ouvir um discurso hipócrita de preservação cultural. Eles não querem essa preservação “folclórica”, feita a todo custo.
E é através dos casos como o de Hakani e a história da índia Muwaji que podemos perceber o quanto muitos indígenas lutam em favor da vida.
1. Projeto de Lei 1057/2007
O Projeto de Lei 1057/2007, também conhecido como Lei Mawaji, foi elaborado em homenagem ao caso da índia Suruwahá que lutou com muita garra para salvar a vida de sua filha Igarani, que tinha paralisia cerebral e por conta disso deveria ser sacrificada de acordo com sua tribo, mas ela não aceitou e saiu da aldeia onde vivia para a cidade e assim conseguir tratamentos médicos na cidade para sua filha pudesse sobreviver.
Esse Projeto de Lei visa o combate às práticas que levam a morte das crianças indígenas através de tradições, assim como a proteção dos direitos fundamentais de crianças indígenas, trata-se do respeito à cultura indígena, desde que esteja de acordo os Direitos Humanos Fundamentais, assim como prevê o art. 1º do Projeto de Lei nº 1057/2007:
Art. 1º. Reafirma-se o respeito e o fomento a práticas tradicionais indígenas e de outras sociedades ditas não tradicionais, sempre que as mesmas estejam em conformidade com os direitos humanos fundamentais, estabelecidos na Constituição Federal e internacionalmente reconhecidos.
No art. 2º do projeto trata sobre as práticas consideradas nocivas que entrem em conflito com a vida e a integridade física e psíquica, listando de forma elucidativa, treze formas, assim dispõe o art. 2º:
Art. 2º. Para fins desta lei, consideram-se nocivas as práticas tradicionais que atentem contra a vida e a integridade físico-psíquica, tais como 
I. homicídios de recém-nascidos, em casos de falta de um dos genitores; 
II. homicídios de recém-nascidos, em casos de gestação múltipla;
III. homicídios de recém-nascidos, quando estes são portadores de deficiências físicas e/ou mentais; 
IV. homicídios de recém-nascidos, quando há preferência de gênero;
V. homicídios de recém-nascidos, quando houver breve espaço de tempo entre uma gestação anterior e o nascimento em questão; 
VI. homicídios de recém-nascidos, em casos de exceder o número de filhos considerado apropriado para o grupo; 
VII. homicídios de recém-nascidos, quando estes possuírem algum sinal ou marca de nascença que os diferencie dos demais;
VIII. homicídios de recém-nascidos, quando estes são considerados portadores de má-sorte para a família ou para o grupo; 
IX. homicídios de crianças, em caso de crença de que a criança desnutrida é fruto;
X. de maldição, ou por qualquer outra crença que leve ao óbito intencional por desnutrição; 
XI. Abuso sexual, em quaisquer condições e justificativas;
XII. Maus-tratos, quando se verificam problemas de desenvolvimento físico e/ou psíquico na criança. 
XIII. Todas as outras agressões à integridade físico-psíquica de crianças e seus genitores, em razão de quaisquer manifestações culturais e tradicionais, culposa ou dolosamente, que configurem violações aos direitos humanos reconhecidos pela legislação nacional e internacional.
O próximo artigo diz que a pessoa que ficar sabendo de fatos que envolvam crianças correndo risco de morte terá que informar aos órgãos competentes para intervir, como exemplo o Conselho Tutelar do locar do acontecimento, ou até mesmo informar à FUNASA, FUNAI, à autoridade judiciária ou policial, assim como dispõe o art. 3º:
Art. 3º. Qualquer pessoa que tenha conhecimento de casos em que haja suspeita ou confirmação de gravidez considerada de risco (tais como os itens mencionados no artigo 2º), de crianças correndo risco de morte, seja por envenenamento, soterramento, desnutrição, maus-tratos ou qualquer outra forma, serão obrigatoriamente comunicados, preferencialmente por escrito, por outras formas (rádio, fax, telex, telégrafo, correio eletrônico, entre outras) ou pessoalmente, à FUNASA, à FUNAI, ao Conselho Tutelar da respectiva localidade ou, na falta deste, à autoridade judiciária e policial, sem prejuízo de outras providências legais.
Esse Projeto de Lei deixa claro que, qualquer pessoa que venha a ter ciência de alguma situação que envolva o risco às crianças, isso em relação às práticas nocivas culturais, assim como abordado no artigo anterior, deverão notificar as autoridades competentes descritas no art. 3º, e caso não o faça, a pessoa será punida por crime de omissão de socorro, conforme o art. 4º:
Art. 4º. É dever de todos que tenham conhecimento das situações de risco, em função de tradições nocivas, notificar imediatamente as autoridades acima mencionadas, sob pena de responsabilização por crime de omissão de socorro, em conformidade com a lei penal vigente, a qual estabelece, em caso de descumprimento: Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
O art. 135[footnoteRef:31] do Código Penal é o que aborda sobre o crime de omissão de prestar socorro. O art. 4º anterior abordado traz essa punição não para punir o indígena pelo que tenha cometido, não é essa a intenção da lei, se fosse o caso

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