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EMBRIOLOGIA DA PLACENTA, SISTEMA AMNIÓTICO E CORDÃO UMBILICAL Desenvolvimento da placenta Crescimento da placenta Maturação placentária Circulação de sangue fetal e materno na placenta Imunologia da interface materno-fetal Programação intrauterina de doenças crônicas e câncer na vida adulta PLACENTA -O desenvolvimento fetal depende da função placentária adequada -Funções: Favorecer trocas gasosas materno-fetais (aporte de oxigênio ao feto e eliminação de gás carbônico) -> o bebê não respira dentro da barriga, então esses gases são passados por meio da placenta Transporte de nutrientes ao feto e excreção de metabólitos Garantir a produção local de hormônios e enzimas (produz progesterona a partir da 14ª semana) – além disso, produz também hormônios reguladores Tolerância imunológica aos antígenos paternos Mecanismo de barreira e proteção -A placenta humana é do tipo hemocoriônica Sangue materno entra em contato direto com as células do trofoblasto que recobrem os vasos fetais O cório ovular fica em contato direto com o sangue materno -A forma da placenta é discoidal, diferenciando-se de outras (em outros animais: difusas, cotiledonárias e zonarias) -É também deciduada (cório penetra na intimidade da decídua, facilitando as trocas materno-ovulares) ->DESENVOLVIMENTO DA PLACENTA -O desenvolvimento começa logo após a fertilização -Depois de 4 dias, o zigoto já está em fase de mórula e encontra-se no interior da cavidade uterina -Após a ovulação, o endométrio desenvolve um padrão típico secretor sob a atuação da progesterona produzida pelo corpo lúteo -O auge do desenvolvimento do endométrio ocorre cerca de 1 semana depois da ovulação, concomitantemente com o momento em que se espera que ocorra a implantação do ovo. -Cinco dias após a concepção, a mórula começa a acumular líquido em seu interior e apresenta um concentrado celular em sua periferia, transformando-se em blastocisto -Nesse momento, o zigoto perde a “zona pelúcida” e, com isso, inicia a produção de componentes hormonais e inflamatórios que “preparam” a receptividade endometrial. -A penetração do embrião no endométrio vai acontecer em locais onde tem-se maior vascularização -> normalmente no fundo do útero -Esse embrião em formação, “toca” o endométrio (aposição) e inicia-se um processo de “rolagem” (adesão/hatching) – por meio de processos de quimiotaxia, hormonais, mediados por moléculas de adesão da membrana citoplasmática do blastocisto e do endométrio – até que ocorra a implantação definitiva (penetração). -Todo esse processo é mediado por moléculas de adesão tanto endometriais como do blastocisto, que respondem a um intrincado sistema de sinalização bioquímico e inflamatório. -Mais ou menos no 6° dia - A partir do momento em que o blastocisto toca no endométrio – acontecem reações em que o sinciciotrofoblasto vai se multiplicando e adentrando as células do endométrio. -Alguns dias depois, o embrião já está praticamente dentro do tecido endometrial (quase todo envolvido). -O siinciotrofoblasto começa a aumentar em direção ao vasos maternos presentes no endométrio. -O sinciciotrofoblasto começa a formar lacunas e posteriormente – quando encontra os vasos maternos – ele rompe a sua membrana fazendo com que esse sangue fique armazenado em suas lacunas. -Ao mesmo tempo o embrião está se desenvolvendo -10° dia o embrião já está dentro do endométrio -O sinciciotrofoblasto começa a produzir e ativar metaloproteinases, que são enzimas que invadem os vasos sanguíneos (dissolvem a membrana). -O mecanismo de invasão é controlado pela concentração tecidual de oxigênio e por fatores teciduais, angiogênicos e inflamatórios. Fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF), angiopoetinas, fator de crescimento de fibroblastos, interleucina 6 e 8, fator induzido por hipoxia-1-alfa, fator inibidor tecidual 1 e 2, fator de crescimento hepatocítico e fator transformador de crescimento beta-1. -Mecanismo complexo – ainda não se tem placenta (surge na 14ª semana) – mas essa invasão do sincício já é o início da placentação. -A corrosão