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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos CLAUDILAINE TOMITÃO ESCOLA E FAMÍLIA: UMA APROXIMAÇÃO NECESSÁRIA Londrina 2014 SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO Superintendência da Educação Diretoria de Políticas e Programas Educacionais Programa de Desenvolvimento Educacional CLAUDILAINE TOMITÃO ESCOLA E FAMÍLIA: UMA APROXIMAÇÃO NECESSÁRIA Artigo Final - apresentado ao Núcleo Regional de Educação de Apucarana - Secretaria de Educação do Estado do Paraná-Pr, em parceria com a Universidade Estadual de Londrina, como requisito obrigatório para o desenvolvimento do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE e respectiva conclusão de Curso. Orientador: Maria da Graça Ferreira Londrina 2014 ESCOLA E FAMÍLIA: UMA APROXIMAÇÃO NECESSÁRIA1 ClaudilaineTOMITÃO2 Maria das Graças FERREIRA33 Resumo O presente artigo, tem por finalidade analisar o resultado das atividades realizadas pelo Projeto de Intervenção Pedagógica desenvolvido entre os meses de fevereiro e junho, no Colégio Estadual Walfredo Silveira Corrêa – Ensino Fundamental e Médio, no município de Arapongas - Pr. O trabalho desenvolvido direcionou-se pela preocupação na melhora da relação escola e família haja vista a interligação entre a educação familiar e educação escolar que não deve ser desconsiderada no processo de ensino e aprendizagem e, com a intenção de analisar, como se tem dado processo de participação dos pais e/ou responsáveis, considerando a importância da aproximação da família e da escola. Teve como objetivo desenvolver um trabalho coletivo entre essas duas instituições sociais indispensáveis no crescimento e desenvolvimento integral do aluno, visando fortalecer as relações no processo de ensino e aprendizagem, ressaltando e valorizando a importância da participação da família no contexto escolar através de momentos de reflexão acerca de temas relacionados a educação integral e de formação humana, orientando-se pelos princípios pedagógicos regidos pelo respeito aos valores estéticos, políticos, éticos e morais. O referido artigo apresenta o referencial teórico-metodológico baseado na pesquisa bibliográfica que norteou as reflexões durante os estudos do tema, discute as funções sociais da família e da escola, e discorre sobre a experiência dos encontros com os pais no intuito de estreitar as relações e aproximar a família da escola através de palestras de orientações, visto que muitos pais e/ou responsáveis demonstram insegurança quando o assunto é a Educação dos filhos adolescentes. PALAVRAS-CHAVE: Família; Escola; Participação. 1 INTRODUÇÃO Este artigo relata o processo de implementação e os resultados do Projeto Escola e Família: uma aproximação necessária, realizado como atividade obrigatória do PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional), e tem como objetivo promover uma reflexão junto aos pais/responsáveis, sobre a importância da participação da família na escola e na vida escolar de seus filhos, bem como atender 1 Este artigo é o resultado da implementação realizada como exigência para a conclusão do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, ofertado Secretaria de Estado e Educação – SEED e Núcleo de Educação de Apucarana – NRE, vinculado a IES - Instituição de Ensino Superior –, a UEL - Universidade Estadual de Londrina, tendo como coordenador do programa o Professor Vladimir Moreira 2 Autora, Professora QPM da Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná, lotada no Colégio Estadual Walfredo Silveira Corrêa, Arapongas, Núcleo Regional de Apucarana/ SEED-PR. Especialista em Orientação Educacional e Educação Especial, Professora PDE turma 2013. 3 Orientadora, Professora Mestra na área de Política e Gestão da Educação, e Docente na UEL – Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Educação. a necessidade da escola de aproximar os pais/responsáveis, afinal são eles, os co- responsáveis pela formação de nossos alunos, seus filhos. Aproximar a família da escola é fundamental numa escola que se diz democrática. O diálogo entre essas duas instituições é essencial para a melhoria do processo de ensino e aprendizagem. Malavazi (2002), nos alerta que os pais não podem assumir uma postura de distanciamento da escola e da vida escolar de seus filhos: Para muitos, não participar acaba sendo mais interessante uma vez que têm outras atividades que não podem deixar de assumir. Para a escola, a ausência da família significa poder decidir sozinha, levando em conta seus próprios interesses. Assim surge a família ausente, ou seja, aquela que transfere algumas responsabilidades que seriam suas para outros setores que acabam se ocupando, nem sempre de forma adequada, da educação da criança e do adolescente, como as escolinhas de esporte, centros musicais, academias esportivas, etc. (MALAVAZI, p. 222-223). Para que os pais tenham interesse em dialogar com a escola, em participar do processo educativo dos filhos, é necessário que se sintam acolhidos e valorizados pela instituição escolar. Essa é uma preocupação que a escola precisa ter se quiser favorecer que a aproximação aconteça. A sociedade contemporânea em nada se parece com a de três ou quatro décadas atrás. No entanto, a escola parece manter a mesma estrutura funcional e espera que as famílias, que são completamente diferentes, tanto em sua formação, quanto organização e interesses comportem-se da mesma forma como outrora. Não se pode ignorar o fato de que, com a entrada da mulher no mercado de trabalho e com a liberdade sexual por ela conquistada, mudaram-se radicalmente as estruturas familiares. Entre essas mudanças verificamos a ausência dos pais/responsáveis, principalmente a mãe, na educação dos filhos. É possível notar que essas mudanças sociais resultaram no afastamento da família, que acabou delegando à escola, além da função que lhe é própria, uma responsabilidade na formação humana que a eles pertencem, comprometendo o trabalho educativo realizado pela escola, pois os professores não têm condições de assumir um papel que não é o seu. O projeto de intervenção teve como seu principal objetivo contribuir para a articulação do processo de interação família e escola, a fim de minimizar os problemas disciplinares e pedagógicos que a escola contemporânea enfrenta e desenvolver