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Impulso nervoso → estimula a entrada de cálcio na célula → cálcio estimula a liberação de vesículas com acetilcolina → a acetilcolina age nas subunidades alfa, propagando o impulso nervoso para as fibras musculares, gerando a contração muscular → a acetilcolina é degradada em colina pela acetilcolinesterase, e retorna ao início do impulso nervoso para ser reciclada. Os músculos esqueléticos são compostos por numerosas fibras, com diâmetro de 10 a 80 micrômetros. Cada uma dessas fibras é formada por subunidades sucessivamente ainda menores. Na maioria dos músculos esqueléticos, cada fibra se prolonga por todo o comprimento do músculo. Exceto por 2% das fibras, cada uma, em geral, é inervada por apenas uma terminação nervosa, situada perto do meio da fibra. As fibras que inervam os músculos estriados esqueléticos partem diretamente do sistema nervoso central, sem ser necessária a formação de gânglios. Bioquimicamente, essas fibras são classificadas como colinérgicas, pois liberam como neurotransmissor a acetilcolina (ACh) na placa neuro-motor, o que desencadeará uma resposta muscular. Ach se liga às subunidades alfa (receptor pós sináptico) → abertura dos canais iônicos → entrada de Na e efluxo de K → despolarização da membrana → canais de Na da membrana extrajuncional propagam o potencial de ação → contração muscular. Up e down regulation Up regulation: aumento dos receptores imaturos (fetais). Isso faz com que haja uma sensibilidade aumentada aos agonistas e sensibilidade reduzida aos BNM adespolarizantes. Por exemplo: queimaduras graves, imobilização prolongada, infecção, sepse, uso prolongado de BNM, AVE. Down regulation: ocorre após período de estimulação prolongada por agonistas, promovendo uma resistência à Succinilcolina e sensibilidade extrema aos BNM adespolarizantes. Por exemplo: uso crônico de neostigmina (miastenia grave) e envenenamento por organofosforado. Os bloqueadores neuromusculares são substancias capazes de interromper a transmissão nervosa entre o terminal nervoso motor e a fibra muscular esquelética, induzindo relaxamento da musculatura, que pode chegar à paralisia. Além disso, são fármacos adjuvantes em anestesiologia e não são substitutos dos anestésicos, pois não produzem inconsciência, amnésia ou analgesia. Eles produzem apenas relaxamento muscular e são usados basicamente em duas situações: relaxamento muscular intraoperatório e intubação traqueal. Fora da anestesia são também usados em unidades de tratamento intensivo (UTIs) para facilitar a ventilação mecânica. Não devem ser usados com a finalidade de evitar movimentos do paciente e diminuir a dose de anestésicos, pois diversos trabalhos relatam consciência perioperatória nessas situações. De acordo com o seu mecanismo de ação, os bloqueadores neuromusculares podem ser divididos em dois grupos: Bloqueadores neuromusculares adespolarizante (não despolarizantes/ competitivos/ despolarizantes tipo 2): evitam a ativação do receptor pela acetilcolina, agindo, portando, de forma antagonista. Ex.: tubocurarina, galamina, pancuronio, alcuronio, atracúrio, vecurônio e cisatracurio. Bloqueadores neuromusculares despolarizantes (não competitivos/ despolarizantes tipo 1): ativam receptores de maneira semelhante à acetilcolina, agindo, portando, de forma agonista. Ex.: succinilcolina e decametônio. Bloqueadores Adespolarizantes Os BNMAs são compostos estruturalmente relacionados à acetilcolina, altamente ionizados (não têm boa absorção VO) e hidrossolúveis. São divididos de acordo com a sua estrutura química em aminoesteroides (pancurônio, vecurônio e rocurônio) e benzilisoquinolinas (atracúrio, cisatracúrio e mivacúrio). Eles antagonizam a ação da acetilcolina no receptor, ou seja, compete com a acetilcolina, mas sem estimular o receptor. Ele bloqueia o estado de contração muscular, gerando uma paralisia muscular flácida. A liberação de histamina ocorre principalmente com o grupo de benzilisoquinolinas, mas a anafilaxia pode ocorrer com qualquer BNM. A succinilcolina (despolarizante) e o rocurônio são os fármacos envolvidos nas reações alérgicas. Os BNMAs podem ser eliminados de forma inalterada ou pelo metabolismo hepático, degradação plasmática pela reação de Hofmann (degradação espontânea em pH e temperatura ambiente), hidrólise por esterases inespecíficas ou degradação pela pseudocolinesterase. Efeitos colaterais: Taquicardia ▪ Bloqueio de receptores muscarínicos no nodo sinusal (bloqueio vagal) ▪ Pode ocorrer com pancurônio e rocurônio Liberação de histamina ▪ Eritema de face, pescoço e tórax, queda na pressão arterial e leve taquicardia ▪ O broncospasmo é muito raro ▪ Efeito dose-dependente de curta duração ▪ A injeção lenta atenua esse efeito ▪ Pode ocorrer com atracúrio e mivacúrio Reação de hipersensibilidade tipo I ou alérgica ▪ Hipotensão importante e taquicardia ▪ Broncospasmo e eritema cutâneo em 20-25% dos casos ▪ Os BNMs causam 40-80% das anafilaxias durante a anestesia ▪ O rocurônio é o BNMA com maior incidência Pancurônio: 0,05 a 0,1 mg/kg/dose o É o único BNMA de longa duração disponível no mercado. o Devido à sua longa duração e à alta incidência de curarização residual, só deve ser utilizado quando se planeja deixar o paciente intubado no pós-operatório. o O uso do pancurônio deve ser priorizado nos pacientes com história de hiperreatividade brônquica, pois o atracúrio é liberador de histamina, podendo precipitar broncoespasmo. o São utilizados para intubação eletiva e manutenção do relaxamento muscular na maioria das cirurgias em que este se faça necessário. Vecurônio o Não apresenta efeitos colaterais no sistema cardiovacular (SCV), mesmo quando utilizado em altas doses. Rocurônio: 0,6 a 1,2 mg/kg/dose o O rocurônio tem um perfil muito semelhanteção em um tempo mais curto. Não apresenta efeitos colaterais no SCV em doses clínicas. o É o único BNM com pico de ação rápido, possibilitando a intubação em 60 segundos quando se utilizam doses de 1 a 1,2 mg/kg. Entretanto, com essas doses, sua duração fica bastante prolongada. É uma boa alternativa à succinilcolina para intubação rápida. Atracúrio: 0,5 a 1 mg/kg/dose o Início de ação: 3-5 minutos, com duração de 3-40 minutos. o Doses altas induzem a liberação de histamina. Sua ação não é afetada pela idade ou insuficiência de órgãos. Mivacúrio o É o único BNMA de duração curta disponúvel. o Pode causar liberação de histamina quando injetado rapidamente em doses acima de 0,2 mg/kg. o Sua meia-vida curta e depuração rápida ocorrem por hidrólise pela pseudocolinesterase plasmática. Bloqueadores Despolarizantes Os BNMD são aqueles que ativam os receptores, o que resulta na passagem de sódio e cálcio para dentro da célula e saída de potássio. Eles também competem com a Ach pelo receptor, mas este BNM estimula o receptor, estimulando a contração muscular. Contudo, para essa contração ser eficiente, o fármaco deveria estimular o receptor (contração) e desestimular (relaxamento). Como isso não ocorre, há um período refratário no paciente, em que, por mais que haja estímulo, não há contração. Após um tempo, esse bloqueador é desacoplado, mas como a membrana está hiperexcitada, não há como promover novo estímulo. A succinilcolina é o representante deste grupo. Dose: 1 a 2 mg/kg/dose É um agente que apresenta duas vantagens ainda insuperadas pelos outros BNMs: relaxamento muscular profundo de início rápido, permitindo excelentes condições de intubação, associado à curta duração. Bloqueio de fase 1: É uma hiperexcitação/hiperestimulação, como se fosse um efeito prolongado da acetilcolina, sem sua degradação pela acetilcolinesterase. Há uma lenta metabolização, sem repolarização. Ocorre paralisia flácida. Bloqueio fase 2: É uma exposição continuada ao fármaco, para manter a despolarização e fazer com que ocorra o estado refratário. Dessensibilização: ocorre paralisia flácida sem o fármaco presente. É uma repolarização dificultada. É o momento de possível reversão, pois o fármaco está sendo depurado. Essa reversão é feita pelos inibidores da acetilcolinesterase. Indicações da succinilcolina: Intubação rápida; Tratamento do laringoespasmo; Necessidade de relaxamento muscular na ausência de acesso venoso; Procedimentos de duração muito curta, como eletroconvulsoterapia, cardioversão, redução de fratura; Via aérea difícil. Efeitos colaterais da succinilcolina: Mialgias: Ocorrem principalmente em adultos jovens submetidos a cirurgias ambulatoriais. Iniciam 12-24 h após o procedimento e duram em média 1-2 dias. Podem ser evitadas com o uso prévio de uma pequena dose de BNMA (pré- curarização com 20% da DE95) Espasmo de masseter (trismo): em casos graves, pode ser impossível abrir a boca do paciente. Pode ser um fenômeno isolado ou estar associado à hipertermia maligna Aumento da pressão intraocular (PIO) e da pressão