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08 - DIREITO DE GREVE

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Módulo 8 - Direito de Greve.
 
 
 
A GREVE NO DIREITO DO TRABALHO
 
 
Conceito
 
 
A greve é considerada pelos trabalhadores como a única arma de que dispõem para pressionar o
empregador e levá-lo a atender às reivindicações que periodicamente formulam. Para os empresários a
greve é um mal que acarreta prejuízos à produção.
 
 
GREVE:
 
é a suspensão temporária do trabalho.
 
é um ato formal condicionado à aprovação do sindicato mediante assembleia
 
é uma paralisação dos serviços que tem como causa o interesse de trabalhadores e não de qualquer
pessoa, o que exclui do âmbito da disciplina legal paralisações de pessoas que não sejam
trabalhadores.
 
é um movimento que tem por finalidade a reivindicação e a obtenção de melhores condições de
trabalho ou o cumprimento das obrigações assumidas pelo empregador em decorrência das normas
jurídicas ou do próprio contrato de trabalho, definidas expressamente mediante indicação formulada
pelos empregados ao empregador, para que não haja dúvida sobre a natureza dessas reivindicações.
 
 
Greve e outros Atos Coletivos de Conflito
 
 
BOICOTAGEM significa fazer oposição, obstrução ao negócio de uma pessoa, falta de cooperação. Tem o
significado de obstaculizar ou impedir o exercício da atividade do empregador, deixando de cooperar com
este, mas sem causar danos materiais ou pessoais.
 
 
SABOTAGEM é a destruição ou inutilização de máquinas ou mercadorias pelos trabalhadores, como
protesto violento contra o empregador, danificando bens da sua propriedade. A sabotagem em alguns
sistemas penais é punida como infração penal.
 
 
PIQUETES são uma forma de pressão dos trabalhadores para aderirem a greve sob a forma de tentativa de
dissuadir os recalcitrantes que persistirem em continuar trabalhando. O piquete, no direito estrangeiro, é
lícito, se pacífico, e ilegal, se violento, critério a que se coaduna também a lei brasileira.
 
Melhor explicando, o piquete consiste numa forma de pressão dos trabalhadores sobre aqueles obreiros que
não se interessam pela paralisação, preferindo continuar a trabalhar, e também para a manutenção do
movimento. Serão, portanto, os piquetes permitidos, desde que não se ofendam as pessoas ou que não
acarretem estragos em bens, ou seja, o piquete pacífico será permitido como modo de persuasão e
aliciamento da greve. Não serão admitidos piquetes que venham a impedir o trabalhador de ingressar no
serviço.
 
OCUPAÇÃO DE ESTABELECIMENTO pelos trabalhadores, recusando-se a sair do local de trabalho e
lá permanecendo sem trabalhar.
 
A justificação, precária por todos os motivos, é a necessidade de causar dano ao empregador como meio de
eficácia do conflito.
 
Contra o direito de ocupação militam 2 argumentos:
 
direito de propriedade, que deve ser respeitado.
 
liberdade de trabalho dos não aderentes à greve, que ficariam, com a ocupação, impossibilitados de
exercê-la.
 
BRAÇOS CRUZADOS são operações nas quais os empregados trabalham exagerando na meticulosidade
com que se empenham no serviço, exatamente para entravar a sua marcha normal, e que alguns sociólogos
denominam greve de excesso de zelo; a operação na qual os trabalhadores ficam de braços cruzados, sem
trabalhar, conhecida por greve de braços cruzados; e a operação na qual o trabalho é executado lentamente
ou com defeito.
 
Natureza Jurídica
 
Analisar a natureza jurídica de um instituto é procurar enquadrá-lo na categoria a que pertence no ramo do
Direito.
 
 QUANTO AO DIREITO POSITIVO, a greve é apreciada sob 2 ângulos:
 
Posição do direito de cada país: a greve é um direito ou uma liberdade nos países em que a lei a autoriza,
caso em que se manifesta como uma forma de autodefesa dos trabalhadores na solução dos seus conflitos
coletivos. Sob o ponto de vista da pessoa, do indivíduo, podemos considerá-la como uma liberdade pública,
pois o Estado deve garantir o seu exercício. No que diz respeito à coletividade, seria um poder.
 
Nos países que a proíbe, a greve é tida como um delito, uma infração penal, um crime contra a economia.
 