um trabalho coletivo entre essas duas instituições sociais indispensáveis no crescimento e desenvolvimento integral do aluno, visando fortalecer as relações no processo de ensino e aprendizagem. Com o intuito de minimizar a distância e fortalecer as relações, buscamos durante os encontros com os pais/responsáveis ressaltar e valorizar a importância da participação da família no contexto escolar, promover a integração entre família e escola e proporcionar aos pais momentos de reflexão acerca de temas relacionados à educação integral e de formação humana, orientando-se pelos princípios pedagógicos regidos pelo respeito aos valores estéticos, políticos, éticos e morais. Este trabalho foi organizado da seguinte forma: uma breve introdução, uma revisão bibliográfica sobre as instituições família e escola e as considerações finais. A metodologia usada durante a intervenção foi a coleta de dados com os alunos do nono ano do ensino médio com o intuito de pesquisar sobre a importância da escola e da família e suas expectativas de futuro. Com os dados levantados foi elaborado o projeto de intervenção com o objetivo de aproximar os pais do dia a dia dos filhos na escola. 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FAMILIAR FRENTE Á EDUCAÇÃO ESCOLAR A família e a escolasão instituições sociais indissociáveis no processo de desenvolvimento integral das crianças e adolescentes. Não se pode negar que a educação escolar atualmente vai muito além da transmissão de conhecimentos acumulados historicamente pela humanidade. Na prática escolar apenas essa função social da escola já não dá conta, isoladamente, da educação integral e formação humana. A influência da educação familiar e de outras instituições sociais é forte e determinante nos comportamentos individuais e coletivos dos alunos e tem afetado significativamente o desenvolvimento pedagógico dentro e fora da sala de aula. Considerando que o ser humano aprende o tempo todo através das relações sociais, a função social da família é essencial, pois é ela que transmite às suas crianças e adolescentes, os conhecimentos informais e valores baseados nos princípios éticos, estéticos, morais, culturais, sociais e religiosos. Observamos, através da prática escolar, as grandes mudanças que vêm ocorrendo no cerne das famílias brasileiras. Já não existe um único modelo tradicional de família. Ela vem se modificando com grande rapidez e essa mudança é sentida no contexto das relações sociais, principalmente na escola. A respeito das reformulações familiares, Battaglia (2002, p. 7), diz: Como construções sociais relativamente recentes, estas complexas reformulações familiares encontram-se sem modelo preestabelecido. Sendo assim, cada família necessita lidar com seus padrões e conceitos preestabelecidos para deles fazer emergir uma maneira original de constituir um grupo familiar com funções, direitos e deveres que atendam aos que dele participam. Nesta reformulação, as questões de gênero são inevitavelmente questionadas e pressionadas a transformarem-se. Partindo da abordagem histórico-cultural onde os seres humanos se constituem através das relações que vão estabelecendo entre si e o meio cultural, as relações estabelecidas no âmbito escolar segue a mesma premissa, ou seja, família e escola devem estabelecer vínculos que propiciem a participação e cooperação entre ambos. Paro (2007, p.10), a respeito da aproximação entre família e escola e sua importância no processo de ensino e aprendizagem afirma: [...] para funcionar a contento, a escola necessita da adesão de seus usuários (não só de alunos, mas também de seus pais ou responsáveis) aos propósitos educativos a que ela deve visar, e que essa adesão precisa redundar em ações efetivas que contribuam para o bom desempenho do estudante. Acreditamos que, para levar o aluno a um bom desempenho escolar, a educação deve ser pautada na condução dos alunos à uma reflexão crítica da sociedade. Porém, a escola vem absorvendo uma “multiplicidade de funções sociais” que não lhe caberia, enquanto instituição responsável, pela transmissão de conhecimento e cultura. E os alunos, o que pensam da escola? Quais os motivos que os levam a frequentá-la? De acordo com a pesquisa realizada por Paro (2007, p. 52), os alunos vão à escola para “encontrar os amigos, fazer novas amizades, brincar, namorar, relacionar-se com os colegas”. Os professores consideram legítimos e apreciam os motivos acima citados, porém, gostariam que os alunos também buscassem a escola para a aquisição do conhecimento e da cultura acumulados historicamente. Percebe-se que o interesse maior dos alunos é pelo aspecto social e não pelo aspecto pedagógico e/ou cultural. É sem grandes esforços que percebemos no dia a dia escolar, que as transformações pelas quais a estrutura familiar vem passando, reflete-se na alteração, na mudança de valores sociais dos alunos. Os “desvios” de conduta, ou seja, a falta de educação no tratamento ao outro, o uso freqüente de palavrões, a indisposição para se concentrar e a desobrigação de estudar, entre outros, parece- nos comuns, e a comunhão de valores e normas sociais que se deve cultivar na escola, aparenta-nos inexistir. Embora não se possa generalizar, acreditamos ser com grande resistência que os profissionais da educação toleram tais mudanças, pois a priori, apesar de estarmos defronte a inúmeras metodologias diferenciadas e inovadoras, de recursos tecnológicos de última geração à disposição para o desenvolvimento do trabalho pedagógico, via de regra, não se obtém sucesso e êxito esperados ao final do processo educacional. Os dados estatísticos coletados pela Secretaria de Estado da Educação (SEED) nos últimos anos demonstram esse insucesso com o alto índice de reprovação e aprovação por Conselho de Classe. Parece-nos que adquirir conhecimento e cultura não está incluído na minúscula listagem de valores apregoados pelas nossas crianças e adolescentes, ou seja, estudar não tem valor significativo para as suas vidas. Assim sendo, aproximar a família da escola na tentativa de fazer um trabalho de resgate do valor social da escola e o valor social da família enquanto parceira no processo educativo pode vir a auxiliar e minimizar o desinteresse dos alunos pela educação escolar. Os profissionais da educação com frequência demonstram saudosismo com comparações