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1 Stephane D’arc – Proliferação Celular Células-tronco e renovação tecidual Células-tronco e renovação de tecidos epiteliais Entre todos os tecidos autorrenováveis em um mamífero, o campeão – ao menos em velocidade – é o revestimento do intestino delgado: a longa e contorcida porção do tubo digestório que é o principal responsável pela absorção de nutrientes a partir do lúmen do intestino. Para introduzir as células-tronco, escolhemos o intestino delgado como nosso ponto de partida – não somente porque ele se renova a uma velocidade maior do que qualquer outro tecido no corpo, mas também porque os mecanismos moleculares que controlam sua organização são particularmente bem entendidos. Ele, portanto, oferece uma bela ilustração dos princípios dos sistemas de células-tronco que têm ampla aplicabilidade. O revestimento do intestino delgado é renovado continuamente por meio de proliferação celular nas criptas. O revestimento do intestino delgado (e da maioria das outras regiões do tubo digestório) é um epitélio de camada única, com apenas uma célula de espessura. Esse epitélio recobre as superfícies das vilosidades que se projetam em direção ao lúmen e reveste as criptas que descem em direção ao tecido conectivo subjacente. Células em divisão estão restritas às criptas, e células diferenciadas, que não se dividem, difundem- -se das criptas em um fluxo constante para as vilosidades. Há quatro tipos principais de células diferenciadas que não se dividem – uma absortiva e três secretoras. 1. As células absortivas (também chamadas de células com borda em escova ou enterócitos). Função: absorver nutrientes a partir do lúmen. 2. As células caliciformes secretam no lúmen intestinal o muco que cobre o epitélio com uma camada protetora. 3. As células de Paneth fazem parte do sistema imune inato de defesa e secretam proteínas que matam bactérias. 4. As células enteroendócrinas, secretam serotonina e hormônios peptídicos, que atuam sobre neurônios e outros tipos de células na parede do intestino e regulam o crescimento, a proliferação e as atividades digestivas de células do intestino e de outros tecidos. Na imagem acima temos a renovação do revestimento do intestino. (A) Temos o padrão de renovação e proliferação celular no epitélio que forma o revestimento do intestino delgado. As células-tronco ( em vermelho) se encontram na base da cripta, intercalada entre as células de Paneth. A progênie das células-tronco migra principalmente para cima, a partir da cripta para as vilosidades; depois de algumas divisões rápidas, elas deixam de se dividir e se diferenciam – algumas delas enquanto ainda estão na cripta, a maioria delas à medida que emergem da cripta. As células de Paneth, como as outras células diferenciadas que não se dividem, são substituídas continuamente por uma progênie de células-tronco, mas elas migram para baixo em direção à base da cripta e sobrevivem lá por várias semanas. As duas células-filhas de uma célula-tronco enfrentam uma escolha 1. Uma célula-tronco por si mesma não está diferenciada terminalmente: isto é, ela não está no final de uma via de diferenciação. 2 Stephane D’arc – Proliferação Celular 2. Ela pode se dividir sem limite (ou ao menos durante o tempo de vida de um animal). 3. Quando se divide, cada célula-filha tem uma alternativa: ela pode permanecer como uma célula- tronco ou pode começar um caminho que a compromete com a diferenciação terminal. Como eu acabei de falar, cada célula-filha produzida quando uma célula-tronco se divide pode permanecer como célula- tronco, ou pode vir a tornar-se diferenciada terminalmente. Em muitos casos, a célula-filha que opta pela diferenciação terminal é submetida a divisões celulares adicionais antes de a diferenciação terminal estar completada; Essas células são chamadas de células amplificadoras em trânsito. As células-tronco são necessárias onde quer que haja uma necessidade frequente de repor células diferenciadas que não possam se dividir por si próprias. As células-tronco são de muitos tipos, especializadas na geração de diferentes classes de células diferenciadas terminalmente – células- tronco intestinais para o epitélio intestinal, células- tronco epidérmicas para a epiderme, células-tronco hematopoiéticas para o sangue, e assim por diante. Contudo, cada sistema de célula-tronco levanta questões fundamentais semelhantes. Eu achei essa parte minha bem chata, então eu não estou sabendo como explicar isso sem trazer exatamente como está no livro.. sorry! Pq eu trouxe essas perguntas ai?? Pq tem livro kkkk então ele deve explicar esses trem ai. 1. Quais são as características que distinguem a célula- -tronco em termos moleculares? 