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Grupo B: Ana Luz, Aline Oliveira, Gabriela Moysés, Karina Guimarães, Luísa Amorim, Monique Botelho, Natália Campos, Vinicius Faria. O artigo “Adam Smith e o surgimento do discurso econômico” de Hugo Cerqueira (2004) busca mostrar como o trabalho de Adam Smith foi importante na delimitação dos estudos sobre economia e sua forte ligação com a filosofia moral. Na primeira parte Cerqueira explana o plano divino e a filosofia moral em Smith relacionando os principais aspectos de seus principais trabalhos – Teoria dos sentimentos morais e A riqueza das nações. Na segunda parte o autor explica a importância do trabalho e das trocas no trabalho de Adam Smith e como o mesmo se tornou um divisor de águas na história do pensamento econômico. Por fim ele reflete como os aspectos da ética e economia de Smith foram se transformando com o passar do tempo e a influência de outros autores nessas mudanças. O ponto de partida do artigo baseia-se nos trabalhos de vários antropólogos e historiadores, em especial, Karl Polanyi (1980; 1976), Moses Finley (1986), Marshall Sahlins (1972) e Louis Dumont (1977). Sua ideia principal é a análise do conceito de trabalho e troca correlacionado com o conjunto de valores morais e éticos (princípios) de uma população, através do desenvolvimento da esfera econômica e sua influência no comportamento de uma sociedade, com o passar do tempo. A princípio, Cerqueira aborda um anacronismo que é previsto na atribuição do termo “economia’’, aos mercantilistas e escolásticos dos séculos XVI-XVII. Visto que até o século XVIII houve uma ausência desse termo, por outra forma, de um discurso econômico, ele aponta em Louis Dumont a proposição de um esquema que busca emancipar a economia, formado por duas operações. A primeira operação busca um discurso coerente e racional distinto de qualquer meio político, através da extração dos princípios desse mesmo objeto (economia). A segunda operação busca demonstrar que o seu funcionamento espontâneo sem regulação externa, geraria apenas um bem para os seus usuários. Desse modo, Dumont exemplificou o conceito de economia sem misturar os conceitos éticos e filosóficos, permitindo uma visão mais clara e objetiva do termo. Porém, com um equívoco na interpretação da obra de Smith, Dumont não percebeu que a emancipação da economia estava presente também na obra desse. A obra de Smith tinha como objetivo analisar os princípios que coordenam e promovem a união da vida em sociedade, para então entender o homem diante do sistema econômico e do sistema de trocas. A partir desse objetivo, assim como Newton - ao qual tinha uma admiração não velada-, Smith formulou um projeto que buscou expor uma cadeia invisível de princípios e causas/consequências que ligavam as ações de uma população e coordenava o conjunto dessas levando-as a uma harmonia global. Dessa forma, entendendo essa cadeia o estudo sobre a economia estaria facilitado visto que é inegável desconsiderar a influências do comportamento individual e em grupo. Em sua obra “Teoria dos sentimentos morais'', Smith frisa que os sentimentos do homem não são necessariamente bons ou maus, mas que as ações cometidas a partir ou em nome desses são as determinantes do resultado final. Assim como propôs Newton em seu “Domínio da filosofia da natureza’’, Smith parte do pressuposto de que para que essas ações sejam consideradas moralmente corretas, elas precisam estar de acordo com o divino, visto que esse é o que define o equilíbrio entre os diferentes sentimentos, promovendo reações justas prudentes e benevolentes e excluindo a ideia de egoísmo pelo agir individual - natural do homem. Para que haja esse equilíbrio, somos levados a moderar os nossos sentimentos para que não haja um desentendimento entre diferentes indivíduos. Isso requer um autodomínio, o controle entre o querer individual e o querer social, e esse autodomínio é o agente necessário para que seja possível o sentido de justiça. Esse, pode ser exemplificado através da comparação entre um espectador real e um espectador imparcial, sendo o último as virtudes morais mínimas para