da família e da escola de décadas atrás, porém sabemos que o aluno e a escola idealizados são uma utopia dos educadores. A escola tem que buscar soluções reais de trabalho juntamente com a família, para que a educação de nossas crianças e jovens seja realizada a “quatro mãos”. Considerando a educação como um processo de socialização e transmissão de heranças culturais, cabe tanto à família quanto à escola a função e a responsabilidade pela educação das crianças e adolescentes, cada qual na sua especificidade, porém em parceria, juntas, simultaneamente. Durkheim (1978, p. 141), afirma: A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontrem ainda preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver [...] certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo meio [...] particularmente se destine. Nas palavras de Brandão (1982), compreendemos a vida como essencialmente educativa: “a educação existe sob tantas formas e é praticada em situações tão diferentes, que algumas vezes parece ser invisível”. Baseando-se na premissa de que a educação é um processo contínuo desenvolvido tanto no ambiente familiar como no ambiente social, e aí incluímos a escola, é de grande importância desenvolver ações que promovam o fortalecimento e o envolvimento das famílias no contexto escolar. No entanto é sabido que é na instituição escolar que a educação, de fato, se sistematiza. É na escola que as crianças e adolescentes se apropriam dos bens culturais e do saber produzido historicamente pela sociedade. Porém, para que o aluno aproprie-se do conhecimento, diz Paro (2007), é preciso que haja um ambiente favorável e que o aluno seja estimulado a aprender durante a infância e adolescência. Está aí a importância do apoio, acompanhamento e estímulo da família na vida escolar de seus filhos. Os valores, sejam eles positivos ou negativos, em relação à importância do conhecer, do aprender, do saber, do valor social da escola, são transmitidos, consciente ou inconscientemente pela família. Por isso a escola não pode menosprezar o auxílio, mais que valioso, que essa instituição milenar pode oferecer à escola. É preciso que a família esteja convencida do valor social da escola, do valor do conhecimento, da importância do domínio do saber, para que possa transmitir esses valores aos filhos. A escola precisa com urgência da contribuição e participação efetiva da família. Nas palavras de Paro (2007. p. 16), [...] a escola que toma como objeto de preocupação levar o aluno a querer aprender precisa ter presente a continuidade entre educação familiar e a escola, buscando formas de conseguir a adesão da famíliapara sua tarefa de desenvolver nos educandos atitudes positivas e duradouras com relação ao aprender e ao estudar. 2.2 FAMÍLIA De acordo com o Aurélio (1999), a palavra família pode ter vários significados. Dentre eles interessa-nos citar: 1. Pessoas aparentadas, que vivem, em geral, na mesma casa, particularmente o pai, a mãe e os filhos. 2. Pessoas unidas por laços de parentesco, pelo sangue ou por aliança: 3. Ascendência, linhagem, estirpe. 4. P. ext. Grupo de indivíduos que professam o mesmo credo, têm os mesmos interesses, a mesma profissão, são do mesmo lugar de origem, etc.: 2 5.Sociol. Comunidade constituída por um homem e uma mulher, unidos por laço matrimonial, e pelos filhos nascidos dessa união. 6.Sociol. Unidade espiritual constituída pelas gerações descendentes de um mesmo tronco, e fundada, pois, na consangüinidade. 7.Sociol. Grupo formado por indivíduos que são ou se consideram consangüíneos uns dos outros, ou por descendentes dum tronco ancestral comum e estranhos admitidos por adoção. Depois de perpassar por diversas literaturas sobre o tema é comum nos depararmos com a afirmação de que a família é considerada como a primeira instituição da qual o ser humano faz parte e o seu principal papel é a socialização, ou seja, a transmissão da cultura, dos costumes e valores sociais. “É através da própria família que a criança se integra ao mundo adulto” (PRADO, 1985, p.40). Guareshi (apud Macedo, 1994), diz que a família é a primeira instituição social em que o indivíduo entra em contato em sua vida. A família o acompanha, de certa forma, até a sua morte. Pode-se dizer que o principal papel da família é o de promover condições de sobrevivência e desenvolvimento emocional e cognitivo de todos os seus membros, durante toda a sua vida. Knobel (1992, p. 33), defende a idéia de que “é na interação familiar que se configuram os traços da personalidade. No lar, os mais velhos, os mais amadurecidos, são os modelos que os mais novos seguirão”. Desta forma, podemos inferir que é na família, que se registram os mais marcantes traços da personalidade do ser humano. De acordo com Osório (1996), família é um conceito que pode ter várias interpretações, porém todas elas são descritivas. Sendo assim, é possível descrever várias estruturas e modalidades que essa instituição assume através da história, mas não é possível defini-la. Para Vieira (1978), sociologicamente família é um conjunto social. Ela pode ser constituída por duas pessoas de sexo diferente que tem como objetivos o aprazimento de suas necessidades físicas, psicológicas, específicas e interdependentes. A família pode ser fundada por entidades biológicas tais como o amor, a simpatia, a sexualidade ou a identidades de temperamentos; e por entidades sócio-psíquicas, ou seja, de onde resultam a convivência e a amizade. A instituição familiar é considerada como a menos imperfeita das comunidades. Sabemos que a família exerce diversas funções na sociedade. Podemos citar dentre as muitas funções a ela cabíveis, a de procriação, habitacional, assistencial, econômica, política, cultural e religiosa. É difícil pensarmos família sem nos emaranharmos nessa teia, visto que o ser humano é um ser social em interação com o meio em que vive. Para Macedo (1994), o que define a família são as funções que seus membros desempenham e as relações estabelecidas entre eles. Nesse grupo social podem-se incluir muitas formas de arranjo, de acordo com suas características de lealdade, afeição e durabilidade de pertinência, já que não é possível, de forma concreta, que alguém se destitua da família. Devido à multiplicidade das interações familiares entre seus membros, a família tem uma função complexa de, ao