2. Quais condições atuam para manter a célula-tronco em seu devido lugar e conservar suas características de célula-tronco? 3. O que define se uma determinada célula-filha se compromete com a diferenciação ou permanece como uma célula-tronco? 4. Em um tecido onde vários tipos distintos de células diferenciadas devem ser produzidos, todos eles são derivados de um único tipo de célula-tronco, ou há um tipo distinto de célula-tronco para cada um? A sinalização Wnt mantém o compartimento de células- tronco do intestino. Com relação ao intestino, o início de uma resposta para essas questões surgiu a partir de estudos de câncer de cólon e reto. Algumas pessoas têm uma predisposição hereditária para câncer colorretal e, com a progressão da doença invasiva, desenvolvem um grande número de pequenos tumores pré-cancerosos (adenomas) no revestimento dessa parte do intestino. A aparência desses tumores sugere que eles tenham surgido de células da cripta intestinal que falharam em parar sua proliferação pela maneira normal. A causa foi relacionada a mutações do gene Apc (polipose adenomatosa do cólon, de adenomatous polyposis coli): os tumores surgem de células que perderam ambas as cópias do gene. Como o Apc codifica uma proteína que impede a ativação inapropriada da via de sinalização Wnt, presume- se que essa perda de Apc imite o efeito da exposição continua a um sinal Wnt. Portanto, a sugestão é que a sinalização Wnt normalmente mantém as células da cripta em um estado proliferativo, e que a interrupção da exposição à sinalização Wnt em geral as faz parar de se dividir enquanto elas deixam a cripta. As células-tronco na base da cripta são multipotentes, originando a gama completa de tipos celulares intestinais diferenciados Há muito tempo se suspeita de que todos os tipos celulares diferenciados no revestimento do intestino derivam de um único tipo de célula-tronco. Para resolver o problema e 3 Stephane D’arc – Proliferação Celular compreender de fato a organização de qualquer sistema de células-tronco, precisamos descobrir como essas células estão relacionadas umas com as outras – quem é descendente de quem, ou, de forma equivalente, qual progênie será produzida a partir de uma dada célula qualquer. Isso pode ser mais bem realizado utilizando-se um marcador hereditário que pode ser ativado em uma célula individual, permitindo assim a identificação do clone da progênie descendente dessa célula. Uma pesquisa entre os genes que são fortemente regulados de forma positiva em resposta à sinalização Wnt revelou um, chamado Lgr5, que é expresso especificamente em células- tronco intestinais. Essas células Lgr5 se dividem com um tempo de ciclo de cerca de 24 horas, e, dentro de poucos dias, clones marcados são vistos estendendo-se a partir das bases das criptas para cima ao longo dos lados das vilosidades. Depois de 60 dias ou mais, muitosdesses clones ainda persistem, mantendo um ou mais membros na base da cripta e se estendendo para cima por todo o caminho até as extremidades das vilosidades. normalmente cada clone único contém todos os principais tipos de células intestinais – absortivas, caliciformes, de Paneth e enteroendócrinas – em sua proporção normal. Portanto, as células que expressam Lgr5 são verdadeiras células-tronco que são multipotentes – ou seja, capazes de gerar um conjunto diversificado de tipos de células diferenciadas. As duas células-filhas de uma célula-tronco não têm sempre que se tornar diferentes Se o número de células-tronco em uma cripta precisa se manter estável, cada divisão da célula-tronco deve, em média, produzir uma célula-filha que permanece como uma célula-tronco e uma que se torna comprometida com a diferenciação. Em princípio, isso pode ser realizado pelo menos de duas maneiras: 1Divisão assimétrica: processos internos às células-tronco em divisão poderiam distribuir fatores reguladores assimetricamente para suas duas filhas.Os fatores herdados por uma célula-filha fariam ela continuar sendo uma célula- tronco, enquanto aqueles herdados pela outra iriam dirigi-la para a diferenciação. Essa estratégia garantiria a produção pela célula- tronco original de precisamente uma célula-tronco em cada geração celular subsequente. 