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Bruna Oliveira de Paula – Medicina UFMT – CUS 2021 1 Descrita pela primeira vez pelo Stein e Leventhal. É considerada uma disfunção hormonal que cursa com anovulação crônica. É a patologia gineco-endócrina mais comum de todas, sendo também a principal causa de hirsutismo, hiperandrogenismo, anovulação crônica e infertilidade em mulheres. O ciclo é dividido em 2 fases, a proliferativa (primeira) e secretora (segunda). Temos o folículo dominante, o qual tem a tendência à ovular e as células ao redor, que serão chamadas de corpo lúteo. O FSH começa alto para recrutar folículos para o ciclo, os quais começam a crescer e produzir estradiol. A medida que aumentamos a quantidade de estradiol, o endométrio se prolifera cada vez mais. O estradiol tem um feedback negativo com o FSH. Ou seja, quanto mais estradiol, menos FSH. No final da fase proliferativa temos um pico de estradiol, o que causa um pico de LH, pois a relação entre os dois hormônios é de feedback positivo. Quanto mais estradiol, mais LH. Se fazemos um pico de estradiol no final da fase proliferativa, logo depois teremos um pico de LH, o qual provoca a ovulação. Após a ovulação as células formam o corpo lúteo, este continua produzindo estradiol e progesterona. Esse último hormônio começa a subir nessa fase secretora. Quando o corpo lúteo fica velho, deixa de produzir estrogênio e progesterona, sofrendo o processo de luteólise. Quando diminuímos a quantidade de estrogênio, aumentamos a quantidade de FSH. Lembrar: pra ovular temos que ter pico de LH, para ter pico de LH temos que ter pico de estradiol, para ter pico de estradiol o ciclo tem que começar com FSH alto. Vamos agora para a parte de esteroidogênese: formação dos esteroides femininos Os folículos são constituídos por: • Camada externa: TECA ➔ receptores pro LH que converte o colesterol da dieta em ANDROSTENEDIONA E TESTOSTERONA (androgênios) • Camada interna: GRANULOSA ➔ tem receptores pro FSH. Os androgênios passam por difusão da TECA para a GRANULOSA. O FSH converte uma enzima chamada de AROMATASE, a qual converte os androgênios em estradiol. Para formar o hormônio feminino, temos que ter produzido o hormônio masculino. Lembrando Bruna Oliveira de Paula – Medicina UFMT – CUS 2021 2 que o excesso de hormônio masculino vai para a periferia, principalmente para o tecido adiposo, formar a estrona (estrogênio periférico). Obesidade: ↑ tecido adiposo. Conversão de mais androgênio em estrona. Se essa paciente tem mais aromatização periférica, por ser obesa, ela tem mais estrona. Esses níveis altos de estrona diminuem a quantidade de FSH!!! A hipófise, que deveria começar o ciclo com o FSH alto, já não vai mais conseguir, pois tem muita estrona e pouco FSH (feedback negativo). Além disso, quanto mais estrogênio, mais LH, ou seja, a paciente obesa tem mais LH. ? Bom, nas células da TECA, com receptores de LH, teremos uma maior produção de androgênios (hormônios masculinos), por ter mais LH. Além disso, na granulosa, como temos uma baixa concentração de FSH (devido ao aumento do estrogênio no corpo), teremos uma redução da enzima aromatase (não tem FSH pra produzi-la), portanto, pouco androgênio será convertido em estradiol, resultando em excesso do mesmo. O acumulo de androgênio é o gatilho para o surgimento da SOP. ? Bom, ela vai começar o ciclo com o FSH baixo e o LH alto. Concluindo: não teremos recrutamento de folículos para iniciar a produção de estradiol, desse modo não teremos pico de estradiol e posteriormente pico de LH. Com isso ela não ovula, não