mesmo tempo, proteger e educar. Osório (1996) define como uma estrutura familiar saudável aquela que se constitui como uma espiral dialética, aberta e flexível, sem uma rigidez que determine os papéis e funções de cada membro. Para o autor, cabe aos pais compreender os requisitos necessários ao bom desempenho físico e emocional dos filhos. A respeito do papel da família contemporânea Prado (1985, p. 21), diz : Uma família é não só um tecido fundamental de relações mas também um conjunto de papéis socialmente definidos. A organização da vida familiar depende do que a sociedade através de seus usos e costumes espera de um pai, de uma mãe, dos filhos, de todos os seus membros, enfim. Nem sempre, porém, a opinião geral é unânime, o que resulta em formas diversas de família além do modelo social preconizado e valorizado. Podemos arriscar a afirmação de que a família vai se formando a partir do momento que cada um de seus membros vai construindo sua história através das relações e interações no seu cerne. Prado (1985, p. 23), afirma ainda que “é através da família – menor célula organizada da sociedade – que o Estado pode exercer um controle sobre os indivíduos, impondo-lhes diferentes responsabilidades conforme cada momento histórico”. A autora nos alerta ainda para um fato social de extrema importância para as relações sociais e que nos remete a compreendermos as dificuldades das relações familiares observadas no cotidiano escolar. Prado (1985, p. 26) diz que “hoje os laços entre os membros da família nuclear se enfraquecem porque a responsabilidade coletiva da família enquanto núcleo através do qual se realizam projetos em comum diminui cada vez mais”. As relações familiares são determinadas pela sociedade. O tempo que cada membro dispensava à família, fator este que fortalecia os laços familiares, acabou sendo absorvido pelo mercado de trabalho e pelo consumo, que permitem cada vez menos, os momentos de convivência. Agregado a esse enfraquecimento das relações familiares, onde nos parece que os projetos individuais estão dando lugar aos projetos coletivos familiares, outro fator que se reflete na educação escolar é o excesso de protecionismo familiar. Segundo Bassedas (1996), existem famílias superprotetoras, que acabam, pelo excesso de proteção, produzindo um ambiente sem organização, sem autoridade e distribuição de tarefas. Nesse ambiente brando os pais acabam solucionando dificuldades e problemas dos filhos, originando assim crianças e adolescentes irresponsáveis, apáticos, inseguros, imaturos e dependentes psicologicamente dos pais. Percebemos que a sociedade e, associado a ela, a família, vive num ritmo acelerado. Cada membro é absorvido por uma rotina de trabalho e obrigações fazendo com que muitas vezes as relações familiares entre pais e filhos, entre esposo e esposa, praticamente de dissipem. Notamos que a família é “engolida” pelo crescimento do consumo, do querer, do ter. As pessoas são valorizadas pelo “ter” e não mais pelo “ser”. Os pais buscam descomedidamente satisfazer os próprios desejos e o desejo de consumos dos filhos. Valores sociais estão sendo abandonados em nome do consumismo e da “lei da vantagem”. Os laços familiares estão cada vez mais afrouxados e a indiferença parece apropriar-se das relações de afeto, de amor, de respeito, de solidariedade. Observamos no cotidiano escolar o rompimento desses valores sociais. Notamos que o ritmo desgovernado e o descrédito nos valores sociais em que estão vivendo as famílias contemporâneas, refletem-se na instituição escolar, pois nos deparamos com alunos que parecem desconhecer os princípios de igualdade, solidariedade, de respeito e preservação. Prado (1985, p. 29), fortalece a idéia acima quando assevera que “cada vez mais, cada membro da família deseja sua autonomia e independência, e a noção de comunidade familiar cede lugar a um individualismo absoluto”. Devemos nos atentar ao fato de que a família vem sofrendo severas transformações ao longo da última década. Ainda de acordo com Prado (1985), conforme os interesses sócio-econômicos,as transformações sociais vão se dando e as estruturas familiares, bem como os seus valores, vão se modificando. Não há como ocorrer mudança sem transformação. Isso implica dizer que, com as transformações que a instituição familiar vem sofrendo, sem dúvidas, os valores familiares também vão se alterando. Apesar de tantas mudanças nas estruturas familiares, a escola espera que a família continue a educar seus filhos da mesma forma como a maioria dos educadores foi educada a duas ou três décadas atrás. A partir daí começa os conflitos entre família e escola, e quais seriam as funções de cada uma dessas instituições. Ao nos debruçarmos sobre o problema, é preciso ter clareza de que o propósito não é procurarmos “culpados”, mas sim buscarmos entender como família e escola podem trabalhar juntas, visando o desenvolvimento positivo do aluno e o sucesso no período em que ele passa pelos bancos escolares. 2.3 ESCOLA A décadas atrás Durkheim (1978), já afirmava que , ao nascer, o ser humano é um ser egoísta e associal e, em razão disso, é necessário que a sociedade acrescente a este uma “natureza capaz de aceitar a vida moral e social”. Mas como ela fará isso? Através do processo de socialização da criança. A socialização primária é realizada no seio da família, mas será a escola a instituição social primordial para esse processo, pois é na educação que ocorre a “socialização metódica da jovem geração” Portanto, é a escola a instituição social que torna possível o acesso ao saber sistematizado. Independentemente de suas modificações no decorrer da história, a escola foi a instituição que a humanidade criou para socializar o saber sistematizado. Isto significa dizer que é o lugar onde, por princípio, é veiculado o conhecimento que a sociedade julga necessário transmitir às novas gerações. (MEC, Consed, 2009) Não podemos falar em educação e função social da escola sem nos remeter à Constituição Federal (1988) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB- Lei nº 9394/96). A LDB (Título I, Art.1º) estabelece que a educação deve abranger os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, em organizações e movimentos sociais e, nas instituições próprias de ensino que deverão vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. Baseada na Constituição da República Federativa do Brasil, (Capítulo III, Seção I, Artigo 205) a LBD estabelece: Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Brandão (1985, p. 63), retira o conceito de Educação da Enciclopédia de Moral e Civismo, editada pelo Ministério da educação e Cultura, onde diz que: Educação. Do latim ‘educere’ que significa extrair, tirar, desenvolver. Consiste, essencialmente, na formação do homem de caráter. A educação é um processo vital, para o qual concorrem forças naturais e espirituais, conjugadas pela ação consciente do educador e pela vontade livre do educando.