das paredes dos capilares sinusoides maternos começa com a ação angioclástica, que favorece a formação de soluções de continuidade com os endotélios, de modo que o sangue materno ocupe as lacunas. -O sinciciotrofoblasto chega aos vasos de maior calibre e isso origina as primeiras relações uteroplacentárias -Entre o 12° e 14º dias após a concepção, delineia-se o final do estado lacunar do período pré-viloso. -No período viloso, começam a penetrar vilosidades com tecido do embrião no endométrio -Esse tecido embrionário começa a circundar a câmara intervilosa – que será o local onde será direcionado o sangue materno -Com isso, o tecido do embrião começa a ter contato direto com os nutrientes, o que não ocorria anteriormente. -A troca de nutrientes realmente começa quando as vilosidades já estão mais elaboradas. -Quando os vasos sanguíneos fetais estão conectados com os vasos das vilosidades coriônicas, a circulação fetoplacentária se completa (as vilosidades crescem e ali dentro começam a surgir capilares dos bebê – que se conecta com os vasos da mãe). -A camada exterior das vilosidades é formada pelo sincício e a camada interior, pelo citotrofoblasto, chamado também de células de Langhans. -Com o início do funcionamento do aparelho cardiovascular, por volta da 4ª semana, o sistema intraembrionário já estará conectado ao ao saco vitelínico e aos vi-los terciários (circulação funcionante entre o feto e a mãe). ->NUTRIÇÃO EMBRIONÁRIA -Na parte externa do sinciciotrofoblasto, neste momento, o sangue materno inicia a troca de gases, nutrientes e metabólitos com os capilares fetais dentro das vilosidades terciárias. -O embrião passa a receber nutrientes do sangue materno oriundos das artérias uteroplacentárias, finalizando o período de nutrição por difusão. -Assim, forma-se a barreira placentária: Camada contínua de sinciciotrofoblasto Camada de citotrofoblasto (completa inicialmente, mas que a partir do 2° trimestre se torna descontínua) Lâmina basal trofoblástica Tecido conjuntivo derivado do mesoderma extraembrionário Endotélio capilar fetal OBS. Para o contato do sangue materno com o fetal, tem todas essas camadas acima de proteção e de filtro. DECÍDUA -Decídua ou caduca referem-se ao endométrio transformado durante a gravidez pela placentação. -São identificadas (até 4° mês) três partes da decídua com base na sua localização anatômica: Decídua basal: corresponde à zona de implantação, muito vascularizada, que irá ser a porção materna da placenta. Decídua capsular: é a parte do endométrio que é “levantada” com o desenvolvimento do ovo, além de ser mal perfundida e sem vascularização, constitui o cório liso Decídua parietal ou vera: é o resto do endométrio que cobre toda a cavidade uterina, com exceção da região correspondente à implantação. ->DESENVOLVIMENTO DO CÓRIO -As vilosidades estão localizadas, no início, em torno de toda a superfície do blastocisto -Seu desenvolvimento ocorre somente nas porções mais vascularizadas destinadas a futura placenta -Partes mais vascularizadas e conectadas diretamente com o embrião desenvolvem-se formado o cório frondoso, também chamado de cório placentário -O suporte sanguíneo para o cório voltado para a cavidade endometrial restringe-se com o crescimento dos tecidos embrionários e extraembrionários e, assim, as vilosidades que estão em contato com a decídua capsular regridem, interrompem seu crescimento e degeneram, dando origem ao cório liso. -Dessa forma, o cório liso se torna contínuo à decídua materna - capsular(exceto aquela ocupada pela placenta) -> posteriormente essas estruturas vão se colabar e virar uma estrutura só -> fazem parte da bolsa -Essa parte do cório transforma-se na membrana fetal avascular que, colada ao âmnio, constituirá as membranas; por isso, essa parte também é chamada de cório membranoso. ->CONSTITUIÇÃO DOS TRONCOS VILOSOS -Situado na placa coriônica, cada vilo terciário primitivo se hipertrofia formando o tronco viloso de primeira ordem que, por sua vez, vai se dicotomizar (ramificar), originando troncos vilosos de segunda ordem, que também se dividem e dão origem aos troncos