tem fase secretora e não produz progesterona. Mesmo que em dose baixa, o FSH consegue recrutar uma quantidade mínima de folículos. Esses, como não tem o mecanismo de dominância folicular, começam a se acumular na periferia do ovário, em fila indiana. A concentração de estrogênio se mantém alta, porem as custas de estrona e não de estradiol. Mesmo com a concentração de LH alta durante o ciclo, a mulher não ovula, pois, para isso ocorrer deve-se ter um PICO de LH e não ter sua concentração constante. OBS: o nome síndrome dos ovários policísticos vem da primeira observação desses ovários. Os folículos que se acumularam na periferia pareciam cistos, MAS NÃO SÃO CISTOS. Por isso que alguns autores querem mudar o nome para síndrome da anovulação hiperandrogenica. ? Como a paciente não ovula, ela nunca entra na fase secretora, ou seja, permanece em fase proliferativa pra sempre. Dessa forma, ele começa a proliferar, proliferar, proliferar (...) de forma que ele pode se encontrar em hiperplasia e no futuro evoluir para CA de endométrio. Além de tudo isso que foi citado, acontece mais algumas coisas. A própria obesidade aumenta a resistência à insulina, o que faz com que as pacientes fiquem hiperinsulinêmicas (o pâncreas aumenta a produção de insulina). Esse excesso de insulina é capaz de agir com o LH na teca e aumentar a produção de androgênios. A ação da insulina é sinérgica com o LH das células da TECA. SHBG → proteína produzida pelo fígado que é carreadora dos esteroides sexuais. Ela se liga aos esteroides sexuais masculinos e deixa os mesmos inativos. A paciente que tem SOP, produz menos SHBG, causando dessa forma, uma liberação maior de testosterona livre, sem estar ligada a enzima. Bruna Oliveira de Paula – Medicina UFMT – CUS 2021 3 Tudo culmina para que a paciente tenha mais e mais androgênios, que tenha HIRSURTISMO. ? A etiologia é desconhecida, porém tem origem genética, multifatorial e poligênica. A base da fisiopatologia é o hiperandrogenismo. Obesidade • ↑ aromatização periférica • ↑ estrona o ↓FSH o ↑ LH • Resistência à insulina Fisiopatologia SOP (medcurso) Compartimento hipotálamo-hipófise: ↑LH, ↓ FSH. Por conta do aumento do LH, ocorre aumento do estroma ovariano e das células da teca, com produção ↑ testosterona e androstenediona, que também são convertidos em estrogênio pela ação da aromatase, ou seja, ocorre também um hiperestrogenismo, com consequente supressão de FSH. Compartimento ovariano: principal na fisiopatologia da SOP. A↓ de FSH, ↓ recrutamento de folículos. Os mesmos, crescem deficientemente, se acumulando abaixo da albugínea, conferindo ao ovário o aspecto polimicrocistico. Com ↑ LH, ↑ androgênios, os quais não sofrem aromatização pela falta de FSH, promovendo ações intra e extraovarianas. No ovário: espessamento da albugínea e aceleração da atresia folicular. Nível sistêmico: manifestações de hiperandrogenismo. Compartimento adrenal: SDHEA aumentado Compartimento periférico: pele e tecido adiposo. Os androgênios nos tecidos periféricos são transformados em estrona. Os androgênios em excesso tendem a alfa-redução, com formação de di-hidrotestosterona (androgênio mais potente) que não é mais Bruna Oliveira de Paula – Medicina UFMT – CUS 2021 4 aromatizado em estrogênios. Esses inibem a aromatase ovariana e a produção de estradiol. Papel da obesidade na fisiopatologia 1. ↑ da aromatização periférica de androgênios em estrogênios 2. Inibição da síntese de SHBG hepática 3. ↑ níveis de insulina que atua de forma sinérgica ao LH. Papel da resistência a insulina e hiperinsulinismo na