[...] Não se reduz à preparação para fins exclusivamente utilitários, como uma profissão, nem para desenvolvimento de características parciais da personalidade, como um dom artísticos, mas abrange o homem integral, em todos os aspectos de seu corpo e de sua alma, ou seja, em toda a extensão de sua vida sensível, espiritual, intelectual, moral, individual, doméstica e social, para elevá-la, regulá-la e aperfeiçoá-la. É processo contínuo [...]. Diante de uma definição tão bela sobre “Educação”, nos deparamos nas últimas três ou quatro décadas com uma educação escolar cada dia mais sucateada. A escola passou a ser, conforme afirma Rodrigues (1988), instrumento e vítima da ideologia dos grupos detentores do poder e cumpre bem sua missão formando consciências, preparando lideranças, difundindo valores, preparando trabalhadores para manter a ordem social e o controle do Estado. Para garantir o exercício da hegemonia dos grupos dominantes, formula-se uma concepção de sociedade e elabora-se a partir daí propostas de desenvolvimento econômico, social, político, moral e cultural (incluindo-se aí as propostas de educação escolar) com o intuito de manter o “status quo” e garantir a manutenção da ordem social vigente. Desta forma a escola sofre as interferências e influências do poder político e econômico do Estado, do conhecimento científico e do desenvolvimento da tecnologia. A escola forma os indivíduos para o acesso ao conhecimento e ao desenvolvimento científico baseando-se numa organização de sistema escolar imposta pelo Estado e que se expressa, por exemplo, além da organização vertical da escola, nos livros didáticos e no currículo (RODRIGUES, 1988). Não se pode negar que a escola é uma instituição social que sofre influências e que influencia a realidade na qual está inserida. Desta forma ela pode tanto alienar quanto “ser o bisturi que abre os olhos para a compreensão do mundo” (RODRIGUES, 1988, p.64). Brandão (1985), nos alerta que as exigências sociais formam os indivíduos na e para a sociedade. Cada sociedade tem seu próprio modo de educar para manter a ordem social em diferentes momentos históricos. Cada tipo de sociedade real, histórica, cria e impõe o tipo de educação de que necessita. A educação é corrompida por interesses de controle social. E que tipo de Educação interessa à sociedade brasileira? Com o contexto das políticas neoliberais, em especial, após o movimento Educação para Todos, marcado pela Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada em Jomtien (Tailândia), o declínio da Educação brasileira acentua- se ainda mais, pois fica clara a dualidade da escola: “escola assentada no conhecimento, na aprendizagem e nas tecnologias, voltada aos filhos dos ricos” e “escola do acolhimento social, da integração social, voltada aos pobres e dedicada, primordialmente, a missões sociais de assistência e apoio às crianças” (LIBÂNEO, 2012). Libâneo (2012) deixa claro que, com o patrocínio e, segundo os interesses do Banco Mundial, considerou-se durante a referida conferência, que a escola tradicional não se adaptava aos novos conceitos de educação e era incapaz de oferecer conhecimentos para toda a vida, conhecimento operacional e prático. Propuseram então uma escola para atender às necessidades básicas/míninas de aprendizagem, tomadas como eixo de desenvolvimento humano, e a minimização dos conteúdos se agravam ainda mais. A escola começa então a se caracterizar como um lugar de ações socioeducativas, visando o atendimento das diferenças individuais e sociais e à integração social. Institui-se a partir daí premissas pedagógicas humanitárias e a escola começa a primar pelas diferenças psicológicas de ritmo de aprendizagem, pelas diferenças sociais e culturais. Flexibilidade e sociabilidade passam a ser palavras de ordem. (MIRANDA: in LIBÂNEO, 2012). A escola do conhecimento, do domínio do conteúdo, passa a valorizar a organização social das relações humanas e a aprendizagem acaba sendo desprovida do seu caráter cognitivo (TORRES: in LIBÂNEO) e reduzida à aquisição de competências de aprendizagem. O objetivo da escola passa a ser o pleno desenvolvimento do ser humano. (LIBÂNEO, 2012). Conforme afirma Libâneo (2012, p. 25), é essa escola que temos hoje. Uma escola que deixa de lado a ciência acumulada pela humanidade, que vem provocando um fracasso em massa, abandono e repetência e que esconde mecanismos de exclusão ao longo do seu processo de escolarização. O resultado é uma escola enfraquecida, “um ensino reduzido às noções mínimas, professores mal preparados, mal pagos, humilhados e desiludidos”. Libâneo (2004, p.53-54), sinaliza que a escola deve buscar cinco objetivos: 1.Promover o desenvolvimento de capacidades cognitivas, operativas e sociais dos alunos (processos mentais, estratégias de aprendizagem, competências do pensar, pensamento crítico), por meio dos conteúdos escolares. 2. Promover as condições para o fortalecimento da subjetividade e da identidade cultural dos alunos, incluindo o desenvolvimento da criatividade, da sensibilidade, da imaginação. 3. Preparar para o trabalho e para a sociedade tecnológica e comunicacional (...) 4. Formar para a cidadania crítica, isto é, formar um cidadão-trabalhador capaz de interferir criticamente na realidade para transformá-la e não apenas formar para o mercado de trabalho. 