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PompeuSobr_1955_PreHistoriaCearense

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• 
l\1oN OGRAFIA N° 3 
( 1 ° "I'O"fO) 
• 
SoaR'INHO 
• 
.. 
.,. 
• 
.. . ~ 
. . 
• 
• 
.. 
• 
• 
• 
.. 
• 
• 
. 
• 
Editora 1' Instituto do Ccnra '', Lilllitnda 
• 1 9 s ~ • .. • 
Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
www.etnolinguistica.org
iNDICE 
Ass,untq pa,lnas 
Co~sidera<;oes Gera is .. .... . .. .. •.. . . . .............. . ....... 5 
Prim~ira corrente migratori~ d~ povoadores ...... . .. . ....... . 2:3 ... 
Segunda .corrente migratoria de povoadores .. . .. . ... .... . . ; . 26 
T ercefra cor-rente mig:rat6ria de povoadol·es, . ...... . ........ . . 30 
Quarta corrente migat6ria de povoadores .... .. . ........ . ... . 32 
Quinta cm·rente m~grat6ria de povoadores ... ..... .... ....... . 35 
Os Paleoliticos e qs seu~ descendentes .... ....... . .... .. .... . 43 
L3._g-uidos . . ....... _. ........ . . . ........... ........... . ...... . . 56 .. 
Huarpidos ... ..... ·~. ·-. ~ ........ . ....................... . 69 
Pata~fonidos . . .................... . ............. .. .. ... .. . 70 
.. ..;;-
Os 11,eso[iticos e os seus descendentes ....... ... ~ .. _ . . ...... . 72 
F , ' '<l ~-uegw o.s . . ... ,. ........ .. .. . ........ .. ................ . . 76 
N ordestidos . . ..... . . . ~ . . ..... -.... . ............... .. ...... . 78 
' Os· N eoliticos da quarla corrente e os seus descendentes ... .. . . 81 
~iSudehtidos . . . . . . . . . . . . . .. . . . . ~ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . , 83 
' 
Brpsilidos . . ............... .. .... . ........ . .............. . 84 
Os Ca.ri r·is . . ............ . ............ . ...... . . . .... . ... . . 89 
Os Car-aibas . . . . .. . .. . .. . .... .... ... . .... .... .... . ...... . 91 , 
0 s T-'U p;i-Guaran i·S • • . • • • • . • • • • • . • • . • • • . • • . • . . • • . • . • • . • . . •• 97 
0 s· A ruaques . . . . .... . ..... .. .... . . ... . .. . . . ........ . .. . . 105 
Outras farr1Uias de Brasi1idos .... . . . ... . . .. . .. .......... . .. . 109 -
A·ndidos . . .. ..... . , . . ... .. ........... . . . ........................ . 114 
Centralidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..... . 116 
Povoamento do Nordeste e especialmente do CEA'.RA' . . .. .. . . 118 
Not.as_ ao· Primeir.o Capit.ulo ............. . .... . ~ . ; ....... . 125 
0 bras consul tada.s- .... .. . . ... ... . . .. . . . .......... . . ... .... . 135 
\ 
.. 
.. 
PROi::MIO 
A pre-historih de qualquer regiao do Brasil of erece inso-
bremt>ntaveis dlificu:1da.d¢s; e p.or isto~ com:parada com a dos 
pa£ses europeus e a de certos trechos dos Estados U riidos da 
America do Norte, acha•se np,m lastimlivel estado de atrqso. 
Por sua propria ndtureza., .os conhecimentos das popula,. 
t;oes pre·historicas, antropologicas OU culturais, Sao ainda geral· 
mente incompletos, intertompidos no tempo c nao raramente con-
fusos. Muito pouco, quase nada mesmQ, sabemos dos primordio-s 
da cultura huma'f4a, dos primefros movimentos e orientagoes do· 
· espirito da nossa especie, de cujo desenvolvimento, entretanto, 
resultou a civiliza~ao. atual. A penas,. de periodos muito meno$ 
recuados, embora ainda hem re1notos, possuimos elementos qu;e 
nos ajudam a compreender a viJa material e ps£quica dos velhos 
antepassados da liumanidade. 
Ora, se isto acontece mesmo onde a ciencia pre-historica 
nasceu e se ,desenv(J'lveu ao maximo, com· um constv:nte trcino de 
muitos anos, afanoso trabalho, desvelos e beneditina paciencia, 
onde nao se poupam esforc;os ,enormes :desde que dele.s se pos .. 
sam au/ erir mes mo minguados esclarecimentos, qualquer morti.· 
r;a charm:t que ilumine eseusos .recantos desse passado muJtimile-
nar, o que se pode esperar dos nossos conhecimentos de um po-
vo coevo destas regioes? - Sem duviaa, nad~ mtais do que resu-
midas e salteadas no goes, entreeortadas de inf or mes nem sempre 
isentos de incertezas, escassas not£cias carentes de elos e logica.s 
, 
t 
conexoes. As nossas primitivas popula~oes, realmente, conser· 
vam-se ainila veladas cotn um manto bem pouco transparen~e. l 
Os pre-hist6ricos nacwnais sao raros e lutam com mil difi· 
culdades, a mingua-de recursos ma.ter1'ais e desestimulos acabru-
nhantes. Qu:ando alguns escassos e animosos investigadores, re-
mando contra a corr~nte, ct d'e!speito do geral dasaf eto pelas 
atividades especi ficas desta ciencia, que pede tan,ija paciencia e 
de.sprendimento, tanta persistencia e disciplina e tant/o saber, se 
1!.0ltam pttta 0 Campo infinitatnente vasto das nossas eras passa-
das, epocas que precederam OS dominos relativamente ilumina· 
dos da hist6ria, topam desde os seus primeiros passos com gran-
de_s obstti-culos a empecer•lhes a marchq, .. vocacional, limitando lo-
go o ambito das sua;s aspir~~oes. Nao lhes faltam ape~as os es-
timulos oficiais; os particulares niio existem nos paises subde-
senvolvidos culturalmente; nenhuma agremia<;ao douta lhes ani-
ma os propositos, aprec~a os esf or<;os, diseute os resultados, e isto 
quase sempre por se acharem os gremias culturais absorvidos ou 
enleiados cum questoes de somenos interesse nacional ou cienti· 
fico, por displiceTJ,cia ou talv.ez, tambem, por ignorancia. Os fa· 
vores do Governo, -de ordinario, nao atingem, como se devera 
esperar, a tJais situagoes. Nern mesmo alcan~am aos animosos 
funcionarios OU agregadas das pobres znstitui~oe.s ofic.idis de 
pesquisas cient£ ficas. Esta e a razao pot que o estctdo· dos n:ossos 
conhecimentos no campo das ciencias sociais indigemas e, princi-
palmente, das nossas ciencias que investigam as cousas obscuras 
de u ,1rr, passado perdido na noite dos tempos, dos fatos relaciona-
rl.os coni as primeiras atividades humanas no territorio nacional 
. osrila em nivel intelectual relativamente baixo. Neste setor, os 
nossos esforqos tem um catater pulsatil, epocas de traba· 
lho mctis ou menos eficiente alternando com longos perio-
dos de estagn1agao. J a um arguto observador estrangeiro notop, que 
na America Latina m.uitos paises matam de fome os seus pesquf,,. 
sadores cientif icos. .( 1) 
(1) - William vog_t, - "Road to Survival" 1950. 
-IV-
' 
ldas, indubitavelmente, por toda a parte, e mesmo neste 
vasto rincao do Or be que e o Brasil, f loreseem espiritos impub-
sionados pelos encantos da n(ltureza ambiente, que lhes desper-
tam insopitaveis desejos de sondar as ptofundezas dos tempos-, 
,,,,. 
na esperanga de desvendaT a estrutura, as caracteTisticas das 
culturas primitivas, os aspectos somatologicos e o modo de vi<J.a 
dos primeiros homens da nossa especie. Destes espiritos curiosos. 
algttns· nao satisf eitos apenas: com o que se ha conseg,uido conJie-
oer nos estreitos limiies da Eu.ropa Ociclental, espalharaTTli"s.e pelrJ. 
mundo, amplz:o:ndo as swas pesquisas. Poucos perlustraram as 
nossas plagas nacionais. Por oncle andaram, sempre encontraram 
quem os ajudasse com mais oz1, menos desprendimento, e ate 
mesmo quem se fizesse seus ri'VVJis. 
A extensao dos conhecimentos pre·historicos alarga-se e 
aprojunda-se. No nosso meio, alguns sabios deliberada ou even-
tualmente, se entregaram a pe-squisas do longinquo passado, tra-
1.Aalharam rijamente, expondo-se muitas vezes as mais duras con· 
tingencias. 0 exemplo magnifico, como alhures, despertou voca· 
<;oes nacionais. Por isto, algo, porem muito pouco, ja se s.abe 
daquilo que mui,to temos ,de aprender. 
Todavid, este pouco .que se tem lograd0 aputar positivamen-
te ou que se presume sabi!F dentro .de razoa.veis limites df! ce"rteza, 
mereee uma composigli,o .s"intetiea ou esquematica, contribui¢o 
qz1,e, divulgada, seguriamente.contribuiria certamente para animar 
a escava<;ao do nosso mais reJ!loto pla5sado, ora despertando curio-
sidades que dormitam, ou etn potencial se alheiam, ora indican-
do orienta~oes seguras aos esp£ritos aficionados que se agitam e 
esperam apenas pela inaicagao de um caminho afim de se lan. 
<;arem na liga, em busca das cousas que ocorreram nas vetustas 
eras da infiincia da humanidadeno nosso meio. Nao nos decidi· 
riamos a preencher esta lacuna demasiadamente pesada p'ara os 
nossos ombros. 
0 objetivo que visamos, muito mais modesto, mais estreito, 
enquadra-se apenas no am[lito de uma relatiwamente pequena re-
giao do pais. Como o titulo expri·me, obfetiva·se relacionar o que. 
I . 
- -V-... 
. ~ 
' 
sabemos ou julgamos saber da pre·historia cearense. F azendo-o, 
abedecemos a um imperativo determi~ante do INSTJTUTO DO 
CEARA, preenchend.~ uma parcela do plano que organizat a em 
boa hora para divulgar a hist6ria das atividades dos homens nes· 
te canto do Brasil. Pretende a nossa velha, e prestigio~ associa-
<;oo de cultura expor, cam a poss£vel extensao, aquelas atividades 
eni todos os tempos, aesde a mais remota ocupat;ao do {errit6rio 
par seres hu]1Lanos ate o presente ; deseja condensar em alguns v~ 
lumes monografico$"wtodas as agoes e rea~oes· do processo hist6· 
rico na sua mais ampla signifida<;ao. · 
Teremos, consequentemente, que partir de muito longe, de 
um nebuloso passado ante-colonial. Dai, a monografia n. 0 3, com 
o t£tulo de PRE-HISTORIA CEARENSE. 
T alvez a escalha do artifice nao tenha sido a mais acertada. 
Mas, se;a como for, o espirito de disciplina levou o autor a 
to dos os es/ or<;os comnativeis .com as circunstancias de melo, de 
cultura e de capacidade intelectual. 
Consta a monpgrafia de duas partes. No primeiro volume, 
com um unico capitulo, cogita·se do povotunento inicial da regiao. 
Vale por uma inttodufao, visto como; ao tra'/J.ar-se de uma popu· 
lagao selvagem, com uma cultura rudimentarissima, ·convem an: 
tes de tudo examinar as suas origens eertas ou provaveis e ex· 
pli<Jar, com os elementos a mao, como e-quando _essa gente veio 
ocupar o territ6rio deste Estado. _ 
A segunda parte ocupa-se do quan,.to foi .possivel coligir 
ikis manifestagoes c·ulturais de tao v~tustos JiabiMntes, atraves 
dos monumentos que nos legaram. 