que seja possível o convívio em sociedade (reflexão das próprias ações vistas de outro ângulo). É com base nisso que a intervenção do Estado justifica-se quanto à punição dos infratores para com a concepção de justiça, a qual sem ela a sociedade não pode existir. Neste ponto, o autor mostra a relação entre a Riqueza das Nações e a Teoria dos sentimentos morais como uma relação de continuidade, visto que as ações econômicas permitem chegar e proporcionar o bem estar deixando-se levar apenas pelo amor próprio, sem necessitar-se da caridade do outro, desde que esteja assegurado a justiça. Assim, o Estado não precisará intervir e nem direcionar a população para um caminho de benevolência, sendo ela, a própria população, responsável pelas consequências involuntárias que geram o bem comum e seguem o plano divino. Tudo isso descreve o chamado mecanismo econômico e esse traz o conceito de trabalho com um papel crucial. Cerqueira destaca que para Smith, a riqueza não provém do comércio exterior e muito menos abrange apenas o significado de acumulação de bens materiais. A fonte da riqueza é o fruto do trabalho de uma nação, dividido por todos os seus indivíduos independente de sua posição e função. Sua reflexão é de que o crescimento da riqueza é resultado da divisão do trabalho - derivada da propensão humana à troca. Este pensamento sobre a inseparabilidade de trabalho e troca como princípios para explicar diversos fenômenos econômicos fez notar-se que os méritos de Adam Smith estavam não nos princípios empregados por ele e sim em seus raciocínios para sustentar tais princípios. Prevaleceu-se em tais pensamentos uma ordem harmoniosa entre todos, visto que por mais individualista que seja a divisão de um trabalho, é necessário a colaboração de muitos outros para que o seu objetivo final seja atingido. Isso acaba por atender aos desejos dos outros envolvidos, ignorando as discrepâncias e antagonismos que poderiam causar uma quebra dessa ordem que geraria falências, desempregos, disputas e até mesmo o uso de chantagens e subsídios ilegais para garantir a sua finalidade. A propensão à troca garante não apenas a funcionalidade do comércio e apropriação de bens e serviços necessários, mas confere a liberdade e uso de qualidade e habilidade individuais na produção de bens materiais e/ou oferta de produtos e serviços. Isso proporciona a variedade e qualidade, beneficiando não apenas aqueles que não possuem tais características para produzi-las, mas aqueles que podem dispor de talento para oferecer uma troca em função do desejo de ambos. Porém, nem sempre há a possibilidade dessa divisão do trabalho ser de modo a valorizar as qualidades do indivíduo, tornando assim do trabalho uma atividade automática, vazia e extremamente simples. Por não ser atrativo e não oferecer oportunidades de crescimento e desenvolvimento, o indivíduo acaba por perder-se de suas virtudes intelectuais,sociais e marciais. Smith afirma que os riscos que decorrem desse processo degenerativo não superam os benefícios, contudo para se preservar a sociedade comercial o indivíduo deve executar seu juízo moral aderindo às virtudes da prudência e da justiça. Pode-se perceber até este ponto que a filosofia moral ainda é muito presente no pensamento econômico de Adam Smith, porém foi obscurecida em sua mais conhecida obra - Riqueza das nações - pelos economistas do século XIX reduzindo suas lições como uma mera defesa do livre comércio. Vale ressaltar que autores como Ricardo e Malthus, a partir da leitura dos dois livros iniciais da Riqueza das nações e na exposição do “sistema de liberdade natural”, consolidaram a imagem de Smith como criador da economia política. Em suma, a afirmação de Amartya Sen (1999), citado por Cerqueira na conclusão de seu artigo, é objetiva ao apontar o empobrecimento da teoria econômica ao ignorar a variedade das considerações morais resumindo as motivações apenas por interesses pessoais. Por sua contribuição a origem da economia vale a pena discutir este lado - ignorado - de Smith, pois seu trato ao tema foi verdadeiramente esclarecedor e útil.
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