vilosos de terceira ordem. -Esses troncos vilosos vão entrar em contato com a placa basal (coroa de implantação) -A região dos troncos vilosos vão estar circundados de celularidade e banhada pelo sangue materno. -Cotilédone fetal é o nome atribuído ao conjunto de todos esses troncos vilosos dependentes entre si. ->INVASÃO TROFOBLÁSTICA DO ENDOMÉTRIO Cotilédone -Ao longo da gestação, o desenvolvimento dos vasos uteroplacentários é descrito em etapas ou ondas de invasão. Primeira fase – antes da 12ª semana após a fertilização -Invasão e modificação das artérias espiraladas da decídua, cuja borda chega ao miométrio. Segunda fase – entre a 12ª e 16ª semanas pós-fertilização -Invasão da porção intramiometrial (miométrio) das arteríolas, convertendo-as em arteríolas dilatadas, vasos de baixa resistência da circulação uteroplacentária. -Pré-eclampsia/ eclâmpsia -> está relacionada com a 2ª invasão trofoblástica errônea -> doenças que mais matam mães ->CRESCIMENTO DA PLACENTA -Geralmente, a placenta é redonda ou ovalada e possui duas faces: Materna: ligada à parede uterina (placa basal) Fetal: em contato com a cavidade amniótica (placa coriônica) -É importante ressaltar que entre as duas faces encontra-se a câmara intervilosa OBS. Dectação – saída da placenta ao nascimento -Há correlação entre o peso fetal e o da placenta, que cresce com o curso da gravidez, porém de forma que o ganho ponderal placentário não segue o ganho ponderal fetal. -A velocidade de crescimento da placenta ultrapassa a do crescimento fetal no primeiro trimestre, por volta da 17ª semana de gestação, a placenta tem peso equivalente ao peso do feto, no termo, o peso dela equivale a cerca de um sexto do peso fetal (300 a 600 g em placentas normais). -A placenta possui: 1 veia umbilical: que neste caso vai levar sangue oxigenado para o bebê 2 artérias umbilicais: que vão levar para a placenta o sangue rico em gás carbônico OBS. Levam e trazem sangue por meio da placenta Âmnio: que fica banhado pelo líquido amniótico Cório: onde fica os principais vasos ->PLACA CORIÔNICA -É a união do âmnio e do cório -O âmnio recobre a face fetal da placenta -Encontra-se sob essa membrana uma camada tecidual rica em células que se alonga unindo-se à geleia de Wharton do cordão umbilical -O cordão umbilical é inserido na superfície fetal da placenta, que pode ter localização central, excêntrica ou marginal -Observa-se distribuição radial simétrica ou radicular (assimétrica) dos vasos sanguíneos de acordo com o tipo de inserção do cordão. -Cordão umbilical é bem molenga – devido a presença dessa geleia de Wharton – isso é importante para a mobilidade do cordão e do feto. -Em cada tronco viloso, há uma artéria e uma veia -Geralmente, a artéria emite uma artéria colateral que se fraciona em dois ramos, que se dividem formando um plexo vascular localizado logo abaixo do revestimento sincicial do tronco, entrando em contato com a veia do tronco viloso por numerosas vênulas curtas. -Cada cotilédone é uma unidade vascular fetal independente do ponto de vista mecânica circulatória. -No termo, cerca de duzentos cotilédones de diferentes tamanhos compõem a placenta -Não há anastomoses vasculares com vilosidades adjacentes -Banhando as vilosidades, a câmara intervilosa é o espaço interposto entre as duas placas placentárias e onde circula o sangue materno. ->PLACA BASAL -Os elementos trofoblásticos da placa basal somem quase inteiramente e a camada de substância fibrinoide derivada da junção dos elementos de origem fetal e células da descídua (camada de Nitabuch) passa a formar, em vários locais, a parede basal da câmara intervilosa. -Com o desenvolvimento da placenta, ela aumenta de tamanho e exerce uma pressão nessa placa basal -> fazendo com que ela fique mais delgada -> isso possibilita maiores trocas de sangue ->MATURAÇÃO PLACENTÁRIA -Vilos terminais ficam menores e mais numerosos -Volumes do citotrofoblasto diminui -Vasos fetais próximos à superfície da vilosidade tornam-se salientes -Aumento da infiltração pelas células de Hofbauer Diminuição da espessura do sincício, redução da camada do