Há entendimentos de que a greve seria um direito potestativo, de que ninguém a ele poderia se opor. A
parte contrária terá de se sujeitar ao exercício desse direito.
 
Alguns autores entendem que a greve poderia ser considerada como uma forma de autodefesa, em que uma
parte imporia a solução do conflito à outra. Todavia, essa teoria sofre a crítica de que a autodefesa seria
uma maneira de resposta a uma agressão.
 
QUANTO AOS EFEITOS SOBRE O CONTRATO DE TRABALHO a greve é uma suspensão (não
ocorre o pagamento de salários e nem a contagem do tempo de serviço) ou uma interrupção do contrato de
trabalho (computa-se o tempo de serviço e há pagamento de salários), mas não é uma forma de extinção do
contrato de trabalho, pelo que é insustentável a tese de que a greve tem a natureza jurídica de abandono de
emprego. No abandono de emprego o trabalhador tem a intenção de extinguir, com esse procedimento, o
contrato de trabalho, enquanto que na greve o trabalhador pretende continuar o vínculo jurídico com
melhores condições de trabalho.
 
 Fundamentos
 
A greve, como direito, funda-se no princípio da liberdade de trabalho. Ninguém pode ser constrangido a
trabalhar contra a própria vontade. Esse é o princípio da liberdade individual que também se aplica no
plano coletivo. Quando os sistemas jurídicos dispõem que o trabalho é dever social referem-se a esse dever
de modo genérico e não concreto em relação a um determinado empregador.
 
A GREVE NO DIREITO BRASILEIRO
 
Conceito Legal de Greve
 
CONSTITUIÇÃO DE 1937 A 1988 - O conceito legal de greve sofreu modificações em nosso País. A
partir de 1900, quando o sistema político caracterizava-se pela ideia liberal, a greve era exercida como uma
liberdade dos trabalhadores, em leis que a restringiram ou ampliaram. A partir de 1937, foi declarada, pela
Constituição, recurso nocivo ao interesse social e prejudicial à economia, como nas concepções que
consideram a greve como delito. Com a CF de 1946 foi reconhecida como direito dos trabalhadores. A CF
de 1967 e a Emenda Constitucional de 1969 seguiram essa diretriz, porém introduzindo limitações, em
especial quanto à paralisação das atividades essenciais e serviços públicos.
 
A CF de 1988, art. 9º, é mais liberal e declara:
 
“É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade
de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender”.
 
 Por outro lado, o art. 9º, § 1º da mesma CF dispõe:
 
 “A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento de
necessidade inadiáveis da comunidade”.
 
 § 2º do artigo acima dispõe:
 
 “Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei”.
 
A greve é uma garantia coletiva constitucional, a oportunidade do seu exercício e os interesses por meio
dela defendidos são aqueles definidos pelos trabalhadores, que não devem fazê-lo de modo abusivo,
mantendo, nas atividades essenciais, o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.
 
 
LEIS ORDINÁRIAS - Regulando o preceito constitucional, a Lei de Greve (Lei n. 7.783/89), revogando a
Lei n. 4.330/64, e o Decreto-lei n. 1.632/78, estabeleceu as disposições que passaram a garantir o direito de
greve e a coibir o abuso desse direito.
 
Art. 2º, “considera-se legítimo exercício do direito de greve a suspensão coletiva, temporária e
pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de serviços a empregador.”
 
Como se vê, a greve legítima é a paralisação coletiva do trabalho. Essa paralisação tem fins temporários
porque se é definitiva rompe-se o contrato de trabalho. Deve expressar-se como suspensão do trabalho, que
é uma abstenção e não uma ação. É a abstenção pacífica da obrigação contratual que não é ilícita porque
autorizada pela lei. Como fenômeno coletivo, envolve um grupo de pessoas. Necessariamente, não
pressupõe a paralisação de todos os trabalhadores.
 
Não há dúvida de que a titularidadedo direito de greve é dos trabalhadores, pois a eles compete decidir
sobre a oportunidade e os interesses a serem defendidos por meio da greve.
 
 A legitimidade para a instauração da greve pertence à organização sindical dos trabalhadores, visto que se
trata de um direito coletivo.
 
