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ESTUDO DIGITALIZADO PELO SITE WWW.SEMEANDOVIDA.ORG Projeto exclusivo de resgate de revistas antigas de Escola Bíblica Dominical. Para mais estudos visite o nosso site. P á g i n a | 1 Para mais estudos visite o site www.semeandovida.org TRABALHO E LUCRO 1 Timóteo 6.3-10 O sistema reformado, ou calvinista, tem sido acusado por alguns de ser o pai do capitalismo moderno. Desta forma, seria o responsável direto pelo surgimento do grande apego que existe hoje aos bens materiais e as riquezas, e da busca desenfreada por lucro que tem caracterizado o nosso tempo. Esta é uma acusação injusta, pois, o pensamento reformado ou calvinista embora tenha certamente favorecido o desenvolvimento da vida econômica e, em certo sentido, a deturpação deste sistema tenha contribuído para o nascimento do capitalismo, condenava a exploração dos pobres, os lucros abusivos obtidos das taxas de juros altos e o apego às riquezas. Por exemplo, para o reformador João Calvino, os bens materiais que alguém possuía deveriam ser usados em prol dos necessitados. A riqueza era considerada por ele como uma bênção de Deus, concedida a alguém para que fosse estimulado à generosidade. Desta forma, o capita lismo de hoje não obedece aos princípios do pensamento reformado ou calvinista em sua forma original. I. SUFICIÊNCIA EM DEUS VS. 6-8 No texto de nossa lição, Paulo está orientando a Timóteo acerca dos falsos mestres que tinham a tendência de causar problemas por meio de ensinos falsos. Esses falsos mestres, diz Paulo, têm mania “por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas, altercações sem fim”. Ao que parece, tais mestres eram gananciosos procurando tirar proveito, alcançar lucro, às custas da boa fé de seus ouvintes, passando-se por piedosos (ver lTm 4.1-5). O apóstolo, então, falando acerca da atitude dos falsos mestres, reflete sobre a perspectiva correta que devemos ter a respeito da posse dos bens materiais. Embora, tal reflexão tenha sido despertada por causa dos falsos mestres, e o que disse tenha sido dirigido a princípio a Timóteo, que era pastor da igreja de Éfeso (lTm 1.3), o que o apóstolo diz nesta passagem, se aplica a todos os crentes. Todos nós corremos o risco de fazer do lucro uma obsessão. Quantos são aqueles que desesperadamente trabalham, procurando acumular um número maior de bens, colhem prejuízos familiares e deixam até mesmo de confiar em Deus. À luz deste texto, podemos ter uma visão adequada do lucro evitando os excessos perigosos. A. A piedade: fonte de lucro espiritual Os falsos mestres, querendo se passar por piedosos, procuravam tirar proveito da piedade supondo ser ela fonte de lucro (v.5). Paulo contesta esta atitude errada fazendo uma afirmação interessante: “De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento” (v.6). O apóstolo está sendo irônico dizendo que, de certa forma, os falsos mestres estavam certos. O erro estava em acharem que o lucro que é obtido pela piedade é de caráter material quando, na verdade, é espiritual. P á g i n a | 2 Para mais estudos visite o site www.semeandovida.org Daí, é a piedade fonte riquíssima de lucro quando associada ao contentamento, pois ela proporciona ao crente sincero plena e perfeita bem-aventurança. B. O que é estar contente? A palavra “contentamento” tem o significado de “suficiência da alma”. Esta palavra indica independência das circunstâncias exteriores apontando para uma suficiência interior. Em Filipenses 4.11, Paulo diz que havia aprendido a estar contente em todas as circunstâncias, ou seja, seu humor não era afetado pelas coisas que lhe aconteciam, pois, nas diferentes situações, havia adquirido experiência. O apóstolo vivia satisfeito em toda situação, visto que esta suficiência provinha de Deus que lhe fortalecia a todo momento: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13). Assim, ele não precisava de muitos bens para estar contente, pois confiava em Deus que faz com que “todas