5. Desenvolver a formação para valores éticos, isto é, formação de qualidades morais, traços de caráter, atitudes, convicções humanistas e humanitárias. De acordo com Paro (2007, p.12), “é pela educação que o homem tem a possibilidade de construir-se historicamente, diferenciando-se da mera natureza”, e, é na escola que os indivíduos devem formar-se cidadãos. Isso significa que, através da apropriação dos conhecimentos elaborados e produzidos pela humanidade, todo aluno deveria elevar-se a um nível humano de liberdade onde ele, de fato, desvelasse subjetivamente a realidade em que está inserido. No entanto, o que observamos é que a baixa qualidade da escola pública se dá, principalmente, porque esta não fornece o mínino que se necessita para que os alunos se construam como seres humanos. Saviani (1989, p. 38-39), afirma que “a escola, longe de ser um instrumento de equalização social, é duplamente um fator de marginalização”: converte os trabalhadores em marginais e os colocam à margem do sistema de ensino. A escola “qualifica o trabalho intelectual e desqualifica o trabalho manual”. Acreditamos que a função social da escola nos dias atuais é a reprodução da sociedade em que ela se insere. A escola, infelizmente, desempenha o papel de produzir a sociedade de classes e reforçar o modo de produção capitalista. Para que possamos agir frente à realidade que está posta, é preciso compreendê-la em sua totalidade e ter a clareza de que a realidade histórica interfere na realidade educacional. Apesar do caos em que se encontra e educação brasileira, temos que pensar formas de minimizar os problemas de ensino e aprendizagem no cerne da escola. Acreditamos que se envolvermos a família no processo educacional, se a família começar a se ver como parte importante e indispensável na educação escolar do aluno tenha uma chance de alterarmos, mesmo que minimamente, o quadro do desinteresse geracional dos alunos (que se instalou em uma grande parte das escolas), pelo aprender, pelo conhecimento. Desta forma, pensamos que para efetivar a participação da comunidade escolar é preciso que a escola mostre-se democrática, que compreenda e permita conflitos, bem como, que saiba administrá-los. Absorvendo a idéia de Rodrigues (1988), sendo a escola um lugar de contradições, é necessário que ela trabalhe de forma organizada, propiciando aos alunos, aos pais e a comunidade a possibilidade de uma participação efetiva nas decisões que lhes são pertinentes. Rodrigues (1988) acredita que, [...] a participação da comunidade no âmbito da escola é um processo de mão dupla, isto é, a escola deve participar dos processos decisórios da totalidade da sociedade, da mesma forma que a sociedade deve participar dos processos decisórios da totalidade da atividade escolar (p.38). [...] É fundamental que a escola universalize a sua experiência e a sua prática pedagógica, que ela não continue sendo a escola de uma classe, nem uma escola para uma classe. A escola se democratizará à medida que seus processos decisórios estiverem coligados aos interesses de todas as classes (p.39) Osório (1996) defende que a primeira e fundamental tarefa da escola é a de introdução na vida social fora do âmbito doméstico. Contudo, não se devem delegar à escola tarefas específicas da família (dar limites, formação ética, estética, religiosa, etc.) e a escola também, no seu processo de aprendizagem, não deve recorrer à família para a solução de problemas que devem ser dimensionados e resolvidos no âmbito escolar. A escola não pode culpar a família pelo fracasso escolar do aluno. Ela precisa sim, ensinar para a família o que ela deve fazer para ajudar, auxiliar para que o aluno tenha êxito no processo de escolarização. Família e escola devem trabalhar juntas. Não é possível a escola desenvolver um trabalho pedagógico de qualidade com a “hipertrofia de funções” que atualmente lhe é atribuída. A função da família (trabalhar a dimensão ética, estética, moral, religiosa...) e a função da escola (transmitir conteúdos acumulados historicamente pela sociedade) devem se complementar na construção de um ser humano mais participativo e consciente. 3 METODOLOGIA A Implementação do Projeto de Pesquisa foi apresentado à Direção, demais pedagogos, professores e funcionários do Colégio Estadual Walfredo Silveira Corrêa, durante a Semana Pedagógica no mês de fevereiro de 2014, explanando os objetivos a serem atingidos e as estratégias de ação utilizadas para articular as ações de modo a aproximar a família e a escola. Na primeira reunião administrativa, ainda no mês de fevereiro, o Projeto de Implementação foi então apresentado aos membros do Conselho Escolar, APMF e demais pais e/ou responsáveis, com o apoio da Direção do colégio. O desenvolvimento dos trabalhos iniciou-se no segundo semestre de 2013, quando foi realizada, com os adolescentes do 9º ano do Ensino Fundamental, 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio, uma coleta de impressões e dados sobre a importância da escola e da família em suas vidas, seus medos, seus sonhos e expectativas de futuro. Com os dados coletados desenvolveu-se parte do material didático usado durante as reuniões de implementação tendo como público alvo os pais e/ou responsáveis dos alunos do Ensino Fundamental e Médio, sem restrição ou distinção de série ou período de estudo, e contou com a colaboração dos professores, demais pedagogos, direção e agentes educacionais I e II. O trabalho focou-se na Adolescência e a importância da participação dos pais nessa fase tão conturbada da vida de seus filhos, na função social da família e da escola, e, como escola e família podem se ajudar. Os encontros, num total de oito, seguiram o cronograma do Programa e aconteceram durante o primeiro semestre do ano de 2014, no período noturno, onde se teve a preocupação de receber e acolher os pais e/ou responsáveis deixando-os muito a vontade para a participação, visto que todo o trabalho foi baseado no diálogo, na coleta de impressões e nas intervenções dos participantes. O material didático produzido para o trabalho de intervenção, foi baseado nas obras resultantes de estudos e pesquisa da educadora, filósofa, mestre em Educação, Tânia Zagury e no resultado da coletas de dados de 2013, acima citada. Com o resultado obtido no trabalho desenvolvido com os alunos, foi possível que os pais e/ou responsáveis tivessem uma noção e conhecessem um pouco mais sobre o adolescente e jovem que eles têm em casa. 3.1 APRESENTANDO O PROCESSO DE INTERVENÇÃO Uma problemática levantada durante o planejamento das atividades de implementação, era como atrair os pais à participação, como fazer com que eles comparecessem na primeira reunião e se comprometessem com o Projeto