2 Uma estratégia alternativa seria baseada em uma escolha que cada célula-filha faria, independentemente de sua irmã: em circunstâncias normais, cada célula-filha teria 50% de probabilidade de permanecer como uma célula-tronco e 50% de probabilidade de comprometimento com a diferenciação. as duas filhas de uma célula-tronco teriam destinos opostos, e outras vezes, o mesmo destino. A escolha que cada célula faz poderia ser tanto ao acaso, como o jogar uma moeda (cara ou coroa), quanto controlada pelo ambiente no qual a própria célula se encontra. As células de Paneth criam o nicho de célula-tronco Há em torno de 15 células-tronco que expressam Lgr5 em cada cripta. Esse é o nicho de célula-tronco intestinal: as células de Paneth geram sinais, incluindo um forte sinal Wnt, que atuam sobre uma distância curta para manter o estado de célula-tronco. Proteínas sinalizadoras do tecido conectivo localizado em torno da base da cripta ajudam a reforçar o sinal de localização das células de Paneth; o próprio Lgr5 é um receptor para uma dessas proteínas, denominada espondina-R. No intestino, parece que o nicho criado pelas células de Paneth tem espaço apenas para um número limitado de células-tronco e, quando estas se dividem, é de maneira aleatória que se define quais são empurradas para fora do ninho e condenadas à diferenciação e quais permanecem no local como células-tronco para o futuro. Na maioria dos outros sistemas de células-tronco onde a questão foi examinada, parece que os destinos das células-filhas de uma célula-tronco são atribuídos de forma semelhante, de modo independente e sujeito à influência do ambiente das células A sinalização efrina-Eph dirige a segregação dos diferentes tipos celulares do intestino O notável comportamento de auto-organização de organoides em cultivo sugere que alguma interação entre as diferentes células epiteliais as leva a separarem- se umas das outras. A via de sinalização efrina-Eph parece ser a responsável. As células que se localiza nas criptas expressam o receptor de proteínas EphB, enquanto as células absortivas, caliciformes e enteroendócrinas, em função de iniciarem a diferenciação, desativam a expressão desse receptor e ativam a expressão de suas proteínas ligantes, proteínas 4 Stephane D’arc – Proliferação Celular de superfície celular da família Efrina B. Em vários outros tecidos, células que expressam proteínas EphB são repelidas pelo contato com células que expressam efrinas em sua superfície. arece que o mesmo é verdade no revestimento do intestino, e que esse mecanismo serve para manter as células segregadas e nos seus locais adequados. A sinalização Notch controla a diversificação celular do intestino e ajuda a manter o estado de célula-tronco Se um único tipo de célula-tronco dá origem a todos os tipos celulares diferenciados no revestimento do intestino, o que faz a progênie dessas células-tronco se diversificar? A sinalização Notch tem esse papel em muitos outros sistemas, onde ela medeia a inibição lateral – uma interação competitiva que guia células vizinhas em direção a destinos diferentes. Todos os componentes essenciais da via Notch são expressos nas criptas; parece que a sinalização Wnt os mantém lá. Se a sinalização Notch é bloqueada abruptamente, dentro de poucos dias todas as células nas criptas diferenciam- se como células caliciformes, e as células absortivas deixam de ser produzidas; ao contrário, se a sinalização Notch é artificialmente ativada em todas as células, as células absortivas continuam a ser geradas, mas não são produzidas células caliciformes. Legenda: Como a sinalização Notch, em combinação com Wnt, mantém as células-tronco e dirige a diversificação celular no intestino. A sinalização Wnt leva à expressão de Notch e Delta nas células da cripta, e a sinalização Delta-Notch na cripta medeia a inibição lateral entre células adjacentes. Células que expressam níveis mais elevados de Delta acabam ativando Notch em suas vizinhas, adotam um destino secretor e param de se dividir; suas vizinhas, com Notch ativada, são impedidas de diferenciação e se mantêm em divisão. Essencialmente o mesmo processo atua na base da cripta, onde células de Paneth expressam níveis mais elevados de Delta