As fontes para o estudo da materkl nao podem ser ou· 
t ras que os vestigios registados nas rocJAq,s ou os restos liticos 
-ou ceramicas da sua industria. A ssim, simplesmente peln,s ins· 
cr.i~oes rupestres que tragaram abundantemente nos rockedos 
-VI-
' 
e pelas colet;oes ate o -presente organizadas de utensilios, obje .. 
tos domesticos, adornos, q,muletos e armas de pedra ou pelas ccr. 
let;oes de ceramicas tii<> variadas f>Odemos ajuizar as atividades 
desses velhos habitantes da nossa terra. 
Da ceramida, restam-nos elementos rel<Jtivamente qbundan· 
· tes e de tipos ou estilos diferentes. Ressaltamos, nesta ordem de 
monumentos'J as cole<;6es de cachimbos, a maior parte dos qua-is 
parecem ser objetos de uso religioso, razao talvez por que tais 
elementos merecera-m csp·eciais cuidados de confec~ao e n:otavel 
esmero na orna.mentagii~, porventura util'izando motivos simb6· 
licos. 
Compreende-se que em estudos dessa natureza, para que se 
consigam proficuos resultados, importa obedecer aos metodos di-
tados por uma long.a e cuidddosa observa<;ao e experiencia pro· 
longada dos fatos. 
Como observa um homem de grande saber em assuntos des-Da 
natureza, "la pre-historia n/io di/ere de etnografia seniio pela 
antiguidade das popu~oes em .apre~o. Assim, pois, torna-se evi-
dente que· o estudo das colegoes pre-hise6ricas ha de obedecer aos 
metodos conhecidos em, etnografia." ( 1) 
Em virtude disto,;, o-s elementos das diversas cole~oes devem 
ser descritos, clrtssificq~s e depois devidamente comparados, 
a firrt de que seja poss!1f~l s.urpreender as corr:ela<_;oes, parentes· 
cos ou filiagoes, e tambem, muitas vezes, os caminhos ou vias 
pelas quais transit:aram certos destes elem,entos culturais ou se 
distribuiram no esp~o~ 
I sto se relaciona C{)lft uma utilissima exigencia do metodo, 
que adotamos ou~ tentamos seguir com o rigor compativel com as 
circunstlincias. Consiste na distribui~ao geografica dos fdtos cul-
turais, visando especialmente f acilitar as imprescindiveis com-
paragoes, que devem ser estendidas dentro de areas adequadas, 
(1) Paul Rivet. "L'Anthropolog1e" in Boletlm do MU&EU NACION.AL. set0 
de 1928, Vol. IV, n. :,l. A expressAo ETNOGRAFIA tem aqul 0 ~entido 
q~e o sablo emprestou 'o t6rmo, no obra cltada . 
-VD-
.. 
descobrir migra~oes de elementos e · apr.tnhar de modo mais sa-
tisf at6rio e mais facilmente correspondencias e_ correlat;oes, eon-
tinuidade no espago entre presumidos ou reais centros de disper-
"' . sao ou. or:igem. 
£ste processo nos leva .a <1rganiza<;ao de cartas ou mapas 
cartograficos de distribui<;ao, 'dentto de ambita que interessa 
mais ou menos de perto ao caso em considera<_;ao. 
Ora, no caso em consideragao, taref as desta natureza podem 
MO Ser face is e ate mes mo impossiveis OU limitadas a cerJas 
concli<;oes mais ou menos estreitas. De qualquer for ma deman-
dam sempre penosas investigagoes nem sempre coroadas de ple-
no exito, principalmente por deficiencia de dados uteis OU indis-
pensaveis, que deviam sempre acompanhar cada elemento cul-
tural das cole<_;oes di$poniveis. Tal circunstancia, porem, /ttlha 
muitas vezes, limitando 0 numero de elementos de maior wlia. 
Na descri<;ao dos objetos e monumentos procuramos nao so 
tornar conhecidas a mQrf ologia,. ·r~ssaltando particularidades ou 
anomalias, co mo tambem a tecnica,, con/ orme fora em certos oo-
sos permitido apreciar. 
Nao devemos disfar<_;ar as dificuldades e a soma conside-
ravel de esforgos que tais cousas impoem, e quase sempre nao 
f oi possivel fazer a m6r parte do que fora preciso para conse--
guir resultados apreaiaveis. Nao obstante, alguns ef eitos inte-
ressantes, mais ou menos parc~ais, resultaram sdtisfatorios, sufi· 
cientes ou sensivelmente completos, permitindo conclusoes pra-
tica$ e beni (/,efinidas. Muitos tra..balhos frus.tados resultaram da 
ausenci(J, de indica<;;t'es regularmente precisas, pouco claras OU 
mesm0 erron8as, e disto muito mais do que da riqueza numeric.a 
das colef5es. 0 estado precario de algzins monumentos, por ve· 
zes de inil,isfargave.l importancia, tambem conttibuiu para em-
partiar r;ertas conclusBes e impossibilitar outras. 
Alem da morfologia e tecnioa de confec<;ao de um objeto, 
exige-se ainda o uso correto, o modo co mo f oi conserv.ado atra-
ves dos seculos e como jazia no seio do dep6sito geologico ql!-e 0 
-VIII-
-,. 
conservou ate os nossos dia.s, dep6sit0 qzte, por sua vez, impor~a 
ser definido. · 
E1nbora, porem, tais indicttgoes sejam de e11idente inipor-
tancia, especialmerae no seu conjunto, compreende-se que, con-
j orme as circunstanciaS_, uma ou outra ou mes mo talgumas que 
jalhem-, nao obstam <J,. boa inteligencia dos estudos finais OU de 
•certas conclusoes. F elizmente, no caso em tela, isto e relat.iva-
m.ente comum. 
Rec<>menda·se cam, insistanc.ia justif icaJJ.a que se torna ain-
da· necessario dar aos adhados arqueologicos o valor relativo que 
·merecem, nao em fur:u;aa da sua for ma, bom acabamento ou be• 
leza, mJas coma expressiio relevante de uma cultura, qualquer 
que ela seja, qualquer que seja o seu grau de rddiantamento. £ste 
valor, nas cole~oes disponiveis, fai, em genal, de estimativa mais 
ou menos precaria e algumas vezes ficamos perplexos, sem 
meios praticos para aventurar qualquer avalia~ao digna de f e. 
T odas estas considera~oes e dificuldddes com que lutamos 
indicam uma orienta~ao conveniente a disposi~ao da materia na 
segunda parte da obra: 
lnserifoes rupestres; 
ObjettJs de pedra; 
C A i eratnic'(l;; 
Cons-idera<;6es f inctis e conclusoes. 
111.as, nao se compreende que tais estudos, incidindo sobre 
arcaicas civiliza~oes ou culturas, prescindam do conhecimento, 
embora elementar ou mesmo incompleto, das respectivas popu~ 
~oes ou povos, sob o seu aspecto antropolOgico. 
Dai a necessidade 4~ termina'r a monografia com mais um 
capitulo em que se exponham suointamtnte o especto rac~al dos 
habitantes precolombM.no.s <Io Ceara e uma sintese da correspon-
dente cultura. 
Este capitulo ha dt: ser baseado em vestigios osteologicos, 
porem ainda arrimado emconvenientes conhecimentos hist6rica$"f 
-IX-
• 
os primeiros·' que nos-transm'itiram os cronistas em vista dos con• 
tactos iniciais que tiveram com esses antigos povoadores. Ao teTJ'll-
po do descobrimento _ da terr a, por aqui viviam os selvageru des-
cendentes provavei_s daqueles pioneiros do povoamento. Se alte-
- • • • , • • l 
ra<;oes existzam, qUdse imperceptiveis scriam quanta ao aspecto 
somatico, salvo no que importd a eventuais cruzamentos intemos, 
alguns dos quais pode-m ser discriminados ou ao menos previ~tos., 
No que diz respeito a pre~isiio tD.a e.strutura cultural, o problema 
parece mas, dificil, mias, p,qo, insol-4vel. Certamente, as c@nside-
tag.oes a respeito, tanto quanta possivel assentes nas cole<}oes li':' 
ticas e ceramicas existentes e nos rqzoaveis informes hist6ricas,, 
nao tem a pretensao de resolver questao tao complexa, ·mal eseuda• 
da em insuficiente d_ocumentuu;ao de vctlor decisivo. Cuidou-se 
todavia de observar com meticuloso interesse os estagios primor-
diais, desde os primeiros contactos e apanhar o facies social, tan-
to quanta possivel ainda isento de influencias aculturativas. 0 
edificio soc~al, apenas estruturado, fica como contribui<ji,o por-
venturo util para uma reedifica<;ao com novas e melhores mate-
, 1azs . 
• 
.A exposi~ao qu~ v·imos de fazer revela o quanta foi ardita _a· 
· ·empresa cometida pelo INSTITUTO DO CEARA, mostr-a que 
os es/ or gos para conseguir os melhores resultados nao fororn 
poupados; e induz-se de tudo que a materia foi apenas af{ora-
da. 0 ensaio, co mo -e natural, of erece lacunas, simples omiss~es, 
faltas e erros, porem arcabou9a sumariamente o objetivo dese-
jado, desbravando um terreno virgem. 
0 INSTITUTO DO CEARA nao podia e nem devia espe· 
rar que os dados pre-hist6ricos se acumulassem ate que bastas· 
sem a composi~ao if,e uma obra conipleta e perf eita. 
Na execu<fio mater~al do tra.balho, embora as oficinas da 
EDITORA DO INSTITVTO DO CEARA empenhassem eonsi_dera~ 
-X.- -
veis esf or,os·, nao se conseguiu escoima: lo de serias faltas. A re-
visao de provas, conqwanto merecesse especiais at~oes, nii,o l<r 
grou aquele grau de corre~ao para o texto que quantos, nesse 
labor se ativeram, tanto desejavam. 
0 autor nao pode eximir .. se ao dever de agradecer, por si 
e pelo INSTITUTO DO CEARA', aos Doutores' Dolor Barreira, 
em primeiro lugar, Oarlos Studart e Raimundo Girao ea es/or· 
<;ooa prof. Maria da Conceifi,o Sousa, pelo muito que se cansa-
ram na re,visao de prova.-.. 
-XI-
·i.c 
PRE~HISTOHIA 
( 
• 
... 
' 
-
COLECAG INS1'ITUTO DO CEARA 
, " , 
HISTORIA DO CEARA 
MONOGRAFIA N° 3 
( 1 '0 TOlVIO) 
TH. t-POMPEU SOBRINHO 
Pre~Hist6ria Cearense 
Eclit<.1ra "Instituto do Ceara" .. J_,imitada 
1 9 5 5 
Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
www.etnolinguistica.org
SUMARIO - Consider~oes gerais. Alguns postulados. 0 Qua-
ternario, o Pleistoceno e as r~as primarias. Ainda 
outros postulados prbhist6ricos. .Paleoliticos na 
America; as duas prirne.iras correntes migrat6rias. 
M esoliticos; a terceira corrente migratoria. N eo-
liticos; a quarta corrente e os povos de alta cul-
tura. Tipos etnicos e familias linguo-culturais. La-
guidos; ges e tarairius. N ordestidos; tremembes 
e 1naues. Bras£lidos; as grandes familias e os ca-
riris. Quadro esquematico das con-entes migrato-
rias, origens, chegada a America, caracteristicas 
somaticas e culturais. Os descendentes dos invasq-
res e sua ·dispersao. 0 povoamenio imcial do Nor-
deste brasileiro. 
Evidentemente nao e possivel aompreender de modo satis-
fat6rio a o.rigem dos primitivos hahitantes desta regiao ou mesmo 
do Brasil, quern f oram eles e de on de provierarn, quando e 
como aqui chegatam, sem que se recorde previamente em largos 
tra~os o povoamento primitivo da America. Mas, ,sern duvida, im-
6 TR. POMPEU ·SOB.BINHO 
poTta faze-lo ~ht {ace da.s ma.i~ m9ciema·s inve~t,igQ;~5es e conclu-
~aes clos sahios que pacient-en:lente t~m estud~do e i:_eFsatlo o a-s-
·sunto com espirite cient4.fieo .. 0 re~umo ha. de ser ,cuid;ides;a;mente 
e~eoiinad-0 de qualquei: di~·F~ssaci desneces.s:aria au at~Clemica.. 