fisiopatologia O aumento da insulina no sangue causa ↑ testosterona livre, causando: • Acantose nigricans • ↑ reatividade do endotélio • ↓ quantidade de SHBG Ação da insulina na esteroidogênese ovariana Os receptores de insulina e do IGF-1 estão presentes nas células estromais ovarianas. A insulina inibe a ação hepática da SHBG e da IGFBP-1, com consequente ↑ de androgênios e estrogênios. Os fatores de crescimento semelhantes a insulina (IGF) vão atuarnas células ovarianas, causando meio produção de androgênios, dificultando o crescimento folicular, resultando em anovulação. ? Adrenarca exacerbada (teoria) • ↑ androgênios adrenais na puberdade • ↑ aromatização periférica • ↑ estrona o ↓ FSH o ↑ LH Alguns estudiosos dizem que o inicio da síndrome é causado por uma resistência à insulina (defeito metabólico), o que acaba levando a um aumento dos androgênios. Outros acham que a causa é uma hepatopatia, na qual o fígado produz menos SHBG, o que inicia a síndrome. Até hoje, ninguém sabe qual a causa exata da SOP. Curiosidade: SOP na idade antiga era visto como sinal de bruxaria. Irregularidade menstrual ➔ amenorreia, oligomenorreia ou sangramento uterino disfuncional. Não ocorre produção de progesterona por conta do estado de anovulação crônica. Já o sangramento uterino disfuncional ocorre devido ao hiperestrogenismo que causa proliferação excessiva do endométrio, pode ser causa de carcinoma. Hiperandrogenismo ➔ Hirsutismo, acne vulgar, seborreia e alopecia androgênica. Sinais Bruna Oliveira de Paula – Medicina UFMT – CUS 2021 5 de masculinização como timbre de voz aumentado, clitoromegalia ou hipertrofia muscular também são características do quadro de virilização, sendo grave essa alteração. Escala de Ferriman - Gallway Criada para padronizar a quantidade de pelos nas mulheres. Ajuda a determinar o padrão normal ou não. Pontuamos de 1 a 4 as regiões do corpo dela, somando o resultado final. O normal é até 8. Se tivermos um valor acima de 8 ela é considerada hirsuta. Alopecia frontal: tipicamente masculina. Mais rara. Afinamento difuso da coroa com preservação do contorno frontal do couro cabeludo. Acne vulgar e seborreia: bloqueio da abertura folicular por hiperceratose, produção excessiva de sebo e inflamação. Obesidade: IMC > 30, tipicamente central. Acantose nigricans: devido a resistência a insulina. Sendo o local mais frequente a vulva. Bruna Oliveira de Paula – Medicina UFMT – CUS 2021 6 Intolerância a glicose, dislipidemia e DM2: SOP tem maior risco de desenvolver essas afecções. Além de HAS e síndrome metabólica. Infertilidade: queixa mais frequente dessas pacientes!!ocorre devido a anovulação. Abortamento precoce e complicações na gestação: comuns na SOP. Apneia obstrutiva do sono: também relatada como associação à SOP. Além de distúrbios psicológicos, como baixa autoestima e outros. Segundo o consenso internacional de SOP, padronizamos o diagnóstico em 2 dos 3 critérios de ROTERDAN: • Menstruações infrequentes / amenorreia • Hiperandrogenismo (clinico OU laboratorial) • US TV com ovários de aspecto polimicrocistico (12 ou mais folículos medindo 2 ou 9 mm de diâmetro). Basta 1 único ovário com critério. • Hiperplasia adrenal congênita ➔ o hirsutismo é tão significativo que chega a aumentar o tamanho do clitóris. Virilização da genitália. Isso é o que diferencia da SOP • Síndrome de Cushing • Tumor de córtex suprarrenal A paciente que tem SOP, tem uma doença metabólica, com risco maior de síndrome metabólica. Por isso devemos avaliar sempre: • Pressão arterial • Circunferência abdominal e IMC (sobrepeso? Obesidade?) • Glicemia