Aos trabalhadores é que compete decidir sobre a oportunidade do exercício do direito de greve (art. 1º, Lei
n. 7.783/89). Eles é que irão julgar qual o momento conveniente em que a greve irá ser deflagrada.
 
A greve, contudo, não poderá ser deflagrada quando haja acordo, convenção coletiva ou sentença normativa
em vigor (Lei n. 7.783/89, art. 14), a não ser que tenham sido modificadas as condições que vigiam. Daí, a
melhor orientação é de que o termo oportunidade quer dizer conveniência, diante das situações concretas
que forem encontradas.
 
Cabe, também, aos trabalhadores dizer quais os interesses que serão defendidos por meio da greve. Os
limites desse interesse encontram-se na CF, sendo possível dizer que os limites são sociais, dizendo respeito
às condições de trabalho, à melhoria das condições sociais, inclusive salariais. Esses interesses, entretanto,
vão dizer respeito àqueles que possam ser atendidos pelo empregador, pois é em face deste que a greve é
deflagrada.
 
Procedimento de Greve
 
 FASE PREPARATÓRIA - Na greve há uma fase preparatória e uma fase de desenvolvimento.
 
 A fase preparatória, prévia à deflagração, tem, por sua vez, diversos atos:
 
A obrigatória tentativa de negociação para solução do conflito coletivo, uma vez que a lei não autoriza o
início da paralisação a não ser depois de frustrada a negociação. É uma condição para o exercício do direito
de greve. As partes também poderão eleger árbitros para solucionar a pendência entre elas. Frustrada a
negociação coletiva ou verificada a impossibilidade da arbitragem, será facultada a cessação coletiva do
trabalho.
 
Poderá a Superintendência Regional do Trabalho convocar as partes para mesa redonda com o objetivo de
resolver o conflito. A mesa redonda convocada pela Superintendência Regional do Trabalho não vem a se
configurar em uma interferência ou intervenção do Estado no sindicato, tratando-se apenas de uma forma
de cumprir as determinações da lei, que exige a negociação, tanto que a intervenção da Superintendência
Regional do Trabalho não é obrigatória para efeito de negociação (CLT, art. 616, § 1º).
 
O objetivo da Superintendência Regional do Trabalho é apenas fazer mediação ou servir de mediador para
solucionar a controvérsia coletiva, aproximando as partes. Não se trata de imposição. Inexistindo acordo,
mesmo com a mediação da Superintendência Regional do Trabalho, é faculdade das partes a instauração do
dissídio coletivo. O que precisa haver é a negociação frustrada para ser instaurado o dissídio coletivo, não
importa onde ela seja realizada (CF, art. 114, § 2º).
 
É o que resulta da CF, ao declarar que é obrigatória a participação dos sindicatos na negociação coletiva. O
dissídio coletivo não pode ser instaurado sem a prévia tentativa de negociação (CF, art. 114). A Lei n.
7.783/89, que regulamenta o exercício do direito de greve, é no mesmo sentido.
 
A deliberação em assembleia geral convocada pela entidade sindical (art. 4º) e de acordo com as
formalidades previstas no seu estatuto, isto é, a entidade sindical dos empregados deverá convocar
assembleia geral que irá definir as reivindicações da categoria, deliberando sobre a paralisação coletiva. Na
falta de entidade sindical, a assembleia será entre os trabalhadores interessados (art. 4º, § 2º), que
constituirão uma comissão para representá-los, inclusive, se for o caso, perante a Justiça do Trabalho.
 
A convocação de assembleia é exigida pela Lei n. 7.783/89, art. 4º. Cabe ao sindicato representar os
trabalhadores e assumir a negociação. A greve é um ato sindical.
 
Aviso prévio. Não é lícita a greve-surpresa. O empregador tem o direito de saber antecipadamente sobre a
futura paralisação da empresa. Providências são necessárias, antes da cessação do trabalho, diante dos
compromissos da empresa e em face das suas naturais condições de atividade e de produção. Daí a
comunicação. É o aviso prévio de greve.
 
Segue-se, à deliberação da assembleia, o aviso ao empregador, com antecedência mínima de 48 horas (art.
3º, § único), ampliadas para 72 horas nas atividades essenciais (art. 13), incluindo além do empregador,
também os usuários dos serviços essenciais no dever de comunicação (art. 13).
 