Desd~ qtl.e o Novo-Mun.do ·foi .revela9o ·co~ dS; · Sf3U;~- mis-
teriosos habitantes, .espirites curioso·s-dediearam-se a£an.o:s~mente. 
a J:~m:presia ardua de .qesoohrir a cha.ve do excita.nte· ·enig~a d-o 
.§eU povo~mento inicia,t .l'fupieros,as. f.antasia~, eisc1·eta:s e ate Hur• 
lescas;. $olu~6es in~enuas,. simplista:s ou eqtnplicadas;, hip·oteses 
engenhosas~ 'lllaS cl:e.sp~ovidas., ·de :base ·c0nsistente ou mesm0· .de 
qu.alque_.,: £u:ndamento :for~m rn:ais~ou menos preetigio&ame,nfe apr~­
'strttt.!i,t.das sem qu€, eiitretartto, nenhuma lqgra.,s~~ aptepj~vel esta- ~ 
hilid~& ~ 
r eli~entey eom 0 re·finamen'to ,da ,cultur-a atual, e$te pri'";' 
me.i.t.o ma.~n longo p.erioao d.e. investigi(~oes de ,galJinete. passQ'Q.. 
Contuqo, quanto Se ~izera naq ioi de t6d<> perdido; de13pe,itou 
. ' 
int'eresses, foea1izot1 questoes e conco·rreu ,realmente para i;;itnar 
,o,prQblema num Pampa limpo de, v,~leidad.es. Agora.,. t:rahalha-se 
cientlficamente, com precisao e p~ci~n~ia. 
AS pesquisas reeentes_-$o:bre os mais variadoSi ~SSlJntos rel~n~io­
nados· corn c> primeire. povoamertto da Ametiea l~vam p~ulatin~ -
mente,,a numerosas; sol~oes definitivas e compl~etas da quesitao,. Os 
resulta-dos, c.onsegu.idos ate o ,P;resente, conquanto,.ainda naa re.sol-
vam integra1inen'e todos os prohlemas· complementa.res,,. ja fir-
maram muitas v.erd~des i~ecfutiveis ,e, para iudo, o :.qne~. se nao. ha 
logrado definitivo sentiuo, formularam teorias hem alice.:rga.dais ou 
suge1;-ira.m hipoteses 16,~h)~S, soljd-ame:ht~ ·!-Fimada:s em £a:t.os 
coiJ.cretos. . , 
· Um esguema: dQ; CdIJju,ptq j4 pode ,ser ~pr~s~ntaclo coin c~~ 
rater i·ezoltvelmen·t& prec-ise.. Podem,.se µie~nio organiza"r ~sque~ 
niaS' region:ais matS:·OU menos hem es:tt~uturados, ·permitiilG(l 'Sa~ 
ti&fatorig, ihteligenc_ja dQs fatos re{et;ente,$ aQ. povoame:uto de zena$. 
]imitadcrs. E o, gue se p17et¢nde fa0er aqui, focalizando e'sVAAial-
-
PB£-HIST0BIA CEABENSE 7 
mente o povoamento pre·colombiano do Nordeste hrasileiro e es .. 
pecialmente do Ceara. 
Antes de abordar a materia principal, convem, para evitar 
fastidiosas digressoes e inute~s comenuirios, apresentar os se-
g:uintes. p9stulados,. conquistas pacl.ficas de inv~stiga9oes reeentes 
e certamente irregovaveis: 
.1 - 0 homem americano nao e aut6etone; portanto deve se.r 
considerado como produto de migra~oes do Velho-Mund-o. 
II - Na Eta Terciaria, nem mesmo nos primeivos periedos do 
Pleist6ceno, o homem que veio povoar a America nao ha-
via cheg~d9. 
III - Nao ocorreu nenhuma migra~ao pre-hist6rica atraves do 
Oceano Atlantico cap~z d~ contrihuir para o efetivo povoa-
mento deste continente. Admite-se que nenhuma ponte con-
tinental ou caminho terrestre atraves deste oceano ti-
veS'se existido ao tempo ·em que a especie humana atual 
conseguira os meios ou as condi~oes de difundir-se. 
Quando logrou tais condit;oes, que a levaram ao Novo-
Mundo, ja encontrara moldado o quadro geografico da 
TERRA, sensivelmente como o conhecemos presentemen-
te .. Apenas modifi<;a9oes locais teriam oenrrido alterando 
o tra~do das costas em ~propor~oes limitadas . 
. 
Precedendo a exposi~iio sueinta do povoamento inicial da 
America, processado no decurso de muitos milenios e rico ex-
traordinariamente de curiosas vicissitudes, importa recordar de 
uma maneira tanto quanto possivel esquematica as circunstancias 
fundamentai& que presidiram a forma~ao das ra~as hisloricas do 
mundo . . 
lsto, naturalmente, pede algumas resumidas no~oes da geo-
logia pr6pria do ultimo estagio .glacial do Pleist6ceno e da longa 
8 . TH. POMPEU SOBRiNHO 
ttansigao deste sub-periodo para o Holoeeno, dentr-0 do qual vi-
vemos. 
0 povoamento primitivo do Navo-Mundo nao e aconteci-
mento isolado. Prende-se a expansao dos povos da nossa especie. 
Ha, realrnente, interessante paralelis.mo entre o povoamento daAmerica, da Asia e da Europa e mesmo da Oceania, que eumpre 
. considerar e sohretudo ressaltar. 
Nao nos int~tessam direta1nente os elementos hmnan9's do 
Pleistoceno Inferior ou Medio, co1no os Arquoantropos orientais 
ou ocidentais e, hem assim, ainda as formas m enos arcaicas ou 
neandertaloides com as suas velhas crilturas paleoliticas, todas 
elas somatica e culturalmente muito dif erentes da ' que atualmente 
prolifera na superficie da Terra. ( 1) 
-
0 mesmo j a se nao pode dizer. da s formas primitivas do5 
homens fosseis da especie sapiens, qne precederam as forma~oes 
raciais da humanidade atual. 
Os primeiros contingentes migrat6rios que entraram na Ame-
r ica provinham, sem nenhuma duvida, das camadas primitivas 
.do Homo sapiens fassilis. A nossa e~ecie come~ara com esta 
variedade etnica, ma1s tarde surgiu a 'Val·iedade. 'tecens (fltJ;mo 
sapiens recens). Durante um cetto tempo as duas coexistiram, po· 
voando o Velho-Mundo. 
I 
Lembra-se que o primeiro period.o da Era Quatemaria di-
vide-se em Pleistoceno Inferior, Medio e Superior, e que se 
caracteriza pela sucessao de sub-perieaos frios e 3 estagios in· 
tennediarios relativamente tempe1'ad0s, OU calidos. Foi ll'@ d,oour• 
so dos seus primeiTos milenios que apareceu o Genero H.umano 
na superficie do planeta. 
A come~ar da mais antiga, eis estas divis6es do Quaterna-
rio num quadro esquematico, com as suas denominac;oes p.reprias. 
I 
Pd-HISTORIA CEARENSE 9 
- -
I 
. Recente ~ 
Periodo 8/9 milenios . 
Holocenico Post- Glacial 
1 o mileriios ( Ln t.e r m e d i ~ r i o ) = -- 4.-a Gl acia~ ao: Wur m ....... .... A "Pequena ldade do Gelo>' 
'ct:S -
= s.o Interglacial .. ,_ 0 ... ,, 0 .Riss-Wiirm d.) u -.... ... cQ) .., C} . . = = ' <Q) 0 3. • G 1 a c i a ~ a o: Riss = u rn -"O 0 0 o . ·~ -2.0 Int erg 1 a c i a I .,_ .... <U ~-
fll "O <Q) 
QS -.... ·9 Mind el-Riss Q) "O = ...... -.... ~ <U 0 2.• Glacia~ao: Mindel ~ "O 0 i;:: ~ 
0 '° QS 1.0 Inter g 1acia1 "O ts ·-0 0 ~ ·i::: ... 0 Gu n s-Mindel -... 
<U 0 
J ~ < . 
~ - ' 1.a Glacia980: Guns 
Somente 0 ultimo s-uh-periodo do Glacial, w urm, que OS 
geolo.g_os americanos pref erem cha mar W isco11;Sin, interessa dire-
tameilte. a esta noticia. 0 JV urm tern sido comparado a uma pe· 
quena I daile do Gelo, por isto que reproduz em miniatura o 
pr6prio Pleistoceno com os seus extensos e demorados 
avan~os e recuos. das areas de glacia~ao; e a conhecida I dade do 
Gelo. 
recuos das areas de glaciac;ao; e a conhecida I dade do Gelo. 
Vitif cou•se que neste sob-.periodo ocorteram B invasc5es gla-· 
ciais mais ou menos amplas, design_adas por Wurm I, Wurm II, 
Wurm III, entre as qua is se intercalavam os sub·periodos quen .. 
tes que duravam" enquanto OS, gelos se I estringiam as calot&s po1 
la res ou aos alt<>& cimos das grandes montanhas. Sao dois estes, 
estagiqs de clima doce; ao primeiro se designa por Wurm I/ 
W. II, (Peoriano.) e ao outro por Wurm II/ W. III. 
Tanto na Eu.ropa como na America os sub-periodos frios 
\ 
• 
10 TH. POMPEU SOBRINH·o 
co-mo os intercorrentes temparados tern comumente denominagoes 
~ . 
espec1a1s. 
No quadro esquematico seguinte figura·se a sucessao dos· 
sub·periodos wunniauos com as suas denomina~oes, a estiin.ati-
va mais aceitavel da duragao de cada um em milenios e a de-
nomina~ao das culturas r·espectivas .. 
Enolltico At u a I 
Holoceno Met a i s _IOM_ 
Neolit ico Post - Claci.ol 
j Mesolitico 
2.0M-
Q Mankato ..... I W3 C - 25 M ..... .... Pomerani a n 0 Q ~ - 28 1\1 --=-'co • "'4 ...... 
""' 
ti.I 
c: 4) ~ W2/ W3 T\vo-Creecks ~ 0 ""' CD ::s () .0 fl) ..... ...... 00 ~ 
.... 
~ Taza Well-Cary ...... ~ 
~ 
;::s W2 C-36 M Q ==' 00 = = 0 e Weichsel 4) u 42M-0 u s .... ' Cl - -- Wl/ W2 ....- M .... (IJ :::s -.... 
~ 
0 Peoriano 4) 4) - - na Amer ica: ~ ·G: sow_ 
w iirttJ I 
na Ame rica: C- 80/ 90 M 
Io wa 
12orff 
c - Culmlna.c;:a ,o Glacla l 1 M - Mll&nlo 
A primeira invasao glacial do WuTm ocorreu ha cerca de 
120 milenios. 
Nos tres periodos de glacia~ao, os gelos desciam dos focos 
polares e das altas montanhas, indo cobrir grandes extensoes 
das terras e mares eircunvizinhos; nos estagios .inter glaciais, de 
dura~ao muito variavel , WI/W2 e W2/ W3, os gelos retraiam-s~e 
mais -ou meno.s consideravelmente as calotas polares e a~s ci-
mos das montanhas. 
A u ltima culmina~ao .glacial no Wurm II; ou Ma~ 
kato dos americanos, processada ha cerca de 25 mile,-
nios, seguiu-se o longo periodo de transigao entre o Pleist6ceno 
PR£-HIST0RIA CEARENSE 11 
e o llol6ceno com a sua lenta deglaciagao. As condigoes. climicas 
do H oloceno, que parece ser mais um est~gio interglacial, tem~se 
conservado sensivelmente inalteradas desde· cerca de 10 milenios. 
Foi no decurso desta ultirna glaciagao plestocenica que apa-
receu, no interior da Asia, a atual especie humana, o Homo sOJ-
piens, sensivelmente ao tempo em que desapareciam as outras 
cspecies menos evolu ida-s do genero. 