intracraniana (PIC): pequenos e variáveis aumentos na PIO e na PIC que não contraindicam a succinilcolina em cirurgias oftálmicas de urgência nem em pacientes com PIC elevada. Nesses casos, o mais importante é a intubação em plano adequado de anestesia para evitar o bucking (tosse) Aumento na pressão intragástrica (PIG): aumento variável na PIG compensado por um aumento ainda maior na pressão no nível do esfíncter esofágico inferior elevando gradiente de pressão esofagogástrico. Por esse motivo, o risco de regurgitação não é aumentado pelo uso da succinilcolina. Hiperpotassemia Liberação de histamina: eritema cutâneo no pescoço e no tórax de curta duração. Reações anafiláticas com broncospasmo e colapso cardiocirculatório são raras, embora a succinilcolina seja um dos BNMs mais envolvido nessa complicação. Hipertermia maligna: desencadeada pela succinilcolina em pacientes suscetíveis, principalmente quando associada ao uso de um agente inalatório Rabdomiólise: ocorre em crianças com miopatia não diagnosticada, na maioria das vezes distrofia muscular de Duchenne subclínica. O uso de succinilcolina, nesses casos, leva a contraturas musculares, hiperpotassemia e arritmias com parada cardíaca. Por esse motivo, o uso de succinilcolina em crianças sofre importantes restrições em diversos países. Bradicardia: ocorre devido à estimulação de receptores muscarínicos cardíacos, ou após doses repetidas, devido a uma sensibilização do miocárdio pelos seus metabólitos (succinilmonocolina e colina). O tratamento consiste na administração de atropina. Contraindicação de succinilcolina: Traumas com denervação: traumatismo espinal, hemiplegia, paraplegia – depois de 48 horas. Doençasneurológicas com déficits motores – Esclerose múltipla, esclerose lateral amiotrófica, doença de Parkinson severa, síndrome de Guillain-Barré, polineuropatia. Miopatias: distrofia muscular de Duchenne, miotomias. Grandes queimaduras (acima de 30%): depois de 48 horas Politraumatismos: Depois de 48 horas. Imobilização corporal total prolongada. Infecção grave com produção de exotoxinas: Tétano, botulismo. O uso seguro de bloqueadores neuromusculares requer monitorização. A monitorização auxilia o anestesiologista na indução, manutenção e recuperação do procedimento anestésico-cirúrgico. Por muito tempo, esta era baseada em critérios clínicos, pouco eficazes na detecção de bloqueio residual. A medida da função neuromuscular em resposta ao estímulo elétrico de um nervo motor é, hoje em dia, o método mais eficaz. Vários fatores podem interferir nessa medida, como o estado contrátil do músculo, o estado funcional da junção neuromuscular, local da estimulação, as características do estimulador e do estímulo elétrico. Conhecer essas variáveis torna-se fundamental na prática anestésica de modo a garantir precisão na monitorização e segurança no uso dos bloqueadores neuromusculares (BNM). Monitorização clínica A avaliação do grau de bloqueio neuromuscular dá- se, tradicionalmente, por critérios clínicos, como a capacidade de levantar e sustentar a cabeça, elevar as pernas e dar um aperto de mão por cinco segundos. Parâmetros como volume corrente normal, capacidade vital acima de 15-20 mL/kg e força inspiratória negativa que exceda -25cm H2O também são utilizados como critérios de reversão. Estes testes, contudo, não são sensíveis para avaliação do bloqueio residual. A estimulação nervosa e o equipamento A resposta neural ao estímulo elétrico depende, fundamentalmente, da corrente elétrica aplicada, de sua duração e do posicionamento dos eletrodos, que estabelecem a conexão entre o estimulador de nervo periférico e o paciente. A duração da corrente emitida deve ser longa o suficiente para despolarizar todos os axônios, mas não a ponto de exceder o período refratário do nervo. Na prática, a duração do pulso de 0,1 a 0,2ms é aceitável. Sítios de estímulo Os músculos não respondem de forma uniforme aos BNMs. Músculo adutor do polegar É inervado pelo nervo ulnar, que se torna superficial na área do punho onde se posiciona o eletrodo negativo. A força de contração desse músculo tornou-se padrão na monitorização do bloqueio neuromuscular. A estimulação do nervo ulnar também provoca flexão e abdução do quinto dedo, que geralmente se recupera antes do adutor do polegar. Músculo do olho O músculo orbicular dos olhos cobre a pálpebra e sua resposta aos BNMs é semelhante à do músculo adutor do polegar. O