de jejum • Presença de sinais de hiperinsulinemia: acantose nigricans? • Hiperandrogenismo: acne? Hirsutismo? • Perfil lipídico • TSH: tireoidopatias causam disfunção menstrual semelhante a observada em mulheres com SOP. • Prolactina: hiperprolactinemia é uma das principais causas de irregularidade menstrual e amenorreia. Bruna Oliveira de Paula – Medicina UFMT – CUS 2021 7 • Testosterona livre e total • Dosagem de SDHEA: níveis acima de 700, sugerem presença de neoplasias de suprarrenais. Indicação de RM ou TC. • Dosagem de 17-hidroxiprogesterona: para excluir hiperplasia suprarrenal congênita (HSRC). • Excreção de cortisol livre na urina de 24h ou cortisol plasmático: síndrome de Cushing. • Dosagem de gonadotrofinas: pouca valia para o diagnóstico de SOP, usado para afastar falência ovariana precoce ou amenorreia hipotalâmica. • Dosagem de progesterona na fase lútea • Avaliação da resistência a insulina e hiperinsulinemia compensatória. • Avaliação da dislipidemia com lipidograma. Bruna Oliveira de Paula – Medicina UFMT – CUS 2021 8 Exames de imagem: USG-TV Histopatológico do endométrio: histeroscopia ou biópsia endometrial. Os principais objetivos são: controle da irregularidade menstrual, tratamento do hirsutismo, desejo de gestação e manejo da resistência insulínica. • Dieta e exercícios físicos (perda de 5 a 7% de peso). Isso ajuda na diminuição da insulina e consequentemente ↑ SHBG. • Progesterona (14° dia) → acetato de medroxiprogesterona. Mimetizamos a fase secretora do ciclo menstrual. • ACO → forma mais fácil de se resolver. Reestabelecemos o padrão menstrual e garantimos a anticoncepção. Lembrar de darmos um progestogenio com efeito anti-androgenico. Os mais utilizados são: norentidrona, ciproterona e drospirenona. ? • Espironolactona ➔ diurético que usamos para tratamento de hipertensão. Acaba tendo um efeito anti-androgenico importante, aumentando o catabolismo dos androgênios. Podemos fazer 1cp por dia. • Finasterida ➔ diminui a quantidade de pelos do corpo. Nessa parte entra a contradição: a finasterida não é usada pra tratamento de calvície? Sim! A calvície é consequência de um aumento de testosterona no organismo, como a finasterida diminui a quantidade de hormônio masculino ela permite a reposição dos cabelos. Porem, com os pelos é o contrário. • Tratamento cosmético: depilação e epilação. Bruna Oliveira de Paula – Medicina UFMT – CUS 2021 9 , ? • Metformina → excelente tratamento pro perfil metabólico da paciente que tem ovário policístico. Porem só entramos com esse medicamento naquelas que tem resistência a insulina. Como avaliamos? Acantose nigricans, circunferência abdominal ↑ 88cm, glicemia alterada, etc. Mas Bruna, e se começarmos a metformina e a paciente evoluir com hipoglicemia? Bom, não podemos cair nessa pegadinha, a metformina é uma biguanida e as mesmas não causam hipoglicemia. NÃO TENHA MEDO DE USAR. Dose: 500mg, 1x por dia por 7 dias. Na segunda semana aumentamos pra 1000mg, 1x ao dia, na terceira semana passamos para 1500mg, 1x por dia (dose plena) Metformina pode dar muito efeito colateral, por isso vamos subindo a dose aos poucos. Citrato de clomifeno ➔ indutor da ovulação para pacientes que quiserem engravidar. Consequências clinicas • DM2 • HAS • Dislipidemia • Síndrome metabólica • Hiperplasia e CA de endométrio • CA de mama Gonadotrofinas ➔ indicada para pacientes que não respondem ao citrato de clomifeno. Tratamento cirúrgico: • Ressecção em cunha do ovário bilateral • Eletrocauterização laparoscópica.
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