Garantia dos Grevistas
 
DIREITOS E DEVERES DOS ENVOLVIDOS NA GREVE:
 
É possível ao grevista o emprego de meios pacíficos tendentes a persuadir ou aliciar os trabalhadores a
aderirem à greve, de modo que o piquete é permitido quando não violento (Lei n. 7.783/89, art. 6º).
 
É possível ao grevista a arrecadação de fundos e a livre divulgação do movimento. A arrecadação de fundos
destina-se aos gastos decorrentes da greve, como de publicidade, cartazes, faixas e até mesmo para a
manutenção dos salários dos trabalhadores. A livre divulgação do movimento visa assegurar a comunicação
e informação sobre a greve, para que ela possa ser propagada. Há a possibilidade da divulgação por meio de
panfletos, cartazes de propaganda, desde que não sejam ofensivos à pessoa do empregador, assim como o
uso de megafone ou veículo com sonorização na porta da fábrica (Lei n. 7.783/89, art. 6º).
 
Em nenhuma hipótese poderão ser violadas ou constrangidas garantias constitucionais (Lei n. 7.783/89, art.
6º, § 1º), quais sejam, direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade (CF, art. 5º e incisos), o
respeito às convicções políticas, filosóficas e crenças religiosas (art. 5º, VIII).
 
É vedado à empresa adotar meios para forçar o empregado ao comparecimento ao trabalho, bem como
capazes de frustrar a divulgação do movimento (Lei n. 7.783/89, art. 6º, § 2º). Assim, o empregador não
poderá adotar qualquer forma que venha a obrigar, a coagir o trabalhador grevista à prestação de serviços
ou a impedir a publicidade da greve. 
 
Os grevistas não podem proibir o acesso ao trabalho daqueles que quiserem fazê-lo (Lei n. 7.783/89, art. 6º,
§ 3º). Logo, os trabalhadores que entenderem que devem trabalhar não poderão ser impedidos pelos demais.
 
É vedada a rescisão do contrato de trabalho durante a greve não abusiva, bem como a contratação de
trabalhadores substitutos (Lei n. 7.783/89, art. 7º, § único).
 
Salários e demais obrigações trabalhistas serão regulados por acordo com o empregador (Lei n. 7.783/89,
art. 7º). As consequências da greve devem ser suportadas por ambas as partes: pelo empregador, que perde
a prestação de serviços durante certos dias e, em consequência, deixa de pagar os dias não trabalhados pelos
obreiros; pelo empregado, que participa da greve, ficando sem trabalhar, mas perde o direito ao salário dos
dias em que não prestou serviços.
 
Efeitos da greve no contrato de trabalho: suspensão do contrato de trabalho, uma vez que os empregados
paralisados em decorrência da greve não recebem seus salários e o período não conta como tempo de
serviço; porém, se empregados grevistas e empregadores celebrarem acordo coletivo de trabalho dispondo
sobre o pagamento desses dias paralisados, o efeito passa a ser de interrupção do contrato de trabalho.
 
 Manutenção dos Equipamentos
 
Durante a greve, o sindicato ou a comissão de negociação, mediante acordo com a organização sindical
patronal ou a empresa, manterá em atividade equipes de empregados com o propósito de assegurar os
serviços cuja paralisação resultar em prejuízo irreparável, pela deterioração irreversível de bens, máquinas e
equipamentos, bem como a manutenção daqueles essenciais à retomada das atividades da empresa quando
da cessação do movimento (Lei n. 7.783/89, art. 9º).
 
 Não havendo acordo, é assegurado ao empregador, enquanto perdurar a greve, o direito de contratar
diretamente os serviços necessários para esse fim (Lei n. 7.783/89, art. 9º, § único), por meio da contrataçãode trabalhadores temporários (Lei n. 6.019/1974).
 
Serviços Essenciais
 
Nos serviços essenciais a greve não é proibida, mas há uma restrição para sua deflagração, com estipulação
de regras especiais. Esses serviços são os seguintes:
 
- tratamento e abastecimento de água, produção e distribuição de energia elétrica, gás e
combustíveis.
 
 - assistência médica e hospitalar.
 
- distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos.
 
- funerários.
 
- transporte coletivo.
 
- captação e tratamento de esgoto e lixo.
 
- telecomunicação.
 
