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CIRCULAÇA O FETAL 1. HEMATOPOIESE Nos seres humanos, a primeira evidencia da formação de sangue e vasos sanguíneos se dão no mesoderma do saco vitelínico durante a 17ª dia de gestação. Existem grupos celulares denominados de HEMANGIOBLASTOS e assim como toda célula terminada em “BLASTO” são progenitoras de células hematopoiéticas e células percursoras endoteliais. As células progenitoras hematopoiéticas vão originar os eritrócitos primitivos, enquanto as células endoteliais irão originar o endotélio vascular. Inicialmente os eritrócitos recém-formados colonizam o fígado em um processo chamado de PRIMEIRA COLONIZAÇÃO HEPÁTICA onde ocorre fornecimento de eritrócitos primitivos nucleados, contendo hemoglobina embrionária. Como os órgãos responsáveis pela produção de células sanguíneas ainda não formaram por volta da 17/18 dia de desenvolvimento, o saco vitelínico realiza a hematopoiese como um processo de adaptação temporária para as necessidades imediatas do embrião já que a distribuição de gases por difusão já não é mais eficiente devido ao tamanho do embrião. A partir da primeira colonização hepática ocorre a formação de agrupamentos arteriais principalmente na parede ventral da aorta dorsal (região aorta-gônada-mesonefro) que surgem por volta do 27º dia e desparecem ao 40º dia de desenvolvimento. Após a primeira colonização hepática e o saco vitelínico exercendo o papel fundamental na produção sanguínea e o surgimento das células hematopoiéticas intraembrionárias ocorre a SEGUNDA COLONIZAÇÃO HEPÁTICA a partir da migração dessas células para povoar o fígado. Na região hepática, as células-tronco hematopoiéticas são definidas assim como a produção de eritrócitos também é definida em células anucleadas que sintetizam hemoglobina fetal, células mielóides e linfoides. Ou seja, a eritropoiese ocorre em diferentes locais com o passar dos meses gestacionais, inicia-se no saco vitelínico, depois os eritrócitos são produzidos nas paredes da artéria aorta (AGM) e no fígado após sua colonização até os 6 meses de gestação. Passado os 6 meses, a medula óssea começa a ganhar destaque como principal local da eritropoiese sanguínea e assim permanece até o período pós-natal e durante toda a vida do individuo. O saco vitelínico, principal produtor de eritrócitos durante os 3 primeiros meses de gestação produz uma hemoglobina do tipo £ embrionária. Já o fígado, principal produtor de eritrócitos durante toda a gestação até o fim dela, permanecendo ainda em pequena parcela após o nascimento produz hemoglobina fetal do tipo ¥. E a medula óssea principal produtor durante a fase adulta do individuo produz o tipo de hemoglobina mais comum que é o tipo β presente nas hemácias de todos os seres vivos e nascidos. 2. VASCULARIZAÇÃO INTRAEMBRIONÁRIA O processo vascularização intraembrionária se da a partir do mesoderma esplâncnico intraembrionário no 18º dia de gestação. Ao contrario do mesoderma extraembrionário do saco vitelínico, a formação de vasos sanguíneos no mesoderma intraembrionário NÃO ESTÁ ASSOCIADA À HEMATOPOIESE. As células endoteliais formam estruturas vesiculares que se unem em longos tubos ou vasos, originando o sistema circulatório do embrião e esses vasos formados são modelados e expandidos por ANGIOGÊNESE, exceto na parede da aorta (AGM). As redes de vasos sanguíneos crescem por angiogênese, brotamento e ramificação de vasos já existentes. Angiogênese significa a formação de novos vasos sanguíneos: ANGIO = vasos + GENESE = origem, ou seja, angiogênese é origem de vasos sanguíneos. 3. SISTEMA VENOSO PRIMITIVO O sistema venoso primitivo é composto por uma pequena quantidade de veias perto das que o ser humano apresenta quando adulto. O embrião apresenta três sistemas venosos principais que executam diferentes funções: SISTEMA VITELINO – composto pelas veias vitelinas direita e esquerda responsáveis por drenar o TGI e os derivados do intestino. SISTEMA UMBILICAL – composto pelas veias umbilicais direita e esquerda que leva sangue oxigenado da placenta para o corpo. SISTEMA CARDINAL – composto pelas veias cardinais que drenam a cabeça, pescoço e a parede corporal do embrião. Os sistemas venosos são inicialmente simétricos bilateralmente e convergem para os cornos do seio venoso. O deslocamento do retorno sistêmico venoso para o átrio direito durante desenvolvimento causa uma remodelação nesse sistema de veias. A. SISTEMA VITELINO Inicialmente o sistema vitelino é composto por um par de veias direita e esquerda que apresentam localização e função especifica. A veia vitelina esquerda com o passar do tempo gestacional sofre involução, enquanto a veia vitelina direita originará os sinusoides hepáticos, a porção proximal da veia cava inferior, o ducto venoso, a veia porta e as veias que drenam o esôfago, intestino e estomago. O DUCTO VENOSO é responsável pelo desvio de sangue oxigenado vindo da veia umbilical para o coração, sem passar pelos capilares hepáticos, ou seja, o sangue passa pelo fígado, mas não adentra a microcirculação desse órgão. B. SISTEMA UMBILICAL O sistema umbilical é aquele sistema venoso composto principalmente pelas veias umbilicais direita e esquerda. A veia umbilical direita sofre involução, enquanto a veia umbilical esquerda passa a ser a única a transportar sangue oxigenado da placenta para o embrião. Essa veia umbilical esquerda perde a conexão com o corno do seio venoso esquerdo, a parte mais próxima do seio venoso degenera. Essa veia então forma uma nova anastomose com o ducto venoso e o sangue oxigenado da placenta chega ao coração pelo ducto venoso. A veia