Efetivamente, qua"ntlo terminou o primeiro $ub-periotlo. w~s-
• 
consiano, denominado I ou•a, e come~ou o enorme interglacial, co-
nhecido por Peoriano na America e W arthe ou Wurm I na Euro-
pa, apareceram formas Jiutnanas muito semelhantes as qlie pre-
sentemente povoam o mundo. Isto e atestado por numerosos fos-
seis humanos ao lado de elementos de uma industria Htica ainda 
hem. rudimentar, mas caracteristica, cori:espoRdente a Aurinha-
ciens:e da Europa. No firn desse interglactal e come~o do W ur.tn 
II (Tazawell-Cary ou Weichsel), ao que parece, conseguiam as 
primeiras formas da nova especie certa difusao no Velho-Mundo, 
pois deixaram vestigios evidentes em todas as partes daquele con-
tinente; em Combe-Capelle na Europa, Cape-Flats na .Africa do 
Sul, em Cohuna nit Australia, em Wajjak na Indonesia, etc. 
Supoe-se com hons fundameutos que este ser hun1ano, etni-
ca1nente muito homogeneo, porventura 0 orolho fecundo de ll:ril 
paleoantropo oriental, impressionantemente parecido com os 
atuais ,australianos, raziio por que traz a denomina~ao de aus-
traloirle primitivo, fora na Asia surpreendido pela rapida inva-
sao dos primeiros gelos wurmianos, ficando conf inado em gran-
. des compartimentos territoriais por intransponiveis barreiras de 
gelo, enormes e persistentes geleiras que cobriam as montanhas. e 
altiplanos, relacionada~ ·com as espessas caipadas geladas, que· if e.s 
·ciam dos nucleos polares de glaciaQaO e invadiam extensas areas 
suhjacentes. 
No ~ome~o do Pleist6ceno, ou melhor do Guns, supoen1 os 
mais conspicuos paleo-antropologistas por f alta de provas concre-
tas que nenhuma espec!e de Homo existia; porem ao come~ar o 
W~stronsiano ainda vivilrna Europa o Homo Neandertralensis, pro.-
12 TH. POMPEU SOBRINHO 
duto do Pleistoceno medio oriundo da Asia, com a sua industria 
1~1unsteriense, produto da ·evolu~ao de culturas mais antigas (Pre--
cheJense, Chelense, Acheulense, etc.). Esta especie habitava tam· 
hem a Asia (Palstina, Mesopotania, Ubsquistan), a Indonesia 
( Java) , a Africa (Mar rocos, Egito Rodesia). Presume-se que te-
Ilha derivado, atraves de longa evolugao e muta~ao, do Sinamropo 
o homem do Mindel Riss que, evolvendo, mais tarde dilundiu-se 
.pelo Velho-Mundo. (2) , 
A longa segrega~ao em amplos espa~os dera lugar, c.om.o de-
via ser natuFal, a llm come~o de diferencia~ao etnica. A enorme 
barreira gelada do maci~o do Himalaia, prolongada pel9s longos 
contraf ortes da montanha projetados para leste ate o sul da China 
e para o oeste ate a Asia Menor, dividia ·o mundo asiatico em 
duas grand es por~oes: uma, ao norte, fria e sombria; .outta, ao 
sul, quente e ensolarada. 0 resultado biol6gico mais impressio-
nante desta divisao da humanidade durante muitos milenios foi 
a queda do indice de pigmento da pele dos povos boreais e,, ao 
contn.irio, o a~mento de pigmento da pele dos elementos humanos 
encantonados ao sul, especialmente concentrados na fndia. (2) 
Esbo~avam-se assim .dois tipo.s raciais: o de pele clara ao norte 
e o de pele esoura o:u negr~ ao sul. · 
Mas as grandes planicies dono1·te da Asia, por sua ve:Z, eS· 
tavan1 separadas em duas sec<;oes pela barreira gelada da cadei.a 
de montanhas TierurAltaica, que corria do Himalaia para nor· 
deste e separava a China com a parte oriental da Siberia da por· 
~ao ocidental desta. Os dois compartimentos estanques do norte 
nao tinham comunicac;ao com a Europa porque um hra~o de mar, 
lagos gelados e a cadeia dos Urais constituiam uma barreira no 
extremo oeste da Asia. 
Tres eram, pois, as areas geograficas de segregac;ao da 
humanidade. N~las, cada grupo comegou a evolver independen-
temente, diversificando-se conf orme as condi~oes c6smicas par-
ticulares de cada regiao e certas muta~oes geneticas que vingavam, 
generalizavam-se por homogenese e se fixavam de£initivaniente 
como caracteres rticiais. 
f 
• 
13 
0 calor do Peoriano abriu algumas brechas nas barreiTas 
e por elas s~ escaparam levas de prisioneiros, milenarmente re-
clusos. Os egressos espalharam-se por algun1as regj6es da ten~a~ 
:.vencendo Ror vezes distancias consid(l}raveis. 
Apresentavam entao tres ou quatro tipos antropologicos de-
iinidos. Na ordem cronol6gica de sua entrada na Europa, eram: 
1) A chamada ra~a de Grimaldi que teria vindo da Asia sul-oci-
dental e pela .Africa, onde parciabnente se espa:tq,~a, alcan~ou 
o sul da Europa. Por enquanto, quase somente na peninsula ita-
ljana for am encontrados seus fosseis; ( 3) tinha a spec to negr6ide, 
cabega muito alongada e hem desenvolvida, arcadas supercilia-
res nao <lesenvolvidas; denti~ao semelhante a dos australianos~ 
Reptesenta um notavel progresso etnie@ sabre a ra~a de Nea'.'ndet-
thal. 2) Segue-se a ra~a de Combe-Capelle que deve ser a mesma 
que, con1 pouca dif eren~a, teria constituido o fundo etnico da -suh-especie de Homo sapiens f ossilis, da qual as demais forma-s 
rq.ciais de;riv~m. ( 4) Os seus vestigios fa.ram encontrados na Fran 
~a, na Tohec-o-eslovaquia, e Polonia, na Alemanha, na Inglaterra, 
na Italia e noutros sitios europeus, hem como taµibem fora da 
Europa, na Africa meridional e oriental, ua Indonesia e na Aus-
lralia. A universalidade das suas reliqujas 6sseas tao caracteristj-
cas justifica a cren~ de q:tte teria este tipo, notavel:rnente afim do 
australiano atual, constituido a forma primitiva do Homo sapiens. 
Corrobora esta suposigao o fato de ser Combe .. Capelle o tipo etnico 
menos evolvido de quantos se conhecem integrando a nossa es-
pecie. Embora tenham ch~gado a Europ(l os seus _ representanteys, 
oepois da gente de Grimaldi, acredita-se que fora o primeiro a 
libertar-se das prisoes geladas da .Asia, no come~o do Peoriano, 
quando ainda o seu grau de diferencia~ao somatica em relagao ao 
tipo australoide inicial ·era hem pouco acentuado. Devemos le1n-
l}rar que. tepresentantes de.ste tipo poderiam constituir elem·entos 
australoides que ficaram ao sul da barreira do Hifualaia, donde 
facilmente teriam emigrado e alcan~ado a Africa e a Europa. 
( 4a) Homens de elevada estatura, dolicocefalos e hipsicranios,, 
sa.o por vezes comparados aos de Cro-Magnon por notaveis pale-
14 TH. POMPEU •SOBRlNHO 
ont6logos. 3) 0 terceiTo ti po de H. sapiens fossilis que apareceu 
na Europa e o integrante· da ra!;a de Chancelade, cuja constitui-
~ao arquitetonica lemhra a do atual povo esquim6 da Groelandia · 
e do Labrador, sendo especialmente mais pr6ximo do Presquim6! 
Era gente fo11e, robusta oomo o Cro-Magnon, de que se diferen.cia 
especiahnente pela S'4a haixa estatura. 4) Finalmente, o 4° tipo 
e o desta ra~a de Cro-M agnon, gente forte, de elevada estatura 
e grande cahe~a alongada, face larga e curta, arcadas supe~·cilia­
res salientes, ao Ip.do das bases do nariz, que se ahatem rapida-
mente para os lados e desaparecem por completo. Marcellin Boule; 
diz que . "ao lado do· tipo puro de Cro·Ma;gnon, importa anotar 
variedades, como a do homem de Combe-Capelle, de Brunn e de 
Predmost". ( 5) 
Torna-se indispensavel insist.ir sohre que nao resta duvida quan-
to a orig em asiatica do H. sapiens f ossilis, fa to demonstrado com 
achados abundantes de restos de sua industria especifica naquela 
parte do mundo, ainda num estagio mais rudimentar ou primi-
tivo do que os descohertos alhures, onde quer que representantes 
da especie tenham vivido. Alem disto foram, achados na China \ies-
tigios dos negroides de Grimaldi e do homem do Cro-Magnon. 
Quando se desf izeram definitivamente as barreiras geladas d-0 Ul-
timo sub-periodo wurmiano, no come~o do Post-Glacial e os. gru• 
pos humanos, que tinham. permanecido nelas por milenios segre-
gados, conseguiram livremente difundir-se por novas terras e vir-
gens regioes doS: continentes,_ ja aquelas formas do H. sapiens f. 
haviam dado maiS. um passo na cadeia da evolugao e produziao a 
sub-especie atual, o H. sapiens recens. (6) 
Natul'almente, como consequencia da segregagao em tres ·eom-
partirr1eritos, as ra~as se diversificaram, adqu.irindo carac;tere~ 
pr6prios, relativamente fixos. 
Referiu-se o eixo lesre-oeste da grande harreira do Himalaia 
dividira a humanidade na sua , quase totalidade em tipos de ele-
vado e de haixo indice pigmentar. Aqueles deram origem as ra~s_ 
melanodermas, equatoriais, OU negras; estes produziram as ra~as 
boreais, de pele clara, di\Tididas em duas por~oes pela barreira 
..... 
' 
•, 
PR~-HIS'rORIA CEARENSE 15 
..,, montanhosa Tieno-Altaica ; uma a oeste a das ra~as faiodermas; 
outra a leste, a das ragas xantodermas ou mongol6ides. 
Desde entao, as tres ra<;as primarias, que se espalharam pela 
superficie acessivel e hahite;lvel da Terra, desenvolveram um ex-
tenso e muita vez intenso processo de cruzamento, sobretudo im-
portante, como era de espe:rar, ao longo do largo cinturao ori~n­
tado pela velha e extens-a b~rreira do I-Iimalaia, e menos intetes-
sante, porem a ind a .. mnito inrp<;>rtante, nas faixas que tinha1n po-1! 
eixo a barreira secund.ara dos Ei1ontes Tieno-Altaicos e a eordi-
lheira dos U rais. Outras ffilxas secundarias de metamorfismo ra-
cial teriam existido no he~_sterio sul, mas estas nao importam ao 
objetivo visado aqui. De.stas zonas de miscinegagao etnica safram 
todas as f orma~oes raciais da humanidade atual e outras que nao 
conseguira1n subsistir, forma~oes secundarias, .terciarias, etc. (7) 
0 criterio arqueol6gico, que tanto contribui para esclarecer a 
cronologia pre-historica, considera a industria remanescente dos 
velhos povos dividida em tres periodos : 1) o Pal.eolitico ou o 
periodo da pedra lascada, por sua vez divido em Inferior., Me-
dia e Superior, na ordem_ de antiguidade, enquadrado no primeiro 
periodo geol6gico da Eta Qu.~temaria, o Pleist6ceno; 2.) o pe-
riodo N eolitico a pedn'h nova;, ou da pedra polida, desenvolvid·o · 
no decUl'SO do ultimo estagio ge.ol6gico daquela Era, 0 HolQcenQ 
ou Atual; e, finalmente, 3) o que se interpoe entre os, dois, repre-
sentando uma fase cultu1'al de lirnites pouco precisos, o Mesolitico. 