- guarda, uso e controle de substância radioativas, equipamentos e materiais nucleares.
 
- processamento de dados ligados a serviços essenciais.
 
- controle de tráfego aéreo e navegação aérea.
 
- compensação bancária.
 
- atividades médico-periciais relacionadas com o regime geral de previdência social e a
assistência social.
 
- atividades médico-periciais relacionadas com a caracterização do impedimento físico, mental,
intelectual ou sensorial da pessoa com deficiência, por meio da integração de equipes
multiprofissionais e interdisciplinares, para fins de reconhecimento de direitos previstos em lei,
em especial na Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015.
 
- outras prestações médico-periciais da carreira de Perito Médico Federal indispensáveis ao
atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.
 
Nesses serviços, o aviso prévio ao empregador e aos usuários dos serviços é de 72 horas (Lei n. 7.783/89,
art. 13) e é obrigatório aos sindicatos, de comum acordo com o empregador, garantir, durante a greve, a
prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade – serviço
mínimo necessário (Lei n. 7.783/89, art. 11), assim consideradas aquelas que, se não atendidas, coloquem
em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população (Lei n. 7.783/89, art. 11, §
único).
 
 
 A Lei nº 7.783/1989 (Lei de Greve) não tipifica a atividade de segurança como essencial, o que franqueia
greves por trabalhadores que laboram em segurança privada, apesar de serem consideradas “categorias
armadas”.
 
 
Abuso de Direito
 
 
A greve é um direito, mas o abuso desse direito sujeita os responsáveis às penas da lei (Lei n. 7.783/89, art.
15). Greves abusivas, durante as quais são cometidos abusos, indo além das determinações legais.
 
 
O conceito de abuso identifica-se, por força da lei (Lei n. 7.783/89, art. 14) com o de ilegalidade. Abuso é o
descumprimento de exigência da lei, bem como a manutenção da greve após acordo ou decisão judicial
sobre o término da paralisação (Lei n. 7.783/89, art. 14), salvo se a finalidade da paralisação é exigir o
cumprimento de norma legal convencional ou quando a superveniência de fato novo venha modificar
substancialmente a relação de trabalho (Lei n. 7.783/89, art. 14, § único).
 
 
A responsabilidade pelos atos abusivos é apurada segundo a lei trabalhista, civil e penal (Lei n. 7.783/89,
art. 15). O Ministério Público pode requisitar a abertura de inquérito e processar criminalmente aqueles que
praticaram ilícitos penais. O empregador pode, no caso de abuso, despedir por justa causa empregados
grevistas, desde que o ato faltoso esteja capitulado na CLT (Lei n. 7.783/89, arts. 7º e 14; CLT, art. 482). O
sindicato é passível de responder por perdas e danos.
 
Exemplo: Em Campinas, o sindicato profissional foi condenado por abuso cometido durante a greve dos
transportes coletivos daquela cidade, devendo pagar as passagens durante alguns dias às empresas de
ônibus, que concederiam, em contrapartida, transporte gratuito para a população. Entende-se que a
responsabilidade civil, de ter causado prejuízo ao empregador, poderá ser indenizada pelo sindicato ou pelo
trabalhador, dependendo de quem foi o culpado.
 
 Os atos faltosos praticados pelos obreiros poderão ser capitulados no art. 482 da CLT, com a consequente
demissão por justa causa. Seria o caso de o trabalhador impedir os colegas de trabalharem, de empregar
violência com os colegas durante a greve, de causar dano à propriedade do empregador, etc.
 
Os trabalhadores poderão ser responsabilizados penalmente por crime de dano à coisa, de lesão corporal, de
homicídio, nos termo do Código Penal.
 
Havendo indício de prática de delito, o Ministério Público deverá, de ofício, requisitar a abertura de
inquérito e oferecer denúncia (Lei n. 7.783/89, art. 15, § único).
 
“Locaute”
 
 A expressão inglesa “lock-out” se traduz por olhar de fora, ou seja, os empregados ficariam do lado de fora
da empresa, sem poder entrar para trabalhar. Trata-se de uma espécie de greve por parte do empregador, o
qual paralisa suas atividades.
 
Locaute, que é a paralisação das atividades pelo empregador para frustrar negociação coletiva, ou dificultar
o atendimento de reivindicações dos trabalhadores, é vedado (Lei n. 7.783/89, art. 17) e os salários, durante
o mesmo, são devidos.
 