Elaborado. Pensando num evento que fosse prazeroso e ao mesmo tempo produtivo diante dos objetivos do projeto, foi realizado o “Bingo da Família”. Produziu-se um convite bem colorido e atrativo, onde os pais/responsáveis foram convidados a participarem trazendo uma caneta, a alegria, o entusiasmo, e conversarem um pouco sobre o adolescente, os jovens e seus conflitos em casa e na escola. As frases “amor tambémse demonstra pelo tempo que dedicamos aos nossos filhos” e “seu exemplo ensina e disciplina muito mais do que palavras e sermões” foram usadas na mobilização à participação. Neste primeiro encontro obtivemos aproximadamente 120 participantes. Nos demais encontros, sem o atrativo do bingo, a participação dos pais/responsáveis diminuiu. Ainda com a redução, consideramos boa a participação visto que nossa comunidade não estava habituada a esse tipo de evento, onde escola e família se reúnam na busca de minimizar os problemas que lhes são comuns, onde as famílias recebam orientações, onde se estreitem os laços de confiança. Durante todos os encontros os pais foram recebidos com um coffee break para que se sentissem ainda mais valorizados pela escola que ofereceu um lanche servido com muito carinho e capricho, preparado pelas próprias merendeiras da escola. Um fator interessante e que nos surpreendeu foi que, o lanche oferecido aproximou os pais e as funcionárias que trabalhavam na cozinha, pois as mães queriam as receitas de bolos que foram servidos. Muitas vezes os pais se perguntam se o comportamento social, moral, afetivo e educacional de seus filhos estão dentro de uma “normalidade” esperada para essa fase. Para ilustrar, apresentamos aos pais, com base em estudos e bibliografias, as características físicas, emocionais e comportamentais da adolescência e fizemos um paralelo/análise entre como os nossos adolescente se vêem, e como os pais os vêem: características positivas, negativas, o que pensam sobre a escola, por que freqüentam a escola, o que querem para o seu futuro, o que pensam e como se sentem em relação à família, seus maiores medos e sonhos. Percebemos durante os trabalhos de orientação, que muitos pais se surpreenderam com o levantamento de dados e reconheceram a necessidade de “olhar” mais para os filhos, conhecê-los melhor, descobrir quais são suas perspectivas de futuro, seus medos e seus sonhos. Os pais foram incentivados a dialogar mais, a ouvi-los e a orientá-los, visto ser a adolescência uma fase onde os pais precisam reaprender a conhecer e entender os filhos. Tarefa nada fácil, no entanto, necessária. Outro tema abordado foi “A função da escola e seus limites”. O trabalho com o referido tema também se iniciou com base na coleta de dados já realizada, onde foram listados os motivos pelos quais os nossos alunos vão à escola e a relação que eles fazem entre escola e futuro. Além de saber o que e como pensam seus filhos adolescentes, puderam analisar e comparar a escola de hoje com a escola do tempo em que estudaram; quais as semelhanças e diferenças. Ainda abordando o tema “A função da escola e seus limites”, propusemos a coleta de impressões onde os pais explanaram sobre os motivos pelos quais mandam seu filho para a escola, o que pensam sobre a instituição Escolar, quais as obrigações dos pais ou responsáveis depois de matricularem o filho, cumprir as regras da escola é importante ou não, e por que, se conhecem o Regimento Escolar do Colégio, os deveres e direitos dos alunos, dos pais e/ou responsáveis. Os direitos, deveres e o que é vedado aos pais, de acordo com o Regimento escolar também foram abordados durante os trabalhos desenvolvidos. O tema ainda abordou as árduas funções dos professores da escola contemporânea e como os alunos os vêem e o maior desafio da escola atualmente: como ensinar alunos que não querem aprender e, como os pais podem contribuir e somar forças com a escola, que é necessária e obrigatória aos adolescentes. A função social da família e seus limites, também foi tema abordado durante os encontros, onde dialogamos com os pais e/ou responsáveis sobre o conceito de família, o significado de família na visão individual dos participantes, discorremos sobre a importância da família e os novos arranjos familiares da vida moderna. Os participantes puderam apreciar algumas representações de família, através de desenhos produzidos pelos alunos durante a coleta de dados já citada. Muitos pais se emocionaram ao se depararem com ilustrações de famílias “desfeitas”, com membros excluídos e adolescentes solitários, tristes e desamparados. O tema também propiciou trabalhar a questão do relacionamento de pais e filhos, semelhanças e diferenças da educação que os pais receberam e da forma como educam seus filhos hoje em dia, e estudar, junto com os responsáveis, a relação de pais e filhos e o os fatores sociais, econômicos e psicológicos que causaram as mudanças nas relações familiares nas últimas duas décadas, e, como esse novo comportamento social tem refletido na relação família e escola. Características da geração X e da geração Y também foram analisadas para que os pais e/ou responsáveis pudessem compreender um pouco mais as diferenças de postura entre essas gerações, com o intuito de entenderem e aceitarem o “jeito de ser” dessa nova geração da qual seus filhos fazem partem. Os participantes refletiram e dialogaram sobre qual o legado que queremos deixar às novas gerações e quais os valores que queremos realmente desenvolver como educadores, na família e na escola. Para finalizar os trabalhos propusemos aos pais a indagação: como família e escola podem se ajudar? E os convidamos a construir conosco essa história. Percebemos que o trabalho desenvolvido agradou significativamente os pais, mães e responsáveis que, mesmo um tanto inibidos, participaram das discussões propostas e puderam entender um pouco mais sobre o comportamento adolescente, a função social da escola, a função social da família e como essas duas instituições, essenciais na vida de um ser humano em formação, podem ajudar-se objetivando a minimização dos problemas enfrentados tanto em casa como na escola, na fase da adolescência. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Consideramos significativa a participação das famílias de nossa comunidade escolar visto que em sua grande maioria, os pais e mães trabalham fora, chegam tarde em casa, moram longe e dependem de transporte coletivo para chegarem até a escola, restando pouco tempo para dedicar-se a vida escolar dos filhos. Obtivemos uma média de 70 famílias por encontro. Fica-nos evidente que esse número está aquém do ideal necessário, visto que a escola atende em média 180 famílias da nossa comunidade escolar. A escola conta e necessita de uma maior participação dos pais na vida escolar de seus filhos. As duas instituições têm papéis importantes e fundamentais na sociedade. A escola não pode viver sem as famílias e as famílias precisam das escolas para dar a formação educacional aos filhos. Saviani corrobora com essa afirmação quando diz que “[...] na sociedade atual já não é possível compreender a educação sem a escola, porque a escola é a forma dominante e principal de educação.” (1991, p.113). O autor complementa: “[...] não se trata, pois, de qualquer tipo de saber. Portanto, a escola diz respeito ao conhecimento elaborado e não ao conhecimento espontâneo; ao saber sistematizado e não ao saber fragmentado; à cultura erudita e não à cultura popular” (1991, p. 22). À família cabe a função da educação dos valores éticos e morais, a transmissão de afeto, segurança e a proteção aos filhos. Segundo Gomide (2009, p. 9): “A família ainda é o lugar privilegiado para a promoção da educação infantil. Embora a escola, os clubes, os companheiros e a televisão exerçam grande influência na formação da criança, os valores morais e os padrões de conduta são adquiridos essencialmente através do convívio familiar. Quando a família deixa de transmitir estes valores adequadamente, os demais veículos formativos ocupam o seu papel. Nestes casos, a função educativa, que deveria ser apenas secundária, muitas vezes passa a ser a principal na formação de valores da criança.” De acordo com Campbell (2011) vida familiar e vida escolar perpassam porcaminhos concomitantes. É muito difícil separar aluno/filho, por isto, quanto maior a aproximação da família e da escola, melhor será a relação dessas duas instituições que se fortalecerão mutuamente, e melhor será o desempenho escolar dos seus filhos/alunos. Nesse sentido, é de grande importância que família e escola se apropriem dos benefícios desse estreitamento de relações, pois, acreditamos que esse é um fator que poderá resultar no melhor desempenho escolar e na auto-estima do aluno e contribuir para a sua formação de forma integral. No entanto, para que essa aproximação se efetive, é preciso que a direção, a equipe pedagógica, professores e demais funcionários criem um ambiente acolhedor, que favoreça, valorize e incentive a família à participação. É de grande importância que os profissionais da escola valorizem e respeitem os conhecimentos e os valores morais e sociais que as famílias possuem. Esses conhecimentos, bem como as experiências que os pais/responsáveis trazem para a escola não podem ser desconsiderados num processo de gestão democrática. Ouvir o que os pais/responsáveis pelos alunos têm a dizer é sempre muito importante para os encaminhamentos administrativos e pedagógicos da escola. Alguns depoimentos e considerações, como o do senhor J.C.S.S, pai de uma adolescente de 13 anos (J.S.S), que relata: “esse tipo de trabalho com os pais é muito importante porque família e escola devem caminhar juntos para que ajudem um ao outro”, fortalece o trabalho que vem sendo realizado. O pai considera que “as palestras/orientações foram muito valiosas e aprofundou informações que os pais desconheciam. Os temas abordados fazem parte do cotidiano das famílias”. E acrescentou: “os filhos são o retrato dos pais”. “Quando a escola orienta os pais, tem como mudar a convivência com os filhos em casa!” A senhora S.T.A, mãe de uma adolescente de 13 anos (C.N.A), diz que “foi muito importante o trabalho realizado pois agora tem mais segurança em como agir em determinadas situações de conflito com a filha e que também se sente mais preparada depois das palestras, para aconselhar a filha em casa.” A mãe do adolescente G.C.S de 15 anos, a senhora A.S.S, diz que “o trabalho que a escola realizou é importante porque orienta pais e mães a lidar com certas situações com mais tranquilidade. Vai ajudar a lidar melhor com nossos filhos.” E completa:” esse trabalho deveria continuar e termos palestra uma vez por mês.” Acreditamos que temos que “plantar sementes”, mesmo que elas germinem lentamente. A escola não pode desanimar e deixar de desenvolver o trabalho de orientação às famílias, tratando de temas que auxiliam na educação escolar e familiar, pois acreditamos que esse trabalho pode ser comparado a organização das formigas num formigueiro: cada qual cumpre a função que lhe é específica para que o sistema funcione, sem desanimar diante dos grandes desafios e trabalhando sempre visando o bem comum de toda a comunidade escolar. Conforme afirma Parolin (2010), a escola deve ser uma grande parceira da família assim como a família deve ser uma grande parceira da escola. Ambas têm um papel de educador a ser cumprido. À família cabe o papel formador, de acolher, promover e construir a individuação e pertencimento ao grupo familiar, ofertar limites, partilhar valores e idéias, enquanto à escola cabe o papel de socializar o conhecimento produzido. No processo educativo é de grande importância que cada uma das instituições cumpra o papel que verdadeiramente lhe cabe e que tenham a clareza de que juntas, devem trabalhar em prol do desenvolvimento de um mesmo ser humano, que ora desempenha o papel de filho, ora de aluno. Cultivar um ambiente favorável e relações de cumplicidade e sintonia entre família e escola é, sem dúvida, o melhor caminho para enfrentar as dificuldades/fragilidades, favorecer o melhor desempenho educacional e promover a aproximação de todos os envolvidos no processo educativo. 5 REFERÊNCIAS BASSEDAS, Eulália. (org.) Intervenção educativa e diagnóstico psicopedagógico. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. BATTAGLIA, Maria do Céu Lamarão. Terapia de família centrada no sistema. 2013. Disponível em <www.rogeriana.com/battaglia/mestrado/tese02.htm>. Acesso em: 27 mar. 2013. BORDENAVE, Juan E. D. O que é Participação. São Paulo: Brasiliense, 1983. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. (org.) 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