No Paleolitico localizam·~se as industrias pTimitivas e primarias, 
que nao conhecem a cerarnica e a agricultura, as quais per-
duraram enquanto o engettho dos homens fora somente capaz 
de oonfecionar instTumentos de pedra lascada. No Neolitic~, ca--
racterizado por un1a franca ind1lstria de artefato-s de pedra po-
lida ,pratica agrfcola e ceramica, a humanidade preparava-~e 
para .ingressar numa era de civilzia~ao, precedida pelas· in-
dustrias interme<liarias <lt> hronzt e do ferro (Eneolitico). Mas 
para alcan~ar OS progressos do N eolitico, OS ultimos7 homens do 
Pleist6ceno,. no p~1liodo Post Glacial, passaram por uma fa:Se 
de hesitayoes ·e de &.<: :~nt~os oonl3trutivos, de teht.ativas e de 
\ 
16 TH. POMPEU SOBRINBO 
ensaios muito variados; enta.o, c.omega a ap~recer tim acervo de 
instru.mentos liticos parcialmente polidos, uma ceramica ~j 
tremamente grosseira, agrlcultura rudimentar com a domestica .. 
gao do cao, que constituem o resultado destes trahalhos, conse-· 
quentes e estimulados pelo clima, que se omava prqgressivarnen-
te menos rude, pela flora rnais rica e propicia a vida humana·e fauna mais abundante, porem exigente de armas menos ru· 
dimentares ou mais eficientes. 
Por este tempo, gente branca, dolic6ide, originaria prova-
velmente da Siberia ocidental, invade a Asia-Menor e passa a 
ocupar progressivamente as margens d9 Mar Mediterraneo. Do-
mina as regioes onde se processava a velha cultura paleolitica 
chamada Capsiense, do H. sapiens fossilis, a qual desenvolve e 
melhora para produzir a do Capsiense Superior. tste povo que 
tomou -o nome do mar a cujas margens se instalou, mais tarde 
atravessa os Pirineus e se apropriou da Europa Ocidenta1 a oeste 
do rio Reno, dando origem as novas culturas mesoliticas, suces-
sivas, conhecidas por Aziliense e T ardenoisense. Algum tempo 
depois, outros povos, tamhem d.olic6ides, vindos ao que parece 
do norte da Siberia, chegaram as margens do Baltico, e pelas 
costas alema.s, holandesas, belgas, franeesas e ibericas do Atlan~ 
ti co f o-ram eneontrar-se com os Mediterraneos. Del es deriv am os 
povos n6rdicosc da Europa Sententriona1; outro ramo de siberia-~ 
nos perlongando as ribas- do Artico deram os Hiperb6reos de 
tipo . m<>ngoloide. tstes novos ~migrantes eram portador€s de 
uma cultura pr6pria, especialmente relacionada com 0 mar; tra-
ziam um interessante elemento muito caracteristico, e para nos 
particularmente curioso, os kjokkenmoddings: ( samhaquis) que 
sao monticulos de restos de cozinha; traziam tambem o cao domes· 
ticado. 10 Mesolitic.o, pois, dera a Eur-0pa duas grandes levas 
de povoadores dolic6ides, emigrados da Siberia. 
~ste periodo arque0lO.gico finda qom o desenvolvimepto da 
agricultura e da ceramica, com o uso generalizado do arc0 e da 
flecha, e principalmente com o dominio da pedra polida, ele· 
mentos caracteristicos da cultura neolitica. 
PRE-HISTORlA CEABE.NSE 17 
Foi no COJJle~o d estes novos tempos. que surgira , na Europa, u n1 
tipo humano diferente, porter a cabe~a eurta em rela~ao ao com~ 
primento; interpos-se entte os povos dolic6ides. do sul e do norte. 
As primeiras levas ~esta gente braquioide, emigtada da Asia 
Ocidental, estabeleceram as suas moradas, cheias de novidades, 
entre os morenos Mediterraneos e o& loiros N6rdicos. Fixaram-se 
especialmente en1 torno dos Alpes e p<;>r isto a su~ ra~a tomou . o 
nt>me .de A lpina. Lev as p0steriores ocuparam a r~-giao dos Caq>a-
tos, e deram origem a amal ra<:;a Dinarica. Presume-se com hons 
fundamentos. que tais bia qui6ides tenham originariamente vindo 
<la Asia Oriental, ber~o do. mongolismo. Eram portadores de uma 
be}a cultura neolitica .OU. media. C.onstrufan1 palafitos, platafo:t-
mas armada~ sobre esta.~a.s ou pilares de madeira- plantados nas 
lagoas, sobre que edificavam as suas tnoradas. Possuiam canoas 
e eram hons pescadores. 
Sabe-se que os povos do1ic6ides pxecederam aos braquioides . 
Aelmite-se que estes foram getad'os1 na Asia Oriental, a leste da 
harreira Tieno-Altaica, pdr muta~oes, quando se fo1maram as ra-
<]as protomongoloides. Dali, grupos divers.as deste tipo·teriam emi-
grado para_ a Asia Central, donde se dispersaram, tomando va-
xios destinos. Cada corrente diveTgente, evoluindo de acordo con1 
a resultante das a96es g~neticas ou internas, do nieio cosmico e 
. ~ dos cruzamentos eventuais com element0s estranhos, formaran1 
ra~as secunclar~as diferentes. Uma importante corrente do pro-
tomongoloid:f?S encaminh9u-se para S-E do continente ·e foi pr<:>-
~ duzir os Premalaios desta xegiao hem como os da Indonesia. :Ne·s-
tas ilhas eneontraram popula~oes autO.ctones do tipo primitivo 
( austral6ide) , que tiveram de dominar e com que teriam escassa-
mente cruzado antes de formarem os verdadeiros Protomalaios, 
que interessin1 pa1tieula'.rmente ao pavna:mento amecicano. A sua 
cultura media ou neolitica tomou na Indonesia notave] progres-
$0; desenvolveu acentuada tendencia ag1·icola e notavel dina-
mismo que os levou a uma grande expansao oceanica. I sto explica 
. a rapida ocupa~ao de toda a Indonesia, da Micronesia e da Po-
18 TH. POMPEU SOBRINHO 
. ' -
linesia, infinitas ilhas semeadas num mar quase infinito; proeza 
realmente extraordinaria· para um povo nao civilizado. 
Depois, ja no dealhar da civiliza~ao oriental, povos oriundo.s 
do Noroeste da fndia, certamente do vale do INDUS, relacionados 
co1n os <lo l1·a, p1·oximo, onde se amalgamara uma cultura pr& 
hist6rica de gente hranca~ com influencia sumeriana ( profoar1os), 
chegaram as ilhas da Polinesia; e ali, cruzando com os protoma· 
laios, deram origem aos atuais habitantes daquela regiao ocea-
nica. Senhores de uma alta cultura, com duas clastses sociais ben;i 
d.istinta_s, a dos ARll, superiores ou senhores, e a dos MINAHU-
NE, servos.'; com monumentos megaliticos, escultura, cidades e 
uma especial capacidade estado·poetica, mais tarde particular-
mente desenvolvida no territorio americano. ( 8) 
Estas sumarissimas no~oes, simplif icam e facilitam a com-
preensiio e o -desenvolvimtnto logico do complexo P.roblema do 
povoamento. pre-europeu do continente amer~cano. (9) 
Ainda uma vez, para condensar o mais possivel es.te resumo, 
vamos formular alguns princfpios fundamentais, def initivamente 
estahelecidos em vista das investiga96es mais recentes, porem 
·ainda pouco divulgados. Prescindem de consideraqoes ou demons-
trac;oes. 
I - Nao ha e nunca houve homogeneidade etnica e cul-
tural entre os indigenas do Nov<rMundo. Isto indica origens di-
ferentes. 
II - Os primeiros homens que chegaram a Ameri~a eram 
ja individuos da atual especie do HOMO SAPIENS. Repres.eJi-
tavam po rem a f orma primitiva desta especie, isto e, pertenciam 
aos elementos .que constituiam 0 fundo etnico da humanidade 
~tual, ainda nao diferenciada em ra~s como presentemente. (10) 
III - tstes pioneirQs chegaram a America pelo caminho do 
estreito de Bering, no ultimo sub-periodo do Pleistoceno, um 
pouco antes da derra,deira suh-glacia~ao wurmiana, numa oca-
:siao em que a peninsula de Alas.ca est_ava liga.da a Asia por uma 
lingua de terra firme. Tais fa~os teriam acontecido tres vezea 
P&l-:H1ISTORIA CEA-RENSE 19 
ne.sse sub-periodo e outras tantas nas culmina~oea glaciais do co· 
me~o da era Quatemaria. 
IV - Esta demonstrado pela autropologia, pela etnologia e 
p·ela liguistica que, alem ·dos elementos refei·idos, oriundos do 
norte e nordeste da Asia, entraram no Continente Ocidental ele-
mentos de outras procedeneias (Rivet). 
V ~A evidencia de elementos -australoides, melan6ides e 
protopolinesios na America nao significa que se trat~ de tipos 
etnico-culturais identicos aos dos atuais povos indigenas da Aus-
tralia, Melanesia ou Polinesia, mas simplesmente de gentes que 
tinham, ·em tempos remotes, rela~oes com os mesmos tipo.s etni-
eos arcaicos de qu·e surgiram aqueles oceanicos. 
VI - Nern todos os contingentes mig:ratorios que contri-
buiram para o povoamento pre-c_olombiano do Novo-Mundo che-. 
§aram por um caminho terrestre~ Algu1'.J;s, os que constituiram os 
ultimOS grandes grupos migratoTios, aportaram por via marit)1na 
ou pat.a,maritima. 
VII - ·Os diversos contingentes chegados a America nao 
traziam 0 espirito ou. a inten~ao de conq.psta ou de coloniza~ao_; 
chegavam em conseqtlencia da ·difusao espacial de povos que se 
:formaram no norte ou no orienfe asiatieo e se dispensavam es-
pecialm:ente por motivos de sua econo!Jlia coletora, muito prima-
rla, extraordinariamente exigente de grandes areas geograficas. 
Y.111 - .Ex.istem um. curioso paralelismo etnico-cultural e re-
lagoes especiais de caracter cronol6gico e de outr~ natureza, que 
se vao esclar_ecendo modem.amente, entre o pov:oamento inicial do 
continente americano e 0 povoamento dos demais continentes, no 
que se ref ere a especie atual da humanidade. 
Estabelecidas estas indica~oes preliminares, chega a aportu-
nidade de ex:ttair oli deduzir sumariamente do conjunto de dados 
acumulados;das teotias e das hip6teses r-azoaveis modernas acerca 
do povoamento americano o nece~sario e apenas suficiente ma-
terial para a. organiza~ao de um quadro ~sintetico· que encerretodos 
os elementos uteis ao nosso objetivo. 0 empreendimento nada 
tern de simples e facil, requer a consulta exaustiva.; n1inuciosa e 
·20 TH. POMPEU SOBBINHO 
soh:retu~o cansativa de uma infinidade de obras, revistas, artigos 
ou ensaios dispersos, muitas vezes pouco acessiv.eis, em linguas 
dif erentes. 
Sahemos que o processo do povoamento pr&colombia no da 
America nao foi continuo, seguido em espa~os breves e regulares. 
Aprendemos ja, tamhem, que o conjunto de imig1·antes oriundos 
de uma mesma regiao etnica do Velho-Mundo, numa lleterminada 
epoca, composto. de elementos humanos somatica e culturalmente 
homogeneo, nao ingress9u em massas volumosas. A cada uin 
destes conjuntos chamaremos Corrente .migratoria como outros ja 
o fizeram. 
E evidente que tais correntes nao sao numerosas ernhora 
algumas tivessem sido ex.traordinariamente ·grandes. Mas, estas 
mesmas correntes nao entraram no Continente num afluxo conti· 
nuo; fizeram-no em vagas successivas, desigualm~nte espac;adas 
~ desiigualmente volumosas. Muitas se compunham de um numero 
mais ou menos avultado de familias ou mesmo de individuos, 
ca~dores ou navegantes que se apartavam de seus pagos- por 
motivos divetsos, porem geralmente relacionados com a otdem 
eeonomica, como, pox ex~mplo, a diminui~ao da capacidade pro-
·dutiva .do territ6.rio explorado pelas tribos, ot1 melhor pela hi-
pertrofia do grupo social em rela~ao com a capacidade produtiva 
territorial, fonte da nutri~o. Eram como enxames de abelhas que 
se desprendiam da colmeia e tomavam rumos diferentes em husca 
de novas areas por explorar. Difundiu-se assim pelos continen-
tes a especie humana. E possivel qv.e algumas vagas fossem re-
duzidas a poucas familias ou a pequenos grupos de individuos. 