O cerramento, como também é chamado o “lock-out” pela doutrina, enseja penalidades para quem agir
dessa forma e, ainda, obriga o empregador ao pagamento de salário aos empregados pelos dias em que
manteve suas atividades empresariais paralisadas.
 
Logo, na ocorrência de locaute, os efeitos deste no contrato de trabalho são de interrupção, uma vez que há
o pagamento dos salários dos empregados, mesmo sem ter trabalhado e conta o período como tempo de
serviço.
 
DISSÍDIO COLETIVO - A requerimento das partes ou do Ministério Público, a Justiça do Trabalho
decidirá sobre a procedência, total ou parcial, ou a improcedência das reivindicações, cumprindo ao tribunal
publicar, de imediato, o competente acórdão.
 
 A CF, art. 114, § 3º, confere legitimidade ao Ministério Público do Trabalho para propor dissídio coletivo
em caso de greve em atividade essencial, que apresente possibilidade de lesão do interesse público,
competindo à Justiça do Trabalho, competência originário do Tribunal, decidir o conflito.
 
A comissão de trabalhadores também poderá requerer a instauração do dissídio coletivo quando não houver
entidade sindical que a represente.
 
 O tribunal trabalhista poderá apreciar a legalidade ou ilegalidade do movimento e os abusos de direito que
forem cometidos.
 
Greve no Setor Público
 
A Convenção n. 151 da OIT determina a institucionalização de meios voltados à composição dos conflitos
de natureza coletiva surgidos entre o Poder Público e seus servidores (art. 8º). O Pacto Internacional dos
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (art. 8º, “c” e “d”) dispõe que a Administração Pública pode e
deve estipular restrições ou limitações “no interesse da segurança nacional ou da ordem pública, ou para
proteção dos direitos e liberdades de outrem”.
 
A Lei 7.783/89 é aplicável inclusive às empresas públicas, sociedades de economia mista e outras entidades
que explorem atividade econômica, pois sujeitam-se ao regime jurídico das empresas privadas, inclusive
quanto às obrigações trabalhistas (CF, art. 173, § 1º).
A Constituição Federal de 1988 assegurou o direito de greve ao servidor público da administração pública
direta e indireta, que será exercido nos termos e limites definidos em lei específica (CF, art. 37, VII). É
norma de eficácia contida, dependendo de lei específica (lei ordinária da União, Estados e Municípios) para
poder ser exercitada.
 
O STF, ao julgar mandados de injunção, firmou entendimento segundo o qual, diante da lacuna normativa
existente (na falta de lei específica), esta deve ser preenchida com a aplicação, por analogia, da lei do setor
privado (Lei n. 7.783/89), isto é, enquanto não regulamentado o direito de greve no setor público, os
conflitos dela resultantes devem ser solucionados com base em uma norma jurídica vigente no ordenamento
do país, no caso a lei de greve do setor privado, com as adaptações necessárias (MI 708-0-DF, de
25/10/2007; MI 712-PA, de 27/10/2007).
 
 Pelo entendimento firmado pelo STF, os servidores têm direito ao ajuizamento de dissídio coletivo,observando as diretrizes traçadas na Lei n. 7.783/89, que, todavia, não poderá contemplar pretensão relativa
a reajuste de vencimentos, porque depende de lei de iniciativa exclusiva do Presidente da República (CF,
art. 61, § 1º, II, a), mas apenas cláusulas que objetivem tratar de melhores condições de trabalho, inclusive
relativas a meio ambiente de trabalho.
 
O foro competente para processar esse dissídio coletivo será a Justiça Federal, para servidores federais, e a
Justiça Estadual, para servidores estaduais ou municipais.
 
Os militares, integrantes das Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) estão proibidos de
sindicalizar-se e de exercer o direito a greve (CF, art. 142, § 3º, IV).
 
Por igual, a regra se aplica aos policiais militares e aos corpos de bombeiros militares, que são forças
auxiliares e reserva do Exército. (CF, art. 144, § 6º).
 
Os servidores civis da Marinha, Exército e Aeronáutica gozam do direito de greve, como qualquer servidor
público. Assim, também, os civis que trabalham para as Polícias Militares e Corpos de Bombeiros
estaduais.

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