músculo que movimenta a sobrancelha, o corrugador do supercílio, tem resposta comparada à do músculo adutor da laringe, com início e recuperação mais rápidos do que o músculo adutor do polegar. Ambos podem ser avaliados a partir da estimulação do nervo facial, de acordo com o posicionamento dos eletrodos. Músculos do pé O nervo tibial posterior pode ser estimulado atrás do maléolo medial e produz flexão do primeiro dedo pela contração do músculo flexor do hálux. A recuperação do bloqueio neuromuscular neste sítio não difere significativamente daquela do músculo adutor do polegar. Métodos de monitorização Os métodos quantitativos e objetivos são recomendados, sendo os mais utilizados a aceleromiografia, mecanografia e eletromiografia. Aceleromiografia: atualmente, é o método mais difundido para uso na prática clínica. Um transdutor de aceleração (piezoelétrico) é acoplado à extremidade distal da musculatura estimulada, mais comumente o músculo adutor do polegar. A movimentação muscular produz uma voltagem no transdutor, que é proporcional à aceleração. Mecanografia: nesta técnica, um transdutor de força é utilizado para converter a força da contração muscular isométrica em estímulo elétrico. A amplitude do sinal é proporcional à força de contração. Eletromiografia: é a técnica mais antiga para avaliação do bloqueio neuromuscular. Baseia-se no fato de a força de contração muscular ser proporcional ao potencial de ação gerado, de modo que o equipamento registra a atividade elétrica do músculo estimulado. Padrões de estimulação O bloqueio neuromuscular pode ser monitorizado com diferentes formas de eletroestimulação. Todos os tipos de estímulo são realizados com corrente de intensidade supramáxima e pulsos de ondas quadradas com duração de até 0,3ms. Estímulo simples O nervo periférico é submetido a um estímulo simples supramáximo com frequência de 0,1-1Hz. É útil na elaboração de curvas de dose-resposta e na avaliação do início de ação dos BNM. Sequência de quatro estímulos (TOF) O padrão de estimulação consiste na aplicação de quatro estímulos em uma frequência de 2 Hz (quatro estímulos em dois segundos). Um intervalo de 10 segundos deve ser aguardado entre sucessivos TOFs, para evitar fadiga muscular durante as medidas. O bloqueio pode ser avaliado pelo número de respostas musculares e por meio da relação entre a amplitude da quarta e da primeira respostas da sequência (proporção T4/T1). No bloqueio neuromuscular, é observado progressivo decréscimo na amplitude de resposta, proporcional à profundidade do relaxamento. Na ausência de bloqueio neuromuscular, todas as quatro respostas são de igual amplitude. A perda da quarta resposta corresponde a 75- 80% do bloqueio do primeiro estímulo. O desaparecimento da terceira, segunda e primeira contrações correspondem ao bloqueio de cerca de 85%, 90% e 98-100%, respectivamente. Valor de T4/T1 > 0,7 sugere recuperação do bloqueio do diafragma. A dificuldade de deglutição desaparece apenas com T4/T1> 0,9, sendo este o valor desejável na prática clínica, a fim de garantir recuperação ótima e, portanto, mais segurança ao paciente. Estimulação tetânica Corresponde à estimulação de alta frequência (50-100 Hz), mantida durante período de cinco segundos. A resposta muscular é percebida como contração única e sustentada durante a ausência de bloqueio. Em caso de bloqueio neuromuscular residual, é observada diminuição gradativa da resposta neuromuscular durante a estimulação. Contagem pós tetânica É utilizada para avaliar a profundidade do bloqueio neuromuscular, quando ainda não há resposta tátil ou visual no TOF. Para a CPT, é realizado um estímulo tetânico de 50 Hz durante cinco segundos, seguido por estímulos supramáximos simples de 1 Hz após intervalo de três segundos. O resultado é o número de respostas a esses estímulos simples sequenciais, o qual deve ser zero em caso de um bloqueio neuromuscular muito profundo. A detecção de cinco a sete respostas pode indicar que o retorno da resposta ao TOF está próximo. Double-burst (DBS) O DBL ou “estimulação com dupla salva” consiste na aplicação de dois ou três estímulos tetânicos de 50 Hz, espaçados entre si por 750 milissegundos. Na ausência de diminuição gradual da contração muscular, há 90% de chance de TOF > 0,6. Já a redução na resposta muscular do segundo impulso, comparado ao primeiro, corresponde a um TOF<0,6.
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