Pode-se mesmo admitir que certas, sobretudo das que integravam 
a ultin1a corernte, nem sempre traziam mulheres . ..mstes grupos 
de homens, ao aqui chegarem e. ao se fixa,rem. no continente, te· 
riam de recorrer as mulheres dos que ja de muito se tinham es-
tahelecido. Deste modo, tais elementos, ordinariamente se incor-
poravam as trihos nativas. 
Quando o itinerario era terrestre, a marcha devia ser lenta 
e interrbmpid·a f requentemente em certos lugares, conforme a 
-
--· 
PRE-HISTORIA CEARENSE 21 
amenidade da regiao, a abundancia da caga e o afastamento de 
concorrentes humanos. 
Se o caminho era maTitimo, provavelmente tambem seria 
mais ou menos demQrada ou interrompida nas esta~oes interme-
diarias, exigidas para repol}so· ou abas.tecimento dos barcos, nas 
ilhas oceanicas OU nas praia-s do COiitinente asiatico OU mesmo do 
continente americano. 
Sen1 duvida, em ·tao· dilatado trajeto, as vagas humanas es-
tariam su.jeitas maJs OU menos a serias modifica~Oes est:rutur~.is, 
etnicas e culturais. lsto dependia da situa~ao social dos povos 
com que entravam em coIJtacto; e deste mesmo contacto, que po-
dia ser mais ou menos demorado ou intimo. Acreditamos que 
certas vagas de origem indonesiana experimentaram um sensivel 
refon,;o de mongolismo no trajeio, antes de cnegarem a tei-ras . 
amer1canas. 
Esta influencia poderia ter s-ido cultural ou mesmo racial. 
* * * 
Quan<lo as barreiras geladas do Iowa dividiram a htunani-
dade asiatica em tres se~~oes, urn curioso e relativamente evolui-
do tipo etnico, com tra~o.s al,lstral6ides, estava espalhado pela. 
superficie terrestre, isto e, pelo continente A.sio-euroafricano. 
Motivos especiaiSt deixan1 crer que este tipo devia con$ti-
tuir a base comum da nova especie humana, da qual divergiram 
mais tarde os antigos elementos raciais do H. sapiens. 
Tres vezes dui-ante o Wisconsiano, nas epocas de glacia~ao, 
o atual estreito de Bering transformara-se numa lingua de terra 
firme, ligando o NE. da Asia ao NW da America. As enormes e 
espesssas camadas de gelo mie cobriam grandes extensoes da $u-
perficie terresn·e retiravam entao dos mares tao grande volun1e d~ 
agua que o nivel haixava d~ a1gumas dezenas de metros.Jase cal-
culou que esta queda de nivel marinho chegara a atingir cerca de 
200 m. na ultima glaciagao, descobrindo em torno dos continentes 
certa. extensao de terra a@ora n0rmalmente mergulhadas. ( 11} No 
'* . 
• 
' 
22 TH. POMPEU SOBRINHO 
mar de Bering as terras emergidas gozavam de~ temperatura :rela-
tivamente menos rudes merce da corrente marinha quente do J a-
pao ou Kuro-Sivo que contotnava as costas meridionais. 'Quando 
este f enomeno ocorreu na segunda glacia~ao W urmiana, o Ta· 
.well.Cary (Wurm II), numerosas levas de cagadores s~be:ria­
nos passaram da Asia para a America. Isto teria ocorrido entre 
40 e 30 milenioe preteritos. ( 12) 
Nos periodos de glacia~ao nem todas a~ terras do norte e 
nordeste da Asia, "Clo norte e noroeste da America se cobriam de 
gelos, ao p&sso que t(}(j.9 o leste e sul do Canada e largas ex· 
tensoes dos Estados Unidos da America do Norte ficava~ sob 
espessas massas geladas. 
Naquele tempo a popula9ao asiatica era constituida de aus-
tral6ides primitivos, _ ca~adores que se. alimentavam especial-
mente de carne dos grandes mamiferos quaternarios, agora ge· 
ralme·nte extintos. Pers:eguindo a ca~a, q·ue tartibem emigrava do 
Velho para o Novo continente, estes rudes selvagens penetravam 
no territ6rio do Alasca, em levas sucessivas; e o aflu.Xe corlti· 
nuou ate que a temperatura se elevou suficientemente, no ulti-
mo interglacial, Two-Creecks (W2/W3). e o d~gelo conse-
quente, rest~tuindo ao mar grande pa1te da a~a que o Wurm II 
dele retirara, restaheleceu o estreito. Mas, entao, uma conside-
ravel populat;ao ter-se-ia acumulado, durante algUns milenios, 
no vale fertil e isento de gelos do rio Y<ukon e em terras do ex-
tremo norte da America nao atingidas pela glacia~ao, onde a 
ca~a tambem se recolhia. ( 13) 
Ao mesmo tempo que o estreito, pela eleva~o das aguas 
marinhas, cortava o caminho da Asia, um largo corredor se 
abria nas camadas do gelo ao sul do CanGtda, separando a§ gelei-
ras das montanhas Rochosas dos campos gelados de leste (Labra-
dor e Hudson). Ag.ora, um. caminho ligava o sul do vale daque-
le rio do Alasca com as grandes planices amerieanas, estendi-
das· entre as ref eridas montanhas e o vale, do .r.io Mississipe, onde 
a vegeta~ao e o clima propicio acumularam durante o Pleist6-
ceno Inferior e Media v.ariada fauna de grandes mamiferos. 
PR£-HIST0ltlA_ CEARENSE 
Por este corredor encaminhou·se a caga do norte ~ os ca~adores 
emp6s, indo estahelecerem-se naquelas fartas campinas, no cora· 
~ao da A1nerica do Norte: Isto teria ocorrido entre o 30° e 26°· 
milenios, naturalmente antes que a ultima sub·glacia~a~, no 
Mankato, fechasse pela derradeira vez o caminho atraves do 
Canada. Desta maneita, entrara definitivamente na America, 
uma primeira corrente de imigrantes asiaticos ta1vez, a mais 
volumosa de quantas iugressaram no Continente. Embora o 
fluxo durasse alguns mil enios, as levas sucessivas compunha m-
se sempre- da mesma gente, a forrna primitiva do H. sapiens 
fo.ssilis, austral6ide, dolicocefala , hipsictania, de elevada es· 
taJ ura. Trazia uma cultura semelhante a aurinhasense da Europa, 
mas, de carater ainda mais rudimentar. 
Estes australoides pri1nit.ivos, como vimos, se tinham espa-
nhado pelo Velho-1\llundo. Na Europa os seus mais lidimos re-
presentantes eram os homens da eha1nada ra~a de Combe.Capelle, 
tao .semelhante ao celebre tipo d¢ Cro-Magnon. (14) Na Africa, 
na Asia e ate na Australia tem-se achado os seus vestigios. 
0 sqbstrato do homem atual e o mesmo por toda a parte-. 
Isto, alias, era muito natural, ohserva um ilustre antropologista, 
pois, ao tempo que estes. fatos se desem·olavam, um extre1no 
e o outro da grande massa continental Euro-asi·atica, son1ente 
podia receber a linica forma existente <lo H. sapiens, oriunda 
do linico centro de dispersao, as para:gens centrais do maci<;o 
asiatico. 
Entao, realmente, nao se haviam plasmado as 1·a~as pri-
m~rias da humanidade atua l, a branca, a amarela e a negra . 
A primeira corrente imigrat6ria assentou as stuts tendasou 
cabanas muito toscas no centro do__s Estados Unidos da Norte Ame· 
ri¢a, nas proximidades da boca daquele-corredor da acesso. Dali , 
paulatinamente, os seus representantes se difw1dira m primeira· 
1nente, pelas zonas do ~ontinente livres de gelos e depois se 
assenhorearam dos terrenos que OS ultimos gelos do Mankato 
foram desocupando. Na America do Norte antigos testemunhos 
desta gente pritnitiva t en1 sido revelad<;>s. Ora sao de pedra ,ou 
t 
' 
TH. POMPEU SOBRINHO 
de .osso, ora sao Taras reliquias osteol6gicas, os. restos de sua 
industria distribuidos tanto nas regioes orientais, ate a penin-
sul-a da Florida ( eranios de Vero e de Melhume), eomo nas 
,costas do Pacifico; e dai, pelo Mexico, rumo sul, ate a Ame-
rica Central. 
Atraves do istmo do Panama, entao facilmente acessfvel, 
os austroloides alcan~aram a Am~rica do Sul (15). Os cranios 
de Tunebqs, na Colombia; de Paltacalo, no Equador; da Lagoa 
•, 
Santa, no Brasil; de Colonel, no Chile e de ArrecifeS: ~ Fonte-
zuelas na Argentina lhes pertencem e ates tam a sua larga di. 
fusao. 
As suas atividades cinegeticas os levaran1 de um .a outro 
extremo do NovQ-Mundo em algm1s milenios. 
Presume-se que as primeiras- levas chegaram a America do 
Sul ha cerca de 20 milenios; d-0 28° ao 8° antes do presente mo-
mento decon·eram OS 200 seculos gastos pe,los primeiros povoado· 
res para dominarem a America, um continente que encontraram 
virgem de seres humanos e portanto a sua descrigao. Nao eram 
colonizadores, nem outro prop6sito os conduziu a estas plagas 
mais do que uma natural difusao no espago, movid·a, oomo 
acontece com as e$pecies animais, por necessidade imediatas da 
luta pela vida. Nao chegaram neu1 se espalhaTam em grandes 
massas~ apoderam--se do territ6rio pouco a pouco, marchando 
lentan1ente,, no transcurso dos seculos. 
A cnltura dos povoadores pioneiros devia sei- extremarnente 
primitiva. Cagadores nomades, constantemente no encal~o da 
catg~ movediQa, faltavam-lhes lazer para atividades menos pre .. 
mentes, e por isto nao dispunham de muita cousa mais do que 
a essencial para abater os grandes mamiferos ou o que se podia 
aproveitar, como, alimento, da fauna pleist6certa meno1·~ 
As pontas de pedra que chegaram ate nos indicam que nao 
se empregavam em flechas mas em lang~s, que os homens ar-
rojavam sem o auxilio de nenhrim engenho propulsor; falta-
vam o arco, a flecha e a estolica, mas seguramente possuiam ar-
mas bumerang6ides. 
• 
I 
PR£-HISTORIA CEARENSE 25 
Pode-se fazer uma boa ideia desta cultura pelo material 
litico achado em Sandia Cave, Abilene, Ventana. Folsom, Co-
chise, etc. regioes situadas na parte ocidental da America do 
Norte; nas grutas da Lagoa Santa, no centro do Brasil, e nas 
cavernas da Patagonia austral. Os mais velhos elementos cons· 1 
tam das cha1nadas culti.tta~ de Sandia Cave e Folsom, no Estado 
do N,ovo-Mexico (Estades1 Unidos), pr6prias do povo que ali 
se instalara antes do: M aiJ,lt;ato e vivera ate o declinio desta gla-
cia~ao, ha cerca de 28' mil~nios. C·o~preende inaterial litic.o que 
recorda o do Solutrense da Europa. Sao hem oonhecidas as ce-
lehres pontas de Folsom. folhas de pedra, grandes e delgadas, 
Telativamente hem 1rabalhadas, com uma larga ranhura lon-
gidudinal e base fulcra1. Presas ao topo de uma forte vara, for~ 
mavam os primitivos um dardo destinado a ser lan~ado contra a 
ca~a grande. Fora encontrada uma destas pontas incrustada numa 
vertebra de hisao extinto. Nao sao menos interessantes as pontas 
de Yuma, contemporaneas dos ultimos dias de Folsom, longas e 
delgadas, encontradigas do Alasca ate o Taxas e Novo-Mexico. 