para evitar que as células-tronco se diferenciem, e na população de células amplificadoras em trânsito onde as células secretoras recém-produzidas expressam níveis mais elevados de Delta. A divisão continua nas células ativadas por Notch enquanto elas sobem a cripta, até escaparem da influência de Wnt e emergir na vilosidade para tornarem-se células absortivas. O sistema de célula-tronco epidérmico mantém uma barreira à prova d’água autorrenovável Sistemas de células-tronco estão organizados de muitas maneiras diferentes, mas eles compartilham alguns princípios fundamentais. Ex: epiderme. Ela sofre uma renovação continua porém, ao contrário do revestimento do intestino, ela é um epitélio de múltiplas camadas (estratificado).Células-tronco estão localizadas na camada basal, e suas descendentes se movem para fora na direção da superfície exposta, se diferenciando à medida que migram. Elas chegam à camada mais externa como escamas achatadas sem vida ou células escamosas, que futuramente são descamadas da superfície da pele. Ainda que a arquitetura desse tecido seja bastante diferente daquela do intestino, muitos dos mesmos princípios básicos se aplicam. Para a sua existência, as células-tronco dependem de sinais de um nicho específico, nesse caso a lâmina basal e o tecido conectivo subjacente. As filhas de células-tronco que estão comprometidas com a diferenciação sofrem várias divisões como células amplificadoras em trânsito (enquanto ainda estão na camada basal) antes da diferenciação. Por fim, um mecanismo aleatório de escolha independente determina os destinos das filhas de uma divisão de célula-tronco, permitindo o aumento no número de células-tronco quando necessário para crescimento ou cicatrização de feridas. A maior parte das mesmas vias de sinalização que organizam o sistema célula-tronco intestinal também está envolvida na regulação do sistema célula- -tronco epidérmico, embora com papéis individuais diferentes. RESUMO: Muitos tecidos no corpo de um mamífero adulto são renovados continuamente pelas células-tronco. Por definição, as células-tronconão estão diferenciadas 5 Stephane D’arc – Proliferação Celular terminalmente e têm a capacidade de se dividir ao longo do tempo de vida do organismo, produzindo algumas células- filhas que se diferenciam e outras que permanecem como células-tronco. O revestimento do intestino se autorrenova mais rapidamente do que qualquer outro no corpo de um mamífero e fornece um paradigma para o funcionamento de sistemas de células-tronco. No intestino delgado, há um fluxo ascendente contínuo a partir das criptas, onde células novas são produzidas por divisão celular, em direção às vilosidades, que são compostas de células diferenciadas que não se dividem. A via de sinalização Wnt mantém a proliferação celular nas criptas, e a ação aumentada da via Wnt dá origem a tumores. Células-tronco encontram-se na base de cada cripta e distinguem-se pela expressão de Lgr5 e outros genes. As células-tronco Lgr51 são multipotentes, cada uma capaz de produzir vários tipos diferentes de células diferenciadas assim como novas células-tronco. O equilíbrio de opções de destino é ajustado de acordo com a necessidade, permitindo o aumento no número de células- tronco onde são mais necessárias para crescimento e reparo. Em um meio de cultivo adequado livre de células, uma única célula-tronco Lgr51 pode produzir um “mini- intestino” auto-organizado, contendo todos os tipos celulares padrão do epitélio intestinal. Outros epitélios com autorrenovação, como a epiderme com sua arquitetura de múltiplas camadas (estratificado), têm células-tronco e sua progênie diferenciada dispostas de maneiras diferentes, mas são controlados por princípios básicos semelhantes. Entretanto, a renovação e reparo de tecido nem sempre tem de depender de células-tronco. Assim, a população de células produtoras de insulina no pâncreas é ampliada e renovada por duplicação simples de células produtoras de insulina já existentes. De forma semelhante, no fígado, hepatócitos diferenciados continuam capazes de se dividir ao longo da vida e podem aumentar drasticamente sua taxa de divisão quando surge a necessidade. No extremo oposto, alguns tecidos, como os epitélios sensoriais do ouvido e do olho, não sofrem nenhuma reposição e não são renováveis: suas células, uma vez perdidas, estão perdidas para sempre. FORMAÇÃO DA CICATRIZ