as coisas cooperem para o bem daqueles que o amam, para o bem daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28). A pessoa verdadeiramente piedosa desfruta da paz e alegria de Deus, por isso, interiormente não sente a necessidade de muitos bens terrenos. Se o “Senhor é o meu pastor; nada me faltará”, pois, tenho nele tudo o que preciso para estar contente. C. Grande ilusão O problema que devemos evitar é a obsessão pelo lucro, pois ela cega nosso entendimento fazendo-nos desejar além do que precisamos para a sobrevivência. Calvino, criticando esta obsessão, diz que “cada um de nós prevê que suas necessidades absorverão vastas fortunas, como se possuíssemos um estômago bastante grande para comportar metade da terra”. “Porque nada temos trazido para o mundo, nem cousa alguma podemos levar dele”. Portanto, de que vale ficarmos ansiosos em adquirir grande abundância de bens, se para nossa existência aqui neste mundo só precisaremos do necessário? Quando somos absorvidos pela preocupação por bens e recursos] materiais nos esquecemos de que estas coisas não pertencem à alma. Nenhum recurso terreno fará diferença à nossa alma quando partirmos desse mundo (Lc 12.13-21). O princípio acima foi apontado por Jesus em Mateus 6.19-21. Somos encorajados a focalizar nossa atenção no acúmulo de bens espirituais. Jesus, em Lucas 12.13-21, reprova a avareza. Ele faz uso de uma parábola acerca de um homem rico que estava preocupado somente em acumular suprimentos terrenos e não celestiais. Tal homem é chamado de louco e ‘‘assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus” (Lc 12.21). Se por um lado a Bíblia nos encoraja a trabalhar e condena a ociosidade, por outro lado, nos alerta quanto ao perigo de, trabalhando, ficarmos obcecados por lucro, nos esquecendo do que realmente importa. P á g i n a | 3 Para mais estudos visite o site www.semeandovida.org D. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje Na oração ensinada por Jesus somos encorajados a confiar em Deus Pai, aguardando de suas mãos o suprimento diário para as nossas necessidades (Mt 6.11). Nessa petição reconhecemos o cuidado de Deus para conosco e aprendemos a pedir somente o necessário para a nossa sobrevivência diária. “O pão nosso de cada dia” inclui todas as nossas necessidades, não só o alimento, como também a vestimenta, abrigo e tantas outras coisas necessárias à sobrevivência. Ora, “tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” (lTm 6.8), diz Paulo. A petição mencionada nos inspira à confiança em Deus, lembrando-nos, que embora seja nosso dever trabalhar para termos sustento, é o Pai quem nos manda o suprimento diário. Além disso o Pai nos ensina a evitar a obsessão pelo lucro e acúmulo de bens materiais. Sem esse entendimento, nos tornamos materialistas e insaciáveis na aquisição de bens materiais. Infelizmente, em nosso tempo, temos visto a propagação da “Teologia da Prosperidade”, ensinando que a bênção de Deus está somente com aquele que tem recursos em abundância. Este não é o ensino bíblico. O pedido feito ao Senhor pelo sábio Salomão, sem dúvida nenhuma, não é considerado por essa “teologia”: “... não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o Senhor? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus” (Pv 30.8,9). II. O PERIGO DO LUCRO VS. 9,10 A. Onde está o perigo? Seria o lucro em si mesmo um perigo, um problema? Possuir bens em abundância trata- se de um pecado? Não, o perigo não está no lucro em si mesmo, e sim na maneira como o encaramos ou buscamos. Calvino diz o seguinte: “Não que algum uso mais liberal de possessões seja condenado como um mal em si mesmo, mas a ansiedade em torno delas é sempre pecaminosa”. E ainda comentando o versículo 9 de nossa passagem diz: “Não são as riquezas emsi a causa dos males que Paulo menciona aqui, mas o profundo apego a elas, mesmo quando a pessoa seja pobre”. Na Bíblia, não encontramos nenhum mandamento para que o rico se torne pobre. O que temos é sempre o princípio