As de Sandia, que foram confeccionadas pouco depois da che-
gada das primeiras l~vas de dolic6ides, apresentarn aspecto. irela-
tivamente mais grosseir,o. Caracterizam·se por un1 pedunyq.lo 
basilar lateral que faeili:ta 0 a juSitatnen:to. e enga ste a. ha-ste de 
madeira. lr:ste imperecivei material teria sido elem·ento da~S' 
atividades culturais primeiramente desenvolvidas no solo ame-
ricano, aquem do Alasca. Os achados de Folso1n ja indicam certo 
a perf ei~oamento. 
Na Patagonia austral as pontas liticas, descobertas na ca-
n1ada mais antiga dos sedimentos das grutas exploradas par 
Bird e sua mulher, sao algo semelhantes as de Sandia. l sto mostra 
qu~ os primeiros povoadores do sul do continente teriam s:idP 
descendentes diretos das primeiras levas que emigraram das p1a-
nicies norte·americas, pouco diepois de haverem transporto o 
Corredor aberto IlOS gelos- canadenses do Wurm fl. 
Em geral, po.v toda a i~axte onde· se caracteriza esta arcaica. 
cultura, encontram-se tamL&11 furadores e raspadeiras de pedra 
... 
26 TH. POMPEU SOBBINHO· 
lascada e alguns ·raros ohjefos de osso. Faltavam aos primeiros 
hahitantes deste continente, como ja se referiu, o arco e a fle-
cha; provavelmente tambem o propulsor, anna antiguissim~ que 
teve n~ais tarde eno1me difuS'ao na Ameriea. 0 machado de 
pedra era extremamente tosco. 
Depois que os gelos da ultima subglacia~ao se retrairam aos 
seus f oc<>.s, a leste e a oeste, deixando abe1to novamente o c.or-
red or canaden.se, ehgaram as .g-randes planicies do eentr.o dos 
Estadas Unidos novas levas de um povo primitivo, somaticamente 
um tanto diferente do que constituira as vag!ls anteriores. Eram . 
emigrantes da Siberia que tinham transposto o estreito de Bering 
durante o Mankato~. num momento propicio, e se haviam esta-
heleei<lo no norte do Canada e no vale do Yukon, como os. seus 
ante~essores ja o tinham f eito milenios antes. £stes novos povoa-
dores eram tamhem dolic6ides, mas deferiam dos primeiros por 
que tinham a abobada craniana . menos alta e m.ais modesta es-
tatura. Por outro lado, a sua cultura, ao que parece, seria be:m 
pouco dif erente. Presume-re entretanto que teriam trazido o 
propulsor e um machado de pedra menos 1'udimentar, faltam 
elementos n1ateriais para estabelecer definitivamente estes iatos. 
Tais dolio6ides camecranios ~l:O alcan~arem {IS grandes planioies 
encontraram a1nda hipsicranios da Primeira ~Corrente, ali chega-
dos a uns 6 ou 8 milenios antes e ja largamente difundidos 
pelo continente. Naturalmente, esta nova .contrihui~ao humana 
nao f oi grande por isto que dispos de pouco tempo para trans-
por o' estreito,. vis~o como a dura~iio do ultimo subperiodo gla-
cial do Wisconsiano ioi relativamente curta. 
Em contacto com representantes daquela primeira corrente, 
os desta, que constituem a nossa Segundq Corrente, visto tra~r­
se de .gente somaticamente diversa e chegada ~m epoca diferente, 
deram, nµm grau impossivel de precisar um crusamento que 
teria por feito imediato -0 aparecimento de gente dolicocefala 
com moderado hipsicranismo e estatura media compreendida en-
tre as. que caracterizavam os dois tipos c0njugados. 
-
I 
I 
' 
· PB£-HIST0BIA CEABENSE 27 
0 .s recem ~hegados, como os s~us antecessores. logo come· 
~aram a emigrar das plan~cies em husca de ~regioes desocupadas 
e mais propicias. ao seu modo de-vida. 
Sem duvida, a reduzida diferencia~ao fisica dos homen8 
desta segunda corrente e"' sua cultura assas semelhante a Clos 
primeiros invasores nao permitem, no atual estado dos nossos 
conheeim.entos, seguir cautelosamente a difusao isolad:a das · 
levas respectivas ou dos seus mesti<;os, motivo por que e mais 
prudente considera-los conjuntamente com aqueles. Para nos es-
pecialmente isto oferece vantagens imediatas, porquanto, desta 
segunda corrent'e nao ha conhecimento de levas. puras na Ame-
l'ica do Sul;· todavia, algumas vezes se deparam seus vestigios 
entre as popula~oes oriundas dos pioneiros, quer de ca:rater so-
matico ( reduc;ao da estatura e da- altura da cabe~a ) ~ que1· cul-
·tural.,. 
Por esse mes.mo tempo, quando as ultimas culmina~oes gla-
ciais do Wurm e o intei:estagio calido as sepaTava, entre o 45° 
e o .30° milenios preteritos, os primeiros representantes auten-
ticos .do H. sapl.ens, surgiram e se espalharam pela Africa e pela 
Europa-. Neste amplo interregn0- foi tambemquando ocoi;:reu o 
povoamento inicial da Nova·Guine, Australia e Tasma11ia; aus~ 
traloides primitivos, saidos da India, ou das grandes ilhas in-
donesianas, acharam o c~minho daquelas remotas paragens. Tal-
vez este caminho nao fora tao f acil como p da America. Embora 
o nivel do mar 'tiv~sse caido hastante nos s:upperiodos de culrni-
na~ao. glacial (Tazawell-Cary e lVIankato) , nao sabemos com 
seguran~a se o fora suficientemente para que os estreitos entre 
aquelas ilhas, que balizam o caminho da, Nova-Guine, tivessen1 
permitido o aces.so a pe enxuto ou de tal maneira vadeavel que 
os ernigrantes nao precisassem mais do {}Ue toscas jangadas. 
Parece que as. primeira~ 'leva~ migrat6rias,- compostas dos. ele .. 
mentos humanns menos evoluidos da nossa especie, feriatri alca.n· 
~ado os lugares mais remotos. do ponto de acesso as grandes 
ilhas, como ·a regiao sul oriental da Australia, a ilha J a Tas-
mania,., etc. Os contingentes que ~hegaram (lepois, mais evolai-
28 TH. POMPEU SOBRINHO 
dos, pouco influiram no processo etnioo-cullural dos primeiros 
advenas e seus descendentes que se c·onservaram como ~mQstras 
vivas de um quadro antropol6gico representando a aurora da 
nossa especie. Sao estes justamente os povos mais seme1harrtes 
ans q11e no paleolftico chega·t&m a America e cujos remanes,centes 
:rnais lidimos se encontram ainda no e-xtremo sul do continente 
e em alguns outros raros lugares. 
Decorte do que ~se acaba de relatar que du:a.s correntes de 
povoadores dolic6ides, de origem siberiana, entraram na Ame· 
rica durante o Paleolitico Superior, ou mais preciasmente n<>s 
ultimos subestagios do w urm. 
Prosseguindo o degelo do Mankato e ja nao havendo bar-
reiras geladas que obstassem a dissemina~ao das i-a~as prima-
Tias do H. Sapiens recens, em franco e adiantado processo de 
forma~ii.o, ohserva-se uma deeisiva tendencia para a cria~ao de 
i~ovos tipos culturais, que se vao aproximando cada dia, do que 
caracteriza o Neolitico, idade ou periodo da "pedra nova',_ Sur-
ge uma ceramica muito rudimentar. ens:aios esparsos da mais 
primitiva agricultura e um mais persistente uso de utensilios de 
-0sso. t ste novo periodo, com um carater evidente de transi~ao, 
denominado M esolitico, assinala-se na Africa, na Europa, na 
America e na Asia, onde se presume tenha tido origem e de~ onde 
se expandira com emigra~es humanas clessa parte do mundo. 
Ao longo .das antigas harreh·as·, come9ara um amplo. e it1tenso 
processo de cruzamento das ra~as primarias. Largo cinturao es-
tendido no sentido do tr6pico de Cancer e nao muito distante 
e o teatro de uma v~sta experiencia biol6gica de micigenagao, de 
que resuluim no:vos 'tipos etnicos, ou ra~as secundarias. l sto 
teria tamhem acontecido ao longo das desf eitas barreiras trans-
versais; como a Tieno-Altaica, ao Norte e outras alhures e~ora 
etn propo:r~oes hem mais modestas. 
Nada ma is podia impedir que no centro da Asia entrassem 
em contacto elementos braquioides das primitivas rac;as mongo· 
loides, geradas na regiao ariental do continente, com elementos 
PR£-HIST0RIA CEARENSE 29 
faiodermos, dolic6ides, das ra~as fo1madas a.o ocidente da bai--
r.eira .. Tieno,..Ahaica, em terFiterio posslvelmente siberiano. De-ste 
centrp de micigenagao partiram para o norte grupo8 de ca~aclores, 
levando uma cultura mesolitica, naturalmente recebida daqueies 
hraquiodes. £stes grupos foram as origens dos povos chamados 
Paleosiberianos, gente mais ou menos cruzada, carater que Tes-
salta do es tu do anflropol6gico das suas atuais f orma~oes etnicas: 
enquanto OS Yucaghiros sao mesocefalos e tern altura cr~niax1a 
:media, os Chukchis se revelam d6lico-hipsicranios. Outros exetn-
plos ao par deste demonstram realmente que os pela-osiberianos . 
nao oferecem homogeneidade etnica; niio sendo, pois de ad-
mirar os casos observados de dissociacao de cerlos caracteres .. 
raciais em povos oriundos de seu seio. 
Aqueles grupos de ca~adores,. que emigrara1n das regifres 
centrais do continente para o norte, alcarigaram as inargens do 
oceano Artico, onde, merce das circunstancias mesol6gicas, se 
transf ormaram em cagad<>res de mamiferos marinhos, adaptan-
do-se a vida ribeirinha de mar frio. Mais tarde, ainda no Post-
GlQ,cial, iniciou-se a difusao desta gente para oeste e para leste, 
ao longo do litoral siberiano. Os elementos qne se encaminharan1 
pal'~ o ocidente chegaram a Europa com a sua cultura mesolitica 
do tip,o ,~etentrional. Os qu~ ··&eguiram p~ta o oriente alcan~aram o 
extremo NE do continente e, ao que parece, pela cadeia das ilhas 
Aleutinas e mais tarde pelo Estreito, com o auxilio dos seus pri-
mitivos barcos, construid-0s com uma armagao de made.ira reves-
tida de peles, passaram as terras americanas. -Ocuparanl as Cos-
tas do Alasca no Pacifico e depois, no Artico, as do Canada. 
tstes povos desceram ta,mbem pelas costas do Nordeste do Novo-
Mundo .. Nao h~ cohseque11ten1ente que estfanhar o dimor:fisrno 
somatico da velha popula~o localizada nesta~ Costas dada a 
sua origem paleoasiatica. K arcaica popula:~ao protoesquimo ja 
nao existe desde muitos seculos; seus deseendentes constitnem: 
1) os esquim6s historicqs que ocupam as costas norte e nordeste 
do Canada e da Gtoelandia, e 2) as popula~oes doJico-hipsic_e-
falas~ ,que ressurgem aqui e ali en'tre os Noroestinos atuai!-'. Pre-
30 TH. POMPEU SOBRINHO 
sume-se com boas raz6es que, dali, grupos deste. ultimo tipo, por-
ventura com alguma mistura de sangue austral6ide, continuaram 
perlongando as costas do Pacific-0 para o sul e for am ter ao 
extremo meTidional do continente. 0 ramo oriental, continuou 
pelo litoral eui-opeu e alcan~ou o n1aF Baltico. Uma parte pro· 
duziu os habitantes hiperb6reos e outra, talvez refor~ada com 
sangue faiodermo de origem siberiana, f oi dar as popula~oes, 
cujo conjurito constitui os atuais povos Nordicos da Europa, de 
gente branca, loira, fortemente d6lico-hipsicrania e de alta esila-
tura. Assim, pois, em principio, da dis$ocia~ao etnica resultaram 
dois tipos dolic6ides; os que desenvolveram a conhecida cultura 
M aglemo~e, cujos vestigios se encontran1 no norte europeu da 
Esc6cia ate a Filandia com os seus ostreiros; e o que continuou 
com a ca~a marinha artica, hibitantes litoraneos, com a sua cul-
tnra a1tica. 
l gual fenon1eno processou-se na A1nerica . Originaram 
estes povos mesoliticos : 1) gente de ti po mais arcaico, d6lico-
hisipsicriinia e 2) gente de tipo mais moderno, meso-camecrania, 
Esta TERCEIRA CORRENTE de povoad-0res amer1canos 
teria, consequentemente, trazido das regioes cenh·ais e norte da 
.Asia os ancestrais dos Esqztim{Js e dos pre-no.roestidos que, pelo 
litoral, corrto1·naram 0 continente, deixando em varios lugares 
vestigios de sua estrutura 6ssea e da sua industria mesolitica 
cal'acteristica. Os primeiros nao interessam ao povoamento 
inicial do Brasil, mas, os segundos que, O.epois de darem a vol.ta 
a Patagonia austral, alcan~aram as costas do Atlantico e por 
elas vieram as praias do Brasil, inclusive as d-0 Ceara e de ou-
tros estados do No.rte, merecem especial considera~ao. 