umbilical esquerda traz sangue oxigenado da placenta e, pelo ducto venoso (que foi formado por parte da veia vitelina direita) este sangue chega ao coração. C. SISTEMA CARDINAL O sistema cardinal é composto por duas veias cardinais, uma direita e outra esquerda que se ligam na parte superior e posterior do corpo. As veias cardinais posteriores (caudais) direita e esquerda + as veias cardinais anteriores direita e esquerda (craniais) se unem próximo ao coração, formando as veias cardinais comuns direita e esquerda que drenam o sangue para os cornos do seio venoso. As veias cardinais anteriores originalmente drenam o sangue para os cornos do seio venoso, atraves das veias cardinais comuns direita e esquerda. A veia cardinal anterioresquerda, em sua regiao proximal, perde sua conexao com o corno esquerdo do seio venoso e regride. Desta forma, todo o sangue que esta veia drena, vai para a veia cardinal anterior direita atraves de uma anastomostose representada pela veia braquiocefálica esquerda. As regioes craniais das veias cardinais anteriores direita e esquerda darão origem as veias jugulares interna e externa. A veia cardinal anterior direita irá formar a veia cava superior juntamente com a veia cardinal comum direita. As porções mais craniais das veias cardinais posteriores perdem sua conexão com o coração e se degeneram. As porções mais caudais formam a veia ilíaca comum e as veias ilíacas internas e externas. A porção caudal da veia cardinal posterior direita forma também a parte distal da veia cava inferior. Portanto a veia cava é formada por quatro porções embriologicamente distintas. D. SISTEMA SUBCARDINAL As veias subcardinais esquerda e direita brotam da base das cardinais posteriores e as veias subcardinais se conectam uma as outras por anastomoses. A veia subcardinal direita perde sua conexão com a veia cardinal posterior direita que está degenerando e desenvolve uma anastomose com parte da veia vitelina direita logo abaixo docoração, formando assim, parte da veia cava inferior (entre fígado e rins). A veia subcardinal esquerda regride em sua maior parte, o remanescente dessa veia cardinal juntamente com a veia subcardinal direita formam as veias renais, veias gonadais e veias suprarrenais. Um novo par de veias brotam a partir das veias cardinais posteriores denominadas de veias supracardinais. Na região abdominal a veia supracardinal direita forma o segmento da veia cava inferior abaixo dos rins. Na região torácica as veias supracardinais formam as veias intercostais e veias ázigos. 4. ARTÉRIAS DOS ARCOS FARÍNGEOS As artérias dos arcos faríngeos não estão todos presentes simultaneamente e surgem do saco aórtico e se conectam dorsalmente às aortas dorsais. As artérias dos arcos faríngeos estão presentes nos arcos faríngeos responsáveis por formar importantes estruturas de cabeça e pescoço. O primeiro par de artérias dos arcos faríngeos forma as artérias maxilares que drenam o sangue da orelha, dentes, músculos do olhos e face. O segundo par de artérias dos arcos faríngeos forma as artérias estapédicas. O ducto arterioso protege o pulmão de receber fluxo sanguíneo maior do que a sua vasculatura conseguiria aguentar durante o período intrauterino. O terceiro par de artérias dos arcos faríngeos formam as artérias carótidas comuns, externa e interna responsáveis pela irrigação da cabeça. O quarto par de artérias dos arcos faríngeos formam o arco aórtico e parte proximal da aorta descendente e a artéria subclávia direita. O sexto par de artérias dos arcos faríngeos formam o ducto arterioso responsável por desviar o sangue do tronco pulmonar para a aorta descendente e formar as artérias pulmonares direita e esquerda. O saco aórtico sofre remodelamento e origina a artéria braquiocefalica e parte do arco aórtico. 5. ARTÉRIAS VITELINAS As artérias vitelinas, ao entrar no corpo do embrião, sofrem anastomose com a superfície ventral da aorta dorsal e, posteriormente, perdem a conexão com o saco vitelino. As artérias vitelinas vão dar origem aos ramos craniais ao diafragma e vascularização do esôfago, além de formar a artéria celíaca, a artéria mesentérica superior e inferior que correspondem aos ramos caudais ao diafragma. 6. AORTAS DORSAIS As aortas dorsais direita e esquerda se fundem e originam uma única artéria dorsal que irá emitir inúmeros ramos. Ramos cervicais - artérias vertebrais Ramos torácicos - artérias intercostais Ramos lombares e sacrais - artérias lombares e sacrais. Estes ramos fazem a vascularização do tubo neural, epímeros, hipômeros e pele. Os brotamentos laterais da aorta descendente (aorta dorsal única) vascularizam as glândulas adrenais, gônadas e rins. Inúmeros ramos da artéria dorsal para vascularizar diferentes estruturas. 7. ARTÉRIAS UMBILICAIS As porções proximais das artérias umbilicais formam parte das artérias ilíacas internas e as artérias vesicais superiores responsáveis pela vascularização da bexiga. 8. CIRCULAÇÃO FETAL A circulação se inicia com a maior parte do sangue vindo da placenta pela veia umbilical é desviado da circulação hepática pelo DUCTO VENOSO e segue para o átrio direito. No átrio direito, a maior parte do sangue segue para o átrio esquerdo pelo FORAME OVAL. Uma quantidade pequena de sangue passa ao átrio direito para o ventrículo direito e segue para o pulmão devido à alta resistência vascular. A maior parte do sangue antes de chegar aos pulmões é devolvido para a aorta descendente pelo DUCTO ARTERIOSO, e segue para a circulação sistêmica. OBS: Ao nascimento ocorre a ausência da circulação placentária com a obstrução do ducto venoso e estabelecimento da circulação pulmonar.