citotrofoblasto, diminuição do estroma, aumento do número de capilares fetais e aproximação desses capilares em relação à superfície vilosa acompanham o crescimento e a maturação placentária, relacionando-se com uma maior eficiência no transporte e nas trocas materno-fetais. -Podem ocorrer: o espessamento da lâmina basal a obliteração de certos vasos fetais depósito de fibrina na superfície das vilosidades ou no espaço interviloso, com o passar da gestação, principalmente se esta estiver associada a algumas doenças, atrapalhando o transporte e a função placentária (mulheres com lúpus, hipertensão crônica, diabetes) -> tendem a ter uma placenta menos permeável – menos saudável OBS. Deficiências na maturação da placenta, pode levar ao sofrimento fetal, em que esse bebê não recebe nutrientes necessários e não cresce. ->BARREIRA PLACENTÁRIA -Não assegura integridade total do afastamento que ocorre entre a circulação materna e a fetal -Células fetais são encontradas no sangue materno em condições normais e atualmente são utilizadas em testes diagnóstico fetal com sangue materno periférico. -Leucócitos maternos e plaquetas também cruzam essa barreira, passando para a circulação do feto. -Consequências clínicas e as perspectivas diagnósticas da existência de células fetais na corrente sanguínea materna podem estar relacionadas ao desenvolvimento de doenças autoimunes. ->TRANSPORTE PLACENTÁRIO -O transporte de substâncias por meio da placenta ocorre por mecanismos diferentes: difusão simples ou facilitada transporte ativo (transferência/ degradação enzimática) processos especiais (pinocitose ou solução de continuidade nas vilosidades) -A barreira placentária é vista como uma impossibilidade à troca através da placenta, cuja permeabilidade é maior até a 36ª semana de gestação, diminuindo em seguida até o parto. ->SISTEMA AMNIÓTICO Benefícios do líquido amniótico: Favorecer a movimentação fetal Proteger o feto contra traumatismos Evitar que o cordão umbilical fique vulnerável a eventos compressivos Manter a temperatura dentro da cavidade amniótica Propriedades antibacterianas Possibilitar o desenvolvimento normal dos sistemas respiratório, digestório, urinário e musculoesquelético fetal Obs. O bebê deglute o líquido amniótico, o digere e o elimina através da urina -Diminuição do líquido ou aumento do líquido pode levar a complicações -O líquido amniótico é muito importante/ essencial para o desenvolvimento respiratório ->PRODUÇÃO DO LÍQUIDO AMNIÓTICO -Primeiras semanas de gravidez: Passagem passiva de líquidos por meio da membrana amniótica, de acordo com o gradiente osmótico. Formado basicamente por um ultrafiltrado do plasma materno -Segunda parte da gestação: Diversos fatores controlam e regulam as vias de entrada e saída de fluidos na cavidade amniótica IMUNOLOGIA -As características do trofoblasto contribuem para manter essas células em ambiente imunologicamentedesfavorável, devido sua composição genética, principalmente em relação à expressão dos antígenos do sistema HLA. -A placenta é classificada como um órgão imunologicamente inerte – visto que não origina resposta imunológica -Estudos indicam que linfócitos uterinos e expressão de genes peculiares do sistema HLA de classe I, atuam favorecendo e limitando o processo de invasão. -As células NK são as mais encontradas na decídua – elas se comportam de maneira diferente das encontradas no sangue. -O trofoblasto produz quimioquinas específicas que atraem as células NK -Elas são ativadas de formas diferente pelo trofoblasto e dessa forma estimulam a invasão trofoblástica com a produção de VEGF e fator de crescimento placentário ou inibi-la com a produção de interleucina-8 e proteína 10 induzida por interferona -O controle da invasibidade do trofoblasto é essencial à gestação e correlaciona-se a doenças na sua sua falta (pré-eclâmpsia, restrição do crescimento fetal) ou em seu excesso (acretismo placentário). REFERÊNCIA Zugaib, M. Obstetrícia / organização Marcelo Zugaib, Rossana Pulcineli Vieira Francisco. - 4. ed. - Barueri [SP] : Manole, 2020.
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