para não fazermos da riqueza a nossa esperança. Paulo, em 1 Timóteo 6.17, fala acerca disso, ou seja, para que Timóteo ensinasse aos crentes ricos que não colocassem a sua esperança na instabilidade da riqueza. No verso 9 de nossa passagem, Paulo aponta o perigo do anseio pelo lucro. Aquele que quer ficar rico, que anseia por adquirir lucro, cai em tentações e ciladas. Aquele que se deixa dominar pelo desejo por adquirir lucro, se expõe à ação do diabo. Este mal, conforme Paulo observa, é universal, visto que são muitos os homens que se afundam na ruína e perdição. P á g i n a | 4 Para mais estudos visite o site www.semeandovida.org Com o desejo de ficar rico, ou de alcançar estabilidade financeira, muitos esposos e pais deixam seus lares e viajam para outros países em busca do sucesso. Isto tem sido comum no Brasil. Muitos, dentre esses crentes se tornam clandestinos, fugitivos da imigração, submetem-se a uma situação precária, com o único fim de obter lucro. São muitos os casais que se separam definitivamente, por causa da distância somente, ou por terem sidos expostos a situações que favoreceram o adultério. Muitos nessa cobiça têm arriscado a própria vida e a existência feliz de suas famílias. Enfim, não vale a pena fazer do lucro um alvo na vida. B. A ruína espiritual Paulo diz que “alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores” (lTm 6.10). Conheço crentes que no passado eram dedicados ao Senhor, frequentes na igreja, dizimistas fiéis, e que hoje, na busca desenfreada pelo lucro, já não consideram tão importantes esses aspectos da vida cristã. Se desviaram da fé. Perderam de vista aqueles valores que antes determinavam sua conduta. Agora o lucro tornou-se seu “deus”, sua “religião”, visto que devotam sua vida a ele (Mt 6.24). Vejam o exemplo de Ananias e Safira e o resultado de sua cobiça (Atos 5.1-11). C. A raiz de todos os males: amor pelo dinheiro É claro que Paulo não quer dizer que o amor ao dinheiro é a única raiz, mas que é a raiz de muitos males que afetam o gênero humano. Paulo está descrevendo os fatos como são realmente. Calvino emite sua opinião sobre esta afirmação do apóstolo dizendo o seguinte: “E é especialmente verdade no tocante à vil avidez por lucros, que não há males que este não produz farta e diariamente: incontáveis fraudes, falsidades, perjúrio, impostura, extorsão, crueldade, corrupção judicial, contendas, ódio, envenenamento, homicídios e toda a sorte de crimes”. Parece que Calvino está descrevendo a época em que vivemos. Sendo a raiz de muitos males, precisamos nos guardar deste perigo, não amando o dinheiro, não desejando o lucro. Muitos dos problemas de nosso país, principalmente a falta de recursos para investimentos em saúde e educação, são causados pelo apego ao dinheiro. CONCLUSÃO Como dissemos no início, trata-se de uma acusação injusta aquela que diz ser o sistema reformado ou calvinista o pai do capitalismo, favorecendo e incentivando a busca desenfreada pelo lucro. Procuramos demonstrar o que dissemos acima, apontando para o entendimento que Calvino tinha do lucro, que serve de base para o pensamento reformado acerca do assunto. P á g i n a | 5 Para mais estudos visite o site www.semeandovida.org Vimos desta forma que uma visão bíblico-reformada evitará o apego e a obsessão 1 pelo lucro, encorajando-nos a trabalhar e a fazer do trabalho uma forma de obtermos do Senhor o sustento diário, vivendo contentes com o que recebemos de suas mãos. Tomemos o cuidado em não agir como muitos de nosso tempo: apenas por obsessão, buscam melhores oportunidades de trabalho e estabilidade financeira, caindo em armadilhas, que resultam em ruína familiar e até mesmo espiritual. DESAFIO Seja grato a Deus por todas as coisas que ele lhe tem acrescentado. Contente-se com o que Deus tem lhe dado. Adquira, como Paulo, independência das circunstâncias, não permitindo que elas interfiram em seu humor. AUTOR: WALDEMAR ALVES DA SILVA
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