Na Europa, somente depois que apareceram as popula~oes 
dolicocefalas no sul e no norte e que chegaram ao centro as po-
pulagoes hraquicefalas - Alp.inos e Dinaricos, portadqres da 
cultura nltidamente N eoltica. Cousa semelhante e· paralela ocor· 
reu na America; depois dos paleoliticos australoides, dolicoce-
falos, e do:s mesoliticos mesoce.falos, e que chegaram os neoliti .. 
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I 
P.Rt-msTORIA CEARENSE 31 
cos btaq·uicefalos, colJ;stituindo a nossa QUARTA CORRENTE 
de emigrantes· do Velho para o Novo-Mundo. 
Sa:be-se que a hraquicefalia naseeu com os povos premon-
go~oides ou amarelos na Asia Oriental. Dali, emigraram para o 
centro, para o leste (Asia Menor) e para o norte (Siberia) as 
primeiras levas que constituir am a remota origem dos braquiOi-
des da Europa. Dali tamhem sairan1 posteriotmente numerosos 
grupQs de p,aleomongo16id,es neoliticos .que s.e.encalninharam para 
o sueste do continente e foram gerar os- protomalaios daquelas 
regiao asiatica e da Indonesia. Calcula-se que as pr imeiras diSr 
pers.Oes destes mong6is nao sejam anteriores ao 8° milenio pre~ 
terito, talvez mesmo menos ; poderiam ser talvez situadasi entre 
aquele e o 6°. 
Na Indonesia, os paleo1nong6licos encontram velhas popu.-
lag5.e~. do tipo au~traloide~ operou-se uma discreta mestigagem, 
com larga preponderancia das qualidades somaticas dos inva-
sores que, nao somente impuseram a sua cultura, como dese11-
volve:ram consideravelmente certos elementos, que o meio insular 
e tropical parece haver estimulado. 
0 produto etnico resultante foi 0 protomalaio, gente extraor-
dinariamente dinamica ·_que adquit:iu en0rme capacidade expan-
sionism e conseguiu dar notavel incremento as suas velhas pra-
ticas agricolas. Tornaram-se tambem este& protonw:laios haheis 
navegantes, dispondo apenas das suas canoas mon6xilas, a que 
ajustaram balancins laterais, obtendo por este meio um apre-
ci_avel aumento do poder de IJavegabilidade e do raio de a~ao 
de barcos tao rudimentares. Co11seguiram CQtn tais recursos ocupa.r 
ou pelo menos levar a sua infltlencia a todo O· arquipelago ind,o-
nesiano, .a quase todas a s ilhas oceanicas, inclusive as da 'Mic1·0.-
nesia e a grandes exte_ns&es das Costas continen'.tais da Asia no 
Pacifico. Para o ocidente, atingiram a grande e longinqua ilha 
afric.ana de Madagascar; para o oriente foram a nao menos afas-
tada ilha da Pascoa, situada nao muitas milhas da costa chilena. 
0 _estudo do aspecto $Omatico deste povo, da sua cultura ti-
pica e das suas 1exraordinarias aventuras .expansionistas :na 
, 
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32 TH. POMPEU SOBBINHO 
amplidao do Pacifico conduz naturalmente a convic~ao de que 
teriam tambem atingido as costas amerieanas, barreira ·oriental 
daquele oceano, lan~ada de polo a polo. 
0 que nao permite duvida e que a QUARTA CORRENTE 
de e1nigrantes do Velho-Mundo para terras americanas, tein as 
suas raizes neste povo mesti90 do sudeste asiatico. O_ pro:Olema 
qu.e se discute e o do seu itinerariQ para chegar ao nosso conti-
nente: maritim.o ou teri:.es}re? 
Referindo-se ao que charna povo ' ~ malaio-polinesio, o sa 
- bio americanista Dr. Paul Rivet escreve: "Para um povo capaz 
de empreender a extraordinaria aventura de descobrir a maioria 
das ilhas do Pacifico, a de chegar a costa americana teria sido 
cousa relativamente facil. E, pensando hem, ate seria surpT~en· 
dente que nao 0 houvesse feito" f 0 parehtesco antropl6gico,, etno-
grafico e linguistion ~ntre amerindios e eeeanicos que €ste ilustre 
sabio frances sou.be tao hem demonstrar; e realn1ente impr-essio-
nante; dev&-st, porem, entende-lo de n1odo relativo e restrito, 
Importa atribui~lo especialmente, de um 1ado, a-0s elementos 
humanos que constituiram a QUARTA CORRENTE de povoado-
res american-0s e, de outro lado, aos seus descendentes no. ter-
rit6rio continental. O}:>serva judiciosame11te o professor Salvador 
C_anals: "E entre estes Proton1alaios qug ternos de a char OS· oom-
ponerrtes da corrente imigrat6ria que trouxe a America o bra-
quicefalisimo e as cnlturas do ti po medio ou neolitico ''. 
Para o Dr. Jose ImbeJloni, este povo ~onstih1ia a sua quarta 
corrente in1igrat6ria. Compoe-se de gente da Malasia, de haixa 
estatura e cultura neolitica, semelhante aos pre-indonesios. Teria 
chegado, coxno admite Rivet e Canals,, por via maritima. Os 
seus descendentes americanos sao os precursores dos Brasilidos.. 
Nesta questao parece impo11ante nao confundir OS proto!lla· 
laios de 4 a 5 milenios A . C. oom os atuais habitantesi da Poli-
nesia, OS quais, depois daquele tempo~ experimentaram a influ-
encia etnica e cultural de varios povos estranhos, nomeadamente 
de gente branca do Ira, ind ustanicos, semitas da India etc. 0 
esti~:do comparatjvo dos elcn:It'nlo~ etnico·cn:dturais americanos-· h~ 
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PB£-HIST0BIA CEARENSE 33 
de ser feito com as reiiquias, ainda apreciaveis, dos antigos 
malaios. lmporta procurat os reptesentantes desta velha gente 
em certas regioes interiores das grandes ilh~s ou. nos reconditos 
refugios de algumas zonas continentais, -0nde · outrora eles domi-
naram. Os mais genuinos representantes dos premalaios sao 
atualmente os T oradias das' Celebes, os Dayaks de B'ome, os 
Gavos e Bataks de Sum-atra, os lgarotos e lfugaos das Filipinas, 
o~ Nagas e PUaugs da fndia e poucos outros remanecentes em 
via de extin~ao. 
No litoral americano do Pacifico, observa Canals, zona que 
apresenta po.pula9io m~is largamente aparentada, .;tnica e cul-
turalmente, com os protomolaios, esta na regiao que se estande 
ao longo do istmo do Panama e costas da Colombia. Isto induz a 
suposi~o hem fundada de que naquelas costas teriam de p.re-
ferencia aportado os protomalaios inva.sores, em vagas sucessi-
vas. Choca-se a opiniao destes emeritos investigadores- com a 
oo competente americanista E. Nordenskiold, sempre di'sposto a 
duvidar de gualqqer imigra~ao vinda atraves do oceano Pacifico. 
Suas pondera~oes oferecem um impressionante fundamento, dei-
xando pelo menos algµma "'duvicfa quanto ao itinerario mari-
timo desta QUARTA CORRENTE. lsto nos leva a admitir uma 
hip6tese conciliat6ria que requer pondera~ao e e1?tudo. Embora 
tenham:os como possivel a circunstancia de tao habeis navegan-
tes haverem chegados as costas americanas por via~ m~~u·itima; 
permita-se tambem admitir que poderiam ter chegado perlon-
g_ando as costas asiaticas, a cad_eia das ilhas Aleutina:s e ate 
·mesmo largos trechos das costas continentais do Novo-Mundo ate 
·a America Central.. 0 mais serio ohstaculo aquela hip6tese esta 
na dificuldade de admitir a possihilidade da_ travessia do Paci-
fico em canoas, mesmo munida:s de balancins. Daniel Brii1ton nao 
julga provaveis as duas hip6teses, mas lhe parece aquela ainda 
menos digna de credit0-. Em geral os americanistas· estadudinen-
ses so concebem o caminho unico do estreito de Bering. Ora, 
Sabe-se que OS protoma/Jr.tios levararrt a sua influencia as Costas 
34 TH. POMPBU SOBRIN·BO 
chinesas, as ilhas japonesas, e destas paragens as costas-ameri-
ricanas o esfor~o de navegar seria hem pouco. Para gente tao 
dina1nica nao e licito du¥idar das suas exeursoes patam~ritimas 
ao longo daquelas costas, por etapas perfeitamente compativeis 
com as suas possihilidades nauticas. 
0 tipo fisico dos primeiros mongol6ides de origem ocea-
nica que contribuiratn par.a o povoamento da America era: estca,· 
tura relativamente baixa, braquicefalia mais ou menos acentua-
da ( indice eefalico superiol' a 63), camectania e mesorrinia 
_pronunciadas. 
Os trac;os mais caracteriticos da sua eultura nitidamente 
neolitica sao: constru~ao de mounds, monticulos de terra de for-
ma variada ;. agricultura cuidad:0sa, ceramica por vezes artis-
tica, sedentarismo com moradas de diversos tipos e tamanho, 
convindo salientar os palafitos ( taml>em existentes na cultura 
neolitica da Europa), fahrica~o de tecidos, tran9ados e red es 
para dormir; armas 1tipicas como a zarabatana; arco e -flecha 
hem trabalhados; a canoa monoxila. No setor social, -ilnporta 
referir o matriarcado ( predominio economico e domestico da 
mulher) e o· consequente avunculato, por isto que, nas culturas 
baseadas .no cultivo do solo, reservado especialmente a mulher, 
esta se· tornava responsiavel pelo ahastecimento .alimentar de 
origem vegetal. Deste jeit-o, o conjuge feminino assumia notavel 
importancia soe'ial nos neg6cios domestic0s e familiares. N-0 
quadro religioso domina o aniinismo e a magia, com as suas 
consequencias_, inclusive o pre$tigio do shama:ne (page dos tupis), 
as praticas funerarias e o canibalismo ritual. ~ 
Tendo alcan~ado as costas centrais e istmicas da America, 
os protomalaios nao arrefeceram o inicial dinamismo expansio~ 
nista; logo procuram internar-se pelo continente, 0 que lhe fora 
relativamente facil com o auxilio -das suas embarcaQoes ( canoas) 
adaptadas a nav~ga~ao fluvial.· Encontraram, ao contrario do que 
ocorrera na Oceania, o terriit6rio habitado. Viviam aqui povos